O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador Rússia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Rússia. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 5 de março de 2015

Russia/Leviatan (filme): a parabola (mas que nao tem fim) do Estado opressor e corrupto

 "Leviatã" - a longa tragédia da sociedade russa
O Observador, 4/03/2015

Mais do que um mero libelo “anti-Putin”, o filme “Leviatã”, de Andrei Zyvagintsev, é uma história feia e bruta sobre os atavismos políticos, culturais e sociais da Rússia, da corrupção ao fatalismo,

A mídia, com a televisão à cabeça, têm o mau hábito de reduzir uma obra de arte a um estereótipo, simplificando-a numa frase ou numa etiqueta para consumo coletivo e retirando-lhe assim a riqueza, os significados e a complexidade. A mais recente vítima desta tendência é “Leviatã”, a quarta longa-metragem do cineasta russo Andrei Zyvagintsev, rotulado como “o filme anti-Putin”.
Nada mais confrangedor e reducionista do que limitar a um libelo contra o atual ocupante do Kremlin o que é na realidade um filme sobre os trágicos atavismos culturais, políticos e sociais da Rússia – a corrupção de alto a baixo e do centro às periferias, a tirania tentacular do Estado, a promiscuidade da Igreja Ortodoxa com o poder, os vasos comunicantes deste com o mundo do crime, o peso da burocracia e a força dos tiranetes locais, a impotência do cidadão comum perante a arbitrariedade pública, o embrutecimento da sociedade pela bebida, o fatalismo da sociedade civil –, que Zyvagintsev ilustra através de história sobre a eterna impotência do cidadão russo perante a arbitrariedade estatal, perante o peso e a força de um monstro.  Um leviatã que já se chamou czarismo e depois comunismo, e que se mantém com as roupagens de um novo regime, com novas caras e a mesma velha indiferença e prepotência para com as pessoas comuns.

Putin é apenas mais um, aquele que controla o monstro nesta altura, como o realizador mostra na sequência em que o protagonista e a sua família e amigos vão fazer um piquenique de aniversário na natureza, que consiste essencialmente em beber vodka e fazer tiro ao alvo. Primeiro, a garrafas da bebida nacional, depois às fotografias dos homens que lideraram o país quando ainda se chamava União Soviética, e a seguir no pós-comunismo. O leviatã do sistema sobrevive aos seus líderes, e resta aos governados disparar contra os seus retratos, para cevar toda a raiva, revolta e  impotência que os amarfanha por dentro

Este filme de Andrei Zyvagintsev é, no entanto, mais explicitamente “contra” o regime do que a sua obra de estreia, o magnífico e enigmaticamente alegórico “O Regresso”, que revelou o cineasta ao mundo vencendo o Festival de Veneza em 2003. Bem como a sua realização anterior, “Elena” (2011), que, pela subtileza na descrição das desigualdades e injustiças da atual sociedade russa, alguns poderão com toda a legitimidade preferir a este mais óbvio e demonstrativo “Leviatã” (são claros os paralelos feitos por Zyvagintsev com a narrativa bíblica de Job, só que no final do filme, o seu herói, Kolia, em vez de ser recompensado pelo sofrimento que lhe foi infligido, é ainda mais implacavelmente martirizado).

Ironicamente, o realizador foi inspirar-se num fato real ocorrido em 2004 nos EUA (revoltado contra a Câmara Municipal da cidade onde vivia na sequência de um contencioso sobre terrenos, um homem meteu-se num tanque, destruiu vários edifícios públicos e depois suicidou-se) para escrever, com Oleg Negin, “Leviatã”, que ganhou o Prémio de Melhor Argumento no Festival de Cannes, o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e esteve candidato ao Óscar na mesma categoria

Kolia ( Aleksei Serebryako, em estupenda atuação), um mecânico, vive e trabalha numa casa com vista para o Mar de Barents, que pertence à sua família há várias gerações. O mafioso presidente da câmara local cobiça o terreno e procura expropriar Kolia e a família manipulando a polícia e os tribunais e obrigando-o a aceitar uma indenização ridícula, para, suspeita este, construir uma mansão luxuosa para si ou especular no mercado imobiliário com os seus capangas do meio da construção civil. Kolia recorre a um velho amigo e camarada da tropa, Dimitri, advogado em Moscou. Este recorre aos seus conhecimentos na capital, compila um dossier com todos os podres do autarca, e confronta-o com ele. Só que nem este se deixa intimidar, como também Dimitri se envolve de forma imprudente com a mulher de Kolia. E tudo o que pode acontecer de mau, acontece.


A Rússia que Andrei Zyvagintsev aqui filma é uma terra de homens e mulheres corruptos, desesperados, comprados ou resignados, onde a revolta é um gesto inútil que a máquina da burocracia, o peso do dinheiro ou a violência dos poderosos se encarregam de neutralizar, e onde toda a gente bebe vodka até ao entorpecimento.

Mais do que um filme pessimista, “Leviatã” é um filme fatalista. E é um fatalismo pesado, ancestral, enraizado, profundamente russo, sem solução nem redenção, muito embora o realizador tenha dito que queria que “Leviatã” fosse também entendido como “uma parábola universal” sobre a batalha do indivíduo contra a omnipotência do Estado. Só que na Rússia essa batalha continua, século atrás de século, regime após regime, a ser trágica e repetidamente inglória.

(O Observador)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Russia: para conter a crise, Putin baixa o preco da Vodka (boa medida...)

Esta deve ser a notícia da semana: a situação econômica piorou tanto na Rússia, que só mesmo dando Vodka de graça para o povo, para tentar acalmar os espíritos (ou emborrachar completamente os cidadãos).

Russia’s economy is so bad it has cut vodka prices

The Washington Post, February 2 at 11:36 AM
With Russia's inflation rising and its economy contracting, Moscow has come up with a new measure to keep calm on the streets: A 16 percent drop in the price of vodka. The Moscow Times reports that, as of Sunday, the new minimum price for half a liter of vodka is 185 rubles ($2.60), a drop from a previous price of 220 rubles ($3.10).
The move seems designed to appease average Russians who have seen their wages hurt by the country's sanctions and oil-related economic turmoil and who, on the whole, consume a large amount of vodka. According to one study of global drinking habits, Russians consumed almost 14 liters of vodka per person in 2012 — more than seven times the amount consumed by Americans.
It's worth considering why Russia has a minimum price for vodka anyway. A law imposing a minimum price for vodka was implemented in 2009, part of a broader plan to deal with Russian binge drinking. Russia's relationship with alcohol is notorious, of course, but it's no joke: Studies have shown that it contributes to a "extraordinarily high mortality rate" among Russian men (Russian women tend to drink far less).
As the Moscow Times notes, the minimum price for vodka was hiked twice in 2014, almost tripling in the process. Some studies have shown that the price increases have had a positive effect. Yet the higher prices seem to have had an unfortunate side-effect: An increase in the sales of "bootleg" alcohol. Just last year, one Russian politician recently argued that the illegally produced alcohol now has 55 percent of market share, and there are calls for greater transparency about what actually constitutes "vodka" in Russia.
Production of Russian vodka has fallen dramatically in the last year, leading many to speculate that illicit alcohol is taking its place. "The overshoot of vodka prices leads only to increasing consumption of bootleg [spirits]," Russian President Vladimir Putin told a meeting of government officials and regional governors in December. Vadim Drobiz, head of the independent Center for Federal and Regional Alcohol Market Studies, has estimated that consumption of illegal alcohol has grown "as much as 65 percent" since 2009.
By increasing sales of (legal) vodka, Moscow likely hopes to increase tax revenues that will help the economy. But there is also a more humanitarian concern here -- illicit alcohol isn't made with safety standards in mind and can cause serious health problems, even death.
Putin had once hoped to cut alcohol consumption in half and uproot the market for illegal liquor by 2020. It now looks like sanctions and oil prices are making that plan look more and more distant.
Adam Taylor writes about foreign affairs for The Washington Post. Originally from London, he studied at the University of Manchester and Columbia University.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

A frase do inicio do ano: Vladimir Putin’s Unhappy New Year

It’s often said that Russian history veers between chaos and despotism. Vladimir Putin is the rare Kremlin leader to span both. 
Matthew Kaminski, The Wall Street Journal, January 1, 2015

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Russia e Brasil: ah, essas vibrantes potencias economicas emergentes...

