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domingo, 6 de setembro de 2020

Uma certa ideia do Itamaraty: a reconstrução da política externa e a restauração da diplomacia brasileira - livro de Paulo Roberto de Almeida

Meu livro está pronto, com apenas um detalhe a ser agregado; assim que estiver pronto, vou torná-lo disponível aos interessados. Aqui o índice...
Paulo Roberto de Almeida




Índice:

Prólogo:
Uma certa ideia do Itamaraty

1. Bases conceituais de uma política externa nacional
1.1. Introdução: natureza do exercício
1.2. Quanto aos métodos
       1.2.1. Clareza quanto às intenções
       1.2.2. Interação entre a diplomacia e a economia
       1.2.3. Aferição precisa quanto aos meios disponíveis
       1.2.4. Flexibilidade e abertura às inovações
1.3. Quanto aos propósitos
       1.3.1. A questão do interesse nacional
       1.3.2. O problema das prioridades nas relações exteriores
       1.3.3. As “parcerias estratégicas”: possibilidades e limites
       1.3.4. A ordem econômica internacional e os blocos de integração
       1.3.5. Problemas da segurança internacional, regional e nacional
       1.3.6. A representação dos interesses no exercício da política externa
       1.3.7. Instrumentos de ação de uma política externa nacional
1.4. Conclusões: fundamentos empíricos de uma diplomacia concreta

2. Quais são as nossas verdadeiras ameaças? 
2.1. Uma situação depressiva, no mundo todo, com a pandemia
2.2. Um novo inimigo na frente diplomática: o globalismo
2.3. A “revolução cultural” em curso no Itamaraty
2.4. As contradições da diplomacia bolsolavista

3. Política externa e diplomacia no contexto das liberdades democráticas 
Introdução: como a diplomacia interage com as liberdades e a democracia
3.1. As conferências da paz da Haia de 1899 e de 1907: Rui Barbosa e a igualdade soberana das nações; Corte Arbitral Internacional; possibilidades e limites
3.2. A Grande Guerra e os 14 Pontos de Wilson; a denúncia bolchevique dos acordos secretos;
3.3. A Liga das Nações e o Acordo Briand-Kellog: o recurso obrigatório a meios pacíficos de solução de controvérsias e de disputas entre os Estados 
3.4. O nascimento oligárquico da ordem internacional do pós-Segunda Guerra: a ONU
3.5. O processo de multilateralização da ordem política e econômica internacional
3.6. A descolonização, o fim do socialismo e a triplicação dos Estados membros da ONU
3.7. A busca de justiça nas relações internacionais: de Nuremberg ao TPI, passando pelas guerras civis nos Balcãs, na África e no Oriente Médio
3.8. A responsabilidade de proteger (R2P), limites da soberania estatal e a responsabilidade ao proteger
3.9. Progressos limitados da ordem democrática no contexto internacional
3.10. O Brasil no contexto global das liberdades democráticas: da ditadura à democracia e aos retrocessos do antimultilateralismo

4. O Brasil no cenário internacional e o futuro da diplomacia brasileira 
4.1. Qual é o cenário internacional atual?
4. 2. Como o Brasil se situa nesse cenário?
4.3. Quais foram, quais são, atualmente, os posicionamentos da diplomacia brasileira?
4.4. Os sete pecados capitais da diplomacia bolsolavista
       4.4.1. Ignorância
       4.4.2. Irrealismo
       4.4.3. Arrogância
       4.4.4. Servilismo
       4.4.5. Miopia
       4.4.6. Grosseria
       4.4.7. Inconstitucionalidade
4.5. A diplomacia brasileira tem futuro? Certamente, mas ainda não sabemos qual será

5. Duas diplomacias contrastadas: a do lulopetismo e a do bolsolavismo
5.1. Similaridades e diferenças entre uma e outra diplomacia
5.2. O que distingue, basicamente, a diplomacia lulopetista da bolsolavista? 
5.3. Contrastes e confrontos entre a diplomacia lulopetista e a bolsolavista
(a) Multilateralismo e cooperação internacional: a quadratura do círculo
(b) OMC e questões comerciais em geral: muito barulho por quase nada
(c) Terrorismo: o que os EUA determinarem, está bem
(d) Globalização e “globalismo”: quando o besteirol chega ao Itamaraty
(e) Brasil na América do Sul e a questão da liderança regional
(f) Mercosul: supostamente relevante, mas de fato deixado de lado
(g) Argentina, o parceiro incontornável (mas contornado)
(h) Europa, União Europeia: esperanças e frustrações
(i) A relação bilateral com os Estados Unidos: subordinação em toda a linha
(j) relações com a China: entre o saldo comercial e o “comunavirus”
5.4Instrumentos diplomáticos e características gerais das duas diplomacias

6. Política externa e diplomacia brasileira no desenvolvimento nacional
6.1. Introdução: a natureza do exercício
6.2. Do Império à velha República: o lento desenvolvimento social
6.3. A modernização conservadora sob tutela militar: 1930-1985
6.4. As insuficiências sociais da democracia política: 1985-2020
6.5. Dúvidas e questionamentos sobre o futuro: o que falta ao Brasil?

