O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador Agricultura brasileira. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Agricultura brasileira. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sindrome de transtorno (agricola) bipolar; ou teoria da jabuticaba...

Já escrevi alguma coisa sobre a teoria da jabuticaba. Deve estar em algum lugar do meu site. O Brasil agrava a condição (aliás, desde vários anos), desenvolvendo, no mesmo governo, políticas absolutamente contraditórias, senão opostas e inimigas uma da outra...
Paulo Roberto de Almeida

AGRONEGÓCIO FAMILIAR
Xico Graziano - AgroBrasil
O Estado de S. Paulo, 26/07/2011

Funcionam no Brasil, estranhamente, dois Ministérios da Agricultura. Um se dedica ao agronegócio e o outro, ao produtor familiar. Uma invencionice política difícil de entender. Parece jabuticaba, só existe aqui.

Uma safra, dois planos. Em Ribeirão Preto (SP), o governo anunciou as regras do financiamento da safra para a agricultura chamada empresarial. Semanas depois, foi a vez do plano da agricultura dita familiar, lançado em Francisco Beltrão (PR).

Uma agricultura, dois discursos. No palanque paulista, as lideranças ruralistas aplaudiam Wagner Rossi, ministro da Agricultura e Abastecimento. No Paraná, os camponeses reverenciavam Afonso Florense, ministro do Desenvolvimento Agrário. Presente em ambos os eventos, a presidente Dilma Rousseff seguiu o roteiro lulista, naquele estilo ambíguo que agrada a gregos e troianos.

Essa dubiedade na gestão governamental se manifesta em vários outros momentos. Nos fóruns internacionais, como na Organização Mundial do Comércio (OMC), frequentemente se percebem cadeiras expressando posições distintas, quando não contraditórias. Uma dá prioridade a abrir exportações, outra discute segurança alimentar. Enlouquece o Itamaraty.

Tudo começou em 1996, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso criou o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Sua ideia básica, inédita, foi carimbar uma fatia dos recursos do crédito rural, obrigando sua aplicação nos pequenos produtores, incluindo os assentados da reforma agrária. Faz sentido.

Tradicionalmente, os grandes proprietários abocanham todo o dinheiro para financiamento rural. O Pronaf mudou essa história. Seu sucesso o tornou robusto dentro da política agrícola do País, executada pelo Ministério da Agricultura com apoio do Banco do Brasil.

Quando Lula assumiu, porém, achou por bem transferir a gestão do Pronaf, entregando-a ao Ministério que cuida da reforma agrária. Atendeu à gula da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e do Movimento dos Sem-Terra (MST). Entregou o ouro.

O Ministério do Desenvolvimento Agrário passou a operar o Pronaf segundo critérios exageradamente ideológicos e partidários. Assim funciona o jogo do poder. Afinal, a oligarquia rural também sempre mandou no Ministério da Agricultura.

Um grave problema, porém, surgiu dessa tramoia. Ao apartar o atendimento aos pequenos agricultores em outra pasta, criou-se uma falsa dicotomia. A polarização acirrou a distinção, inexistente, entre agronegócio e agricultura familiar.

Gente que se imagina dadivosa combate o agronegócio, como símbolo do mal. Tal pensamento expõe um dos maiores equívocos produzidos pela esquerda brasileira. Por definição, nada opõe o pequeno produtor à modernização tecnológica nem ao mercado. Ao contrário. Investir em qualidade configura caminho único para o progresso no campo.

Conceitualmente, o termo agronegócio refere-se ao conjunto das atividades produtivas geradas no meio rural. Na pecuária, por exemplo, as empresas de insumos e máquinas fornecem bens e serviços à criação animal. Na outra ponta, colocam-se os frigoríficos, as agroindústrias, os açougues. Eles processam e vendem. Somados aos pecuaristas, esse conjunto caracteriza o agronegócio da carne.

No Brasil moderno, dentro do segmento rural propriamente dito são gerados só 27% do PIB dos agronegócios. Outros 7% do valor econômico se localizam antes da porteira do agricultor, enquanto 66% do valor dos agronegócios - a maior fatia - rola depois da porteira das fazendas.