Onde foi parar o meu PIB?
O gato comeu?
O dólar comeu, para ser mais exato...
Toda essa exaltação com grande números de PIB, ficar entre as dez maiores economias do planeta, se pavonear que somos maiores que essas economiazinhas da Europa, enfim, tudo isso é feito à base de muito anabolizante, ou seja, valorização cambial.
Basta o dólar dar uns pulinhos, ou melhor, basta a moeda nacional dar uns saltinhos para baixo, feito de baixo crescimento do PIB, perda de competitividade nas exportações (que seja de matérias primas ou de manufaturados, não importa muito), desequilíbrio nas transações correntes, e zut, lá vai a economia deslizando ladeira abaixo, e com ela o nosso PIB per capita.
A Rússia e o Brasil tinham uma economia mais ou menos equivalentes em peso, eles com uma população um quarto menor e um PIB per capita proporcionalmente mais elevado.
Pronto: bastou o Putin fazer o diabo na Ucrânia, e o petróleo vir abaixo, que acabou a alegria dos magnatas russos e também da classe média alta. Já não vai dar mais para esquiar na Suíça, vão ter de se contentar com as montanhas da Chechênia mesmo...
Os brasileiros ainda continuam indo a Paris, Orlando, Miami e Nova York, mas se o deslizar do câmbio continuar, vai ficar mais caro, assim como para os russos.
Eles chegaram a ficar mais pobres do que os brasileiros, mas depois se recuperaram um pouco, assim como os brasileiros, com as fortes intervenções dos dois bancos centrais nos mercados de câmbio.
Mas, se as notícias continuarem ruins, nem os bancos centrais vão aguentar o tranco.
Compilei estatísticas de conjuntura, para mostrar essa desgraça toda...
Paulo Roberto de Almeida


Rússia e Brasil comparados, 2013 e 2014:

Russia in 2013:
GDP (Current Prices, National Currency):  RUB 68,144.52 Billion
GDP (Current Prices, US Dollars): US$ 2,213.57 Billion
Population in 2013: 141.439 Million
GDP Per Capita (Current Prices, National Currency): RUB 481,795
GDP Per Capita (Current Prices, US Dollars): US$ 15,650.35
GDP Per Capita (PPP), US Dollars: US$ 18,670.53
Câmbio médio em 2013: RUB 30,78 = US$ 1

Russia in 2014:
Taxa de câmbio em 16 de dezembro de 2014: 68 R/US$
Taxa de câmbio em 22 de dezembro: 55 R/US$
PIB em dólares em 16/12: US$ 1,029.41 Billion
PIB per capita em 16/12: US$ 7,278
PIB per capita em 22/12: US$ 12,272

Brazil em 2013:
GDP (Current Prices, National Currency): R$ 4,795.95 Billion
GDP (Current Prices, US Dollars): US$ 2,456.66 Billion
Population in 2013: 199.881 Million
GDP Per Capita (Current Prices, National Currency): R$ 23,994.04
GDP Per Capita (Current Prices, US Dollars): US$ 12,290.64
GDP Per Capita (PPP), US Dollars: US$ 12,340.18
Câmbio médio em 2013: 1,95 = US$ 1

Brazil in 2014:
Taxa de câmbio em 16 de dezembro de 2014: R$ 2,73/US$ 1
Taxa de câmbio em 22 de dezembro: R$ 2,66/US$
PIB em dólares em 16/12: 1,756.75 US$ Billion
PIB per capita em 16/12: US$ 8,789
PIB per capita em 22/12: US$ 9,020

Fontes: indicadores: Economy Watch: http://www.economywatch.com/economic-statistics/country/ ; Câmbio: Bloomberg: http://www.bloomberg.com/

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

A cleptocracia como forma de governo - Paulo Roberto de Almeida (Estadao)

Um artigo meu publicado no Estadão desta quinta-feira, que trata basicamente de fenômenos estrangeiros. Qualquer semelhança é pura coincidência, à mon insu, como diriam alguns.
Paulo Roberto de Almeida 

A cleptocracia como forma de governo
Paulo Roberto de Almeida, diplomata e professor universitário
O Estado de S. Paulo, 18/12/2014

O termo (cleptocracia) refere-se a uma situação regular e constante de corrupção e de roubos sistemáticos praticados no âmbito do Estado, permitidos pelos seus agentes. Ela implica que representantes do governo mantenham vínculos com a delinquência organizada, isto é, com sindicatos do crime. Os mais conhecidos são as associações nascidas no sul da Itália, entre as quais se destaca a Máfia, depois disseminada internacionalmente. Nos Estados Unidos, Hollywood, com seus dramas e comédias, pode ter edulcorado a ação desses grupos criminosos, que, além de intimidar simples comerciantes, corrompem policiais, juízes e até elegeram senadores; a realidade é geralmente mais sórdida do que a que aparece: ela é feita de muita violência e de grave deterioração das instituições.
Em suas manifestações práticas, Estados mafiosos, ou governos cleptocráticos, estão associados a situações autoritárias, nas quais predomina o arbítrio dos dirigentes em condições próximas de ditaduras abertas ou disfarçadas. Nada impede, porém, que formas de cleptocracia se instalem pelas vias normais da democracia eletiva, como já se viu no passado da América Latina, e como ainda pode estar ocorrendo mesmo agora. Em manifestações mais amenas do que a corrupção generalizada em todas as esferas de governo, ela pode conviver nos regimes democráticos com formas especiais de atuação política: no sistema americano, por exemplo, isso tem o nome de pork barrel; na antiga partidocracia italiana, a lotizzazione e a distribuição de favores recíprocos entre o Executivo e o Legislativo também redundavam em corrupção nos negócios públicos, seja em cargos, seja em concorrências, concessões e compras governamentais.
Um livro recém-publicado de uma pesquisadora de política russa e soviética da Universidade Miami do Estado de Ohio, Karen Dawisha, intitulado Putin's Kleptocracy: Who Owns Russia? (Nova York: Simon & Schuster, 2014), descreve justamente as formas pelas quais o novo czar conseguiu instalar um sistema predatório que desvia recursos imensos do país e de seus cidadãos trabalhadores para enriquecer um punhado de magnatas devotados inteiramente ao seu absolutismo personalista, funcionando como uma democracia de fachada. Métodos similares de extração de valores não mensuráveis - pois, além de desviar dinheiro real, existe também o chamado custo-oportunidade, ou seja, o que se deixa de investir em outras atividades - podem estar sendo usados em outros países, mas foi na Rússia de Putin que a cleptocracia chegou ao seu estado de perfeição institucional. De certa forma, ela não deixa de ser uma petroditadura.
Karen Dawisha lista os expedientes típicos dos regimes corruptos, todos eles em uso, e em expansão, no Estado sucessor da União Soviética - que já era um sistema de roubo "normal" -, mas facilmente encontráveis em outras paragens também: propinas de empresas nacionais e estrangeiras para trabalhar com empresas públicas; pedágios em contratos inflados, não sujeitos a sistemas abertos de licitação nos projetos do governo; regulação ajustada para beneficiar certos grupos e enriquecer os amigos do poder (pode ocorrer em processos viciados de privatização); mecanismos de "coleta" de parte dos recursos amealhados por eles para financiar campanhas eleitorais, ou diretamente para contas bancárias no exterior; operações de comércio exterior, com faturamento a mais ou a menos nos preços; subsídios estatais seletivos; doações legais ou semilegais para obras públicas; transações imobiliárias a preços fictícios, escondendo pagamentos por fora dos contratos; lavagem de dinheiro; financiamento de atividades políticas, com ou sem campanha eleitoral; contas não declaradas em bancos no exterior; maquiagens contábeis nas contas domésticas; arranjos lucrativos com cartéis, quando não com os próprios sindicatos do crime; intimidação, manipulação e controle da mídia; no limite, eliminação física dos "obstáculos" a esses negócios heterodoxos. Déjà vu?
É evidente que quanto mais recursos criados na esfera privada, pelos produtores diretos de renda e riqueza, passam pelos mecanismos de intermediação estatal, maiores são as oportunidades para que várias dessas formas de corrupção se instalem de maneira regular no âmbito do Estado. Cleptocracia existe quando os mais altos agentes públicos sancionam, e até estimulam, esses comportamentos típicos de associações criadas para delinquir. A tradição bolchevique conviveu, desde a origem, com várias dessas formas de atividade criminosa, quando não com formas ainda mais diretas de extração de recursos de particulares e de agências públicas. É sabido, por exemplo, que Stalin começou sua vida "profissional" na ala leninista do partido operário social-democrata russo empreendendo alguns assaltos a agências postais ou a bancos, como forma de financiar as atividades de propaganda do POSDR.
No Brasil, o Minimanual do Guerrilheiro Urbano, de Carlos Marighella, não punha restrições a esse tipo de recurso. O primeiro item do capítulo 9, dedicado às ações dos guerrilheiros, referia-se ao "assalto a banco como modelo popular" (sic), seguido de outros tipos de ação: emboscadas, desvios, confiscos, expropriações de armas, execuções, sequestros, sabotagem, terrorismo, propaganda armada, guerra de nervos (cf. http://www.marxists.org/portugues/marighella/1969/manual/index.htm).
Nem todos os candidatos a guerrilheiros passaram por todas essas etapas e formas de ação. Muitos deles, reciclados, preferiram enveredar por outros tipos de negócios, em alguns casos à la russa. Quando surpreendidos, tentam justificar o método sob o argumento especioso de que "todos fazem assim"; ou então que a indução partiu de agentes privados, ávidos para conquistar mercados de obras públicas. O cinismo também vem junto...


segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Brasil no G20 e o constrangimento ucraniano - Caio Blinder

O Lava Jato ucraniano de Dilma
Caio Blinder blog, 6/11/2014 às 12:56

Com Putin, Dilma não repete as palavras do primeiro-ministro canadense Harper

Nenhuma surpresa na atitude ucraniana da presidente Dilma Rousseff. A agressão russa no país vizinho é um escândalo geopolítico. No entanto, a presidente do Brasil lava as mãos. Ela considera prioritário denunciar bombardeios americanos contra os terroristas do Estado Islâmico (precisamos de diálogo, minha gente, vamos colocar a cabeça no lugar).

Já na reunião do G-20, na Austrália, onde Vladimir Putin foi alvo de merecida hostilidade ocidental, Dilma foi pacata, foi anódina, foi omissa, foi uma anestesia quando deveria tocar na ferida.

Como assim, presidente? A senhora não tem posição sobre uma crise crucial no mundo atual? Em entrevista, Dilma afirmou: “O Brasil, no caso da Ucrânia, não tem e nunca definiu uma posição. Nunca nos manifestamos e evitamos sistematicamente nos envolver em assuntos internos.” Pelo menos desta vez, a presidente não denunciou as ações de Israel em Gaza, como é praxe na sua política de  “não intromissão nos assuntos internos” de outros países.

No jargão dilmista, na crise ucraniana, o Brasil não está “nem de um lado nem de outro”. Está, sim senhora. Ao lavar as mãos, o Brasil se posiciona a favor da agressão russa, em função de uma parceria estratégica com Moscou como integrante dos Brics. Outros países, a destacar na Europa, também têm negócios com a Rússia, mas, pelo menos, marcam posição sobre a Ucrânia. Presidente, não precisa adotar sanções contra o Kremlin, mas sancioná-lo?

Falando em mão, o contraste com a atitude de Dilma Roussef, foi a do primeiro-ministro canadense Stephen Harper. Ele cumprimentou o nosso homem em Moscou, mas desferiu o golpe diplomaticamente correto para a ocasião. “Bom, acho que vou apertar sua mão, mas só tenho uma coisa para te dizer: caia fora da Ucrânia.”

Valeu, Mr./Monsieur Harper! Na típica agitprop russa, um porta-voz do Kremlin disse que a resposta de Putin foi: “Impossível, já que nunca estivemos lá.”

Dilma lavou as mãos. Stephen Harper quem sabe tenha feito o mesmo….após apertar a mão do nosso homem em Moscou.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Espionagem sovietica: muito mais ampla do que jamais voce poderia sonhar - BBC russian service

Você sabia, caro leitor, que dois embaixadores brasileiros trabalharam para a União Soviética, como agentes pagos, chantageados, voluntários, ou seja lá o que for. Não temos os nomes verdadeiros, ainda, apenas os nomes de guerra: Aleks e Izotys, mas isso não importa muito. O fato é que eles não eram muito produtivos, segundo os papéis do Mithrokin Archives, que já foram publicados nos EUA. Parece que eles ganhavam razoavelmente bem, mas trabalhavam mal, com informações pouco substantivas, ou praticamente anódinas.
Também tem a informação de que cubanos e soviéticos penetraram os códigos confidenciais brasileiros, e leram tudo o transitava em nosso telex, depois mensagens eletrônicas. É a vida...
Enfim, ainda falta muito espião para descobrir, no nosso caso agentes cubanos que ainda estão por aí, pulando alegremente, de um lugar para outro, ganhando dinheiro e continuando a fazer trabalho sujo, como vocês devem saber...
Aqui uma outra história que traduzi pelo Google Translator do russo, espero que seja compreensível.
Paulo Roberto de Almeida

What was the name of Abel's actually 157 folders MI5

  • October 30, 2014
  •   kommentarii
Rudolf Abel (photo - second from left) is considered one of the most successful spies during the Cold War
One of the most intriguing discoveries of new batch of documents declassified British intelligence service MI5, began documents related to Rudolf Abel.
According to the available data to date, Abel was the only Soviet intelligence officer cadre, born in Britain, unlike simple agents. Curiously, at the time of his dossier MI5 did not know what the real name Abel - William Fisher, and that he was born in 1903 in Newcastle-on-Tyne.
In total, the British MI5 counterintelligence declassified 157 folders with documents, most of which are documents from the personal files of people who were in sight of the British counterintelligence.
Declassified information relates to the period between World War I and the time of confrontation between the USSR and the West after the Second World War. The documents are divided into several categories: German intelligence agents and suspected of links with it during the Second World War; people for which audited; Soviet spies and people suspected of spying for the Soviet Union; communists and alleged communists, including citizens of the Soviet Union and those who approve of communist views.
Obviously, the materials of the dossier Abel must study together with the files of his personal file in the KGB, who kidnapped and brought back to Britain a former employee of the Archives Department of the First Chief Directorate of the KGB Vasili Mitrokhin.
Declassified documents are stored in the National Archives of Britain
Almost all the documents stolen from the Mitrokhin archive KGB, with July 2014 have become available to historians. For example, it was reported that Abel in 1947 led a large spy network in the US. In 1949, for the excellent work the leadership of the USSR awarded him the Order of the Red Banner.
In documents MI5 describes his arrest in the US in 1956. In the "Mitrokhin Archive" reported that during the arrest, he is named after his friend Rudolf Abel, who by that time was already dead. Fisher knew that the news of the arrest of "Abel" will signal to the KGB about what actually happened.
As is known, Abel subsequently exchanged in Berlin on pilot spy plane U-2 was shot down over the Soviet Union, Gary Powers.

