domingo, 25 de março de 2007

716) Bibliotecas digitais

Pequeno serviço de utilidade pública: livros no domínio público (alguns, nem tanto).

Livros digitais: algumas fontes
Retirado do site do Professor José Moreira Palazzo de Oliveira, neste link (em 25/03/2007).

Há uma série de serviços oferecendo livros digitalizados na Web. A seguir são apresentdadas algumas alternativas para o acesso à bibliografia já digitalizada. Os sites oferecem conteúdos em diferentes línguas, cabe ao usuário selecionar os mais adequados a seus interesses e capacidades linguísticas.

* O Portal de Domínio Público do Governo Brasileiro. Este portal constitui-se em um ambiente virtual que permite a coleta, a integração, a preservação e o compartilhamento de conhecimentos, sendo seu principal objetivo o de promover o amplo acesso às obras literárias, artísticas e científicas (na forma de textos, sons, imagens e vídeos), já em domínio público ou que tenham a sua divulgação devidamente autorizada, que constituem o patrimônio cultural brasileiro e universal.
* (en) A Biblioteca Européia: este portal oferece acesso unificado aos acervo digitalizadao de 43 bibliotecas nacionais européias. A busca aos acervos é gratuíta, o acesso pode ser cobrado.
* (en) A Biblioteca Gutenberg: esta foi a biblioteca pioneira na área, é alimentada por voluntários que digitalizam as obras, em meados de 2006 disponibilizava 15.000 obras.
* Wikilivros: é uma proposta para a disseminação coletiva de livros didáticos. O princípio é o mesmo da Wikipedia, a editoração e a revisão colaborativa de textos.
* (en) The Open-Access Text Archive: reúne um grande conjunto de bibliotecas internacionais para a oferta de de livros digitalizados em acesso livre.

Blog do Professor Palazzo

domingo, 18 de março de 2007

715) Um pequeno alerta para os mais jovens, a respeito do socialismo do seculo XXI

Socialismo para os incautos

Paulo Roberto de Almeida
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)