6.5.1. Estabilidade macroeconômica (políticas macro e setoriais)

6.5.2. Competição microeconômica (fim de monopólios e carteis)
6.5.3. Boa governança (reforma das instituições nos três poderes)
6.5.4. Alta qualidade do capital humano (revolução educacional)
6.5.5. Abertura ampla a comércio e investimentos internacionais
6.6. Conclusões: o que falta ao Brasil?

Epílogo: 
Preparando a reconstrução da política externa 
  
Apêndices: 
Dez regras sensatas para a diplomacia profissional
A reconstrução da política externa brasileira (“manifesto dos chanceleres”)
Programa Renascença (Instituto Diplomacia para Democracia)

Livros publicados pelo autor
Nota sobre o autor



Em tempos de grandes mentiras, o ato de falar a verdade torna-se revolucionário.
George Orwell
  

The fact that men and women gain governing power
– whether by democratic elections or extraconstitutional means –
is no guarantee of wise leadership.
Robert Dallek, Prefácio a The Lost Peace: leadership in a time of horror and hope, 1945-1953
(New York: Harper Collins Publishers, e-books, 2010)


sábado, 5 de setembro de 2020

Grupo de diplomatas propõe política externa pós-Bolsonaro - Carolina Marins (UOL)

Eu nunca chamaria os diplomatas que rejeitam a atual política externa, do governo Bolsonaro, de "desalentados". Ao contrário, se trata de resistentes à subissão da diplomacia bolsolavista ao governo Trump, suas posturas antidiplomáticas em praticamente todas as vertentes da agenda internacional, multilateral, regional e bilateral. 
Esse trabalho de resistência vai continuar.
Eu mesmo pretendo lançar mais um livro proximamente.
Paulo Roberto de Almeida

"Desalentados", grupo de diplomatas propõe política externa pós-Bolsonaro

Carolina Marins
Do UOL, em São Paulo
05/09/2020 04h00


Os atritos entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e outros líderes mundiais, o alinhamento aos EUA e a maneira como o governo tem lidado com a Amazônia e a pandemia de covid-19 têm deixado um grupo de diplomatas preocupado com a reputação do país no exterior. Por isso, lançarão na próxima semana um documento com sugestões para "reconstruir" a política externa após o fim do atual governo.
Na próxima terça-feira (8), às 15h, os ex-embaixadores Celso Amorim e Rubens Ricupero, que não participaram da construção do documento, mas interpretam a iniciativa como uma forma de demonstrar "desalento" com o momento atual vivido pelo Itamaraty, participam de debate virtual para o lançamento da carta de metas. A mediação será da professora Suhayla Khalil, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, e a transmissão ocorrerá pelo YouTube, Facebook e no UOL.
"Isso reflete um momento de tremendo desencanto com o que está ocorrendo na política externa", opina o ex-chanceler Celso Amorim em entrevista ao UOL. "A gente tem visto outros diplomatas veteranos que estão todos muito chocados com os rumos que o Brasil tem tomado. Eu acho que isso chegou aos jovens diplomatas também. Os jovens estão muito desalentados."
Antonio Cottas, diplomata licenciado que idealizou o projeto, explica que o documento reúne sugestões de outros diplomatas, servidores públicos e especialistas na área de relações internacionais para "recuperar" a reputação do Itamaraty. "O primeiro projeto público de uma política externa pós-bolsonarista parte da constatação de graves danos à reputação e aos interesses do Brasil causados pelo atual governo", diz a nota de divulgação do evento.
"Já passado um ano e meio, o governo não tem sido capaz de apresentar resultados concretos. Pelo contrário, tem colocado o Brasil em grandes dificuldades com países parceiros", afirma Cottas.
"Esse pessoal de agora fez uma mudança radical no organograma logo no começo do mandato. Isso causou uma dor de cabeça enorme para um monte de gente, para o funcionamento do ministério, e obteve resultados muito duvidosos. Muitas pessoas estão se sentindo constrangidas em defender algumas políticas desse governo e estão preferindo ir para postos ou designações um pouco mais 'low profile'".
Entre os descontentamentos, o diplomata aponta o alinhamento automático aos Estados Unidos, defendido pelo presidente brasileiro. Segundo ele, o comportamento do país arranha a imagem até mesmo aos olhos dos EUA.
"Vamos ter uma política externa sensata. Nada de alinhamento automático e submissão aos Estados Unidos. Primeiro porque eles não respeitam isso. Para um país com as dimensões do Brasil, não tem como você se alinhar a uma grande potência. Fora que isso é constrangedor e humilhante", diz.
"Isso não é um alinhamento. Alinhamento foi na época do Castelo Branco, do Juracy Magalhães. Isso é submissão", concorda Amorim. "Nas grandes questões globais, que o Brasil não teria um grande interesse, ele seguia os Estados Unidos. Agora não. Mesmo em coisas importantes. Por exemplo, o Brasil tinha um candidato ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Os EUA, rompendo com uma tradição de 60 anos, lançam um candidato e o Brasil solta uma nota elogiando. Isso aí não tem paralelo", exemplifica.
A questão ambiental é outro ponto citado pelos diplomatas que afeta, inclusive, o acordo Mercosul-União Europeia, celebrado pelo governo. Países europeus se mostram inseguros de firmar o acordo após o episódio das queimadas na floresta Amazônica, negadas pelo presidente. O próprio vice-presidente Hamilton Mourão já disse que vê o acordando "naufragando".
"Eu creio que nem os europeus, nem o Mercosul deseja propriamente liquidar a possibilidade de que o acordo venha a existir no futuro. Mas ele está condicionado a que haja uma mudança real na política de meio ambiente do Brasil", diz Rubens Ricupero, que também foi ministro do meio ambiente durante o governo Itamar Franco.
"Quem criou o problema foi o Brasil, porque o acordo estava indo muito bem. A Alemanha tinha interesse em levar adiante, mas o que aconteceu na Amazônia, evidentemente, paralisou tudo. E já houve dois parlamentos, o da Holanda e o da Irlanda, que votaram resoluções contrárias ao acordo", completa.
"O governo todo festejou o acordo Mercosul-União Europeia. O próprio chanceler festejou porque estávamos negociando há vinte anos. Depois, tudo o que o Brasil fez foi para sabotar o acordo. Brigou com a França. Brigou com a Alemanha. Tratam de mudança climática de maneira vexatória que nos expõe no mundo inteiro. Tudo isso torna o acordo impossível", opina Amorim.
Segundo os embaixadores, o histórico pragmatismo do Itamaraty, que antes tornava o Brasil um país amigável para participar de inúmeras discussões sensíveis da política internacional, se perdeu com a chegada da ideologia encampada por Bolsonaro, em especial em temas de direitos humanos, desmatamento e saúde. Com a pandemia de covid-19 e a consolidação do país como epicentro da doença, a reputação foi novamente afetada.
"Já tínhamos uma imagem péssima por muitas razões", diz Ricupero. "O fato de que o presidente faz apologia da ditadura e da tortura; que tem essa atitude hostil à política de gênero; o problema dos povos indígenas; os incêndios da Amazônia. E agora em cima de tudo isso, é o país percebido como o pior do mundo no combate à pandemia. Nenhum país do mundo mudou três vezes de ministro da Saúde em plena pandemia. E agora, como se não faltasse ainda, essa declaração sobre a vacina, que é a única esperança que se tem agora."
O ex-embaixador diz que recuperar a reputação pode ser um processo lento. "Ainda que daqui dois, três anos se tenha outro governo e uma política externa muito superior à atual, as pessoas no exterior vão sempre lembrar deste momento de mergulho e vão dizer 'que confiança nós podemos ter um país que teve oscilações tão grandes?'".
Ambos os embaixadores enfatizam que leram o documento a ser divulgado e não concordam necessariamente com todos os pontos, mas consideram importante a ação. "Eu fico com muita admiração pela coragem desses jovens. Entendo que muitos deles provavelmente estão em serviço ativo", completa Amorim.