Money laundering of the USSR in the US

There among the documents dossier colorful American businessmen Julius Hammer and his son Armand. Of these, it becomes clear how the Soviet Union in 1920 launched its intelligence activities in the United States.
Family Hammer played a role in laundering money coming from the Soviet Union to finance the American Communist movement.
Famous Hollywood actor Armie Hammer, who played in the movie "The Social Network" - the great-grandson of businessman Armand Hammer
From the archives of the KGB became known in 1921, Vladimir Lenin considered the report of the Hummers so important that he sent a copy of Stalin stamped "Top Secret".
In the declassified document says that after America entered World War II, Julius Hammer could not move there. So he decided to go the other way, that is earning a lot of money that would have gone to the needs of the communist movement. In this he succeeded.
Among other alleged agents of the USSR include Indian diplomat and nationalist Arata Kandet Narayan Nambiar. In 1924 he went as a journalist in Berlin, where he collaborated with the communist cell consisting of Indians. In 1929, at the invitation of the Soviet Union, he came to Moscow.
Before the start of the Second World War, he was deported from Germany, but soon he was allowed to return as a representative nationalist Subhas Chandra Bose in Berlin. Then he led the European cell "Free India", which was funded by the Nazis.
In 1959, Soviet defector told intelligence services of Britain that Nambiar was recruited by the GRU in 1920
He was arrested in Austria in 1945 and received a prison sentence for aiding the Nazis. Conviction has not prevented him Ambassador of India to work in Germany.
In 1959, Soviet defector told intelligence services of Britain that Nambiar was recruited by the GRU in the 1920s. In the "Mitrokhin Archive" no information about it, perhaps because it documents the GRU were not included.

British Marxist historians

It is assumed that most interest to researchers are the files associated with the British Marxist historians Eric Hobsbawm and Christopher Hill.
In the case of Hill turns out that the intelligence agencies became interested in him after his long journey to Russia in 1935, when he was a student at Oxford University. In 1936 he returned to Britain and joined the Communist Party. After the Second World War, MI5 believed Hill's one of the main Communist at Oxford University.
In 1951, counterintelligence received permission from the Ministry of Interior to the audition of his telephone conversations and reading his correspondence. In MI5 believed that thus will be able to get more information about the scientist as well as on the activities of the Communists in the University of Oxford.
Thanks intercepted letter becomes clear infighting Hill and his decision to quit the Communist Party in 1957. Thus he protested the invasion of the Soviet Union in Hungary in 1956. In his address to the party leadership, he wrote: "For too long we have lived in a world of illusions. It was a cozy little world ..."
Counterintelligence reread correspondence Eric Hobsbawm
Unlike Hill Eric Hobsbawm has not left the ranks of the Communist Party after the Soviet invasion of Hungary, but his relationship with some of the British Communists soured. One of the supporters of "hard" line Dee Ann Pritt once said in a private conversation that he was dissatisfied with "this heinous Eric Hobsbawm."
Many Communists unpleasantly surprised to learn that the historian, wrote an article for the Daily Mail and the other is not too sympathetic to the Communists publications under the pseudonym Francis Newton. However, he continued to encourage people, especially young people, to join the Communist Party.
In one of the declassified files specifically states that in 1963 he congratulated the Young Communist League of West Middlesex with "encouraging results" to attract new members. The documents contained his membership card belonging to the beginning of the 1960s, as well as intercepted letters and transcripts of telephone conversations.

Secret agent of the Gestapo

The current package of documents disclosed reveals the secret MI5 agent "Jack King" of which the general public has learned of previously declassified documents. This officer counterintelligence, whose real name is - Eric Roberts, during the Second World War in Britain seemed a secret agent of the German Gestapo, making counterintelligence revealed Britons sympathetic to the Nazis. This operation is called "The Case of the fifth column."
Some British, believing that they are dealing with a German spy, he even passed classified information, including the development of the engine for supersonic aircraft.
Thanks released documents became known name of the agent, as well as recordings of his conversations with supporters of the Nazis, who wanted to uncover all sorts of military secrets and thereby harm the military might of Britain.
Eric Roberts was represented in Britain a secret agent of the Gestapo
Supporters Hitler proposes to continue the bombing of British cities to further undermine the morale of the society, and the German troops entered the territory of Britain. In the period from 1942 to 1945, Roberts was able to identify dozens or even hundreds of people who supported the Nazis.
In declassified documents counterintelligence have information about the American physicist Robert Oppenheimer, who helped create the Atomic bomby.Ego suspects in connection with the Soviet Union because of sympathy for the ideas of Marxism and the communist movement. From his dossier can be understood that the American and British intelligence are very worried that Oppenheimer decides to escape to the Soviet Union.
MI5 declassified dossier on the member of the CPSU, comrade Joseph Stalin Georgy Malenkov. In 1956 Malenkov headed the delegation of the Soviet Union, to visit the UK. The visit was widely covered in the British press.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Consequencias diplomaticas de uma mudanca: Russia tambem se inquieta por posicao do Brasil no Brics

Assim como ocorre no plano regional -- onde hermanitos e bolivarianos se preocupam com uma mudança na postura brasileira -- os parceiros no Brics, em especial a Rússia também se inquietam quanto a possíveis mudanças de posição diplomática do Brasil com respeito ao grupo e questões políticas sensíveis, que têm merecido uma atitude compreensível, senão simpática, para as políticas adotadas nesses países. A Rússia, em particular, isolada internacionalmente por causa de sua "guerrilha" contra a Ucrânia parece preocupada...
Paulo Roberto de Almeida

Russia hopes relationship with Brazil doesn't run into BRIC wall

Russi Direct, Oct 17, 2014 Analysis
Presidential elections are underway in Brazil that could fundamentally change the political and economic outlook for Latin America’s largest country. Should Russia be concerned?

