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terça-feira, 24 de abril de 2018

Guerra comercial EUA-China: Hangout do Instituto Millenium

Recebi o convite, não tinha porque recusar, a despeito que não me considero a pessoa mais qualificada para o tema, pois estou há alguns anos afastado das negociações comerciais no âmbito da OMC, ou em qualquer outro âmbito, como no Mercosul, por exemplo.
Fui informado sobre o o link para o evento no Facebook:
Paulo Roberto de Almeida

Imil promove Hangout “Incerteza global”, nesta quinta-feira

Debate sobre efeitos de uma guerra comercial entre EUA e China contará com participação de Marcos Troyjo, Paulo Roberto de Almeida e Servulo Dias

Como uma guerra comercial entre EUA e China pode afetar a economia do Brasil e do mundo?
Para esclarecer esta e outras questões a respeito dos novos traços que definem a economia global, o Instituto Millenium promove, na próxima quinta-feira, dia 26 de abril, um encontro virtual com especialistas no tema. Mediado pelo economista Servulo Dias, os diplomatas Marcos Troyjo e Paulo Roberto de Almeida debaterão o protecionismo e os efeitos da iminente guerra comercial entre as duas maiores potências do mundo.
O hangout será transmitido às 15h (horário de Brasília) no canal do Instituto Millenium no YouTube, redes sociais e aqui no site do Imil. Confirme a presença na página do evento no Facebok e não perca!
Sobre os debatedores
Marcos Troyjo
É graduado em ciência política e economia pela Universidade de São Paulo (USP), doutor em sociologia das relações internacionais pela USP e diplomata. É integrante do Conselho Consultivo do Fórum Econômico Mundial, diretor do BRICLab da Universidade Columbia, pesquisador do Centre d´Études sur l´Actuel et le Quotidien (CEAQ) da Universidade Paris-Descartes (Sorbonne), fundador do Centro de Diplomacia Empresarial e conselheiro do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE). É colunista do jornal “Folha de S.Paulo”.
Paulo Roberto de Almeida
É doutor em Ciências Sociais (Université Libre de Bruxelles), mestre em Planejamento Econômico (Universidade de Antuérpia), licenciado em Ciências Sociais pela Université Libre de Bruxelles) e diplomata. Serviu em diversos postos no exterior e exerceu funções na Secretaria de Estado, geralmente nas áreas de comércio, integração, finanças e investimentos. Foi professor de Sociologia Política no Instituto Rio Branco e na Universidade de Brasília (1986-87) e atualmente leciona no Centro Universitário de Brasília (Uniceub).
Servulo Dias (mediador)
E economista formado pela FEA/USP, administrador de empresas e especialista em marketing de serviços pela FIA. Ocupou posições executivas na área comercial e de desenvolvimento de novos negócios em empresas nacionais e multinacionais de grande porte. Atuou em projetos de inovação e redefinição de modelos de negócio na indústria química, embalagens, papel e celulose e fotografia/varejo. Atualmente ocupa a posição de diretor comercial para a América Latina na MGITECH Group.

O link acima, para o meu nome, remete a um CV um pouco mais alentado: 

Doutor em ciências sociais pela Universidade de Bruxelas (1984), mestre em planejamento econômico e economia internacional pelo Colégio dos Países em Desenvolvimento da Universidade de Estado de Antuérpia (1976), formou-se em ciências sociais pela Universidade de Bruxelas (1974). Defendeu tese de doutorado em temática de sociologia histórica, sobre as revoluções burguesas e a modernização capitalista do Brasil; elaborou tese de história diplomática no curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores (1997) sobre a diplomacia econômica do Brasil no século XIX. Desde 2004, é professor no programa de mestrado e doutorado em direito do Centro Universitário de Brasília (Uniceub); foi professor orientador no mestrado em diplomacia do Instituto Rio Branco do Itamaraty. Tem sido regularmente convidado para ensinar em universidades brasileiras e estrangeiras. Possui experiência nas áreas de relações internacionais e em sociologia, com ênfase em desenvolvimento comparado, atuando principalmente nos seguintes temas: relações econômicas internacionais, política externa brasileira, história diplomática, desenvolvimento econômico brasileiro, globalização e segurança internacional. Foi professor convidado no Institut de Hautes Etudes de l'Amérique Latine (Sorbonne), Paris, de janeiro a junho de 2012. Diplomata de carreira desde 1977, exerceu diversos cargos na Secretaria de Estado das Relações Exteriores e em embaixadas e delegações do Brasil no exterior. Foi ministro-conselheiro na Embaixada do Brasil em Washington (1999-2003). Trabalhou entre 2003 e 2007 como Assessor Especial no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Comissário Geral Adjunto do Pavilhão do Brasil na Shanghai Expo 2010. De janeiro de 2013 a outubro de 2015 serviu como Cônsul Geral Adjunto do Brasil em Hartford, CT, EUA. Desde 3/08/2016, é diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais da Fundação Alexandre de Gusmão, vinculada ao Itamaraty. Publicou mais de uma dezena de livros individuais, organizou diversas outras obras, participou de dezenas de livros coletivos e assinou centenas de artigos em revistas especializadas (ver trabalhos em: www.pralmeida.org; blog: diplomatizzando.blogspot.com).