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segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Os delírios e mentiras de Bolsonaro isolaram o Brasil da América Latina, China, Europa e até dos EUA - João Filho (The Intercept)



Os delírios e mentiras de Bolsonaro isolaram o Brasil da América Latina, China, Europa e até dos EUA

Da Amazônia aos direitos humanos, passando pelo coronavírus, Bolsonaro transformou o Brasil em pária do mundo.
The Intercept, 14 de Junho de 2020, 1h02
Se antes o Brasil era uma referência em diplomacia internacional e almejava ser protagonista nas relações com o mundo, hoje o país é rejeitado até mesmo pelos seus vizinhos.

O BEM-SUCEDIDO projeto de destruição da democracia do governo Bolsonaro está promovendo uma lenta e dolorosa morte da reputação do país. Com a chegada da pandemia, ficou claro para o mundo que o Brasil está nas mãos de conservadores xucros, fundamentalistas religiosos e psicopatas dispostos a empurrar compatriotas para o cemitério em nome da salvação da economia. Se antes já havia motivos de sobra para a desconfiança internacional, agora a coisa ficou escancarada.
Bolsonaro é, sob qualquer ponto de vista, o pior presidente do mundo no enfrentamento ao coronavírus. A extrema direita avançou no mundo inteiro, mas no Brasil esse avanço está se dando com requintes de crueldade. Mesmo Trump e Orbán, dois presidentes extremistas que são referências para Bolsonaro, basearam suas ações na ciência e determinaram o isolamento social como fundamental para a contenção da infecção. Já Bolsonaro, com base em misticismos forjados no WhatsApp e nos delírios do vovô da Virgínia, trabalha na direção contrária.