Brazil's presidential candidates Aecio Neves (right) of Brazilian Social Democratic Party and Dilma Rousseff of Workers' Party. Photo: Reuters
In the second round of Brazilian presidential elections on Oct. 26, the current resident of the presidential palace, Dilma Rousseff, will face Aecio Neves, a candidate from the business community holding a right-center position. Potentially at stake is the future economic direction of this influential BRICS nation – including the relative importance that Brazil places on its growing trade relationship with Russia.
In the current Brazilian campaign, there have been many unexpected twists, making the outcome of the presidential election too close to call. One of Rousseff’s main rivals was supposed to be Socialist Party member Eduardo Campos. However, on Aug. 13 of this year, his airplane crashed and the presidential candidate was killed.
After his death, the leadership of the party proposed that Marina Silva, Brazil's famous "green" leader, participate in the elections. Marina burst into the campaign like a whirlwind and began gaining points rapidly. By the end of August, her advantage over Rousseff was being measured in double-digit numbers.
However, Silva's ratings have plummeted as fast as they have soared. Voters have seen that she often contradicts herself and her recipes for "happiness for all" do not seem very convincing. In the first round she came in third after Rousseff, who received nearly 42 percent of the vote and Aecio Neves, who took 34 percent. Now, though, much depends on the votes given to Silva – not so many, but then again, not so few – nearly 22 million in all. She herself has encouraged supporting Neves in the elections.
After the elections entered the final stretch, the main campaign issue became whether or not Brazil’s government would continue its social orientation and paternalistic policies. The country is now debating a greater shift to free market policies and greater integration into the global economy.
The current left-center Workers' Party has been in power for 12 years. It considers its greatest achievement to be enabling 30 million Brazilians to escape from poverty and join the ranks of the middle class. Brazil has been talked about around the world as the "country of the future." In 2010 TIME referred to Brazil as a country entering the ranks of First World countries.
Brazil has reason to be proud of its accomplishments. It is the world's fifth largest state in terms of territory, the world’s seventh largest economy, and its fourth largest food exporter. It is the global leader in the supply of such products as sugar cane, coffee and beef. The country has begun to produce or export nearly everything needed by world markets, from minerals to water, electricity, and steel.
Nevertheless, Brazil has not been able to live up to the confidence placed in it. From 2011 to 2013, its economic growth was only 2.1 percent (during the "zeros" decade, growth reached as high as 7 percent a year). In the first half of 2014, the country was generally mired in a technical recession. In 2011, after Rousseff came to power, the Brazilian real fell against the dollar by 33 percent. The level of consumer confidence was at its lowest in a decade.
This new reality has placed difficult questions before the candidates for presidency in the current elections. Voters will choose the candidate they feel is the most capable of pulling Brazil out of its economic doldrums and enabling the country to take its rightful place in the modern world.
According to the most recent opinion polls, Neves is two percentage points ahead of Rousseff. He is a well-known politician in the country. For two terms, Neves was the governor of the second largest state Minas Gerais (as measured by population) in the country. During the election campaign, Neves has advocated drastically cutting state expenditures (while still maintaining the main social programs instituted by his predecessors), granting new initiatives to the private sector, and starting direct trade talks with the United States. At the same time, he has sharply criticized the current leaders for their outdated ideological stance and potentially corrupt deals related to the activities of the Petrobras energy company.
As Shannon O'Neil, an analyst at the Council on Foreign Relations, points out the opportunity that Neves could exploit, "The country has yet to complete its decade–long negotiations with the EU, even as other Latin American nations have signed some thirty free trade agreements since Rousseff entered office in January of 2011.”
Brazilian business actively welcomed the fortifying of Neves's position. After he made it into the second round, the stock market index rose sharply and the Brazilian real strengthened its position in relation to the dollar noticeably. The increase in the share price of the oil giant Petrobras by 17 percent was indicative of the market’s buoyant mood.
What awaits the world if the right-centrist Neves wins? As Julia E. Sweig, the Nelson and David Rockefeller Senior Fellow for Latin America Studies and Director for Latin America Studies at the Council on Foreign Relations, says: “Wall Street made its preferences known well before the first round: The markets wanted change. Anything but Dilma…”
If Aecio Neves, boosted by his position as a liberal reformist guided by the spirit of the free market, is victorious, it can be expected that Brazil will enter into a new, sturdier relationship with the U.S., which will in turn activate the Washington bureaucracy that had lost interest in Brazil’s leftist government. At the very least, it is hardly likely Neves will refuse to meet Obama or cancel any visits to the U.S. because of any sense of outrage over American intelligence services listening in on foreign leaders, as Rousseff has done.
A change in the balance within the BRICS can be expected, but not a drastic one. If Neves wins, this union of "emerging economies" will probably continue to pose itself as a counterweight to the G7 and claim a special role in the world but to a lesser extent.
Significant changes should not be expected regarding the relationship between Brazil and Russia although it seems doubtful that the Brazilian authorities will allow Russia Today to broadcast within the country as does Cristina Kirchner's government in Argentina.
However, it is possible that mutually beneficial trade contracts between the two countries will be maintained. Petr Yakovlev, the head of the Center for Iberian Studies of the Institute of Latin America (Russian Academy of Sciences), points out the growing role of trade in the Russian-Brazilian relationship, "In the first decade of the 21st century, relations between Russia and Brazil gained additional momentum and were diversified significantly. This resulted in a dramatic increase in trade turnover (from $994 million  in 2000 to $5.7 billion in 2013)."
However, if Neves gains power, the country's new government will likely lend greater heed to the recommendations of Washington, which has imposed sanctions on a number of Russia's leading companies and banks, thereby depriving them of the possibility of raising capital in the U.S.
This may, first and foremost, affect military cooperation between Russia and Brazil. Currently the Brazilian Air Force has Mi-35M multi-purpose helicopters in its arsenal that were supplied by Rosoboronexport. However, the sanctions imposed by the U.S. on this Russian company could even affect military contracts with Brazil.
Any change in the economic relationship between Russia and Brazil brought about by Western sanctions will impede the transition awaited in Russia from a simple trade in goods between the two countries to a more complex economic partnership that includes investment and diversification into new industries.

domingo, 21 de setembro de 2014

Tres ideas equivocadas: Putin-Russia, Obama-USA; China-potencia mundial - Moises Naim

Putin é um autocrata ao estilo dos seus predecessores czaristas; vai falhar, como eles falharam, em criar instituições sólidas, pois que pretende que elas sejam baseadas em sua vontade exclusiva. Ademais, a Rússia é um gigante com pés de barro, ou seja, um grande país, com enormes recursos naturais, mas com instituições frágeis, que não permitem que o país se integre naturalmente, e beneficamente, com o seu contexto regional, que deveria ser a Europa ocidental e toda a Ásia central. Como império, vai falhar, como já dizia Renouvin.

Obama, obviamente, é um perfeito social-democrata num país que preza muito mais o empreendedorismo individual, e tem reações isolacionistas reiteradas, em meio a impulsos para corrigir o que acha errado no mundo, mas que sente que podem colocar em perigo seu modo de vida. Idealismo tipicamente americano, que de toda forma deixaria o mundo melhor, se não existissem obstáculos formidáveis nesse mundo, justamente aqueles que derivam de autocratas como Putin, Xi Jin-ping e outros ditadores ordinários e vagabundos em outras paragens.

Finalmente, a China, de fato uma enorme potência econômica, mas que precisa de um Big Brother para conter os impulsos internos, anárquicos, de uma população que foi secularmente oprimida pelos mandarins, antes imperiais, hoje do Partido Comunista. Como sempre acontece em sua história, as dinastias duram enquanto o poder central for capaz de controlar o povo, com a ajuda de mandarins eficientes. Depois, estes se tornam corruptos, e alguém derruba o imperador para colocar outro em seu lugar. O imperador hoje é o Partido Comunista, com seus novos mandarins, tão corruptos quanto os das dinastias imperiais. Isso um dia acaba...
Paulo Roberto de Almeida

EL OBSERVADOR GLOBAL

Tres ideas equivocadas

Turbulencia geopolíticas, crisis económicas y convulsiones sociales no dan tiempo de pensar


