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domingo, 13 de maio de 2018

CIA: documento liberado revela que ditadura militar ordenou execucoes sumarias de opositores

Quem redigiu o documento, ou seja, o agente da CIA, Philips, que recolheu o relato, absolutamente verdadeiro, de um dos participantes da reunião citada, hoje falecido, veio a ser sogro de um diplomata brasileiro, também já falecido,assim como sua esposa, filha do citado agente.
Eu poderia apostar quem fez o relato ao americano, mas prefiro não fazê-lo.
Quem liberou o documento foi o Office of the Historian, ou seja, o historiador oficial do Departamento de Estado, um cargo que deveria existir no Itamaraty, igualmente, mas que não se cogita criar. Essa série, US Foreign Relations, é uma das melhores coisas que existem na democracia americana, por vezes revelando coisas altamente sensíveis do ponto de vista da diplomacia americana e da atuação de seus "órgãos especiais".
O documento foi revelado em primeira mão para o Brasil pelo historiador Matias Spektor, da FGV-SP, a quem aproveito para saudar pelo seu excelente ativismo na prospecção de documentos históricos desse tipo.
Paulo Roberto de Almeida

FOREIGN RELATIONS OF THE UNITED STATES, 1969–1976, VOLUME E–11, PART 2, DOCUMENTS ON SOUTH AMERICA, 1973–1976
99. Memorandum From Director of Central Intelligence Colby to Secretary of State Kissinger 1
WashingtonApril 11, 1974.
SUBJECT
·         Decision by Brazilian President Ernesto Geisel To Continue the Summary Execution of Dangerous Subversives Under Certain Conditions
1. [1 paragraph (7 lines) not declassified]
2. On 30 March 1974, Brazilian President Ernesto Geisel met with General Milton Tavares de Souza (called General Milton) and General Confucio Danton de Paula Avelino, respectively the outgoing and incoming chiefs of the Army Intelligence Center (CIE). Also present was General Joao Baptista Figueiredo, Chief of the Brazilian National Intelligence Service (SNI).
3. General Milton, who did most of the talking, outlined the work of the CIE against the internal subversive target during the administration of former President Emilio Garrastazu Médici. He emphasized that Brazil cannot ignore the subversive and terrorist threat, and he said that extra-legal methods should continue to be employed against dangerous subversives. In this regard, General Milton said that about 104 persons in this category had been summarily executed by the CIE during the past year or so. Figueiredo supported this policy and urged its continuance.
4. The President, who commented on the seriousness and potentially prejudicial aspects of this policy, said that he wanted to ponder the matter during the weekend before arriving at any decision on [Page 279]whether it should continue. On 1 April, President Geisel told General Figueiredo that the policy should continue, but that great care should be taken to make certain that only dangerous subversives were executed. The President and General Figueiredo agreed that when the CIE apprehends a person who might fall into this category, the CIE chief will consult with General Figueiredo, whose approval must be given before the person is executed. The President and General Figueiredo also agreed that the CIE is to devote almost its entire effort to internal subversion, and that the overall CIE effort is to be coordinated by General Figueiredo.
5. [1 paragraph (12½ lines) not declassified]
6. A copy of this memorandum is being made available to the Assistant Secretary of State for Inter-American Affairs. [1½ lines not declassified] No further distribution is being made.
W.E. Colby

1.  Summary: Colby reported that President Geisel planned to continue Médici’s policy of using extra legal means against subversives but would limit executions to the most dangerous subversives and terrorists.
Source: Central Intelligence Agency, Office of the Director of Central Intelligence, Job 80M01048A: Subject Files, Box 1, Folder 29: B–10: Brazil. Secret; [handling restriction not declassified]. According to a stamped notation, David H. Blee signed for Colby. Drafted by Phillips, [names not declassified] on April 9. The line for the concurrence of the Deputy Director for Operations is blank.


1.    Home 
2.     Historical Documents 
4.    Document 99

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Addendum, em 16/05/2018: 

Geisel quis controlar repressão, dizem EUA

Em 1976, embaixada americana diz que presidente buscou estabelecer limites sobre órgão do Exército