Quem diria?!: o socialismo, temporariamente aposentado e relegado a um esquecido e remoto depósito de alternativas credíveis ao velho e duro capitalismo, parece estar voltando novamente à cena, agora travestido em sua nova roupagem “do século XXI”. Ele passou a ser oferecido, sobretudo, na América Latina, terra de todos os milenarismos.
Com efeito, depois de seu brilhante fracasso no final dos anos 1980, o socialismo tinha ido fazer companhia à roca de fiar e ao machado de bronze, no museu das antiguidades, como pretendia Engels em relação ao Estado. Surpreendentemente, ele parece ensaiar um retorno triunfal nos remakes que vem sendo servidos em tom triunfalista – e a grandes doses de subsídios petrolíferos – por alguns personagens diretamente retirados dos livros de história, ainda que de épocas que se imaginavam enterradas e esquecidas.
Seu retorno em grande estilo se deve, ao que parece, aos fracassos igualmente rotundos do “neoliberalismo” na região, no decorrer das duas décadas seguintes ao desmantelamento do socialismo real na Europa do leste (e um pouco em todas as outras partes do mundo). O fato é que o velho capitalismo continuava a ser, de fato, um sistema injusto e desigual, mas ele se impunha quase que naturalmente como forma de organização econômica e social, uma vez que não tinha sobrado quase nada de alternativo e que fosse factível, nas reduzidas prateleiras do supermercado da história. Tivemos passar a consumir capitalismo, em doses maciças, de forma praticamente obrigatória.
Para alguns, a experiência de ter de aceitar compulsoriamente o capitalismo deve ter sido traumática. Os órfãos do velho socialismo – tão mais numerosos quando nunca tiveram de viver a experiência do “socialismo real” – devem estar novamente esperançosos, ao assistir os anúncios triunfalistas que são atualmente feitos em nome do novo socialismo, cujos contornos são ainda em grande parte indefinidos, mas que envolvem as fórmulas habituais de estatização e os cacoetes culturais conhecidos em torno da criação do “homem novo”, como convém aos sistemas deliberadamente messiânicos e salvacionistas. Aos velhos socialistas se juntaram vários grupos de jovens idealistas, comumente referidos como antiglobalizadores ou altermundialistas, que acreditam, em grande medida sinceramente, que o capitalismo representa, de fato, a maior soma de iniquidades possíveis de todas as formas conhecidas de organização econômica e social, entre elas as comunidades primitivas e o feudalismo medieval.
Contemplo essa “nova marcha para a frente” no sentido da “redenção da humanidade” com o olhar cético de quem já assistiu esse filme antes, inclusive por ter me engajado, em outras eras, na luta contras as iniquidades do capitalismo latino-americano e sua submissão aos ditames do imperialismo colonizador e de ter tido, na seqüência, a oportunidade de conhecer os diversos socialismos reais disponíveis nas lojas de departamento da história, a maior parte nos países do leste europeu, do início até quase o final dos anos 1970. Estou portanto habilitado a pronunciar-me por experiência própria quanto às esperanças de se ter um “novo socialismo”, desta vez sem as habituais bulas marxianas ou leninistas, apenas com roupagens e cenários que me lembram, vagamente, as fórmulas mussolinianas.
Se isto pode servir de consolo aos jovens idealistas da antiglobalização – uma vez que eu considero os “velhos órfãos” do socialismo “irreformáveis” e “intransformáveis” –, eu diria o seguinte: aqueles que hoje condenam o capitalismo por todas as suas iniquidades, provavelmente nunca conheceram suas alternativas “reais”, que eram as do socialismo de tipo soviético e suas diversas variantes, algumas delas ainda sobrevivendo ainda numa pequena ilha do Caribe e num canto remoto da Ásia. Apenas a falta de informação e uma irracional recusa em se informar, a despeito da massa de conhecimento acumulada a respeito das experiências do socialismo real podem explicar essa demanda, atualmente crescente, por um “socialismo do século XXI”.
Eu, por ter conhecido pessoalmente, se ouso dizer, todos os socialismos reais e o seu modo de funcionamento interno, posso assegurar, com toda a candura de uma alma reconciliada com as supostas iniquidades do capitalismo, que não há maior miséria moral, maiores atentados à dignidade humana, do que os regimes socialistas que existiram na face da terra até bem pouco. Posso parafrasear o que disse o poeta e revolucionário cubano José Marti dos Estados Unidos, país no qual ele se exilou temporariamente, para escapar dos opressores coloniais de sua pátria: “eu conheci as entranhas do monstro”. De fato, pude conhecer o interior da “baleia socialista” e o que vi não era nada bonito, muito pelo contrário.
O mais chocante, justamente, não eram apenas as pequenas misérias materiais, o aspecto deteriorado dos equipamentos públicos, a falta habitual de produtos de primeira necessidade, as estantes sempre vazias nos comércios, a rudeza de apresentação e o caráter tosco da maior parte dos bens e serviços oferecidos nos “mercados” socialistas, tudo isso era habitual e esperado e não me surpreendeu mais do que a decepção dos primeiros contatos. O que estava por trás de tudo aquilo era muito mais importante, pois tinha a ver, não com a simples miséria material, mas com os comportamentos sociais, com o olhar furtivo das pessoas, com a contenção da linguagem, com a retenção do pensamento, com o permanente estado de vigilância policial, em uma palavra, com a miséria moral que só os verdadeiros regimes socialistas são capazes de exibir.
Não estou me referindo aqui ao Estado policial em estado quimicamente puro, se ouso dizer, uma amostra do qual pode ser conferido na grande “biografia” do Gulag da historiadora Anne Applebaum. Não tem a ver com a repressão direta, estilo Gestapo ou NKVD, apenas com a vida cotidiana num país socialista “normal” do Leste europeu em meados dos anos 1970. Aquilo deve ter me vacinado de maneira eficaz contra minha anterior inclinação revolucionária a querer implantar o socialismo a golpes de martelo, como pretendíamos na nossa juventude de opositores do regime militar brasileiro.
Por isso, quando ouço novamente os novos cantos de sereia sobre o “socialismo do século XXI”, permito-me retrucar modestamente: vamos ficar com as modestas iniquidades materiais do capitalismo – que permitem, ainda assim, o progresso individual baseado no mérito individual e no esforço próprio – e deixar de lado as tentações totalitárias de pretender implantar a igualdade na base do autoritarismo, o que só pode conduzir às grandes iniquidades morais do socialismo.
Não existem grandes virtudes no socialismo, apenas “heróis” do povo, devidamente fabricados por ditadores pouco esclarecidos que implantam regimes muito parecidos com os sistemas fascistas existentes na Europa do entre-guerras. Por experiência própria, eu constatei que a ditadura dos medíocres – que caracteriza quase sempre os regimes socialistas – é uma coisa terrível, e a miseria daí derivada é muito superior à eventual miséria material do capitalismo...

