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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Relações internacionais do Brasil em 2021 (entrevista à Radio Universitária de Uberlândia) - Paulo Roberto de Almeida

 Tenho agora o registro de meu último "trabalho" publicado, uma entrevista sobre os temas habituais:


1378bis. “Relações internacionais do Brasil em 2021”, entrevista concedida ao programa “Trocando em Miúdos”, da Rádio Universitária FM, da Universidade Federal de Uberlândia, com o jornalista Márcio Alvarenga (26:50 minutos; 28/12/2020; link: http://programatrocandoemmiudos.com.br/pt-br/node/4404)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Itamaraty, Brasil: projeto de país "pária" de EA continua - Matheus Leitão, Paulo Roberto de Almeida

 Projeto ‘país pária’ do Ernesto Araújo continua em marcha

Declarações de Bolsonaro e do chanceler, apoiando a invasão ao Capitólio, só contribuem para o isolamento internacional do Brasil

Matheus Leitão

Veja | 13/1/2021, 19h39

A violenta invasão ao Capitólio, e os posicionamentos do presidente Jair Bolsonaro e do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, serviram para consolidar o isolamento internacional do Brasil, dando mais um passo em direção ao “país pária”. Ao flertarem perigosamente com o apoio aos manifestantes de extrema-direita, o presidente e o chefe da diplomacia dão outro sinal de hostilidade ao governo americano que está começando.

Na visão do embaixador Paulo Roberto de Almeida, o Brasil está cada vez mais isolado, reflexo de uma política externa fracassada. “Neste momento, Jair Bolsonaro e Ernesto Araújo estão sozinhos no mundo. Não têm mais diálogo com ninguém. Como o presidente insiste na sua loucura de confrontar a todos, o Ernesto Araújo segue atrás para se mostrar fiel. Creio que é uma coisa doentia, e profundamente psicológica. O Olavo [de Carvalho] continua xingando Joe Biden”.

O efeito dessa escolha pode ser muito perigoso para o país porque, neste momento, qualquer diplomacia consequente estaria tentando abrir alguma ponte com a nova administração, mas eles se agarram a Donald Trump, que está afundando. Trump está a 7 dias de deixar o cargo de presidente dos Estados Unidos e termina o mandato enfrentando um processo de impeachment. Nesta quinta-feira, 14, a Câmara começa a julgar o impedimento, que passou a contar com o apoio de congressistas republicanos. O processo deve prosseguir mesmo com o término de sua gestão.

Trump corre o risco de perder seus direitos políticos para sempre, conforme previsto na 14ª Emenda da Constituição americana. Citada no processo de impeachment, a legislação proíbe de ter cargo público qualquer pessoa que participou de insurreições ou rebeliões contra a Constituição. A desabilitação política  também será votada na Câmara e no Senado e, para ser aprovada, precisa apenas de maioria simples.

Enquanto isso, o Brasil mais uma vez se posiciona erroneamente, ao tomar partido de Trump, e não tentar uma aproximação junto ao presidente eleito Joe Biden. Ao justificar a invasão do Capitólio, Bolsonaro disse que foi por falta de confiança nos votos. Ainda subiu o tom e afirmou que algo pior pode acontecer no Brasil se o voto permanecer eletrônico em 2022.

Já o chanceler tentou colocar panos quentes, dizendo que é preciso distinguir o processo eleitoral da democracia. “Duvidar da idoneidade de um processo eleitoral não significa rejeitar a democracia. Ao contrário, uma democracia saudável requer, como condição essencial, a confiança da população na idoneidade do processo eleitoral”.

“Sozinhos no mundo”

Diante de todo o cenário, Paulo Roberto de Almeida analisa que o discurso de Ernesto Araújo durante a posse de novos diplomatas do Instituto Rio Branco, no fim do ano passado, no qual afirmou que era melhor ser um país pária do que se render ao “banquete no cinismo interesseiro dos globalistas, dos corruptos e semicorruptos”, foi uma forma de o chanceler justificar seu fracasso.

“Ernesto Araújo não tem um projeto. Aquele discurso na formatura foi uma espécie de faux pas, que revela o tremendo desconforto e pressão psicológica com todos os fracassos e crescente isolamento do Brasil. Nem europeus, nem chineses, os vizinhos regionais e os próprios americanos não querem saber de Bolsonaro e Ernesto. Ele está sozinho, no Itamaraty, no Brasil, na região e no mundo. Aquilo foi uma espécie de autojustificação para um fracasso”, destacou.

Infelizmente, a política externa equivocada de Ernesto Araújo já tem tido consequências. Na Europa, por exemplo, o presidente francês, Emmanuel Macron, prometeu trabalhar contra a importação de soja brasileira para ajudar a reduzir o desmatamento na Amazônia. A chegada do governo Biden poderia ser uma oportunidade de reformulação dessa forma de fazer política, mas não é o que deve acontecer.

https://veja.abril.com.br/blog/matheus-leitao/projeto-pais-paria-do-ernesto-araujo-continua-em-marcha/


quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

O Boletim da Liberdade atua CONTRA a liberdade: seu prêmio do ano é uma OFENSA à inteligência dos eleitores - Paulo Roberto de Almeida

 Como já disse várias vezes, ao ser um perfeito irreligioso, iconoclasta, anarquista, contra quaisquer partidos, religiões, times de futebol, agrupamentos e confrarias, eu não tenho adesão, respeito ou dependência de quaisquer grupos, movimentos, instituições ou correntes. Sou absolutamente livre, inclusive para ler, receber, dialogar com todas as tendências de opinião, da extrema-esquerda à extrema-direita, sem qualquer restrição, preconceito ou a-prioris. Se o interlocutor não for um sujeito de má-fé, um fanático irrecuperável ou um idiota consumado, eu mantenho conversas e intercâmbio. Só tenho alergia à burrice, atenção, não à ignorância dos ingênuos, mas à estupidez dos bem informados, mas que defendem posturas hipócritas e de má-fé.

