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domingo, 20 de setembro de 2020

Política Externa e Diplomacia Brasileira: elementos básicos - Paulo Roberto de Almeida

 Política Externa e Diplomacia Brasileira: elementos básicos 

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

Trechos selecionados a partir do trabalho n. 3673

 

 

Introdução: elementos básicos sobre a diplomacia brasileira.

Considerações gerais sobre a política externa e a diplomacia dos Estados soberanos

Um Estado se organiza institucionalmente em torno de seus três poderes principais, à la Montesquieu, e estes se articulam sobre a base das disposições constitucionais que regulam, de modo lato, o seu funcionamento. Os agentes públicos eleitos ou mandatados nos três poderes exercem suas funções a partir dos mesmos dispositivos constitucionais e a partir dos impulsos e iniciativas tomados pelos governos eleitos em alternância, pelo menos nas democracias representativas. No caso do Brasil, tínhamos, no Império, uma inovação à la Benjamin Constant (o franco-suíço, não o brasileiro), um quarto poder, o Moderador, usado pelo Imperador para se livrar do gabinete de turno, e convidar o líder do partido opositor (só havia dois, o Liberal e o Conservador, ambos escravistas).

O Executivo, principal poder nos governos, exerce suas funções por meio de políticas públicas, sendo que estas se dividem em macroeconômicas – fiscal, monetária, cambial – e em políticas setoriais: industrial, comercial, agrícola, educacional, científica, etc. Algumas destas possuem maior abrangência, perpassando diferentes setores da vida pública, como a Justiça, a Defesa e as Relações Exteriores. Esta última, objeto deste ensaio, toma apoio em outras políticas setoriais: de comércio exterior, da indústria, da agricultura, assim como das demais que possuem uma interface internacional, o que acaba sendo o caso de quase todas elas, pois mesmo as políticas que têm a ver com a segurança interna, com a previdência, ou as populações indígenas, por exemplo, podem receber insumos e lições comparativas extraídas de outras experiências de base nacional. Um foro de coordenação de políticas como a OCDE, ao qual o Brasil pretende ingressar, é uma espécie de gabinete ministerial incorporando todas as vertentes das políticas governamentais, macroeconômicas e setoriais. 

A política externa de um país é o conjunto de diretrizes e prioridades que um país determinado escolhe, de acordo com a sua forma de governo – parlamentarista ou de cunho presidencial, como é o nosso caso –, para se relacionar com outros Estados soberanos da comunidade internacional e no âmbito das organizações regionais ou intergovernamentais de caráter universal ou mundial, cenário no qual exercem preeminência a Organização das Nações Unidas e suas agências especializadas. Nos regimes presidencialistas, como é o caso do Brasil, cabe ao presidente determinar as diretrizes básicas da política externa, com a eventual tutela do poder legislativo no controle de suas ações e iniciativas e na designação de representantes diplomáticos junto a essas organizações internacionais ou demais países com os quais se tenham relações diplomáticas. Raramente a política externa aparece com destaque ou prioridade nos debates eleitorais, uma vez que as questões principais em cada escrutínio eleitoral tocam mais diretamente nas políticas econômicas – emprego, renda, habitação, gastos em saúde e educação, transportes, segurança, etc. –, daí uma grande latitude deixada ao chefe de governo, e de Estado (no caso dos regimes presidencialistas), na definição das linhas básicas dessa política setorial abrangente. 

A diplomacia, por sua vez, nada mais é senão a ferramenta pela qual um Estado constituído exerce a sua política externa, mobilizando agentes enviados ao exterior e o corpo profissional do Serviço Exterior para a implementação das diretrizes do presidente, com a atuação paralela dos demais poderes e dos agentes econômicos e sociais de uma nação que mantém relações normais com os demais Estados da comunidade internacional. Esse corpo profissional pode ser mais ou menos aberto à participação de especialistas recrutados em outras áreas de governo (Defesa, Economia, Agricultura, por exemplo) ou na própria sociedade civil (empresas, academia, organizações não governamentais). No caso do Brasil, existe certo insulamento do ministério das Relações Exteriores dessa “osmose” que outras chancelarias mantêm com esses agentes “externos” ao próprio Serviço Exterior oficial, ou seja, recrutado por concurso e dotado de estabilidade funcional. Essas características podem representar tanto uma garantia de alta qualidade no desempenho das funções e atividades tipicamente diplomáticas – pelo constante treinamento do pessoal habilitado –, quanto certo risco de autismo burocrático ou insulamento da sociedade e das demais agências públicas. 

 

Política externa e diplomacia do Brasil em padrões tradicionais e em tempos normais

Padrões tradicionais significam, no contexto deste ensaio, o trabalho corrente de uma chancelaria funcionando segundo regras estabelecidas de forma mais ou menos consistente segundo disposições constitucionais e outras normas de direito administrativo, sem eventuais alterações que acompanham possíveis mudanças de regime; tempos normais, por sua vez, são os que não conhecem essas quebras de ritmo nas atividades correntes, por mudanças internas ou graves crises externas (guerras, interrupção de comércio, turbulências financeiras, etc.). O Brasil conheceu grandes alterações em seu regime político – da monarquia para a República, por exemplo – sem qualquer alteração nas relações internacionais (mas teve de mudar as prioridades de sua política externa, num sentido mais americanista), assim como atravessou um enorme impacto nessas relações – como a Grande Guerra – sem sequer alterar o padrão de sua política externa ou os hábitos de trabalho de sua diplomacia. Mais adiante, uma grave crise econômica externa, a de 1929, agravou a crise política já em curso, para precipitar a queda da primeira República, e a consequente alteração tanto na política externa, quanto na organização de sua chancelaria e práticas diplomáticas (com a unificação das carreiras diplomática e consular, por exemplo). Padrões tradicionais e tempos normais não excluem, portanto, grandes alterações externas ou internas, e o impacto recíproco dessas mudanças. Vejamos, pois, como tais padrões e políticas se apresentaram ao longo da história do Brasil.