Brasília, 1733, 18 março 2007

714) Declaracao a praca: para o mercado de dissertacoes...

Uma modesta declaração à praça para dizer que minha participação no mercado de bancas de dissertações de mestrado será feita, doravante, em doses muito bem medidas, pelas razões que exponho abaixo.

Obscuridade

“As pessoas que fazem ou falam literatura são totalmente incompreensíveis, parece-me mais um defeito da natureza do que uma virtude, mas talvez a arte tenha sido sempre condicionada por tais deficiências”
Stefan Zweig
carta a Friderike Maria von Winterniz (ex-Zweig),
em 7/12/1940, citado por Alberto Dines,
Morte no Paraíso: a tragédia de Stefan Zweig
(3ª ed. ampliada; Rio de Janeiro: Rocco, 2004), p. 326.


Stefan Zweig referia-se, obviamente, aos escritores como ele, romancistas ou literatos em geral, homens de letras, no sentido amplo, cuja prosa lhe parecia pertencer a um universo de referências escondidas, de significados obscuros, cuja compreensão talvez só estivesse ao alcance de outros membros da République des Lettres, que ele evitava freqüentar, seja por comodismo ou timidez, seja por medo de entrar em polêmica a respeito de suas próprias convicções literárias ou a propósito do seu estilo literário. Ele queria ser compreendido (e amado) do grande público e por isso buscava a concisão literária, a correção na forma, a perfeição na linguagem, ademais da simplicidade no discurso, para que seu argumento atingisse o maior número. Sem deixar de ser profundo, e de fazer apelo à sua vasta cultura humanista, ele pretendia ser um escritor popular, o que requeria, obviamente, um cuidado especial com a linguagem escrita, de maneira a aproximá-la do cidadão comum, do leitor médio, do público cultivado mas não pretencioso, que refugava os maneirismos e preciosismos de linguagem de muitos dos seus colegas de pluma.
De minha parte, entendo que a frase de Zweig aplica-se ainda com maior acuidade e rigor ao trabalho dos filósofos, dos sociólogos, dos cientistas sociais em geral, cujo objeto de análise e de reflexões toca nos campos mais ou menos subjetivos da organização social, das motivações políticas, das políticas econômicas, enfim, dos assuntos humanos. Tenho encontrado, em muitos escritos de meus colegas, grandes doses de prolixidade na escrita, um desejo inconfessado de parecer sofisticado pelo rebuscamento inútil da linguagem, pela profusão nos conceitos e pela adjetivação exagerada das análises. Parece que eles acabaram de fazer um curso completo de redação obscura com um desses filósofos franceses adeptos do desconstrucionismo verbal, êmulos (talvez onconscientes) de Derrida e de Baudrillard.
Isso pelo lado bom. Pelo lado ruim, o que mais tenho encontrado, na verdade, é a simples redação deficiente, uma linguagem caótica e rebarbativa, que por sua vez revela um pensamento desorganizado, uma confusão de idéias que passa longo do que se convencionou chamar de brain storming. Pelo lado catástrófico, então, cada vez mais deparo com a miséria da escrita, com uma linguagem estropiada por incorreções gramaticais, impropriedades estilísticas, quando não barbaridades ortográficas de tal monta que seriam capazes de fazer fundir um desses corretores automáticos de computador que detectam todos os erros de digitação. Mas, mesmo depois que o perpetrador em questão aplicou o seu corretor ortográfico informático e eliminou todos os erros de digitação, ainda sobram frases incompreensíveis, expressões sem sentido, uma linguagem tortuosa e torturada que seria capaz de confundir o mais paciente revisor de estilo pago por tarefa.
