O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador Diplomacia brasileira. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Diplomacia brasileira. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Os adidos do agronegócio brasileiro - Época Negócios


Agronegócio invade diplomacia e faz Brasil formar time de adidos agrícolas

O presidente Jair Bolsonaro embarca esta semana para uma viagem de quatro dias à Índia onde deve assinar uma dúzia de acordos comerciais que promovam o agronegócio brasileiro


O presidente Jair Bolsonaro embarca esta semana para uma viagem de quatro dias à Índia onde deve assinar uma dúzia de acordos comerciais que promovem o agronegócio brasileiro. Para abrir as portas do mundo para os produtos nacionais, o Brasil conta com um grupo de 24 adidos agrícolas, cargo criado em 2009 para internacionalizar o campo brasileiro.
Quando o agrônomo Dalci Bagolin desembarcou em Nova Délhi, em janeiro de 2018, seus desafios não eram pequenos: desbravar um país com cultura diferente, lidar com um idioma desconhecido - o inglês não é falado por todo mundo na Índia - e identificar oportunidades para a agropecuária do Brasil no segundo maior mercado do mundo.



A missão de Dalci não é fácil. A Índia tem um histórico protecionista, desenvolvimentista e de muitas restrições cambiais, como o Brasil. Além disso, o agronegócio indiano é a imagem refletida do brasileiro. O país produz café, açúcar, aço, cimento e carne, que enfrentam dificuldades de escoamento em razão de uma infraestrutura precária - um panorama bastante familiar. O desafio de Dalci, portanto, é encontrar interesses comuns entre os dois países.
Já adaptado à Índia, ele tem dormido pouco na semana que antecede a chegada da missão presidencial brasileira, que ficará na Índia entre os dias 23 e 27. "Durmo todo dia depois das 2 horas da manhã", conta.
O cargo de adido agrícola foi criado pelo Ministério da Agricultura em 2009, durante a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, e mostra a importância que o agronegócio vem ganhando na diplomacia brasileira. O setor responde por cerca de um quarto do PIB do Brasil e está encarregado de manter a balança comercial superavitária.
Hoje, o setor agropecuário brasileiro fornece alimentos para cerca de um bilhão de pessoas em todo o mundo. Em 2019, o setor exportou US$ 96,8 bilhões - o equivalente a 43,2% do total produzido. A Ásia foi o principal destino, com 49%.
Além dos adidos agrícolas, o Itamaraty tem outros 120 postos de representação no exterior na área de promoção comercial - o agronegócio é apenas um deles. Ainda que o Ministério da Agricultura apoie o setor há algum tempo, a criação do Departamento de Promoção do Agronegócio (DPA), em 2019, permitiu unir discussões de promoção e política comercial.

Gestão de crises

Outra função importante dos adidos agrícolas - que se estende à diplomacia brasileira, em geral - é vender uma imagem positiva em momentos difíceis. A missão, neste caso, é contornar momentos de crise, como no caso dos incêndios da Amazônia, no ano passado, ou apagar o incêndio causado por declarações incômodas de lideranças políticas dentro do governo brasileiro. "É preciso estar preparado para enfrentar uma quantidade muito diferente de desafios, que mudam conforme o país", explicou a coordenadora dos adidos, Andressa Beig.
Por isso, o cargo é visto hoje como imprescindível por diversos empresários do setor. A viagem de Bolsonaro à Índia ocorre após um pedido do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que esteve em Brasília em novembro, na cúpula dos Brics - bloco formando por Brasil, Rússia, Índia China e África do Sul. "Existe um interesse grande do governo indiano em uma aproximação maior com o Brasil. Há muitos territórios inexplorados", diz Amit Kumar Mishra, cônsul da Índia em São Paulo.

Política externa

Apesar dos pontos concorrentes, que podem criar mais rivalidades do que parcerias, Brasil e Índia têm um caminho aberto para explorar áreas complementares. Os setores de tecnologia e de medicamentos, nos quais os indianos têm grande conhecimento e um forte parque industrial, e o etanol, em que o Brasil é referência, são pontos de partida. Outro fator comum importante que une os dois países é a liderança nacionalista de Bolsonaro e Modi. Ambos lideram grupos políticos conservadores, de tons populistas e com fortes elementos econômicos de caráter liberal - embora o premiê indiano seja mais pragmático em política externa e consiga manter boas relações com países que vivem às turras, como EUA e Irã.
Enquanto Modi defende a diplomacia multilateral, Bolsonaro cultiva certo desprezo pelo multilateralismo. Ainda assim, Brasil e Índia compartilham uma reivindicação histórica: uma vaga de membro permanente na eventual ampliação do Conselho de Segurança da ONU - embora o chanceler Ernesto Araújo tenha dito algumas vezes que a vaga "não é mais uma prioridade" do governo brasileiro.