Na concepção do termo, portanto, somente não participa do agronegócio quem produz para si. E são muitos. Especialmente no semiárido nordestino, cerca de 1,5 milhão de pequenos agricultores pobres e rudimentares mal conhecem a economia comercial. Outro enorme contingente, cerca de 1 milhão de famílias assentadas pela reforma agrária se encontram isoladas.

Nada condena os agronegócios. O cultivo de subsistência, esse, sim, está ultrapassado pelos tempos, sofrendo na miséria. Aqui reside o grande desafio da política pública: conseguir modernizar a agricultura atrasada, integrando-a aos mercados, tornando-a empreendedora. Ao contrário do que vociferam os obscurantistas agrários, a saída da pobreza rural rema a favor dos agronegócios, não contra.

Esse caminho vitorioso tem sido trilhado por incontáveis pequenos agricultores que buscaram conhecimento, integraram-se às agroindústrias, vincularam-se às cooperativas agropecuárias. A produtividade deles cresceu, a renda melhorou. Pequenos, organizados, tornam-se grandes.

Essa emergente classe de produtores surge exatamente da inserção positiva no agronegócio, fundindo tecnologia e mercado com boa gestão familiar. Ela fornece hoje o dinamismo da agricultura nacional, puxado pelo sojicultor paranaense ou gaúcho, pelo cafeicultor mineiro ou capixaba, pelo suinocultor catarinense, pelo fruticultor paulista, pelo pecuarista goiano, entre tantos.

Fazendeiro graúdo chega a ter inveja desses progressistas agricultores. Sua área média gira em torno dos 50 hectares e, no conjunto, respondem por aproximadamente 70% da produção agropecuária do Brasil. Embora familiares, não prestam a mínima atenção ao discurso boboca que, ao intrigá-los com os agronegócios, os condena ao atraso.

O Brasil não precisa de dois Ministérios da Agricultura. Carece, isso sim, de uma política emancipadora no campo, livrando os agricultores pobres, resignados, da manipulação política de líderes que, disfarçados de salvadores, vivem de explorar a miséria alheia. Taí uma boa tarefa: desenvolver uma vacina contra esse terrível mal.

AGRÔNOMO, FOI SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Agricultura, sempre ajudando o Brasil - Carlos Alberto Sardenberg

A coluna do conhecido jornalista, que desta vez cita meu amigo professor em Brasília Carlos Pio:

O Brasil deles é melhor
Carlos Alberto Sardenberg
O Estado de S.Paulo, 30 de agosto de 2010

A agricultura brasileira, incluindo a criação de gado, sofre dois tipos de crítica por aqui: 1) destrói o meio ambiente, especialmente a Amazônia; e 2) por seu caráter capitalista-global, concentra renda, não emprega nem garante comida para os brasileiros.

A exportação de alimentos, em especial, é vista não como uma virtude, mas como um tipo de atraso econômico. Neste ponto de vista, o País não poderia ou não deveria ocupar no mundo o papel de "mero" exportador de comida e de matérias-primas (commodities) como o minério de ferro.

Tratados no exterior, esses temas viram de ponta-cabeça. Na edição desta semana, a revista The Economist não mede palavras. Em editorial e reportagem, observa que a agricultura brasileira é um milagre e sugere que outros países adotem o mesmo modelo para "alimentar" o mundo.

Ou seja, o caráter exportador de alimentos aparece como uma virtude global, especialmente neste momento em que, diz a revista, prolifera mundo afora um "agropessimismo" - a sensação de que não há como, a humanidade não consegue se alimentar a não ser destruindo o planeta. O Brasil, diz a respeitada publicação, seria a alternativa: como produzir sem destruir.

Ter comida para exportar é, pois, um fator extremamente positivo neste ambiente global. O Brasil poderia alimentar o mundo pelas próximas décadas.

O mesmo tema, com abordagem parecida, surgiu durante um debate promovido na semana passada pelo HSBC brasileiro. O banco trouxe seus principais executivos da Ásia e um representante do governo chinês para debater as perspectivas de negócios Brasil-China, nas duas direções. Todos os participantes trataram de uma "complementaridade": a China desesperadamente em busca de recursos naturais e o Brasil com abundância desses recursos.