En estos días es fácil equivocarse. La turbulencia geopolítica, las crisis económicas y las convulsiones sociales se suceden a tal velocidad que no da tiempo de pensar con calma y calibrar bien lo que está sucediendo en el mundo.
En este ambiente tan revuelto, algunas ideas han arraigado tanto entre expertos como en la opinión pública internacional. A pesar de su popularidad, varias de ellas están equivocadas. Por ejemplo, estas tres:
1. Vladímir Putin es el líder más poderoso del mundo. Por ahora. ¿Pero cuán duradero es el enorme poder que hoy concentra? No mucho. La economía rusa, que no iba bien desde antes del conflicto con Ucrania, se ha debilitado aún más debido a las severas sanciones impuestas por Estados Unidos y Europa. El valor del rublo ha caído a su mínimo histórico, la fuga de capitales es enorme (74.000 millones de dólares tan solo en el primer semestre), la inversión se ha detenido y la actividad económica se contrajo. El Kremlin ha debido echar mano de los fondos de pensiones para mantener a flote grandes empresas cuyas finanzas han colapsado al perder acceso a los mercados financieros internacionales. La producción de petróleo ha disminuido y las nuevas inversiones de las que depende la producción futura se han parado. Por otro lado, el machismo bélico de Putin le ha dado nueva vida y mayor protagonismo a una organización que él detesta y que estaba en vías de extinción: la OTAN. Y esta semana se confirmó el fracaso de Putin en detener el acercamiento de Ucrania a la Unión Europea, después de que el Parlamento de Kiev y la Eurocámara ratificaran un acuerdo de asociación. Putin seguirá siendo un líder importante y sus actuaciones tendrán consecuencias mundiales. Después de todo, preside autocráticamente uno de los países más grandes del mundo y su nacionalismo lo ha hecho muy popular entre los rusos. Pero su estrategia económica, sus relaciones internacionales y su política doméstica son insostenibles.
2. Obama fracasó. La popularidad de Obama es la mitad de la de Putin. La renuencia del presidente norteamericano a intervenir militarmente, de manera mucho más agresiva, en Siria, Ucrania o contra el Estado Islámico le ha valido severas críticas. Su fracaso a la hora de lograr el apoyo del Congreso para aprobar leyes indispensables ha expandido la idea de que Obama es un novato que no sabe manejar el poder o que EE UU ya no es una superpotencia, o no sabe actuar como tal.
Esta afirmación se debe a que se tiende a sobreestimar el poder de EE UU. Y a la creencia de que basta con que la Casa Blanca decida intervenir para que los problemas se arreglen o se mitiguen. Esto nunca fue cierto, aunque antes el presidente norteamericano gozaba de un mayor grado de libertad que ahora. Pero el mundo ha cambiado, y el poder ya no es lo que era. Incluso el presidente de EE UU tiene menos poder que el que tenían sus predecesores. Desde esta perspectiva, Obama se ha manejado mucho mejor de lo que le conceden quienes creen que su cargo confiere poderes casi sobrehumanos.
3. China es la próxima superpotencia del planeta. Es inevitable que dentro de unos años China tenga la economía más grande del mundo. Sus fuerzas armadas también están creciendo rápidamente, así como su protagonismo internacional. Su influencia en África, América Latina y sus vecinos asiáticos es indudable. La capacidad del Gobierno chino para construir grandes infraestructuras es también incuestionable y su éxito económico y social es fenomenal. Esto hace que muchos supongan que China será la nueva potencia hegemónica del siglo XXI. Yo no lo creo. Sabemos que existen dos Chinas: una industrializada, moderna, la de los rascacielos, la globalización y gran dinamismo económico. Pero también sabemos que hay una China muy pobre y con enormes necesidades insatisfechas de vivienda, salud, educación, agua, electricidad, etc. El ingreso del 48% de la población que vive en esta China más pobre y rural es un tercio de lo que ganan sus compatriotas en las ciudades. Sorprende, además, que, a pesar de sus éxitos, el Gobierno muestre gran inseguridad. Gasta más en seguridad interna que en defensa externa, por ejemplo. Un tercio del territorio chino, Tíbet y Xinjiang, vive en una crónica ebullición política a la que Pekín responde con fuerte represión y permanente intervención militar. Y los esfuerzos gubernamentales por controlar la información, censurar Internet y limitar el intercambio de ideas son legendarios. Este ambiente inhibe la innovación, ingrediente indispensable para que un país tenga éxito.
Es obvio que China tendrá cada vez más peso en la economía y la política del mundo. Pero no será la potencia dominante.
En el siglo XXI ningún país podrá desempeñar ese papel.

Sígueme en Twitter en @moisesnaim

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Da serie: "Voce sabia?" (mas esta e' seria, mesmo sendo da serie...)


Caro leitor: você sabia que "86% dos alimentos consumidos na Rússia são importados"?
Estou achando um exagero, mas considerando que é a Bloomberg que diz, e que Vladimir Putin, como seu mentor, Vladimir Ilich Ulianov, é um brilhante estrategista político, mas um economista sofrível (para não dizer medíocre), pode ser que seja verdade. Afinal de contas, ele passou anos ordenhando a vaca petrolífera da Rússia, numa maldição do petróleo para ninguém botar defeito, construindo uma petroditadura para também ninguém botar defeito, é muito provável, sim, que ele tenha conseguido, como aqui os companheiros, destruir a indústria nacional, deixando uma terra arrasada atrás de si.
Os companheiros aqui acham que vão lucrar com as sanções ocidentais -- já que eles pouco se importam com a Ucrânia, com a coerência diplomática, com os princípios do direito internacionais e todas essas coisas sem importância nas relações internacionais -- mas os russos, que já prejudicaram o Brasil diversas vezes nas relações comerciais (inclusive com corrupção na importação de carnes, justamente, quando se cobrava propina para autorizar abatedouros, aliás muito poucos autorizados), vão novamente nos prejudicar quando acharem que isso lhes é conveniente. Sabem como é, essa solidariedade dos Brics só vale numa direção...
Paulo Roberto de Almeida

Tiros no pé

Matéria da Bloomberg destaca a maneira curiosa que o presidente russo Vladimir Putin encontrou para penalizar seus adversário europeus e americanos, via sanções comerciais.

Quem ganha e quem perde mais com a relação abaixo?

+ As exportações para os EUA e Europa representam 13% do PIB da Rússia
+ As exportações para a Rússia impactam cerca de 0,1% no PIB americano
+ As exportações para a Rússia respondem por cerca de 0,8% do PIB da União Européia
+ 86% dos alimentos consumidos na Rússia são importados
+ Disso, os produtos americanos e europeus barrados de entrar na Rússia provém o equivalente a 38% dos alimentos importados que são consumidos no país.


Da coluna diária da Consultoria Empiricus
(aquela mesma que foi acusada pelo Planalto de fazer terrorismo eleitoral...)

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Our MEN in Havana? Back to good old days...


Russia to Reopen Spying Post in Cuba


MOSCOW — Russia has decided to reopen an electronic eavesdropping post in Cuba that it closed more than a decade ago, reaching out for a one-time symbol of its global superpower status, Russian officials and newspaper reports said on Wednesday.
President Vladimir V. Putin agreed with Cuba’s leader, Raúl Castro, during a visit to Cuba last week to reopen the post. In exchange, Mr. Putin agreed to forgive about 90 percent of Cuba’s Soviet-era debt to Russia, or about $32 billion. News of the debt relief emerged last week, but the agreement to reopen the listening post was first reported Wednesday by the Russian newspaper Kommersant.
Members of the Russian Parliament appeared to confirm the report in public statements praising what seemed to be a step by Russia toward re-establishing a military presence in Cuba, at a time when the conflict in Ukraine has sent Russian-American relations spiraling to their lowest point since the end of the Cold War.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Fukuyama: 25 anos de Fim da Historia, e a democracia liberal de mercado ainda nao foi superada...

...e nem será dentro de em breve, pelo menos não enquanto alguns grandes atores -- Rússia, China -- e outros menores -- ditaduras atrasadas em alguns pontos do Sul, caudilhos ridículos na América Latina -- não se converterem plenamente às formas liberais de governança, o que só quer dizer uma coisa: democracias de mercado.
Mesmo que seus atuais ditadores não queiram, o processo vai acabar se impondo, pela força das demandas de seus próprios povos. Isso é inevitável e só depende do tempo e da educação política dos setores médios nesses países.
Permito-me relembrar que escrevi um texto, aos 20 anos da tese de Fukuyama, cuja referência e link aqui seguem:

O “Fim da História”, de Fukuyama, vinte anos depois: o que ficou?, por Paulo Roberto de Almeida, in: Meridiano 47, n.114, janeiro de 2010

Por enquanto fiquem com esta entrevista concedida por ele à Deutsche Welle, que me foi enviada por um leitor habitual deste blog.
Paulo Roberto de Almeida

HISTÓRIA

"Ainda tenho razão", afirma Francis Fukuyama, filósofo do "fim da história"