Índia quer mais etanol

Ao fim de 13 meses de governo, só a equipe internacional da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, terá visitado 32 países nos 5 continentes. No período, foram abertos 26 novos mercados para produtos brasileiros - de arroz para o México a lácteos para a China. Segundo país mais populoso do mundo - e com data marcada para ser o primeiro -, a Índia quer aumentar para 10% a quantidade de etanol em sua gasolina até 2022. Hoje, a mistura não chega a 7% e o país de 1,3 bilhão de habitantes quer aproveitar o conhecimento brasileiro para cumprir a missão.
O governo indiano subsidia parte da produção de açúcar, a maior do mundo na última safra, principalmente de pequenos agricultores que dependem do produto para sobreviver. Os incentivos ligados ao transporte variam de cerca de mil rupias (US$ 14,6) por tonelada a 3 mil rupias (US$ 42,2) por tonelada. O governo também paga diretamente aos produtores de cana-de-açúcar 138 rupias (US$ 1,9) por tonelada. Isso acaba distorcendo preços internacionais. Portanto, direcionar parte da cana para produzir etanol poderia reduzir esse volume e a oferta global de açúcar, aumentando os preços e atendendo a interesses brasileiros e indianos.
"Para o Brasil, os benefícios de um aumento da quantidade de etanol seriam regular os preços internacionais do açúcar e uma maior procura pelo biocombustível", diz Amaury Pekelman, presidente da União Nacional da Bioenergia (Udop). "Além disso, o etanol é um aliado na mitigação da emissão dos gases de efeito estufa na atmosfera, o que melhoraria a qualidade do ar das metrópoles indianas." "Queremos transformar o etanol em uma commodity mundial e despertar o interesse em parceiros importantes que vejam esse produto como uma alternativa viável", afirma o diplomata Flávio Bettarello, secretário adjunto de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Dalci Pagolin, adido agrícola na Índia, concorda que há benefícios aos dois parceiros. "Hoje o mercado de etanol está muito concentrado em EUA e Brasil, seria muito importante que fosse para outros países." O Brasil é o segundo maior produtor de etanol do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. O produto brasileiro, à base de cana, é mais eficiente e ecológico do que o americano, feito de milho.
O uso do etanol como combustível em larga escala, no entanto, ainda ocorre basicamente nesses dois países, o que limita sua transformação em uma commodity comercializada internacionalmente. 

sábado, 18 de janeiro de 2020

Entrevista sobre a diplomacia brasileira e as relações internacionais - Paulo Roberto de Almeida (Tapa da Mão Invisível)

Entrevista sobre a diplomacia brasileira e as relações internacionais


Brasília, 18 janeiro 2020, audiocast de 1h30, com a condução de Julio Santos e Paulo Fuchs. 
Divulgado como “Diplomacia à brasileira: uma análise de Tapa da Mão Invisível” 
#SoundCloud (18/01/2020; link: 

Relação de Originais n. 3567.

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Paralelos com o Meridiano 47: Ensaios Longitudinais e de Ampla Latitude (Kindle book) - Paulo Roberto de Almeida


Paralelos com o Meridiano 47: Ensaios Longitudinais e de Ampla Latitude 

(Portuguese Edition) eBook Kindle



Coletânea de todos os artigos publicados em Meridiano 47, desde 2001 a 2016, dividido em cinco partes: 1. Relações internacionais e política externa do Brasil; 2. Economia internacional, globalização; 3. Regionalismo, Integração; 4. Política internacional, Questões estratégicas; 5. Ideias, cultura, problemas.


All the Globes frame, and spheres, is nothing else
But the Meridians crossing Parallels.
The Cross
John Donne
(24/01/1572 – 31/03/1631, Londres, Inglaterra)





Índice

Apresentação
Freakdiplomacy, or the advantages of being an accidental diplomat


Primeira Parte
Relações internacionais e política externa do Brasil
1. Relações Internacionais e política externa do Brasil: perspectiva histórica
2. Ideologia da política externa: sete teses idealistas
3. Relações Brasil-Estados Unidos em perspectiva histórica
4. Um exercício comparativo de política externa: FHC e Lula em perspectiva
5. Sucessos e fracassos da diplomacia brasileira: uma visão histórica

