Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;
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quarta-feira, 24 de julho de 2013
Fatofobia: o temor aos fatos do governo companheiro - Rodrigo Constantino
quinta-feira, 13 de junho de 2013
Duas na ferradura, e uma terceira na ferradura, tambem - Celso Ming
Sinais contraditórios
sábado, 2 de fevereiro de 2013
Brasil: voluntarismo em politica economica (nao costuma dar certo...)
Dilma adota o modelo kirschnerista de combate à inflação. É tudo puro voluntarismo econômico
Nesta sexta-feira, o ex-deputado, ex-prefeito do Rio e ex-secretário da Fazenda de Brizola, Cesar Maia, que é também economista, desenhou algumas linhas sobre o caótico modelo de combate à inflação movido pelo governo Dilma Roussef, que parece ter abandonado os fundamentos do Plano Real e enveredou pelo aventureirismo já em prática na Argentina. Trata-se do modelo kirschnerista de combate à inflação. Acompanhe as medidas voluntaristas das ações mais recentes de Dilma.
1. Telefona para prefeitos e governadores e pede para segurarem o reajuste anual das tarifas de ônibus, metrô e trens.
2. Liga para o Banco Central e manda comprar uns bilhões para derrubar o dólar e, com isso, baratear as importações.
3. Vai à TV e manda baixar a conta de luz.
4. Passa um e-mail para a presidente da Petrobras e manda aguentar o prejuízo mais um pouquinho e segurar o preço dos combustíveis.
5. Pede ao presidente do Banco Central para não elevar o juro básico mesmo com a inflação passando de 6,5%.
6. As medidas anti-inflacionárias de Dilma seguem rigorosamente a receita da equipe de Cristina Kirchner. Uma exceção: ainda não houve a intervenção no IBGE como foi feita no INDEC argentino.
sábado, 5 de janeiro de 2013
Intervencionismo governamental continua ativo e intenso
Nao estranha, assim, que o investimento tenha declinado bem mais fortemente do que a mediocre taxa de crescimento economico: os capitalistas devem estar esperando algum mana' governamental ou outros beneficios setoriais.
Como o governo continua anunciando, toda semana, novos puxadinhos de "estimulo economico", todo mundo para com seus planos privados para aguardar a proxima benesse oficial.
Em outros tempos, isso se chamaria fascismo corporativo. Acho que agora tambem. Os brasileiros ainda nao se deram conta, nas o Brasil ja' virou um pais fascista. O governo toma conta do pais inteiro, cidadaos e empresas: deve pensar que sao todos uns idiotas e que so' ele sabe o que e' bom para o pais. Parece que vamos continuar uma economia atrasada, com crescimento mediocre. Pior: estamos recuando mentalmente, e retornando ao fascismo do entre-guerras. Pode ser.
Mas nao com minha negligencia ou omissao intelectual. Tempos tristes.
Paulo Roberto de Almeida
Malabarismo contábil do governo leva Caixa a virar sócia até de frigorífico
Para engordar as contas públicas, o governo fez uma operação polêmica que levou a Caixa a ficar dona de ações que eram do BNDES
04 de janeiro de 2013
Adriana Fernandes e Raquel Landim, de O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA e SÃO PAULO - Para ajudar nas manobras fiscais do governo, a Caixa Econômica Federal se tornou sócia de frigorífico, fabricante de autopeças, de bens de capital, processador de minério, entre outras empresas privadas. As operações foram feitas para sustentar parte da operação montada pelo governo federal para arrumar dinheiro para cumprir a meta fiscal, das contas públicas, de 2012.
O aumento de capital da Caixa autorizado pelo governo no fim de 2012, de R$ 5,4 bilhões, foi bancado em parte com ações que o BNDESPar - braço de investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - detinha em algumas empresas e repassou para o Tesouro. O restante foi financiado pela União com transferência de ações da Petrobrás.
A Caixa se recusou a informar o montante da capitalização que foi bancado por ações de companhias privadas e quais foram as empresas envolvidas. O uso das ações no processo de capitalização do banco só veio a público porque JBS (frigorífico), Romi (bens de capital), Mangels (autopeças) e Paranapanema (processamento de cobre), que têm ações negociadas na bolsa, comunicaram ao mercado sobre a saída do BNDESPar e entrada da Caixa na composição acionária.
Só nessas quatro empresas foram R$ 2 bilhões em participação acionária para a Caixa, mas o valor pode ser maior. O BNDESPar informou que repassou a União ações em 10 companhias diferentes. Além das quatro já mencionadas, estão Petrobrás (petróleo), Eletrobrás (energia), Vale (minério ), Cesp (energia), Metalfrio (refrigeradores) e Vulcabrás (calçados).
O valor das ações repassadas pelo BNDESPar a União chega a quase R$ 6 bilhões - suficiente, para bancar com sobra o aumento de capital feito na Caixa. A Petrobrás responde por mais da metade (R$ 3,15 bilhões), seguida por JBS (R$ 1,79 bilhão) e Vale (R$ 446,9 milhões).
A Caixa informou apenas, por meio de nota, que "não realizou de forma ativa nenhum investimento em participações acionárias". O movimento de ações acima de um determinado limite força as companhias a divulgar a operação como um todo para o mercado financeiro. Se a Caixa ficou com ações de outras empresas abaixo desse limite, não é obrigada a informar.
As ações repassadas à União para ajudar nas manobras fiscais correspondem a 8,7% das ações disponíveis para a venda que a BNDESPar dispunha para a venda em setembro (último balanço divulgado). A assessoria de imprensa do BNDES disse que a operação total gerou lucro, mas não informou quanto. A venda das ações do JBS, por exemplo, deu prejuízo de R$ 300 milhões, pois o BNDES comprou os papéis a R$ 7 em maio de 2011 e entregou a R$ 6 para a União.
Meta. A elevação de capital da Caixa compensou o repasse de dividendos - R$ 4,7 bilhões - que o banco fez para o Tesouro para garantir recursos para a meta fiscal de 2012. No ano passado, a Caixa repassou R$ 7,7 bilhões em dividendos. Até setembro, o banco lucrou R$ 4,1 bilhões.
