O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sexta-feira, 28 de junho de 2019

Gênero, sexo e outras coisas do mesmo gênero: leituras recomendadas

Por acaso, recebo de uma editora uma série de leituras que poderão ajudar a retificar certas ideias malucas que circulam por aí...

digitaisamor é amor

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Educação e Igualdade de Gênero Gênero e SexualidadePolíticas de Gênero na América Latina

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Gênero, Orientação Sexual, Raça e ClasseFeminismos na Imprensa Alternativa BrasileiraGênero na Educação Infantil

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sociedade

Inclusão e DiversidadeRelações de Gênero na Escola Pública de Trânsito Sociedade, História e Relações de Gênero



Cartas de Shanghai: um projeto de 2009, no blog Shanghai Express - Paulo Roberto de Almeida

Transcrevo abaixo, tal como publicada em meu antigo blog Shanghai Express, uma primeira "carta de Shanghai", que redigi quase dez anos atrás, pouco antes de partir para uma missão transitória naquela grande e moderna cidade chinesa, por ocasião da Exposição Universal de 2010, na qual dava início ao que pensava seria uma série de 15 "cartas", sobre os diversos aspectos da China moderna. 
Por que a reproduzo agora?
Porque acabo de preparar um depoimento (que vou revelar mais adiante), solicitado pelo diretor do Centro de Estudos Brasileiros do Instituto da América Latina da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Zhou Zhiwei, sobre minhas interações com a China, e esta postagem foi a primeira dessa série, infelizmente não realizada em seu projeto e formato original, mas inserida num conjunto de centenas de postagens que efetuei naquele blog provisório, e neste mais permanente. O projeto original vai também reproduzido mais abaixo.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 28 de junho de 2019

THURSDAY, NOVEMBER 12, 2009

78) Carta de Shanghai, 1: O que eu sei sobre a China?

Carta de Shanghai, 1:
O que eu sei sobre a China?; e o que pretendo aprender…

Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org; pralmeida@mac.com)
(escrito em vôo: Brasília-São Paulo, 4.11.2009)
http://shangaiexpress.blogspot.com/2009/11/78-carta-de-shanghai-1-o-que-eu-sei.html

O que eu sei sobre a China? Muito pouco, sem dúvida, mas tenho a intenção de aprender bastante, no curso dos próximos meses (e talvez anos).
Decidi aceitar uma missão temporária na China, mais precisamente em Shanghai, onde vou assumir a direção do pavilhão do Brasil na Exposição Universal que ali se realizará de maio a outubro de 2010. Trata-se de um novo e importante (e interessante) desafio em minha carreira profissional, tanto pelo trabalho em si, quanto pelo país, obviamente, o de maior projeção internacional na atualidade, pelas suas promessas de crescimento e de ascensão na escala mundial de poder e prestígio.

Por que aceitei a missão? Em primeiro lugar porque fui para tal autorizado pela minha caríssima, diletíssima e queridíssima esposa – desculpem o excesso de “íssimas”, mas cabem a ela – Carmen Lícia, que teria a última palavra em qualquer decisão nesse sentido: ou seja, se ela se opusesse à idéia, eu simplesmente não aceitaria o encargo, mesmo estando nele interessado e decidido a aceitar preventivamente. Parto do princípio de que a família passa na frente da carreira, ou das decisões profissionais, embora toda decisão, ou escolha, nesse âmbito sempre é difícil, tendo em conta as inúmeras variáveis em consideração. Uma vez recebido o convite, ou a oferta, procurei informar-me suficientemente sobre o país e sobre a natureza do trabalho, antes de apresentar tal oferta a Carmen Lícia. Para minha surpresa, e alívio, ela aceitou imediata e entusiasticamente, sem nenhuma objeção de princípio, o que me deixou muito contente, pois temia alguma hesitação ao projeto, pelo seu caráter provisório, ou pelas características do país. Eu lhe sou grato por isso, e creio que ela retirará, inclusive, bem maior proveito desta missão, do que eu, que terei de me desempenhar na representação burocrática e nos afazeres oficiais.
Bem, considerações pessoais à parte, vejamos o que me atraiu no convite e na perspectiva da missão. Porque se trata, em primeiro lugar, de um bom desafio intelectual, já que a China constitui, provavelmente, o país mais curioso, misterioso e fascinante da atualidade (ou talvez tenha o sido desde a mais remota antiguidade, pelo menos da perspectiva dos nossos olhos, ocidentais). Também porque se trata, como expressamente esclarecido, de uma designação temporária, sete ou oito meses no máximo, o suficiente para tentar conhecer a China – ou obter alguma compreensão um pouco mais ampla, e talvez uma idéia um pouco mais precisa – sobre o que ela representa para a economia mundial e sobre o seu futuro papel na política mundial. Ou seja, estarei de volta antes de ter tido tempo suficiente para aprender o mandarim.
Sobre a língua, de fato, se trata de um obstáculo relativo, mas menos do que se pensa e menos do que parece. Mas, aparentemente, não terei tempo para aprendê-la de maneira suficientemente satisfatória, tendo em vista minhas outras obrigações profissionais e emprego do tempo. Não que eu repugne aprender a língua oficial e veicular da China, mas é que também pretendo me concentrar em tantas outras coisas que, creio, não poderei alocar tempo suficiente para aprendê-la, tarefa que deleguei, em parte, a Carmen Lícia, esta inteligentíssima esposa que me acompanhará o tempo todo.

