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sábado, 24 de agosto de 2019

Minha exoneração nas páginas da imprensa francesa, em março - Les Echos

Não havia visto esta matéria, agora enviada por um amigo na Europa.
Em francês minha exoneração fica mais curta: limogé.
Excelente: eu teria ficado deprimido em servir uma administração esquizofrênica.
Paulo Roberto de Almeida

Climat de chasse aux sorcières au Brésil

ON EN PARLE À SAO PAULO. Le Brésil enregistre une forte montée de l'intolérance et de la censure, deux mois après l'arrivée au pouvoir de Jaïr Bolsonaro.

Les Échos,  le 06/03/2019


Un journaliste d'opinion censuré, un diplomate limogé, une spécialiste de la sécurité publique congédiée, une économiste menacée… Le climat d'intolérance s'alourdit au Brésil, et la bataille n'a pas connu de trêve pendant le Carnaval. Bien au contraire…
Première salve : des hackers piratent le blog d'un journaliste d'opinion, Reinaldo Azevedo. A l'origine de la polémique, la permission accordée à  Lula de sortir quelques heures de sa prison afin d'assister aux obsèques de son petit-fils, âgé de sept ans, victime d'une méningite. Un dispositif prévu par la loi brésilienne, mais qui a déclenché l'ire des militants d'extrême droite.
Avec sa verve habituelle, le député et fils de l'actuel président, Eduardo Bolsonaro, tire à boulets rouges sur Lula. « Des propos à vomir », s'insurge Reinaldo Azevedo, pourtant farouche adversaire de Lula dans le passé. Mais très vite, son blog est attaqué et censuré. « En près de quatorze ans du PT [Parti des travailleurs, de Lula] au pouvoir, on n'a jamais vu ça. Et nous ne sommes qu'au troisième mois du gouvernement Bolsonaro », s'indigne l'éditorialiste, notamment pour « Folha de S.Paulo », pourtant très marqué à droite.
Deuxième salve : Sérgio Moro, ministre de la Justice et de la Sécurité publique, retire une invitation qu'il avait adressée à une spécialiste des questions de sécurité, Ilona Szabó, pour intégrer un conseil de politique criminelle. Motif : la pression de l'extrême droite sur les réseaux sociaux, et leur influence sur le président Jair Bolsonaro lui-même. Sergio Moro ira jusqu'à présenter des excuses publiques à Ilona Szabó, qui déplorera, de son côté, « la victoire de la polarisation et la défaite du pluralisme ».

Un diplomate démis de ses fonctions

C'est un diplomate de carrière qui a fait les frais de la troisième salve. Sur fond de chasse aux sorcières, l'ambassadeur Paulo Roberto de Almeida a été démis de ses fonctions de directeur de l'Institut de recherche des relations internationales (IPRI). Son crime ? Avoir reproduit sur son blog des articles qui ont déplu au chef, le nouveau ministre des Affaires étrangères, Ernesto Araújo.
« La répression existe, et frappe ceux qui pensent autrement », affirme Monica de Bolle.  Cette économiste brésilienne, qui dirige le centre d'études latino-américaines à l'Institut John Hopkins de Washington, a elle-même été la cible de nombreuses menaces sur Twitter. Elle dit avoir identifié une partie de ses agresseurs, issus des milieux financiers de São Paulo. Et pour Monica de Bolle comme pour Reinaldo Azevedo, le plus inquiétant est le climat d'impunité qui règne au Brésil.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Jamil Chade: Amazonia queimando é o maior revés diplomático do Brasil em 50 anos

Amazônia vira maior revés da imagem do Brasil em 50 anos, dizem diplomatas
Jamil Chade, UOL, 23/08/2019

Com protestos previstos para está sexta-feira pelo mundo, Itamaraty confirma que embaixadas brasileiras já reforçaram sua segurança. Ao colocar Amazônia no G7, Macron alerta que não vai dar seu apoio ao acordo Mercosul-UE e manda mensagem de que Bolsonaro não tem capacidade de lidar, sozinho, com a crise. "Jamais tivemos nos últimos 50 anos um desastre de imagem tão catastrófico e irreparável como esse", afirmou ex-ministro Rubens Ricupero.