Com a queda na arrecadação, o governo teve sérias dificuldades para economizar R$ 139,8 bilhões para o pagamento de juros da dívida. Por isso, fez uma conjunto de operações para gerar uma "receita extra". Ao todo, injetou R$ 19,4 bilhões no cofre. O maior montante - R$ 12,4 bilhões - veio do Fundo Soberano do Brasil. O BNDES antecipou R$ 2,3 bilhões em dividendos e a Caixa outros R$ 4,7 bilhões.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
Politica economica: um remendo aqui, outro acola' -Editorial OESP
A estratégia da mesmice
O governo lançou o PSI em 2009, num esforço para tirar o País da crise. O governo forneceria dinheiro ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar compras de máquinas e outros investimentos empresariais. Era um programa de emergência, mas foi prorrogado várias vezes e deveria, finalmente, acabar no fim de 2012. Sua renovação por mais um ano, agora, comprova mais uma vez a pobreza de repertório da política econômica. Uma das poucas inovações, desta vez, é a tentativa de envolver os bancos privados.
Recursos congelados em depósitos compulsórios serão liberados, se os bancos quiserem destiná-los a empréstimos para investimentos. Essa fatia deverá corresponder a 15% dos R$ 100 bilhões previstos para o PSI em 2013. Sem obrigação de participar, os bancos ainda terão de avaliar se valerá a pena fornecer empréstimos de longo prazo com juros inferiores aos de mercado.
O Tesouro, segundo o ministro da Fazenda, "provavelmente" deverá fornecer recursos ao BNDES para a realização dos empréstimos. É cedo para mencionar valores, disse ele, mas a história do PSI é muito clara. Desde o início do programa, em 2009, até setembro deste ano, o banco liberou R$ 276,6 bilhões para financiamentos vinculados ao esquema. Desse total, R$ 250,2 bilhões foram emprestados pelo Tesouro, até julho deste ano. O resto, R$ 26,4 bilhões, corresponde ao retorno da carteira de contratos, segundo o relatório trimestral do BNDES.
Em resumo, o Tesouro tem sido a fonte de recursos do PSI, numa perigosa reedição, com algumas inovações, da conta movimento eliminada oficialmente no fim dos anos 90. Essa conta foi extinta depois de ter sido, por muitos anos, um grave fator de perturbação do regime fiscal e da ordem monetária. Também essa lição tem sido menosprezada pelo governo.
Os efeitos do PSI foram limitados também pela política de aplicações do BNDES. Quase dois terços do dinheiro - 63,5% - foram destinados a empresas grandes, perfeitamente capazes, em muitos casos, de obter financiamentos de outras fontes.
Uma distorção adicional aparece quando se examinam os empréstimos destinados ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A Petrobrás, sua Refinaria Abreu e Lima e a Transportadora Associada de Gás, vinculada à estatal, receberam R$ 26 bilhões, 68,4% desse conjunto de créditos. Desde o começo do PSI até setembro deste ano, portanto, o Tesouro repassou dinheiro ao BNDES para financiar principalmente grandes empresas - algumas muito grandes - e uma parcela desproporcional dos recursos foi para o setor estatal.
Dirigentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) pediram à presidente, na quarta-feira passada, a prorrogação de dois outros benefícios temporários: o desconto do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), concedido a alguns setores, e o Reintegra, reembolso equivalente a 3% das exportações.
Se o governo concordar, será mais uma repetição. Uma estratégia de longo prazo daria mais segurança aos investidores e seria mais eficaz, mas sua formulação seria mais trabalhosa e poderia envolver negociações complicadas. O governo prefere a política dos remendos. Neste ano os incentivos fiscais devem custar R$ 45 bilhões. O resultado é um crescimento abaixo de pífio.
domingo, 7 de outubro de 2012
Brasil: o pesadao da AL e o lento dos Brics - editorial OESP
Tudo bem, isso me valeu o ódio de um desses personagens, embora eu mantenha, ainda hoje, que se trata de mero exercício diplomático, sem maior consistência intrínseca.
As razões de minha posição são claras. Esses ajuntamentos arbitrários, feitos por jornalistas ou economistas, não têm absolutamente nada a ver com posições comuns ou propósitos unificados, e sim por razões superficiais, externas a uma verdadeira integração de posições ou comunidade de objetivos. Algumas coisas objetivas os unem, mas a maior parte das outras coisas os separam, e o fato de estarem juntos para conversar não quer dizer absolutamente nada quanto a verdadeira unidade de propósitos.
O editorial abaixo, do Estadao, confirma o que eu dizia e o que eu penso.
O Brasil possui uma taxa de crescimento muito medíocre para ser classificado como emergente dinâmico, e isso por razões puramente domésticas, altos tributos, ineficiência estatal, falta de competitividade geral, por culpa do governo, não do setor privado, que aliás pode até ser mais protecionista do que os burocratas do Estado.
Fica, pois, um registro de uma das razões de meu ceticismo em relação aos Brics.
Paulo Roberto de Almeida
terça-feira, 11 de setembro de 2012
Republica Federativa da Embromacao (ou da enrolation...) - Editorial OESP
O governo acha que somos idiotas, ou o idiota é outro?
Da mesma forma, esses anúncios picadinho, aqui e ali, podem ser tudo, até uma colcha de retalho e um bazar turco, mas política econômica eu garanto que não é...
La nave va... até encontrar seu iceberg, no nosso caso, um banco de areia...
Paulo Roberto de Almeida
Luz, gasolina e embromação
O governo acertará quando reduzir o peso fiscal sobre as contas de eletricidade e baratear o uso da energia tanto para empresas como para as famílias. A produção brasileira ficará um pouco mais competitiva e, ao mesmo tempo, os consumidores ganharão uma pequena folga no orçamento. Essa decisão contribuirá para o desenvolvimento do setor produtivo, para a preservação de empregos, ou até para sua criação, e para o aumento do bem-estar dos brasileiros. Não será, no entanto, exceto por um equívoco notável, parte de uma política anti-inflacionária.
O governo acertará, também, se deixar a Petrobrás adotar uma política de preços realista e compatível com suas necessidades econômicas e financeiras. Se for necessário um aumento de preços de combustíveis, será esse o procedimento correto. Manter o subsídio ao consumo apenas servirá para disfarçar a inflação, causará desajustes nos preços relativos (prejudicando, por exemplo, a produção de etanol) e privará a Petrobrás de recursos importantes para seus investimentos. Mais do que nunca, a empresa precisa de uma forte geração de caixa, para elevar a produção no curto prazo e avançar na caríssima e complexa exploração das reservas do pré-sal.