Mas, voltemos ao tema desta primeira “carta de Shanghai”: o que eu sei sobre a China e o que pretendo aprender durante minha curta estada na grande nação asiática? Em duas breves expressões: muito pouco, e tudo o que for possível aprender no curto espaço de seis ou sete meses (mas já estou aprendendo antes, desde agora, de forma sistemática). Paradoxalmente, já que pretendo aprender muito sobre a China, por que não dedicar-me mais intensamente ao estudo do mandarim, que seria instrumental para o meu objetivo principal? Bem, minha explicação seria puramente racional e tem a ver justamente com a insuficiência de tempo para fazer tudo o que seria humanamente possível de fazer em relação a um conhecimento mais aprofundado da China.
Minha área básica de trabalho é a economia mundial, o desenvolvimento econômico, as instituições políticas, os problemas da paz e da guerra em um mundo ainda em transição para uma ordem menos anárquica do que aquele que vivemos em grande parte do século 20 (e que ainda está conosco residualmente). Ora, a maior parte da literatura nesses campos está em inglês ou em outras línguas ocidentais, ainda que não se possa descurar a (presumível e esperada) produção própria da China, geralmente acadêmica, que é crescente e da maior qualidade (segundo leio em artigos especializados), à medida que o país já abandonou as misérias intelectuais do maoísmo delirante e se abre à globalização, inclusive científica. Possivelmente, também, todos os meus interlocutores chineses nas matérias e áreas por mim selecionadas falarão ou entenderão inglês, e com eles poderei interagir o suficiente para me informar e dialogar sobre o país e seu papel na economia e na política mundiais.
De toda forma, aprender mandarim seria importante se eu me dedicasse ao aprendizado de aspectos diversos da cultura chinesa, sua literatura, folclore, costumes e tradições, o que também procurarei fazer na medida do possível. Mas o cálculo é simples: o tempo empenhado no estudo da língua – seus fonemas e ideogramas – seria retirado de esforço equivalente no estudo e conhecimento de áreas de meu interesse primordial, o que poderei fazer em inglês, inclusive para interagir com o público at large. Dessa forma, estou decidido a concentrar-me na China da globalização, não na China da tradição, de suas aldeias e costumes ancestrais. Talvez seja um erro, do qual eu venha a me arrepender no mesmo momento, e pode parecer uma decisão mal avisada; na vida, contudo, sempre temos de fazer escolhas difíceis entre objetivos conflitantes. Por outro lado, não deixarei de aproveitar-me dos conhecimentos sobre o povo, seus hábitos e outras características que o domínio sobre a língua que Carmen Lícia pretende adquirir nos permitirá (o que, aliás, ela já vem fazendo preventivamente).

Pois bem, retomando o título desta minha primeira “carta de Shanghai” – não pretendo usar a forma brasileira Xangai – o que, de verdade, eu conheço sobre a China? Para ser claro, muito pouco, apenas o que consegui aprender, rápida e superficialmente, nos artigos de jornais e revistas – tipo Economist, Financial Times, New York Times, Foreign Policy e Foreign Affairs – ademais de boletins e estudos de organismos internacionais e think tanks americanos e europeus. Ou seja: um conhecimento basicamente ocidental e focado na economia e nas relações internacionais, o que é, obviamente, uma parte muito pequena das realidades chinesas. Também já li alguma coisa nos livros de história e de política internacional, no se refere à China, materiais que estou agora devorando com uma ênfase particular naqueles temas de meu interesse. Em recente viagem à Europa adquiri um bom guia – Lonely Planet, que recomendo – e diversos livros sobre a China. Graças a Carmen Lícia, acabo de ler a Historia Mongalorum – Storia dei Mongoli, ou Tartari (1247) – do franciscano Giovanni dei Pian di Carpine, o primeiro ocidental a ter visitado a China, entre Gengis Khan e Kublai Khan, numa missão (diplomática, mas também de espionagem militar) a serviço do papa Inocêncio IV.
Preparando-me para a minha missão (puramente diplomática, mas certamente, também, de espionagem intelectual), criei um blog, Shanghai Express, no qual estou “depositando” tudo o que eu encontro de interessante sobre a China naquelas áreas de meu interesse específico. Nada de muito planejado ou organizado: apenas uma plataforma eletrônica de apoio a minhas leituras e para a coleta e disponibilização de todo tipo de dado sobre os “meus tártaros”. Tenho grandes expectativas a essa missão transitória, além e acima do mero encargo burocrático de representação do Brasil durante a Shanghai Expo.
Gostaria de ter a oportunidade de viajar pelo país e adjacências, o que farei na medida do possível. Pretendo entrar em contato com acadêmicos, funcionários do governo e cidadãos comuns, capitalistas ou trabalhadores, para interagir em função de meus objetivos de conhecimento aprofundado e de compreensão do papel da China no contexto internacional. Ou seja, pretendo aprender muito e, conscientemente, tentar disseminar um pouco do que eu conseguir aprender para um público mais vasto, especialmente no Brasil, que continua a ser a base principal de meu trabalho intelectual.
De fato, nunca fui um “orientalista” e muito menos um “asiatista” ou sinólogo; ao contrário, sempre fui um “brasilianista”, obsessivamente preocupado com os problemas do desenvolvimento brasileiro. Pois bem, chegou a hora de me ocupar agora de um país distante, mas muito presente, quase desconhecido para a maior parte dos ocidentais, mas tremendamente importante para o mundo e para o Brasil, nessa ordem. Espero estar à altura do desafio, não exatamente o de representar o Brasil na Expo – pois isso é o mínimo que se poderia esperar de um profissional – mas do gigantesco desafio que representa aprender o máximo possível sobre a China e a sua vasta região, de fato “apreender” exatamente qual é o seu papel no mundo de hoje, na economia do futuro, e depois ser capaz de transmitir tudo (ou pelo menos um pouco) do que consegui aprender a meus eventuais leitores e colegas de academia e de profissão.

A China é, em si e por si, mais do que um continente inteiro, um vasto mundo, o país do momento e também a nação do futuro, o imediato e o previsível. Desejo aprender, compreender, traduzir e transmitir algo de meus novos e projetados conhecimentos; creio, aliás, que Lao Tsé, Confúcio e outros distinguidos pensadores chineses se encaixariam bem na minha coleção de “clássicos revisitados”, dos quais já “extraí” um Manifesto Comunista na era da globalização, um Moderno Príncipe (que Maquiavel talvez apreciasse) e um De la Démocratie au Brésil, que precisou mobilizar novamente os dotes de viajante de Tocqueville. Não tenho certeza de que, no plano puramente político, a China tenha mudado muito desde os tempos de frei Giovanni, no século 13. Mas ela certamente se transformou enormemente nos últimos trinta anos, e está transformando a região e o mundo. Espero testemunhar um pouco sobre esse seu papel revolucionário no contexto das relações internacionais e da geoeconomia mundial. Veremos o que resulta desta aventura intelectual e deste empreendimento de sinologia aplicada.

Brasília-São Paulo, 4 novembro 2009.