GENEBRA – A fumaça das queimadas na Amazônia já sufocou o governo Jair Bolsonaro, pelo menos em sua imagem no exterior. No plano internacional, observadores apontam que a crise já poderia ser considerada como o maior revés do Brasil no cenário externo em meio século. Em apenas sete dias, mais de 10 milhões de tuítes foram publicados sobre a crise no país.
O acordo comercial entre Mercosul e UE também está ameaçado, depois que França e Irlanda anunciaram nesta sexta-feira que vão se opor ao tratado diante da postura brasileira no clima. Até mesmo um pedido de sanções contra o País foi lançado no Reino Unido, enquanto se proliferam pedidos da sociedade civil para que governos se distanciem de Bolsonaro.
Emmanuel Macron, que recebe os líderes do G-7 neste fim de semana, decidiu colocar a Amazônia em sua agenda e chamou o tema de "crise internacional". No fundo, a manobra é vista como tendo o potencial de criar uma pressão internacional sobre o Brasil em termos ambientais.
O UOL apurou que a França, antes de fazer a sugestão, já havia estabelecido um entendimento de que teria o apoio da Alemanha e da chanceler Angela Merkel, ridicularizada por Bolsonaro. A alemã suspendeu sua colaboração para o Fundo Amazônia e, como resposta, recebeu do presidente brasileiro a sugestão de usar o dinheiro para reflorestar a Alemanha.
O cenário desenhado é de que, ao tratar da crise, Macron estipule que Bolsonaro, sozinho, não tem como lidar com a situação da Amazônia.
Nesta sexta-feira, Merkel já saiu em apoio à proposta francesa e declarou a situação no Brasil como sendo uma "emergência aguda".
Em Bruxelas, a Comissão Europeia afirmou estar "profundamente preocupada" com a situação e disse que está disposta a ajudar o Brasil. A UE ainda apoiou a ideia de Macron de tratar da crise durante a reunião do G7.
Em Dublin e Paris, os governos já deixam claro que poderão simplesmente vetar o acordo com o Mercosul, assinado há poucas semanas, abrindo uma crise na relação entre a Europa e o Brasil.
Macron ganhou ainda o sinal verde de Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá e que também estará no G7.
Além da pressão, os governos poderiam lançar um apelo para que o Brasil se comprometa a retomar iniciativas como o Fundo Amazônia ou simplesmente aceitar recursos estrangeiros. Em qualquer um dos casos, isso significaria um monitoramento estrangeiro do que ocorre no Brasil e uma tentativa de blindar o desmonte da política ambiental do País.

Brasil sem voz no G7 só contaria com Trump
Não por acaso, a iniciativa deixou parte do governo enfurecido, diante do risco de que decisões sejam tomadas no fim de semana sem sequer consultar o Brasil. Um dos negociadores que estará na reunião acredita que, ainda mais prejudicial, será o fato de o país não poder se defender diante de um grupo que conta com Macron e Merkel.
Para os funcionários da chancelaria francesa, a dúvida é se Donald Trump sairá ao resgate de seu novo aliado, Jair Bolsonaro. Entre diplomatas brasileiros, a percepção é de que, mesmo que a Casa Branca monte uma blindagem para o Brasil, ela não o fará sem um custo. "Nada é feito nos EUA sem uma contrapartida", admitiu um diplomata.
O ex-ministro do Meio Ambiente e embaixador Rubens Ricupero foi contundente. "No dia 21 de agosto, percorri todos os principais noticiários da televisão mundial: RAI 1, France 2, BBC, CNN. Todos, até na seção de previsão de tempo, dedicavam atenção principal às queimadas na Amazônia", disse à reportagem.
"Jamais tivemos nos últimos 50 anos um desastre de imagem tão catastrófico e irreparável como esse", afirmou o embaixador. "É muitas vezes pior em intensidade, horário nobre, repercussão junto a estadistas e gente do povo do que sucedeu nos piores momentos do regime militar", alertou.
Segundo Ricupero, está sendo destruído "em poucas horas um esforço que se iniciou na época de Sarney e demandou mais de 30 anos e enormes esforços e recursos".
"Houve dois momentos em que o Brasil começava a recuperar um pouco sua imagem. O primeiro foi quando Sarney ofereceu o Rio de Janeiro para sediar a maior conferência do clima de todos os tempos, a Rio 92 e Collor honrou o compromisso, um momento alto da diplomacia ambiental brasileira", argumentou.
"O segundo foi mais recente, a partir do ano em que a taxa de desmatamento principiou a cair e assim permaneceu durante alguns anos. Mesmo assim, a imagem geral, aquela que ficava lá no fundo da mente das pessoas, é que o Brasil era um país agressor do meio ambiente, uma vez que, mesmo nos bons momentos, não faltavam episódios lamentáveis de invasão de terras de índios por garimpeiros, assassinatos de líderes ambientais como o de Chico Mendes e atentados de todo tipo. Agora, o que está ocorrendo pôs tudo a perder", alertou.