Mesmo nas condições relativamente insatisfatórias, tanto no plano material quanto no educacional, de um país saído de seu status colonial, mantido em formidável isolamento pela política de exclusivo colonial da metrópole portuguesa durante três séculos desde a colonização, o Brasil conseguiu construir um Estado bastante funcional no conjunto das ex-colônias saídas da dominação ibérica nas Américas, tendo inclusive herdado instituições de qualidade razoável a partir da transmigração da corte lusitana três lustros antes de sua independência. A diplomacia herdada a partir de 1822 reflete as boas tradições da diplomacia portuguesa, uma das mais hábeis no jogo de grandes potências da Europa ocidental, o que habilitou o jovem Estado a uma defesa consequente dos interesses nacionais numa época de reafirmação de novos impérios coloniais e de certa arrogância imperialista, como se observou no decorrer do século XIX. O tráfico e o escravismo representaram dois handicaps durante a maior parte desse século, tendo a abolição da escravatura sinalizado o próprio fim do regime monárquico. Eram tempos “normais” no Brasil, mas a escravidão certamente não poderia mais ser considerada algo normal no período contemporâneo: o Brasil era uma anomalia mesmo no contexto exclusivamente latino-americano; quando cessou a escravidão, cessou também o apoio ao regime monárquico, sem que o Partido Republicano (que existia desde 1870 tenha crescido em audiência ou aderentes).

O longo período republicano – mais de 130 anos até aqui – representa a consolidação progressiva de uma diplomacia profissional, com muitas reformas internas (a unificação dos corpos diplomático e consular, a admissão de mulheres, a criação de uma instituição de seleção e treinamento especializado, normas de promoção e remoção, etc.) e a definição das bases políticas para o exercício da autonomia nacional, para um país ainda insuficientemente desenvolvido, dependente de aportes financeiros externos e da exportação de poucas matérias primas, oportunamente engajado num processo bem-sucedido de industrialização substitutiva de importações, que o conduziu à afirmação de uma diplomacia inteiramente mobilizada em função desse grande projeto de desenvolvimento econômico e social. As insuficiências do país, notadamente na área educacional, não obstaram à constituição de uma diplomacia profissional de grande qualidade intelectual, sobretudo a partir do funcionamento, em 1946, do Instituto Rio Branco, selecionando os melhores dentre os melhores. 

Mesmo no século XIX escravista e passavelmente aristocrático – uma aristocracia de títulos apenas, pois nunca teve estamentos tradicionais atrás de si –, mas sobretudo na última década e na transição para o regime republicano, e a partir de então, a diplomacia participou da construção da nação, como brilhantemente exposto pelo embaixador Rubens Ricupero em sua obra de história diplomática, que já nasceu clássica e que leva justamente esse título: A diplomacia na construção do Brasil, 1750-2016 (Versal, 2017). De uma diplomacia de defesa do café, nas primeiras décadas do novo regime, ao equilíbrio difícil nas lutas hegemônicas do entre guerras, à opção pela aliança com as nações democráticas na Segunda Guerra Mundial, que foi mantida durante toda a fase da Guerra Fria no pós-guerra, o corpo diplomático e os estadistas que o conduziram – entre eles o Barão do Rio Branco, Oswaldo Aranha, José Carlos de Macedo Soares, Horácio Lafer, Afonso Arinos e San Tiago Dantas ­– souberam defender os interesses nacionais na linha fundamental do processo de desenvolvimento, ainda que pressionados pela dependência financeira externa e sem dispor de uma sólida base econômica ou militar. Políticas e padrões de trabalho foram alterados em cada circunstância, mas sempre de forma pragmática e quase sem grandes intervenções externas; ou seja, o Itamaraty conseguiu praticar relativo insulamento das turbulências políticas nacionais, pois a intromissão de “externos” à carreira nas missões e chefias de postos sempre foi moderada.

A despeito de alguns momentos de convergência com os interesses das grandes potências – a Grã-Bretanha no século XIX, os Estados Unidos no século XX –, não se pode falar de “alinhamento automático” na política externa ou na diplomacia brasileira, a despeito desse tipo de caracterização em certa literatura acadêmica. Mesmo nas duas décadas do regime militar – supostamente identificado com os interesses ocidentais, no confronto com o desafio representado pela outra grande potência, a União Soviética –, a política externa e a diplomacia brasileira raramente se desviaram de uma definição autônoma dos interesses nacionais para se guiar por outras prioridades que não as do desenvolvimento nacional. O regime militar, comparativamente a todas as demais épocas anteriores, foi o que atribuiu maior independência ao “estamento burocrático” da diplomacia profissional, ao escolher chanceleres retirados do próprio corpo do Itamaraty, provavelmente porque ambas corporações trabalham em bases relativamente similares, com princípios, valores e padrões de funcionamento relativamente, senão amplamente, homogêneos. O fato é que desde os anos 1960, o Itamaraty passou a ser identificado com uma diplomacia de excelente qualidade intelectual, excelente preparação especializada e intensa participação em todos os foros e agências internacionais abertas ao engenho e arte de seu corpo profissional. 