SUNDAY, NOVEMBER 22, 2009

104) Cartas de Shanghai: esquema redacional

Cartas de Shanghai, Planejamento Editorial
Paulo Roberto de Almeida
(o que eu poderei, ou não, escrever nos meses à frente)
http://shangaiexpress.blogspot.com/2009/11/104.html

1. A China: o território, o país, características básicas no plano geográfico
2. A China: sociedade, povos, cultura, diversidade e unidade das civilizações locais
3. Desenvolvimento histórico da sociedade chinesa: império e cultura milenares
4. Desenvolvimento histórico da sociedade e da economia chinesa: grandes tendências
5. Ordem política e instituições: uma longa história de centralização e despotismo
6. Economia: da maior economia mundial à decadência e à recuperação atual
7. Economia: desenvolvimentos desde as reformas da era Deng Xiaoping
8. Economia: perspectivas da China na economia mundial
9. Equilíbrios geopolíticos e questões de defesa e de segurança
10. Desenvolvimentos nos campos científico e tecnológico
11. Aspectos de sua literatura e cultura: breve síntese contemporânea
12. A China no mundo: do centro do universo à interdependência soberana
13. Relações com os Estados Unidos: osmose necessária e contraditória
14. Relações com o Brasil: considerações no plano econômico e diplomático
15. O que o Brasil pode aprender com a China; o que a China espera do Brasil

Esquema tentativo: 30.10.2009

O grande sonho europeu de Carlos V - Joel Cornette (L'Histoire)