"Desmantelamento"
Ele, porém, não vê uma saída clara. "A situação desta vez é mais grave. Nos governos anteriores, existia uma vontade sincera, mais ou menos eficaz de tentar controlar a destruição. Infelizmente, mesmo os ministros e governos melhor intencionados lutavam em posição desfavorável, uma vez que os empenhados na destruição -grileiros, madeireiros, garimpeiros, fazendeiros pecuaristas – se encontravam presentes em toda a região amazônica, ao contrário do governo, cuja presença era débil e precária", disse.
"Às vezes, reservas maiores que um país europeu tinham apenas dois funcionários na vigilância! Faltava tudo: aviões, helicópteros, equipamento moderno de comunicação, viaturas. O pouco que se obteve foi graças a doações como as do Fundo Amazônia, que o atual desgoverno está em vias de liquidar", afirmou.
Para Ricupero, Bolsonaro e seu "antiministro do Meio Ambiente estão consciente e deliberadamente empenhados em destroçar todas as instituições e mecanismos de fiscalização e controle".
"Desde o começo, o governo intimidou os fiscais, desmoralizou a fiscalização ao denunciar o que chamou de "indústria das multas", quando é mais sabido que mais de 90% das multas nunca são pagas. Em seguida, afastou os funcionários de carreira e nomeou para dirigir o IBAMA e o Instituto Chico Mendes oficias da PM de São Paulo que prosseguiram o trabalho do desmantelamento", alertou.
Para ele, é falsa a percepção de que Bolsonaro "peca apenas pela língua, pelas suas desastrosas declarações". "Na verdade, o governo federal a rigor nem precisa fazer nada de especial para que o desmatamento aumente. Basta cruzar os braços, já que os destruidores estão apenas esperando o sinal verde para agir. Sinal que este governo vem fornecendo a cada dia, a cada hora, por meio da impunidade", disse.
"O que está ocorrendo lembra um episódio sinistro de nossa história: o fim do tráfico de escravos. Foi preciso que a esquadra inglesa começasse a capturar navios tumbeiros dentro de águas territoriais brasileiras e até dentro de nossos portos para que finalmente o governo imperial se decidisse em 1850 a colocar fim ao tráfico. Por que do contrário, os ingleses o fariam. É isso que deseja Bolsonaro?", questionou.