Cientista político americano, autor de "O fim da história", vê democracia liberal como ápice da evolução sociocultural. Em entrevista à DW, defende a teoria lançada há 25 anos e rebate noção de uma nova Guerra Fria.
Em 1989, o cientista político e economista americano Francis Fukuyama publicava seu famoso artigoO fim da história? na revista The National Interest. Nele, argumentava que a difusão mundial das democracias liberais e do livre capitalismo de mercado possivelmente sinalizavam o fim da evolução sociocultural da humanidade. Três anos mais tarde, ele publicaria o livro O fim da história e o último homem, onde expandia essas ideias.
Decorrido um quarto de século, os pontos de vista de Fukuyama continuam sendo debatidos e criticados. Em entrevista à DW, o filósofo de 61 anos afirma que tais ataques a seu texto são decorrentes de uma interpretação equivocada, e defende suas teses à luz de eventos geopolíticos recentes.
DW: Em 1989, o senhor publicou seu artigo mais conhecido, O fim da história?. Vinte e cinco anos atrás, numerosos críticos diziam: "Esse cara está errado." O senhor sente que foi mal entendido ou admite agora que estava errado?
Francis Fukuyama: Acho que os maiores problemas têm a ver com um mal entendido. O conceito de "fim da história" era a questão: em que rumo a história aponta? Para o comunismo – que era o ponto-de-vista de muitos intelectuais, antes – ou na direção da democracia liberal? E acho que, neste ponto, ainda estou certo.
História, no sentido filosófico, é realmente o desenvolvimento, ou a evolução – ou modernização – de instituições, e a questão é: nas sociedades mais desenvolvidas do mundo, que tipo de instituições são essas?
Acho que está bem claro que qualquer sociedade que pretenda ser moderna ainda precisa ter uma combinação de instituições políticas democráticas com uma economia de mercado. E eu não acho que a China, a Rússia ou qualquer outro concorrente invalidem esse argumento.
O senhor menciona a China e a Rússia. Eu gostaria de conversar sobre a Ucrânia. Onde o senhor nos vê historicamente nesse momento?
Bem, eu acho que a Rússia não se desenvolveu na direção de uma democracia liberal de verdade, e suas ambições territoriais e geopolíticas não desapareceram. Mas no fim das contas, eu acho que o sistema russo é muito fraco, ele depende completamente de preços altos de energia. Mesmo na Rússia ele não é aceito inteiramente como uma forma legítima de governo. Então não é um real competidor.
Quando o senhor vê o presidente russo, Vladimir Putin, na televisão, e vê o comportamento dele, o senhor o considera um bom exemplo para a sua tese de que reconhecimento é um impulsionador importante da história?
Penso que, de diversas maneiras, é isso. Porque ele e muitos outros russos recorrem a um poço de ressentimentos – de que a Rússia não teve reconhecimento, de que foi considerada fraca, de que os seus interesses não foram respeitados pelos países ocidentais durante a ampliação da Otan, e pelas coisas que aconteceram nas décadas de 1990 e 2000. Assim, eu creio que reconhecimento, para ele, é uma questão.
Putin na TV: movido pela necessidade de reconhecimento?
Os políticos ocidentais, americanos ou europeus, deveriam dar atenção, reconhecimento a Putin?
Acho que é tarde demais para isso. Muitos desses problemas foram baseados em decisões tomadas na década de 90, e é impossível desfazê-las. Eu realmente acredito que é preciso tratar a Rússia como um país sério, com seus interesses nacionais próprios. Eles podem não ser os mesmos que os nossos, mas é preciso, de qualquer forma, começar pelo respeito.
Os acontecimentos na Ucrânia parecem ser o início de uma segunda Guerra Fria. Entretanto, no momento há sinais de que ambos os lados estão cedendo. O senhor diria que essa Guerra Fria está suspensa, por enquanto?
A Guerra Fria foi um fenômeno tão diferente! Era um conflito global, um conflito de ideias e a respeito de dois sistemas políticos muito diferentes. Isso agora é uma batalha para restaurar a dignidade dos russos, sem implicações reais fora das áreas da antiga União Soviética. Então, nesse sentido, não é nem um pouco parecido com a Guerra Fria em si.
No tocante a sistemas e governos que funcionem, qual é a sua visão de seu próprio país, os Estados Unidos?
Eu argumento, num próximo livro, que o sistema político americano se deteriorou em muitos aspectos por ter sido seriamente sequestrado por diversos grupos de interesses poderosos. Muitos dos instrumentos de freio e contrapeso (checks and balances), de que nos orgulhamos, resultaram, na prática, no que eu chamo de "vetocracia", ou seja: grupos demais detêm o poder de barrar decisões. Como resultado, o Congresso ficou paralisado, o que eu considero um grande problema para nós.
As instituições democráticas americanas estão em decadência? O que isso significaria para os EUA, como um todo: eles são uma superpotência em retirada?
Não, não vejo a coisa assim, absolutamente, porque na verdade a economia americana está bem de saúde e é, provavelmente, a mais saudável de todas as grandes economias democráticas. Gás de xisto, Silicon Valley: há muitas fontes de crescimento e inovação. Eu apenas acho que o sistema político não vai bem. Mas a sociedade americana é sempre um pouco mais o setor privado do que o setor público.
Voltando a O fim da história, qual é a sua previsão para os próximos 10 ou 20 anos?
Acho que nós estamos passando por um período difícil, em que tanto a Rússia quanto a China se expandem. Mas estou convencido de que é um fenômeno limitado, que, a longo prazo, só existe uma ideia organizadora importante: a ideia de democracia numa economia de mercado. Portanto, a longo prazo, eu continuo otimista.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Relacoes Brasil-Cuba: em direcao de um futuro calote? - Russia cancela divida bilateral com Cuba

Em meio a um longo artigo sobre as loucuras argentinas, uma noticia que não seria surpreendente se não nos tocasse também, no plano dos compromissos financeiros.
Destaco este trecho e comento:

El viernes pasado, Moscú canceló a Cuba una deuda color sepia con la Unión Soviética: US$ 35.000 millones, impagables.

Comento: o Brasil seria a Rússia de amanhã?
Muito provavelmente, pois Cuba não vai pagar os empréstimos -- SECRETOS, não custa lembrar -- fez à ditadura comunista, e que servem de alento ao moribundo regime da ilha-prisão, em estado pré-falimentar.
35 bilhões de dólares não é pouca coisa, mas é o resultado de anos e anos de subsídios soviéticos a um regime condenado à bancarrota. Quanto o Brasil já comprometeu no mesmo circuito de calotes anunciados?
Por acaso, sabe-se que o Ministério do Desenvolvimento Agrário, que sempre esteve no círculo de "influências" do MST, liberou mais 58 milhões de dólares para financiar compra de equipamentos para subsidiar a agricultura familiar cubana. Ou seja, além de subsidiar nossos próprios agricultores familiares, o MDA do MST financia os cubanos. E o ministro vai a Cuba ainda este ano. Como se vê, o Brasil continua generoso com uma ilha falida...
Paulo Roberto de Almeida

Alianzas ingenuas en la guerra contra EE.UU.
Por Carlos Pagni
La Nación (Argentina), 6/07/2014

