O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador Oliver Stuenkel. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Oliver Stuenkel. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Politica externa brasileira se tornou altamente imprevisivel - Oliver Stuenkel (DW)

 "Com Bolsonaro, política externa se tornou uma caixa de surpresas"

Entrevista com Oliver Stuenkel por Fernando Caulyt

Deutsche Wellle, 1/07/2019


Em seis meses, governo Bolsonaro provocou ruptura na política externa, marcada por distanciamento do multilateralismo e imprevisibilidade. Mudança gerou preocupação na comunidade internacional, avalia cientista político.

Jair Bolsonaro completa seis meses na Presidência do Brasil nesta segunda-feira (01/07) e, até agora, sua política externa pode ser caracterizada pela maior ruptura vista na política externa brasileira nos últimos cem anos, avalia Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Em entrevista à DW Brasil, Stuenkel destaca que o país abandonou uma postura voltada para o multilateralismo e passou a adotar uma política externa altamente imprevisível.

"Há uma incerteza em relação a o que o Brasil pensa quanto à China, Mercosul e Oriente Médio, gerando uma grande preocupação da comunidade internacional", afirma.

Para o cientista político, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, é "um ministro extremamente fraco, mas mantém sua capacidade de fazer declarações absurdas e causar danos". "Parece-me bastante provável que o país continue passando vergonha com frequência nos próximos anos", comenta.

- DW Brasil: Como você avalia os seis primeiros meses de Bolsonaro em relação à política externa?
- Oliver Stuenkel: Nós vimos uma grande ruptura na política externa. Ela mudou em duas dimensões: o posicionamento externo do Brasil se alterou totalmente, o país deixou de enfatizar o multilateralismo como estratégia preferida da sua política externa e se alinhou mais a países que têm um profundo ceticismo quanto ao sistema multilateral. Assim, o Brasil faz uma rejeição mais ampla ao multilateralismo e tem posturas que colocam o país como parte do campo antiglobalista. Eu diria que é a mudança mais profunda na política externa em pelo menos cem anos.

A segunda grande mudança é que a política externa se tornou altamente imprevisível. Antes, havia uma previsibilidade sobre o comportamento brasileiro no palco internacional. E, agora, em função da briga constante entre três grupos [os militares, os "olavistas" e os tecnocratas], a política externa se tornou uma caixa de surpresas – e isso, no âmbito internacional, reduz muito a capacidade brasileira de assumir liderança e de influenciar outros países. Pouco indica que isso mudará ao longo dos próximos anos. Além da mudança de posicionamentos, há uma incerteza em relação a o que o Brasil pensa quanto à China, Mercosul e Oriente Médio, gerando uma grande preocupação da comunidade internacional em relação ao papel e à estratégia brasileira.

- Mas o Brasil sempre se beneficiou do sistema multilateral.
- Toda a lógica da política externa brasileira se baseia na crença de que um sistema multilateral forte é benéfico para o Brasil, porque o multilateralismo, de certa maneira, ajuda a mitigar o impacto da geopolítica. É consenso também que o Brasil tem sido, ao longo das últimas décadas, o país que mais se beneficiou desta ordem multilateral, porque é uma nação que tem forte influência nestas instituições, que conhece muito bem suas regras e sabe interpretá-las para aumentar sua influência. E Bolsonaro iniciou um processo para combater justamente este sistema que beneficiou tanto o país, e este governo não apresentou ainda uma resposta crível às suas alegações de que o globalismo limita a autonomia do Brasil, apesar de Brasília ter uma grande capacidade de influenciar as regras do jogo.

- Quais são as consequências dessa falta de rumo na política externa para a região e a comunidade internacional?
- Fica evidente que é cada vez mais difícil contar com o Brasil, porque, como o posicionamento brasileiro não está totalmente claro e nunca se sabe qual grupo interno irá se impor, Brasília é chamada cada vez menos para iniciativas. Um exemplo recente é a lançada pela Alemanha e pela França em defesa do multilateralismo, à qual foram chamados países como Argentina, Austrália, Canadá e Coreia do Sul – quer dizer, potências médias que têm interesse em defender o multilateralismo. O Brasil não foi chamado, e isso é inédito. Brasília participará menos de novas iniciativas, porque até mesmo países antiglobalistas, como os EUA, têm dúvidas sobre a capacidade de Bolsonaro implementar políticas de maneira coerente no âmbito externo.

Os seis primeiros meses do governo foram caracterizados por declarações polêmicas – como a de que o nazismo foi de esquerda – e manobras para cumprir parcialmente promessas eleitorais, como a abertura de um escritório comercial em Jerusalém em vez da transferência da embaixada brasileira para a cidade.

Essas afirmações mostram que, além do radicalismo do governo, há também claramente uma falta de preparo. Isso aumenta a frequência de gafes e erros crassos na política externa, como viajar para um país e articular uma preferência clara em relação à política interna dessas nações, como foi o caso da Argentina e EUA. Não há problema nenhum em ter uma preferência, mas articular de uma maneira tão explícita gera um problema quando esse seu lado preferido perde a próxima eleição. E isso afeta negativamente a relação bilateral. Nós vemos uma acumulação de erros desnecessários que não são posicionamentos que geram algum valor para o Brasil. A solução seria colocar um chanceler experiente que possa controlar o presidente, mas acho pouco provável que isso aconteça. Então me parece bastante provável que o país continue passando vergonha com frequência nos próximos anos.

- Como você avalia a atuação do chanceler Ernesto Araújo?
- Ele simboliza a ruptura radical que muitos eleitores desejaram ao votar em Bolsonaro. O chanceler articula essa "mudança de verdade" com uma postura que gera muita tensão interna e dificuldades de o Brasil fazer cooperação com outros países. A grande maioria do Itamaraty discorda dos posicionamentos dele, e isso afeta gravemente a reputação do país no exterior. Ele tem concorrentes dentro do próprio grupo político [dos antiglobalistas], e os interlocutores dele têm muitas dúvidas sobre o poder que ele tem de verdade, o que é péssimo para um chanceler. Ele é um ministro extremamente fraco, mas mantém sua capacidade de fazer declarações absurdas e causar danos.