Na ONU
A percepção de Ricupero ecoa dentro da ONU, onde o Brasil vê sua reputação afetada. Dois embaixadores que pedem para não ser identificados confirmam que, em décadas, jamais viram uma reação internacional contra o Brasil de tal magnitude. "Não me lembro da última vez que o Brasil passou a ser tratado como um pária, como está sendo hoje", admitiu um deles.
O caso foi considerado como sendo de tal gravidade que Antônio Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, saiu de seu tradicional silêncio em temas polêmicos para pedir que a Amazônia seja protegida. "Estou profundamente preocupado pelo fogo na floresta amazônica", escreveu, alertando que o mundo não poderia se dar ao luxo de perder tal "fonte de oxigênio".
A Organização Mundial da Saúde (OMS) também se pronunciou, alertando que os acontecimentos no Brasil revelam o risco que enfrenta o planeta.
Fontes na entidade apontam que a crise não se limitará aos assuntos ambientais. Para diplomatas, a capacidade de o Brasil liderar esforços ou campanhas em outras áreas deve ser afetada. "O Brasil é hoje meio tóxico e são poucos os que estão dispostos a embarcar em algum projeto com o país", disse um experiente negociador.
Pela Europa, parlamentares que terão de votar uma ratificação do acordo comercial com o Mercosul estão sendo pressionados por seus eleitores a não chancelar o tratado com o Brasil. Numa rua de uma cidade austríaca, nesta semana, jovens simularam um enforcamento. Enquanto o gelo aos seus pés derretia, seguravam um cartaz contra o Mercosul e Bolsonaro.
Diplomatas que conversaram com a reportagem do UOL admitiram que as imagens enfraquecem o governo brasileiro e ameaçam até mesmo ser traduzidas em perdas reais para as exportações.
Com os partidos ambientalistas ganhando força pela Europa, deputados sabem que precisam dar uma roupagem "climática" para seus discursos. O resultado, com um Brasil debilitado, pode ser a transformação de Bolsonaro numa espécie de "bola da vez" para que políticos locais mostrem que estão comprometidos com o meio ambiente.

Sanções
No Reino Unido, uma petição foi lançada ao Parlamento Britânico solicitando que o governo faça pressão para que sanções sejam impostas contra o Brasil, por conta da floresta. Até a manhã de sexta-feira (horário europeu) e em poucas horas, a petição já contava com 40 mil assinaturas.

Não faltaram ainda aqueles que, se aproveitando de um clima deteriorado para o Brasil, embarquem numa nova campanha para minar as exportações brasileiras e evitar a concorrência.
Na Noruega, que negocia um acordo de livre comércio com o Mercosul, a Associação dos Produtores Agrícolas alertou ao governo de Oslo que os consumidores noruegueses precisavam ser respeitados e que um acordo com o Brasil não deveria ser fechado.
Para eles, um norueguês deve poder comer uma carne "sem ter de ter a consciência pesada" por estar desmatando a Amazônia. Mas sua real preocupação era outra: a capacidade dos produtos agrícolas do Brasil de minar a rentabilidade de seus próprios agricultores.
Na França, entidades de agricultores que sempre foram contra um acordo com o Mercosul agora adotaram o lema ambientalista para justificar seu pedido por barreiras.
De fato, em Brasília, o governo oficialmente instruiu seus diplomatas a defender a soberania do país sobre a Amazônia e a colocar em questão as reais intenções de ONGs. O discurso ainda inclui uma tentativa de qualificar os ataques contra o Brasil como uma espécie de estratégia de protecionismo comercial.
Mas, entre uma parcela menos radical do governo, o temor é de que não apenas as chamas na floresta saíram do controle. Com uma ampla campanha internacional, a percepção é de que a imagem do País queima junto com sua floresta. E os prejuízos podem ser enormes, politicamente e em termos comerciais.

Segurança reforçada
No centro do mundo e na periferia do Brasil, a realidade é que a floresta conseguiu unir artistas, políticos de diferentes partidos e, acima de tudo, a opinião pública contra o chefe de estado brasileiro.
Para esta sexta-feira, protestos estão sendo organizados diante de embaixadas do Brasil pelo mundo, enquanto nos bastidores do Itamaraty muitos temem depredações e ações mais contundentes. Desde o início do governo, foram pelo menos quatro incidentes e quase todos com recados sobre a situação ambiental do país.
Ao UOL, o Itamaraty confirmou que "os postos no exterior já adotaram medidas de reforço de segurança, conforme avaliação da necessidade local".
Grupos de estudantes querem usar o dia de protestos, nesta sexta-feira, para também dedicar uma mensagem especial ao presidente brasileiro.
Nesta semana, personalidades como Leonardo DiCaprio e Greta Thunberg usaram as redes sociais para denunciar a destruição da floresta, levando críticas a Bolsonaro a milhões de seguidores.
Em diversos países europeus, o assunto se transformou em um dos "trending topics" das redes sociais, obrigando até mesmo membros do governo a postar mensagens em inglês.
Dentro da ONU, um antigo chefe de negociações de desarmamento comentava ao ver estampada as imagens da Amazônia em chamas na imprensa de todo o mundo, na prateleira de uma banca de jornais dentro das Nações Unidas.
"Bom, quem até agora não conhecia Bolsonaro, agora sabe quem é: aquele que está permitindo a destruição da floresta", completou.