Tanto durante o regime militar, quanto na redemocratização, diplomatas passaram a servir em diferentes agências públicas especializadas, assim como na condição de assessores diretos dos presidentes eleitos, praticamente de maneira contínua, de 1985 a 2003. O Brasil superou gradativamente certos handicaps associados a políticas em desconformidade com os novos padrões do relacionamento internacional – em especial nas áreas dos direitos humanos, das liberdades democráticas, do meio ambiente, no campo das minorias e outras afins – e passou a se destacar nos foros multilaterais com base numa diplomacia afirmativa, inovadora, participativa, sempre pautada nos grandes princípios de sua atuação externa desde os tempos de Rio Branco, Rui Barbosa e Oswaldo Aranha, tendo inclusive retomado, mesmo em pleno regime militar, as grandes linhas da Política Externa Independente que tinha sido inaugurada no final dos anos 1950 e, mais ativamente, no início dos anos 60. Ao abrigo dos dispositivos de relações internacionais inscritos no artigo 4º da Constituição de 1988 – que são cláusulas que se confundem, em larga medida, com princípios relevantes do Direito Internacional contemporâneo ­–, a diplomacia brasileira se alçou ao respeito de parceiros tradicionais no continente, no hemisfério e de maneira geral na comunidade internacional, sempre focada nos objetivos fixados na Carta da ONU – paz, segurança, soberania e desenvolvimento – e nos métodos consagrados pelas estruturas de cooperação internacional. 

Até pelo menos 2003, a diplomacia profissional se pautou por aquelas diretrizes que foram expressas primeiramente pelo Barão do Rio Branco: seu caráter nacional, apartidário e focadas exclusivamente no interesse nacional e no respeito a esses grandes princípios do direito internacional. No período lulopetista, a despeito de uma adesão formal a essas normas, denotou-se clara inclinação para regimes de esquerda não exatamente respeitadores das cláusulas democráticas e de respeito aos direitos humanos, a exemplo de Cuba, dos países ditos bolivarianos e de várias ditaduras em outros continentes. Certos assuntos também foram decididos mais com base numa abordagem partidária do que em atenção aos padrões de trabalho da diplomacia profissional, inclusive porque o assessor presidencial, durante os 13 anos e meio dos governos petistas, foi um militante do partido, vinculado especificamente ao Foro de S. Paulo, uma entidade de coordenação dos partidos de esquerda da América Latina diretamente controlada pelo Partido Comunista Cubano. Em contraposição ao universalismo tradicional da diplomacia profissional, os governos petistas favoreceram uma política míope de orientação preferencial a um fantasmagórico Sul Global, mais uma dessas ficções políticas inventadas por amadores em diplomacia e sustentadas apenas por acadêmicos de esquerda. Tive a oportunidade de examinar, expor e criticar as bases conceituais e ideológicas, assim como as principais orientações operacionais da diplomacia lulopetista em meu livro Nunca antes na diplomacia: a política externa brasileira em tempos não convencionais (2014).

O impeachment que interrompeu o quarto governo petista, em 2016, também permitiu retomar as bases da diplomacia tradicional orientada pelo corpo profissional do Itamaraty, expurgando, portanto, o relacionamento preferencial com algumas ditaduras mais execráveis da região ou de alhures. Pode-se dizer que as orientações que sempre distinguiram a política externa e a diplomacia brasileira durante seus períodos de funcionamento normal foram postas novamente em movimento, de conformidade com o estilo de trabalho da diplomacia profissional, novamente colocada a servir ao Estado, e menos a um governo dominado por um partido dotado de algumas inclinações sectárias. Examinei a fase agônica do período lulopetista na diplomacia brasileira, assim como a retomada dos padrões tradicionais da diplomacia profissional nos dois anos e meio subsequentes em meu livro Contra a Corrente: ensaios contrarianistas sobre as relações internacionais do Brasil, 2014-2018 (2019).

Esses padrões de trabalho foram mantidos por dois chanceleres escolhidos entre os membros do Senado Federal, durante um processo eleitoral infelizmente marcado pelo maniqueísmo dicotômico dos populismos de esquerda e de direita. Com isso encerrou-se, em dezembro de 2018, um período de relativa normalidade na diplomacia brasileira, e o ingresso numa era definitivamente anormal, por quaisquer critérios que se julguem os novos padrões de trabalho. Registre-se, finalmente, antes de concluir esta seção voltada para a análise e a discussão da políticas e padrões de trabalho da diplomacia brasileira, que a cada início de novo mandato presidencial, a cada inauguração de um novo chanceler, por vezes até a assunção de um novo Secretário Geral do Itamaraty, a Casa e o público externo sempre foram contemplados com exposições relativamente abrangentes, abrangentes, de modo claro, sobre a política externa em curso ou aquela que se procurava implementar, ou seja, uma definição mais ou menos completa das prioridades políticas, geográficas, econômicas, institucionais, sobre as grandes linhas da política externa nos planos multilateral, regional ou bilateral, às quais se seguiam, eventualmente, viagens, convites para visitas, iniciativas e novos projetos para o período que se iniciava por essas cerimônias de “entronização” de mais uma etapa. Esse foi sempre o padrão seguido no Itamaraty desde décadas, provavelmente desde o Segundo Império. Pois bem, pela primeira vez na história do Itamaraty, tivemos o início, em janeiro de 2019, de um novo governo sem uma exposição clara, ou sem quaisquer diretrizes a propósito de suas prioridades em política externa ou os padrões de trabalho do novo governo.

 

A política externa e a diplomacia em tempos excepcionais: sem qualquer programa

A falta de uma exposição prévia, abrangente, explícita, por ocasião da inauguração do novo governo – de caráter geral, pelo presidente, ou de escopo setorial, no caso do chanceler e da política externa –, talvez seja a caraterística básica da nova era bolsonarista. Cabe, com efeito, registrar desde já esse caráter fundamental, absolutamente inédito, aliás totalmente único, seja na história política do país, seja na trajetória do próprio Itamaraty: a ausência de uma orientação mais ou menos sistemática a respeito da política externa que se pretende implementar. Difícil, portanto, estender-se numa análise minuciosa sobre uma política externa que simplesmente nunca foi exposta de modo claro, em nenhum documento do governo ou da chancelaria. Essa lacuna já estava evidente desde a apresentação do programa do candidato, em agosto de 2018, uma série de slides muito vagos sobre as grandes linhas do que se pretendia fazer – muitas promessas e poucas realizações até aqui – e quatro miseráveis parágrafos sobre uma “não” política externa, absolutamente estapafúrdios em sua linguagem e sem qualquer conexão com uma política externa e uma diplomacia operacionais. 

