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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Como se livrar da corrupção: não vai ser fácil - Fernão Lara Mesquita

O artigo está no blog Vespeiro desde o dia 11/02/2020, e foi publicado no Estadão, o velho jornal reacionário daquela família paulista à qual pertence seu autor.
Fernão Lara Mesquita pertence àquela famosa família do jornal conservador paulista, mas eu o considero um rebelde, no limite do anarquismo. Ele fala aqui sobre como os EUA começaram a se livrar da corrupção institucionalizada nos meios políticos e empresariais. 
Acho que no Brasil vai demorar mais tempo e ser mais difícil, pela falta daquelas virtudes cívicas que se encontram num país que se caracteriza pela "Grass-roots Democracy", quando aqui no Brasil vivemos sob o patrimonialismo desde o Descobrimento. 
Recomendo uma visita ao seu blog: Vespeiro.

Paulo Roberto de Almeida

Como foi que eles conseguiram


11 de fevereiro de 2020 § 29 Comentários

Fernão Lara Mesquita, jornalista
O Vespeiro, 11/02/2020
O Estado de S. Paulo, 12/02/2020
Artigo para O Estado de S. Paulo de 11/2/2020
Todo mundo pergunta como foi que, partindo de uma situação em que tudo estava dominado” pela corrupção, os americanos conseguiram virar o jogo.
Movimento Progressista” foi uma resposta aos problemas que se tornaram agudos depois da Guerra Civil (1861-1865) que em tudo fazem lembrar os do Brasil de hoje: urbanização desordenada com multiplicação de cortiços, favelas e violência urbana; exploração vil do trabalho; usurpação dos governos das cidades por máquinas políticas corruptas altamente profissionalizadas financiadas por empresários de araque; corrida às fusões e consolidações de empresas de setores inteiros da economia concentrando a riqueza e criando grupos gigantes com poder de corrupção ilimitado (os famigerados robber barons)…
Embora todos tivessem as mesmas queixas, até meados da década de 1890 dezenas de grupos reformistas ou de protesto separados por antagonismos em torno de minucias programáticas e vaidades imensas batiam cabeças em cidades e estados diferentes sem força para mudar nada.
Quatro fatores, principalmente, concorreram para que somassem forças a partir da crise que levou ao pânico financeiro de 1893. A ação de todas as igrejas na crítica do estado de coisas e na pregação do social gospel que associava a salvação individual também à “salvação social” preparou o terreno. Mas foi a fundação da National Municipal League (NML), em 1894, amplamente financiada pelo empresariado que perdia com a corrupção, que profissionalizou a critica do sistema e a busca de alternativas pesquisando sistematicamente ao redor do mundo bons modelos de gestão das cidades, formando pessoal, prestando assessoria jurídica e legislativa e, principalmente, difundindo para o grande público as alternativas encontradas, municiando de argumentos e estruturando em rede” os movimentos reformistas do país inteiro
Também foi crucial o início de uma revolução no jornalismo americano que evoluiu do sensacionalismo e do panfletarismo partidário para o jornalismo investigativo dos repórteres revolvedores da sujeira” (muckrakers) da revista de Samuel McClure que circulou entre 1893 e 1929 e expôs os intestinos da corrupção dos robber barons dos setores de petróleo, financeiro, do aço e outros, que constituíram monopólios maquiavélicos mancomunados com os donos das ferrovias e com políticos corruptos. Foram esses jornalistas, também, que pesquisaram e difundiram persistentemente nos EUA novos métodos de combate à corrupção, especialmente as ferramentas de democracia direta usadas na Suíça.
Os muckrakers e a NML deram a contribuição decisiva para a mobilização da opinião pública numa direção consistente apoiada numa espinha dorsal de sólido conhecimento.
O elemento sorte entrou, então, decisivamente em cena pela mão de Theodore Roosevelt. Vindo de fora dos currais tradicionais da política, ele foi o primeiro político do Ocidente a compreender a força do novo jornalismo nascente. Jogando fechado” com os grandes repórteres daquela geração, começou como chefe de polícia de Nova York, foi eleito na sequência governador do estado, e logo tornou-se herói nacional ao enfrentar a máfia que dominava a política local havia décadas e controlava nacionalmente o Partido Republicano. Traído, foi esterilizado” numa candidatura à vice-presidência num golpe dos velhos caciques corruptos dentro da convenção republicana. Mas com o assassinato do presidente McKinley antes da posse TR”, aos 42 anos, carismático e orador brilhante, tornou-se, em 1901, o 26o e mais moço de todos os presidentes dos Estados Unidos, servindo até 1909.
Sua primeira providência foi reviver o Sherman Antitrust Act de 1890, engavetado pelos antecessores, regulamentar a operação das ferrovias e instituir a preservação de um grau mínimo de concorrência em cada setor em benefício do consumidor como limite legal da disputa por mercados. Ao mesmo tempo atacou forte as bases do caciquismo” que viciava a política implantando eleições primárias diretas, eleição direta de senadores (antes indicados pelos legislativos estaduais) e os direitos de recall, iniciativa e referendo popular dos atos dos Legislativos e Executivos estaduais e municipais. Essas medidas vieram de encontro aos novos modelos de gestão das cidades a partir de eleições municipais despartidarizadas promovidos pela NML, o de City Council (um conselho eleito de 5 a 7 membros executando todas as funções antes prerrogativas de prefeitos e vereadores) e o de City Manager (uma variação do mesmo sistema mas ainda mais profissionalizado) e acabaram com o poder dos velhos caciques.
TR picou” o poder econômico onde estava excessivamente concentrado e, na política, deu poder de polícia aos eleitores contra os representantes eleitos o que matou o varejo da corrupção e garantiu a constante renovação de quadrosDesde então os EUA vivem em reforma permanente mas com o povo e não os políticos dirigindo a pauta, o que explica toda a diferença de desenvolvimento, afluência e liberdade entre eles e o resto do mundo.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