- Como você vê as alianças de Bolsonaro com ultranacionalistas como Donald Trump e Viktor Orbán, e a postura do brasileiro de contrariar parceiros de longa data no Oriente Médio ao se aliar com Israel?
-
De certa maneira, essas alianças deixam muito claro para onde esse governo quer ir e facilitam o entendimento da comunidade internacional sobre quais são as intenções de Brasília. Porém, isso causa problemas para o interesse nacional brasileiro, porque esses países, do ponto de vista econômico, agregam muito pouco: o valor do comércio do país com Israel, Polônia, Hungria e Itália é relativamente pequeno. Por isso que existe aí uma preocupação profunda entre representantes da economia brasileira sobre o possível impacto negativo que essas mudanças podem ter para a economia do país.

- Berlim e Brasília têm uma parceria estratégica desde 2002, mas ela esfriou principalmente após as turbulências do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Antes da reunião do G20 da semana passada, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e Bolsonaro trocaram farpas. Como você vê o futuro da relação entre os dois países?
- O espaço para a cooperação bilateral diminuiu bastante, porque em várias áreas importantes, como mudança climática e multilateralismo, o Brasil mudou radicalmente de direção. O ministro do Exterior alemão, Heiko Maas, esteve neste ano no país para avaliar como é possível continuar com essa parceria estratégica, mas certamente será necessário adaptá-la às novas circunstâncias e ser muito mais modesto a possíveis resultados.

- Como você avalia o alinhamento do Brasil com os EUA? Até agora, quais foram os ganhos para Brasília?
- Houve ganhos pontuais, ou seja, o Brasil faz parte agora dos países aliados fora da Otan, o que facilita a cooperação militar. Mas com as duas questões fundamentais que Washington quer de Brasília, que são o apoio para resolver a crise na Venezuela e a ajuda para limitar a influência chinesa na América Latina, o Brasil não conseguirá contribuir. Em função disso, parece-me que a relação dificilmente se aprofundará da maneira que o governo brasileiro espera.

- Como você vê o futuro das relações do Brasil com a China e com a Europa?
- No momento há algo interessante acontecendo: uma parte do governo quer se aproximar dos EUA e, a outra, manter os laços com a China. Em breve, o Brasil terá que tomar decisões muito importantes que dificultam uma estratégia de ficar bem com os dois lados: a primeira é se Brasília fará parte ou não da iniciativa "One Belt One Road". Washington quer que o Brasil não participe; já a China, obviamente, tem a expectativa de que isso ocorra. A segunda questão é em relação ao 5G: os EUA pressionam para que o Brasil possa banir a Huawei, e grande parte dos técnicos quer que a empresa participe da construção da rede brasileira.

Em relação à União Europeia, a relação vai se aprofundar devido ao fechamento do acordo de livre-comércio com o Mercosul. Mas sempre há a ressalva de que os líderes europeus têm plena consciência da hostilidade do governo brasileiro em relação ao projeto europeu, e isso, fora o âmbito comercial, vai limitar qualquer tipo de cooperação.

- O governo Bolsonaro reduziu o papel político do país no Mercosul e na crise da Venezuela. Quais são as consequências de Brasília com menos influência regional para o futuro da região?
- O Brasil não tem uma estratégia clara nem para o Mercosul nem para a América do Sul. Em função disso, a região não sabe como responder à postura brasileira, e há um vácuo de liderança na América do Sul. Isso é agravado pelo fato de o Brasil ter que encarar muitos desafios internos e ter muita dificuldade de governar. Isso significa que nenhum projeto regional irá avançar nos próximos anos, e a região continuará à deriva, sem um plano brasileiro crível para resolver a crise da Venezuela ou, pelo menos, exercer uma influência positiva naquele país.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Oliver Stuenkel: política externa de Bolsonaro provoca incertezas na AmSul