Por isso mesmo, estou extremamente chocado com a iniciativa do Boletim da Liberdade, que já assinei, recebo e leio, mas do qual vou me afastar a partir de agora, pelo que se pode ler abaixo.

Não tenho nada contra um Prêmio da Liberdade, pois tudo é válido. Mas acredito que ninguém promoveria um "Prêmio à Escravidão", à Burrice, embora existam, e sabemos que funcionam, com certo sucesso de público, um "Darwin Award" (para os que ousam contrariar dados elementares da realidade) e um "Prêmio IgNobel", para os casos mais estúpidos de "invenções", "realizações" ou "descobertas", que continuam existindo, a despeito de tudo, numa humanidade repleta de idiotas.

Mas o Boletim da Liberdade desta vez exagerou. Eles proclamam orgulhosamente os nomes dos "candidatos" ao seu Prêmio do Ano, e eu considero que eles o fizeram estupidamente, com a seguinte justificativa: 

Trata-se de uma das principais premiações do meio pró-liberdade do Brasil e visa reconhecer e valorizar os esforços em defesa dos valores liberais no país.

Estou plenamente consciente de que se trata de votos dos assinantes e seguidores do Boletim, que são em maioria da direita burra (um pouco diferente dos editores do Boletim, que suponho devam sentir vergonha por uma boa parte dos seus leitores), bolsonaristas e outros reacionários e conservadores estúpidos, e não exatamente das preferências dos editores do Boletim. Mas, os editores do Boletim deveria ter VERGONHA de pretender anunciar os pré-escolhidos para o prêmio do ano, nestas categorias, e eu aponto alguns dos pré-escolhidos (há outros): 

Personalidade do Ano de 2020:

- Jair Bolsonaro (presidente da República)

Parlamentar do Ano de 2020:

- Bia Kicis (deputada federal - PSL/DF)

Organização do Ano de 2020:

- Brasil Paralelo

Pois bem, creio que esta minha postagem constitui minha ruptura com o Boletim da Liberdade, não por ser contrário à liberdade, ou por achar que eles não têm o direito de apoiar Bolsonaro, a direita-extrema, os reacionários, os estúpidos e os genocidas. 

Minha ruptura se dá por um único motivo: eu os enquadro na categoria dos estúpidos, não pelo fato promover o concurso, mas por terem coragem de apontar todos os dementes que são ANTI-LIBERDADE, para um prêmio que pretende promovê-la.

Sinto muito editores do Boletim da Liberdade: vocês exageraram no apoio a liberticidas, a idiotas crassos, a cretinos fundamentais (a frase é de Nelson Rodrigues, um reacionário lúcido), a genocidas (como é o presidente energúmeno), a deputados mentirosos e a uma iniciativa de mídia que coloca a ideologia na frente da verdade.

Vocês exageraram e demonstraram que são promotores da ANTI-LIBERDADE, perdendo, assim, a razão de ser. 

Eu me despeço de vocês, pois tenho alergia à BURRICE.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 13 de janeiro de 2021

Caro Assinante,

Está aberto o processo de votação para a final do IV Prêmio Boletim da Liberdade.

Trata-se de uma das principais premiações do meio pró-liberdade do Brasil e visa reconhecer e valorizar os esforços em defesa dos valores liberais no país.

Como ocorrido em edições anteriores, caberá aos assinantes do Boletim a escolha final sobre quem merece ganhar cada uma das modalidades em jogo.

Nesta edição, há 3 modalidades. Confira, abaixo, os finalistas escolhidos em votação aberta pelos leitores:

Personalidade do Ano de 2020:

- Marcel van Hattem (deputado federal)
- Jair Bolsonaro (presidente da República)
- Arthur do Val (deputado estadual)

Parlamentar do Ano de 2020:

- Marcel van Hattem (deputado federal - NOVO/RS)
- Kim Kataguiri (deputado federal - DEM/SP)
- Bia Kicis (deputada federal - PSL/DF)

Organização do Ano de 2020:

- Partido Novo
- Brasil Paralelo
- Instituto Mises Brasil

Quem, na sua opinião, mais se destacou ao longo de 2020?

Você poderá votar até o dia 18 de janeiro (segunda-feira). Para isso, basta acessar a área do assinante ou clicar no botão amarelo, abaixo:
 
VOTE AGORA MESMO NO IV PRÊMIO BOLETIM DA LIBERDADE
Em caso de qualquer dúvida sobre a premiação, acesse este link ou fale conosco.

Não deixe de participar e deixar seu voto. Sua colaboração é fundamental para o Prêmio Boletim da Liberdade.

Atenciosamente,
Os Editores

PS: Caso sua assinatura não esteja com o pagamento em dia ou em vigor, o voto não será computado. No dia 19 de janeiro, os votos serão validados levando em consideração apenas assinaturas ativas.
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segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Meu projeto de obra sobre o "pensamento diplomático brasileiro" no período militar (1964-1985) - Paulo Roberto de Almeida

 Um colega acadêmico descarregou um trabalho meu, na verdade um projeto de livro do qual eu NÃO pretendia participar, uma obra que daria continuidade à obra Pensamento Diplomático Brasileiro (1750-1964), da qual fui um dos proponentes e animadores.