As excelentes relações da Bolsodiplomacia com Trump facilitam deportações de brasileiros

Deportados: Brasileiros desembarcam em MG sem saber como voltar

A irmã de Fiama Inácio, 27, de Goiânia, conseguiu entrar e ficar nos EUA assim, mesmo depois de ser pega irregularmente na fronteira

Brasil Ao Minuto, Folha Press, 8/02/2020
Deportados: Brasileiros desembarcam em MG sem saber como voltar
CONFINS, MG (FOLHAPRESS) - O avião que trouxe mais uma leva de brasileiros deportados dos Estados Unidos pousou no Aeroporto Internacional de Confins (a 37 quilômetros de Belo Horizonte) às 23h40 desta sexta-feira (7).
A chegada ocorreu após quase um dia de viagem desde que Cleony Dias Lagasso, 25, deixou o local onde ficou detido com a mulher e a filha de três anos por 18 dias, no estado do Texas, na fronteira com o México.
A família desembarcou no Brasil a 3.223 quilômetros de distância de sua casa, que fica em União Bandeirantes, um distrito de Porto Velho (RO) sem dinheiro e sem nenhuma assistência à espera.
"A gente não sabe [o que vai fazer agora]. Estamos tentando entrar em contato com a família. Pensamos que, chegando aqui, o governo tomaria uma atitude", diz ele.
Inicialmente, o Itamaraty havia informado que 130 brasileiros estariam no voo que chegou a Confins. No aeroporto, porém, o número de pessoas que deixou a área de desembarque parecia menor. Até a publicação desta reportagem, nem a Polícia Federal nem o Itamaraty responderam qual seria o número final.
Depois do desembarque de um grupo de americanos, com bagagens -seguranças, segundo um funcionário do aeroporto que não quis se identificar- os brasileiros vieram, carregando apenas sacos plásticos onde se viam passaportes, celulares, fones de ouvido.
Os brasileiros ouvidos pela reportagem disseram que não foram algemados em nenhum momento. Segundo eles, as únicas pessoas com algemas no voo desceram em uma parada no Equador. Em janeiro, outro voo vindo dos EUA chegou a Minas Gerais com brasileiros deportados que relataram terem sido algemados pelos pés e pelas mãos.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criticou o uso das algemas, mas depois recuou, dizendo que não pediria a Trump para mudar o tratamento dado aos imigrantes.
Não havia representantes do governo a bordo. Alguns deportados contam que foram levados ao consulado brasileiro enquanto estavam detidos. Outros, que ouviram falar na detenção que havia representantes do governo brasileiro no local.
O voo fretado desta sexta é o terceiro a trazer deportados da fronteira norte-americana desde outubro do ano passado. Pagos pelo governo dos EUA, eles precisam ser autorizados pelo governo brasileiro.
Deportada com a filha de 14 anos e o marido, o plano de Edja Jesus, 48, era comprar passagens em um voo para Salvador o mais breve possível -a família vive em Lauro de Freitas (a 28 km da capital baiana)."Oito dias sem tomar banho, oito dias sem escovar os dentes. Meu marido desmaiou de fome e eles não ajudaram. Quem ajudou fomos nós mesmos", conta ela. "Fomos muito maltratados."
Erivaldo Gomes, 62, marido dela, diz que teve queda de pressão pela alimentação fraca, quase sempre fria e que muitas vezes vinha azeda. A descrição do burrito servido, prato típico mexicano, é a mesma que a reportagem ouviu de outros brasileiros deportados em outubro.
"Só a forma como eles tratam as pessoas já é uma agressividade descompensada. Eu não sofri agressão física, mas sei de pessoas que sofreram. Ser puxado pelo cabelo, ser jogado em cela", diz.
Grávida de cinco meses, Emily da Silva, 20, que tentou entrar nos EUA com o marido e a filha de um ano, conta que um dia passou tanta fome que o bebê parou de se mexer na barriga.
O número de brasileiros detidos na fronteira EUA-México aumentou dez vezes entre outubro de 2018 e setembro de 2019, segundo o Serviço de Alfândega e Proteção das Fronteiras (CBP, na sigla em inglês).A política austera da gestão de Donald Trump contra imigrantes em situação irregular e a dificuldade de emitir vistos a pessoas nascidas no Brasil podem ter ajudado na escalada, de acordo com integrantes do Itamaraty ouvidos em dezembro.
O governo Trump solicitou formalmente ao de Jair Bolsonaro (sem partido) a autorização para fretar mais voos com o objetivo de deportar brasileiros em situação irregular de imigração. A prática não era comum entre os países. O Itamaraty diz que havia registro de outro voo em 2017.
Segundo a Policia Federal em Minas Gerais, voos com deportados podem se tornar mais frequentes. A polícia disse ainda que segue investigando casos suspeitos, mas sem falar em detalhes.Apesar de haver moradores de outros estados, a maioria do grupo que chegou a Confins nesta sexta era de Minas Gerais.
Pâmela Cristina, 21, de Governador Valadares, conta que viu um guarda empurrando uma mulher com uma criança de colo e que era comum policiais da fronteira ficarem com o dinheiro das pessoas detidas."Tem muita gente que está aqui que não tem um centavo no bolso. A gente não imagina o quanto é sofrido. A gente entra com a mente sadia e sai com a mente doente", afirma ela.
Muitos chegaram ao Brasil usando as calças de moletom cinzas e camisetas azuis que eram distribuídas como uniforme. Outros ainda tinham no pulso as pulseiras colocadas na detenção para controle -uma com um número de identificação, outra com a temperatura da pessoa.Quem estava de tênis e botas chegou sem os cadarços, tirados pelos agentes da imigração. Algumas pessoas ainda calçavam o sapato de borracha laranja neon e outros as sapatilhas distribuídas na detenção.
Os brasileiros contaram que foram oferecidas duas opções: assinar a deportação e voltar ao país ou encontrar um advogado e tentar falar com um juiz para explicar o porquê de quererem ficar no país.Era comum que brasileiros tentassem ficar assim nos EUA, entrando irregularmente e respondendo ao processo em liberdade, no que é conhecido como cai-cai, enquanto trabalhavam."Mas você não consegue advogado e o caso segue correndo. A polícia de lá não deixa fazer ligações, mesmo que seja um direito. Então, nem quis tentar", conta Cleony.
A irmã de Fiama Inácio, 27, de Goiânia, conseguiu entrar e ficar nos EUA assim, mesmo depois de ser pega irregularmente na fronteira, na metade do ano passado. Por isso, Fiama resolveu arriscar, com o marido e o filho de seis anos. "Eles tratam a gente como se a gente fosse delinquente. Sei que a gente é ilegal, mas a gente tenta visto e não dão."