Um telegrama norte-americano reforça trecho do memorando da CIA de 1974 no qual o então diretor da agência, William Colby, disse que o general e então presidente Ernesto Geisel (1974-1979) buscaria ter o controle sobre o principal órgão de repressão do Exército, o CIE (Centro de Informações do Exército).
O telegrama, enviado ao Departamento de Estado em 1976, integra o mesmo lote de documentos liberados pelo governo dos EUA em dezembro de 2015 no qual o professor da FGV e colunista da Folha Matias Spektor localizou o memorando que informava que Geisel avalizou assassinatos de adversários do governo.
Assinado pelo então embaixador dos EUA em Brasília, John Crimmins, o telegrama diz que o novo chefe do CIE, general Antonio da Silva Campos, “está no cargo há menos de um ano e parece ser a escolha do presidente Geisel para apertar o controle sobre a agência-chave de segurança no Brasil que atuou no passado com considerável autonomia e foi associada a algumas violações de direitos humanos”.
Diz ainda que, apesar da “determinação de Geisel de encerrar os maus-tratos, [o CIE] ainda não perdeu, aos olhos do público, sua associação com os antigos abusos aos direitos humanos”.
O telegrama discutia a possibilidade de o governo norte-americano convidar Campos para uma visita secreta aos EUA. 
O embaixador disse aos seus superiores que não estava muito confortável para fazer o convite porque o Brasil participava naquele momento da “Operação Condor”, uma associação entre ditaduras latino-americanas para localizar e matar opositores fora de seus países e na Europa. 
Segundo o embaixador, a visita do chefe do CIE poderia ser interpretada por países-membros da Condor como um aval dos EUA à operação.
O telegrama corrobora o entendimento de parte de historiadores e jornalistas que pesquisaram o período segundo os quais Geisel trabalhou para a abertura do regime militar, mas ao mesmo tempo tinha conhecimento de assassinatos extrajudiciais e manteve a repressão, agora sob controle mais estrito do Palácio do Planalto.
Em outro documento que integra o mesmo lote de papéis liberados em 2015 há mais um memorando produzido pela CIA que novamente indica uma proximidade com figuras-chave do governo, os generais João Baptista Figueiredo, então chefe do SNI (Serviço Nacional de Informações), e Golbery do Couto e Silva, então chefe do gabinete civil de Geisel.
O documento não aponta a fonte da informação, mas sugere que podem ter sido os próprios generais. “Eles [Figueiredo e Golbery] expressaram o seguinte: que a política de ‘descompressão’ (permitindo uma atividade política mais ampla) é um objetivo do governo e está próxima. Ela será cautelosa e medida. A oposição e outros [atores] terão que se comportar de maneira responsável.”
O papel foi assinado pelo general Vernon Walters (1917-2002), então vice-diretor da CIA, que tinha contatos estreitos com os principais militares brasileiros e foi um ativo conspirador no golpe de 1964 no Brasil, onde trabalhara como adido militar da embaixada norte-americana. 
O telegrama de Walters é de 25 de julho de 1974, três meses depois do memorando da CIA revelado na semana passada, no que o então diretor da agência, William Colby, informou ao secretário de Estado Henry Kissinger os detalhes de uma reunião que envolveu Geisel e Figueiredo.
O documento assinado por Walters mostra que a CIA continuou tendo acesso a dados da alta cúpula da inteligência militar da ditadura. O militar aparenta ter discutido com Figueiredo e Golbery tema econômico de interesse imediato dos americanos, a exploração de petróleo.
“O Brasil percebeu que o monopólio da exploração do petróleo pela Petrobras não vai gerar novos campos.

Em cerca de um ano eles vão alterar a legislação em vigor de forma a permitir que os EUA e a Europa ocidental participem, pois só eles têm a tecnologia necessária. Essa é uma ruptura com um duradouro mito nacionalista e levará um ano para que jovens oficiais e outros sejam educados a fim de aceitar a necessidade fundamental de permitir a participação estrangeira na prospecção de petróleo. Este é um passo muito expressivo”, escreveu Walters.

sábado, 12 de maio de 2018

Ditadura militar brasileira: a "tigrada" solta, mas sob comando superior (O Globo)

O Globo, sexta-feira, 11 de maio de 2018

Documento da CIA indica que Geisel autorizou execuções

 
Memorando da agência americana para Kissinger diz que assassinato de opositores era política de Estado
 
Documento de um ex-diretor da CIA para o então secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger, de 11 de abril de 1974, afirma que o então presidente Ernesto Geisel sabia da execução de 104 opositores da ditadura militar durante o governo Médici. O texto afirma que ele autorizou que as execuções continuassem, como política de Estado, com apoio do general João Figueiredo, então chefe do SNI, que o sucederia na Presidência, em 1979. O memorando foi encontrado pelo pesquisador Matias Spektor, da Fundação Getulio Vargas, que o classificou como “o documento mais perturbador” que leu em 20 anos de pesquisa. Em nota, o Exército informou que os documentos relativos ao período foram destruídos.
 