Obviamente, a questão seguinte do debate estava posta: mas é essa a posição brasileira esperada, de fornecedor de alimentos e minério de ferro e importador de manufaturados e máquinas?

O representante do governo chinês Chen Lin, diretor do Ministério do Comércio, não entendeu. Mas qual problema existe aí? - foi sua primeira reação.

Explicados os contornos do tema, respondeu com franqueza. O ponto principal: recursos naturais estão escassos, especialmente para um país de 1,35 bilhão de habitantes que desejam produzir e enriquecer. Ter esses recursos é uma vantagem estratégica espetacular no mundo de hoje. E a prova disso, acrescentou, é que os preços dos produtos exportados pelo Brasil subiram extraordinariamente nos últimos anos. (Lembram-se dos reajustes de até 100% que a Vale conseguiu para seu minério de maior qualidade, o de Carajás?) E os produtos industrializados chineses, ao contrário, tiveram quedas de preços.

Executivos do HSBC da Ásia, Anita Fung e Che-Ning Liu observaram ainda que o Brasil simplesmente deveria aproveitar a bonança, os preços elevados de alimentos e commodities, em boa parte puxados pela voracidade da China. É um bônus do momento, notou Che-Ning Liu. E se o País acha melhor para o futuro produzir máquinas e tecnologias, o.k., exporte commodities hoje e junte os recursos para desenvolver novos setores.

Pagamos mais caro. Sobre o artigo da semana passada, Pagamos mais caro. E agora?, recebi esta colaboração do professor Carlos Pio, da Universidade de Brasília:

"1) A excessiva proteção comercial do Mercosul foi uma imposição brasileira aos parceiros menores e tradicionalmente mais liberais. Ela é a maior responsável pelas diferenças de preços de produtos globais. No Peru, por exemplo, um Honda Civic custa US$ 20 mil, enquanto custa o dobro aqui.

2) Os formuladores de políticas de desenvolvimento e os políticos professam uma crença enganosa de que a proteção comercial gera empregos no Brasil... Ora, a proteção encarece o produto produzido localmente (pela falta de concorrência, falta de liberdade para importar tecnologia e insumos), que acaba sendo vendido quase que exclusivamente aqui mesmo (salvo quando o empresário leva um subsídio à exportação). Pois bem, os consumidores locais (família e empresas) têm de comprar mais caro o que existe disponível na economia internacional por preço muito mais em conta e, com isso, perdem bem-estar (as famílias) e competitividade internacional (as empresas). A acumulação de capital sai prejudicada. No conjunto, empobrecemos.

As empresas de aluguel de veículos têm de optar entre adquirir carros baratos e de má qualidade e os carros "nacionais" de luxo mais caros do que no resto do mundo. Com a impossibilidade de importar, elas oferecem a seus clientes carros ruins e caros a preços internacionais e empregam menos pessoas do que poderiam se os carros tivessem preços competitivos e elas pudessem ter uma frota mais ampla em todo o território nacional. O resultado é que o emprego gerado nas cidades onde se instalam as montadoras é compensado pelo desemprego de potenciais trabalhadores de empresas que deixam de adquirir automóveis em quantidade maior e que se espalham por todo o território nacional.

O burocrata acaba decidindo onde haverá demanda por emprego e por qual tipo de emprego, mas não é capaz de determinar um aumento geral do nível de emprego do País por meio da proteção comercial à indústria.

3) Câmbio flutuante e metas de inflação em nível internacional eliminam a possibilidade de crise cambial em decorrência da decisão de unilateralmente abrir a economia nacional às importações. Quanto mais se importar, mais o real se desvalorizará automaticamente, encarecendo as importações. Da mesma forma, se nenhum outro país comprar produtos e serviços de empresas brasileiras, não entram dólares aqui e o real fica muito barato, barateando os preços do que se exporta daqui e encarecendo os produtos estrangeiros. Que não há crise cambial em economias abertas ao comércio e com regime de câmbio flutuante e inflação baixa é um fato que poucos brasileiros reconhecem."