Essa carência de documentos, ou de simples transparência quanto aos propósitos e as prioridades do novo governo, em especial na política externa se reflete igualmente na ausência de notas explicativas, de entrevistas, de artigos e de simples boletins de informação sobre as políticas do governo, de modo geral, e sobre a política externa em particular. Quanto ao presidente, a sociedade já se acostumou, o que não deveria, com essas caóticas entrevistas, entrecortadas por desrespeito aos jornalistas, concedidas em poucas minutos pelo presidente, ao sair do Palácio da Alvorada, o que obviamente não substitui, nem poderiam, entrevistas formais à imprensa que todos os presidentes ou chefes de governo concedem regularmente aos meios de comunicação e de informação. Registre-se que o porta-voz da Presidência da República simplesmente desapareceu do cenário, uma vez que, aparentemente, ele não tem mais qualquer função no quadro do Executivo. Da mesma forma, o chanceler sempre teve um porta-voz oficial em todos os governos anteriores, o que simplesmente não mais existe na atual chancelaria.

Não se registrou, nem no discurso de posse do presidente, em 1º de janeiro de 2019, nem em sua primeira mensagem ao Congresso, na abertura da sessão legislativa, em fevereiro seguinte, menções explicitas à política externa ou às prioridades diplomáticas que seriam seguidas ou implementadas em seu governo. No discurso de posse, no Congresso Nacional, as referências foram as mais parcas possíveis, como a promessa de “respeitar as religiões e nossa tradição judaico-cristã, combater a ideologia de gênero, conservando nossos valores. O presidente se comprometeu ainda com que o Brasil “voltará a ser um País livre das amarras ideológicas”, sem, no entanto, esclarecer quais seriam essas amarras, supostamente as da esquerda (quando esta tinha sido já afastada mais de dois anos antes). A política externa recebeu uma única linha em seu discurso, assim expressa: “A política externa retomará o seu papel na defesa da soberania, na construção da grandeza e no fomento ao desenvolvimento do Brasil.” O mesmo ocorreu no discurso de recebimento da faixa presidencial, no Palácio do Planalto, quando a política externa recebeu uma única e obscura referência: “Vamos retirar o viés ideológico de nossas relações internacionais.” Apenas isso e nada mais.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 1 de maio de 2020

 

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Uma certa ideia do Itamaraty: a reconstrução da política externa e a restauração da diplomacia brasileira - novo livro de Paulo Roberto de Almeida


Uma certa ideia do Itamaraty: a reconstrução da política externa e a restauração da diplomacia brasileira

Paulo Roberto de Almeida 
(Brasília: Diplomatizzando, 2020, 169 p.)

Finalmente pronto, anuncio a publicação, em formato pdf livremente disponível, de meu mais recente livro, que não requer apresentação, pois o seu índice, abaixo transcrito, traduz exatamente seu espírito e seu conteúdo.
Ele constitui um esforço cooperativo, como diz o seu subtítulo, de "reconstrução da política externa e a restauração da diplomacia brasileira", que já empreendi com outros colegas do Itamaraty, da ativa e aposentados, desde algum tempo. 
Minha "certa ideia do Itamaraty", o título deste livro, é certamente partilhada com muitos colegas, que repudiam, como a imensa maioria dos brasileiros informados, a postura servil e bizarra dos novos bárbaros, que diminuíram terrivelmente a imagem do Brasil no cenário internacional.
Podem distribuir à vontade...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 7 de setembro de 2020

Índice
  
Prólogo: 
Uma certa ideia do Itamaraty , 8

1. Bases conceituais de uma política externa nacional
1.1. Introdução: natureza do exercício , 14
1.2. Quanto aos métodos  , 15
1.2.1. Clareza quanto às intenções , 15
1.2.2. Interação entre a diplomacia e a economia ,  18
1.2.3. Aferição precisa quanto aos meios disponíveis , 19
1.2.4. Flexibilidade e abertura às inovações , 21
1.3. Quanto aos propósitos , 22
1.3.1. A questão do interesse nacional , 22
1.3.2. O problema das prioridades nas relações exteriores , 26
1.3.3. As “parcerias estratégicas”: possibilidades e limites  , 28
1.3.4. A ordem econômica internacional e os blocos de integração , 29
1.3.5. Problemas da segurança internacional, regional e nacional ,  30
1.3.6. A representação dos interesses no exercício da política externa , 32
1.3.7. Instrumentos de ação de uma política externa nacional , 34
1.4. Conclusões: fundamentos empíricos de uma diplomacia concreta    35

2. Quais são as nossas verdadeiras ameaças? 
2.1. Uma situação depressiva, no mundo todo, com a pandemia , 38
2.2. Um novo inimigo na frente diplomática: o globalismo , 39
2.3. A “revolução cultural” em curso no Itamaraty ,   40
2.4. As contradições da diplomacia bolsolavista ,  41