O enterro está sendo agora, mas o velório começou antes mesmo do bolsonarismo tomar posse. Ainda em novembro de 2018, a xucrice bolsonarista já exibia suas credenciais para o mundo: desrespeitaram abertamente a China, nosso principal parceiro comercial. Atacaram o Mercosul. Criaram atrito com os países árabes ao anunciar mudança da embaixada de Israel para Jerusalém. Ameaçaram sair do Acordo de Paris. Tudo isso aconteceu ainda faltando um mês para a posse. O estrago feito em poucos dias já era um indicativo da tragédia que viria nesse ano e meio de mandato.
A política internacional bolsonarista é guiada exclusivamente pela ideologia barata de Steve Bannon, o promoter da extrema direita no mundo. É uma ideologia que considera razoável o filho do presidente, que mal sabe falar inglês, se tornar o embaixador brasileiro nos EUA. Estar preparado para o cargo não é uma condição para assumi-lo. Para isso basta ser reaça. As ações internacionais desse governo, portanto, não são pensadas para trazer bons negócios para o país e melhorar a vida do povo brasileiro, mas para cumprir a agenda “anti-globalista” de uma turminha delirante. A expectativa era fazer nosso comércio exterior se aproximar dos capitalistas dos EUA e se afastar dos comunistas chineses. A realidade está sendo outra: EUA e China se afastando cada vez mais do Brasil.
Essas patacoadas internacionais foram se acumulando e atingiram o pico com a maneira esotérica como enfrentamos o coronavírus. A comunidade internacional está nos isolando progressivamente. Mesmo o principal aliado, Trump, tem criticado reiteradamente o Brasil e proibiu a entrada de brasileiros em seu país. Este 2020 pode ser considerado o ano em que o Brasil se transformou em pária internacional.
O bolsonarismo prometeu acabar com a política internacional ideologizada dos governos do PT, ignorando que a relação política entre Brasil e EUA, por exemplo, já foi tão boa que Lula quase virou amigo do direitista George Bush. Ainda antes de tomarem posse, Eduardo Bolsonaro esteve nos EUA com Steve Bannon e desfilou com um boné da campanha Trump 2020. Essa vergonhosa puxação de saco com Trump foi, por óbvio, uma tragédia em termos diplomáticos. Trump não é o dono dos EUA e praticamente todas as importantes decisões do governo precisam de aprovação da Câmara, que hoje é composta por uma maioria democrata.
Na semana passada, uma comissão da Câmara americana declarou que rejeitará qualquer parceria econômica com “o Brasil do presidente Jair Bolsonaro”. Sim, a rejeição não é ao país, mas especificamente ao país presidido por Bolsonaro. Em carta enviada ao principal negociador comercial dos EUA, o embaixador Robert Lighthizer, a Câmara justifica a rejeição: “há um completo menosprezo (do governo Bolsonaro) por direitos humanos básicos, pela necessidade de proteger a floresta amazônica e pelos direitos e dignidade dos trabalhadores (…) O aprimoramento do relacionamento econômico entre os EUA e o Brasil, neste momento, iria minar os esforços dos defensores dos direitos humanos, trabalhistas e ambientais brasileiros para promover o estado de direito e proteger e preservar comunidades marginalizadas”.
Outra razão para a rejeição de acordos comerciais com o Brasil: “as declarações depreciativas sobre mulheres, populações indígenas e pessoas identificadas por gênero ou orientação sexual, além de outros grupos”.  É claro que também há interesses econômicos por trás dessa rejeição dos democratas, mas é inegável que a imagem manchada do país atrapalha os negócios.
Na Europa, há uma enxurrada de países rejeitando parcerias comerciais com o Brasil. Na última quarta, o parlamento holandês se colocou contra o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, que ainda depende da aprovação de países participantes. Motivos? A devastação da Amazônia e o descaso com os povos indígenas comandados por Jair Bolsonaro.
Em fevereiro, um parlamento regional na Bélgica rejeitou por unanimidade o mesmo acordo, usando as mesmas justificativas. Além desses países, França, Irlanda e Alemanha também já deram sinais claros que não vão assinar acordos comerciais com o Brasil pelos mesmos motivos.
Mês passado, Yasmin Fahimi, deputada alemã que preside o Grupo Parlamentar Brasil-Alemanha, afirmou que não sabia como seria possível conciliar as políticas de Bolsonaro com as exigências para o acordo União Europeia-Mercosul. E completou: “Bolsonaro representa um perigo para a democracia, para o estado de direito e para a existência da floresta amazônica”. O bolsonarismo está descobrindo na prática que se apresentar ao mundo como inimigo do meio ambiente e dos direitos humanos não é bom para os negócios — uma obviedade que nem o chimpanzé mais esperto do bando, o Paulo Guedes, conseguiu enxergar.
Além dos EUA impedirem a entrada de brasileiros no país pelo descaso do governo no combate à pandemia, outros países estão fazendo o mesmo. Nossos vizinhos de continente temem que o descaso do governo brasileiro respingue em seus países. O Paraguai fechou as fronteiras do país por temer, segundo uma autoridade paraguaia, que a “situação caótica” vivida pelo Brasil chegue ao país. Argentina e Uruguai também reforçaram o controle nas fronteiras com o Brasil, levando motoristas de caminhão brasileiros a sofrerem discriminação pelas autoridades estrangeiras.
Na Colômbia, o maior número de casos de coronavírus está em uma cidade amazônica que faz fronteira com o Brasil. O ministro da Saúde colombiano atribuiu o problema à falta de diálogo com as autoridades brasileiras.  Na Bolívia, o quadro se repete. As cidades que fazem fronteira com o Brasil estão entre as que  mais têm casos no país. O sistema de saúde da região boliviana na Amazônia já entrou em colapso.
Apesar da profunda recessão econômica, o governo que prometeu ultraliberalismo na economia vem implodindo todas as pontes comerciais do país. A nossa diplomacia não está a serviço dos brasileiros, mas de uma agenda global da extrema direita. Em nenhum outro momento da República, o Brasil esteve tão isolado. Se antes o país era uma referência em diplomacia internacional e almejava ser protagonista nas relações com o mundo, hoje é rejeitado até mesmo pelos seus vizinhos. A transformação do Brasil em pária internacional é consequência direta do até aqui muito bem-sucedido plano de destruição progressiva da democracia.
Hoje, nós somos vistos pelo mundo como uma republiqueta das bananas cujo líder é um homem autoritário que renega a ciência, esconde dados fundamentais para a segurança sanitária e faz ameaças semanais de golpe de estado. Esse é o paiseco que nós viramos.