quarta-feira, 21 de março de 2018

Acordo UE-Mercosul, realista? - Marcos Troyjo (FSP)

Coluna Marcos Troyjo
Folha de S. Paulo 

Risco de desglobalização aproximou UE e Mercosul

Populismo força europeus a reagir contra cisão em momento de governos sul-americanos pragmáticos


Após quase duas décadas de conversações, União Europeia (UE) e Mercosul estão mais próximos do que nunca de assinarem um acordo comercial.
A constatação da iminência de um tal entendimento, que pode ser formalizado ainda este ano, ocorre justamente num contexto de enormes pressões protecionistas no mundo todo . Isso não deixa de chamar atenção.
Não é exagero algum identificar a eleição de Donald Trump e o brexit como símbolos tangíveis do “risco de desglobalização” que, ominoso, se projeta sobre as relações internacionais. 
Trump trabalha quotidianamente para minar o sistema mundial arquitetado pelos EUA desde o final da Segunda Guerra. Os EUA estão menos “globais” e mais “individualistas”. E a saída britanica da União Europeia (UE) mostra que blocos de integração regional não são necessariamente veículos conducentes a mais globalização. 
Quando se iniciaram as negociações entre UE e Mercosul em 1999, o palco internacional era caracterizado por uma quase certeza de que livre comércio, democracia representativa e ganhos de escala empurravam blocos para um entendimento. 
Havia mais, no entanto, do que essas forças de “globalização profunda” movendo as duas dinâmicas de integração para um maior intercâmbio. As estruturas econômicas de europeus e sul-americanos são complementares tanto na frente do comércio como na dos investimentos. Os dois blocos foram feitos um para o outro.
O fato da negociação se arrastar por quase vinte anos tem de ser visto de forma crítica. Alguém examinando o processo com olhos do setor privado diria que uma concertação que leva duas décadas para tomar forma é um fracasso. O mundo em que as negociações começaram não é o mesmo em que elas terminam.
E, de fato, muita água passou por debaixo da ponte nesse período. Quando as conversações se iniciaram em 1999, o euro já era moeda de referência, mas não meio circulante —o que apenas se viabilizou a partir de 2002.
O peso específico de diferentes países na geoeconomia também era outro. Em 1999, a China tinha um PIB duas vezes maior que o da maior economia latino-americana (o Brasil). Hoje, o PIB chinês é 7,5 vezes maior que o brasileiro.
No fim dos anos 1990, a economia digital, comparada com o que vemos agora, ainda engatinhava. Não havia tablets ou smartphones, e as grandes vendedoras de telefonia celular no mundo eram a Motorola e Nokia
Ora, se os ventos da globalização profunda eram favoráveis, as economias complementares e as partes negociadoras punham em marcha um processo formal de negociação, por que o acordo jamais saiu? 
Bem, a melhor resposta é a de que, embora hoje o protecionismo represente ameaça sistêmica ao comércio internacional, suas particularidades no eixo UE-Mercosul inviabilizaram um acordo rápido já no início da década passada. 
Percebam o absurdo. No começo dos anos 2000, saía mais barato para um consumidor europeu adquirir uma vaca na Argentina, colocá-la num voo da Air France e a trazer para Paris do que arcar com pesadíssimos impostos transformados em subsídios aos agropecuaristas europeus. 
Na mesma forma e período, ficava mais econômico para um consumidor brasileiro comprar uma passagem aérea para Copenhague, lá passar dois dias num hotel quatro estrelas e comprar um aparelho de som da Bang & Olufsen do que adquirir o mesmo equipamento no Brasil. E ainda sobrava um dinheirinho para comprar um Lego pequeno.
Além disso, UE e Mercosul também abraçaram o conforto da inércia negociadora como resultado da emergência de outros fenômenos. 
À medida que a China demonstrava apetite cada vez mais voraz por commodities sul-americanas, diminuía a urgência do Mercosul em estabelecer acesso privilegiado ao mercado europeu. Este, por seu turno, estava muito ocupado em priorizar relações com os países ao leste que há um tempo compuseram a esfera de influência do bloco soviético. 
E havia ainda, claro, a Rodada Doha da OMC como uma plataforma de negociação supostamente viável, o que poderia tornar redundantes algumas das conversações UE-Mercosul
Bem, por que então as tratativas deslancham agora? 
Por um lado, Bruxelas passou a ter de contabilizar seriamente o risco de fragmentação do edifício comunitário europeu. 
O “brexit” é símbolo maior de tal pesar, eleições na França, Áustria, Holanda e mais recentemente Itália mostram quão forte é o flerte nacional-populista europeu com alternativas ao Velho Continente integrado.
Diante desse quadro, ao estabelecer tratados com outros blocos a UE mostra que não se abala com a saída, real ou possível, deste ou daquele estado-membro, e que portanto sua perpetuação é inquestionável. 
Por outro, com o esgotamento de um ciclo nacional-populista (kirchnerismo e lulopetismo) nos dois principais sócios do Mercosul, o bloco retomou sua postura negociadora em bases pragmáticas e algo que deixou de lado seu terceiro-mundismo.
Estão a caminho rodadas negociadoras do Mercosul também com Canadá, Japão e países da Aliança do Pacífico (México, Colômbia, Peru e Chile). 
Por estranho que possa parecer, um contexto de globalização profunda e múltiplas oportunidades não deram a UE e Mercosul, no passado, a proximidade e sentido de urgência necessários. 
Agora, é a conclusão de ciclos políticos internos e o espectro de protecionismo e desglobalização em outros quadrantes que impulsionam os dois blocos à ação. 