terça-feira, 13 de agosto de 2019

O que pensam os senadores do Paraná sobre o “embaixador” Eduardo Bolsonaro - João Frey (Gazeta do Povo)

O que pensam os senadores do Paraná sobre o “embaixador” Eduardo Bolsonaro

Deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP)
Para que possa assumir o posto de embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro (PSL), filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL), precisa da aprovação do Senado Federal.  Sem garantia de que tem votos suficientes, o governo tem intensificado a articulação no Senado, especialmente com o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP). As conversas, entretanto, não têm sido suficientes para debelar as más impressões causadas pela indicação do filho do presidente para um cargo estratégico para os interesses nacionais.
Na bancada paranaense, Alvaro Dias (Podemos), Flavio Arns (Rede) e Oriovisto Guimarães (Podemos), demonstram haver algum desconforto com a escolha do governo.
Alvaro, líder do Podemos na Casa, é o paranaense que critica com mais veemência a indicação. Após o nome de Eduardo Bolsonaro passar a ser cotado para o cargo, ele chegou a apresentar uma Proposta de Emenda à Constituição que exige que os embaixadores sejam diplomatas de carreira. Para Alvaro, o filho do presidente não apresenta requisitos mínimos para representar o país nos Estados Unidos.
"Esta indicação é um equívoco histórico, uma trombada nas tradições da diplomacia brasileira. Para a embaixada americana, sempre são escolhidos os mais capacitados, pois trata-se de uma função complexa nas relações entre as nações. A história mostra isso”, diz.
O senador indica que fará forte oposição ao nome de Eduardo Bolsonaro.
“A indicação de alguém sem a qualificação necessária é um desestímulo ao preparo, ao talento, ao estudo, à busca pelo conhecimento e à experiência. Não se trata de escolher o mais próximo, e sim o mais qualificado. A aprovação desta indicação diminuiria o Senado”, sustenta.
Também do Podemos, Oriovisto disse que está estudando o assunto e prefere não se posicionar até que a indicação formal chegue ao Senado. O parlamentar, entretanto, subscreveu a PEC de Alvaro Dias que reserva o cargo de embaixadores a diplomatas de carreira.
Flavio Arns, que também assinou a PEC, acredita que os membros do Itamaraty são mais preparados para chefiar missões diplomáticas.
“Apoio que as embaixadas sejam ocupadas por diplomatas de carreira do Itamaraty que são tecnicamente qualificados e preparados para exercer a diplomacia brasileira no exterior. O Instituto Rio Branco é uma escola de excelência respeitada internacionalmente como academia diplomática e deve ser prestigiado quanto à escolha dos nossos embaixadores”, avalia.
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sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Record publicará livro vetado pelo Itamaraty com prefácio de Rubens Ricupero

Três hurrahs para a Editora Record, que vai editar e publicar a biografia de Alexandre de Gusmão, "avô" da diplomacia brasileira, pelo historiador e diplomata, embaixador, Synesio Sampaio Goes Filho, com prefácio do embaixador e grande historiador Rubens Ricupero, autor da obra "A diplomacia na construção do Brasil, 1750-2016 (Versal). A biografia de Alexandre de Gusmão por Synesio deveria estar sendo publicada pela Fundação Alexandre de Gusmão (justamente), do Itamaraty, pois foi encomendada a ele pelo presidente anterior da Funag, mas a atual administração, consoante o "stalinismo diplomático" que vigora na Casa de Rio Branco vetou o prefácio de Rubens Ricupero.
Meus cumprimentos ao editor Carlos Andreazza por ter tomado a iniciativa de publicar pela Record essa obra que dá início, praticamente, ao processo de preparação das comemorações do bicentenário da independência brasileira.
Paulo Roberto de Almeida