https://www.lhistoire.fr/le-grand-rêve-européen-de-charles-quint

Le grand rêve européen de Charles Quint

On célèbre, cette année, le cinq centième anniversaire de la naissance de Charles Quint. Son empire, étendu des Flandres à l'Italie et de l'Amérique latine aux portes de l'Empire ottoman, a semblé incarner le rêve d'une chrétienté universelle. Or l'homme mélancolique qui abandonne le pouvoir a vu s'effondrer l'essentiel de ses ambitions. Après sa mort, toute possibilité d'unification européenne aura bel et bien disparu.
Extraordinaire destin : en 1519, à dix-neuf ans, Charles de Gand, roi d'Espagne, devient empereur germanique, avant d'être couronné en 1520 à Aix-la-Chapelle, dans la vieille cathédrale de Charlemagne, puis sacralisé par la bénédiction du pape, à Bologne en 1530. Charles Quint règne alors sur un immense empire, celui «  où le soleil ne se couche jamais ». Sa vie et son oeuvre s'identifient à quarante années d'histoire européenne, voire mondiale. 
Avec un grand rêve à réaliser : réunifier la chrétienté. Homme de confiance et ami de Charles Quint, Mercurino Gattinara, «  chancelier de toutes les terres et royaumes du roi », fut le principal artisan de cet ambitieux projet de puissance : légiste, administrateur, humaniste aussi, et donc nourri de toute la culture revivifiée de l'Antiquité. C'est lui qui a modelé les idées politiques de l'empereur de 1518 à sa mort en 1530. L'idéal de Gattinara, inspiré des idées professées par Dante dans son  De monarchia , c'est celui de l'homme providentiel et rassembleur qui réformera temporellement et spirituellement la chrétienté dans l'attente du Jugement dernier. 
L'accumulation des héritages — dix-sept couronnes sur une même tête ! — désigne tout naturellement Charles comme celui dont le destin « supranational » est de mener l'Europe, le monde entier sur la voie du salut. Cette idée paraît d'autant plus justifiée qu'avec les Grandes Découvertes, le franchissement des océans et la conquête des immenses territoires américains Mexique : 1519-1525, Pérou : 1530-1550, les prétentions universelles de l'Église catholique semblent pouvoir enfin se réaliser.
Dans l'  Orlando Furioso  Roland Furieux , l'Arioste glorifiait Charles Quint comme un nouveau Charlemagne, expliquant qu'il avait plu à Dieu de garder cachées les terres inconnues du Nouveau Monde jusqu'à ce moment propice, enfin advenu, de la création d'une nouvelle monarchie. Charles Quint était bien désigné par la providence pour étendre sa domination au-delà des « colonnes d'Hercule », celles qui, surplombant le détroit de Gibraltar, avaient autrefois marqué les limites occidentales de l'Empire romain, réputées, depuis l'Antiquité, indépassables. «  Plus oultre », la devise que le souverain s'était choisie, signifiait, entre autre, que son empire s'étendait bien au-delà de celui des Romains. 
« Le Duché de Bourgogne, notre patrie »
Charles Quint lui-même, dans de multiples lettres et discours, a énoncé comme une profession de foi son souci permanent d'assurer la victoire universelle du catholicisme, «  notre plus fier désir , déclare-t-il au pape Paul III le 17 avril 1536, ayant toujours été de nous servir de tout le pouvoir et de toute la grandeur que Dieu nous a accordés contre les païens et les infidèles, ennemis de notre sainte foi catholique ». 
Mais pour guider «  l'immense navire des États, des royaumes et de l'empire de Sa Majesté », comme l'explique en 1557 l'ambassadeur vénitien Federico Badoaro, Charles Quint a dû se heurter au choc des réalités matérielles, aux ambitions humaines, aux pesanteurs et aux fragilités du monde du XVIe siècle. Pris dans le tourbillon de l'histoire, que devient alors ce grand rêve de gloire et de puissance ? 
De sa naissance, le 24 février 1500, dans le château de Gand, jusqu'à son premier voyage pour l'Espagne en septembre 1517, Charles on lui donna le prénom de son aïeul le duc de Bourgogne Charles le Téméraire, fils aîné de Philippe le Beau, archiduc d'Autriche et seigneur des Pays-Bas, et de Dona Juana, fille cadette des Rois Catholiques Isabelle de Castille et Ferdinand d'Aragon, passe toute son enfance aux Pays-Bas, dans le cadre fastueux hérité de la cour de Bourgogne, une cour au prestige considérable dont témoignent l'éclat des fêtes et l'épanouissement des arts, du sculpteur Claus Sluter au peintre Van Eyck.
«  Le duché de Bourgogne, notre patrie. » Cette expression fréquente, et nostalgique, se retrouve sous la plume de Charles Quint tout au long de sa vie. Elle montre à quel point il se considère toujours comme « bourguignon » et dépossédé de son héritage, de la terre de ses pères : le duché de Bourgogne est français depuis 1477. De là, sans doute, un désir de revanche sur les rois de France, qu'il poursuivra avec obstination, sa vie durant. 
Marguerite d'Autriche, soeur de Philippe le Beau, une femme cultivée d'une grande autorité, dirige, de la mort prématurée de son frère en 1506 à 1515, l'éducation de son neveu. Elle la confie à Adrien d'Utrecht, un prêtre animé d'une extrême rigueur morale, et à Guillaume de Croy, sire de Chièvres, qui devient en 1509 son grand chambellan1. Ils insufflent au jeune homme une solide piété, mise en honneur par les Frères de la Vie commune adeptes de la devotio moderna , une piété personnelle, centrée sur l'imitation de Jésus-Christ, peu soucieuse de définitions dogmatiques, mais caractérisée par un sens aigu du devoir et des responsabilités devant Dieu. 
Il ne parle que le français et le flamand
Charles est convaincu de l'intervention de la providence dans les affaires humaines : «  Le principal et plus solide fondement de votre conduite , écrira-t-il à l'infant Don Philippe, son fils, le futur Philippe II, en 1548,  doit être une confiance absolue dans l'infinie bonté du Tout-Puissant, et la soumission de vos désirs et de vos actions à sa volonté sainte, avec une grande crainte de l'offenser : vous obtiendrez ainsi son aide et son secours et vous recevrez toutes les grâces nécessaires pour bien régner et bien gouverner. » 
Pourtant, à la différence de François Ier, son grand rival européen, Charles n'est pas un prince humaniste, cultivé. Il ne connaît que des bribes de latin, ne possède pas bien l'italien la langue diplomatique internationale et l'allemand, ne parle que le français et le flamand ; enfin, il n'a guère lu d'auteurs anciens : il leur préfère les chroniqueurs de la cour de Bourgogne vantant les mérites d'une vie de plein vent, chevaleresque, aventureuse et guerrière. L'A  madis de Gaule , rédigé, à la fin du XVe siècle, par l'Espagnol Garcia Ordonez de Montalvo, est une de ses lectures favorites : il vibre au récit des faits d'armes héroïques, des princes errant dans des forêts à sortilèges, des princesses aimantes, des discussions galantes, des sièges, des trahisons, des tentations... 