O prejuízo da empresa no último trimestre, seus indisfarçáveis problemas de produção e os erros cometidos em seus planos de investimento evidenciam os males de uma administração subordinada a interesses políticos dos governantes, de seus partidos e de seus aliados nacionais e estrangeiros. A correção desses erros, adiada por muito tempo, é agora urgentíssima e sua oportunidade independe do corte de tarifas da energia elétrica.
Mesmo quando acerta, o governo se mostra incapaz de formular com clareza uma boa estratégia de crescimento, com uma ampla e bem articulada bateria de medidas para tornar a economia nacional mais produtiva, menos sujeita a desajustes e mais preparada para a competição global. As novas iniciativas acabam prejudicadas pela confusão de objetivos e pela vocação do governo para as políticas de remendos. Sem disposição para reformar seriamente o sistema tributário, as autoridades preferem remendá-lo. Essa preferência é explicável tanto pelas dificuldades políticas de uma reforma genuína quanto pela incapacidade de cortar despesas e de racionalizar a administração.
A confusão de objetivos acaba resvalando para a mistificação. Disfarçar a inflação é politicamente mais lucrativo e muito menos trabalhoso do que executar uma séria política anti-inflacionária. Com uma política séria, é possível atenuar os efeitos de choques de preços, limitando sua transmissão e, em certos casos, intervindo no mercado com a venda de estoques de segurança. Atenuar, no entanto, é muito diferente de disfarçar.
Uma política honesta e competente cuidará de baixar as contas de eletricidade, de ajustar os preços dos combustíveis e de controlar a inflação sem misturar os objetivos próprios e os processos de cada linha de ação. Se cada parte for bem executada, o resultado geral será uma economia mais eficiente, mais próspera e mais compatível com o bem-estar. Discutir como ficará o índice oficial de inflação, no fim do próximo ano, se houver este ou aquele corte nas tarifas de energia elétrica, é mais que um equívoco. É uma vergonhosa embromação.
sábado, 16 de junho de 2012
Politica economica: ingenuidade dos neofitos governamentais...
Foi por isso que Lula -- no único gesto sábio que ele teve durante TODA a sua vida -- preservou quase inteiramente as bases da política econômica anterior, que ele e seus companheiros (aloprados economicamente) chamavam de neoliberal. Mas como não tinham nada para colocar no lugar, foi deixada tal qual.
As modificações introduzidas foram obviamente para pior, como no crescimento contínuo das despesas públicas, alimentadas por uma também continua expansão da extorsão tributária, combinado a uma exacerbação do ativismo e do intervencionismo estatais, consubstanciados na criação de dezenas de novas empresas públicas (mais para abrigar marxistas desempregados do que para elevar a reconhecidamente baixa (in)eficiência dos serviços públicos.
Tudo o que se distanciou da pauta da política econômica anterior, foi para pior, o que foi mascarado pelo crescimento inédito da economia mundial entre 2003 e 2008 e pela enorme demanda, jamais interrompida, mesmo com a crise de 2008-2009, de commodities brasileiras pela China. Ou seja, a novidade consistiu em converter o Brasil em semi-periferia da economia chinesa, o que só foi surpresa para os ingênuos do PT.
A ingenuidade, ou a ignorância econômica, simplemente, são notáveis, e se manifestam a cada passo improvisado da política econômica.
Por exemplo, os grandes "estrategistas" econômicos do keynesianismo de botequim que aprenderam na Unicamp e nos bares adjacentes ignoram que toda medida econômica sempre têm side-effects, ou seja, consequências involuntárias, geralmente opostas às que eles pensavam criar com suas medidas mal pensadas e mal implementadas.
Essa ingenuidade congenital também ignora que efeitos que eles atribuem apenas a causas externas, na verdade, têm sua origem em medidas internas, tomadas na ignorância do contexto econômico global.
Os petistas, por exemplo, acham que a volatilidade, ou seja, os influxos e saídas rápidas de capital estrangeiro (eles ignoram que os nacionais saem mais cedo...), são o resultado de uma conspiração perversa de loiros de olhos azuis de Wall Street, ou seja, dos especuladores do grande capital monopolista financeiro internacional, ou da tal de "financeirização" do capitalismo, um monstro metafísico que eles criaram, mas não sabem o que é e sequer explicam como ele surge, vem atacar nossos belos fundamentos econômicos, e depois sai, repentinamente, nos deixando a ver navios.
Eles ignoram que a volatilidade é propriamente interna, criada por eles mesmos, com todas essas mudanças de políticas, improvisadas, ingênuas, unilaterais. Eles ignoram que a estabilidade de regras é o principal trunfo de uma economia madura, estável, acolhedora de capitais de investimento e outras oportunidades de negócios.
Eles criam a volatilidade e depois se espantam que os capitais sejam, como é mesmo?, voláteis...
Santa ingenuidade, ou melhor, pobre ignorância...
Paulo Roberto de Almeida
A pressa de desvalorizar o real levou agora ao recuo
terça-feira, 3 de abril de 2012
A IRRACIONALIDADE FUNDAMENTAL DAS MEDIDAS DO GOVERNO - novo pacote esquizofrenico
Nunca antes na história deste país, um governo tinha agido com tamanho grau de irracionalidade na condução da política econômica.
Ou talvez sim. Só consigo pensar em outro período comparável: os dois anos e pouco de governo de João Goulart, de 1961 a 1964, quando ele é apeado do poder numa onda de greves, protestos, aumentos desenfreados do custo de vida, recessão à vista e inflação apontando para 100% (sem indexação, relembre-se).
Não consigo ver, nas medidas do governo, NENHUMA, nenhuma medida que contenha um grão de racionalidade. Todas as supostas benesses embutem um grau excepcional de tratamentos setoriais esquizofrênicos, que indicam, claramente, que o governo não sabe o que fazer, e está tentando, como o garoto da fábula, tapar os buracos da barragem com os dedos. O problema é que são poucos dedos, e os problemas se avolumam.
Um governo irracional adota paliativos, e tenta enganar sua clientela prometendo algo que ele não consegue assegurar: um ambiente estável, saudável, seguro para o investimento e para os retornos.
Não sei o que vai acontecer em decorrência desse pacote esquizofrênico, mas uma coisa é certa: os investimentos vão se interromper.
Todos os setores não contemplados com os favores do governo, e são muitos, vão parar, pedindo o mesmo tratamento. Afinal de contas, se alguns tiveram, por que não eles?
Infelizmente, o Brasil está recuando 50 anos no tempo, e adotando as mesmas medidas irracionais de governos populistas, improvisados, atônitos, que não sabem o que fazer.
