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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Medicos pedindo socorro - Milton Simon Pires

CARTA AO DOUTOR PACIENTE – A MEDICINA PEDINDO SOCORRO.

Milton Simon Pires

Meus amigos, a internet está cheia de “cartas” aos responsáveis pelo caos na saúde. Eu mesmo escrevi várias delas – “Carta à Presidente Dilma”, “Carta ao Ministro da Saúde”, “Carta aos Médicos Brasileiros”...e por aí vai..Hoje tive a ideia de escrever uma pra vocês..Vamos ver se consigo ser feliz...
Vejam só que ironia, são tantos os nomes que deram a vocês...São tantos de vocês que já atendi na minha vida (vários em estado tão grave que sequer se lembram de mim) que, acreditem, não sei como vou chamá-los! Há quem faça questão que eu os chame de “usuários” - coisa que sempre me sugere que vocês estejam usando cocaína ou crack – e isso não vou fazer. Se, por outro lado, os chamo de pacientes, vai parecer que aqui “sou doutor” e estou fornecendo orientações profissionais – nesse caso a PVP (Patrulha Virtual Petralha) ia “deitar e rolar”..rsss..rsss..Que dilema, né?? Vou chamá-los de “cidadãos” e, se ainda existe isso no Brasil Petista, manter a escolha até o fim do artigo.
Pois bem: Cidadãos brasileiros, faço aqui um apelo ao que ainda possa restar de inteligência nacional não contaminada pela má-fé, pelo fanatismo e pela irresponsabilidade petista. Lembrem-se que somos nós, os médicos brasileiros, os responsáveis na linha de frente na guerra pelas suas vidas. Não se deixem enganar por um governo corrupto que, no desespero de se manter no poder, quer trazer para o Brasil gente sem a mínima qualificação. Por favor não argumentem dizendo que lhes falta estudo para tomar partido nessa história. Usem do bom senso! Vejam onde se tratam esses corruptos mensaleiros quando precisam de um médico. Observem se, alguma vez, qualquer um deles buscou atendimento no SUS.
Meus amigos, o Brasil não tem mais hospitais! Nós não conseguimos mais fazer medicina sem exames de laboratório e equipamentos específicos. Nós não suportamos mais ir para o interior do país para sermos despedidos ao bel prazer de qualquer prefeitinho de partido nanico. Nós sabemos que o dinheiro da saúde está sendo desviado por secretários municipais corruptos que deveriam estar na prisão há muito tempo. Por favor, confiem nos seus médicos antes de confiarem nos seus políticos! Nós estivemos, e estaremos sempre, com vocês até o fim de suas vidas; bandidos políticos não! Não acreditem no governo e nessa imprensa brasileira de aluguel quando dizem que “não queremos atendê-los, que não queremos ir para o interior, ou que somos contra médicos estrangeiros entrarem aqui”. Isso é tudo MENTIRA! Isso é feito para que vocês sintam raiva dos médicos e o maldito Governo Federal ganhe politicamente com isso. Eu escrevo a vocês com tripla autoridade: sou médico, fui e ainda sou paciente várias vezes, e – acima de tudo – conheço profundamente os petistas porque fui um deles! Não se deixem enganar pensando que estrangeiros vão resolver seus problemas. Não acreditem que seja uma boa ideia vetar vários itens na Lei do Ato Médico! A grande maioria dos enfermeiros brasileiros e dos demais profissionais da saúde são pessoas honestas e de bom coração! Elas não estão ao lado desse maldito partido e sabem que estão sendo usadas politicamente pelo PT para “brigar” com os médicos.
Amigos, lembrem-se: caiu o Império Romano, Napoleão fracassou, o Terceiro Reich só existe nos livros! A ditadura Lulo-Petista e esse maldito Partido-Religião também vão desaparecer! Ajudem-nos! Senão por uma questão de solidariedade; por uma de pura inteligência! São vocês que vão perder...E vão perder muito mais do que nós. O PT afirma que estamos preocupados com dinheiro; eu afirmo que estamos pensando nas suas vidas!
Não sabia como chamá-los no início do texto. Como as linhas foram de puro desespero sinto-me como se estivesse (agora eu mesmo) no lugar de vocês esperando no SUS. Decido então que hoje vocês são os “Doutores Pacientes”...Esse artigo era a voz da Medicina...da Medicina pedindo socorro!


Porto Alegre, 14 de agosto de 2013.