Comme les héros virils de ses lectures, Charles aime la chasse, l'équitation, l'escrime, les rudes combats au corps à corps. Au point d'annoncer le 17 avril 1536 au pape Paul III qu'il est prêt à en découdre seul à seul avec François Ier : «  Je promets à Votre Sainteté que si le roi de France voulait se conduire envers moi au champ, et m'y conduire avec lui, armé ou désarmé, en chemise, avec une épée et un poignard, sur terre ou en mer, ou sur un pont ou dans une île, ou en champ clos ou devant nos armées ou là où il voudra et comme il voudra que cela soit juste. [...]  Et cela dit, je pars demain pour la Lombardie, où nous nous affronterons pour nous casser la tête 2 ! » 
Son apparence physique n'est guère flatteuse. Sa figure allongée, assez inexpressive, est affligée d'un terrible et disgracieux prognathisme — la marque des Habsbourg — qui le handicape même pour mâcher les aliments : «  Ferme la bouche, les mouches vont y entrer ! », criait-on sur son passage lors de son premier séjour en Espagne. Gêne très frustrante pour un homme qui resta doté, jusqu'à la fin de sa vie, d'un appétit gargantuesque il avalait, chaque matin, une grande bière glacée : tous les témoins ont rapporté son incroyable voracité. 
Par une série de coups du destin, mais aussi par les vertus d'une savante politique dynastique préparée par son grand-père, Maximilien Ier archiduc d'Autriche et empereur germanique, le petit Charles de Gand a bénéficié, dès son plus jeune âge, d'un extraordinaire héritage : personne n'a disposé d'une telle puissance depuis Charlemagne.
Tout d'abord, à la mort de son père et en raison de l'incapacité de sa mère Dona Juana, dite Jeanne « la Folle », à gouverner, il devient souverain des Pays-Bas 1506, puis roi d'Espagne 1516 et bientôt de ses prolongements coloniaux, notamment le Mexique, conquis par Cortés. Il hérite des possessions autrichiennes après le décès de son grand-père Maximilien en 1519.
Cette année est aussi celle de son élection à l'Empire*3 : il l'emporte sur les autres candidats, notamment l'Allemand Frédéric de Saxe, chef de l'opposition aux Habsbourg, et le Français François Ier de Valois. C'est l'argent qui a eu le dernier mot, les banquiers et marchands d'Europe du Nord, tels les Fugger et les Welser, secondés par des Génois et des Florentins, lui ayant avancé les 850 000 florins nécessaires pour acheter les électeurs... C'est ainsi que, le 28 juin 1519, Charles de Habsbourg est élu empereur sous le nom de Charles Quint. Il est sacré et couronné à Aix-la-Chapelle le 23 octobre 1520.
A cette extraordinaire collection de couronnes, il convient d'ajouter le contrôle direct et indirect d'une grande partie des États italiens après les victoires militaires remportées sur François Ier dans les années 1520, notamment le triomphe de Pavie en 1525, présenté comme un signe providentiel, supplémentaire, attestant de la mission réellement divine de l'empereur.
Son prestige est alors immense : dans l'Empire, il est le suzerain et le défenseur suprême, levant bien haut l'étendard de Dieu contre les «  infidèles », les Turcs qui menacent aux frontières. Les représentations sacrées du monde, sur les retables des églises, le montrent portant le glaive et le globe, symboles d'une souveraineté universelle. Il se trouve en effet à la tête de la plus formidable puissance territoriale qu'un homme ait dirigée en Europe — ce qui nourrira, chez les rois de France, la hantise durable d'être pris en tenailles par les immenses possessions des Habsbourg : une obsession qui commandera toute leur politique étrangère, au moins jusqu'à la fin du règne de Louis XIV, en 1715. 
Or il y a loin du pouvoir virtuel à la puissance effective. A la différence du roi de France qui commande un territoire trapu, d'un seul bloc, Charles Quint gouverne un empire immense mais éclaté. Ses possessions sont un conglomérat d'États, réparties et dispersées sur un territoire démesuré à l'échelle du XVIe siècle, partagé, en Europe seulement, entre trois espaces principaux : Espagne et Italie, Pays-Bas et Franche-Comté, Allemagne. Comment faire pour les contrôler tous ? Notamment les Pays-Bas où la coutume exige un contact physique, personnel, du prince. Les Espagnols eux aussi se sentiront longtemps frustrés en raison de l'éloignement du roi4.
Surtout, partout ou presque, le souverain doit reconnaître et respecter les immunités et les privilèges des villes, des sociétés qu'il dirige, représentées par des états, des diètes qui disposent d'une latitude considérable, en particulier en matière de finances : pour lever un impôt nécessaire afin de payer les guerres incessantes et ruineuses qu'il mène contre François Ier ou Soliman le Magnifique, Charles Quint doit le plus souvent passer par ces organismes consultatifs, qui n'hésitent pas à lui présenter des doléances et d'âpres critiques. La Saxe, par exemple, qui s'opposera violemment à lui, est un pôle de domination économique ainsi que commercial à l'image des foires de Leipzig, de progrès technique, qui accompagne et soutient les revendications politiques de son prince.
Ses pouvoirs « réels » sont bien moindres que ceux d'un roi de France ou d'Angleterre. L'empereur n'est qu'un rouage de l'Empire ; il n'en est pas du tout le maître. Son autorité est constitutionnellement limitée, comme l'explique très clairement l'article 13 du Pacte impérial : «  L'empereur en tant que tel s'engage à se comporter en bon voisin à l'égard des autres puissances chrétiennes, à n'engager aucune guerre et à ne faire entrer sur le territoire de l'Empire aucune troupe de guerre étrangère sans que les [sept] princes électeurs en aient délibéré et en aient donné la permission. » 
A une autre échelle, contre toute tentative d'unification, se dressent les innombrables petits nobles, les chevaliers, les châtelains-brigands dont les « burgs » dominent les routes commerciales. L'un d'entre eux, Goetz von Berlichingen, mène une guerre privée contre Nuremberg, pille et capture les marchands qui reviennent des foires de Leipzig, se vante d'avoir en une nuit incendié trois bourgades et soutenu pendant soixante ans, à la pointe de son épée, guerres, rixes et querelles, le tout au mépris de la Chambre impériale5. Quant à Franz von Sickingen, en guerre contre la ville de Worms, il met à la torture un ancien bourgmestre, détourne les eaux, coupe les chemins, au nez et à la barbe de l'empereur...
En fait, l'ordre relatif ne règne en Allemagne que dans les territoires soumis directement aux princes les plus puissants, où s'ébauche un processus de formation d'État, et dans les villes libres6. Nous sommes loin, on le voit, de l'idée d'un empire universel commandé par le même homme, chère à Gattinara...
De même, lorsque Charles Ier c'est son nom dans ses domaines ibériques débarque en Espagne en 1517, c'est l'incompréhension qui domine entre le nouveau souverain et ses sujets : le mécontentement s'exprime lors de son passage à Valladolid, des résistances s'organisent dans les Cortès* qui refusent de voter des subsides, des oppositions se forment contre son entourage flamand, au sein duquel de nombreux conseillers se comportent comme s'ils étaient en pays conquis.