Os brasileiros vão pagar caro por essa indefinição, pela rusticidade da postura econômica de pessoas que não conseguem formular o diagnóstico correto, e que só sabem meter o dedo no buraco...
Enfim, estamos descobrindo que países, governos, líderes políticos, também podem fazer o país recuar no tempo, contribuindo para a crônica de um desastre anunciado.
Não tenho vocação para Cassandra, mas os líderes do governo têm, sim, vocação para trapalhões...
Paulo Roberto de Almeida
Outra novidade é que pessoas físicas e jurídicas poderão deduzir do Imposto de Renda as doações e patrocínios em favor de entidades associativas ou fundações dedicadas à pesquisa de tratamento do câncer. O impacto fiscal estimado é de R$ 305,8 milhões em 2013 e de R$ 337 milhões, em 2014. No novo plano, o governo também aproveitou para tirar do papel uma série de desonerações que estavam sendo prometidas há tempo e que vinham sendo adiadas pela equipe econômica. Foi lançado, por exemplo, o Plano Nacional de Banda Larga e também prorrogado o programa Um Computador por Aluno.
O plano inclui um aporte de R$ 45 bilhões do Tesouro Nacional ao BNDES. Com esses recursos, o banco vai aumentar linhas de financiamento para setores como o de inovação e também baratear suas taxas de juros. Pelas novas condições do programa, no caso do financiamento à produção local de ônibus e caminhões, por exemplo, a taxa de juro fixa cairá de 10% para 7,7%, e o prazo total estendido de até 96 meses para 120 meses. Além disso, a participação máxima do BNDES no investimento foi elevada, podendo chegar a 100% em alguns casos. Para bens de capital, a taxa de juro fixa para grandes companhias passou de 8,7% para 7,3% ao ano, e de 6,5% para 5,5% no caso da micro, pequena e média empresa. O prazo do financiamento continua em 120 meses.
(…)
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
O grande desmonte da politica economica - Celso Ming
Na verdade, isso vem de longe: ainda quando o ministro da Fazenda era o corrupto-corruptor Antônio Palocci, a então chefe da Casa Civil bloqueou uma tentativa de aumento do superávit primário, colocando o governo justamente na trajetória contrária, a do aumento dos gastos do governo.
Enfim, isso corresponde inteiramente ao que ela deve ter aprendido na Faculdade de Economia de onde ela dizia ter doutorado, quando não completou sequer o Mestrado (mas esqueceu de avisar quem fazia o seu Currículo Lattes por ele, embelezado indevidamente): a UniCamp.
A UniCamp é recidivista, pois ainda há menos de um ano atrás deu um título de doutoramento fraudado a um ministro que precisava muito (e rapidamente) de uma distinção improvisada...
Paulo Roberto de Almeida
Risco de desarrumação
Dilma. É o desmonte do tripé? (FOTO: UESLEI MARCELINO/REUTERS)
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
A deterioracao da politica economica no Brasil
Lula presidente não perdia a oportunidade de apresentar seu governo como o introdutor de tudo de bom que acontecia no país. Mas, enquanto atacava a herança maldita de FHC, mantinha intacto o tripé da política econômica herdada, o regime de metas de inflação com Banco Central independente, câmbio flutuante e superávit primário nas contas públicas.
A presidente Dilma está fazendo o contrário. Elogiou FHC pela estabilização do Real, diz que as bases macroeconômicas estão mantidas, mas na prática vai lentamente desmontando o tripé (ou flexibilizando, se quiserem).
Em comum, a mesma atitude: falar uma coisa e fazer outra. Só que com os sinais trocados. Alguns analistas entendem isso como uma manifestação de independência que Dilma estaria tomando em relação à herança lulista.
Errado.
Dilma está fazendo na política econômica o que Lula gostaria de ter feito há muito tempo. E que começou a fazer nos dois últimos anos de seu governo. Com o (bom) pretexto de combater a crise internacional de 2008/09, Lula colocou de lado a contenção do gasto público e aumentou as despesas de várias maneiras, mantendo-as em expansão mesmo quando as coisas se acalmaram. Mais do que isso, recuperou o discurso de que gastar é sempre bom e que sempre é possível aumentar os impostos.
No ano passado, eleitoral, Lula finalmente conseguiu dobrar o Banco Central de Henrique Meirelles, levando a instituição a suspender a alta de juros para não atrapalhar a campanha de Dilma. Lembrem-se: para fazer aquilo o BC construiu um cenário de queda de inflação que gerou muita desconfiança na ocasião e que não se materializou.
Veio, então, o BC de Dilma, com Alexandre Tombini na presidência, que começou subindo juros, diante da evidência de uma inflação em alta. Mas logo deu um cavalo de pau e começou a reduzir a taxa, surpreendendo mesmo os analistas mais afinados com os argumentos oficiais. Foi uma virada semelhante à de 2010 e com o mesmo conteúdo político de enquadrar-se na linha explicitada pelo governo.
O câmbio flutuante foi flexibilizado de diversas maneiras. E o superávit primário tem sido obtido até aqui graças a uma arrecadação excepcionalmente elevada. Os gastos governamentais continuam em alta e se programa mais elevação no ano que vem.
A volta do protecionismo explícito - como, por exemplo, a elevação abrupta do imposto sobre carros importados - é mais um dado a indicar que a presidente Dilma move sua política econômica na direção do chamado "desenvolvimentismo", com forte intervenção do governo, gastos públicos subindo, subsídios e proteção para determinados setores, os amigos da casa, e tolerância com a inflação.
O economista Mario Cimoli, diretor da Cepal, desenvolvimentista, disse uma vez que a melhor política econômica para a América Latina seria uma combinação brasileiro-argentina. Do Brasil, a política industrial com seu braço principal, o BNDES. Da Argentina, a política monetária e cambial, com juro baixo, moeda desvalorizada, não importando a inflação elevada.
Pode até não ser exatamente assim, mas que parece, parece.
E sabem qual a ironia dessa história? É a política econômica que José Serra adoraria fazer.
Eis por que a presidente Dilma dificilmente enfrentará oposição nessa sua guinada. Tucanos estão ou iludidos com os elogios formais feitos pela presidente ou gostando dessa política econômica ou interessados em embarcar em algumas canoas do governo (como faz o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin).
Os democratas podem fazer algum sucesso no combate ao aumento de impostos, mas não é muito.