Segunda Parte
Economia internacional, globalização
6. Mudanças na economia mundial: perspectiva histórica de longo prazo
7. Debate sobre a globalização no Brasil: muita transpiração, pouca inspiração
8. Interessa ao Brasil uma taxa sobre os movimentos de capitais?
9. A distribuição mundial de renda: caminhando para a convergência?
10. Contra a antiglobalização
11. Perguntas impertinentes a um amigo antiglobalizador
12. Fórum Social Mundial: nove objetivos gerais e alguns grandes equívocos
13. Fórum Surreal Mundial: Pequena visita aos desvarios dos antiglobalizadores
14. O Brasil e o G20 financeiro: alguns elementos analíticos
15. A longa marcha da OMC: das origens aos impasses atuais

Terceira Parte
Regionalismo, Integração
16. Mercosul e Alca na perspectiva brasileira: alternativas excludentes? 
17. O Mercosul não é para principiantes: sete teses na linha do bom senso
18. Problemas da integração na América do Sul: a trajetória do Mercosul
19. Acordos regionais e sistema multilateral de comércio: a América Latina
20. Contexto geopolítico da América do Sul: visão estratégica da integração
21. Mercosul: uma revisão histórica e uma visão de futuro
22. Regional integration in Latin America: an historical essay

Quarta Parte
Política internacional, Questões estratégicas
23. Camaradas, agora é oficial: acabou o socialismo
24. A China e seus interesses nacionais: reflexões histórico-sociológicas
25. Teses sobre o novo império e o cenário político-estratégico mundial
26. O legado de Henry Kissinger
27. Pequena lição de Realpolitik
28. Estratégia Nacional de Defesa (END): comentários dissidentes
29. A Arte de NÃO Fazer a Guerra: novos comentários à END

Quinta Parte
Ideias, cultura, problemas
30. Fim da História, de Fukuyama, vinte anos depois: o que ficou?
31. Um Tocqueville avant la lettre: Hipólito da Costa como founding father do americanismo
32. Reflexões a propósito do centenário do Barão
33. Uma frase (in)feliz? O que é bom para os EUA é bom para o Brasil? 
34. O IBRI e a RBPI: contribuição intelectual, de 1954 a 2014


Apêndices
Relação cronológica dos ensaios publicados no boletim Meridiano 47
Livros publicados pelo autor
Nota sobre o autor 


Detalhes do produto

  • Tamanho do arquivo: 1499 KB
  • Número de páginas: 556 páginas
  • Quantidade de dispositivos em que é possível ler este eBook ao mesmo tempo: Ilimitado
  • Editora: Edição de autor; Edição: 2 (20 de dezembro de 2019)
  • Data da publicação: 20 de dezembro de 2019
  • Vendido por: Amazon Digital Services LLC
  • Idioma: Portuguese
  • ASIN: B082Z756JH
  • Dicas de vocabulário: Não habilitado
  • Empréstimo: Habilitado
  • Configuração de fonte: Não habilitado 