Pour couronner le tout, une révolte, brutale, violente, éclate en 1520-1521 : celle des  comuneros . Menée par l'hidalgo Juan de Padilla et sa femme Maria Pacheco, groupant autour d'eux noblesse, clergé et masses populaires, la rébellion se développe en Castille, à Ségovie, Tolède, Medina del Campo... Les insurgés réclament l'expulsion des étrangers, l'interdiction de sortir l'or et l'argent du royaume, le retour du « bon gouvernement » des Rois Catholiques, la transformation de la Castille en une fédération de villes, dirigée par une junte, avec comme modèle les villes libres d'Allemagne et les Républiques urbaines italiennes7. Les mots de « liberté » et même de « démocratie » sont prononcés. Le mouvement est nettement orienté contre la centralisation administrative royale les  corregidores * : la réunion des Cortès tous les trois ans sans convocation royale est ainsi revendiquée. 
La monarchie réussit peu à peu à reprendre en main la situation. Finalement, l'armée du roi écrase les  comuneros , à Villalar, le 23 avril 1521, et fait exécuter leurs chefs — Tolède, dirigée par la veuve de Padilla et par l'évêque de Zamora Antonio de Acuna, résistera jusqu'en février 1522. 
Il faudra cependant de longues années à Charles pour se faire enfin admettre par ses sujets espagnols : il apprend le castillan, réside en Espagne pendant sept ans et parvient à satisfaire l'orgueil de ses sujets par la conquête du Mexique, le succès de l'expédition de Magellan autour du monde et l'arrivée de l'argent et de l'or américains à Séville.
Hors d'Espagne, l'empereur doit affronter des difficultés bien plus redoutables encore. Homme de guerre, il a commandé en personne de nombreuses batailles et sièges de villes fortes, dans le cadre d'un triple conflit l'opposant à l'islam front slave à l'est, front barbaresque au sud, aux princes luthériens, au roi de France. En 1557, Federico Badoaro, ambassadeur de Venise, soulignera «  sa volonté d'être présent aux batailles véritables, d'être le premier à revêtir son armure et le dernier à la quitter : tout cela a démontré en somme qu'il était un capitaine d'une haute valeur, surtout dans l'exécution ». 
On cite aussi de lui un mot cruel à propos de ses soldats. C'était au désastreux siège de Metz, en 1552. Les troupes impériales souffraient atrocement de la faim et de l'épidémie. «  L'empereur , raconte le chirurgien français Ambroise Paré,  demanda quelles gens c'étaient qui se mouraient, et si c'étaient gentilshommes et hommes de marque ; lui fut fait réponse que c'étaient tous pauvres soldats. Alors dit qu'il n'y avait point de danger qu'ils mourussent, les comparant aux chenilles, sauterelles et hannetons qui mangent les bourgeons et autres biens de la terre, et que s'ils étaient gens de bien, ils ne seraient pas en son camp pour six livres par mois. » 
Face aux Turcs et aux barbaresques d'Afrique du Nord, tout d'abord, Charles Quint a mené un combat permanent, notamment en raison de la poussée ottomane sur le Danube, qui se renforce en 1520 avec l'avènement de Soliman le Magnifique8 : en août 1521, Belgrade est prise, en 1526, l'armée hongroise est écrasée à Mohács et, en 1529, Vienne est assiégée.
De même, en Méditerranée, les périls se multiplient : en 1522, Soliman fait donner l'assaut sur Rhodes ; Barberousse9 et ses pirates tiennent Alger, point d'appui pour menacer les côtes d'Espagne, de Sicile et d'Italie. Sur ce front, l'année 1528 marque une rupture diplomatique fondamentale dans l'équilibre des forces : Andréa Doria, commandant des flottes génoises, abandonnant François Ier, fait passer Gênes et toute sa puissance navale dans le camp de Charles Quint.
Une première offensive est lancée en 1535 sur Tunis : Charles Quint, dont c'est le baptême du feu, y libère des milliers de chrétiens captifs. Surtout, dans l'été 1541, l'empereur se décide à frapper un grand coup en organisant une expédition contre Alger. Le débarquement des troupes réussit, mais la ville résiste et finalement la tempête endommage et disperse la flotte. C'est un échec complet.
Cependant, à chaque fois, l'empereur apparaît comme le soldat du Christ, le défenseur de la foi : en 1536, lors de son entrée à Rome, après l'expédition de Tunis, il passe sur le forum où on a érigé de nombreux arcs de triomphe le représentant en nouveau Charlemagne triomphant de l'infidèle et du païen.
L'infidèle n'est pas seulement celui qui assiège les frontières : Charles Quint a aussi et peut-être surtout à résister à l'ébranlement de l'unité religieuse sous les coups de la Réforme, après la diffusion des 95 thèses de Martin Luther en 1517, s'indignant notamment de la pratique des indulgences10. Dès 1520, le pape en condamne 54, jugées «  hérétiques » et inconciliables avec la foi catholique. 
Or tout le comportement de l'empereur témoigne, on l'a dit, d'une piété simple et profonde, centrée sur la personne du Christ, avec un sens très vif du péché et de la rédemption. Surtout, il reste fermement attaché à l'unité de l'Église, aussi bien comme souverain que comme chrétien, et il ne saurait admettre une réforme qui se ferait sous l'impulsion d'un moine révolté. Luther est donc fermement invité à comparaître devant lui à Worms, en avril 1521. Après que ce dernier eut refusé de se rétracter, Charles Quint le met au ban de l'Empire déclaré hors la loi, quiconque peut l'arrêter et revendique plus que jamais son statut de guerrier de Dieu : «  Pour la défense de la foi, je suis décidé à employer mes royaumes et seigneuries, mes amis, mon corps, mon sang, ma vie et mon âme. » 
Pourtant, il a tenté de réconcilier sur ses terres les catholiques et les partisans de Luther : c'était justement l'objet principal de la Diète* qu'il a convoquée à Worms en avril 1521. Cet échec, qui offrit par ailleurs à Luther une magnifique tribune, eut pour conséquence une intrication des problèmes religieux, politiques, sociaux.
Ce n'est pas un hasard si l'« hérésie » luthérienne prend naissance en terre saxonne, sous la souveraineté de l'électeur Frédéric le Pieux, adversaire politique de Charles — on l'avait présenté contre lui, on s'en souvient, à l'élection de 1519. La ligue protestante de Smalkade, formée en 1530, animée précisément par le duc de Saxe et le prince Philippe de Hesse, organisation défensive bientôt dotée d'une force militaire, invite même les rois de France et d'Angleterre à la rejoindre en 1531 : le protestantisme est devenu une force politique à l'intérieur comme à l'extérieur de l'Empire, avec pour objectif principal d'empêcher la croissance de la puissance impériale.
C'est à la fin de son règne seulement, à Mühlberg, en 1547, que l'empereur, déjà vieilli, remporte une victoire militaire qu'il croit décisive contre l'armée des princes protestants ligués contre lui. Cependant, une nouvelle guerre entraîne la signature de la paix d'Augsbourg, le 25 septembre 1555, qui règle provisoirement le problème religieux, mais sanctionne l'échec de Charles Quint puisque le luthéranisme est reconnu à égalité avec le catholicisme, les sujets ayant la liberté d'adopter la religion de leur prince, selon la règle cujus regio ejus religio « un roi, une foi ». A la fin de son règne, les deux tiers de l'Allemagne sont devenus luthériens : plus que jamais l'Empire est éclaté.