Condenados, mas vivissimos - Milton Simon Pires

CONDENADOS E LEGISLADORES

Milton Simon Pires

Tenho seguido com interesse a reação da grande imprensa à condenação do deputado Natan Donadon. Livrado da cassação de mandato pelos seus colegas, ele chegou e saiu algemado da sessão de hoje da Câmara dos Deputados. Retornou, depois da sua atividade parlamentar, ao Presídio da Papuda. Ainda não estou entendo, de fato, por que essa sensação toda de estranhamento..o porquê de tanta perplexidade..Me ajudem a compreender.
Imaginem vocês um lugar onde simplesmente não existe qualquer espaço para a mais simples noção de bem comum. Onde algumas poucas pessoas são inocentes e a grande maioria é de bandidos.  Um lugar onde se combina a noite tudo que será feito durante o dia. Um espaço onde não tem valor nenhuma lei escrita, onde impera o mundo dos interesses escusos, dos conchavos, das ameças e das delações..Imaginem um lugar de onde se pode, uma vez combinados alguns interesses, parar todo país e quem sabe até mudar a sua história. Uma instituição onde o que manda é o dinheiro e o narcotráfico..onde se pode contratar a morte de pessoas e onde, garantidas algumas condições, se pode desfrutar de regalias inimagináveis...Imaginaram? Pois bem, agora eu pegunto a vocês – Vocês conseguiram definir com certeza se eu estou falando de uma penitenciária de segurança máxima ou do Congresso Nacional? Se conseguiram; me mostrem como o fizeram pois eu mesmo me atrapalhei com o que escrevi!
Meus amigos, o que torna um homem perigoso não é sua força...não é seu dinheiro, nem suas armas  
mas sim o seu caráter. Não vou perder tempo aqui tentando demonstrar isso. Faço o caminho inverso afirmando que isso é tão verdadeiro, tão simples e tão evidente, que – como todas as coisas que guardam essas três qualidades – foi esquecido. Sendo esquecido, uma vez demonstrado de forma cabal provoca o falso deslumbramento. É dessa sensação que se vale quem quer vender jornal e fazer notícia afirmando “escandalizado” que agora o Brasil tem deputados presidiários. Guardasse o nosso povo a certeza de que não há diferença entre os valores que imperam num presídio e aqueles que regem nosso Congresso e não teria a restrição da liberdade de ir e vir de um marginal de terno provocado tamanha polêmica.
Há muito, mas muito tempo mesmo a democracia no Brasil acabou. Governa o país uma ditadura dos medíocres onde a noção de justiça cedeu a de “participação popular” e onde a mera noção de verdade foi trocada pela de consenso. Já escrevi antes sobre o tema.
Deputados bandidos sendo algemados e mesmo assim mantendo seu cargo não são causa disso. São a consequência. Afirmo ser pré-requisito essencial para vida politica no nosso país um caráter em absolutamente tudo idêntico ao dos sociopatas assassinos, estupradores e traficantes que lotam as prisões mais vigiadas. Sustento que a semelhança entre esses dois mundos é tamanha que não há  dinheiro nem luxo capaz de dissimular as coincidências. Essa afinidade funciona como um tapa na cara para quem acredita nas instituições acima dos homens, para quem coloca o mundo da economia acima da cultura e para quem crê que o “hábito faz o monge”. Ela desafia a máxima das faculdades de Direito ao proclamarem que não existem criminosos; mas sim crimes e atira perante toda sociedade brasileira a vulgaridade do seu cidadão mediano – aqueles entre os quais nos incluímos todos nós, que não somos presidiários nem deputados, mas que nosso silêncio covarde permitimos o surgimento de condições em que não se pode mais fazer a distinção moral deles. Quando um deputado brasileiro, bandido ou não, permanece indo e vindo algemado às sessões do Congresso, somos todos nós que estamos ali junto com eles. Somos 190 milhões de “depenados” - termo que define a mistura de deputados e apenados, que reflete o brasileiro médio e escandaliza o cidadão mínimo em qualquer republiqueta africana. Triste maneira de fazer um país gigantesco perceber que o que tem de mais importante não são as suas instituições, mas sim o seu povo, que esse povo, crente numa religião civil de adoração ao poderes colocou neles os piores dentre seus homens e que já não há mais diferença alguma entre condenados e legisladores.