3. Política externa e diplomacia no contexto das liberdades democráticas
Introdução: como a diplomacia interage com as liberdades e a democracia , 45
3.1. As conferências da paz da Haia de 1899 e de 1907: Rui Barbosa e a igualdade soberana das nações; Corte Arbitral Internacional; possibilidades e limites                                                                                        46
3.2. A Grande Guerra e os 14 Pontos de Wilson; a denúncia bolchevique dos acordos secretos , 46
3.3. A Liga das Nações e o Acordo Briand-Kellog: o recurso obrigatório a meios pacíficos de solução de controvérsias e de disputas entre os Estados , 47
3.4. O nascimento oligárquico da ordem internacional do pós-Segunda Guerra: a ONU , 48
3.5. O processo de multilateralização da ordem política e econômica internacional 49
3.6. A descolonização, o fim do socialismo e a triplicação dos Estados membros da ONU , 49
3.7. A busca de justiça nas relações internacionais: de Nuremberg ao TPI, passando pelas guerras civis nos Balcãs, na África e no Oriente Médio , 50
3.8. A responsabilidade de proteger (R2P), limites da soberania estatal e a responsabilidade ao proteger , 50
3.9. Progressos limitados da ordem democrática no contexto internacional   51
3.10. O Brasil no contexto global das liberdades democráticas: da ditadura à democracia e aos retrocessos do antimultilateralismo , 53

4. O Brasil no cenário internacional e o futuro da diplomacia brasileira 
4.1. Qual é o cenário internacional atual? , 56
4. 2. Como o Brasil se situa nesse cenário? , 56
4.3. Quais foram, quais são, atualmente, os posicionamentos da diplomacia brasileira? ,  58
4.4. Os sete pecados capitais da diplomacia bolsolavista ,  59
4.4.1. Ignorância , 59
4.4.2. Irrealismo ,  60
4.4.3. Arrogância ,  61
4.4.4. Servilismo  ,  62
4.4.5. Miopia ,  64
4.4.6. Grosseria , 65
4.4.7. Inconstitucionalidade ,  66
4.5. A diplomacia brasileira tem futuro? Certamente, mas ainda não sabemos qual será , 68

5. Duas diplomacias contrastadas: a do lulopetismo e a do bolsolavismo
5.1. Similaridades e diferenças entre uma e outra diplomacia  ,  70
5.2. O que distingue, basicamente, a diplomacia lulopetista da bolsolavista?  , 75
5.3. Contrastes e confrontos entre a diplomacia lulopetista e a bolsolavista   , 77
(a) Multilateralismo e cooperação internacional: a quadratura do círculo , 77
(b) OMC e questões comerciais em geral: muito barulho por quase nada , 80
(c) Terrorismo: o que os EUA determinarem, está bem , 82
(d) Globalização e “globalismo”: quando o besteirol chega ao Itamaraty , 83
(e) Brasil na América do Sul e a questão da liderança regional , 85
(f) Mercosul: supostamente relevante, mas de fato deixado de lado ,  90
(g) Argentina, o parceiro incontornável (mas contornado) , 91
(h) Europa, União Europeia: esperanças e frustrações , 93
(i) A relação bilateral com os Estados Unidos: subordinação em toda a linha , 94
(j) relações com a China: entre o saldo comercial e o “comunavirus”  , 96
5.4Instrumentos diplomáticos e características gerais das duas diplomacias ,  98

6. Política externa e diplomacia brasileira no desenvolvimento nacional
6.1. Introdução: a natureza profunda de uma transição nunca acabada  , 104
6.2. Do Império à velha República: o lento desenvolvimento social , 108
6.3. A modernização conservadora sob tutela militar: 1930-1985  ,  115
6.4. As insuficiências sociais da democracia política: 1985-2020  , 119
6.5. Dúvidas e questionamentos sobre o futuro: o que falta ao Brasil?  , 123
6.5.1. Estabilidade macroeconômica (políticas macro e setoriais) , 126
6.5.2. Competição microeconômica (fim de monopólios e carteis) , 127
6.5.3. Boa governança (reforma das instituições nos três poderes)  , 127
6.5.4. Alta qualidade do capital humano (revolução educacional) , 128
6.5.5. Abertura ampla a comércio e investimentos internacionais , 129
6.6. Conclusões: o que falta ao Brasil? , 129

Epílogo: 
Preparando a reconstrução da política externa , 130

Apêndices: 
Dez regras sensatas para a diplomacia profissional , 141
A reconstrução da política externa brasileira  , 148
Programa Renascença (Instituto Diplomacia para Democracia) , 151

Livros publicados por Paulo Roberto de Almeida  , 164
Nota sobre o autor  , 168


O livro está livremente disponível em minhas plataformas de comunicação social, neste blog Diplomatizzando, e em 
Academia.edu: 
https://www.academia.edu/44037693/Uma_certa_ideia_do_Itamaraty_A_reconstrucao_da_politica_externa_e_a_restauracao_da_diplomacia_brasileira_2020_ 
Research Gate: 
https://www.researchgate.net/publication/344158917_Uma_certa_ideia_do_Itamaraty_A_reconstrucao_da_politica_externa_e_a_restauracao_da_diplomacia_brasileira_Brasilia_Diplomatizzando_2020_169_p


Em tempos de grandes mentiras, o ato de falar a verdade torna-se revolucionário.

George Orwell
  

The fact that men and women gain governing power
– whether by democratic elections or extraconstitutional means –
is no guarantee of wise leadership.

Robert Dallek, prefácio a:
The Lost Peace: leadership in a time of horror and hope, 1945-1953

(New York: Harper Collins Publishers, e-books, 2010)


Chamo a atenção para um dos apêndices no livro, relativos ao texto emitido pelo Instituto Diplomacia para Democracia, "Programa Renascença", animado pelo colega diplomata Antonio Cottas J. Freitas, que promove, em 8/09/2020, um debate sobre a política externa e a diplomacia brasileira com o ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero e o ex-chanceler Celso Amorim.