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

EUA continuam a ver a China como adversária - Council on Foreign Relations

Um grande império, dubitativo sobre seus próprios valores e princípios, se interroga sobre o que fazer em face de um outro grande império que pretende construir um futuro brilhante para o seu povo, sem necessariamente exportar o seu modelo político como o melhor para o mundo.
Paulo Roberto de Almeida

Grand strategy toward China needs ‘coalition of the democratic willing’

Democracy Digest, January 16, 2020

If it is not to lose its strategic struggle with China in Asia and globally, the United States needs to present an alternative model to Beijing’s authoritarian archetype, says a new report. That requires an integrated grand strategy that competes with the PRC across many integrated domains—diplomacy, the global economy, defense, digital technology/artificial intelligence (AI), the cyber sphere, public information, and ideology, writes Robert D. Blackwill, Henry A. Kissinger Senior Fellow for U.S. Foreign Policy at the Council on Foreign Relations.
“China wants to replace the United States as the strongest and most influential power in Asia and beyond,” he warns. “Washington should launch an all-out effort to limit the dangers that Beijing’s economic, diplomatic, technological, and military expansion pose to U.S. interests in Asia and globally,” Blackwillwrites in Implementing Grand Strategy Toward China: Twenty-Two U.S. Policy Prescriptions.
The United States should marshal its diplomacy with nations within the region, as well as those outside it (e.g., European countries that favor rules-based approaches—although this will require awakening Europe from its strategic stupor), in order to strengthen international organizations to make progress on climate, free trade, international security, and freedom of navigation. This coalition of the democratic willing, this “global commonwealth,” as President George H.W. Bush called it, should be launched at the heads-of-government
level in Washington, Blackwill adds:
The United States should also protect the integrity of its democratic institutions, both for the good of the nation and to offer a powerful alternative model to China’s authoritarian archetype. China’s meteoric rise, coupled with its present economic and military strength, makes the “China model” a beguiling path for some developing countries. While the United States is right to invest increased time and money to actively challenge China, liberal democratic values will be less attractive overseas if the United States cannot successfully manage its own affairs. RTWT