Não pretendia participar pois pressenti que seria uma obra deformada, em 2016 provavelmente, e agora certamente. Mas, como insistiram comigo, uma vez que eu havia praticamente estimulado a obra acima referida, acabei preparando uma projeto, mas explicitando que NÃO iria colaborar com ela, pois já imaginava os problemas que teria uma obra sobre a diplomacia do regime militar feita principalmente por diplomatas (sempre subservientes ao poder e aos poderosos).

O trabalho está disponível no seguinte link: 

https://www.academia.edu/38056037/Pensamento_Diplomatico_Brasileiro_o_periodo_autoritario_1964_1985_2016_

Abaixo transcrevo apenas o sumário e depois o esquema da obra (que obviamente NUNCA seria feita, e obviamente não segundo minhas sugestões). Algum desses dias eu faço essa obra, ao meu estilo.

Paulo Roberto de Almeida

Pensamento Diplomatico Brasileiro: o periodo autoritario (1964-1985) (2016)

2016, Pensamento Diplomatico Brasileiro: o periodo autoritario (1964-1985)
220 Views46 Pages
Brasília, 14 de julho de 2016. 
(texto preliminar; sujeito a revisão substantiva) 
"A melhor tradição do Itamaraty é saber renovar-se." 
Antônio F. Azeredo da Silveira 

Os objetivos desde documento preliminar de planejamento são os de apresentar algumas reflexões em torno do conceito e da temática indicados no título e de formular, tentativamente, propostas de organização e um esquema para a possível composição de um segundo conjunto de textos vinculados sequencialmente à obra Pensamento Diplomático Brasileiro, formuladores e agentes da política externa, 1750-1964 (Brasília: Funag, 2013, 3 vols.; ISBN: 978-85-7631-462-2), organizada pelo ex-presidente da Funag (2012-2014), embaixador José Vicente Pimentel, da qual fui um dos primeiros propositores e um dos colaboradores, ao lado de diversos outros colegas de carreira e de representantes da academia. 
Trata-se da continuidade desse projeto exitoso, que parece ter encontrado vasto e positivo acolhimento por parte da comunidade brasileira trabalhando ou se exercendo academicamente na área, que justamente parece estar reivindicando o seu prosseguimento no período ulterior àquele da primeira obra, desta vez cobrindo as duas décadas do regime militar brasileiro. 
Este texto está dividido nas seguintes partes: uma primeira, de reflexões sobre a noção de "pensamento diplomático brasileiro", tal como suscetível de cobrir um amplo espectro de formulações e ações diplomáticas brasileiras, disseminadas por diferentes orientações de política externa, com atores diversos ao longo de um período bastante complexo-certamente excepcional-da história do Brasil; uma segunda, que busca capturar os elementos essenciais do período em questão (1964-1985), evidenciando alguns dos traços distintivos de sua política externa e da participação do estamento diplomático em sua formulação e execução; e uma terceira, que propõe um esquema preliminar sobre o que se poderia chamar de "índice de matérias" do que seria esse novo volume de um projeto que teve um início auspicioso, e que se espera possa apresentar continuidade adequada, antecipando, inclusive, uma possível continuidade (um terceiro volume) para o período subsequente, eventualmente chegando à atualidade. Segue-se uma bibliografia e uma cronologia.


Pensamento Diplomático Brasileiro: o período autoritário (1964-1985)

Esquema tentativo

 

1. Prefácio (apresentação da obra, conexões com PDB-1 e características deste PDB-2)

2. Introdução conceitual: existiu um “pensamento diplomático” específico à era militar?

 

Parte I: A diplomacia e a política externa antes da era militar

3. O Brasil, a América Latina e o mundo no início dos anos 1960: contextualizações

4. O desenvolvimento econômico brasileiro e suas principais conexões internacionais 

5. A Política Externa Independente e a diplomacia profissional antes do golpe militar

 

Parte II: A ruptura que deveria ser breve (1964-67)

6. O golpe militar no contexto da Guerra Fria: uma decorrência da revolução cubana?

7. Impacto inicial sobre a política externa e a diplomacia: principais mudanças

8. O alinhamento da primeira fase e o debate no Congresso e na sociedade

9. A diplomacia brasileira e o início do debate sobre a ordem econômica mundial

10. Os chanceleres Vasco Leitão da Cunha e Juracy Magalhães: perfis biográficos

 

Parte III: A radicalização política e a recuperação diplomática (1967-1971)

11. A política externa a partir de 1967: recuperação do desenvolvimentismo

12. A busca da autonomia nuclear, Tlatelolco e a recusa do TNP

13. A política comercial externa e os subsídios à exportação: a agenda do GATT

14. Capacitação científica e tecnológica e os parceiros da cooperação bilateral

15. O milagre brasileiro e a atração de capitais: IED e empréstimos externos

16. A questão nuclear na primeira fase do regime: Sérgio Correa da Costa

17. A diplomacia regional da primeira era militar: um continente em chamas?

18. A diplomacia do Prata e seus principais arquitetos diplomatas

 

Parte IV: A diplomacia brasileira e seus principais desafios (1971-74)

19. A ideologia da segurança nacional e o desafio guerrilheiro: o problema cubano

20. Direitos humanos e repressão política: os contenciosos internacionais

21. Intervenções clandestinas no entorno regional: contrariando a Constituição?

22. A economia política internacional do Brasil: comércio, finanças, investimentos

23. O primeiro choque do petróleo e a aposta no modelo de desenvolvimento

24. A diplomacia multilateral no início dos anos 1970: o fim de Bretton Woods

25. O chanceler Gibson Barbosa, a diplomacia africana e os grandes temas do Prata

26. O tratado de Itaipu Binacional, com o Paraguai, e as relações com a Argentina

 

Parte V: A diplomacia do pragmatismo responsável (1974-79)