Tudo considerado, não haverá uma guinada radical, mesmo porque muitas das normas de política econômica estão definidas em lei, como é o caso da responsabilidade fiscal. É a nossa sorte. Ninguém espera uma explosão da inflação, mas algo perto de 7% ao ano por um bom tempo (que é alta). O governo estará sempre tratando de arrecadar cada vez mais para gastar mais. E, sem reformas, ficaremos com uma economia irregular, com o custo Brasil muito elevado para todos e sendo aliviado para alguns setores, com muito consumo (inclusive do governo) e pouco investimento. Cresce aqui e ali, dependendo do mundo, mas não deslancha de modo consistente.
Continuamos precisando de algo como um novo Plano Real, para derrubar juros e impostos de forma duradoura.
quarta-feira, 15 de junho de 2011
Los hermanos, outra vez, sem piedade...
João Luiz Mauad
Diário do Comércio, 12/6/2011
O jornal Valor Econômico publicou, no último dia 30 de maio, um caderno especial sobre a crise que assola a Argentina. As políticas populistas do governo bolivariano de Cristina Kirchner estão levando o país ao caos, principalmente por conta de uma inflação galopante, cujo nível exato ninguém sabe, uma vez que os índices oficiais vêm sendo manipulados há tempos.
Pela reportagem, ficamos sabendo que até mesmo o famoso sanduíche Big Mac, carro chefe da rede McDonald's, sumiu das prateleiras. Explica-se: o Big Mac está na lista de itens que compõem o índice oficial de inflação do INDEC e, por isso, a exemplo de inúmeros outros produtos, foi incluído num acordo informal entre várias empresas e o governo, a fim de manter os preços desses produtos congelados, ainda que não oficialmente.
Lamento informar, mas tudo isso será em vão.
A inflação, como bem dizia Milton Friedman, "é um fenômeno exclusivamente monetário", causado pelo aumento da quantidade de moeda e/ou crédito sem o respectivo lastro. A inflação, portanto, agora nas palavras de Ludwig Von Mises, "não é um ato de Deus, uma catástrofe da natureza ou uma doença que se alastra como a peste. A inflação é uma política deliberada", adotada por governos irresponsáveis que, para nosso azar, são também os maiores beneficiários dela.
Não há qualquer fundamento científico em apontar como causas da inflação a ganância dos empresários, os circuitos de distribuição ou a falta de responsabilidade social das empresas. Com o conhecimento econômico hoje existente, não é mais possível culpar os agricultores, os pecuaristas, os frigoríficos, os açougues, os comerciantes, os sindicatos ou o comportamento vil dos empresários sempre que os preços sobem ou há escassez de um ou outro produto.
O governo da Sra. Kirchner tem travado uma batalha sem trégua, porém inútil, na tentativa deter, na base da caneta, o dragão da inflação. Assistindo ao que acontece hoje por lá, não dá para não traçar um paralelo com o nosso passado: pacotes, tabelamentos, pactos sociais, congelamentos, "tablitas", confiscos, fiscais do Sarney, caça ao boi no pasto e mais uma infinidade de bobagens heterodoxas para acabar com a inflação no porrete. Quem não tem memória curta sabe que essas estratégias, mais cedo ou mais tarde, fracassarão. E fracassarão simplesmente porque estão focadas não nas causas do problema, mas nos seus efeitos; não nos verdadeiros inimigos, mas nas próprias vítimas.
(Como bem dizia o velho Mário Henrique Simonsen: "Para conceber um congelamento – ou tabelamento – não é preciso um doutorado em Harvard ou no MIT: basta não entender nada de economia".)
Depois da crise econômica do início da década, os argentinos escolheram a pior maneira para sair da falência. Após operar um calote de proporções oceânicas – efusivamente aplaudido por toda a esquerda mundial e cantado em prosa e verso como a salvação para todos os países emergentes –, o governo daquele país optou por estimular a recuperação da economia através do velho artifício da elevação dos gastos públicos. Estes, por seu turno, eram financiados, principalmente, pelo uso do imposto inflacionário, via despejo de moeda sem lastro no mercado, e ancorados na manutenção de taxas de juros em patamares artificialmente baixos.
No curto prazo, a estratégia foi um retumbante sucesso. O governo gastou a vontade, sem que precisasse aumentar tributos. O povo, satisfeito com o crescimento de curto prazo e, como sempre, acreditando que existe almoço grátis, se habituou a pensar no Estado como senhor de recursos ilimitados à sua disposição.
Tal política, no entanto, é como uma droga, injetada diretamente na veia do cidadão comum e, principalmente, dos seus representantes eleitos – já que as obras públicas e outras benesses sociais costumam satisfazer os primeiros e tornar extremamente populares os segundos.
Num primeiro instante, os investimentos estatais impulsionam a economia e a criação de empregos, gerando uma falsa impressão de prosperidade. Mais cedo ou mais tarde, no entanto, a inflação sempre cobra o seu preço e, infelizmente, castiga com mais rigor justamente os mais fracos.
Quando o dinheiro começa a desvalorizar-se de forma acelerada, os que mais perdem são aqueles que não dispõem de meios para proteger os seus rendimentos.
Mas eu não choro por vocês, hermanos. Vocês estão colhendo exatamente aquilo que plantaram quando escolheram seus governantes e, principalmente, o modelo econômico que desejavam.
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
Politicas economicas do governo Lula: avaliacao - Boletim Economia & Tecnologia (UFPR)
Para não tornar este post muito extenso, apenas limito-me, neste momento, a transcrever a introdução ao volume, que se encontra neste post, com o título abaixo, do excelente blog do Mansueto Almeida (em nada meu parente).
Paulo Roberto de Almeida
A política macroeconômica do governo Lula e suas consequências
Blog do Mansueto Almeida
Desevolvimento Local, Politica Econômica e Crescimento
06/02/2011
Segue abaixo a introdução escrita pelo Coordenador Geral do Boletim Economia & Tecnologia, Prof. Dr. Luciano Nakabashi, que junto com o economista do FMI, Irineu Carvalho, convidou um grupo de economistas a se manifestar sobre os oito ano de governo Lula.
Os artigos foram publicados neste número especial do boletim Economia e Tecnologia disponível na sua página na internet (clique aqui). No meu caso, resolvi escrever sobre a questão fiscal e sobre a ideia do novo estado desenvolvimentista, um conceito mais claro na teoria do que na prática.