Record publicará livro vetado pelo Itamaraty devido a prefácio de desafeto de chanceler

Obra com texto de Rubens Ricupero foi escrita por um dos maiores historiadores da diplomacia brasileira

A editora Record vai publicar o livro que foi vetado pelo Itamaraty devido a seu prefácio, escrito por um desafeto do chanceler Ernesto Araújo. O livro será editado por Carlos Andreazza, editor-executivo da Record, e deve sair no começo de 2020.
O embaixador Synesio Sampaio Goes Filho, um dos maiores historiadores da diplomacia brasileira, havia sido incumbido pela Funag (Fundação Alexandre de Gusmão), braço cultural e pedagógico do ministério, de escrever a biografia de Alexandre de Gusmão, que batiza a fundação.
Gusmão, conhecido como “avô da diplomacia brasileira”, foi um diplomata com papel crucial nas negociações do Tratado de Madri (1750), que determinou os limites territoriais das colônias portuguesas e espanholas na América do Sul.
Em julho deste ano, quando entregou à diretoria da Funag os originais de “Alexandre de Gusmão (1695-1753): O Estadista que Desenhou o Mapa do Brasil”, Goes Filho foi informado de que o livro só seria publicado se ele retirasse o prefácio escrito por Rubens Ricupero, ex-embaixador em Washington e também historiador da diplomacia.
Ricupero já fez muitas críticas ao chanceler e aos rumos da política externa no governo Bolsonaro.
Goes Filho afirmou que houve censura e que estava procurando uma nova editora para publicar seu livro.
Ele também é autor de “Navegantes, Bandeirantes, Diplomatas: um Ensaio sobre a Formação das Fronteiras do Brasil (2001)”, livro que é um dos mais vendidos da Funag e considerado leitura essencial para diplomatas.

sábado, 27 de julho de 2019

Para ser uma "república de bananas" o Brasil precisa ser uma República antes, não um assunto de família

Diplomata brasileiro compara Brasil a “República das bananas”