Como a política externa caótica de Bolsonaro preocupa o resto da América do Sul

Diplomatas na região começaram a considerar o Brasil uma fonte de instabilidade

Oliver Stuenkel, da Americas Quarterly
25/06/2019 - 09:51 / Atualizado em 25/06/2019 - 13:51
O presidente Jair Bolsonaro Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
O presidente Jair Bolsonaro Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
Quando se trata de política externa, as ideias controversas do presidente Jair Bolsonaro e de seus conselheiros mais próximos, como os  riscos do “globalismo”, o ceticismo em relação a instituições multilaterais como as Nações Unidas e a convicção de que o aquecimento global não passa de um complô marxista, já deixavam apreensivos muitos diplomatas da região. Ademais, simplesmente transparecer qualquer possibilidade de apoio brasileiro a uma intervenção militar americana na Venezuela já disparou os alarmes dos Ministérios de Relações Exteriores  dos países vizinhos.
O que mais preocupa os diplomatas da América do Sul, no entanto, não são as ideias de Bolsonaro em si, mas o fato de que a política externa brasileira — e a diplomacia presidencial em particular — se tornou imprevisível. Há um consenso crescente, de Bogotá a Santiago, de que as decisões de Brasília são produto de disputas internas de poder em vez de cálculos estratégicos — uma situação preocupante para os latino-americanos, tendo em vista que a participação ativa do Brasil é crucial para o avanço de qualquer iniciativa na região.
Prestes a completar seis meses no cargo, o atual governante brasileiro parece não ter diretrizes claras quanto ao Mercosul, um diplomata uruguaio  declarou em off: com exceção de ocasionais dicas de Guedes que o Brasil está incomodado com o statu quo . A visita recente de Bolsonaro a Buenos Aires pareceu resumir a falta de coerência que se tornou a marca registrada das relações externas do Brasil desde janeiro. A visita aconteceu após uma série de gestos de desprezo à Argentina , algo sem precedentes desde a redemocratização da década de 1980: a primeira visita internacional de Bolsonaro foi a Santiago, não Buenos Aires, como era tradição na diplomacia brasileira .
Ainda assim, quando finalmente visitou a Argentina, o volátil presidente se mostrou subitamente animado com a ideia de uma moeda única entre os dois países , um projeto que, no cenário mais otimista, levaria décadas para ser implementado e exigiria um compromisso extremo de integração regional. Sem titubear, Bolsonaro pareceu apoiar uma integração no estilo da União Europeia,  ideia que vai  de encontro a tudo que seus conselheiros antiglobalistas mais próximos acreditam ser necessário para preservar a soberania e a autonomia do Brasil. Semanas antes, o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, um  propagador de teorias conspiratórias, declarou publicamente que torcia pelo Brexit e pelo êxito dos candidatos nacionalistas de direita nas eleições do Parlamento Europeu.
“É difícil levar tudo isso a sério”, afirmou um cientista político argentino enquanto Bolsonaro embarcava de volta para Brasília.
Países de menor porte, como o Uruguai, estão sem saber como reagir ao que fica cada vez mais aparente: Bolsonaro e Araújo carecem de qualquer tipo de visão coerente sobre o que eles esperam ver na região — além do desejo de que partidos de direita vençam as eleições pelo continente. Mas ao repetidamente alertar os argentinos sobre os perigos do retorno ao poder do movimento da ex-presidente Cristina Kirchner nas eleições de outubro, Bolsonaro cometeu um erro de principiante. Não só sua retórica foi de pouca ajuda para o presidente Macri — cujas esperanças de reeleição dependem de sua habilidade em atrair eleitores moderados, que veem Bolsonaro com maus olhos — como também pode criar um problema para o Brasil caso o kirchnerismo retorne de fato, afetando negativamente a mais importante relação bilateral na América do Sul. Enquanto os interesses em integração regional forem baseados em alinhamentos ideológicos temporários, não há muita esperança para um debate construtivo de longo prazo sobre o futuro da região.
Outra mudança de diretriz de último minuto pegou de surpresa até membros da alta cúpula do governo brasileiro. Bolsonaro reconheceu formalmente María Belandria, enviada da oposição venezuelana, como embaixadora no Brasil, após se recusar a fazê-lo dias antes. A decisão foi uma derrota para a ala militar de seu governo, que já o tinha convencido contra a decisão. Os conselheiros militares de Bolsonaro argumentaram que reconhecer formalmente Belandria era uma provocação desnecessária, que poderia atrapalhar as tentativas do país de normalizar a situação na fronteira reaberta havia poucos dias, após meses fechada. A mudança abrupta aumentou as preocupações de governos da região sobre a previsibilidade da política externa de Bolsonaro — e como um diplomata europeu delicadamente comentou, Bolsonaro era um “parceiro difícil”.
A economia  cambaleante do Brasil e sua instabilidade política devem aumentar as chances de que 2019 seja um ano perdido para a política externa do país, já que reduzem a capacidade do governo de articular e implementar um projeto internacional coeso. Um olhar sobre a política externa do Brasil desde a redemocratização sugere que ativismo internacional só é possível se as coisas estiverem em ordem dentro de casa — como foi o caso (com alguns tropeços) entre 1995 e 2013. Só quando a hiperinflação foi superada o presidente Fernando Henrique Cardoso teve tempo e credibilidade para desenhar uma estratégia internacional, e o Brasil se manteve como um ator importante por quase duas décadas. Ainda assim, desde os protestos de 2013, nenhum presidente brasileiro teve tranquilidade e aprovação popular para ter impacto no exterior, com efeitos na vizinhança.
Muitos fatos sugerem que, em 2019 — e possivelmente depois —, Bolsonaro estará  bastante ocupado com desafios domésticos para seguir com seu ativismo na política externa. Nesse sentido, a política brasileira é diferente da americana, em que presidentes impopulares às vezes reforçam seu ativismo externo, haja vista o fato de a política exterior ser a única área  onde podem atuar livremente. A política externa brasileira, em contraste, só é significativa quando os presidentes são populares internamente, o que não parece ser o caso de Bolsonaro. As consequências são graves. Um Brasil com o olhar voltado para dentro deve limitar drasticamente a capacidade de a América do Sul articular e implementar uma estratégia clara para seus muitos desafios em comum e lidar em conjunto com um cenário político global cada vez mais imprevisível.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Mourão entra em campo contra os antiglobalistas - Oliver Stuenkel (El País)

Mourão entra em campo contra os antiglobalistas

Vice-presidente, chamado informalmente de "o adulto na sala" por diplomatas estrangeiros, é visto como âncora de estabilidade de um Governo cuja atuação externa é volátil e confusa


O vice-Presidente, Hamilton Mourão, durante audiência com empresários em 6 de fevereiro.
O vice-Presidente, Hamilton Mourão, durante audiência com empresários em 6 de fevereiro.  VPR