China is trying to shape the global narrative about its actions at home and abroad, Freedom House said in a report published Wednesday, writes Anna Fifield, The Washington Post’s Beijing bureau chief.
Not content with pervasive censorship and state control of almost all media at home, the ruling Communist Party under strongman President Xi Jinping has dramatically stepped up its efforts to disseminate its version of events….Freedom House is among the American human rights organizations penalized by China in retaliation for the United States’ support for protesters in Hong Kong. Others include the National Endowment for Democracy and Human Rights Watch.

“China is trying to promote itself as an international model,” said Sarah Cook, senior research analyst for China at Freedom House and the author of the report, “Beijing’s Global Megaphone.”

A paranoia intelectual anti-China apresentou respostas acadêmicas: Belfer Center

Uma das coisas que mais me chocou nos últimos dois anos foi o crescimento da paranoia anti-China mesmo nos meios mais esclarecidos dos EUA, supostamente o establishment acadêmico das grandes universidades. 
O Belfer Center da Harvard até organizou uma espécie de concurso para que os candidatos respondessem com trabalhos propondo as melhores estratégias para que os EUA respondessem ao "desafio da China", o me parece de uma loucura completa.
Enfim, os resultados foram apresentados e figuram em outra postagem neste blog: 
China challenge to the US: Belfer Center prized papers
Paulo Roberto de Almeida


Graham Allison <GTA@belfercenter.hks.harvard.edu> 
China Challenge Contest Win
Belfer Center, January 16, 2020

Since sending Destined for War: Can America and China Escape Thucydides’s Trap? to the publisher three years ago, I have been searching for ways to escape the dangerous dynamic that could lead Washington and Beijing to stumble into a catastrophic conflict neither side wants. At this point, I’ve identified nine potential “avenues of escape”—none yet so compelling that I’m ready to fully embrace it. About one thing, however, I am certain: there is no monopoly of strategic wisdom on this issue in Washington or in Beijing—or especially Cambridge!
So the research team suggested that we invite whomever had a good idea to contribute it. To do this, the Belfer Center created a contest. Using an assignment I give my students at Harvard Kennedy School challenging them to craft a grand strategy to meet the China challenge, we invited answers. (For details about the contest, click here). We received dozens of valuable submissions from across the world.
The winner of the competition was Robin Nataf, and we awarded three honorable mentions to Kazumi Hoshino-MacDonaldPatrick Kolesiak, and Jessica Robyn Jordan.
Each of their strategic options memos offer clues policymakers in Washington may find useful. I invite you to read the winning submissions here.
Graham Allison
Douglas Dillon Professor of Government, Harvard Kennedy School
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sábado, 11 de janeiro de 2020

O Brasil e o conflito Irã-EUA - Entrevista com o Prof. Mauricio Santoro (UERJ)

Como o governo Bolsonaro reage à crise entre EUA e Irã
Estêvão Bertoni
Nexo Jornal, 07 de jan de 2020(atualizado 08/01/2020 às 15h43)