27. Características gerais da mais dinâmica diplomacia do período militar

28. A diplomacia do presidente Geisel e do chanceler Silveira: perfis biográficos

29. Contexto internacional e regional da política externa brasileira na era Geisel

30. Os grandes projetos de desenvolvimento e sua interface externa

31. O estabelecimento de relações diplomáticas com a República Popular da China

32. O Acordo Nuclear com a República Federal da Alemanha e reações americanas

33. O reconhecimento da independência de Angola e suas implicações diplomáticas

34. A política comercial externa na era dos choques do petróleo

35. A controversa declaração de voto na ONU sobre o sionismo

36. Exportações de armamentos e cooperação com “estados vilões”

37. Memorando de Consultas Políticas com os EUA: uma relação especial?

38. Os direitos humanos e a denúncia do Tratado de Assistência Militar com os EUA

39. O Tratado de Cooperação Amazônica (1978) e seu significado regional

40. O esgotamento do modelo econômico e o caminho da abertura política

 

Parte VI: A diplomacia da transição numa era de crises econômicas (1979-1985)

41. O acordo tripartite Itaipu-Corpus (1979) e a diplomacia do equilíbrio hidrográfico

42. O segundo choque do petróleo e seus reflexos diplomáticos: a fragilidade brasileira

43. A crise da dívida externa e a diplomacia da dívida: a dependência brasileira

44. A América Latina começa a diversificar seus modelos de políticas econômicas

45. O despertar da China, o declínio soviético e seus reflexos na política mundial

46. O multilateralismo econômico: do fim de Bretton Woods às crises do GATT

47. O conflito das Malvinas e o fim da solidariedade hemisférica: como o Brasil reagiu

48. O protecionismo comercial brasileiro e as relações com o FMI

49. Transições democráticas e a mudança de padrões diplomáticos ao final do regime

50. Saraiva Guerreiro e seus principais assessores diplomáticos: breves perfis

 

Parte VII: Balanço da diplomacia e da política externa na era militar

51. Mudanças nos contextos internacional e regional dos anos 1960 aos 80

52. Alterações do ambiente econômico externo num período de duas décadas

53. A situação da América Latina em perspectiva internacional comparada

54. O declínio do dirigismo econômico, o neoliberalismo e a ascensão da Ásia

55. A diplomacia profissional brasileira, seu papel e status político na era militar

56. O que mudou, o que ficou? Continuidades e rupturas da política externa

 

57. Conclusões tentativas: o que foi o “pensamento diplomático” da era militar?

58. Fontes e bibliografia

59. Cronologia do período; chanceleres e secretários-gerais do Itamaraty

60. Notas sobre os autores e colaboradores

 


3012. “Pensamento Diplomático Brasileiro: o período autoritário (1964-1985)”, Brasília, 13 julho 2016, 43 p. Proposta de trabalho para a Funag, no seguimento do primeiro projeto, que cobriu o período 1750-1964. Entregue ao presidente da Funag, sem intenção de participar. Partes servindo de subsídio para redação de um capítulo sobre as relações internacionais do Brasil durante o regime militar brasileiro, para obra coletiva sob a direção de Jorge Ferreira e Lucilia de Almeida Neves Delgado Brasil Republicano (Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2003, 4 vols., várias edições e reimpressões). Projeto em curso. Utilizado para compor trabalho para a II Jornada de Pensamento Político Brasileiro (IESP-UERJ), em 2017 (n. 3112).


sábado, 9 de janeiro de 2021

11) Ano Merquior (11): Homenagem de seus amigos e colegas diplomatas, depois de sua morte (1991), brochura de 1993

Neste mesmo blog Diplomatizzando, ao início do ano (4/01), publiquei uma primeira versão de uma brochura preparada em 1992 pelos amigos e colegas de José Guilherme Merquior, em homenagem ao grande intelectual brasileiro, falecido um ano antes. 



A postagem foi efetuada sob o número 3 desta série: 

3) 2021, o ano Merquior (3): Homenagem de seus amigos e colegas diplomatas, depois de sua morte

Entretanto, quando fui conferir o arquivo que estava em meu computador, verifiquei que o mesmo estava incompleto, provavelmente pela enorme profusão de minhas demandas aos funcionários do IPRI, em termos de scannerização de antigas publicações que não possuem base digital consolidada, e ninguém havia se lembrado de fazer antes de mim.

Graças ao amigo historiador Rogério de Souza Farias obtive uma nova versão da mesma brochura, que agora ofereço em seu formato completo aos interessados.

Aqui a primeira página da brochura, e nem reproduzo a ficha catalográfica, pois ela sequer possui ISBN.


O índice é fiel ao conteúdo agora oferecido neste arquivo: numa primeira parte figuram os depoimentos em homenagem a Merquior, respectivamente de Celso Lafer, Rubens Ricupero (extremamente emotivo), Marcos Azambuja, Luiz Felipe de Seixas Corrêa e Gelson Fonseca Jr., este absolutamente pessoal.



 Numa segunda parte os ensaios do próprio Merquior, com destaque, em primeiro lugar, para o seu discurso de formatura, em nome de sua turma do Instituto Rio Branco, que vou reproduzir em outro arquivo, de forma destacada, como uma primeira obra de juventude, mas depois que ele já se tinha lançado com artigos e ensaios de literatura brasileira

Tenho três fotos do discurso de formatura, também obtidas graças ao zelo de garimpeiro da história por Rogério de Souza Farias, que concluem esta nova postagem em homenagem ao grande intelectual brasileiro. 