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A poderosa agricultura brasileira - The Economist

Brazilian agriculture: The miracle of the cerrado

The Economist, Aug 26th 2010

Brazil has revolutionised its own farms. Can it do the same for others?

CREMAQ, PIAUÍ
IN A remote corner of Bahia state, in north-eastern Brazil, a vast new farm is springing out of the dry bush. Thirty years ago eucalyptus and pine were planted in this part of the cerrado (Brazil’s savannah). Native shrubs later reclaimed some of it. Now every field tells the story of a transformation. Some have been cut to a litter of tree stumps and scrub; on others, charcoal-makers have moved in to reduce the rootballs to fuel; next, other fields have been levelled and prepared with lime and fertiliser; and some have already been turned into white oceans of cotton. Next season this farm at Jatobá will plant and harvest cotton, soyabeans and maize on 24,000 hectares, 200 times the size of an average farm in Iowa. It will transform a poverty-stricken part of Brazil’s backlands.

Three hundred miles north, in the state of Piauí, the transformation is already complete. Three years ago the Cremaq farm was a failed experiment in growing cashews. Its barns were falling down and the scrub was reasserting its grip. Now the farm—which, like Jatobá, is owned by BrasilAgro, a company that buys and modernises neglected fields—uses radio transmitters to keep track of the weather; runs SAP software; employs 300 people under a gaúcho from southern Brazil; has 200km (124 miles) of new roads criss-crossing the fields; and, at harvest time, resounds to the thunder of lorries which, day and night, carry maize and soya to distant ports. That all this is happening in Piauí—the Timbuktu of Brazil, a remote, somewhat lawless area where the nearest health clinic is half a day’s journey away and most people live off state welfare payments—is nothing short of miraculous.

These two farms on the frontier of Brazilian farming are microcosms of a national change with global implications. In less than 30 years Brazil has turned itself from a food importer into one of the world’s great breadbaskets (see chart 1). It is the first country to have caught up with the traditional “big five” grain exporters (America, Canada, Australia, Argentina and the European Union). It is also the first tropical food-giant; the big five are all temperate producers.

The increase in Brazil’s farm production has been stunning. Between 1996 and 2006 the total value of the country’s crops rose from 23 billion reais ($23 billion) to 108 billion reais, or 365%. Brazil increased its beef exports tenfold in a decade, overtaking Australia as the world’s largest exporter. It has the world’s largest cattle herd after India’s. It is also the world’s largest exporter of poultry, sugar cane and ethanol (see chart 2). Since 1990 its soyabean output has risen from barely 15m tonnes to over 60m. Brazil accounts for about a third of world soyabean exports, second only to America. In 1994 Brazil’s soyabean exports were one-seventh of America’s; now they are six-sevenths. Moreover, Brazil supplies a quarter of the world’s soyabean trade on just 6% of the country’s arable land.

No less astonishingly, Brazil has done all this without much government subsidy. According to the Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD), state support accounted for 5.7% of total farm income in Brazil during 2005-07. That compares with 12% in America, 26% for the OECD average and 29% in the European Union. And Brazil has done it without deforesting the Amazon (though that has happened for other reasons). The great expansion of farmland has taken place 1,000km from the jungle.

How did the country manage this astonishing transformation? The answer to that matters not only to Brazil but also to the rest of the world.

An attractive Brazilian model
Between now and 2050 the world’s population will rise from 7 billion to 9 billion. Its income is likely to rise by more than that and the total urban population will roughly double, changing diets as well as overall demand because city dwellers tend to eat more meat. The UN’s Food and Agriculture Organisation (FAO) reckons grain output will have to rise by around half but meat output will have to double by 2050. This will be hard to achieve because, in the past decade, the growth in agricultural yields has stalled and water has become a greater constraint. By one estimate, only 40% of the increase in world grain output now comes from rises in yields and 60% comes from taking more land under cultivation. In the 1960s just a quarter came from more land and three-quarters came from higher yields.