O professor da Uerj Maurício Santoro fala ao ‘Nexo’ sobre os possíveis efeitos que o alinhamento brasileiro ao governo americano pode ter nas relações do Brasil com países do Oriente Médio
Foto: Alan Santos - 18.mar.2019/Presidência da República 
O presidente Jair Bolsonaro, o chanceler Ernesto Araújo e o deputado Eduardo Bolsonaro (ao fundo) durante evento nos Estados UnidosO presidente Jair Bolsonaro, o chanceler Ernesto Araújo e o deputado Eduardo Bolsonaro (ao fundo) durante evento nos Estados Unidos
O governo do Irã pediu explicações ao Brasil sobre a nota divulgada pelo Itamaraty em apoio à operação dos Estados Unidos no Iraque que resultou no assassinato do general Qassim Suleimani, principal liderança militar iraniana. O pedido ocorreu no domingo (5), dois dias depois da divulgação da posição do governo brasileiro sobre o caso.
O general foi morto na madrugada de sexta-feira (3) após o carro em que estava ser atingido por um míssil disparado por um drone americano, perto do aeroporto internacional de Bagdá, no Iraque. A ação foi autorizada pelo presidente Donald Trump, que acusou Suleimani de planejar atentados a diplomatas e funcionários americanos na região. 
Logo após a morte do general, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, pediu vingança. Na noite de terça-feira (7), o país atacou com mísseis pelo menos duas bases aéreas que abrigavam tropas americanas no Iraque, em retaliação à ação dos EUA.
No domingo (5), Trump havia dito que responderia “de maneira desproporcional” a qualquer ação iraniana contra americanos no exterior. Em discurso nesta quarta (8), o presidente americano afirmou que a ofensiva do Irã contra as bases não deixou mortos e, adotando um tom mais brando, não falou em em retaliação militar. Em suas redes sociais, Bolsonaro gravou uma live acompanhando o pronunciamento.
A morte do general causou comoção no país persa e levou centenas de milhares de pessoas às ruas durante seu cortejo fúnebre. Um tumulto durante o funeral do militar, na cidade de Kerman, sua terra natal, deixou mais de 50 mortos e cerca de 200 feridos na terça-feira (7).
O pedido de explicações
O questionamento sobre a nota foi feito a representantes brasileiros em Teerã, capital do Irã. Encarregada de negócios da embaixada brasileira na cidade, Maria Cristina Lopes se reuniu com as autoridades iranianas no Ministério das Relações Exteriores do país para dar explicações, mas o teor da conversa não foi revelado. O embaixador do Brasil no Irã, Rodrigo Azeredo, não foi ao encontro por estar de férias. 
O Ministério das Relações Exteriores brasileiro, comandado pelo chanceler Ernesto Araújo, confirmou a reunião, mas disse que seu teor é “reservado”. Segundo o Itamaraty, a conversa transcorreu com “cordialidade”, “dentro da usual prática diplomática”. Convocações do tipo são vistas, entretanto, como reprimendas.
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, Maria Cristina Lopes foi orientada a dizer às autoridades iranianas que a nota do governo brasileiro não era uma manifestação contra o Irã e que a relação entre os dois países não poderia se reduzir ao tema abordado no comunicado.
Inicialmente, o presidente Jair Bolsonaro sinalizou que o governo poderia se manter distante do caso, mas a nota do Itamaraty criou um problema com um parceiro comercial. Em 2018, o Brasil exportou US$ 2,26 bilhões para o Irã, em produtos como milho, soja, açúcar e carne. Já as importações brasileiras de produtos semimanufaturados de ferro e aço do Irã somaram US$ 39 milhões. 
As manifestações brasileiras sobre o caso
Consulta a Heleno e preço do combustível
Numa das primeiras manifestações sobre o tema, Bolsonaro disse a jornalistas, ao deixar o Palácio do Alvorada na sexta-feira (3), que iria se encontrar com o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, para “se inteirar” sobre o caso e poder “emitir seu juízo de valor”. Também se mostrou preocupado com o aumento do preço do petróleo devido ao conflito. “Já está alto o combustível, se subir muito, complica”, afirmou.
Sem armas nucleares para poder opinar
No final da sexta-feira, Bolsonaro voltou a tratar do assunto em entrevista à TV Band e disse que precisava tomar “cuidado com as palavras”. Ele disse seguir uma linha “pacífica” e que não podia dar “opinião tranquilamente sem sofrer retaliações” porque o Brasil não tem “forças armadas nucleares”. Mesmo assim, sugeriu que a ação americana se tratava de um exemplo de combate ao terrorismo.
A nota do Itamaraty pró-EUA
Na noite de sexta-feira (3), o Itamaraty divulgou uma nota sobre os “acontecimentos no Iraque”, sem abordar especificamente o ataque dos EUA ao general iraniano. O texto usa a palavra “terrorismo” cinco vezes, sem dizer abertamente do que se tratava, o que sugeriu que Suleimani, uma alta autoridade responsável por comandar a unidade de elite da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã, seria um terrorista. Os únicos episódios que o governo brasileiro condenou no comunicado foram os ataques à embaixada dos EUA em Bagdá, dias antes. Segundo o site UOL, a nota foi duramente criticadadentro do próprio Itamaraty por colocar em risco os interesses nacionais e quebrar uma tradição diplomática de propor o diálogo.
Ordem para manter silêncio sobre o caso
Na terça-feira (7), Bolsonaro evitou falar sobre o assunto e reafirmou repudiar o terrorismo. Ele disse que vai esperar o ministro Ernesto Araújo voltar de férias para tratar do episódio em que o Irã pediu explicações. Afirmou ainda que não houve nenhuma retaliação comercial contra o Brasil e que o país continuará fazendo negócio com os iranianos. Segundo o jornal O Globo, a ordem no Planalto é não falar mais do tema. A ala militar do governo considera que o país tem que se manter distante do conflito, mesmo que concorde com os EUA.
Uma análise sobre a posição brasileira
Nexo conversou com Maurício Santoro, professor-adjunto do departamento de relações internacionais da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) para entender as consequências da posição adotada pelo governo brasileiro em relação à crise no Oriente Médio. 
Como o sr. avalia a nota do Itamaraty?