PORTO ALEGRE, 30 DE AGOSTO DE 2013.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

As novas igrejas universitarias: a teologia companheira - Milton SimonPires

AS NOVAS IGREJAS VAZIAS
Milton Simon Pires

Duvido que exista, em qualquer meio acadêmico ocidental, “esporte” mais difundido do que falar mal das religiões. Não há historiador, filósofo, sociólogo ou simples colunista de jornal com um pouquinho mais de cultura que não insista em escrever o quanto a Igreja (especificamente a católica) representou de “atraso na nossa evolução”. Vejam que, nas primeiras duas frases, misturei os dois conceitos – o de Igreja e de Religião – bem ao gosto daqueles a quem  destino o artigo.
Apresentam-se hoje em dia as estatísticas de pessoas queimadas, citam-se inventores perseguidos..mencionam-se pensadores excomungados com uma facilidade somente proporcional à ignorância daquilo que foi, na realidade, a Idade Média. Isso faz um “sucesso danado em sala de aula”, né cumpanheros??  
O que nenhum desses expoentes do meio acadêmico tem é  honestidade necessária para um exame de consciência. Desse mea-culpa, dessa confissão, nasceria o devido sentimento de ridículo...a necessária sensação de ter ela mesmo, a Universidade Brasileira, tornado-se um entrave..um verdadeiro atraso para quem dentro dela busca o livre pensamento e fora dela a extinção do PT.
Em artigo anterior já escrevi sobre o surgimento das universidades no mundo ocidental. Afirmei que era sua função receber pessoas que pensavam igual e mandar para o mundo gente que pensasse diferente. O objetivo desse artigo vai ser outro: o alvo aqui é o meio acadêmico brasileiro e seu papel vil na sustentação da ditadura petralha que está no poder.
Modéstia à parte, conheço muito bem o papel que vocês, docentes do ensino superior, tiveram na ascensão dos petralhas ao poder. Na década de 80 eu estava junto com vocês! Lia Marilena Chauí, Emir Sader..enfim..conhecia a “intelligentsia petista” e me identificava com seu discurso francamente marxista, com seus ideais abertamente revolucionários...enfim..os tempos eram outros, né “cumpanheros”? Afinal “nós precisávamos chegar ao poder”...
Nessas linhas vou fazer alguns comentários para o “leitor comum” através de uma espécie de conversa..Conversa entre eu e vocês!
Agora vocês já estão “grandinhos”, não estão?? Shanghai não é mais aquela que vocês gostam de lembrar citando “A Condição Humana” (a do André Malraux, pois a de Hannah Arendt duvido que vocês conheçam) Lula se veste com ternos de cinco mil reais e a tia Marilena almoça em restaurantes caros com a Marta Suplicy..enfim..as coisas mudaram..não mudaram?
Quem não mudou, seus picaretas, somos eu e vocês! Nós nos conhecemos bem e vocês não me enganam. Substituíram o discurso tradicional da revolução por uma linguagem relativista. Continuam marxistas, mas agora apresentam-se como aqueles cigarros – com baixos teores – não é?Encantam os estudantes da USP e da UFRGS com esse monte de lixo saído das páginas de Focault, Althusser e Derrida. Jamais foram capazes de oferecer qualquer outra coisa dentro das faculdades de filosofia e história que não fosse esse marxismo requentado..essa confusão de ideias que vê no multiculturalismo, nos movimentos sociais, e nas marchas, a representação perfeita daquilo que vocês chamam de “movimento da história”.
Até quando, seus petralhas, vocês vão continuar aí dentro das universidades brasileiras? Enquanto o PT der dinheiro para vocês?? Vocês, seus mentirosos, não teriam capacidade suficiente para enfrentar um simples médico – que jamais estudou filosofia formalmente – como eu. Imaginem se tivessem que discutir com Olavo de Carvalho, Edgar Morin, Luc Ferry, Roger Scruton..e a turma da pesada..
Vocês, cumpanheros, sabem tão bem quanto eu a importância da relação da Universidade com a classe média. A prova disso é o ataque de nervos que a tia Marilena teve algum tempo atrás, não é?
Que pena! No Brasil marxismo se transformou em religião e as salas de aula de vocês são as novas Igrejas, não são? Rezem bastante, doutores...é só uma questão de tempo para as Novas Igrejas ficarem vazias..