A pobreza da linguagem escrita no Brasil – já nem mais falo da linguagem coloquial, irrecorrivelmente contaminada pelo dialeto televisivo das novelas e programas de auditório – tem progredido a olhos vistos, acompanhando a rápida deterioração da educação no país. Acredito que não haja mais espaço, atualmente, para aqueles programas ao vivo voltados para testar o conhecimento de concorrentes em fatos gerais da história ou em destreza na língua escrita, que premiavam verdadeiras enciclopédias ambulantes, dicionários vivos da língua pátria. Tudo isso é passado, eu sei, mas será que não se consegue, ao menos, ter pessoas que consigam escrever ao menos num Português normal, desprovido de erros primários e de barbarismos estilísticos?
Não estou falando de profissionais “normais”, mas de aspirantes a um título universitário de pós-graduação, que constitui a minha “clientela” mais freqüente. Tenho encontrado cada vez mais, nessas dissertações para as quais sou convidado para a banca julgadora, um tal volume de atentados à linguagem que penso seriamente em desistir de aceitar participação, por mais que o título ou o tema possam me atrair. Vou pedir para ver o trabalho antes de decidir se aceito ou não. Não quero ficar chocado com as barbaridades lingüisticas e os atentados à boa escrita.
Não se trata de arrogância intelectual ou elitismo lingüístico, mas uma simples questão de coerência. Uma linguagem confusa, quando não incorreta, revela, antes de tudo, confusão nas idéias, assim que ao menor sinal de impropriedade redacional pode-se estar seguro de que a qualidade intrínseca do trabalho tampouco será superior ao estilo de redação. Como não pretendo deixar nem autor nem orientador constrangidos na hora da avaliação pública do trabalho, vou desistir preventivamente de participar. Acho que é o melhor que eu tenho a fazer nesta fase de deterioração generalizada da educação no Brasil.
Fica dado o aviso. Antes de me convidar, favor revisar o Português (e as idéias também).

Brasília, 18 de março de 2007

sábado, 17 de março de 2007

713) Tendencias demograficas da humanidade...

World Population Prospects: The 2006 Revision

WORLD POPULATION WILL INCREASE BY 2.5 BILLION BY 2050;
PEOPLE OVER 60 TO INCREASE BY MORE THAN 1 BILLION

NEW YORK, 13 March 2007, United Nations Population Division
Website: http://www.un.org/esa/population/publications/wpp2006/wpp2006.htm

The world population continues its path towards population ageing and is on track to surpass 9 billion persons by 2050, as revealed by the newly released 2006 Revision of the official United Nations population estimates and projections.

The results of the 2006 Revision -- which provide the population basis for the assessment of trends at the global, regional and national levels, and serve as input for calculating many key indicators in the United Nations system -- incorporate the findings of the most recent national population censuses and of the numerous specialized population surveys carried out around the world.

According to the 2006 Revision, the world population will likely increase by 2.5 billion over the next 43 years, passing from the current 6.7 billion to 9.2 billion in 2050. This increase is equivalent to the total size of the world population in 1950, and it will be absorbed mostly by the less developed regions, whose population is projected to rise from 5.4 billion in 2007 to 7.9 billion in 2050. In contrast, the population of the more developed regions is expected to remain largely unchanged at 1.2 billion, and would have declined, were it not for the projected net migration from developing to developed countries, which is expected to average 2.3 million persons annually&..

Summary Tables (em Excel)
Highlight: Population Ageing(pdf)
Fact Sheets: World Population Ageing(pdf)
Data online

quarta-feira, 14 de março de 2007

712) Bernard Lewis e o terrorismo jihaidista...