A nova brochura pode ser lida integralmente nesta nova postagem (9/01/2021) em minha página de Academia.edu:

 https://www.academia.edu/44871292/Jose_Guilherme_Merquior_Diplomata_Celso_Lafer_et_alii_1993_

Nas duas primeiras fotos, Merquior discursando na formatura de sua turma em 1963. Na última recebendo os cumprimentos do presidente João Goulart; ao fundo o ministro San Tiago Dantas aplaudindo.




quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

O Constitucionalismo e o Fim do Absolutismo Régio, José Theodoro Mascarenhas Menck (Org.); capítulo Paulo Roberto de Almeida

Um livro de que participei com um capítulo: 

O Constitucionalismo e o Fim do Absolutismo Régio

José Theodoro Mascarenhas Menck (Organizador)

SOMENTE DIGITAL

O Constitucionalismo e o Fim do Absolutismo Régio, livro escrito no âmbito dos festejos do bicentenário da Independência do Brasil, revisita os 200 anos da Revolução Constitucionalista do Porto de 1820. Ainda que ocorrida na Europa e muito pouco estudada no Brasil, essa revolução foi de fundamental importância para a completa independência do Brasil, pois teve como objetivo forçar a volta de D. João VI à Lisboa e convocar as Cortes-Gerais para escrever uma Carta Constitucional ao Reino Unido,

A obra se divide em duas partes. Na primeira parte, expõe as atribulações pelas quais Portugal passou naqueles primeiros anos do século XIX, que irão desaguar na Revolução Constitucionalista do Porto de 1820. Na segunda parte, temos uma reunião de ensaios que analisam o impacto das ideias constitucionalistas na ordem social ocidental e, mais especificamente, no Brasil. 

O livro busca preencher uma importante lacuna na historiografia brasileira sobre a independência do Brasil. 

Ideal para professores, educadores, estudantes e todas as pessoas interessadas na história do Brasil.

Disponível neste link: 

https://livraria.camara.leg.br/o-constitucionalismo-e-o-fim-do-absolutismo-regio

Meu capítulo é o seguinte:

“Formação do constitucionalismo luso-brasileiro no contexto das revoluções ibero-americanas do início do século XIX”, p. 215-246.

Ele já foi disponibilizado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/44256725/Formacao_do_constitucionalismo_luso_brasileiro_no_contexto_das_revolucoes_ibero_americanas_do_inicio_do_seculo_XIX_2020_); anunciado no blog Diplomatizzando (8/10/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/10/o-constitucionalismo-iberico-do-inicio.html). Relação de Originais n. 3615.


terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Trinta anos sem José Guilherme Merquior: listagem da série "ano Merquior" - Paulo Roberto de Almeida


 Comecei  esta série "ano Merquior" de forma algo improvisada – aliás, como muitas coisas que faço –, ao ter conhecimento de que um longo ensaio meu, sobre a obra sociológica e política de José Guilherme Merquior – reproduzida aqui apenas em um breve trecho inicial – tinha sido incluída numa nova edição de Foucault – escrita em inglês pelo intelectual brasileiro mais universal que jamais existiu, com exceção, talvez, de Vinicius de Moraes – pelo seu editor na É Realizações, João Cezar de Castro Rocha, a ser publicado proximamente. Pretendo incluir outros materiais, até a data de seus 80 anos, em 22 de abril. Ele nos fez, nos faz muita falta: imaginem o que poderia ter escrito nestes últimos 30 anos desde a sua morte.

Paulo Roberto de Almeida


 

Trinta anos sem José Guilherme Merquior


Postagens no blog Diplomatizzando, por Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 5 de janeiro de 2021

 

 

Ao se completarem 30 anos desde o falecimento do intelectual, acadêmico (da ABL) e diplomata José Guilherme Merquior, desaparecido precocemente aos 50 anos incompletos, em 7 de janeiro de 1991, o brilhante homem de cultura, de saber, de conhecimento e de sensatez política e econômica faz mais falta do que nunca, em nossos tempos conturbados, estilhaçados por ideologias contrárias e contraditórias. Exatamente tudo o que ele precisava para impor-se no debate público com sua postura serena, ponderada, nos argumentos certeiros, praticamente imbatíveis, dotados de densa, profunda, fundada racionalidade, tudo apoiado num sólido conhecimento das teorias políticas, das doutrinas sociais e de uma atenta observação das coisas do mundo. 

Ao pensar em tudo o que ele poderia ter colaborado, como reflexão e posturas, desde seu brutal desaparecimento, resolvi alinhar algumas poucas postagens, selecionando materiais diversos que ofereço como prazer intelectual – e lamento adicional – dos leitores interessados. São materiais dele ou sobre ele, inclusive um pequeno trecho de um longo ensaio que fiz sobre sua obra sociológica e política – não ousei me aventurar na produção estética e literária –, que não se esgotam aqui, pois em 22 de abril deste ano ele completaria 80 anos: ficou nos “devendo” trinta anos, pelo menos, de intensa produção cultural, política, filosófica, estética e literária. 

Já disse algo do que penso sobre ele e sua obra nas introduções das postagens que alinho abaixo, mas me permito transcrever, aqui, o posfácio escrito pelo editor atual na, É Realizações, da obra de JGM, o professor João Cezar de Castro Rocha, à reedição da obra O Marxismo Ocidental ( 2018), mas apenas o seu início: 

 

Uma obra-manifesto?

Hipóteses sobre o estilo intelectual de José Guilherme Merquior

João Cezar de Castro Rocha

 

Por onde começar?

Não é uma tarefa simples oferecer uma interpretação abrangente da obra multifacetada de José Guilherme Merquior. E não apenas multifacetada, mas também extensa – extensíssima... e aqui o superlativo seria modesto e acima de tudo sincero. Publicando desde muito cedo no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, Merquior nunca diminuiu seu ritmo intenso, quase impossível, de leitura e de escrita. Falecido precocemente aos 49 anos de idade, ele deixou vinte livros lançados e Liberalism – Old and New inteiramente revisto, embora o título tenha sido publicado postumamente.