Volume especial boletim Economia & Tecnologia UFPR
Caro leitor, seguindo uma sugestão do economista Irineu de Carvalho Filho (FMI), que me ajudou na escolha dos nomes e convite aos autores, resolvi organizar este simpósio sobre a política macroeconômica do governo Lula e suas consequências.
Depois de oito anos de governo Lula, em que presenciamos uma aparente aceleração do crescimento econômico (permanente ou transitória?), a expansão e consolidação de programas que aliviam a pobreza efetivamente, e uma surpreendente ausência de grandes reviravoltas e transformações em nosso quadro de política econômica, o momento é oportuno para convidar à mesa uma coleção diversa de economistas renomados para discutir o período e as perspectivas para o futuro.
Os trabalhos são apresentados em ordem alfabética do nome do primeiro autor do artigo.
No primeiro trabalho, os economistas da FEA-RP/USP Alex Luiz Ferreira, Sergio Naruhiko Sakurai e Rodolfo Oliveira abordam quais variáveis são relevantes na popularidade dos governos Lula e FHC. Eles encontram evidências de que a taxa de desemprego é a principal variável.
O economista Alexandre Schwartsman, do Banco Santander e diretor do Banco Central durante o primeiro mandato de Lula, analisa o desempenho do tripé da política monetária do governo Lula – câmbio flutuante, superávit primário e metas de inflação –, e mostra que ocorreu uma deterioração nessa base da política macroeconômica e que, desse modo, é preciso que se realizem algumas alterações, com especial ênfase aos gastos públicos.
No artigo intitulado “Ganhos sociais, inflexões na política econômica e restrição externa: novidades e continuidades no governo Lula”, os professores e pesquisadores Fernando Augusto Mansor de Mattos (UFF) e Frederico G. Jayme Jr. (Cedeplar/UFMG) discutem as principais diretrizes da política econômica durante o governo Lula, destacando em especial a mudança de orientação ocorrida a partir de 2006.
O pesquisador e professor da FGV-RJ, Fernando de Holanda Barbosa, faz uma avaliação do BACEN no Governo Lula, analisando a execução da política monetária, a formulação e execução da política de reservas internacionais, a execução da política de emprestador de última instância do sistema financeiro, além da regulamentação e supervisão do sistema financeiro.
Fernando Ferrari Filho (UFRGS) indica que os bons resultados apresentados no governo Lula não garantem estabilidade macroeconômica consistente por causa, principalmente, da deterioração do setor externo que deixa a economia mais vulnerável a ataques especulativos.
Os pesquisadores Helder Ferreira de Mendonça (UFF), Délio José Cordeiro Galvão (BACEN) e Renato Falci Villela Loures (UFF) focam no setor financeiro e na necessidade de medidas prudenciais para reduzir a alavancagem do sistema financeiro e reduzir a vulnerabilidade a crises.
Mansueto Almeida, economista e pesquisador do IPEA, foca sua análise na política fiscal e política industrial. O autor argumenta que, apesar da maior expansão dos gastos sociais, o padrão de crescimento do gasto público do governo federal no Brasil é determinado muito mais pela Constituição Federal de 1988 do que pela eleição de um governo de esquerda.
Finalmente, Marcelo Curado (UFPR) faz uma análise do crescimento econômico do governo Lula e até que ponto este se transformou em um processo de desenvolvimento econômico, com especial ênfase na estabilidade de preços, distribuição da renda, redução da miséria, conta corrente e pauta de exportações.
Na firme convicção de que esse volume especial do boletim Economia & Tecnologia será uma leitura agradável e útil a todos os interessados nos problemas da política econômica brasileira nos últimos anos, subscrevo atenciosamente,
Prof. Dr. Luciano Nakabashi
Coordenador Geral do Boletim Economia & Tecnologia
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Este é o índice:
Boletim Economia & Tecnologia
Ano 7, Vol. Especial, 2011 (PDF - 4,29 MB)
ÍNDICE
EDITORIAL
SIMPÓSIO: POLÍTICA MACROECONÔMICA NOS 8 ANOS DE GOVERNO LULA
Oito anos construindo popularidade
Alex Luiz Ferreira
Sergio Naruhiko Sakurai
Rodolfo Oliveira
Não se mexe em time que está ganhando?
Alexandre Schwartsman
Ganhos sociais, inflexões na política econômica e restrição externa: novidades e continuidades no Governo Lula
Fernando Augusto Mansor de Mattos
Frederico G. Jayme Jr.
O Banco Central no Governo Lula
Fernando de Holanda Barbosa
Por que os resultados econômicos esperados para o final do governo Lula da Silva não nos asseguram uma estabilidade macroeconômica consistente?
Fernando Ferrari Filho
Exuberância e risco do mercado financeiro: herança do Governo Lula
Helder Ferreira de Mendonça
Délio José Cordeiro Galvão
Renato Falci Villela Loures
O Novo Estado Desenvolvimentista e o Governo Lula
Mansueto Almeida
Uma avaliação da economia brasileira no Governo Lula
Marcelo Curado
Você pode descarregar o arquivo em pdf, neste link:
http://www.economiaetecnologia.ufpr.br/boletim/Economia_&_Tecnologia_Ano_07_Vol_Especial_2011.pdf
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Politica comercial e economia brasileira - Marcelo de Paiva Abreu
Creio que vale a pena ler, ou reler, seus argumentos, não aceitos por muitos, mas dificilmente contestáveis.
Paulo R. Almeida
Momento decisivo e volta ao passado
Marcelo de Paiva Abreu*
O Estado de São Paulo, 9 de agosto de 2010, p. B2.
Com o benefício da visão retrospectiva não é difícil detectar momentos decisivos na história econômica brasileira. Para citar alguns mais recentes: a Grande Depressão de 1928-1932; o fim da 2.ª Guerra Mundial; a estagnação combinada à aceleração inflacionária do início da década de 1960; o primeiro choque do petróleo e as respostas equivocadas das autoridades brasileiras; o segundo choque do petróleo e o início da longa estagnação com inflação alta em 1980; e o sucesso da estabilização com o Plano Real em 1993-1994.
A economia brasileira começou a viver, talvez a partir de 2004, outro momento decisivo, com aceleração do crescimento, ainda que modesto, política macroeconômica prudente e sustentada, sucesso continuado na redução das distorções redistributivas e perspectivas de crescimento ainda mais rápido com as descobertas do pré-sal. A recessão de 2008-2009 ofuscou temporariamente essas novas perspectivas, embora o melhor desempenho da economia brasileira em comparação com o quadro mundial já refletisse a nova realidade.