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Duas diplomacias contrastadas: a do lulopetismo e a do bolsolavismo - Paulo Roberto de Almeida

Meu trabalho mais recente, apenas terminado, para uma palestra online. Obviamente não será lido: 

3739. “Duas diplomacias contrastadas: a do lulopetismo e a do bolsolavismo”, Brasília, 23 agosto 2020, 35 p. Exercício de comparação recapitulativa dos principais elementos de política externa e de diplomacia em cada uma das duas épocas, incluindo também a de FHC. Disponibilizado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43930886/3739_Duas_diplomacias_contrastadas_a_do_lulopetismo_e_a_do_bolsolavismo_2020_).

Duas diplomacias contrastadas: a do lulopetismo e a do bolsolavismo
Paulo Roberto de Almeida
Diplomata; professor no Uniceub
(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Sumário: 
1. Similaridades e diferenças entre uma e outra diplomacia
2. O que distingue, basicamente, a diplomacia lulopetista da bolsolavista? 
3. Contrastes e confrontos entre a diplomacia lulopetista e a bolsolavista
(a) Multilateralismo e cooperação internacional: a quadratura do círculo
(b) OMC e questões comerciais em geral: muito barulho por quase nada
(c) Terrorismo: o que os EUA determinarem, está bem
(d) Globalização e “globalismo”: quando o besteirol chega ao Itamaraty
(e) Brasil na América do Sul e a questão da liderança regional
(f) Mercosul: supostamente relevante, mas de fato deixado de lado
(g) Argentina, o parceiro incontornável (mas contornado)
(h) Europa, União Europeia: esperanças e frustrações
(i) A relação bilateral com os Estados Unidos: subordinação em toda a linha
(j) relações com a China: entre o saldo comercial e o “comunavirus”
4Instrumentos diplomáticos e características gerais das duas diplomacias

Resumo: Ensaio comparativo, contrastando as políticas externas das administrações Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Messias Bolsonaro, com base em suas características gerais e nas tomadas de posição em relação a um conjunto de temas da agenda internacional, nomeadamente: multilateralismo (CSNU); OMC e negociações comerciais multilaterais; terrorismo; globalização; Brasil como líder na América do Sul; Mercosul; Argentina; Europa e União Europeia; relações com os Estados Unidos e China, ademais dos instrumentos diplomáticos mobilizados por cada um dos governos. Os elementos inéditos na fase recente são bem evidentes tanto no estilo quanto na substância, que passou a exibir diversos traços de ruptura com respeito aos padrões e tradições da diplomacia brasileira.
Palavras-chave: diplomacia brasileira; governo Luiz Inácio Lula da Silva; governo Jair Messias Bolsonaro; multilateralismo; globalização; regionalismo; negociações comerciais.

Abstract: Comparative essay, contrasting the foreign policies of Luiz Inácio Lula da Silva’s and Jair Messias Bolsonaro’s administrations. Besides the general features of each diplomacy, external policies and practices of each government are compared for a set of issues in the international agenda, namely: multilateralism (UNSC); WTO, and multilateral trade negotiations; terrorism; globalization; Brazil as a leader; South America; Mercosur; Argentina; Europe; relationship with the United States, and China, with a final section on diplomatic tools preferred by each government. There are unseen aspects in current diplomacy, both in style as well as substance, with breaking features with the traditional patterns and standards of Brazilian diplomacy.
Key-words: Brazilian diplomacy; Luiz Inácio Lula da Silva government; Jair Messias Bolsonaro government; multilateralism; globalization; regionalism, trade negotiations.