PORTO ALEGRE, 25 de AGOSTO DE 2013

domingo, 18 de agosto de 2013

Oposicao quantica - Milton Simon Pires

OPOSIÇÃO  DA  INCERTEZA -  OS MUDOS E OS CALADOS.

Milton Simon Pires

Uma das coisas mais incríveis, e também divertidas, de se observar cada vez que um de nós (monstros “fascistas”) ousa se insurgir contra o discurso petralha que infecta todo meio intelectual brasileiro é a capacidade desse mesmo meio de fazer algo para nós impossível – a unificação e organização da oposição. Isso mesmo! Chega a ser cômico escrever isso, mas não tenho absolutamente nenhuma dúvida de que a oposição brasileira (que deveria chamar-se oposição.com.br.) só existe quando identificada pelo PT. Ela – a oposição – lembra aquelas aulas de Química do segundo grau em que o professor, explicando Heisenberg e o seu “Princípio da Incerteza”, afirma que determinadas partículas comportam-se de uma maneira que depende de como olhamos para ela. A oposição “existe se o PT olha pra ela. Se ele não olha; ela não existe”...Nasceu no Brasil a “Oposição da Incerteza”...
Começo esse artigo dessa maneira para, mais uma vez, repetir aquilo que venho escrevendo “há séculos” - NÃO EXISTE OPOSIÇÃO AO PT NO BRASIL! A oposição ao PT é aquilo que o próprio PT identifica como oposição, ou seja: qualquer pessoa ou partido político que discorde dele. Existe problema nisso?? É claro que existe! Nada mais perigoso do que deixar o inimigo definir nossas características, estabelecer quais são nossos próprios valores, e situar-nos na própria História – Mao Tse Tung escreveu sobre isso!
Desde Carlos Lacerda até Fernando Henrique Cardoso, o PT usa e abusa de comparações para rotular como oposição tudo que não lhe serve. Ao fazê-lo, toma um cuidado todo especial: não definir em absoluto um conjunto de valores culturais e de comportamento que poderia fornecer à oposição as condições para ela ser exatamente isso: oposição! Não há, vou insistir mais uma vez, política dissociada de cultura. Se aceitarem isso que escrevi como verdade, busquem na sociedade brasileira um conjunto de valores culturais coesos e com representação política organizada e verão que ele não existe. Ninguém, mas absolutamente ninguém mesmo, se opõem organizadamente a ideia de que a Terra está “aquecendo”, que o “SUS é o sistema de saúde ideal”, e de que a “família com pais homossexuais” pode ser uma alternativa viável. Não estou dizendo, vejam bem, que não existem pessoas que não se oponham a isso que escrevi. Tenho certeza de que elas existem! O que não existe é representação política delas. É uma “vergonha” dizer isso que escrevi acima em qualquer roda de “amigos civilizados” (segundo o conceito de “civilização” petista). Há um constrangimento incrível..um medo de passar-se por “fanático radical”...uma sensação de que vamos ficar “sozinhos” que não permite à absolutamente ninguém expressar divergência do politicamente correto.
Enquanto esse clima de medo..essa sensação de abandono persistir, insisto que não vai haver oposição nem muito menos “direita” alguma no Brasil a não ser quando o próprio PT faz questão de identificar sua existência. Há que se construir, portanto, imediatamente a chamada “cultura de oposição”. Um conjunto de valores e um grupo de pessoas que oponha-se ao PT por princípio; não por conveniência no momento de disputa do governo. Eu já expliquei a diferença entre poder e governo. Não vou voltar ao tema. Recomendo que aqueles que, como eu, querem o fim do PT construam em primeiro lugar uma teoria do poder; só depois pensem em alcançar o governo. Não há, atualmente no Brasil, poder capaz de opor-se ao PT. Isso é verdade desde a década de 1980. Ou entendemos isso; ou estamos perdidos.
Observem que a luta contra os petralhas é de uma desigualdade incrível..A cultura inteira e toda a visão ...toda maneira de entender a realidade está nas mãos deles. A oposição não acaba quando todas as pessoas perdem o direito de resposta. Ela desaparece quando restringe-se a muito poucos a mera capacidade de fazer perguntas! Essa é a diferença fundamental entre a ralé petista e o Regime Militar..Nesse sentido há que se entender a distância gigantesca entre as duas ditaduras....
Os militares calaram uma certa parte do Brasil...O PT deixou o país inteiro mudo...