Fica cada vez mais evidente que a estratégia da política externa brasileira, articulada pelo chanceler Ernesto Araújo, o presidente Bolsonaro e seu filho Eduardo, está deixando inseguros investidores internacionais e outros governos. Araújo é visto como ideológico demais (algo que os investidores sempre temem, não importa se a ideologia é de esquerda ou de direita). Já Eduardo, que atua como um ministro das Relações Exteriores informal, passa a imagem de ignorante e muito radical para inspirar confiança no exterior, mesmo por parte de funcionários do governo dos EUA, que veem com bons olhos o Governo Bolsonaro. O péssimo discurso de Bolsonaro em Davos pareceu resumir a atuação da turma antiglobalista até agora, desapontando investidores que tinham aguardado uma fala mais séria  e que, de certa maneira, estavam torcendo para o novo presidente.
"Ainda bem que eles têm Mourão" é um comentário que se ouve com cada vez mais frequência no exterior. De fato, o general da reserva e vice-presidente é agora visto pela comunidade internacional como a âncora de um navio que, sem ele, estaria à deriva no que diz respeito à estratégia internacional.
Mourão difere do resto da equipe de política externa de Bolsonaro em estilo e substância. Enquanto os outros atores do governo são conhecidos por sua retórica estridente e agressiva, Mourão é moderado e calmo. Em uma entrevista recente, o vice-presidente não se esquivou de responder perguntas difíceis  ao contrário de seu chefe, que frequentemente ataca jornalistas quando estes discordam dele. Mourão chamou a atenção no exterior quando, em entrevista a uma repórter espanhola e a um brasileiro, respondeu as perguntas em espanhol fluente, o qual aprendeu como adido militar em Caracas.
Quando se trata de conteúdo, Mourão resiste sabiamente às ideias mais radicais e mal concebidas dos antiglobalistas, como transferir a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, deixar o Acordo de Paris sobre mudança climática, abrigar uma base militar dos EUA e, a mais perigosa de todas, adotar tom agressivo em relação à China. Não é coincidência que um número crescente de embaixadores esteja procurando Mourão, o qual  eles esperam  continuará a impedir Bolsonaro de cometer graves erros políticos no âmbito externo. Nenhum vice-presidente na história recente foi tão necessário para a estabilidade da política externa do Brasil, já nas primeiras semanas de Governo, quanto Hamilton Mourão.
Ainda assim, previsivelmente, o papel estabilizador do vice-presidente na política externa do Brasil lhe rendeu a ira dos radicais (inclusive Olavo de Carvalho e Steve Bannon, dos EUA). A questão-chave é: até que ponto Mourão será capaz de vetar todas as ideias esdrúxulas que certamente ainda virão da ala antiglobalista do governo?
A verdade é que, idealmente, Mourão não deve ser apenas bombeiro-chefe e jogar na defesa para proteger a política externa brasileira de erros graves. Também tem potencial para adotar um papel mais ativo e propor novas iniciativas no âmbito externo. Três em particular vêm à mente.
Primeiro, Mourão seria o homem certo para liderar a posição do Brasil em relação à Venezuela, maior desafio em curto e médio prazos na política externa hoje. De longe a pessoa mais bem informada no gabinete sobre o assunto, Mourão também tem a vantagem de ser um militar, capaz, portanto, de lidar com a instituição que determinará o futuro do país vizinho: as Forças Armadas. Isso envolveria a articulação da resposta complexa à crise migratória venezuelana em todo o continente. Mourão poderia, ainda, convocar uma cúpula regional para discutir o assunto e decidir como coordenar conjuntamente o registro, a distribuição e a integração dos migrantes venezuelanos. Juntamente com outros países da região, ele também poderia organizar a criação de um fundo para compensar os países mais afetados pela crise migratória, como Colômbia, Equador e Peru. Além disso, coordenaria, com a Colômbia e outros, o envio de ajuda médica e humanitária à Venezuela, assim que o Governo Maduro  ou qualquer governo sucessor  o permitir.
Em segundo lugar, como projeto de médio prazo, Mourão poderia liderar um processo de aprofundamento da cooperação entre as Forças Armadas na América do Sul, dando continuidade a um movimento deflagrado por Nelson Jobim, ministro da Defesa de Lula. Isso poderia funcionar por meio de uma instituição existente, como o Conselho de Defesa Sul-Americano, e deveria envolver, entre outras iniciativas, exercícios militares conjuntos, missões para lidar com desastres naturais e participação em missões de paz da ONU. Isso até poderia ajudar a aumentar a pressão sobre suas contrapartes nas Forças Armadas da Venezuela  que perderão muito com uma transição para a democracia, dados os privilégios que acumularam sob Maduro  para permanecerem em seus quartéis independentemente de quem seja o futuro líder. A plataforma revigorada poderia, em futuras crises desse tipo, oferecer aos países vizinhos um canal adicional para o diálogo e a coordenação.
Finalmente, Mourão poderia se tornar responsável pela estratégia do Brasil em relação a Pequim, um tema de extrema relevância para o futuro do Brasil em curto, médio e longo prazos. Isso poderia incluir assumir o portfólio do grupo BRICS, que nem o presidente nem o ministro das Relações Exteriores consideram de grande relevância. Enquanto o presidente Bolsonaro, seu filho e o ministro das Relações Exteriores expressaram, até agora, ideias simplistas e preocupantes sobre a China, Mourão seria capaz de encontrar um meio-termo entre o receio legítimo sobre o que a ascensão chinesa implica e o otimismo quanto às muitas oportunidades na crescente presença do país na América Latina.
A queda de braço entre Hamilton Mourão e os antiglobalistas deverá marcar a estratégia internacional do governo Bolsonaro. Resta saber se Mourão sairá vitorioso e conseguirá salvar a política externa brasileira dos próximos anos.