Marcos Troyjo
Diplomata, economista e cientista social, é diretor do BRICLab da Universidade Columbia. 

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Desglobalizacao - Marcos Troyjo, PRAlmeida, Sergio Florencio (Ipea, 8/11/2017)

IPEA. 8/11/2017. Seminário no Ipea discute os fenômenos da desglobalização e reglobalização. Instituto recebeu o professor da Columbia University Marcos Troyjo para falar sobre tendências no mundo e projeções para o Brasil

A desglobalização é um fenômeno no mundo desde 2008. Paulo de Almeida, diretor do Instituto de Pesquisa em Relações Internacionais (Ipri/Funag), explica que esse conceito diz respeito, em linhas gerais, "à nova globalização sob a liderança chinesa". Mas de que forma esse processo impacta nas relações entre os países? O que existe de oportunidade para o Brasil nessa nova fase de globalização? Essas foram algumas questões discutidas no Seminário Desglobalização, nesta quarta-feira, 08, realizado na sede do Ipea, em Brasília.

Segundo o palestrante convidado Marcos Troyjo, diretor do Centro de Estudos sobre Brasil, Rússia, Índia e China (BRINClab) da Columbia University, em Nova York,  que também é autor do livro "Desglobalização – crônica de um mundo em mudança", a desglobalização é um fenômeno no mundo desde 2008. "O mundo que está por vir é o da ‘reglobalização’. Enquanto isso, a desglobalização não significa o fim da globalização, mas que essa está perdendo velocidade", explica. 

Na palestra, Troyjo criticou ideias e conceitos do senso comum que tentam explicar o motivo de nações tornarem-se próximas e prestigiosas. Ele defende que as nações que ascendem são aquelas que conseguem se adaptar adequadamente à globalização. "Mas que globalização é essa?", provocou.

De acordo com ele, o maior milagre econômico da humanidade não se deu sem clara separação entre os poderes, sem imprensa livre, sem instituições reguladoras, sem democracia representativa, sem livre mercado e sem uma noção muito específica sobre o que é comércio internacional. "E por trás de tudo isso, o êxito das nações combina instituições fortalecidas e uma porção de estratégia", acrescenta.

Desafios para o Brasil

Para Troyjo, nesse contexto, o Brasil deve fazer mais investimentos horizontais, como a educação, e em uma indústria específica, além de ficar mais aberto às exportações. "O Brasil é a economia mais fechada entre os vinte países de maior PIB do mundo. E não há países que ascenderam sem ter 35 a 40% do PIB para ações de exportações", destaca.

diretor de Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais do Ipea, Sergio Abreu e Lima Florencio, destaca que, mesmo com todos os desafios impostos ao país, conseguimos nos diferenciar em relação à América Latina por nossas instituições sólidas. "Na primeira metade dos anos 2000, o Brasil crescia 4% ao ano, se revelava uma economia emergente, com uma influência crescente no comércio e na economia internacional. Isso ajudou a projetar a nossa política externa", finalizou.