Duas diplomacias contrastadas: a do lulopetismo e a do bolsolavismo

Paulo Roberto de Almeida

1. Similaridades e diferenças entre uma e outra diplomacia
Em meados de 2004, ou seja, aproximadamente um ano e meio depois da inauguração do primeiro mandato do presidente Lula, procedi a uma avaliação de sua política externa, em perspectiva comparada com a diplomacia do recém findo governo de Fernando Henrique Cardoso, este ao final de seus dois mandatos. O artigo, “Uma política externa engajada: a diplomacia do governo Lula”, foi publicado na Revista Brasileira de Política Internacional (2004, vol.47, n.1, p. 162-184, link: http://www.scielo.br/pdf/rbpi/v47n1/v47n1a08.pdf) e depois incorporado ao livro Nunca Antes na Diplomacia...: A política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Appris, 2014). Ele converteu-se num dos trabalhos mais acessados, segundo a listagem do Google Scholar (perto de trezentas citações), abrindo uma discussão colaborativa com diversos outros colegas acadêmicos trabalhando na mesma temática.
Um ano e meio após a inauguração do governo Bolsonaro, imaginei poder repetir o exercício, procedendo a uma comparação entre as duas diplomacias, a do lulopetismo e (à falta de melhor termo) a do bolsolavismo. De imediato, constatei que tal comparação, segundo os procedimentos metodológicos apropriados a esse tipo de abordagem, seria propriamente impossível, em vista da inexistência de base documental suficiente para o segundo elemento. Não obstante, como daquela primeira vez, vale o esforço analítico.
Cabe, antes de tudo, uma explicitação quanto à escolha do termo “bolsolavista”, em lugar de diplomacia bolsonarista. Ela é simples: não se tem nenhuma indicação de que o presidente, ou seus assessores mais próximos, tenham ideias próprias no terreno da política internacional, ao passo que muitas de suas posturas, inclusive na área externa, parecem ter recebido decisiva influência de conhecido influenciador e animador de movimentos da direita conservadora, que declarou abertamente que atuou como “patrono” da designação do chanceler escolhido; seja como for, nenhum deles, até aqui, ofereceu qualquer documento de trabalho ou discurso abrangente sobre as bases conceituais, as diretrizes operacionais ou as prioridades práticas do que normalmente se concebe como sendo uma política externa de um governo normalmente constituído.
(...)


sábado, 22 de agosto de 2020

Sobre a política externa e a diplomacia brasileira em tempos obscuros - Paulo Roberto de Almeida

Sobre a política externa e a diplomacia brasileira em tempos obscuros


Paulo Roberto de Almeida
[Objetivocrítica ao bolsolavismo diplomáticofinalidadedebate público]
  
Não existem precedentes, em 200 anos de história diplomática, para o que vem ocorrendo com o Itamaraty, desde a ascensão dos novos bárbaros ao comando da nação, em função das circunstâncias excepcionais dos anos 2016-18, que permitiram a agregação das forças mais obscurantistas que jamais ocuparam posições de poder no Brasil.
Os novos bárbaros são certamente de extrema-direita, mas sem muita doutrina ou conceitos programáticos. Eles são basicamente primários, são reacionários obscurantistas, e sobretudo profundamente toscos e ignorantes em matéria de relações internacionais, de política exterior e de diplomacia brasileira. 
Eles encontraram quem lhes servisse de forma oportunista e totalmente subordinada e subserviente, numa obra de destruição da inteligência no serviço exterior, e de ruptura não só com as melhores tradições do Itamaraty, mas também com a simples racionalidade de posturas que garantissem a defesa do interesse nacional.
Fundamentalmente, colocaram o Brasil a serviço do dirigente inepto de uma potência estrangeira, numa postura de submissão automática que é profundamente vergonhosa para uma diplomacia outrora respeitada e admirada, mas também para o próprio país, que se vê praticamente excluído de um diálogo que deveria ser mutuamente benéfico com outros atores relevantes da comunidade internacional.
Sob a condução dos novos bárbaros, a diplomacia terraplanista reduziu a interlocução do país a um punhado de populistas reacionários, unidos na mesma causa demencial do antiglobalismo, num profundo desprestígio para a diplomacia profissional. 
O trabalho de reconstrução da política externa e da diplomacia profissional brasileira deve começar por um esforço de resistência que assume, inicialmente, um formato intelectual, ou seja, de contraposição conceitual e doutrinária à atual indigência mental que caracteriza as posturas assumidas pelos novos bárbaros no plano do relacionamento exterior do Brasil. 
Essa resistência deve prosseguir pela denúncia de todas as barbaridades sendo atualmente perpetradas em nome do Brasil no plano externo e se completar por uma exposição clara sobre quais seriam as melhores políticas a serem assumidas por uma governança responsável em defesa dos mais altos interesses do país. Estes certamente não passam pela subordinação a uma potência estrangeira, pela adesão a doutrinas autoritárias e antidemocráticas ou pela recusa irracional e absurda do multilateralismo nas relações internacionais do Brasil. 