Oliver Stuenkel é professor adjunto de Relações Internacionais na FGV em São Paulo, onde coordena a Escola de Ciências Sociais em São Paulo e o MBA em Relações Internacionais. Também é non-resident fellow no Global Public Policy Institute (GPPi) em Berlim e membro do Carnegie Rising Democracies Network.

domingo, 7 de outubro de 2018

Brasil vai ter de provar ao mundo que não corre risco de se tornar uma autocracia de direita

A impressão disseminada por intelectuais "progressistas" e por jornais de centro-esquerda, inclusive ajudados continuamente por militantes do partido do prisioneiro, é a de que o Brasil vai mergulhar no terror de um regime fascista se o candidato da direita for eleito, hoje ou no segundo turno.
Acho que eles prestam um desserviço ao Brasil, ao colocar em dúvida a solidez de suas instituições democráticas, e ao disseminar "impressões", ou "hipóteses", apenas com base nas declarações e posturas, sem dúvida assustadoras, emitidas por esse candidato.
Não creio que se deva partir de suposições para ameaçar o Brasil e o mundo com a inauguração de um regime antidemocrático no Brasil, inclusive porque essas são ilações que não terão espaço facilitado para se concretizar.
Isso faz parte justamente do terrorismo eleitoral dos candidatos de esquerda, em especial da organização criminosa que assaltou o Brasil e os brasileiros de 2003 a 2016.
Jornalistas que deixam sua opinião política prevalecer sobre um comentário objetivo da situação eleitoral prestam um desserviço à causa da imprensa.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 7 de outubro de 2018

Mundo olha para Brasil com horror

Há relativo consenso de que a democracia corre risco

Oliver Stuenkel, excelente analista, professor de Relações Internacionais na Fundação Getúlio Vargas, relata, em artigo para Americas Quarterly:
“Em debate em classe, um dos meus alunos notou secamente que os eleitores [brasileiros] teriam que escolher entre o terror e horror”, em referência a um eventual segundo turno entre Jair Bolsonaro  e Fernando Haddad.
É esse, basicamente, o tom que marca o olhar externo sobre o pleito brasileiro, pondo ênfase em Bolsonaro quando se trata de falar de terror.
Já não bastasse a Economist ter levado Bolsonaro à capa, faz duas semanas, com o título “A mais recente ameaça à democracia na América Latina”, vem Le Monde deste sábado com a manchete de capa: “Extrema direita às portas do poder”.
Não preciso dizer que o vespertino francês considera a extrema direita uma ameaça, tanto quanto a Economist.
Rocio Cara Labrador, que cobre América Latina para o Council on Foreign Relations, escreve: “A eleição geral no Brasil será um dos maiores testes para a sua democracia em décadas”.
Em artigo para o Projeto Syndicate, Robert Muggah, cofundador do Instituto Igarapé, belo centro de estudos especializado em segurança, prevê que os conservadores brasileiros farão “um pacto do diabo com o demagogo de extrema direita Jair Bolsonaro”, do que decorreria “pôr em risco o sistema democrático”.
Essa ideia de que a democracia está em risco com a eleição perpassa boa parte das análises externas sobre o pleito brasileiro.
Minha opinião, já manifestada uma e outra vez em colunas anteriores: o risco Bolsonaro já se manifestou, ganhe ou perca a eleição. Quando um terço ou mais dos eleitores se dispõe a votar em um candidato que faz a apologia da tortura, o Brasil retrocede vários passos  na escala civilizatória.
Se a democracia ficará ameaçada, em caso de vitória dele, é questão em aberto. Mas seria um erro eventualmente trágico se os democratas se acomodarem com a pesquisa do Datafolha que mostra recorde de apoio (69%) ao sistema democrático.
O apoio maciço à democracia não deve esconder o fato de que há profunda insatisfação com a maneira como ela está funcionando no Brasil. Numa ponta, há a corrupção tremenda, um vício antigo mas que a Lava Jato trouxe à tona de uma forma estonteante.
Na outra ponta, escreve Roberto Castello Branco, diretor do Centro de Estudos em Crescimento e Desenvolvimento Econômico da FGV, para a revista Inteligência: “O populismo do século 21 acabou por produzir a mais profunda recessão sofrida pela economia brasileira dos últimos 100 anos. A perda de produto real, de 7,2% em 2015-2016, superou a de outras grandes recessões (-3,8% em 1990/1992, -6,3% em 1981-1983 e -5,3% em 1930/1931)”. Corolário inevitável: assustadores 13% de desempregados.
Esse cenário de horror será encarado por um presidente politicamente fraco: é inédito que todos os candidatos à Presidência tenham mais rejeição do que a intenção de voto de cada qual.
Fica claro que vale a frase com que o Projeto Syndicate abre seu conjunto de artigos sobre a eleição: “O futuro do país está em jogo”.
Se o novo presidente, seja qual for, não conseguir puxar o país do poço, poderá afundar e, junto com ele, a democracia.

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Post Western World, de Oliver Stuenkel, em chinês

Não sabia como se escreve o nome do professor Oliver Stuenkel em chinês?
Pois agora já sabe. É só olhar a capa do livro aqui reproduzida...



1. 'Post-Western World' is now available in Chinese, published by Beijing Mediatime
'Post-Western World' in Chinese (中国之治终结西方时代) was launched on October 1st and is now available on amazon.cn, along with the recently launched Chinese version of 'BRICS and the Future of Global Order' (金砖国家与全球秩序的未来), published by Shanghai People's Press. The Chinese version of 'Post-Western World', which includes an extra chapter on China's role in global order, has been reviewed by QiuShi, the political theory magazine published by the Central Party School and the Central Committee of the Communist Party of China (available here) and China Xioakang (available here). Both books will be presented at universities in Beijing, Tianjin, Shanghai and Guangzhou in December.