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Palestra sobre o desenvolvimento econômico brasileiro - PRA , em 29/06/2020, 19hs

Fui convidado, e aceitei, fazer uma palestra sobre “O desenvolvimento econômico do Brasil: uma visão histórica”, para alunos da IES de Anápolis, em 29/06, às 19hs. O link para inscrição e assistir a essa palestra, na qual estarei na companhia do pro-reitor de pesquisa e extensão (Prof. Dr. Sandro Dutra), do professor Ieso (diretor do curso de Administração de Empresas) e do professor Daniel (diretor do curso de Direito), com a mediação da professora Mariana Maranhão, que será transmitida pelo YouTube, está aqui: 
https://youtu.be/IopYr9xA7ME 


Meu texto está disponível neste link da plataforma Academia.edu:  
https://www.academia.edu/43469868/O_desenvolvimento_economico_do_Brasil_uma_visao_historica_2020_



Paulo Roberto de Almeida
  
Sumário: 
1. Introdução: a natureza do exercício
2. Do Império à velha República: o lento desenvolvimento social
3. A modernização conservadora sob tutela militar: 1930-1985
4. As insuficiências sociais da democracia política: 1985-2020
5. Dúvidas e questionamentos sobre o futuro: o que falta ao Brasil?
5.1. Estabilidade macroeconômica (políticas macro e setoriais);
5.2. Competição microeconômica (fim de monopólios e carteis);
5.3. Boa governança (reforma das instituições nos três poderes);
5.4. Alta qualidade do capital humano (revolução educacional);
5.5. Abertura ampla a comércio e investimentos internacionais.
6. Conclusões: o que falta ao Brasil?


1. Introdução: a natureza profunda de uma transição nunca acabada

Não sou historiador, nem sou economista, apenas sociólogo, mas sempre gostei de refletir historicamente sobre as frustrações de nosso desenvolvimento econômico e social. Estas são muitas e evidentes, pois do contrário já seríamos uma nação materialmente mais avançada, com menor grau de iniquidades sociais do que o cenário que pode ser constatado por uma análise perfunctória de nossos indicadores sociais e econômicos per capita. Como modesto aprendiz de sociologia histórica, sempre fui propenso a analisar essas insuficiências no contexto mais vasto do processo mundial de desenvolvimento econômico dos povos e nações desde o final do século XIX, ou seja, desde quando se confirmou aquela tendência que os historiadores econômicos chamam de Grande Divergência, no bojo da primeira revolução industrial. Este é o contexto básico, historicamente enquadrado, no qual se situa a emergência do Brasil, enquanto Estado independente, na conjuntura global do sistema internacional, ou seja, aquele da primeira revolução industrial iniciada na Grã-Bretanha de meados do século XVIII e já plenamente configurada como a nação mais avançada do planeta por ocasião das guerras napoleônicas.
(...)

Ler a íntegra no link acima...

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Política externa e diplomacia brasileira no desenvolvimento nacional: perspectiva global e comparada - Paulo Roberto de Almeida

Um dos meus trabalhos que combina história econômica, sociologia do desenvolvimento, política externa e diplomacia brasileira, como sempre em apoio a palestra online para estudantes e professores: 

3699. “Política externa e diplomacia brasileira no desenvolvimento nacional: perspectiva global e comparada”, Brasília, 19 junho 2020, 26 p. Síntese histórica sobre o processo brasileiro de desenvolvimento econômico desde o final do Império, com referências à política externa em três fases desse longo período, para servir como texto de apoio a palestra, com base no trabalho n. 3662 (“Desenvolvimento brasileiro, do século XIX à atualidade: economia, pobreza, trabalho e educação em perspectiva histórica”). Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43388249/Politica_externa_e_diplomacia_brasileira_no_desenvolvimento_nacional_perspectiva_global_e_comparada_2020_).

Política externa e diplomacia brasileira no desenvolvimento nacional: perspectiva global e comparada

Paulo Roberto de Almeida


Sumário: 
1. Introdução: a natureza do exercício
2. Do Império à velha República: o lento desenvolvimento social
3. A modernização conservadora sob tutela militar: 1930-1985
4. As insuficiências sociais da democracia política: 1985-2020
5. Dúvidas e questionamentos sobre o futuro: o que falta ao Brasil?
5.1. Estabilidade macroeconômica (políticas macro e setoriais);
5.2. Competição microeconômica (fim de monopólios e carteis);
5.3. Boa governança (reforma das instituições nos três poderes);
5.4. Alta qualidade do capital humano (revolução educacional);
5.5. Abertura ampla a comércio e investimentos internacionais.
6. Conclusões: o que falta ao Brasil?


1. Introdução: a natureza profunda de uma transição nunca acabada
Não sou historiador, nem sou economista, apenas sociólogo, mas sempre gostei de refletir historicamente sobre as frustrações de nosso desenvolvimento econômico e social. Estas são muitas e evidentes, pois do contrário já seríamos uma nação materialmente mais avançada, com menor grau de iniquidades sociais do que o cenário que pode ser constatado por uma análise perfunctória de nossos indicadores sociais e econômicos per capita. Como modesto aprendiz de sociologia histórica, sempre fui propenso a analisar essas insuficiências no contexto mais vasto do processo mundial de desenvolvimento econômico dos povos e nações desde o final do século XIX, ou seja, desde quando se confirmou aquela tendência que os historiadores econômicos chamam de Grande Divergência, no bojo da primeira revolução industrial. Este é o contexto básico, historicamente enquadrado, no qual se situa a emergência do Brasil, enquanto Estado independente, na conjuntura global do sistema internacional, ou seja, aquele da primeira revolução industrial iniciada na Grã-Bretanha de meados do século XVIII e já plenamente configurada como a nação mais avançada do planeta por ocasião das guerras napoleônicas.
Ora, o mundo já se encontra na quarta ou na quinta revolução industrial e caminha para um período de relativa convergência entre os diferentes grupos de países, mesmo algumas antigas colônias dos impérios europeus da era moderna. A convergência é mais evidente no caso da Ásia Pacífico do que em outros países da periferia... (...)
(...)