Maurício Santoro Na minha avaliação, é uma nota de apoio aos EUA e à morte do general Suleimani. Embora o texto não cite explicitamente o ataque que matou o general, toda a argumentação, toda a estrutura da nota é de apoio a essa morte, com a justificativa de que ela faz parte do combate ao terrorismo. E tem também uma condenação explícita, com todas as letras, aos protestos em Bagdá que culminaram no ataque à embaixada americana. É uma nota que, no seu tom e no seu estilo, foi mais longe do que a nota da Otan a respeito do ataque, ou a nota do Reino Unido, que são aliados tradicionalíssimos dos EUA. A Otan é uma organização militar da qual os próprios EUA são parte. É realmente algo que destoa do que é o posicionamento tradicional brasileiro nas guerras no Oriente Médio. 
Com a nota, o Brasil classifica as forças iranianas como terroristas?
Maurício Santoro Ao contrário, por exemplo, da União Europeia, ou dos EUA, o Brasil não tem, ou pelo menos não tinha até o governo Bolsonaro, uma lista de organizações ou regimes políticos considerados como terroristas. O que o Brasil fazia era condenar atos individuais de terrorismo, mas não classificar, por exemplo, o Hezbollah, como terrorista. O que o Brasil fazia era simples: fazer a crítica dos atos em si. A nota é muito abrangente, mas dá a entender, e acho que é uma interpretação legítima, de que a força Al Quds, que era a unidade comandada pelo general Suleimani, seria uma organização terrorista ou envolvida em crimes desse tipo, uma vez que o assassinato de seu comandante se justificaria como parte desse combate internacional terrorista.
O que significou o pedido do Irã de explicações ao Brasil?
Maurício Santoro Significa que o embaixador brasileiro vai ter que dizer exatamente o que essa nota significa. Com todas as letras: o que o Brasil pensa sobre o assassinato do Suleimani, qual é a posição brasileira em relação às ameaças que estão sendo feitas contra o Irã. Do ponto de vista diplomático, é um indicador muito forte de que “nós não gostamos do que vocês escreveram e me deem o detalhes disso”. Eu não acredito, a princípio, que isso resulte em nenhuma grande perda para o Brasil. O Brasil não é um ator importante dentro dessas tensões armadas que estão se desenhando no Oriente Médio. Ao mesmo tempo, é um fornecedor relevante de comida para o Irã. As exportações agrícolas brasileiras, e a carne, são importantes para o Irã. Não acredito que o Irã vá correr algum risco em relação a esse comércio por causa da retórica exacerbada do Brasil. Mas é uma coisa que traz uma tensão desnecessária para a diplomacia brasileira, que traz um problema onde antes não existia nenhum. O que realmente destoa do que tradicionalmente é a política externa brasileira para o Irã ou para o Oriente Médio em geral. 
O caso pode aumentar a tensão entre as alas militares e ideológica dentro do governo brasileiro?
Maurício Santoro Certamente. Eu diria que, na verdade, há uma tensão entre os militares e o agronegócio, pressionando por uma posição mais moderada por parte do Brasil, e essa ala que envolve o chanceler Araújo, o [deputado] Eduardo Bolsonaro, a família do presidente de uma maneira geral. E a gente vê essa queda de braço dentro do próprio governo nas manifestações contraditórias do Brasil desde a morte do Suleimani. Por exemplo, logo no início, as primeiras falas do Bolsonaro foram indicadores de que o Brasil não ia ter uma declaração de peso, de que a gente não tem capacidade nuclear para falar disso. Depois, veio essa nota do Itamaraty. Isso mostra, também, que já há um debate acontecendo dentro do próprio governo e que pelo menos, momentaneamente, foi vencido por esse lado mais radical que está enxergando nessa crise do Oriente Médio uma oportunidade de o Brasil afirmar uma vez mais a busca dessa relação preferencial com os EUA. Foi uma busca que, diga-se de passagem, ao longo de 2019 não resultou em benefícios econômicos para o país. Pelo contrário. Houve uma série de disputas: aquele anúncio do Trump de querer aumentar a tarifa para o aço brasileiro, depois o Bolsonaro disse que o Trump tinha voltado atrás, mas o Trump até agora não confirmou nada disso. Foi uma diplomacia que não apresentou os resultados esperados pela ala ideológica do governo no primeiro ano. Num certo sentido, é uma diplomacia que está na berlinda, sob questionamento.
Que impacto pode ter no Oriente Médio esse alinhamento aos EUA?
Maurício Santoro No longo prazo, pode ser que aponte para uma diplomacia brasileira mais complicada no Oriente Médio. Não foi o que aconteceu no primeiro ano do governo Bolsonaro. O que a gente viu, passado aquele primeiro momento de uma retórica de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel, o que houve foi a manutenção das posições tradicionais do Brasil, sobretudo por causa da pressão do agronegócio. Tanto o Irã quanto os países árabes são parceiros econômicos importantes para o Brasil, que tem superávits bilionários no comércio com esses países. Se a gente estiver diante de uma crise prolongada no Oriente Médio, que degenere para uma nova guerra na região, é possível que isso perturbe esse tenso equilíbrio do primeiro ano do governo Bolsonaro e que leve a uma diplomacia mais ideológica para o Oriente Médio, nessa busca de afirmar essa relação especial com os EUA. 
A preocupação é estritamente comercial?
Maurício Santoro Até houve no governo Lula uma tentativa de ter uma posição política mais forte no Oriente Médio, aquele esforço do Brasil e da Turquia de mediar um acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano, mas essa tentativa acabou abandonada depois que houve uma rejeição muito grande das grandes potências a isso, e ela não foi retomada nem no governo Dilma nem nos governos posteriores. Basicamente o que tem sido a política externa brasileira para o Oriente Médio, ao longo do últimos dez anos, é basicamente a busca de mercados, a ampliação dessa oportunidade para o agronegócio, sem que haja um grande envolvimento do Brasil em negociações políticas na região.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Efeitos indesejáveis da Trumpdiplomacy: renuclearização do Irã