Apresentação
Freakdiplomacy, or the advantages of being an accidental diplomat



Quando eu estava terminando de montar – esta é a palavra exata – este livro de ensaios publicados no boletim Meridiano 47 fui presenteado com o livro Freakonomics, o livro de um “rogue economist”, Steven D. Levitt, um desses pequenos gênios de Harvard e do MIT, e de um jornalista, Stephen J. Dubner, que estava pesquisando sobre a psicologia da moeda para o The New York Times Magazine. Do entendimento entre os dois nasceu esse livro, que eu já conhecia de ler aos pedaços em livrarias, de dezenas de resenhas e referências elogiosas publicadas em dezenas de outras publicações digitais ou impressas, e de um ou outro artigo da dupla reproduzido nos espaços virtuais que todos frequentamos atualmente.
Apressado para terminar a assemblagem dos mais interessantes artigos que eu  havia publicado, desde 2001, no mais dinâmico boletim de relações internacionais já inventado na academia brasileira, quase não pego o livro para, por uma vez, lê-lo atentamente. Bem, ainda não terminei de devorar esse pequeno volume de ensaios bizarros – oportunamente complementado por um novo, SuperFreakonomics, tratando dos mesmos assuntos pouco convencionais na economia e no jornalismo – mas já cheguei à conclusão que eu e os autores dos dois volumes (e outros virão) de economia contrarianista temos muito em comum: a coincidência se resume basicamente no fato de sermos, eu e a dupla Freak, contestadores das verdades reveladas, daquilo que os franceses chamam de idées reçues, ou seja, o pensamento banal, aceito como correto nos mais diferentes meios em que essas ideias se aplicam (mas geralmente de forma equivocada). 
E por que digo isto, ao iniciar a introdução de um livro de “ideias já recebidas”, ou pelo menos de ensaios já publicados? É porque eu já fui chamado, certa vez, de accident prone diplomat, ou seja, alguém que busca confusão, o barulho, no meu caso, de fato, mais a provocação do que a contestação gratuita. Com efeito, eu não consigo me convencer com certas idées reçues nos meios que frequento, e estou sempre à busca de seus fundamentos, justificações, provas empíricas, testemunhos de sua adequação e funcionamento no ambiente em que deveriam operar, em condições normais de pressão e temperatura, enfim, o entendimento convencional de como é ou de como deve funcionar a diplomacia, em especial, a nossa, esta sempre tida por excelente e que, aparentemente, não improvisa. Talvez devesse fazê-lo, em certas ocasiões...
Na verdade, antes de ser um accident prone diplomat, se isto é correto (o que duvido), creio ser um diplomata acidental, alguém que se dava bem na academia, tangenciando as áreas dos dois autores de Freakonomics, e que resolveu, num repente, ser diplomata. Posso até recomendar a profissão, aos que gostam de inteligência, de cultura, de viagens, de debates sobre como consertar este nosso mundo tão sofrido, aos que são nômades por natureza (como é o meu caso e mais ainda o de Carmen Lícia), menos talvez aos que apreciam pouco um ambiente meio Vaticano meio Forças Armadas. Com efeito, hierarquia e disciplina são os dois princípios que estão sempre sendo lembrados aos jovens diplomatas como sendo a base de funcionamento dessa Casa aparentemente tão austera, tão correta, tão eficiente no tratamento das mais diversas questões da nossa diplomacia.
Atenção, eu disse diplomacia, que é uma técnica, e não política externa, que pode ser qualquer uma que seja posta em marcha pelas forças políticas temporariamente dominantes no espectro eleitoral do país. Política externa pertence a um governo, a um partido; a diplomacia pertence a um Estado, que possui instituições permanentes, entre elas essa que aplica a política externa de um governo por meio da diplomacia. E por que então o título Freakdiplomacy que inaugura este prefácio? Não preciso responder agora, e provavelmente nem depois, mas a resposta talvez esteja em cada um dos ensaios reunidos nesta coletânea de artigos publicados desde 2001 no boletim Meridiano 47. Ninguém há de recusar o fato de que, desde 2003 pelo menos, o Brasil vive tempos não convencionais, nos quais assistimos coisas nunca antes vistas na diplomacia, que por acaso é o título de meu livro mais recente. 
Pois bem, reunindo tudo o que eu escrevi nos parágrafos anteriores – diplomata acidental, hierarquia, disciplina, ideias de senso comum, etc. – e juntando tais conceitos aos ensaios aqui compilados, vocês terão uma explicação para o sentido geral de minha obra, anárquica, dispersa, contestadora, por vezes contrarianista, mas explorando, como os dois autores de Freakonomicsthe hidden side of everything, ou, neste caso, o lado menos convencional da diplomacia, aquele que explora certas verdades reveladas e ousa apresentar outras ideias que não necessariamente fazem parte do discurso oficial. Esta talvez seja a razão de eu também apreciar, muitíssimo, uma seção da revista Foreign Policy, desde a sua reorganização por Moisés Naím, que se chama “Think Again”, ou seja, reconsidere, ou pense duas vezes, pois a resposta, ou a explicação pode não estar do lado que você costuma encontrar, mas que talvez esteja escondida em alguma dobra da realidade, por uma dessas surpresas do raciocínio lógico, por alguma astúcia da razão ou por algum outro motivo que se encontra enterrado, e quase esquecido, na história.