6. Conclusões: o que falta ao Brasil? 
Os elementos sistêmicos, ou estruturais, alinhados nesta última seção são os que faltam ao Brasil para que ele se converta em país desenvolvido, com uma diminuição sensível dos elevados níveis, altamente iníquos, de desigualdade social e de pobreza não justificadas por falta de recursos ou de um Estado funcional. Ou seja, como já disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o Brasil não é um país pobre, mas sim um país com muitos pobres. Isto é evidente tendo em conta seu nível relativamente satisfatório de industrialização, o avanço de sua agricultura, que se tornou altamente competitiva no plano mundial, e igualmente no plano de sua organização estatal, bastante moderna no contexto dos países emergentes, o que justificaria, uma etapa de prosperidade social e patamares de renda e de desenvolvimento humano relativamente satisfatórios, o que, no entanto, não se confirma na prática. Não se poderá lograr as reformas apontadas simultaneamente, sobretudo em meio à pandemia que afeta o mundo inteiro atualmente. Mas não cabe perder de vista o que é relevante para o futuro do país. Meu foco continua dando ênfase a esses objetivos estratégicos para o futuro da nação. 

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19/06/2020

Ler a íntegra neste link: 

sábado, 13 de junho de 2020

Relação de trabalhos relativos às constituições do Brasil - Paulo Roberto de Almeida

Relação de trabalhos relativos às constituições do Brasil

Paulo Roberto de Almeida
A partir das lista gerais do trabalho.
Elaborada em 13/06/2020 

Lista integral disponível neste link da plataforma Academia.edu:


3695. “Constituições Brasileiras: uma avaliação sumária”, Brasília, 12 junho 2020, 1 p. Notas para podcast com Rodrigo Marinho do Instituto Mises. Divulgada com pequena lista de trabalhos no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/06/constituicoes-brasileiras-uma.html).

3615. “Formação do constitucionalismo luso-brasileiro no contexto das revoluções ibero-americanas do início do século XIX”, Brasília, 2 abril 2020, 21 p. Colaboração a volume de José Theodoro Menck da série sobre o bicentenário da independência da Câmara dos Deputados. 

3501. “Constituição de 1988: uma utopia contra o crescimento”, Brasília, 16 agosto 2019, 14 slides. Breve apresentação sobre temas constitucionais, mas sobretudo sobre métodos de estudo e trabalho, com objetivos pragmáticos, para debate sobre a questão. Disponível em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43335000/Constituicao_de_1988_uma_utopia_contra_o_crescimento_2019_).

3414. “Roberto Campos e a utopia constitucional brasileira”, Brasília, 23 fevereiro 2019, 36 p. Texto introdutório ao livro de Paulo Roberto de Almeida (org.), Roberto Campos, A Constituição Contra o Brasil: ensaios de Roberto Campos sobre a Constituinte e a Constituição de 1988 (São Paulo: LVM, 2018, 448 p.; ISBN: 978-85-93751-39-4). Disponibilizado em Academia.edu (link: http://www.academia.edu/38422710/3414RobertoCamposUtopiaConstitucional.pdf) e anunciado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/02/roberto-campos-e-utopia-constitucional.html).

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145. “As Relações Internacionais do Brasil Numa Fase de Reordenamento Constitucional: avaliação de textos constitucionais e implicações políticas para o Itamaraty”, Brasília, 10-11 janeiro 1987, 20 p. Trabalho sobre a problemática das relações internacionais segundo a Emenda Constitucional n. 1, de 1969, o Anteprojeto Afonso Arinos e as implicações deste último para a política externa governamental, com sugestões de dispositivos alternativos. Destinado a circulação interna no Itamaraty.

138. “Relações Exteriores e Constituição”, Brasília, 8 dezembro 1986, 11 p. Artigo sobre a recuperação legislativa da fiscalização e controle da política externa do Executivo, nos EUA e no Brasil. Publicado na Revista Brasileira de Política Internacional (Rio de Janeiro, ano XXIX, n. 115-116, 1986/2, p. 83-90), na Revista de Informação Legislativa (Brasília, ano 24, n. 94, abril-junho 1987, p. 109-120) e na revista Política e Estratégia (São Paulo, vol. V, n. 2, abril-junho 1987, p. 256-263). Relação de Trabalhos Publicados n. 029, 037 e 039.

123. “Uma Interpretação Econômica da Constituição Brasileira: A Experiência de 1946 e Perspectivas para 1987”, Brasília, 15-20 junho 1986, 25 p. Artigo sobre a representação dos interesses sociais no processo constitucional brasileiro. Elaborado originalmente como ensaio de histórica intelectual reconhecidamente inspirado no livro do historiador “marxista” norte-americano Charles Beard, An Economic Interpretation of the Constitution (1913), foi publicado, em sua versão original, na publicação quadrimestral da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados, Revista da Fundação SEADE, São Paulo em Perspectiva (São Paulo: vol. 2, n. 2-3, maio-dezembro 1986, p. 53-64). Reformulado parcialmente em setembro 1986. Publicado, sem o novo subtítulo “A Representação dos Interesses Sociais em 1946 e 1986”, na revista editada pela Universidade de Brasília, Humanidades (Brasília: Ano III, n. 11, novembro 1986-janeiro 1987, p. 18-26). Publicado, com algumas correções de texto, na revista editada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ciência e Cultura (São Paulo: vol. 39, n. 1, janeiro 1987, p. 34-46). Relação de Trabalhos Publicados n. 026, 032 e 034.