É o que dá pretender comandar o país e a política externa de uma grande nação como os EUA a partir de concepções tão primárias quanto as do presidente Trump e sua Twitterdiplomacy: sempre deu errado e continua dando errado, da pior forma possível.
Trump, e certos outros "líderes" políticos por aí, é um exemplo clássico da Lei de Murphy: o que pode dar errado, dará, da pior forma possível.
Agora, abre-se um novo capítulo no campo da proliferação nuclear, com consequências devastadoras para a paz no mundo, a partir de outros aspirantes à arma máxima da dissuasão estratégica.
Paulo Roberto de Almeida


Iran Challenges Trump, Announcing End of Nuclear Restrictions
President Trump thought the nuclear deal was flawed because restrictions on Iran would end after 15 years. Now, responding to a U.S. strike, Iran has declared the limits over after less than five.
David E. Sanger and William J. Broad
The New York Times – 6/01/2020

When President Trump withdrew the United States from the Iran nuclear deal in May 2018, he justified his unilateral action by saying the accord was flawed, in part because the major restrictions on Iran ended after 15 years, when Tehran would be free to produce as much nuclear fuel as it wanted.
But now, instead of buckling to American pressure, Iran declared on Sunday that those restrictions are over — a decade ahead of schedule. Mr. Trump’s gambit has effectively backfired.
Iran’s announcement essentially sounded the death knell of the 2015 nuclear agreement. And it largely re-creates conditions that led Israel and the United States to consider destroying Iran’s facilities a decade ago, again bringing them closer to the potential of open conflict with Tehran that was avoided by the accord.
Iran did stop short of abandoning the entire deal on Sunday, formally known as the Joint Comprehensive Plan of Action, and its foreign minister held open the possibility that his nation would return to its provisions in the future — if Mr. Trump reversed course and lifted the sanctions he has imposed since withdrawing from the accord.
That, at least, appeared to hold open the possibility of a diplomatic off-ramp to the major escalation in hostilities since the United States killed Maj. Gen. Qassim Suleimani, the second most powerful official in Iran and head of the Quds Force.
But some leading experts declared that the effort to contain Iran’s nuclear ambitions through diplomacy was over. “It’s finished,” David Albright, the president of the Institute for Science and International Security, a private group in Washington that tracks nuclear proliferation, said in an interview. “If there’s no limitation on production, then there is no deal.”
To some of the Iran deal’s most vociferous critics, the announcement was a welcome development. Among them was John R. Bolton, the former national security adviser who was ousted by Mr. Trump last summer because, the president said, he was concerned Mr. Bolton was forcing him into conflict with Iran.
“Another good day,” Mr. Bolton wrote on Twitter. “Iran rips the mask off the idea it ever fully complied with the nuclear deal, or that it made a strategic decision to forswear nuclear weapons. Now, it’s on to the real job: effectively preventing the ayatollahs from getting such a capability.”
But to much of the world — especially the Europeans, Russians and Chinese, who were partners in the nuclear deal — Mr. Trump’s decision to back out of the accord led to the crisis.
The president’s unilateral action started a sequence of events — the re-imposition of American sanctions, Iran’s gradual return to nuclear activity over the past year, actions that led to the targeting of General Suleimani — that could be speeding the two countries toward conflict.
Iran’s announcement means that it will no longer observe any limits on the number of centrifuges it can install to enrich uranium or the level to which it enriches it.
Iran did not say if it would resume production at 20 percent, a major leap toward bomb-grade uranium, or beyond. But by allowing inspectors to remain in the country, as the foreign minister, Mohammad Javad Zarif, said Tehran would, Iran will have witnesses to its own “maximum pressure” campaign against the West.
The primary American objective in the 2015 agreement was to keep Iran at least a year away from getting enough fuel to fashion a warhead.
Even before Sunday’s announcement, a series of steps by Tehran discarding elements of the agreement had reduced that warning time to a matter of months. The risk now is that uncertainties about how close the Iranians are to their first weapon will grow, and perhaps become fodder for calls in the United States and Israel to take military action.
In essence, Iran is saying it now can produce whatever kind of nuclear fuel it wants, including bomb-grade material.
Now, the United States and Israel must confront the big question: Will they take military or cyberwarfare action to try to cripple those production facilities?
More than a decade ago the United States and Israel cooperated on a mission code-named Olympic Games, the most sophisticated cyberattack in history, to get into the computer code driving the centrifuges at the Natanz nuclear enrichment site and make them blow up.
The Iranians recovered, and rebuilt the facility, tripling the number of centrifuges that existed before the cyberattack and opening a new centrifuge center deep in a mountain called Fordow, which is far harder to bomb. Israel repeatedly considered bombing the facilities, but was stopped by the United States and internal warnings about starting a war.
Now, after the killing of General Suleimani, those restraints could evaporate.
The nuclear deal also laid out unusually stringent scrutiny for all of Iran’s main nuclear facilities — “including daily access” if international atomic inspectors requested it.
Sunday’s announcement left unclear whether Tehran intends to obey that heightened scrutiny or will lower its adherence to the standard level. In a Twitter post, Mr. Zarif, the foreign minister, said “Iran’s full cooperation” with the inspectors of the International Atomic Energy Agency “will continue.”
Mr. Albright of the Institute for Science and International Security said that reduced visibility into the Iranian nuclear program could end up increasing fears of worst-case scenarios — and, perhaps, miscalculations — related to military strikes and war.
“They were added to gain comfort,” Mr. Albright said of the strengthened inspections. “Having daily access reduced suspicions and the chance of conspiracy theories taking root.”
For example, Mr. Albright said, new ambiguity could darken views in the West on how long it would take Iran to make enough fuel for a single atomic bomb — what nuclear experts call “breakout.” Such estimates are based on the number and efficiency of the whirling machines that concentrate a rare isotope of uranium to levels high enough to make weapon fuel.
The Iran deal was designed to keep Tehran a year or more away from getting enough highly enriched uranium to fashion a single warhead — what international inspectors call “a significant quantity.”
Mr. Albright said his group’s worst-case estimate for an Iranian breakout is four to five months. But some experts, he added, have estimated as little as two months.
He noted that the international inspectors still would have regular access to Iran’s nuclear facilities as part of the safeguard agreements of nuclear nations.
But if “the high level of transparency that the nuclear deal provided” should come to an end, Mr. Albright added, “it could undermine confidence” in the West’s assessments of Iran’s nuclear acts and intentions.