Não é tudo.

Desses 21 livros, um foi escrito em francês, L’Esthétique de Lévi-Strauss (1977), inicialmente apresentado na forma de um seminário em presença do antropólogo; aliás, o carteio entre José Guilherme Merquior e Claude Lévi-Strauss merece uma cuidadosa edição comentada. Desde 1979, com o aparecimento de ensaio extraído de parte do segundo doutorado que completou, este sob a orientação de Ernest Gellner na London School of Economics, The Veil and the Mask: Essays in Culture and Ideology, Merquior passou a redigir – sempre à mão – seus textos mais ambiciosos em inglês. No caso foram outros cinco títulos, incluindo este Western Marxism, assim como o último que escreveu, Liberalism – Old and New (1991) 

Ainda não é tudo.

Nos livros escritos em inglês, Merquior não foi nada tímido e buscou produzir um acerto de contas com as correntes hegemônicas da tradição ocidental. E isto sem perder um decibel sequer de sua dicção polêmica – proeza incomum, e não somente em sua época. (p. 250-251 de O Marxismo Ocidental, 2018).

 

Alinho aqui as postagens que preparei de forma muito improvisada, simplesmente garimpando sem muita ordem os textos dele e sobre ele que encontrei em duas ou três pastas de meus arquivos de computador. Outras postagens virão, no devido tempo, neste ano que apelidei de “ano Merquior”, uma modesta homenagem a quem tanto contribuiu com minha formação intelectual, tanto, talvez até mais, do que outros grandes mestres: Marx, Max Weber, Raymond Aron, Fernand Braudel, Albert Hirshmann, Barrington Moore, David Landes, Deirdre McCloskey e tantos outros. 

 

Postagens iniciais nesta série “O ano Merquior”

 

1) 2021, o ano Merquior (1): aos 30 anos de sua morte precoce, ele estaria fazendo 80 anos neste ano

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/2021-o-ano-merquior-1-aos-30-anos-de.html

 

2) 2021, o ano Merquior (2): Discurso de posse na Academia Brasileira de Letras

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/2021-o-ano-merquior-2-discurso-de-posse.html

 

3) 2021, o ano Merquior (3): Homenagem de seus amigos e colegas diplomatas, depois de sua morte

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/2021-o-ano-merquior-3-homenagem-feita.html

 

4) 2021, o ano Merquior (4): uma entrevista para o jornal Gazeta do Povo sobre Merquior - Paulo Roberto de Almeida

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/2021-o-ano-merquior-4-uma-entrevista.html

 

5) 2021, o ano Merquior (5): A legitimidade na perspectiva histórica (1980) - José Guilherme Merquior, Celso Lafer

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/2021-o-ano-merquior-5-legitimidade-na.html

 

6) O ano Merquior (6): A tese do curso de Altos Estudos em 1978: A legitimidade em política internacional - José Guilherme Merquior

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/o-ano-merquior-6-tese-do-curso-de-altos.html

 

7) O ano Merquior (7): o que perdemos em 30 anos de ausência de José Guilherme Merquior? - Josué Montello

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/o-ano-merquior-7-o-que-perdemos-em-30.html

 

8) O ano Merquior (8): Os primeiros 30 anos de intensa produtividade intelectual - Paulo Roberto de Almeida

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/o-ano-merquior-8-os-primeiros-30-anos.html

 

9) O ano Merquior (9): Fotos do jovem orador da turma de 1963: José Guilherme Merquior

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/o-ano-merquior-9-fotos-do-jovem-orador.html

 


10) O ano Merquior (10): depoimento de José Mário Pereira sobre José Guilherme Merquior (2001)

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/o-ano-merquior-10-depoimento-de-jose.html

 


 

A propósito desta última postagem, o testemunho de José Mário Pereira, esclareço que o segundo posfácio da nova edição do Marxismo Ocidental compõe-se de uma entrevista concedida pelo editor da Topbooks ao diretor editorial Castro Rocha, que vale ler em sua integridade.

Outros materiais virão, aguardem...

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 5 de janeiro de 2021

 

O ano Merquior (8): Os primeiros 30 anos de intensa produtividade intelectual - Paulo Roberto de Almeida

 Transcrevo apenas a parte inicial de um ensaio meu sobre a obra intelectual de José Guilherme Merquior nos primeiros trinta anos de seu ativismo literário e cultural. Perdemos os trinta anos seguintes...

Paulo Roberto de Almeida

José Guilherme Merquior: o esgrimista liberal

 

Paulo Roberto de Almeida

Incluído como posfácio à nova edição do livro de José Guilherme Merquior: Foucault, ou o niilismo de cátedra (São Paulo: É Realizações, 2021; tradução de Donaldson M. Garschagen; prefácio de Andrea Almeida Campos; posfácios de João Cezar Castro Rocha e Paulo Roberto de Almeida: ISBN: )


 

 

A caracterização de Merquior como “esgrimista liberal” foi atribuída pelo grande intelectual mexicano Enrique Krauze ao embaixador brasileiro pouco depois de seu precoce falecimento, em janeiro de 1991. José Mario Pereira, o editor da Topbooks que, à exceção do “último”, sobre o Liberalismo antigo e moderno, publicou os derradeiros livros do intelectual, diplomata e acadêmico (nessa ordem), transcreveu um trecho da homenagem do historiador mexicano no comovente ensaio que Pereira preparou sobre o “fenômeno Merquior” para a coletânea organizada por Alberto da Costa e Silva: O Itamaraty na Cultura Brasileira (Brasília: Instituto Rio Branco, 2001; pp. 360-378): 