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 13/06/2020
Lista integral disponível neste link da plataforma Academia.edu:

quinta-feira, 11 de junho de 2020

O Itamaraty num labirinto de sombras - Kindle book, Paulo Roberto de Almeida



Índice

Prólogo 

1. A política externa e a diplomacia em tempos de revolução cultural  
2. De uma diplomacia a outra no Itamaraty: conceitos e práticas 
3. A destruição da inteligência no Itamaraty 
4. A ideologia da diplomacia brasileira  
5. Os desastres da política externa do olavo-bolsonarismo   
6. Questões de diplomacia e de política externa do Brasil 
7. Desafios da diplomacia no Brasil, do lulopetismo ao bolsonarismo 
8. O espectro do globalismo: a emergência da irracionalidade oficial 
9. Manifesto Globalista  
10. Um ornitorrinco no Itamaraty   
11. O Itamaraty e a diplomacia brasileira em debate   
12. Política externa e diplomacia brasileira no século XXI  
13. A diplomacia brasileira em tempos de olavo-bolsonarismo  
14. A diplomacia brasileira na corda bamba, sem qualquer equilíbrio 
15. Pandemia global e pandemia nacional: um futuro pior que o passado 
16. A diplomacia e a negociação como fundamentos das relações internacionais 
17. Meu ‘manifesto’ diplomático: em defesa do Itamaraty 
18. O mundo pós-pandemia: contextos políticos e tendências internacionais
19. A política externa e a diplomacia brasileira em tempos de pandemia global
20. A diplomacia brasileira em uma fase de inédito declínio histórico
22. O Itamaraty no seu labirinto

Apêndices:
Uma pequena reflexão sobre o trabalho de resistência intelectual
Livros publicados pelo autor
Nota sobre o autor


Apêndice:
  
Uma pequena reflexão sobre o trabalho de resistência intelectual


A resistência puramente “literária”, conduzida solitariamente na reclusão reflexiva de uma quarentena, no isolamento de um limbo institucional, ou no contexto de uma longa travessia do deserto, pode ser a menos eficiente de todas: ela não pertence a nenhum movimento, não está ligada a nenhum partido, não tem vínculos organizacionais nem pretende ter seguidores próprios.
Ela se sustenta em si mesma, na convicção de defender uma causa legítima, a preservação das liberdades, a necessidade de pensar com sua própria cabeça, a vontade de não fazer parte de nenhum rebanho, a certeza de que não se pode jamais renunciar à reflexão independente, ao espírito crítico, à contestação eventual das idées reçues, das verdades estabelecidas.
Isolada no seu canto, ela pode ter de se instalar numa pequena fortaleza feita de cadernos e livros, de se refugiar num humilde e obscuro quilombo de resistência intelectual, tendo como “armas” unicamente a palavra e a escrita, raramente um megafone, simplesmente pequenas mensagens, em garrafas, lançadas em um mar desconhecido.
Dificilmente, essas “pílulas” de resistência obstinada alcançam repercussão. Elas se perdem, na voragem do entusiasmo pelos novos tempos, na promessa dos lendemains qui chantent, nas mentiras confortáveis que satisfazem os ingênuos e os espíritos incautos.
Mas é preciso persistir, por um simples dever de consciência, individual e, no mais das vezes, solitária, cidadã se for o caso. Não importa: o que se faz não tem intenção de criar nenhum movimento, de mobilizar nenhuma força organizada, apenas tem a pretensão de alertar os demais membros da comunidade, a partir do conhecimento do passado, de uma atenta observação do presente e de alguma percepção quanto ao que pode vir pela frente.
Tive essa percepção, precocemente, em 2003, adquiri plena certeza em 2004, e vi confirmados meus piores temores nos dois anos seguintes. Mas aí já era tarde: eu já estava no limbo. E permaneci na minha longa travessia do deserto pelos dez anos seguintes, só cercado de meus livros e cadernos, refugiado em meu quilombo de resistência intelectual, de onde eu eventualmente lançava uma garrafa ao mar.
Não foi suficiente: o problema cresceu, o câncer da inépcia e da corrupção se agigantou, e terminou por engolfar o país na Grande Destruição, a maior de toda a nossa história.
Tive novamente a mesma percepção em meados de 2018, antes mesmo que a possibilidade se confirmasse. Imaginei que o desastre pudesse ser contido em algum momento, pelo temor de um novo desastre, por alertas que pudessem ser feitos em apelo à consciência cidadã – abafada, porém, pela ignorância eleitoral –, pela ilusão de que, uma vez consumada a escolha, as necessidades práticas da administração corrigissem as piores perspectivas de gestão.
Não foi suficiente: adquiri a certeza de estávamos embarcando numa viagem para o desconhecido logo nos dois primeiros dias da nova aventura, e obtive todas as confirmações nas semanas seguintes. Desde então, as etapas e sinais construtores da nova caminhada ao precipício foram se acumulando.
Fui levado novamente ao ostracismo, ao que eu chamo de limbo de resistência intelectual, e iniciei nova jornada de uma penosa viagem pelo deserto de minha solidão, cujo percurso e duração são ainda indeterminados. Não importa, eu me disse: persistirei, como da outra vez, embora não deseje um novo desastre para a comunidade.
Recém adquiri a percepção de que essa é uma possibilidade real, um novo mergulho no desconhecido, tantas são as paixões desatadas. De novo sinto necessidade de lançar novas garrafas ao mar. Assim faço, assim farei...
O desastre agora pode ser inclusive maior, por externalidades que nada têm a ver com as inconsistências da dinâmica interna, própria à inépcia e à corrupção embutidas no pacote adquirido lá atrás.
Como disse, não tenho movimento, nem partido, nem seguidores. Apenas minha liberdade, minha consciência, minha pluma, de vez em quando a palavra, quase inaudível.
Não importa!
Persistirei...


Brasília, 27 de abril de 2020

Disponível no formato Kindle, neste link.