Desenvolvimentos recentes, estimulados pelo ciclo eleitoral, têm contribuído para complicar o quadro. Tendem a comprometer um momento decisivo que parecia ser o início de um longo período de crescimento rápido e sustentado com maior equidade distributiva. O governo tem mostrado disposição em aumentar o nível de dispêndio muito além do que poderia ser recomendável com base em argumentos contracíclicos. Paralelamente, ganham força ideias e políticas relativas ao papel do Estado e ao protecionismo que deixaram de funcionar ao final da década de 1970.
O discurso da candidata governista quanto ao papel do Estado indutor e à proteção contra a concorrência das importações revela ideias não muito diferentes das ventiladas por Roberto Simonsen, em meio a um outro momento decisivo da história econômica brasileira, em seu debate com Eugênio Gudin, há quase sete décadas. Em meio à percepção de que se aproximava o fim da 2.ª Guerra Mundial, houve debate acirrado sobre a melhor estratégia econômica para o País. Roberto Simonsen, alto dirigente da Fiesp, defendeu a posição de que deveria ser preservada a função indutora do Estado na economia, inclusive na produção de bens e serviços. Além disso, dadas as dificuldades competitivas da indústria, deveriam ser preservadas as políticas protecionistas herdadas do passado. Eugênio Gudin, seu opositor, profissional com ligações com empresas estrangeiras provedoras de serviços públicos, defendeu posições contrárias: redução do papel do Estado e da proteção à indústria ineficiente. Gudin era melhor economista e venceu o pobre debate técnico, afinal sabia a diferença entre valor da produção e valor adicionado. Mas foi a visão estratégica de Simonsen que prevaleceu no longo prazo: até o início da década de 1990 a presença significativa do Estado na economia e a alta proteção do mercado doméstico foram dois pilares da estratégia econômica brasileira. Mas esta se esgotou já na década de 1970.
Um assunto que não ocupou posição de destaque no debate Simonsen-Gudin teria importância crucial. A inflação brasileira durante a guerra acelerou até os 20% anuais. Após 1945, a incapacidade de reduzir a inflação, combinada à lei da usura, impediu que o governo se financiasse e levou à adoção de políticas macroeconômicas insustentáveis. No final dos anos 50, começo da década de 1960, as receitas do governo mal pagavam a metade de seus gastos. Enquanto a economia crescia, a situação parecia sustentável, mas a combinação de queda do nível de atividade com inflação alta e efervescência política abriu caminho para o golpe de 1964.
A candidata governista defende o aumento do peso do Estado na economia. Isso inclui a produção de bens e serviços, a exploração do poder de compra estatal como instrumento de proteção e o financiamento indiscriminado de empresas via política de aleitamento do BNDES. Com os ajustes cabíveis, é a reedição do programa de Simonsen em 1944, sem preocupação de aprender com os erros. Há espaço para ação do Estado: assegurar a segurança pública, tornar expedita a provisão de justiça, adotar política externa coerente e responsável, educar a população, formar mão de obra especializada, regular eficazmente as atividades econômicas, corrigir distorções de mercado por meio de subsídios com vigência programada, adotar política de eficaz estímulo à inovação. Mas o ativismo da candidata a impele a adotar posição extremada e equivocada sobre o tema.
E a política macroeconômica? Do lado monetário há o recente compromisso da candidata, não totalmente convincente, em relação ao papel do Banco Central. Do lado fiscal, a implícita aprovação da acomodação de gastos crescentes por meio do aumento da carga fiscal. Nada sobre controle de gastos, embora os limites para a expansão da carga fiscal sejam óbvios. Seria desejável que seus opositores se posicionassem quanto à definição da estratégia econômica. Pelo menos para estimular a candidata a rever seu dogmatismo.
*Doutor em Economia pela Universidade de Cambridge, é Professor Titular do Departamento de Economia da PUC-Rio.
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Vender não é preciso
Marcelo de Paiva Abreu*
O Estado de São Paulo, 9 de agosto de 2010
Suplemento "Desafios do Novo Presidente", p. H11.
Avaliar os rumos da política comercial do sucessor de Lula requer análise do que foi a política comercial brasileira nos últimos oito anos e a partir daí considerar os cenários básicos de continuidade ou ruptura, dependendo da vitória de Dilma Rousseff ou de José Serra.
Até mesmo os mais entusiastas defensores da política externa patrocinada pelo triunvirato Garcia-Amorim-Guimarães terão dificuldade em listar iniciativas de política comercial que tenham tido real relevância nos dois mandatos do presidente Lula. A predominância dos objetivos estritamente políticos na agenda de política externa foi marcante. Só as fracassadas negociações multilaterais na OMC caracterizaram exceção importante. Mesmo assim, a sua prioridade na agenda do Itamaraty decorreu em boa medida de argumentos políticos relacionados à posição proeminente do Brasil na coalizão do G-20 a partir do fracasso da reunião de Cancún, em 2003.
No mais, o que se viu foi o enterro da ALCA depois de longa agonia, já iniciada no governo Fernando Henrique Cardoso, e uma postura de protelação sistemática de qualquer solução durável das inúmeras dificuldades de implementação de um Mercosul para valer. No colapso da ALCA, o governo quase que fez questão de proclamar prematuramente a sua aversão a uma iniciativa de integração hemisférica que incluísse os EUA. E, no entanto, parecia óbvio que a ALCA não poderia prosperar sem que houvesse disposição política do governo dos EUA quanto a concessões agrícolas, especialmente ao Mercosul.
As "alianças estratégicas" com as grandes economias em desenvolvimento restringiram-se a juras de cooperação política. As preferências negociadas com Índia e África do Sul retratam bem a mediocridade das ambições de liberalização comercial. A escolha da França como "parceiro estratégico" desenvolvido, manifestação indireta das reticências em relação aos EUA, não teve implicações práticas em fazer avançar as negociações comerciais estagnadas com a União Europeia. De fato, vista de Paris, a parceria estratégica parece ganhar proeminência quando se trata de vender caças e ficar inativa quando se trata de fazer concessões agrícolas relevantes.
A posição do Brasil foi ativa e construtiva nas negociações da Organização Mundial do Comércio que atolaram em 2008. Foi talvez o único bom momento da política externa brasileira desde 2003. Mas mostrou-se inviável manter a coesão do G-20. O Itamaraty, entusiasmado com a liderança brasileira, e com o olho no almejado Conselho Permanente da ONU, subestimou as diferenças entre os interesses comerciais do Brasil, produtor agrícola eficiente, e os da China e da Índia. O G-20 foi bom de bloqueio, mas ruim de ataque. Enquanto o Brasil pensava em G-20, China e Índia pensavam em G-33 e G-90, coalizões comprometidas com o protecionismo agrícola.