A vantagem de ser um diplomata acidental está justamente no fato de poder perseguir, nem sempre impunemente, o outro lado das coisas, e de poder contestar algumas dessas idées reçues que passam por certezas consagradas, ou pela única postura possível no funcionamento convencional da grande burocracia vaticana, que também leva jeito de quartel (mas acordando um pouco mais tarde). Durante todos estes anos em que venho colaborando com o boletim Meridiano 47, e desde algum tempo com seu irmão mais novo, digital, Mundorama, tenho podido exercer meu lado irreverente e pouco convencional para tratar de aspectos muito pouco convencionais de nossa Freakdiplomacy nestes anos do nunca antes (et pour cause).
Atenção: estes ensaios não brotaram, originalmente, de trabalhos de pesquisa, ou daquilo que se chama, usualmente, de scholarly work, isto é, o material resultante de estudos meticulosos, ou objeto de revisão cega por pares, que está mais propriamente coletado em meus livros publicados. Eles são, eu diria, peças de simples divertimento intelectual, ainda que vários deles contenham aparato referencial (notas de rodapé, bibliografia, citações doutas, etc.) e também sejam o reflexo de muitas leituras sérias e anotadas ao longo de meus anos de estudo e trabalho. Mas, destinados a um veículo mais leve, e não a uma revista científica, eles constituem reflexões de um momento, de um problema, de algum freak-event que valia a pena registrar em um artigo mais curto.
Devo a existência de mais este livro de coletânea de meus próprios textos a meu amigo, colega acadêmico e grande editor de publicações leves e mais pesadas, o professor Antonio Carlos Lessa, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, a quem aprendi a admirar desde nossos primeiros passos conjuntos na reorganização da Revista Brasileira de Política Internacional, recuperada por mim de uma morte certeira, quando do falecimento de seu editor no Rio de Janeiro, Cleantho de Paiva Leite, no final de 1992. O professor Lessa foi o animador constante, e mais ativo, de diversas outras publicações que marcaram, e ainda marcam sua trajetória na UnB, algumas desaparecidas, em forma impressa ou digital, como foi o caso de Relnet, por exemplo (onde foram publicados alguns destes ensaios em sua primeira encarnação), outras resistentes e persistentes, como a própria RBPI e este boletim Meridiano 47, justamente. Sem o professor Lessa, o boletim não existiria, e sem o seu trabalho incansável não teríamos tantos e tão bons produtos saindo das fornalhas do IBRI e do IRel-UnB. A ele dedico, portanto, esta compilação seletiva, com meus agradecimentos renovados pelo seu esforço e sua pertinácia nos empreendimentos.
Todos estes meus ensaios, na forma em que foram publicados, estão em princípio disponíveis nos arquivos digitais do boletim Meridiano 47. O que vai aqui compilado foi retirado de meus próprios arquivos, em processador usual de texto, para contornar os problemas de formatação de texto em suporte digital, mas corresponde, em princípio, ao que foi publicado. Nem tudo o que publiquei vai aqui reproduzido, em ordem não cronológica, mas organizada por grandes categorias de estudo. Ficaram de fora diversos artigos circunstanciais, todas as resenhas de livros – já coletadas em outras publicações digitais que organizei – e alguns textos de menor importância. Todos aqueles efetivamente publicados (salvo distração minha) estão ordenados cronologicamente no apêndice ao final do volume, onde também figuram os respectivos links para revisão dos mais desconfiados ou curiosos. Também tenho colaborado, agora como colunista não pago, de outra iniciativa do Prof. Antonio Carlos Lessa, Mundorama, um veículo ainda mais leve que Meridiano 47, e que libera eventualmente material para posterior publicação neste último (como ocorreu com alguns destes meus ensaios). 
O lado “freak”, ou divertido, de ser um diplomata acidental está justamente na possibilidade de poder escrever livremente sobre assuntos sérios e menos sérios, com a liberdade editorial que só existe nos veículos leves, sem precisar cumprir todo o ritual chato dos requisitos acadêmicos ligados às revistas “sérias” – como a RBPI, por exemplo, com a qual também colaboro, de diversas maneiras – e sem precisar atentar para a langue de bois normalmente associada às publicações oficiais, onde o lado vaticano inevitavelmente predomina. Foi nestes ensaios que eu explorei o lado meio escondido de certas verdades reveladas do meio profissional, uma atividade que sempre me deu imenso prazer por combinar com meu jeito contrarianista de ser. 
Dito isto, preciso voltar a coisas mais sérias, como o segundo volume de minha história das relações econômicas internacionais do Brasil, que me espera desde vários anos a partir da conclusão do primeiro volume (Formação da Diplomacia Econômica no Brasil). Assim que terminar, vou voltar a me divertir, nas páginas de Meridiano 47, nos arquivos digitais de Mundorama, ou nos meus próprios veículos de divulgação.
Vale!
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 16 de abril de 2015