So if you were asked to describe the sort of food producer that will matter most in the next 40 years, you would probably say something like this: one that has boosted output a lot and looks capable of continuing to do so; one with land and water in reserve; one able to sustain a large cattle herd (it does not necessarily have to be efficient, but capable of improvement); one that is productive without massive state subsidies; and maybe one with lots of savannah, since the biggest single agricultural failure in the world during past decades has been tropical Africa, and anything that might help Africans grow more food would be especially valuable. In other words, you would describe Brazil.

Brazil has more spare farmland than any other country (see chart 3). The FAO puts its total potential arable land at over 400m hectares; only 50m is being used. Brazilian official figures put the available land somewhat lower, at 300m hectares. Either way, it is a vast amount. On the FAO’s figures, Brazil has as much spare farmland as the next two countries together (Russia and America). It is often accused of levelling the rainforest to create its farms, but hardly any of this new land lies in Amazonia; most is cerrado.

Brazil also has more water. According to the UN’s World Water Assessment Report of 2009, Brazil has more than 8,000 billion cubic kilometres of renewable water each year, easily more than any other country. Brazil alone (population: 190m) has as much renewable water as the whole of Asia (population: 4 billion). And again, this is not mainly because of the Amazon. Piauí is one of the country’s driest areas but still gets a third more water than America’s corn belt.

Of course, having spare water and spare land is not much good if they are in different places (a problem in much of Africa). But according to BrasilAgro, Brazil has almost as much farmland with more than 975 millimetres of rain each year as the whole of Africa and more than a quarter of all such land in the world.

Since 1996 Brazilian farmers have increased the amount of land under cultivation by a third, mostly in the cerrado. That is quite different from other big farm producers, whose amount of land under the plough has either been flat or (in Europe) falling. And it has increased production by ten times that amount. But the availability of farmland is in fact only a secondary reason for the extraordinary growth in Brazilian agriculture. If you want the primary reason in three words, they are Embrapa, Embrapa, Embrapa.

More food without deforestation
Embrapa is short for Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, or the Brazilian Agricultural Research Corporation. It is a public company set up in 1973, in an unusual fit of farsightedness by the country’s then ruling generals. At the time the quadrupling of oil prices was making Brazil’s high levels of agricultural subsidy unaffordable. Mauro Lopes, who supervised the subsidy regime, says he urged the government to give $20 to Embrapa for every $50 it saved by cutting subsidies. It didn’t, but Embrapa did receive enough money to turn itself into the world’s leading tropical-research institution. It does everything from breeding new seeds and cattle, to creating ultra-thin edible wrapping paper for foodstuffs that changes colour when the food goes off, to running a nanotechnology laboratory creating biodegradable ultra-strong fabrics and wound dressings. Its main achievement, however, has been to turn the cerrado green.

When Embrapa started, the cerrado was regarded as unfit for farming. Norman Borlaug, an American plant scientist often called the father of the Green Revolution, told the New York Times that “nobody thought these soils were ever going to be productive.” They seemed too acidic and too poor in nutrients. Embrapa did four things to change that.

First, it poured industrial quantities of lime (pulverised limestone or chalk) onto the soil to reduce levels of acidity. In the late 1990s, 14m-16m tonnes of lime were being spread on Brazilian fields each year, rising to 25m tonnes in 2003 and 2004. This amounts to roughly five tonnes of lime a hectare, sometimes more. At the 20,000-hectare Cremaq farm, 5,000 hulking 30-tonne lorries have disgorged their contents on the fields in the past three years. Embrapa scientists also bred varieties of rhizobium, a bacterium that helps fix nitrogen in legumes and which works especially well in the soil of the cerrado, reducing the need for fertilisers.

So although it is true Brazil has a lot of spare farmland, it did not just have it hanging around, waiting to be ploughed. Embrapa had to create the land, in a sense, or make it fit for farming. Today the cerrado accounts for 70% of Brazil’s farm output and has become the new Midwest. “We changed the paradigm,” says Silvio Crestana, a former head of Embrapa, proudly.