Lo único que falta es que Nicolás Maduro denuncie a la faringolaringitis como la última enfermedad que el imperialismo inocula en la América bolivariana para frustrar su liberación. Por culpa de esa afección, Cristina Kirchner tuvo que suspender la celebración de la Independencia, prevista para pasado mañana en Tucumán.
El silencio político, única respuesta al escándalo Boudou, se transformó en silencio clínico. Una frustración para Maduro, Evo Morales, Rafael Correa y José Mujica, que visitarían el país para apoyar a la Presidenta en su campaña contra los holdouts.
Ella aplicó al problema de la deuda en default el protocolo del reclamo por Malvinas. Donde siempre dice "Reino Unido", ahora dice "buitres". El sábado, la Presidenta debería estar repuesta. Ese día llegará Vladimir Putin. Y el 19, Xi Jinping, el presidente de China. La búsqueda de esos respaldos hace juego con la creciente politización del pleito con los holdouts.
Primero se denunció la voracidad desalmada de los "buitres"; después, la "extorsión" de Thomas Griesa; ahora, la contradicción es con Washington. El objetivo es que la Argentina integre un bloque contra los Estados Unidos, en una nueva pero dudosa Guerra Fría.
Esta estrategia, si se la puede llamar así, tiene algunas deficiencias inquietantes. La primera es que supone que Daniel Pollack, el special master designado por Griesa, es sensible a la presión de la diplomacia. Pollack recibirá hoy en Nueva York a una comitiva de funcionarios argentinos: el ministro de Economía, Axel Kicillof; el secretario de Finanzas, Pablo López; el secretario legal del Ministerio de Economía, Federico Thea, y el subprocurador del Tesoro, Javier Pargament. Es improbable que hablen de los pronunciamientos del G-77 o de las recomendaciones de la OEA sobre las reestructuraciones de deuda. Pollack ni siquiera ejerce una mediación: es el mero ejecutor de la sentencia de Griesa.
La otra falla de la campaña oficial es que llegó fuera de hora. En el supuesto de que el Poder Judicial de los Estados Unidos sea receptivo de alguna sugerencia política, la del kirchnerismo es extemporánea. Las presentaciones internacionales de Kicillofy Héctor Timerman, igual que las advertencias de economistas extranjeros sobre el riesgo en que ha puesto Griesa a las finanzas globales, hubieran sido oportunas antes de que la Corte de los Estados Unidos rechazara la apelación argentina. La Presidenta tuvo más de diez años para realizar ese ejercicio. Pero recién se despabiló al advertir que sería ella, y no su sucesor, la responsable de pagar. Entonces ordenó saldar contra reloj todas las deudas -Ciadi, Club de París, Repsol-, y creyó que con eso alcanzaría para que los jueces norteamericanos no pusieran al país al borde del default. No funcionó. Ahora el esfuerzo diplomático es muy tardío. De nada sirve despotricar contra una sentencia firme.
El kirchnerismo puso en funcionamiento sus creencias más atávicas. Primero, no hay decisión jurídica ni económica que no pueda ser doblegada por la política. Segundo, la independencia de los magistrados es tan ilusoria en los Estados Unidos como en la Argentina o Venezuela. Hay un tercer axioma, que se activará en los próximos días: el poder de Washington se sentirá menoscabado si en Buenos Aires deciden "irse con otro". Néstor Kirchner giró hacia el chavismo en 2005, cuando advirtió que George Bush no sería su abogado frente al Fondo Monetario Internacional. Cristina Kirchner firmó su acuerdo con Irán, que hasta hoy no puede explicar, al convencerse de que, a pesar de su posición contra el terrorismo islámico, Barack Obama seguiría aplicándole sanciones comerciales. La indiferencia de la justicia neoyorquina pondrá a la Argentina en brazos de Putin y de Xi, que llegarán a Buenos Aires aprovechando que van a Brasil para la cumbre de los Brics.
Contexto Cambiado
El idilio con el presidente ruso comenzó con la anexión de Crimea. La representante argentina en la ONU, que votó en contra en el Consejo de Seguridad, se abstuvo diez días después en el plenario. "No cambiamos nosotros, sino el contexto", bromeó Timerman. Putin llega a Buenos Aires envuelto en la bandera antinorteamericana. El viernes pasado, Moscú canceló a Cuba una deuda color sepia con la Unión Soviética: US$ 35.000 millones, impagables. Además, desde que Estados Unidos y Europa la sancionaron, Rusia invita a sus socios a comerciar en monedas distintas del dólar.
En la Casa Rosada confían en que esa fobia terminará dando un beneficio. ¿Habrá un aporte ruso al alicaído Banco Central? Cristina Kirchner quiere que, antes de que llegue Putin, el Senado trate un proyecto que otorga inmunidad a las reservas monetarias que otros Estados depositen en el país. Esa protección ya fue dada por la ley 24.488, de 1995. Aunque el nuevo proyecto agrega un resguardo contra "cualquier medida coercitiva" -¿el embargo de un tercero?- y menciona entre los depositantes a "otras entidades monetarias".
Putin volará desde Buenos Aires hacia Fortaleza, donde el lunes 14 comienza la cumbre de los Brics: Brasil, Rusia, la India, China y Sudáfrica. La innovación que esos países realizarán en el tablero internacional enfervorizará a la Presidenta: crearán un banco que cada uno capitalizará con US$ 10.000 millones. También formarán un fondo de reserva de US$ 100.000 millones, de los cuales China aportará 41.000 millones; Rusia, la India y Brasil, 18.000 millones cada uno, y Sudáfrica, 5000 millones. Los Brics ensayan una institucionalidad paralela a la del Fondo Monetario Internacional y el Banco Mundial. Este nuevo régimen, alternativo al fundado en Bretton Woods, está diseñado, sobre todo, por los chinos, que no consiguen traducir su capacidad económica en poder en los organismos dominados por Europa y los Estados Unidos. ¿Será una de estas nuevas organizaciones la "otra entidad monetaria" a la que se refiere el proyecto que la Presidenta envió al Congreso?
La reunión de Fortaleza se prolongará en Brasilia, adonde los presidentes de los Brics invitaron a sus colegas de la Unasur. Si supera la faringolaringitis, la señora de Kirchner se verá allí con Xi, que el 19 visitará Buenos Aires. El presidente chino anunciará el desembolso de US$ 10.000 millones para las obras del Belgrano Cargas y las faraónicas represas Néstor Kirchner y Jorge Cepernic. Esas centrales serán construidas por la china Gezhouba, asociada con Electroingeniería, de Gerardo Luis Ferreyra, un íntimo de Carlos Zannini.
Los contratos se terminaron de iniciar el 13 de junio pasado. Es decir, 72 horas antes del rechazo de la Corte norteamericana. Los funcionarios argentinos leyeron esa anticipación como un respaldo. Para ellos todos los fenómenos están vinculados entre sí. Salvo las represas santacruceñas con el sistema eléctrico. Conectarlas costará varios miles de millones de dólares. Es un detalle.
A los chinos les resulta simpático que se interprete su incursión en Sudamérica como una avanzada contra Washington. ¿Washington no viene sellando acuerdos militares con Japón, Vietnam y Filipinas? Pero el paradigma de la Guerra Fría es engañoso para interpretar la actualidad. Para China, el grupo preferido es el que integra con los Estados Unidos: el G-2. Ambas potencias coinciden en la agenda de largo plazo: terrorismo, energía, alimentación y medio ambiente. Se volverá a notar pasado mañana, cuando comience en Pekín la sexta ronda de diálogo estratégico y económico de los dos países.
La ensoñación de construir un nuevo orden bipolar releva al kirchnerismo de explicitar una solución para un conflicto que, a diferencia del de Malvinas, tiene vencimiento el próximo 31. Los funcionarios que hoy visitan Nueva York esperan que Griesa despeje la muy discutible amenaza de la cláusula Rufo y de los "buitres" holgazanes, que no iniciaron juicio. Kicillof está atrapado por el dilema de Protágoras: pagando o dejando de pagar, siempre pierde. Así como los holdouts, que se cubrieron del default comprando credit default swaps, cobrando o dejando de cobrar, siempre ganan.
Tal vez sea contraproducente insultar al magistrado. Pero la señora de Kirchner ve en Griesa al emergente de una gran conspiración. El miércoles pasado terminó de corroborarlo. Ariel Lijo fue el invitado más visible en la celebración nacional de la embajada de los Estados Unidos. Para el oficialismo hay una armonía tranquilizadora: a Griesa y Lijo los mueve el mismo titiritero. Además, en la fiesta también estuvo Héctor Magnetto. Todo cierra.

Igual hay un problema: así como la militancia internacional no resuelve la encerrona de los holdouts, la existencia ostensible de un complot no libera al kirchnerismo del lastre en que se ha convertido Amado Boudou. Sobre todo si, como afirman algunas versiones de las últimas horas, aparecen conexiones entre la causa Ciccone y los fondos administrados por el santacruceño Ernesto Clarence, a quien Elisa Carrió denomina "el cajero de los Kirchner". La Casa Rosada debería conseguir la licencia de Boudou. O la Presidenta tendrá más temas de los que no hablar.