Quant à l'antagonisme entre la France et les Habsbourg et à la rivalité personnelle entre François Ier et Charles Quint, ils n'ont pas cessé tout au long des deux règnes. Ponctué de victoires, de défaites, de paix fragiles traité de Cambrai en 1529, paix de Crépy-en-Laonnois en 1544 et d'entrevues comme celle d'Aigues-Mortes en 1538, le combat se solde, après l'échec du siège de Metz en 1553, entrepris par l'empereur en personne, par une sorte de match nul. Mais il aura été épuisant pour les finances fragiles des deux rivaux : la trêve de Vaucelles, en février 1556, maintient l'hégémonie espagnole en Italie, tandis que Charles Quint ne peut reprendre Metz et les places stratégiques de Lorraine, ni déloger les Français de Savoie, du Piémont et de Saluces.
Or, depuis longtemps, ce pouvoir hors de toute portée humaine pèse sur Charles Quint — un pouvoir qu'il assume par devoir et stoïcisme plus que par goût et plaisir : en 1535 déjà, il songe à abdiquer. L'âge, la fatigue, la maladie la goutte, l'asthme et de nombreux accès de fièvre, une tendance dépressive de plus en plus marquée, les échecs répétés des dernières années, notamment contre les princes luthériens et la France, enfin la certitude que son fils, Philippe, né de son mariage heureux avec Isabelle de Portugal 1503-1539, et qui deviendra Philippe II d'Espagne, est maintenant en âge d'assurer la relève, expliquent sa décision de se retirer : il abandonne tour à tour, et avec solennité, les Pays-Bas octobre 1555 et l'Espagne janvier 1556 au profit de Philippe, puis l'Empire au profit de son frère Ferdinand élu empereur le 12 mars 1558.
Charles Quint s'installe alors dans une résidence mitoyenne du monastère des hiéronymites11 de Yuste, sur les pentes d'une sierra de l'Estrémadure. Dans cet ermitage modeste mais confortable, il aspire au «  parfait désengagement » tout en se tenant informé jusqu'au bout des affaires du monde, de ce qui fut son monde, un monde qu'il quitte définitivement le 21 septembre 1558 après une douloureuse agonie. Avant de mourir, il a eu le temps de se réjouir de la victoire des troupes espagnoles contre le roi de France Henri II à Saint-Quentin août 1557, le temps aussi d'être attristé par la nouvelle de la découverte d'un groupe de « luthériens », à Valladolid, au coeur même de ce qui est devenu, enfin, mais à quel prix, « son » Espagne, l'Espagne du siècle d'or, l'éclat le plus vif de son grand rêve d'empire brisé... 
Le rêve brisé de Charles Quint : qu'est-ce qui pourrait mieux l'illustrer et le mettre en scène que le grandiose triomphe funèbre qui lui fut offert par Bruxelles en 1559 ? L'empereur est représenté tenant enchaînés le Turc et l'hérétique. Image consolatrice de son combat perdu. Car le règne du dernier grand empereur de l'Occident fut aussi celui de l'unité impossible de la chrétienté.
Quittons l'empereur sur deux images peintes par Titien en 1548. L'année précédente, à Mühlberg, il a vaincu les princes protestants. Titien, son portraitiste depuis 1518, réalise pour commémorer et magnifier l'événement un grand tableau d'apparat : un empereur en majesté, stoïque, chevalier cuirassé, la lance au poing, le regard fixé au loin sur son destin de saint Georges à l'assaut du dragon de l'hérésie ; mais figé, comme si cette victoire n'était que théâtre, parade et propagande. Et pourquoi ce cheval noir, couleur de mort, comme dans les tableaux crépusculaires de Paolo Uccello ?
Cette même année 1548, Titien peint un tout autre homme, habillé d'une houppelande bordée de fourrure, assis sur un simple fauteuil de bois. Une canne a remplacé la lance de guerre, qui soutient un vieillard précoce il n'a pourtant que quarante-huit ans, tassé, fatigué, tout de noir vêtu. Son regard a cessé de scruter l'horizon : il nous fixe, à présent, comme pour nous faire partager une part de son fardeau et de sa lassitude. Jamais Titien n'avait été si proche de l'homme, perclus de fièvres et de goutte, qui se cache sous le souverain. Le seul signe d'une grandeur déjà passée est le collier de la Toison d'or* qu'il porte au cou, marque ultime de la dimension chevaleresque de son pouvoir.
Deux visages d'un même personnage, peut-être l'illusion et la désillusion de tout un règne. Du jeune empereur comblé par les dieux de 1519 au monarque abandonnant un à un ses titres et ses territoires entre 1555 et 1558, une mutation essentielle s'est opérée dans l'Europe effervescente de ce premier XVIe siècle : des États sont nés, se sont affirmés et durcis, annexant ou créant des Églises sur les décombres d'une chrétienté définitivement déchirée.
Tel un guerrier de Dieu devant faire face à des forces qu'il ne pouvait maîtriser, Charles Quint fut tout à la fois le dernier croisé, le dernier empereur du Moyen Age et le premier grand prince territorial des temps modernes, notamment en Espagne, cette chère Espagne, si hostile au début de son règne, et qu'il a fini par aimer.
* Cf. « Les mots de l'Empire ».
1. Le chambellan est chargé du service de la chambre du souverain. 
2. Après ce discours belliqueux, Charles Quint quitte effectivement les Pays-Bas pour le Piémont et envahit la Provence, qu'il devra bientôt abandonner, vaincu par la maladie, la faim, la chaleur et la politique de terre brûlée adoptée par François Ier. 
3. Depuis la bulle d'or de 1356, le chef du Saint Empire est élu par sept princes électeurs : les archevêques de Trêves, de Mayence, de Cologne, le comte-palatin du Rhin Wittelsbach, le margrave de Brandebourg Hohenzollern, le duc de Saxe-Wittenberg et le roi de Bohême. 
4. Cf. Jean Boutier, Alain Dewerpe et Daniel Nordman, « Les voyages des rois de France »,  L'Histoire n° 24. 
H. Lapeyre, « Les voyages de Charles Quint »,  L'Histoire n° 30. 
5. La Chambre impériale ou tribunal suprême d'empire a été instituée en 1495 par Maximilien Ier. Son siège, d'abord fixé à Francfort, puis à Worms, a été établi à Spire en 1527. Il s'agit d'une cour d'appel chargée de juger en dernière instance les différends survenus dans les États de l'Empire. 
6. Les villes libres sont administrées par un conseil disposant de pouvoirs étendus en matière économique, financière, militaire : ainsi à Colmar, Hambourg, Cologne, Brême, Metz, Toul, Verdun... 
7. Cette violente réaction xénophobe antiflamande exprime un idéal médiéval de République urbaine s'administrant elle-même hors de toute pression notamment fiscale d'un État lourd, autoritaire et centralisé. 
8. Cf. G. Veinstein, « Un secret d'État : la mort de Soliman le Magnifique », L'Histoire n° 211. 
9. Nom donné par les historiens européens à deux frères corsaires turcs. Khayr al-Dîn vers 1476-1546 a fondé, avec son frère Aroudi, la régence d'Alger. Il est le vassal du sultan ottoman. 
10. Les indulgences, ou rémissions des peines temporelles accordées par l'Église en contrepartie de dons ou de gestes de pénitence, faisaient l'objet d'un trafic, violemment critiqué notamment par Luther. 
11. Ordre de saint Jérôme, suivant la règle de saint Augustin. Voués à la prière, les hiéronymites avaient la garde d'importants sanctuaires comme celui de Guadalupe, celle aussi des sépultures royales.