Nota em 21/12/2019: Agreguei dois novos artigos publicados em Meridiano 47 em etapas posteriores, o primeiro, “A longa marcha da OMC: das origens aos impasses atuais”, sobre o congelamento da Rodada Doha; o segundo, “Regional integration in Latin America: an historical essay”, uma síntese sobre a integração e o Mercosul para um público estrangeiro.


O Panorama visto em Mundorama - Livro em Kindle de Paulo Roberto de Almeida

O panorama visto em Mundorama: Ensaios irreverentes e não autorizados 

(Portuguese Edition) eBook Kindle



Coletânea de todos os artigos publicados pelo autor na revista digital Mundorama, onde são publicadas contribuições breves versando sobre os temas da agenda internacional contemporânea, e para a qual ofereci colaborações desde janeiro de 2007. A obra divide as dezenas de artigos nas seguintes categorias: 1. Política externa brasileira e diplomacia companheira; 2. Economia política internacional; 3. Globalização, Embromação; 4. Política internacional, Questões estratégicas; 5. Ideias, cultura, livros; 6. O Brasil e o mundo, de um século a outro; 7. Miscelânea de artigos dos anos 2015 a 2017.



Al enfrentarme a su concepción... quise utilizar la historia... para reflexionar sobre la perversión de la gran utopía del siglo XX, ese proceso en el que muchos invirtieron sus esperanzas y tantos hemos perdido sueños, años y hasta sangre y vida. (...) En ese dilatado proceso, me resultó imprescindible... el conocimiento, las experiencias y las investigaciones previas... y hasta las incertidumbres sobre una historia las más de las veces sepultada o pervertida por los líderes que durante... años fueron los dueños del poder y, por supuesto, de la Historia.

Leonardo Padura
El Hombre que Amaba los Perros

 (Barcelona: Tusquets, 2009), p. 763-764.


Índice 
Apresentação
O mundo visto no diorama de Mundorama

Primeira Parte
Política externa brasileira e diplomacia companheira
1. Fim das utopias na Casa de Rio Branco?
2. A política externa companheira e a diplomacia partidária
3. Continuidade e mudança na política externa brasileira 
4. A diplomacia brasileira numa nova conjuntura política
5. O Brasil e a integração regional, da Alalc à Unasul: algum progresso?

Segunda Parte
Economia política internacional
6. Mudanças na economia mundial: perspectiva histórica de longo prazo
7. Os Brics na nova conjuntura de crise econômica mundial
8. A Guerra Fria Econômica: um cenário de transição?
9. Desafios da economia brasileira na interdependência global
10. A agenda econômica internacional: o cenário atual
11. Como o Brasil se insere no cenário mundial, agora e no futuro próximo?
12. Como e qual seria uma (ou a) agenda ideal para o Brasil?
13. O que o Brasil deveria fazer para maximizar a “sua” agenda?

Terceira Parte
Globalização, Embromação
14. A globalização e o direito comercial: uma longa evolução
15. Fluxos financeiros internacionais: é racional a proposta de taxação?
16. Fórum Econômico e Fórum Social: dois mundos contraditórios
17. Fórum Social Mundial: uma década de embromação
18. Triste Fim de Policarpo Social Mundial
19. A falência da assistência oficial ao desenvolvimento

Quarta Parte
Política internacional, Questões estratégicas
20. A guerra de 1914-18 e o Brasil: impactos imediatos, efeitos permanentes
21. O mundo sem o Onze de Setembro: explorando hipóteses
22. Wikileaks: verso e reverso
23. Wikileaks-Brasil: qual o impacto real da revelação dos documentos?
24. Digressões contrarianistas sobre o desarmamento nuclear
25. Um congresso de Viena para o século 21?
26. As ilusões perdidas do século 21

Quinta Parte
Ideias, cultura, livros
27. A ideia do interesse nacional: onde estamos?
28. Imperfeições dos mercados ou “perfeições” dos governos
29. Miséria do Capital no século 21
30. Reformando o sistema monetário internacional
31. As quatro liberdades e um projeto para o Brasil
32. Algumas recomendações de leituras
33. Estratégia diplomática: relendo Sun Tzu para fins menos belicosos
34. Memória e diplomacia: o verso e o reverso
35. Da democracia à ditadura: uma gradação cheia de rupturas

Sexta Parte
O Brasil e o mundo, de um século a outro
36. A diplomacia dos antigos comparada à dos modernos
37. A ordem econômica mundial, do século 19 à Segunda Guerra
38. The world economy, from belle Époque to Bretton Woods
39. Relações Brasil-EUA no início do século 21: desencontros
40. A falácia dos modelos de desenvolvimento: enterrando um mito sociológico
41. O TransPacific Partnership e seu impacto sobre o Mercosul
42. Quais são as grandes ameaças ao Brasil?
43. Desafios externos ao Brasil no futuro próximo