Sua maior contribuição à diplomacia brasileira no México não ocorreu nos corredores das chancelarias ou através de relatórios e telex, mas na tertúlia de sua casa, com gente de cultura deste país. (...) A embaixada do Brasil se converteu em lugar de reunião para grupos diferentes e até opostos de nossa vida literária. Lá se esqueciam por momentos as pequenas e grandes mesquinhezas e se falava de livros e ideias e de livros de ideias. Merquior convidava gregos e troianos, escrevia em nossas revistas e procurava ligar-nos com publicações homólogas em seu Brasil. (...) Merquior cumpriu um papel relevante: foi uma instância de clareza, serenidade e amplitude de alternativas no diálogo de ambos os governos. (Krauze, artigo publicado na revista Vuelta, janeiro de 1992; in: Pereira, op. cit., p. 365)

 

Tal postura também foi seguida por Merquior em todos os demais postos nos quais serviu e estudou – Paris, Londres, Montevidéu, Paris novamente –, como verdadeiro representante da cultura brasileira no exterior, um elo de ligação entre aderentes a ideologias opostas – marxistas e liberais, por exemplo – e também uma ponte entre intelectuais dos diferentes países pelos quais circulou, e nos quais tinha livros publicados (alguns foram escritos primeiro em inglês, depois traduzidos e publicados no Brasil). Tal acolhimento à diversidade de opiniões e de posições políticas diversas foi uma marca de toda a sua trajetória intelectual, um pouco errática em seu início como crítico literário, “até desaguar nos anos oitenta, na prosa quarentona de um liberal neo-iluminista”, como ele mesmo escreveu nas páginas introdutórias de seu livro Crítica (1964-1989), também reproduzido no ensaio de seu editor brasileiro (Pereira, p. 363). 

A caracterização de Merquior como “esgrimista liberal” foi também retomada pelo embaixador Rubens Ricupero na contribuição que ele ofereceu ao pequeno livro que o chanceler Celso Lafer e colegas diplomatas decidiram organizar um ano depois de sua morte, ocorrida em janeiro de 1991. Registrando, por um lado, a universalidade do seu pensamento e, por outro, o profundo vínculo de Merquior com as coisas do Brasil e da região, o ex-ministro da Fazenda e ex-diretor da Unctad escreve as seguintes palavras:  

O cosmopolitismo da formação universitária, a familiaridade que adquiriu no frequentar os grandes mestres europeus dos anos 60 e 70, nunca enfraqueceram em Merquior as raízes brasileiras e latino-americanas de sua cultura. (Rubens Ricupero, “A diplomacia da inteligência”, in: Lafer et alii, José Guilherme Merquior, diplomata. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 1993, pp. 15-20; cf. p. 16)

 

Ricupero relembra ainda que em seu último livro, preparado para publicação quando ele já se encontrava devastado pela doença, Merquior tinha incluído o argentino Sarmiento entre os pensadores liberais criadores do liberalismo, antigo e moderno (p. 16). Refletindo, logo em seguida, sobre como grandes intelectuais brasileiros se vincularam à diplomacia, ou como a atividade diplomática influenciou a produção intelectual de vários deles, Ricupero discorre sobre grandes nomes de estadistas e homens de pensamento do passado, muitos dos quais se encontrariam na obra que, sob a direção sucessiva dos chanceleres Luiz Felipe Lampreia e Celso Lafer, seria publicada em 2001, dez anos depois do falecimento de Merquior. Ele escreve notadamente esta observação pertinente sobre o dilema de muitos deles, entre o dever de ofício e o prazer da escrita: 

Haveria, assim, nessa tipologia do diplomata-homem de cultura, dois extremos: o dos que sacrificaram, como Guimarães Rosa, a carreira à obra literária [pois que o grande escritor das Gerais passou anos e anos na modesta Divisão de Fronteiras, recusando postos no exterior] e o dos que, como o Barão [do Rio Branco] renunciaram à obra em favor de uma ação que os absorveu e consumiu a vida. Entre esses dois polos, a posição de Merquior era inequívoca: seu desejo era coroar uma brilhante carreira de crítico e pensador com uma atitude renovadora na política interna e externa do país, unificando pensamento e ação. (p. 18)

 

 

Uma produção intelectual extraordinariamente rica, diversificada, densa

 Sua produção literária e ensaística, em pouco mais de três décadas de ativismo intelectual, é propriamente espantosa, medida unicamente pelo que foi publicado em vida, uma série imensa de obras densas e abundantemente recheadas de notas remissivas e referências bibliográficas – desde o primeiro livro, em 1963, até os dois últimos, em 1991, que ele não chegou a ver, escrito e publicado originalmente em inglês, sobre o marxismo e o liberalismo –, aos quais caberia agregar materiais inéditos e complementares, que vêm sendo selecionados pela família e pelos novos editores, coletados em edições post-mortem. Uma peculiaridade formal, mas que revela o extremo cuidado que Merquior emprestava à sua atividade de grande scholar – numa era em que as edições brasileiras, mesmo de livros acadêmicos, raramente eram acompanhadas de índices finais –, era o fato de todos os seus livros finalizavam, invariavelmente, com completíssimas referências bibliográficas e extensos índices onomásticos, também reveladores de seu respeito pela conferência dos pares e dos interessados em suas fontes de estudo e material de leitura.