sábado, 4 de janeiro de 2020

Conflito Ira-EUA: o contexto em International Security

O Belfer Center, da Harvard University, divulga uma série de artigos sobre o contexto mais amplo da contenda entre o Irã e os EUA, ou mais especificamente entre Trump e a teocracia iraniana.

Crisis Reader: U.S. Killing of Iranian Commander Qassim Suleimani

Jan. 03, 2020

What Happened?

On January 3, 2020, an American drone strike near Baghdad airport killed Major General Qassim Suleimani, the longtime commander of the Quds Force of the Islamic Revolutionary Guard Corps. The incident followed an increasingly tense exchange of attacks between Iranian-backed Iraqi militias and the U.S. military, which included a violent demonstration by members and supporters of the former against the U.S. embassy in Baghdad. The assassination of Suleimani—a senior and prominent figure in the Iranian regime and across the region—represents a large-scale and dangerous escalation in tensions between Washington and Tehran.

Want to Dig Deeper?

The editors of International Security have selected the following articles as excellent starting points to help achieve a greater understanding of the crisis at hand:

On the origins and implications of norms against international assassination:

“Norms and Security: The Case of International Assassination”
Ward Thomas (Summer 2000)


On the historical foundations of Iran’s foreign policy and approach to nuclear weapons:

“What the Iran-Iraq War Tells Us about the Future of the Iran Nuclear Deal”
Ariane M. Tabatabai and Annie Tracy Samuel (Summer 2017)


On a hypothetical scenario of an Iranian reprisal in the Persian Gulf: 

“Closing Time: Assessing the Iranian Threat to the Strait of Hormuz”
Caitlin Talmadge (Summer 2008)


On why individual leaders choose between different intervention strategies:

“Transformative Choices: Leaders and the Origins of Intervention Strategy”
Elizabeth N. Saunders (Fall 2009)


On why foreign-imposed regime change carries substantial risks:

“You Can’t Always Get What You Want: Why Foreign-Imposed Regime Change
Seldom Improves Interstate Relations”

Alexander B. Downes and Lindsey A. O’Rourke (Fall 2016)


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