Sétima Parte
Miscelânea de artigos dos anos 2015 a 2017
44. O pensamento estratégico de Francisco Adolfo de Varnhagen
45. A posição bizarra do Brasil na economia mundial
46. O Mercosul aos 25 anos: minibiografia não autorizada
47. Do lulopetismo diplomático a uma política externa profissional
48. Política externa e política econômica no Brasil pós-PT
49. Um século de mudanças na vida do Brasil e do mundo, nos anos 6...
50. Populismo econômico e ‘destruição destrutiva’ na América Latina
51. China’s pivot, Brazil’s stance: a personal view
52. O que esperar de 2017: economia e política internacional
53. Roberto Campos, 100 anos: atualidade de suas ideias
54. RBPI: itinerário de uma revista essencial
55. Uma visão crítica da política externa brasileira: a da SAE-SG/PR


Apêndices
Relação cronológica dos ensaios publicados em Mundorama
Relação dos artigos publicados anteriormente em RelNet
Livros publicados pelo autor
Nota sobre o autor 

Detalhes do produto

  • Tamanho do arquivo: 5725 KB
  • Quantidade de dispositivos em que é possível ler este eBook ao mesmo tempo: Ilimitado
  • Editora: Edição de autor; Edição: 3 (21 de dezembro de 2019)
  • Data da publicação: 21 de dezembro de 2019
  • Vendido por: Amazon Digital Services LLC
  • Idioma: Portuguese
  • ASIN: B082ZNHCCJ
  • Dicas de vocabulário: Não habilitado
  • Empréstimo: Habilitado
  • Configuração de fonte: Habilitado 