Second, Embrapa went to Africa and brought back a grass called brachiaria. Patient crossbreeding created a variety, called braquiarinha in Brazil, which produced 20-25 tonnes of grass feed per hectare, many times what the native cerrado grass produces and three times the yield in Africa. That meant parts of the cerrado could be turned into pasture, making possible the enormous expansion of Brazil’s beef herd. Thirty years ago it took Brazil four years to raise a bull for slaughter. Now the average time is 18-20 months.

That is not the end of the story. Embrapa has recently begun experiments with genetically modifying brachiaria to produce a larger-leafed variety called braquiarão which promises even bigger increases in forage. This alone will not transform the livestock sector, which remains rather inefficient. Around one-third of improvement to livestock production comes from better breeding of the animals; one-third comes from improved resistance to disease; and only one-third from better feed. But it will clearly help.

Third, and most important, Embrapa turned soyabeans into a tropical crop. Soyabeans are native to north-east Asia (Japan, the Korean peninsular and north-east China). They are a temperate-climate crop, sensitive to temperature changes and requiring four distinct seasons. All other big soyabean producers (notably America and Argentina) have temperate climates. Brazil itself still grows soya in its temperate southern states. But by old-fashioned crossbreeding, Embrapa worked out how to make it also grow in a tropical climate, on the rolling plains of Mato Grosso state and in Goiás on the baking cerrado. More recently, Brazil has also been importing genetically modified soya seeds and is now the world’s second-largest user of GM after the United States. This year Embrapa won approval for its first GM seed.

Embrapa also created varieties of soya that are more tolerant than usual of acid soils (even after the vast application of lime, the cerrado is still somewhat acidic). And it speeded up the plants’ growing period, cutting between eight and 12 weeks off the usual life cycle. These “short cycle” plants have made it possible to grow two crops a year, revolutionising the operation of farms. Farmers used to plant their main crop in September and reap in May or June. Now they can harvest in February instead, leaving enough time for a full second crop before the September planting. This means the “second” crop (once small) has become as large as the first, accounting for a lot of the increases in yields.

Such improvements are continuing. The Cremaq farm could hardly have existed until recently because soya would not grow on this hottest, most acidic of Brazilian backlands. The variety of soya now being planted there did not exist five years ago. Dr Crestana calls this “the genetic transformation of soya”.

Lastly, Embrapa has pioneered and encouraged new operational farm techniques. Brazilian farmers pioneered “no-till” agriculture, in which the soil is not ploughed nor the crop harvested at ground level. Rather, it is cut high on the stalk and the remains of the plant are left to rot into a mat of organic material. Next year’s crop is then planted directly into the mat, retaining more nutrients in the soil. In 1990 Brazilian farmers used no-till farming for 2.6% of their grains; today it is over 50%.

Embrapa’s latest trick is something called forest, agriculture and livestock integration: the fields are used alternately for crops and livestock but threads of trees are also planted in between the fields, where cattle can forage. This, it turns out, is the best means yet devised for rescuing degraded pasture lands. Having spent years increasing production and acreage, Embrapa is now turning to ways of increasing the intensity of land use and of rotating crops and livestock so as to feed more people without cutting down the forest.

Farmers everywhere gripe all the time and Brazilians, needless to say, are no exception. Their biggest complaint concerns transport. The fields of Mato Grosso are 2,000km from the main soyabean port at Paranaguá, which cannot take the largest, most modern ships. So Brazil transports a relatively low-value commodity using the most expensive means, lorries, which are then forced to wait for ages because the docks are clogged.

Partly for that reason, Brazil is not the cheapest place in the world to grow soyabeans (Argentina is, followed by the American Midwest). But it is the cheapest place to plant the next acre. Expanding production in Argentina or America takes you into drier marginal lands which are much more expensive to farm. Expanding in Brazil, in contrast, takes you onto lands pretty much like the ones you just left.

Big is beautiful
Like almost every large farming country, Brazil is divided between productive giant operations and inefficient hobby farms. According to Mauro and Ignez Lopes of the Fundacão Getulio Vargas, a university in Rio de Janeiro, half the country’s 5m farms earn less than 10,000 reais a year and produce just 7% of total farm output; 1.6m are large commercial operations which produce 76% of output. Not all family farms are a drain on the economy: much of the poultry production is concentrated among them and they mop up a lot of rural underemployment. But the large farms are vastly more productive.