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 3738, 22 de agosto de 2020

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

A carreira diplomática e a diplomacia brasileira - Pod-RI, Unesp-Franca

A carreira diplomática e a diplomacia brasileira

Paulo Roberto de Almeida
Registros da entrevista gravada para o Pod-RI


         Recebi, dos alunos do curso de Relações Internacionais da Unesp-Franca, Leonardo, Gustavo e Enzo Golfetti, responsáveis pelo Pod-RI que eles criaram e mantêm, os links para o programa gravado com eles e por eles, no dia 5 de agosto de 2020. Primeiro o convite, depois a ficha do trabalho, cujo roteiro foi tentativamente respondido por mim, e transcrevo ao final de tudo, depois a gravação preliminar e em terceiro lugar, o podcast tal como editado por eles, postado no Facebook dessa brilhante iniciativa dos estudantes da Unesp-Franca (https://www.facebook.com/107203960975709/posts/161249412237830/).


Olá embaixador!
Que bom que gostou do nosso trabalho! Sem dúvidas faremos uma sua, se quiser deixar em anexo a foto, em breve montamos a ilustração.
Sobre data pensamos em Terça ou Quarta da próxima semana (dias 04/08 e 05/08) como opções. Gravamos sempre no horário do fim da tarde (18 ou 19 horas) ou a noite (20 ou 21 horas) para não chocar com outros compromissos, alguma destas datas e horários é possível pra você? OBS: nossas gravações nunca passam de 1h e 30 min contando possíveis erros de gravação. 
Caso não, articulamos outras sem problemas.
Sobre o conteúdo em si, propomos algo bem livre, uma conversa mais informal e deixo aqui alguns tópicos que queremos percorrer na conversa:
- Uma apresentação e breve história sua;
- Como ingressar no MRE;
- Quais funções tem-se de desempenhar na estrutura da instituição;
- Como é para ser indicado para os consulados e embaixadas;
- Qual a importância das funções;
- Uma conversa mais solta sobre os bastidores da função e sua passagem por elas;
-  Por fim, gostaríamos de um bate-papo rápido sobre como está o MRE hoje (se possível claro) sua opinião sobre as ações do Brasil etc.
No ademais estamos abertos a sugestões e dúvidas.
Att, Enzo Golfetti


(A) 3725. “A carreira diplomática e a diplomacia brasileira”, Brasília, 26 julho 2020, 3 p. Respostas a questões de alunos de RI da Unesp-Franca-SP; Gravação de podcast; Pod-RI; alunos de RI da Unesp Franca; (https://www.facebook.com/podcastRI/ ), na quarta-feira, dia 5/08, 18hs. Gravação de entrevista, disponível no Facebook (https://www.facebook.com/107203960975709/posts/161249412237830/), no Instagram (https://www.instagram.com/p/CD15Rc_DSNT/?igshid=l0v8zq3suh7) e no Spotfy (https://open.spotify.com/episode/1W8FWd9dKConYOOH6Zfa6X).






(C) Sejam bem-vindos a mais um Pod-RI! Neste episódio mais que especial, trouxemos um convidado pra lá de gabaritado! Com vocês Paulo Roberto de Almeida, embaixador brasileiro com mais de 40 anos experiência, conversou conosco sobre como é trabalhar no Itamaraty, tudo com muita graça, histórias e curiosidades. E deixamos pra vocês o link do blog dele onde estão disponíveis diversas de suas histórias e muitos de seus livros gratuitos! Vem com a gente nessa! https://www.facebook.com/podcastRI/posts/161249412237830?__cft__[0]=AZXsolDiONcLEyu_D0Sf_Njb_XRcmCUeI-XPXslVndkEoWBQrLAKgL9Gjcfrh44ex2ITcSavp2tLvUv6tlGN3I3tME9ZcJX98zysYf2X3iYHgmnOsoMoULbw7bw7UMRaA7hbnGj_hgAiYrEixYng1kco3LfjdjljQ9r5vSDbG2ViPQ&__tn__=%2CO%2CP-R



A carreira diplomática e a diplomacia brasileira


Paulo Roberto de Almeida
[ObjetivoGravação de podcastfinalidadePod-RI; alunos de RI da Unesp Franca; (https://www.facebook.com/podcastRI/ ), na quarta-feira, dia 5/08, 18hs]; alunos de RI da Unesp Franca; contato: Enzo Golfetti.


1) Uma apresentação e breve história sua;
3683. “Preparação para a carreira diplomática: uma conversa com candidatos”, Brasília, 29 maio 2020, 2020, 6 p. Conversa online com candidatos à carreira diplomática, coordenada por Amanda do “Keep it blue podcast”, sobre as seguintes questões: 1) O que fez o senhor decidir ser diplomata?; 2) Como foi sua jornada para passar o CACD?; 3) Quais são os diferenciais para passar o concurso?; 4) Como o candidato deve abordar as atualidades em seus estudos?; 5) Como deveria ser o mindset para o estudo dos idiomas?; 6) Como foi o Instituto Rio Branco?; 7) O que se aprende por lá?; 8) Como é a vida no exterior?; 9) Como muda em relação a Brasília? Elaborada lista de 37 trabalhos que se encaixam nos critérios solicitados. Divulgado no blog Diplomatizando (29/05/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/05/preparacao-para-carreira-diplomatica.html); disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43192887/Preparacao_para_a_carreira_diplomatica_uma_conversa_com_candidatos_2020_).
3684. “Um diplomata desvio padrão: podcast para candidatos à carreira”, Brasília, 29 maio 2020, Audio Mpeg da Apple 1:31:13, 37, 2MB. Podcast gravado sobre os pontos enunciados no trabalho n. 3683. Disponível no Dropbox (link: https://www.dropbox.com/s/0kd91ucpgmlkhgn/3684DiplomataDesvioPadraoPodcast.m4a?dl=0); anunciado no blog Diplomatizzando (30/05/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/05/uma-conversa-com-candidatos-carreira.html).
3691. “Uma carreira na diplomacia para jovens estudantes”, Brasília, 8 junho 2020, 4 p. Respostas a questões colocada por coordenadores do programa Explica ENEM (https://www.instagram.com/explicaenem/). Disponível no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/06/uma-carreira-na-diplomacia-para-jovens.html) e na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43292605/Uma_carreira_na_diplomacia_para_jovens_estudantes_2020_). 