2. ‘Post-Western World’ reviewed in the New York Review of Books (NYRB)
Andrew J. Nathan of Columbia University reviewed 'Post-Western World' for the New York Review of Books (NYRB), available here. The book has previously been reviewed by International Affairs, Foreign Affairs and Foreign Affairs Latinoamerica. All reviews available hereREAD MORE

3. 'Brazil on the Global Stage: Power, Ideas and the Liberal International Order' reviewed in the Journal of Latin American Studies
Felipe Loureiro, professor at the University of São Paulo (USP), has written a critique in the Journal of Latin American Studies of "Brazil on the Global Stage: Power, Ideas and the Liberal International Order", a volume edited by Matthew M. Taylor and Oliver Stuenkel. READ MORE

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

The Chinese World Order - Andrew J. Nathan (NYRBooks)

The Chinese World Order
Andrew J. Nathan
The New York Review of Books, October 12, 201

The End of the Asian Century: War, Stagnation, and the Risks to the World’s Most Dynamic Region
by Michael R. Auslin
Yale University Press, 279 pp., $30.00

Post-Western World: How Emerging Powers Are Remaking Global Order
by Oliver Stuenkel
Polity, 251 pp., $64.95; $22.95 (paper)

Destined for War: Can America and China Escape Thucydides’s Trap?
by Graham Allison
Houghton Mifflin Harcourt, 364 pp., $28.00

Xi Jinping; drawing by Siegfried Woldhek

Ten years ago the journalist James Mann published a book called The China Fantasy, in which he criticized American policymakers for using something he called “the Soothing Scenario” to justify the policy of diplomatic and economic engagement with China. According to this view, China’s exposure to the benefits of globalization would lead the country to embrace democratic institutions and support the American-led world order. Instead, Mann predicted, China would remain an authoritarian country, and its success would encourage other authoritarian regimes to resist pressures to change.1
Mann’s prediction turned out to be true. China took advantage of the growing potential of unrestricted global commerce to emerge as the number one trading nation and the second-largest economy in the world. It is the top trading partner of every other country in Asia, not least because of its crucial position assembling parts that have been produced elsewhere in the region. Sixty-four countries have joined China’s One Belt One Road (OBOR) infrastructure initiative, which was announced in 2013 and consists of ports, railways, roads, and airfields linking China to Southeast Asia, Central Asia, the Middle East, and Europe—a “New Silk Road” that, if it succeeds, will greatly expand China’s economic and diplomatic influence. Twenty-nine heads of state attended Beijing’s OBOR conference in mid-May.
Meanwhile, China has remained an authoritarian, one-party state that is backed by an increasingly powerful military. China’s military budget has risen at the same rate as its GDP for the past quarter-century, from $17 billion in 1990 to $152 billion in 2017—a 900 percent increase. This has allowed China to acquire aircraft carriers, sophisticated missiles, advanced submarines, and cyberwar capabilities that challenge American military dominance in Asia. It has vastly expanded its naval presence in what it calls the “near seas” around its coast, and even into the Pacific and Indian Oceans.
China has attained this new position of power while mostly complying with the rules of the World Trade Organization, which it joined in 2001. Still, in 2016 Western governments found it necessary to renege on a commitment they made when China joined to give it full “market economy status” after fifteen years of membership. This status would have made it harder for other WTO members to sue China for “dumping”—selling products at less than market-price production cost to drive out competitors—but the promise to accord that status had been based on the expectation that China would turn into a Western-style market economy.
That has not happened. Instead, the state has continued to control the Chinese economy in its effort to expand the market share of Chinese enterprises both in China and abroad. Beijing has carried out industrial espionage to acquire advanced Western technology, forced the transfer of technology from Western to Chinese enterprises through joint ventures and merger agreements, and, for a time (although not now), suppressed the exchange value of its currency in order to stimulate exports. Since 2006, Beijing has used various forms of regulation that are not banned by the WTO to make it difficult for foreign businesses to enter and compete in its domestic market, and to give an advantage to Chinese enterprises—especially in cutting-edge fields like semiconductors, advanced manufacturing, and information and communications technology.
China’s increasingly pervasive economic influence has contributed to the populist and antiglobalization movements that are now taking hold in many countries in the West, including in the US with Donald Trump. In a striking reversal, it was Chinese President Xi Jinping rather than a European or American leader who delivered a strong defense of globalization at the January 2017 meeting of the World Economic Forum in Davos.
President Barack Obama sought to strengthen US alliances in Asia in the hope of keeping China’s rise in check. By contrast, President Trump has questioned the value of alliances with Japan and South Korea, withdrawn from the Trans-Pacific Partnership, and for a time put a hold on American Freedom of Navigation Operations (FONOPS) in the South China Sea. At the Mar-a-Lago summit in April, Trump embarrassingly acted like Xi Jinping’s pupil on the question of North Korea’s growing nuclear menace, stating, “After listening [to Xi] for ten minutes, I realized it’s not so easy.” He then cast aside his campaign commitments to raise tariffs on China and challenge China on currency manipulation in what turned out to be the vain hope that China would solve the North Korea problem for him. To the contrary, the threat has only grown, with Pyongyang’s successful July 4 test of a long-range missile that may be capable of reaching Alaska.