"O que ocorre atualmente no Brasil?", perguntam na ONU - Jamil Chade

Jamil Chade sobre diplomacia brasileira em Genebra: foi um profundo constrangimento

O jornalista Jamil Chade, que há 20 anos percorre os corredores da ONU e de outras entidades internacionais, em um relato contundente afirmou que o que viu nesta quinta-feira (27) nas salas de reunião das Nações Unidas, em Genebra, é diferente de tudo o que havia visto em duas décadas. "O que presenciei foi um profundo constrangimento"

41 Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra
247 - O jornalista Jamil Chade, que há 20 anos percorre os corredores da ONU e de outras entidades internacionais, em um relato contundente afirmou que o que viu nesta quinta-feira (27) nas salas de reunião das Nações Unidas, em Genebra, é diferente de tudo o que havia visto em duas décadas. "O que presenciei foi um profundo constrangimento", escreveu no Uol.
Crítico dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, Chade conta que nos tempos petistas havia uma "coerência mínima" em relação à tradição da diplomacia nacional, que respeitava a lógica que remontava ao DNA da diplomacia de Rio Branco. "A soberania seria defendida por meio do fortalecimento da paz, pelo diálogo e da defesa irrestrita do sistema multilateral. E não por sua destruição", escreveu.
Chade diz que hoje o Brasil abriu mão dessa tradição e levou à política externa valores ultra-conservadores do grupo no poder, passando a colocar em prática uma diplomacia "ideológica-religiosa" que, segundo o jornalista, "passou a minar o consenso até mesmo dentro do Ocidente".
Jamil conta que nos últimos dias, os diplomatas brasileiros receberam instruções de Brasília para vetar nos textos e resoluções da ONU qualquer uso da palavra "gênero", para atacar questões específicas relacionadas à religião e também o conceito de direitos reprodutivos, incluindo aí "qualquer referência nos textos que eventualmente pudesse dar brecha a uma suposta análise positiva do aborto". Em tempo: nenhuma resolução defendia o aborto, "isso estava apenas na forma pela qual o governo brasileiro as interpretava".
Com isso em vista, "enquanto os diplomatas brasileiros pediam a palavra e começavam a listar os vetos sobre os trechos das resoluções, o que se via na sala era uma mistura de espanto, ironias e incompreensão por parte das delegações estrangeiras", contou o jornalista.
Chade citou um representante do Uruguai, que não disfarçava o susto, e dois da UE: um ria e outro suspirava diante do que escutava. Os delegados trocavam impressões sobre como reagir ao Brasil por mensagens de telefone, conta Chade, enquanto os diplomatas "colocavam as placas com o nome de seus países para que pudessem intervir, contra as propostas brasileiras".
Entre as ongs, "os comentários beiravam a revolta".
Nem mesmo Chile e Israel, dois novos aliados de Bolsonaro, "toparam a guinada brasileira ao obscurantismo e fizeram questão de pedir a palavra para dizer que não aceitavam o que o Brasil sugeria". 
Para o jornalista, um diplomata europeu comentou que o regime de Duterte afirma que os brasileiros "estão com eles em uma resolução para impedir que os massacres nas Filipinas sejam investigados".
Quando achou que já tivesse visto de tudo, Chade contou que enquanto deixava a sede da ONU, uma relatora especial da entidade o segurou pelo braço e perguntou: o que está ocorrendo no Brasil?

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Acordo Mercosul-UE: o gato subiu no telhado...

Depois de Merkel, Macron isola Bolsonaro ainda mais

O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que não assinará acordo comercial com o Brasil caso Jair Bolsonaro saia do acordo climático de Paris, ameaçando colocar em risco negociações comerciais entre UE e Mercosul; A chanceler alemã, Angela Merkel, também havia dito estar preocupado com a posição de Bolsonaro sobre o meio ambiente

247, com Reuters - O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou nesta quinta-feira que não assinará nenhum acordo comercial com o Brasil caso o presidente Jair Bolsonaro saia do acordo climático de Paris, ameaçando colocar em risco os trabalhos de negociações comerciais entre UE e Mercosul. A chanceler alemã, Angela Merkel, também havia dito, nesta quarta-feira (26), que deseja conversar com Bolsonaro sobre o desmatamento no Brasil. Ela se disse preocupada com o posicionamento dele sobre o meio ambiente.
As jornalistas no Japão, antes da reunião do G20, Macron afirmou que, “se o Brasil deixar o acordo de Paris, até onde nos diz respeito, não poderemos assinar o acordo comercial com eles”. 
“Por uma simples razão. Estamos pedindo que nossos produtores parem de usar pesticidas, estamos pedindo que nossas companhias produzam menos carbono, e isso tem um custo de competitividade”, disse ele. “Então não vamos dizer de um dia para o outro que deixaremos entrar bens de países que não respeitam nada disso”, acrescentou.
O Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas divulgou, nesta terça-feira 25, um documento sobre o impacto das mudanças climáticas na faixa mais pobre da população mundial. O relator especial Philip Alston chamou Bolsonaro de  “fracasso”. “No Brasil, o presidente Bolsonaro prometeu abrir a Floresta Amazônica para a mineração, acabar com a demarcação de terras indígenas e enfraquecer as agências e proteção ambientais”, citou o americano.
As negociações da UE com o grupo do Mercosul, que abarca Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, o quarto maior bloco comercial do mundo, se intensificaram, com Bolsonaro dizendo este mês que um acordo poderia ser assinado “logo”, enquanto a UE o chamou de “prioridade número um”.
No entanto, a irritação da União Europeia em relação ao aumento de importações de carne e a hesitação do Mercosul sobre abertura de alguns setores industriais, como o automotivo, fizeram prazos anteriores para um acordo serem descumpridos. Se um acordo estiver perto, está além do alcance.
A França em particular está preocupada com o impacto sobre sua vasta indústria de agricultura de importações sul-americanas, que não teriam que respeitar as estritas regulações de meio ambiente da UE.
O país europeu votou contra a abertura de negociações comerciais entre a UE e os Estados Unidos por conta da decisão de Washington de deixar o acordo climático de Paris.
No entanto, a medida francesa não bloqueou a abertura de negociações comerciais porque a maioria necessária de membros da UE a apoiou. Não está claro se a França seria capaz de levar outros países do bloco a votarem contra o acordo do Mercosul.

Blog Diplomatizzando: as postagens com maior número de acessos

Uma breve consulta sobre os acessos ao meu blog, em termos de volume total e de postagens individuais:


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