2) Como ingressar no MRE;
     Não existe nenhuma fórmula mágica, a não ser a do estudo intenso, constante, obsessivo, durante largos anos. Cursinhos preparatórios podem dar dicas, macetes, facilitar ao acesso de provas anteriores, indicar bibliografia e permitir interação com outros candidatos e professores, mas nada vai substituir a leitura de dezenas, centenas, milhares de páginas dos materiais de referência. Ademais, não se pode evitar o acompanhamento direto, também constante e seguido, da página do MRE e seus muitos materiais disponíveis, por mais aborrecidos que possam ser, alguns até abertamente indecentes e absurdos, na recusa do multilateralismo e do fantasma do globalismo. 

3) Quais funções tem-se de desempenhar na estrutura da instituição;
     As clássicas: informação, representação, negociação, mas distinguindo entre o que se faz na Secretaria de Estado, de onde saem as instruções, e o que se faz nos postos e missões. 

4) Como é para ser indicado para os consulados e embaixadas;
     Todo o processo está muito burocratizado atualmente; existem vagas que se abrem nos postos e os candidatos se oferecem indicando preferências, até cinco ao que parece. A administração então vai alocando os candidatos segundo critérios funcionais (mérito, ou seja, classificação na saída do IRBr), ou conveniências familiares ou individuais. Depois ocorre uma rotação no exterior entre ou mais postos, entre A, B, C, D e E, com alguma compensação nos postos de maior sacrifício. 

5) Qual a importância das funções;
     Não existem a prioris nessa área, pois as funções acompanham a hierarquia e a adequação de cada candidato ao posto ou função.

6) Uma conversa mais solta sobre os bastidores da função e sua passagem por elas;
      Já relatei minha experiência em muitos textos, dispersos, mas alguma coisa figura naqueles que estão indicados na primeira questão.

7) Por fim, gostaríamos de um bate-papo rápido sobre como está o MRE hoje (se possível claro) sua opinião sobre as ações do Brasil etc.
     Indico meus dois livros mais recentes sobre o Itamaraty sob o tacão dos Bolsonaros, o primeiro livremente disponível, o segundo em formato Kindle: 
          Miséria da diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty, Boa Vista: Editora da UFRR, 2019, 165 p., Coleção “Comunicação e Políticas Públicas”, vol. 42; ISBN: 978-85-8288-201-6 (livro impresso); ISBN: 978-85-8288-202-3 (livro eletrônico; disponível nos links: https://docs.wixstatic.com/ugd/6e2800_3e88aadf851b4b2ba4b54c6707fd9086.pdf e do Google Books: https://books.google.com.br/books?id=tvqjDwAAQBAJ&printsec=frontcover&hl= pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false). Incorporado à plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/39882114/Miseria_da_diplomacia_a_destruicao_da_inteligencia_no_Itamaraty_Ed._UFRR_2019_) e a Research Gate (https://www.researchgate.net/publication/334593501_Miseria_da_diplomacia_a_destruicao_da_inteligencia_no_Itamaraty).
         O Itamaraty num labirinto de sombras: ensaios de política externa e de diplomacia brasileira; Edição Kindle, 2020; 204 p.; 1302 KB; ASIN: B08B17X5C1; ISBN: 978-65-00-05968-7;
         E um trabalho mais recente, em meio a muitos outros disponíveis no meu blog: 
3724. “Posturas erráticas e irracionais do governo, grandes prejuízos para o Brasil”, Brasília, 26 julho 202, 3 p. Notas sobre os grande s desastres da política externa bolsonarista. Postado no blog Diplomatizzando (27/07/202; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/07/posturas-erraticas-e-irracionais-do.html); divulgado no site do Livres(27/07/2020; links: https://mla.bs/a53fbb21 e https://www.eusoulivres.org/artigos/posturas-erraticas-e-irracionais-do-governo-grandes-prejuizos-para-o-brasil/); plataforma Academia.edu (9/08/2020; link: https://www.academia.edu/43812909/3724_Posturas_erraticas_e_irracionais_do_governo_grandes_prejuizos_para_o_Brasil). Relação de Publicados n. 1359.  


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 3725, 28 de julho de 2020