To make matters worse, the Trump family have placed themselves conspicuously on China’s payroll, accepting future profits in the form of trademarks for both the Trump and Ivanka brands, and seeking Chinese investment in Kushner real estate projects. When China Labor Watch, a New York–based labor rights organization, published information on poor conditions in a factory where Ivanka’s brand-name shoes had recently been produced, China detained the group’s three field investigators, the only time CLW’s investigators have been detained for exposing the abuse of Chinese workers.2
These signs of confusion in American policy have accelerated the growth of China’s economic and political influence. In Asia, Philippine president Rodrigo Duterte softened the previous Filipino administration’s position on its South China Sea territorial dispute with China and accepted a large Chinese trade and investment package; Malaysian leader Najib Razak agreed to the first purchase of Chinese vessels for his navy; Korean voters selected a new president, Moon Jae-in, who has promised closer relations with Beijing; and Vietnam has stepped up diplomatic and military relations with China.
Japanese Prime Minister Shinzo Abe has stuck to the American alliance, but if US policy continues to show weakness, Japan will ultimately face a choice either of compromising with China’s territorial claims in the East China Sea or of rearming itself more heavily, perhaps even with nuclear weapons. According to Graham Allison, director of Harvard Kennedy School’s Belfer Center for Science and International Affairs, in his new book Destined for War, “As far ahead as the eye can see, the defining question about global order is whether China and the US can escape Thucydides’s Trap,” which he defines as a likely war between a dominant power and a rising power.
Two other recent books, however, while approaching the subject in very different ways, suggest that China is not as threatening as many commentators would have us believe. Michael Auslin, a research fellow at the conservative Hoover Institute, declares the end of the Asian Century before it has much begun, because leading Asian countries, including China, have not adopted the business-friendly economic practices, pro-democracy political reforms, and cooperative regional institutions that would enable them effectively to rival the West. Oliver Stuenkel, a Brazilian academic more on the left, argues instead that the emergence of China and other Asian powers is an accomplished fact that cannot be reversed, but that the power shift does not present a serious threat to Western interests. Although both books discuss all of Asia, China is central to their arguments.
Auslin’s analysis is grounded in the contested set of ideas that used to be called the Washington Consensus—the belief that free markets, free trade, and political democracy are necessary for economies to grow and political systems to be stable. Since the Chinese approach disregards this theory, Auslin thinks the country will stumble before it seriously challenges American preeminence. He sees many problems in the Chinese economy, including the excessive number and size of state-owned enterprises, opaque corporate governance, huge government debt (200 percent of GDP by some estimates), a property bubble, and overdependence on exports. But this adds up simply to a description of how the economy is run, not to an argument that this way of running it will not work.
In fact, the Chinese economy is not as vulnerable as Auslin thinks. First, because the Chinese currency, the yuan, is not freely convertible, it is difficult for yuan holders to invest on a large scale anywhere but China without government permission. To be sure, there is a dribble of capital abroad sufficient to allow the purchase of high-end real estate in Vancouver, Los Angeles, and New York, but this is hardly enough to starve investment in China or subject the yuan to currency speculation. Second, just as the US dollar enjoys the “exorbitant privilege” of being accepted everywhere as a bearer of value even though it is not backed by any tangible asset, so too the Chinese yuan is accepted by participants in the Chinese economy and even to a limited extent overseas as a bearer of value, which gives the government the ability to print money at will in order to stimulate economic growth, with limited risk of inflation.
Third, both the debtors and the creditors in the Chinese economy are mostly government entities, so the government can adjust their debt relationships without causing a financial crisis. Beijing worked its way out of previous debt overhangs by creating “asset management companies” (or “bad banks”) to take bad loans off the books of state banks, and it worked. Such tactics can be used again if necessary.
Auslin is more persuasive in suggesting the extent to which high-level corruption has damaged the legitimacy of China’s one-party rule, and how ineffective the regime’s heavy-handed propaganda is in its aim of reinforcing that legitimacy. Even so, surveys show that the Chinese public gives the regime credit for sustained economic growth and for carrying out a serious battle against corruption. Auslin agrees with an unnamed China specialist—apparently the well-respected George Washington University scholar David Shambaugh—that the Chinese regime has entered its “endgame.”3 This may be true, but the same prediction has been made so often for decades that it is hard to be convinced by it now. By seeing the Chinese regime and other Asian political systems like Thailand, Myanmar, and Malaysia that haven’t developed Western-style governments as examples of “unfinished revolutions,” Auslin commits the fallacy of conflating political stability with democratization.
Unlike Auslin, Stuenkel does not believe that Chinese power will fade, but he sees China’s ambitions as more economic than military. It is true that China has built and fortified sand islands in the South China Sea, increased its allocation of troops to UN peacekeeping operations in Africa, established a small naval base in Djibouti, used Chinese naval forces to evacuate some 36,000 Chinese workers from Libya, and dispatched ships to participate in the multilateral anti-piracy patrol in the Gulf of Aden.