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Desglobalizacao - Marcos Troyjo, Paulo Roberto de Almeida, Sergio Florencio (Ipea, 8/11)


A palestra “Reglobalização”, a ser  proferida  por Marcos Troyjo, Diretor do Centro de Estudos sobre Brasil, Rússia, Índia e China (BRICLab), da Columbia University, em Nova York, onde é Professor-adjunto de Relações Internacionais, será realizada no dia 08 de novembro próximo.
Os debates serão coordenados por Paulo Roberto de Almeida, diretor do Instituto de Pesquisa em Relações Internacionais –IPRI/FUNAG e por Sérgio Abreu e Lima Florêncio, Diretor de Estudos e Relações Econômicas Internacionais -DINTE/IPEA.
Data e Local:  08 de novembro de 2017, Auditório do Divonzir Gusso, Setor Bancário Sul, quadra 1, bloco J, Edifício BNDES/IPEA-Brasília, das 15h às 17h30.
Solicito confirmação sobre sua participação, por meio do e-mail dinte@ipea.gov.br ou pelos telefones (61) 2026- 5527 ou 2026-5338.
Sua participação nos debates será muito bem vinda.
Atenciosamente,
Sergio Abreu e Lima Florencio.
Diretor de Estudos e Relações Econômicas Internacionais (DINTE/IPEA).

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Liberalismo e o Brasil de Hoje: Licoes de Roberto Campos - Paulo Roberto de Almeida, Marcos Troyjo, Adriano Pires

Um próximo evento, palestra-debate, para discutir os problemas atuais do Brasil, e as soluções, propostas meio século atrás, por Roberto Campos, quando também aproveitarei para lançar o livro em Cuiabá:






CALL FOR PROPOSALS
Conference organized by the University Jean Moulin (Lyon 3) and the Institute of Transtextualand Transcultural Studies (IETT- EA 4186) in the framework of the Impulsion- PALSE project.
Organizing Committee:
 S’mele Soares Rodrigues (University Jean Moulin - Lyon 3), JulieSylvestre (IETT), Carolina Cunha Carnier (University Jean Moulin - Lyon 3).
Where:
 Maison Internationale des Langues et des Cultures (MILC), Lyon.
Dates
: September 27 and 28, 2017.
TOWARD A HISTORY OF THE CULTURAL RELATIONS OF THE AMERICASIN THE TWENTIETH CENTURY
At the intersection of political history, international relations, and cultural studies of theAmericas, this conference will bring together confirmed and junior researchers of history,sociology, musicology, political sciences or any other discipline of the social and human sciencesin the aim of discussing a history of the cultural relations of the Americas in the twentiethcentury.In continuation of Pierre Milza's reflection on the cultural "deep forces" located betweeninternational politics and mentalities, as well as many other French or English speaking studieshighlighting the importance of culture in international relations (by Robert Frank, Fran•oisChaubet, Alain Dubosclard, Ludovic Tourns J. Manuel Espinosa, J.M. Mitchell, Akira Iriye,among others), this conference intends to discuss the studies developed by specialists from thecountries of America. A transnational perspective will be adopted.This meeting will be a first opportunity to map the bilateral, multilateral and transnationalcultural relations of the three Americas, especially (but not exclusively) those established withand among the countries of the Southern Cone (Argentina, Brazil, Chile, Uruguay and Paraguay).The conference will mainly address:1)
Cultural "decision makers", namely the agents or mediators of both official culturaldiplomacy and private associations and institutes



quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

A China globalizada mas (ainda) nao globalizante - Marcos Troyjo

Marcos Troyjo se refere aqui aos problemas da governança global em tempos trumpianos, como ele diz, quando a China não quer ser o que é, mas ainda não pode ser o que quer...
Eu me estenderia também sobre os aspectos mais problemáticos dessa ascensão irresistível: direitos humanos e democracia, ademais de mais liberdade econômica (ainda que nesse quesito a China seja um país bem mais livre, economicamente, do que o Brasil, por exemplo).
Será que teremos algum novo Tocqueville para escrever um ensaio "De la démocratie en Chine"?
Seu eu pudesse eu faria, mas não tenho competência ou conhecimento para tanto.
Sinólogos tocquevilleanos (existem?), habilitai-vos...
Paulo Roberto de Almeida

Não será fácil para a China liderar a globalização
 Folha de S. Paulo, Quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017
MARCOS TROYJO

 Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde é professor-adjunto de relações internacionais e políticas públicas. Escreve às quartas

Chineses têm de mostrar não apenas o que querem "do" mundo, mas "para" o mundo

Há cinco anos, concluía-se em Pequim uma das sessões do Comitê para a Reinvenção de Bretton Woods, grupo que busca refletir sobre o futuro do sistema econômico multilateral.