E a política comercial de Dilma e Serra? Nada indica que a eleição de Dilma possa significar ruptura relevante em relação à sua herança. Grandes negociações comerciais bilaterais ou multilaterais parecem improváveis. Nas negociações na OMC, o Brasil mostrou pouca disposição em reduzir significativamente as suas tarifas sobre produtos industriais. Dada a reciprocidade que caracteriza as negociações na OMC, o espaço para redução do protecionismo agrícola, demanda principal brasileira, foi restrito pelas limitações das ofertas tarifárias industriais das economias em desenvolvimento. Há indícios claros de recrudescimento do protecionismo no Brasil como, por exemplo, a provisão extremamente generosa de crédito público subsidiado e o tratamento preferencial de provedores nacionais nas licitações públicas. A nostalgia protecionista sugere que a escassa margem de manobra nas negociações comerciais poderá ter sido ainda mais reduzida. A ênfase da candidata na defesa da participação ativa do Estado na provisão de bens e serviços agrava este quadro. A mixórdia do Mercosul não parece preocupá-la. Por outro lado, alguns de seus comentários têm indicado ser bastante improvável uma reversão da postura antiamericana que caracteriza a diplomacia do atual governo (a despeito de desmentidos meio perfunctórios). No melhor dos casos, mais do mesmo?
José Serra tem feito críticas à política externa de Lula e demonstrado preocupação em perseguir substância em lugar de forma. Fez críticas também à postura do Brasil em relação ao Irã e - provavelmente menos razoáveis - à Bolívia. Tem insistido na necessidade de uma política comercial "agressiva", sem detalhar quais seriam os alvos preferenciais das possíveis iniciativas brasileiras. Sua insatisfação com o estado de coisas quanto ao Mercosul é conhecida. Acredita, e tem razão, que são custosas as limitações impostas por parceiros do Mercosul, e especialmente a Argentina, a possíveis iniciativas brasileiras de celebração de acordos comerciais bilaterais. O que não está elucidado é se José Serra, como presidente, realmente renegará seus entusiasmos protecionistas e se realmente acredita que "um libera de um lado, outro de outro; num acordo bem feito os dois saem ganhando".
A política comercial que melhor serviria aos interesses nacionais deveria estar calcada na simultânea redução do protecionismo no Brasil e nos seus parceiros comerciais através de acordos bilaterais e no âmbito da OMC. Deveria ser combinada à maciça renovação da infraestrutura e a políticas efetivas de inovação tecnológica e educacionais que melhorem a capacidade competitiva brasileira. Os dois candidatos parecem longe desse programa. Dilma mais longe do que Serra.
*Doutor em Economia pela Universidade de Cambridge, é Professor Titular do Departamento de Economia da PUC-Rio.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Crescer ou nao crescer: nao se resume a isso o dilema
A verdade é que, durante todo o período de crescimento da economia mundial, o Brasil se manteve sistematicamente abaixo das médias mundiais, fazendo inclusive três vezes menos do que os emergentes dinâmicos.
Agora, que a economia mundial está na recessão, se diz que estamos bem, apenas porque ficamos um pouco melhor na fotografia.
Se esquece de relembrar que isso é em grande medida o resultado da manutenção da política econômica anterior, sem NADA de novo.
Aliás, o que existe de novo é a manutenção, por CINCO ANOS, da mesma taxa de inflação, que é mais do que o dobro da mundial.
Aos olhos de qualquer economista sucesso, isso é um fracasso completo. E que não se credite isso ao Banco Central, que teria gostado de baixar a meta para uma medida mais razoável.
Ou seja, o governo ENCOMENDA inflação para corroer nosso poder de compra. Isso é simplesmente um roubo...
Vejam a matéria abaixo.
Paulo Roberto de Almeida
A meta de inflação que deu certo, segundo o ministro
Editorial Econômico
O Estado de S.Paulo, 25 de junho de 2010
O Conselho Monetário Nacional (CMN) manteve, para 2012, a mesma meta de inflação de 2011, isto é, o centro da meta em 4,5%, com margem de tolerância de dois pontos porcentuais, para mais ou para menos.
A decisão era prevista, mas mostra a disposição do governo de manter uma meta elevada, evitando que o Banco Central tenha de praticar uma política monetária muito restritiva, que, aos olhos do governo, freia o crescimento econômico.
Entre os países com política monetária baseada em meta de inflação, a do Brasil é a mais alta. Além disso, a meta não muda desde 2005, dando a impressão de que, apesar do crescimento da economia desde então, não conseguimos reduzir a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - o índice de referência para a meta.
Desde 2005, a inflação medida pelo IPCA ficou duas vezes abaixo da meta, uma vez praticamente igual e os outros anos, acima, sem ultrapassar a margem de tolerância superior. Daí a declaração do ministro da Fazenda de que o CMN escolheu "a meta que está dando certo".
Para um país que pretende se equiparar aos do Primeiro Mundo, é preciso notar que nossa inflação é praticamente o dobro da que neles ocorre. Mas o mais grave é que nos resignamos a uma inflação que se aproxima de 5% ao ano, sem um esforço sério para diminuí-la.
A cada ano, apesar de uma taxa cambial valorizada - que nos leva a comprar no exterior produtos mais baratos -, nosso poder aquisitivo real perde 5%. E esse é um bom pretexto para os sindicatos defenderem uma política de indexação dos salários, levando em conta não apenas a inflação passada, mas também a que é tida como meta futura.
Perdemos de vista o fato de que uma inflação oficialmente aceita serve de base para os reajustes dos serviços e que a concorrência não é intensa o bastante para compensar.
A escolha do governo se baseia no princípio de que um pouco de inflação é necessário para o crescimento econômico. Na realidade, o que mais teme o governo é a política monetária do Banco Central, que fixa uma taxa básica de juros que se traduz por uma alta do spread bancário e tem influência desastrosa sobre o custo da dívida interna, ao mesmo tempo que atrai investimentos estrangeiros de renda fixa. Em período de inflação baixa, nunca se pensou em reduzir a Selic para evitar esses inconvenientes, mas sempre se aceita que ela suba fortemente em períodos de pressão inflacionária.