Apresentação
O mundo visto no diorama de Mundorama

Diorama, segundo as definições e as representações costumeiras, é um modelo, que pode ser construído tanto em miniatura quanto em tamanho natural, representando, num formato tridimensional, algum evento, indivíduos ou integrantes do mundo natural, ou ainda, alguma configuração marcante de uma determinada sociedade, do presente ou do passado, que possua relevância suficiente para justificar sua reprodução de forma realista daquilo que se pretenda oferecer aos visitantes como comemoração histórica, ou antropológica, ou qualquer outra, geralmente fazendo parte de um museu ou construção especialmente construída para tal finalidade. Não chegam ao realismo extremo de certas figurações típicas da história patriótica americana – quando se reencenam, com atores do presente em trajes de época, batalhas ou cenas da formação progressiva do país – mas constituem, ainda assim, representações atrativas, pois se destinam justamente a finalidades didáticas, para o público leigo e infanto-juvenil.
Alguns dioramas são extremamente sofisticados: sempre me lembro do realismo com o qual se recriou a batalha de Waterloo, na cidade belga desse nome, com todos os exércitos alinhados para a derradeira derrota de Napoleão. Os militares apreciam esses figurações, e lhes emprestam o maior realismo possível. Vem-me à mente, igualmente, o excelente Liberty Memorial da Primeira Guerra Mundial, em Kansas City, com um imenso painel relatando a entrada dos Estados Unidos na guerra, em 1917. Combinando diversas técnicas, é um dos mais completos que me foi dado visitar em torno da Grande Guerra, igualando, provavelmente, o Memorial de Péronne, na França.
Pois bem, o veículo virtual com o qual tenho o privilégio de colaborar, o boletim eletrônico Mundorama, dirigido pelo ativíssimo professor Antonio Carlos Lessa, é uma espécie de diorama sobre o mundo contemporâneo (e do passado também). Trata-se, antes de tudo, de um empreendimento extremamente didático, ainda que bastante leve e diversificado, embora não tridimensional, mas suficientemente rico para atrair todos aqueles – estudantes, pesquisadores, curiosos, “livre atiradores”, como eu – que se interessam muito, pouco, ou mesmo muito pouco, pelas relações internacionais e pela inserção mundial do Brasil. Segundo sua definição editorial, “Mundorama é uma abordagem ágil sobre os temas da agenda internacional e da política externa brasileira” e nele “são publicadas contribuições breves versando sobre os temas da agenda internacional contemporânea.” 
Desde que comecei a colaborar, primeiro esporadicamente, agora de forma mais regular, com o boletim, confesso que não tenho sido muito breve, ou sintético. Como poderão constatar os que percorrerem estas páginas, mais uma compilação de meus escritos de uma década inteira, algumas dessas contribuições se estendem por mais de dez páginas, o que destoa das recomendações dos organizadores quanto ao caráter leve dos textos ali recolhidos. Devo, entretanto, à generosidade do professor Lessa o bom acolhimento que tenho encontrado para meus textos de certo modo prolixos, tortuosos, por vezes torturados, em torno de todos os problemas – nacionais ou internacionais – que clamam pela minha atenção na leitura diária de um volume razoável de periódicos e de boletins virtuais. Meus agradecimentos renovados pela compreensão e tolerância.
Não estão aqui compilados todas as contribuições publicadas nas “páginas” de Mundorama, inclusive porque várias delas foram reproduzidas no boletim irmão, um tanto mais formal – quase de terno e gravata – que é o Meridiano 47, já objeto de uma anterior compilação minha, igualmente disponível: Paralelos com o Meridiano 47: Ensaios Longitudinais e de Ampla Latitude (Hartford: Edição do Autor, 2015), livro digital montado a partir de uma seleção de minhas colaborações a esse boletim (e disponível neste link: https://www.academia.edu/11981135/28_Paralelos_com_o_Meridiano_47_ensaios_2015_). Vou ainda aperfeiçoá-lo, graficamente, visualmente, e colocá-lo em minha página. 
Em todo caso, a lista das contribuições até agora oferecidas estão listadas no Apêndice, que também relaciona meus escritos no boletim predecessor de Mundorama, em sua primeira encarnação, as Colunas do RelNet, uma iniciativa pioneira dessa tribo de desbravadores do atual IRel-UnB, com a qual colaboro sempre quando me chamam, mas sempre como livre atirador, jamais como representante de qualquer entidade ou escola de pensamento. Ser livre significa escolher em total autonomia todos e cada um dos temas que são aqui submetidos ao meu  bisturi analítico: jamais recebi qualquer encomenda dos editores, ou de quem quer que seja, para tratar deste ou daquele assunto. 
Minto: nos anos comemorativos, tanto o professor Lessa quanto os editores ou responsáveis pelo IBRI e pela RBPI, me sugeriam algum escrito recapitulativo, isto é, de cunho histórico, o que eu teria feito voluntariamente de igual modo. Salvo essas poucas “encomendas”, todos os demais temas figuram nos meus cadernos de notas como sendo o resultado de leituras, reflexões, pesquisas e debates, que são mais raros, estes últimos, na medida em que eu prefiro o labor solitário, geralmente com o concurso dos livros e das revistas, em frente à tela de um computador, na consulta virtual de todas as fontes disponíveis, sempre na companhia intelectualmente estimulante de Carmen Lícia, que costuma ter meus péssimos hábitos de leituras e trabalhos noctívagos. 
Não creio que eu necessite apresentar qualquer um dos textos aqui reproduzidos, pois acredito que eles falam por eles mesmos. A despeito de algum overlapping entre Mundorama e Meridiano 47, evitei as repetições entre os dois volume de compilações, com uma única exceção, o texto 6: “Mudanças na economia mundial: perspectiva histórica de longo prazo”, uma vez que penso que ele oferece uma boa introdução à problemática que vai discutida na seção dedicada à economia política internacional, como já tinha sido o caso no volume anterior. Aproveitei, tanto quanto possível, as belas imagens que decoravam a edição original de cada um dos escritos em Mundorama, ao qual os curiosos podem recorrer, para uma formatação mais agradável, ou conferir o texto de fato publicado (http://mundorama.net/?s=Paulo+Roberto+de+Almeida).
Este volume está destinado a crescer em tamanho em futuras edições – ainda que não pretenda imitar os verdadeiros dioramas em seu formato tridimensional –, à medida em que novos escritos vierem completar os temas aqui tratados, geralmente de forma mais rápida que os trabalhos mais “pesados”. Mas, como os congêneres de museus, ele se pretende igualmente didático em espírito e em intenção, tanto quanto sintético de realidades sempre complexas e multifacetadas das relações internacionais e da inserção do Brasil nos seus vários ambientes. Não preciso, em absoluto, oferecer qualquer tipo de “disclaimer” quanto ao fato, deveras conhecido de todos que acompanham meus trabalhos, que as ideias e posições aqui expostas correspondem inteiramente ao meu próprio pensamento, não refletindo de nenhuma forma, posturas e políticas de qualquer corporação com a qual eu possa estar envolvido ou servindo. 
Ser livre atirador significa assumir inteira responsabilidade pelas tomadas de posição, pelas críticas mais amenas ou mais acerbas que possam estar aqui contidas, como aliás sempre foi minha postura ao longo de minha trajetória intelectual. Simples curiosos, alunos de áreas que são as de minhas leituras e pesquisas, colegas de profissão ou de academia, podem ter certeza de que todas as ideias aqui defendidas são sempre expostas com o mesmo ardor e convicção que desde anos animam os meus estudos.
Vale!

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 21 de abril de 2015; Edição ampliada: Brasília, 2 de dezembro de 2015
3ª. Edição com acréscimo de uma 7ª Parte: Brasília, 22 de dezembro de 2019