Do boletim da Foundation for the Defense of Democracies
FDD Update, 13 March 2007:

INTELLECTUAL LEADER: Last Wednesday, Bernard Lewis was given the Irving Kristol Award by the American Enterprise Institute. On Thursday morning, the Committee on the Present Danger hosted him at the U.S. Capitol where he spoke to members and staff of the new Senate and House Anti-Terrorism Caucuses.

Professor Lewis is arguably -- no, indisputably -- the world's most distinguished scholar of Islam and the Middle East. (Despite that -- or rather because of it -- he has been excluded and disdained by MESA, the Middle East Studies Association, which dominates on college campuses throughout the United States.)

A few of the key points Professor Lewis made last week:
America and other free societies "confront a dedicated and dangerous adversary" engaged in what it sees as a historic conflict for the global supremacy of Islam.

We need to be concerned about the threats emanating from both Iran and Saudi Arabia; al-Qaeda is "Wahhabi in inspiration."

Iran's rulers cannot be deterred. Mahmoud Ahmadinejad is serious about his religious convictions: Because of that, he sees the possibility of "mutual assured destruction" not as a deterrent "but as an inducement."

Speaking both as a historian and someone old enough to recall the late 1930s, Professors Lewis said too many politicians today display "the spirit of Munich -- a refusal to acknowledge the danger we face and a belief that through accommodation we can avoid conflict." He added: "I look around and I see more Chamberlains than Churchills."

Professor Lewis sees the use of military force against Iran as only a very last resort. Much better if we can manage to replace an "apocalyptical villain with merely a pragmatic villain."

Women in Muslim countries are given less education which really means less indoctrination; therefore they may have more capacity for independent thinking. For that reason, women "may be the last, best hope of the Islamic world."

Oil is a potent source of power for the regimes that rule Saudi Arabia and Iran. How do we deal with it? "By finding other sources of energy."

Professor Lewis observed that our enemies have a number of advantages: zeal, certitude and demography among them. On our side, we have freedom. Which will prove powerful? That, I would say, is the great question to be answered in the 21st century.

sexta-feira, 9 de março de 2007

711) Os mais ricos do mundo...

Acho que eles já foram mais ricos, antes de desvalorizações em bolsa ou cambiais. Em todo caso, acho que daria para comprar um monte de livros, com uma ínfima parte dessas fortunas. Eu talvez começasse um programa de construção de bibliotecas públicas infantis em áreas carentes...

FORBES PUBLICA A LISTA DOS MAIS RICOS!

Segue a classificação das 9 primeiras fortunas mundiais, expressas em bilhões de dólares, segundo a lista 2007 da revista Forbes publicada nesta quinta-feira:

1- Bill Gates, 51 anos, Microsoft, EUA - US$ 56,0 bilhões
2- Warren Buffett, 76 anos, Berkshire Hathaway, EUA - US$ 52,0 bilhões
3- Carlos Slim, 67 anos, telecomunicações, México - US$ 49,0 bilhões
4- Ingvar Kamprad, 80 anos, Ikea, Suécia - US$ 33,0 bilhões
5- Lakshmi Mittal, 56 anos, Mittal Steel, Índia - US$ 32,0 bilhões
6- Sheldon Adelson, 73 anos, cassinos, EUA - US$ 26,5 bilhões
7- Bernard Arnault, 58 anos, LVMH, França - US$ 26,0 bilhões
8- Amancio Ortega, 71 anos, Zara, Espanha - US$ 24,0 bilhões
9- Li Ka-Shing, 78 anos, diversos, China - US$ 23,0 bilhões

quinta-feira, 1 de março de 2007

710) Um "vendedor" de palavras...

Belo conto...