Porto Alegre, 15 de agosto de 2013.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O surgimento do "individuo minimo": so podia ser no Brasil, claro... - Milton Simon Pires

CULTURA E POLÍTICA - OS INDIVÍDUOS MÍNIMOS
Milton Simon Pires

Eu não conheço, em toda história da Filosofia Política, pensador que não escrevesse, direta ou indiretamente, sobre a questão do “tamanho do Estado”. Entenda-se disso que o que se discute fervorosamente até hoje é o grau de intervenção dele, o Estado, na vida das pessoas. Busca-se saber qual o melhor modelo para garantir determinados direitos, para melhor aplicar impostos ou gerenciar serviços...enfim..a coisa segue por esse lado. Modelos prontos fazem grande sucesso – o Estado “liberal”..o Estado de “bem estar social”...o Estado “Mínimo”..não tem fim o número de adjetivos que se coloca ao lado da palavra ..
Hoje, o objetivo do artigo vai ser o seguinte: discutir que tamanho deve ter o “indivíduo” dentro desse ou desses Estados sobre os quais tanto se escreve. A base da discussão é muito simples – sustento que tanto usando de métodos de coerção próprios do Totalitarismo quanto garantindo o bem estar social, o efeito final sobre o indivíduo foi sempre o mesmo – a sua atomização, a sua abdicação da capacidade de pensar e sua confiança cega na garantia da democracia fornecida pela velocidade das comunicações e pela apologia da sociedade tecnológica. Nada disso, meus amigos, poderia ser mais falso! Integrado por uma grande rede mundial de computadores, compartilhando informações nas redes sociais ou trocando e-mails, homem algum dispõem hoje do pré-requisito básico para atividade a filosófica – tempo para o recolhimento..
Não se consegue mais “processar sozinho” informação alguma. Necessita-se desesperadamente de informações “prontas”...de notícias “mastigadas” e classificadas em algum modelo prévio devidamente ajustado para provocar um determinado tipo de resposta emocional que vai pautar todas as nossas conclusões. Fazer, na prática, oposição política aos governos das democracias ocidentais torna-se cada vez mais difícil por que estes mesmos regimes apresentam-se como um caleidoscópio em que a velocidade e a contradição das suas medidas administrativas dão a impressão de serem eles mesmos governo e oposição ao mesmo tempo!
Nessas linhas, quero sustentar que essa crise da capacidade de fazer política, que essa perda da noção de uma cidadania que não dependa de militância partidária é reflexo de um gigantesco declínio da cultura. A ideia não tem absolutamente nada de original. Muita gente escreveu mais, e melhor do que eu, sobre isso. Aqui o recado é muito mais simples – desafio alguém a me provar que existe independência entre política e cultura. Quero que alguém me mostre que, terminadas todas as diferenças culturais, ainda possa existir oposição política seja lá ao que for.
Posso eu, realmente, descer com um i-phone na mão e falando inglês no aeroporto internacional de Shanghai fazer oposição ao governo chinês? A China, o Oriente Médio, a África, são realmente “outro mundo” para um ocidental como eu nos dias de hoje?? Faz sentido falar em cultura ocidental ainda??
Percebam vocês que se tenho dúvidas com relação aos exemplos que dei acima, e que não envolvem aquilo que chamo de “Ocidente”, com relação ao Brasil já não tenho mais esse problema – aqui vivemos numa ditadura. A oposição acabou há “séculos” por que a cultura é uma só! Ou constrói-se a partir da classe média brasileira uma nova maneira de ver o país que não se fundamente no relativismo e naquilo que chamei de “obsessão pelo consenso” ou não há, absolutamente, nenhuma chance de opor-se à coisa alguma. Vejam bem o que escrevi – não vai haver mais oposição à NADA ! Não estou escrevendo sobre o PT, sobre o Mensalão, luta de classes ou seja lá o que for que essa gente vem fazendo com o Brasil desde 2003. Digo que: ou o país passa a acreditar que existem pessoas que são “diferentes” e “melhor preparadas” para governá-lo (seja lá quem forem); ou nós vamos passar a viver uma Ditadura Eterna – a Ditadura dos Medíocres. O próprio fim do conceito de “mediocridade” é que vai permitir que isso seja possível. Não interessa se alguém tem pós-doutorado e ganha 20 mil reais por mês ou se só tem o primeiro grau e recebe 700 reais para limpar a rua..Os dois vão encher o cabelo de gel, colocar correntes douradas no pescoço e escutar Valesca Popozuda no i-phone! É isso que, ao meu ver, está se aproximando e ninguém, ou quase ninguém, percebe!
O fim da cultura representa muito claramente o fim da atividade política..e, independentemente do tamanho do Estado, anuncia o nascimento de um Indivíduo Mínimo..
PORTO ALEGRE, 12 DE AGOSTO DE 2013. 