EPA/Joedson Alves
O diplomata do Ministério das Relações Exteriores brasileiro (Itamaraty) Paulo Roberto de Almeida afirmou este sábado, à agência Lusa, que o Brasil assemelha-se a uma “República das bananas” devido ao “nepotismo” da nomeação de Eduardo Bolsonaro para embaixador.
O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, anunciou no dia 11 de julho a sua intenção de indicar o seu terceiro filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, para embaixador do Brasil em Washington, capital dos Estados Unidos da América, uma possibilidade que, segundo Paulo Roberto de Almeida, tem prejudicado a imagem internacional do país.
Só Repúblicas de bananas têm esse ‘familismo’, esse nepotismo, filhotismo, essa personalização de relações políticas importantes, como são as diplomáticas, num sistema que antigamente pertencia à aristocracia, às oligarquias, e que hoje é inaceitável para os padrões de uma diplomacia consolidada no sistema burocrático”, afirmou o ex-embaixador em entrevista à Lusa.
O diplomata não tem dúvidas ao declarar que Eduardo Bolsonaro não “tem capacidades” para atender as necessidades do cargo, apesar do chefe de Estado brasileiro confiar nas competências do filho, realçando o facto de falar várias línguas e de conhecer a família do Presidente norte-americano, Donald Trump,
Ele não é capacitado, vamos ser muito claros. Acaba de fazer 35 anos, não tem formação adequada, conhece muito pouco, ou nada, de relações internacionais. Essa adesão às teses de Trump é algo estranho e até bizarro, porque certamente o Presidente norte-americano já colocou o Brasil naquela lista dos ‘shithole countries’, ou seja, um desprezo total por Estados que fornecem imigrantes ilegais aos EUA”, frisou o diplomata de carreira.
Paulo Roberto de Almeida exerceu diversos cargos na Secretaria de Estado das Relações Exteriores e em embaixadas e delegações do Brasil no exterior, tendo sido ministro-conselheiro na Embaixada do Brasil em Washington, entre 1999 e 2003.
Na sua passagem pelos Estados Unidos, Paulo Almeida seguiu de perto a situação de muitos brasileiros em situação irregular naquele país, reforçando, porém, a natureza “honesta” e “trabalhadora” da grande maioria desses cidadãos.
Em março deste ano, numa passagem pelos EUA, Eduardo Bolsonaro, que além de deputado é presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, classificou os imigrantes brasileiros em situação ilegal como uma “vergonha para o país”, uma atitude que não agradou a Paulo Almeida.
Dizer que é uma vergonha para o Brasil ter imigrantes ilegais nos EUA não é verdade. Eles são pessoas que não tendo oportunidades no Brasil, como muitos outros latinos, africanos ou asiáticos, devido a crises económicas ou a guerras civis, buscaram com os pés uma vida melhor com as suas famílias”, garantiu o também professor universitário.
Questionado se a nomeação de Eduardo Bolsonaro para o cargo de embaixador não será uma estratégia de política externa delineada pelo Presidente, Paulo Roberto de Almeida disse que se foi essa a intenção, tratou-se de um “erro fundamental”.
“Pode ser que na conceção primária de política externa de Jair Bolsonaro fosse uma estratégia, mas é um erro fundamental.(…) Nos últimos 70 anos, na grande organização burocrática de relações internacionais do sistema da ONU, a diplomacia é conduzida pelos canais oficiais dos Ministérios das Relações Exteriores. Temos carreiras diplomáticas que compreendem todo um treino ao longo de décadas, para postos de certa importância. O filho do Presidente, certamente, não tem nenhuma capacidade para ser embaixador em quaisquer condições normais”, reforçou.
No entanto, para o diplomata, não é apenas a nomeação de Eduardo Bolsonaro como embaixador que afeta a imagem do país sul-americano. Também as adesões do Brasil a teses minoritárias o preocupam.
Nas últimas semanas, o Brasil ficou ao lado de países como o Iraque, Paquistão e Arábia Saudita, em causas vinculadas a Direitos Humanos na ONU, em relação a ideologia de género, sexualidade, ou proteção das mulheres, o que, na voz de Paulo Almeida, causa “perda de prestígio” do país, no plano internacional.
Em março deste ano, Paulo Roberto de Almeida foi demitido da presidência do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri), cargo que ocupava desde 2016, naquele órgão vinculado ao ‘Itamaraty’, nome como é conhecido o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, passando a ocupar um cargo na divisão de arquivo da mesma pasta.
Apesar de crítico dos Governos do Partido dos Trabalhadores (PT), foram as opiniões negativas tecidas ao Governo de Bolsonaro no seu blogue pessoal, nomeadamente ao ministro das Relações Exteriores brasileiro, Ernesto Araújo, que terão levado à sua exoneração.
Pelo menos é nisso que o diplomata acredita, apesar de essa tese ter sido contrariada pelo executivo, que afirmou que a demissão “já estava decidida” antes mesmo da polémica.
À lusa, o ex-embaixador reforçou críticas a Ernesto Araújo, dizendo que o atual chefe da diplomacia brasileira foi uma “péssima escolha para o cargo”, e que acredita que o ‘chanceler’ conseguiu liderar um Ministério devido a “oportunismo”.
Acho que foi uma péssima escolha. Não se sabia nenhuma adesão dele a teses de direita, e acho que construiu isso de forma artificial nas relações com Eduardo Bolsonaro ou Olavo de Carvalho (considerado ‘Guru’ de Bolsonaro. (…) Do ponto de vista internacional, alguém que resolver empreender uma campanha contra o globalismo, multilateralismo e comercialismo é alguém que em deficiências de raciocínio lógico em relação ao sistema internacional”, depreendeu.
“Eu não consigo compreender como é que um diplomata formado na escola do Itamaraty, nas leituras e na experiência internacional consiga aderir a teses tão bizarras quanto essas, a não ser por puro oportunismo”, concluiu Paulo Roberto de Almeida em entrevista à agência Lusa.