But in Stuenkel’s view, these efforts are not likely to lead to the creation of a US-style global military empire. It would be difficult for China to defend its far-flung, fragile network of economic interests by chiefly military power. China’s enormous investments in resources and infrastructure abroad can pay off only if peace is maintained across these turbulent regions by political means, including respect for international law. According to Stuenkel, China wants nothing more than to preserve the main elements of the world trading order from which it has benefited so much, while gaining greater influence in the institutions that enforce and develop this order.


Donald Trump; drawing by James Ferguson

Because the US Congress refused until recently to authorize increased voting rights for China in the World Bank and the International Monetary Fund—and, one might add, because China accumulated a huge stock of foreign exchange that it needed to invest—Beijing set out to create what Stuenkel calls a “parallel order” of international economic institutions. He identifies twenty-two newly created multilateral institutions, ranging from the Asian Infrastructure Investment Bank to the Shanghai Cooperation Organization to the Free Trade Area of the Asia Pacific, in which China is a participant and usually the leading member.
Stuenkel argues these are “parallel” rather than “alternative” institutions: they provide infrastructure investment, regulate trade, facilitate international payments, and carry out security and diplomatic dialogues in much the same way as similar Western-dominated institutions that they parallel. They operate according to rules that are consistent with existing institutions in the same fields, and their participants continue simultaneously as members of the older institutions. In Stuenkel’s view, their creation is a good thing:
[They] will provide additional platforms for cooperation (among both non-Western and between non-Western and Western powers), and spread the burden of contributing global public goods [such as UN peacekeeping operations, anti-piracy patrols, and the control of climate change] more evenly…. All these institutions will deepen China’s integration into the global economy, possibly reducing the risk of conflict, and lifting all boats.
Auslin and Stuenkel both present, to use James Mann’s phrase, “soothing scenarios”: either China’s rise will stall before it poses a serious threat to American interests, or it will bring new vitality to the existing international order. But both are too optimistic. Although China’s rate of growth has slowed from double digits to an official annual rate (which some economists think is exaggerated) of 6.7 percent in 2016, and will slow further as the economy matures, few believe it will fall below 3 percent in the foreseeable future.
As Stuenkel points out, at that rate it will inevitably overtake the US economy, even if the US were to accelerate its own rate of growth, simply because China’s population is four times as big as America’s. In a few more decades, China’s economy will be twice as big as that of the US. An economic or political crisis, if it occurs, can slow China’s rise, but China is not going back to the poverty of the pre-reform era.
Stuenkel is persuasive in arguing that Beijing cares chiefly about political stability at home and economic access abroad, and not about promoting its authoritarian political model to the rest of the world. Nor do China’s leaders seek, as some have suggested, to expel the United States from Asia, or to “rule the world.” They are, however, pursuing two goals that clash fundamentally with important American interests (leaving aside China’s abuse of the US–China economic relationship, which is a problem that can be gradually resolved through negotiations).
The first is its effort to alter the military balance in Asia. Along its long, exposed coastline, China is confronted with a string of American allies and partners: South Korea, Japan, Taiwan, the Philippines, Singapore, and Vietnam. There are some 60,000 American troops deployed in the area, and American bases in Guam and Pearl Harbor command the Pacific. Just beyond the line twelve nautical miles from the Chinese coast that defines its sovereign “territorial waters,” the US Seventh Fleet conducts regular intelligence-gathering and surveillance operations. Along its land borders China likewise confronts American deployments, alliances, and military cooperation arrangements—in Afghanistan, Pakistan, Central Asia, Mongolia, and India.
With China’s power rising, its rulers no longer accept being so tightly hemmed in. They are now in a position to press South Korea to reverse the deployment of an American Terminal High Altitude Area Defense (THAAD) missile system; to move Chinese military ships and submarines through strategic straits between the Japanese islands; to challenge the Japanese claim to the Senkakus, the disputed islands in the East China Sea; to pressure Taiwan to accept unification with China; and to harass US ships and planes in the South China Sea. These moves challenge the established American position in Asia.
The second serious clash of interests has to do with the freedoms of thought and speech. The regime is hypersensitive about its image because of its shallow legitimacy at home. This has led it not only to engage in standard public relations and media work around the world, but also to use diplomatic pressure, visa denials, financial influence, surveillance, and threats to try to control what journalists, scholars, and Chinese students and scholars abroad say about China. The effort to silence critics extends to human rights institutions like the United Nations Human Rights Council in Geneva, where China works to assure that it and other authoritarian regimes are not criticized; it even reaches Hollywood, where studios eager to gain access to the Chinese market increasingly avoid unfavorable portrayals of China. This offensive poses a special challenge to the West, one in which the usual cliché about balancing values and interests in foreign policy does not apply. As China extends its efforts at thought control beyond its own borders, our values are our interests.
Some have suggested that the US scale back its position in Asia to accommodate China’s desire for greater military influence in its own region. In his 2011 book On China, Henry Kissinger proposed that the two sides agree on a “Pacific Community”—“a region to which the United States, China, and other states all belong and in whose peaceful development all participate.” Graham Allison’s ideas for how to avoid war are equally anodyne: “Understand what China is trying to do,” “Do strategy,” and “Make domestic challenges central.”
Other strategists have been more specific, proposing that the US and China establish a mutually acceptable security balance by making concessions to each other over Taiwan, the Senkakus, military deployments, and offensive and defensive missile systems. Through such an approach, Washington and Beijing could demonstrate that each does not seek to threaten the other’s core security interests.4
The difficulty with such proposals is that Beijing is likely to interpret them as asking it to accept an intrusive American presence just when the shifting power balance should allow that situation to be corrected. And on the US side, yielding preemptively to Chinese ambitions would destroy its credibility with all of its allies, not only in Asia but elsewhere as well. The resulting destabilization would not serve American or Chinese interests.
Auslin’s recommendations for managing the rise of China are for the US to strengthen its military presence in the region; build additional links—such as with India and Indonesia—on top of its existing alliance system; and intensify American pressures for democratic transformation. It should stick to these policies, he says, until “China’s leaders…come to appreciate the benefits of constructive engagement.” This is a grand vision that faces three obstacles—the lack of consistency across administrations in Washington needed to implement such a strategy; the unwillingness of countries like India, Indonesia, and even our formal allies South Korea and Japan to tilt so conspicuously against the largest and still-growing regional power; and the unlikelihood that China would come to accept this American posture as beneficial.
For his part, Stuenkel recommends that the United States enlarge the participation of the rising powers in existing institutions so they have a fair share of influence, encourage China and other rising powers to contribute even more to global public goods such as UN peacekeeping operations, anti-piracy patrols, and the control of climate change, and “fully embrace, rather than criticize or try to isolate” the new parallel economic institutions that China is creating. These are constructive ideas, but they do not address the core problems of regional security and human rights.
The US should cooperate with China in those areas where common interests exist, such as nonproliferation and climate change (the position of the Trump administration notwithstanding). And the US must push steadily to open the Chinese economy on a reciprocal basis—an effort that would have been greatly aided by staying in the TPP. But in order to respond successfully to China’s growing military power, the US must hold the line firmly where strategic interests clash, such as over Taiwan and the US naval presence in the South China Sea. Above all, the US must defend international standards of human rights and freedoms more strongly than it has in recent years; it makes no sense to defer to the loudly voiced sensitivities of the Chinese regime even as China interferes more and more often in our freedoms. Competition, friction, and testing between the United States and China are unavoidable, probably for decades. To navigate this process, the US needs an accurate assessment of China’s interests, but even more of its own.

Notes:
1 James Mann, The China Fantasy: How Our Leaders Explain Away Chinese Repression (Viking, 2007). ↩
2 John Ruwitch, “Activist Probing Factories Making Ivanka Trump Shoes in China Arrested: Group,” Reuters, May 31, 2017. ↩
3 David Shambaugh, China’s Future (Polity, 2016). ↩
4 For example, James Steinberg and Michael E. O’Hanlon, Strategic Reassurance and Resolve: US–China Relations in the Twenty-First Century (Princeton University Press, 2014), and Lyle J. Goldstein, Meeting China Halfway: How to Defuse the Emerging US–China Rivalry (Georgetown University Press, 2015). ↩