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Importando um pouco de vergonha na cara? - Milton Simon Pires

A PRÓPRIA SEM-VERGONHICE

Milton Simon Pires

Hoje tive uma idéia - a de importar vergonha. Sim! Por que não? Importamos tanta coisa: bugigangas chinesas, música pop americana de quinta categoria, roupas que não fariam sucesso nem usadas por Salvador Dali..médicos..Qual o problema em importar vergonha? A vergonha poderia ser enviada de países como a Alemanha ou Japão - que depois de destruídos tornaram-se potências mundiais..poderia vir da Escandinávia, região do mundo que transformou um freezer num paraíso de bem estar social ou de Israel, que fez um deserto infernal parecer um jardim..Não faltariam exportadores de vergonha pra gente, né? Chegando aqui, grandes carregamentos de vergonha bruta poderiam ser usados de cara na saúde, educação e segurança..Vergonha "refinada" e de alta qualidade poderia ser aplicada nas artes e na Universidade Brasileira e por aí vai..nossa demanda é alta!
Depois de ter tido essa idéia, me dei conta de uma coisa..Quem está "sem vergonha" há muito tempo pode acabar esquecendo como usá-la. Imagino que alguns técnicos estrangeiros teriam que chegar juntos com os primeiros carregamentos..Outra coisa que é fato, e que também ocorre com quem está sem comida cronicamente, é que a vergonha deve ser administrada aos poucos para não provocar intoxicações como as que ocorreram com pessoas dos campos de concentração depois que começaram a comer novamente. Sem dúvida nenhuma, deve-se administrar vergonha de maneira endovenosa principalmente na Justiça do país importador..Não se pode fazer um país ficar "impregnado" de vergonha sem primeiro lidar com essa área da sociedade. Um país com uma justiça míope, paraplégica e demencial (quando lhe convém) precisa repor seu nível de vergonha no sangue de forma urgente! Deixo aqui um exemplo - quando o supremo tribunal de uma nação condena por corrupção, e em instância máxima, um grupo de seus mais poderosos mandatários, níveis adequados de vergonha garantem que a sentença seja cumprida imediatamente. Casos em que presidentes desse país sustentam amantes com dinheiro público também podem evoluir melhor caso a concentração corporal de "vergonha na cara" seja normal.
Embora não existam muitos casos de importação de vergonha relatados na literatura, uma coisa a ciência já estabeleceu: não esperem que sobreviva e alcance a longevidade um país sem vergonha nenhuma..Toda história da humanidade é rica em mostrar que quando uma nação não respeita a si mesma, ela vês seus médicos como "ricos com nojo pobre", seus policiais "como corruptos" e seus professores como "eternos grevistas"..Sabe-se também que sentir vergonha é, do ponto de vista psicológico, em certo aspecto muito parecido com deprimir-se pois tanto da vergonha quanto da tristeza brotam, para quem não se considera "abençoado por Deus e bonito por natureza”, a vontade de redimir-se..a capacidade de reerguer-se e o dom de novamente impor-se como tem direito os homens e os países de bem. Duvido muito que um país que é sinônimo de "alegria"..de homens que são lembrados como "bons de bola" e de mulheres que se apresentam ao mundo como "fáceis" tenha um dia vergonha na cara e explico o porquê: outros povos do mundo também podem ser  assim, mas só nós nos "orgulhamos" disso..só nós celebramos a nossa falta de vergonha..só nós rimos da nossa própria ignorância e aplaudimos nossa falta de educação características do "parabéns a você" cantado aos berros dentro de qualquer churrascaria carioca. Os “intelectuais do CNPQ do B” - vão chamar esse meu texto de “complexo de vira-latas”..Adoro essa expressão! Ela é própria da  “marxinálise” - ciência brasileira que mistura marxismo + psicanálise numa fórmula em que não existe vergonha no mundo inteiro que sirva como antídoto..rss..rss
Termino esse artigo meio triste..achei que faltava aos brasileiros vergonha na cara e me enganei; nossa falta é de humildade...Humildade necessária para perceber a própria sem-vergonhice!