Os gentis anfitriões chineses ofereciam então um de seus notoriamente pantagruélicos jantares de confraternização. Pato laqueado e Lux Regis (vinho produzido na região de Ningxia de que os chineses não se envergonham) eram servidos à vontade.

Li Tao -11.nov.2016/Xinhua
O presidente da China, Xi Jinping, em reunião do Partido Comunista em novembro de 2016

Ao meu lado no jantar, dois altos executivos do Eximbank chinês sorviam seguidas taças do tinto nacional. Conversávamos sobre o futuro da China como superpotência para além da economia.

Eles diziam: "vocês no Ocidente esperam demais da China. Claro que temos peso e tamanho. Acertamos muito em nossa estrategia nessas últimas três décadas. Note, porém, que a China ainda é pouco mais que um país em desenvolvimento".

Se a lógica do 'in vino veritas" também funciona em chinês, claramente meus companheiros de mesa estavam argumentando que a China está longe de poder liderar a globalização.

Nesses tempos trumpianos, há, é claro, uma enorme tentação em buscar compreender o tabuleiro global como um jogo de soma zero.

Se, de fato, Washington e Pequim são os protagonistas —o "G2" do mundo contemporâneo—, EUA em voluntária reclusão significa maior escala específica para a China.

Tal percepção foi amplamente reforçada nas últimas semanas.

Xi Jinping foi saudado como grande timoneiro da globalização por Klaus Schwab no Fórum de Davos.

Em março deste ano, o Chile sediará uma reunião de alto nível com os países que negociaram a TPP (Parceria Transpacífico), exceto os EUA —e a China está convidada.

É também notável, na Europa, que mesmo em termos econômicos a noção de "Atlântico Norte" está se enfraquecendo. Seja a partir da plataforma comunitária em Bruxelas, seja como decisão de cada capital, os países europeus parecem operar seu próprio "pivô para a Ásia".

E na América Latina, com a óbvia exceção do México, ficou difícil encontrar diplomacia que não enxergue em Pequim oportunidades mais promissoras para parcerias econômicas do que é possível vislumbrar com a Washington de Trump.

Acrescente-se a essa conjuntura insularizada e individualista dos EUA um poderio econômico chinês que vai além do comércio.

Se, desde 2013, com marca superior a US$ 4 trilhões na soma de importações e exportações, a China já ultrapassara os EUA como principal nação comerciante, esse vigor também é crescentemente sentido nas áreas de investimentos estrangeiros diretos (IEDs), financiamento para o desenvolvimento e empréstimos "governo a governo".

Tudo isso credencia, então, a China como "líder da globalização"?

Embora nos últimos dias os chineses tenham elogiado aos quatro ventos as benesses da interdependência econômica, a ideia de assumir a frente organizadora de um novo sistema global é algo distante do consenso nos círculos decisórios de Pequim.

A mundialização da China ademais da economia não é nada fácil. A China não é um "role model". Pouco irradia em termos de "poder suave". Os chineses têm plena consciência disso.

No sistema coletivo de paz e segurança, a China está menos no palco e mais na plateia. Pouco tem oferecido em tropas ou recursos para missões de paz ordenadas pelo Conselho de Segurança da ONU.

Ainda assim, não se mexe para promover uma reforma modernizante do quadro de membros permanentes daquele órgão de elite da diplomacia multilateral.

Mesmo em sua própria estrutura de projeção de poder, mera comparação com os EUA revela grandes distâncias. Um norte-americano gasta em média dezoito vezes mais a cada ano em defesa que um chinês.

E mais: liderar a globalização significa defender ideais e padrões que sejam —ao menos como tarefa em construção— "universalizáveis".

É possível imaginar a China à frente de negociações para a padronização transnacional de práticas em áreas como propriedade intelectual, meio ambiente ou compras governamentais?

Muitos países obviamente se enamoram com a trajetória de crescimento econômico na China. E pode-se, de fato, aprender muito com o modelo chinês. Ele, no entanto, não é replicável em outros contextos nacionais.

Ainda que a atual pujança chinesa seja inquestionável – e seu poder relativo só deva aumentar nos próximos anos – o que a China teve até agora foi apenas uma "grande estratégia" para si.

Para liderar, os chineses têm de saber não apenas o que querem "do" mundo, mas "para" o mundo.

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcostroyjo/2017/02/1858809-nao-sera-facil-para-a-china-liderar-a-globalizacao.shtml?utm_source=dlvr.it&utm_medium=twitter