From the point of view of the rest of the world, however, these faults in Brazilian agriculture do not matter much. The bigger question for them is: can the miracle of the cerrado be exported, especially to Africa, where the good intentions of outsiders have so often shrivelled and died?

There are several reasons to think it can. Brazilian land is like Africa’s: tropical and nutrient-poor. The big difference is that the cerrado gets a decent amount of rain and most of Africa’s savannah does not (the exception is the swathe of southern Africa between Angola and Mozambique).

Brazil imported some of its raw material from other tropical countries in the first place. Brachiaria grass came from Africa. The zebu that formed the basis of Brazil’s nelore cattle herd came from India. In both cases Embrapa’s know-how improved them dramatically. Could they be taken back and improved again? Embrapa has started to do that, though it is early days and so far it is unclear whether the technology retransfer will work.

A third reason for hope is that Embrapa has expertise which others in Africa simply do not have. It has research stations for cassava and sorghum, which are African staples. It also has experience not just in the cerrado but in more arid regions (called the sertão), in jungles and in the vast wetlands on the border with Paraguay and Bolivia. Africa also needs to make better use of similar lands. “Scientifically, it is not difficult to transfer the technology,” reckons Dr Crestana. And the technology transfer is happening at a time when African economies are starting to grow and massive Chinese aid is starting to improve the continent’s famously dire transport system.

Still, a word of caution is in order. Brazil’s agricultural miracle did not happen through a simple technological fix. No magic bullet accounts for it—not even the tropical soyabean, which comes closest. Rather, Embrapa’s was a “system approach”, as its scientists call it: all the interventions worked together. Improving the soil and the new tropical soyabeans were both needed for farming the cerrado; the two together also made possible the changes in farm techniques which have boosted yields further.

Systems are much harder to export than a simple fix. “We went to the US and brought back the whole package [of cutting-edge agriculture in the 1970s],” says Dr Crestana. “That didn’t work and it took us 30 years to create our own. Perhaps Africans will come to Brazil and take back the package from us. Africa is changing. Perhaps it won’t take them so long. We’ll see.” If we see anything like what happened in Brazil itself, feeding the world in 2050 will not look like the uphill struggle it appears to be now.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

A agricultura e o Brasil - Senadora Katia Abreu

Na sequencia da postagem anterior, a íntegra do artigo da Senadora Katia Abreu, que merece comentários mais elaborados (o que procurarei fazer tão pronto possível).
Paulo Roberto de Almeida

O que houve de novo com o Brasil
Kátia Abreu
O Estado de S.Paulo, 26 de julho de 2010

O Brasil orgulha-se hoje de ser uma economia estável e forte, que consegue crescer de modo sustentável a taxas elevadas e ao mesmo tempo distribuir renda, incorporando largos contingentes de população ao mercado de consumo e a padrões mais civilizados de bem-estar material. Olhando para trás, para tantas décadas de instabilidade, de surtos breves e logo frustrados de crescimento, temos de reconhecer que vivemos uma grande transformação.

O que tornou possível essa transformação? Tivemos vários momentos de crescimento, que não duravam muito. Após poucos anos, o crescimento provocava inflação, pois a oferta interna, especialmente de alimentos, não era capaz de acompanhar o aumento da demanda induzida pelo crescimento da renda. Mais grave era o outro problema, o cambial.

Diante da inflação sem controle e do desequilíbrio cambial, a única política possível era conter o processo de crescimento, para aliviar as pressões sobre os preços e sobre o déficit externo. Assim, voltávamos à estagnação econômica, embora a população continuasse crescendo e a imensa maioria vivesse na pobreza.

Para crescer sem interrupções seria necessário superar o limite de nossa capacidade para importar. Financiar indefinidamente o déficit cambial com financiamento externo não seria sustentável. Por termos tentado este caminho, incorremos em várias crises de endividamento e chegamos à moratória. Era preciso encontrar um meio realista de elevar a receita cambial.