Porto Alegre, 24 de julho de 2013 AVC (antes da vinda dos cubanos) 

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Povildo, o leao vegetariano do Brasil atual - Milton Simon Pires

 Povildo – leão vegetariano que tornou-se o mascote da LBB
 Milton Simon Pires
Porto Alegre, 28/06/2013

Parabéns a todos os brasileiros membros da LBB – a Legião Brasileira de Bobalhões. Mais uma conquista alcançada em 2013 agora nos orgulha perante o resto do mundo..Temos a “festa da democracia com voto obrigatório,” temos “a greve sem prejuízo da população” e finalmente conquistamos a “manifestação de protesto sem violência”. Essas linhas vão ser sobre isso, meus amigos, mas sem esquecer as homenagens tradicionais aos expoentes da “Unidiversidade” Pública Brasileira – uma instituição onde a única coisa que se ensina é “que todos tem o direito de entrar nela.” Aproveito também a oportunidade para apresentar aos leitores o mascote da LBB – Povildo, o leão vegetariano. Peço que seja tratado com todo respeito e informo que ele porta o lema da instituição – “Mais importante do que acreditar em alguma coisa é não ter preconceito contra todas as outras”.
Povildo, o nosso leãozinho foi trazido para o Brasil depois de uma visita que Paulo Freire fez à África por ocasião de uma conferência intitulada “Agressão física ao professor brasileiro como direito do estudante oprimido”. Ainda filhote, nosso mascote foi amamentado no seio com leite da própria professora Marilena Chauí e cresceu feliz lendo Luiz Fernando Veríssimo enquanto escutava Chico Buarque..Na adolescência foi trazido aqui para Porto Alegre e encantou os estudantes das Faculdades de Filosofia e História da UFRGS. Deixou na época, através de seu estilo predileto, que são os aforismas, grandes lições. Disse ele que “o importante é o principal; todo o resto é secundário” e causou alguma polêmica afirmando que “os resultados são indissociáveis do processo que a eles  conduzem”. Nem tudo foram flores na vida de Povildo – vítima de uma profunda crise religiosa ele chegou à conclusão definitiva de que o importante é ir à Igreja Católica aos domingos, frequentar a Universal na quarta, e visitar o terreiro da Mãe Joana na sexta-feira sempre,  é claro, mantendo amizade com seus amigos ateus e trocando e-mails até hoje com os satanistas. Em 1989 Povildo foi visto aqui na cidade usando algumas pedras do Muro de Berlin para fazer reparos na Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Sumiu de vista durante algum tempo até ser fotografado uma vez com o jogador Edmundo, quando esse dizia-se preocupado com a violência no futebol, e com Axl Rose quando esse afirmou estar preocupado com as letras agressivas no rock de Los Angeles.
Povildo, para que não conhece, é um animal tranquilo...Nunca se acorda antes da 11 da manhã e independentemente da casa em que se encontre, seu dono sempre lhe entrega a Folha de São Paulo para que seja interpretada e lida em voz alta pelo nosso leão. Costuma comer alface e tomar sempre água mineral francesa nas refeições enquanto escuta Ênia como trilha sonora de fundo e passa os olhos despreocupados sobre o último livro de Paulo Coelho. Uma das poucas peculiaridades que tem é que, quando doente, não se sabe bem por que, torna-se feroz se for levado ao SUS e já se mostrou agressivo perto de escolas públicas e paradas de ônibus. O fenômeno recente mais interessante na vida do leão aconteceu em outubro de 2012 quando cerca de 190 milhões de brasileiros pararam de fazer absolutamente qualquer coisa que estivessem fazendo para ver o que aconteceria com “Carminha” no final de “Avenida Brasil”. Muitos amigos meus informaram ter visto Povildo rondando suas casas naquela noite e até hoje a questão gera lendas urbanas..depois disso o bicho desapareceuoutra vez até que agora, em junho de 2013,  escutou-se um rugido fenomenal que “acordou o país inteiro”..era Povildo indignado porque sua salada de alface estava mal temperada e a água mineral que lhe serviram não estava na temperatura correta...

Dedicado à Laura, minha filha de 4 aninhos...