Sua produção se divide, basicamente, de um lado, em obras de crítica literária, artística e estética e, de outro, em trabalhos de sociologia, de política e de cultura, em geral. Este ensaio vai dedicar-se essencialmente a esta segunda categoria, embora tenha sido na primeira na qual ele se distinguiu precocemente, primeiro nas páginas dos suplementos literários dos periódicos do Rio de Janeiro desde o final dos anos 1950, depois em livros contendo esses ensaios coletados, a partir de meados da década seguinte, recolhendo a admiração unânime, tanto de experimentados críticos literários, quanto de autores de poemas e romances, aqui compreendendo igualmente escritores estrangeiros. O próprio Merquior, ávido leitor de todos os críticos literários mais importante do mundo, os considerava “uma espécie hoje quase extinta”, como registrou no primeiro capítulo de As Ideias e as Formas (1981, p. 16).

Vale registrar, por importante, que mesmo os livros de crítica literária e de análise de temas culturais sempre foram permeados de reflexões que ultrapassam essas fronteiras estritas, e desaguam, invariavelmente, em questões da modernidade, do pensamento político do momento, de tendências acadêmicas que interessam ao grande público (Foucault, Althusser, o estruturalismo, os marxistas ocidentais, etc.) ou penetram na discussão de problemas brasileiros e mundiais. Como pioneiro e ativo participante nos debates políticos e culturais no Brasil, vários de seus livros foram compostos por artigos divulgados nos grandes jornais de circulação nacional, por vezes ensaios mais longos publicados em obscuras revistas acadêmicas, mas que se inseriam, precisamente, no diálogo constante mantido com outros luminares da cultura nacional ou até com “desafetos” eventuais, não assim considerados por ele. Cabe igualmente observar que alguns dos representantes da “cultura de esquerda” incidiram em acusações vilmente desonestas, pretendendo transformá-lo num “empregado da ditadura militar”, quando esta ainda não tinha acabado, ou logo após o início da redemocratização, quando ele forneceu alguns bons textos sobre questões brasileiras ao presidente Sarney, ou sobre o “liberalismo social” ao presidente Collor.

Na primeira vertente de sua imensa produção podem ser situados: Poesia do Brasil (antologia com Manuel Bandeira, 1963); Razão do poema: ensaios de crítica e estética (1965); A astúcia da mimese: ensaios sobre lírica (1972); Formalismo e tradição moderna: o problema da arte na crise da cultura (1974); Verso Universo em Drummond (originalmente em francês, 1975); L’Esthétique de Lévi-Strauss (1977; em português: 2013); De Anchieta a Euclides: breve história da literatura brasileira (1977); O fantasma romântico e outros ensaios (1980); As Ideias e as Formas(1981); O elixir do apocalipse (1983). 

Numa faixa de transição para textos de feitura mais propriamente sociológica, ainda no terreno da crítica cultural e filosófica, podem ser situados: Arte e sociedade em Marcuse, Adorno e Benjamin: ensaio crítico sobre a escola neo-hegeliana de Frankfurt (1969); Saudades do Carnaval: introdução à crise da cultura (1972); O estruturalismo dos pobres e outras questões (1975); The Veil and the Mask: essays on culture and ideology (1979; em português: 1997); Michel Foucault ou o niilismo da cátedra (apresentado como um “antipanegírico”; original em inglês e no Brasil: 1985; em francês: 1986); From Prague to Paris: a critique of structuralist and poststructuralist thought (1986; em português: 1991). 

A partir de sua tese de doutoramento, defendida em 1978, na London School of Economics, sob a direção de Ernest Gellner, sua produção intelectual se dirigiu mais especificamente aos grandes temas da política e da sociedade: Rousseau and Weber: two studies in the theory of legitimacy (1980); A natureza do processo (1982); O argumento liberal (1983); Western Marxism (1986; em português: 1986, 2018); Algumas reflexões sobre os liberalismos contemporâneos (1986-1991); Liberalism, old and new (1991; também em português, já no âmbito de seu espólio, administrado pela família; em espanhol: 1996). Após sua morte, intelectuais e diplomatas amigos – Celso Lafer, Rubens Ricupero, Marcos Azambuja, Luiz Felipe de Seixas Corrêa e Gelson Fonseca – organizaram a já referida obra em sua homenagem: José Guilherme Merquior, diplomata (1993), pequeno volume de menos de 80 páginas no qual consta o discurso que Merquior proferiu como orador na formatura de sua turma no Instituto Rio Branco, em 1963, bem como seu texto sobre a questão da legitimidade na política internacional, tema da tese apresentada na qualidade de conselheiro aspirante à promoção a ministro de segunda classe, no primeiro Curso de Altos Estudos do IRBr, em 1978 (quando ele não estava formalmente obrigado a fazê-lo). 

Finalmente, em 1996, seu orientador na LSE, Ernest Gellner, organizou, com a colaboração de César Cansino, um volume de ensaios em sua homenagem: Liberalism in modern times: essays in honour of José G. Merquior (Oxford University Press), contendo inclusive uma contribuição de Norberto Bobbio (publicado em espanhol, sob o título de Liberalismo, fin de siglo; Universidad de Almeria, 1998). Vários de seus livros mais importantes – antes distribuídos por diferentes editoras – passaram a ser publicados no Brasil, mediante arranjos familiares, pela editora É Realizações.

Como a segunda vertente de Merquior, na qualidade de pensador da política e das relações internacionais, é a que mais interessa ao exame de suas ideias e análises vinculadas à política moderna e ao mundo contemporâneo, o restante deste ensaio será focado nos temas do marxismo, do liberalismo e da cultura política da modernidade, nos quais sua superior inteligência brilhou pelos insights e pela disposição à polêmica, como evidenciado pelo apodo que lhe atribuiu Enrique Krause, o “esgrimista liberal”.

(...)

Paulo Roberto de Almeida