Como sabemos hoje, no Brasil só a agricultura e a pecuária podiam realizar essa tarefa. Mas ninguém pensava nisso seriamente. Afinal, a produção rural brasileira crescia pouco e não éramos, de fato, até 1970, sequer capazes de atender ao abastecimento interno. Além do mais, a sabedoria convencional de então ditava que o desenvolvimento econômico significava o aumento da produção industrial e o encolhimento relativo da produção rural.

Apesar disso, a partir dos anos 70, teve início uma silenciosa revolução no campo brasileiro. Novas gerações de produtores rurais começaram a emergir, muitos deles abrindo novas fronteiras agrícolas ou transformando os modos de produzir nas fronteiras já estabelecidas. Esses novos agricultores romperam com as formas tradicionais de produção, apropriaram-se do conhecimento acumulado nas universidades rurais e na nova Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e trouxeram para a produção rural a disposição de assumir riscos e a compulsão do crescimento.

A ação destes novos empreendedores transformou em pouco tempo a produção rural brasileira, tornando-a em poucas décadas a segunda maior do mundo em escala e diversidade de produção e a primeira e única grande agricultura em área tropical.

Os números dessa revolução são impressionantes. Em 1965, antes do início desse processo, a produção brasileira de grãos era de 20 milhões de toneladas, para uma população de 80 milhões de habitantes, portanto, uma produção de 250 kg de grãos por habitante. Em 2008 a produção de grãos chegou a 144 milhões de toneladas, para uma população de 190 milhões de habitantes, o que representa uma produção per capita de 758 kg. A produção total cresceu 7 vezes, mas a área de plantio, que era de 21 milhões de hectares em 1965, passou para apenas 48 milhões de hectares em 2008, apenas 2,5 vezes mais. A produção de carnes, em 1965, era de 2,1 milhões de toneladas, o equivalente a 25 kg por habitante por ano. Em 2006 a produção alcançou 20 milhões de toneladas, o equivalente a algo como 100 kg por habitante/ano. A produção total aumentou dez vezes, mas as áreas de pastagens cresceram apenas 15%.

Esses gigantescos aumentos de produção e de produtividade mudaram a história da economia brasileira. Essa agricultura altamente produtiva e de grande escala conquistou os mercados externos e passou a gerar grandes superávits no balanço de pagamentos, dada a sua pequena dependência de importações. Entre 1994 e 2009, o agronegócio acumulou um saldo comercial com o exterior de US$ 453 bilhões. No mesmo período, o saldo comercial total do Brasil foi de US$ 255 bilhões. Significa que, sem a contribuição das exportações do agronegócio, o Brasil teria incorrido num déficit comercial de US$ 198 bilhões, praticamente o valor das reservas cambiais do País no final do ano passado. Não fora a contribuição do agronegócio, o País estaria vivendo gravíssima crise cambial e a história do nosso crescimento recente teria sido muito diferente.

Outro efeito dessa revolução no campo foi a persistente queda no custo da alimentação no mercado interno. Os professores José Roberto Mendonça de Barros e Juarez Rizzieri mostraram, em pesquisa, que o custo no varejo de uma ampla cesta de alimentos na cidade de São Paulo caiu pouco mais de 5% ao ano, em termos reais, entre 1975 e 2005. Uma queda dessa dimensão só foi possível pelos aumentos impressionantes da produção e da produtividade no campo. E, em decorrência, as classes de renda média e baixa não apenas puderam consumir mais e melhores alimentos, como elevaram seu poder de compra de produtos industriais. Assim, o efeito da queda dos preços agrícolas é mais importante que as transferências de renda para explicar a melhoria do padrão de vida das populações mais pobres.

O Brasil que se desenvolve hoje e se projeta no mundo como uma economia dinâmica e moderna é um País construído a partir da agricultura e da pecuária. E continuará sendo, no futuro, sem estar por isso condenado ao atraso e à pobreza, como vaticinavam no passado. Mas para isso é necessário que o Brasil valorize o agricultor e o pecuarista, que foram os agentes dessas transformações, dando-lhes o realce merecido e poupando-os dos preconceitos que sobrevivem às evidências da realidade.

SENADORA DA REPÚBLICA (DEM-TO), É PRESIDENTE DA CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL (CNA)