Porto Alegre, 27 de junho de 2013.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Sobre os protestos, uma opiniao corajosa - Milton Pires

17 de junho – Ilusão de Fazer História 

Milton  Simon Pires

Impressionante...mudo de canal, de página na internet, leio outro blog, escuto outra estação de rádio e, invariavelmente,  alguém diz que aquilo que aconteceu no Brasil ontem “foi um recado para os políticos”. Não faltam, inclusive, saudosistas que comparam os distúrbios de 17 de junho com o movimento pelas “Diretas Já” nos anos 80 ou os “Carapintadas”, nos anos 90. Eu estava nos dois processos e afirmo a vocês – não existe absolutamente NADA em comum entre eles e o Passe Livre. Não foi um ato original, não foi democrático, e não foi legítimo.
Não sei quanto tempo vai demorar para que as pessoas no Brasil entendam que o PT não é um partido  político, mas sim uma organização revolucionaria e criminosa como várias vezes já escrevi. Fosse ele um partido como outro qualquer e seria lógico pensar que, uma vez no governo, uma manifestação como a de ontem representasse um ato da oposição.
Mais de uma vez eu já disse que não há oposição no Brasil. As pessoas não entendem que o PT é governo e oposição ao mesmo tempo. O que o país viu ontem foi uma parte do PT, a majoritária, enfurecida com Dilma Roussef ter permitido que a Ação Penal 470 fosse até o fim. A estratégia desse grupo é impedir, ou tornar um fracasso, a Copa do Mundo no Brasil de maneira que a reeleição da presidente seja impossível. É isso, e somente isso, que pode livrar a ralé de Ribeirão Preto da cadeia que lhe espera e Lula de uma série de complicações com a justiça por causa de sua amante.
Sinto uma pena muito grande de ver tantos estudantes, tantas pessoas de bem participando de atos que terminam em vandalismo e confronto com a polícia. É triste ver que essas pessoas não percebem que estão sendo usadas com pretexto de valor da passagem, gastos com estádios da Copa ou seja lá o que for...Quanta ingenuidade, quanta vontade de “fazer história” se comparando com os manifestantes do passado, hein? Que dificuldade, para aqueles que estavam na passeata, cantar músicas do Chico, do Caetano ou do Geraldo Vandré..Foi há muito tempo e os meninos de ontem ainda não tinham nascido, né petralhas? Se pedirem para mim, eu canto a versão que vocês merecem ouvir..
Essa sensação de que o “Brasil despertou”...que “ninguém segura esse gigante”..que “agora é a vez do povo”, muito longe de enfraquecer os petralhas serve para fortalecê-los. Não se enganem, meus amigos, com a natureza do Partido-Religião. O PT rasteja na lama...ele sobrevive do esgoto da cultura, alimenta-se do ódio de classes, cresce com a violência popular e torna-se mais forte a cada escândalo. Dilma Roussef traiu pessoas que ontem provavelmente estavam tomando vinho chileno e escutando Chico Buarque baixinho enquanto assistiam numa grande TV tela plana, e numa sala enorme com ar condicionado central, os adolescentes com camisa no rosto apanharem da polícia (com toda razão) nas ruas do Brasil..O Partido-Religião nasceu da reunião dessas criaturas com o submundo do crime do sindicalismo do ABC. Depois foi amamentado aqui em Porto Alegre – RS.
Apreendam de uma vez por todas – não se faz greve, ou movimentos, ou passeatas populares abertamente contra o governo do PT. Foram canalhas que estão prestes a ir para cadeia que introduziram esse conceito no Brasil. É como entrar num ringue com um campeão do UFC – a derrota é certa.
O que vimos ontem pela TV, que deixou tanta gente em choque, que fez jornalistas pensarem que era o “povo insatisfeito com os rumos do Brasil” foi só uma parte do PT brigando com ele mesmo.
Insisto – não há oposição alguma no Brasil. Não há outro partido político a ser levado a sério em termos de plano de poder além do PT. Colocando em termos religiosos – na Idade Média costumava-se dizer que “fora da Igreja não há salvação”. Eu afirmo a vocês – Fora do PT não há oposição.
Tudo, absolutamente tudo, que está acontecendo destina-se a colocar novamente no poder o Grande Alcoólatra e a turma de Ribeirão de Preto em 2014. Lamento informar aos mais jovens que pensam que estão mudando o Brasil como, de fato, aconteceu nas Diretas Já e no Fora Collor – lamentavelmente,  não é a mesma coisa...é só a ilusão de “fazer história”.


Porto Alegre, 18 de junho de 2013.