O vendedor de palavras
Fábio Reynol - 24 de janeiro de 2007

Ouviu dizer que o Brasil sofria de uma grave falta de palavras. Em um programa de TV, viu uma escritora lamentando que não se liam livros nesta terra, por isso as palavras estavam em falta na praça. O mal tinha até nome de batismo, como qualquer doença grande, "indigência lexical". Comerciante de tino que era, não perdeu tempo em ter uma idéia fantástica. Pegou dicionário, mesa e cartolina e saiu ao mercado cavar espaço entre os camelôs. Entre uma banca de relógios e outra de lingerie instalou a sua: uma mesa, o dicionário e a cartolina na qual se lia:
"Histriônico - apenas R$ 0,50!".
Demorou quase quatro horas para que o primeiro de mais de cinqüenta curiosos parasse e perguntasse.
- O que o senhor está vendendo?
- Palavras, meu senhor. A promoção do dia é histriônico a cinqüenta centavos como diz a placa.
- O senhor não pode vender palavras. Elas não são suas. Palavras são de todos.
- O senhor sabe o significado de histriônico?
- Não.
- Então o senhor não a tem. Não vendo algo que as pessoas já têm ou coisas de que elas não precisem.
- Mas eu posso pegar essa palavra de graça no dicionário.
- O senhor tem dicionário em casa?
- Não. Mas eu poderia muito bem ir à biblioteca pública e consultar um.
- O senhor estava indo à biblioteca?
- Não. Na verdade, eu estou a caminho do supermercado.
- Então veio ao lugar certo. O senhor está para comprar o feijão e a alface, pode muito bem levar para casa uma palavra por apenas cinqüenta centavos de real!
- Eu não vou usar essa palavra. Vou pagar para depois esquecê-la?
- Se o senhor não comer a alface ela acaba apodrecendo na geladeira e terá de jogá-la fora e o feijão caruncha.
- O que pretende com isso? Vai ficar rico vendendo palavras?
- O senhor conhece Nélida Piñon?
- Não.
- É uma escritora. Esta manhã, ela disse na televisão que o País sofre com a falta de palavras, pois os livros são muito pouco lidos por aqui.
- E por que o senhor não vende livros?
- Justamente por isso. As pessoas não compram as palavras no atacado, portanto eu as vendo no varejo.
- E o que as pessoas vão fazer com as palavras? Palavras são palavras, não enchem barriga.
- A escritora também disse que cada palavra corresponde a um pensamento. Se temos poucas palavras, pensamos pouco. Se eu vender uma palavra por dia, trabalhando duzentos dias por ano, serão duzentos novos pensamentos cem por cento brasileiros. Isso sem contar os que furtam o meu produto. São como trombadinhas que saem correndo com os relógios do meu colega aqui do lado. Olhe aquela senhora com o carrinho de feira dobrando a esquina. Com aquela carinha de dona-de-casa ela nunca me enganou. Passou por aqui sorrateira. Olhou minha placa e deu um sorrisinho maroto se mordendo de curiosidade. Mas nem parou para perguntar. Eu tenho certeza de que ela tem um dicionário em casa. Assim que chegar lá, vai abri-lo e me roubar a carga. Suponho que para cada pessoa que se dispõe a comprar uma palavra, pelo menos cinco a roubarão. Então eu provocarei mil pensamentos novos em um ano de trabalho.
- O senhor não acha muita pretensão? Pegar um...
- Jactância.
- Pegar um livro velho...
- Alfarrábio.
- O senhor me interrompe!
- Profaço.
- Está me enrolando, não é?
- Tergiversando.
- Quanta lenga-lenga...
- Ambages.
- Ambages?
- Pode ser também evasivas.
- Eu sou mesmo um banana para dar trela para gente como você!
- Pusilânime.
- O senhor é engraçadinho, não?
- Finalmente chegamos: histriônico!
- Adeus.
- Ei! Vai embora sem pagar?
- Tome seus cinqüenta centavos.
- São três reais e cinqüenta.
- Como é?
- Pelas minhas contas, são oito palavras novas que eu acabei de entregar para o senhor. Só histriônico estava na promoção, mas como o senhor se mostrou interessado, faço todas pelo mesmo preço.
- Mas oito palavras seriam quatro reais, certo?
- É que quem leva ambages ganha uma evasiva, entende?
- Tem troco para cinco?