Execuções oficiais
 
Documento da CIA revela que Geisel autorizou assassinato de ‘subversivos perigosos’
 
Juliana Dal Piva, Daniel Salgado | O Globo
 
Um memorando feito pelo ex-diretor da CIA William Colby, em 11 de abril de 1974, e destinado ao então Secretário de Estado dos Estados Unidos, Henry Kissinger, descreveu como o ex-presidente Ernesto Geisel soube do assassinato de 104 opositores políticos e autorizou que as execuções dos presos continuassem como forma de política de Estado. O documento foi localizado ontem pelo pesquisador de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV) Matias Spektor. Para ele, o memorando é a evidência mais direta já encontrada do envolvimento dos ex-presidentes Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo com a política de assassinatos.
 
— Este é o documento secreto mais perturbador que já li em 20 anos de pesquisa — afirmou Matias Spektor.
 
No ofício, Colby descreve um encontro ocorrido em 30 de março de 1974, 15 dias após a posse de Geisel. Na ocasião, além do presidente, estavam presentes três generais que lideravam o combate armado aos opositores. Entre eles, Milton Tavares de Souza e Confúcio Danton de Paula Avelino, respectivamente os chefes de saída e chegada do Centro de Inteligência do Exército (CIE). No encontro, também estava o general João Baptista Figueiredo, chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI). Figueiredo sucedeu a Geisel em 1979.

EXÉRCITO: DOCUMENTOS FORAM DESTRUÍDOS
 
Segundo o memorando da CIA, o general Milton Tavares de Souza informou a Geisel, na reunião, a execução sumária de 104 pessoas feita pelo CIE durante o governo de seu antecessor, o presidente Emílio Garrastazu Médici. Em seguida, o chefe do CIE pediu autorização para que os militares continuassem a “política” de extermínio no novo governo.
 
Segundo Colby, o general Milton Tavares “enfatizou que o Brasil não poderia ignorar a ameaça subversiva e terrorista, e métodos extralegais deveriam continuar a ser empregados contra subversivos perigosos”. Mais adiante, completou: “A este respeito, o general Milton disse que cerca de 104 pessoas nesta categoria foram sumariamente executadas pela CIE durante pouco mais de um ano (1973), aproximadamente. Figueiredo apoiou essa política e insistiu em sua continuidade”.
 
Na reunião, Geisel pediu para pensar durante o fim de semana sobre a continuidade da “política”. O memorando da CIA informa que, em 1º de abril, o presidente disse ao general Figueiredo que a “política deveria continuar”. No entanto, Geisel orientou que “apenas subversivos perigosos fossem executados”. Ele e Figueiredo concordaram que todas as execuções deveriam ser então aprovadas pelo então chefe do SNI. “Quando a CIE prender uma pessoa que possa se enquadrar nessa categoria, o chefe da CIE consultará o general Figueiredo, cuja aprovação deve ser dada antes que a pessoa seja executada. O presidente e o general Figueiredo também concordaram que a CIE deve dedicar quase todo o seu esforço à subversão interna, e que o esforço geral da CIE será coordenado pelo General Figueiredo”, descreve o documento.
 
O Exército afirmou ontem em nota que os documentos não existem mais: “O Centro de Comunicação Social do Exército informa que os documentos sigilosos, relativos ao período em questão e que eventualmente pudessem comprovar a veracidade dos fatos narrados, foram destruídos, de acordo com as normas existentes à época — Regulamento da Salvaguarda de Assuntos Sigilosos (RSAS)”.
 
Segundo a rede do governo americano onde esses documentos estão sendo disponibilizados desde 2015, uma cópia do memorando vai ser entregue ao Secretário de Estado Adjunto para Assuntos Interamericanos. Atualmente, apenas a descrição do conteúdo do arquivo está disponível no site dos documentos históricos americanos. O original ainda está guardado na CIA. Na leitura, é possível reparar que o primeiro e o quinto parágrafos do memorando continuam secretos e não foram divulgados.
 
O CIE tinha alta influência na cúpula do regime, pois era uma estrutura do próprio gabinete Afinados. Geisel (à esquerda) determinou que execuções deveriam ser aprovadas pelo general João Figueiredo do ministro do Exército. Até a posse de Geisel, o cargo era ocupado por seu irmão, Orlando. Depois, foi nomeado o general Vicente de Paulo Dale Coutinho. Desde a criação pelo regime em 1967, o CIE tinha sede no Rio. Quando Geisel chegou ao Palácio do Planalto, em 1974, o escritório foi transferido para Brasília.
 
Antes do memorando da CIA, as únicas informações existentes de que os ex-presidentes militares sabiam e autorizaram execuções eram dois diálogos publicados pelo jornalista Elio Gaspari na coleção “Ditadura”, da editora Intrínseca. No terceiro volume, “A ditadura derrotada”, Gaspari registrou uma conversa entre Geisel e Dale Coutinho, em 14 de fevereiro de 1974.
 
Na ocasião, ambos afirmam que o Brasil só se tornou um “oásis” para investidores depois que os militares “começaram a matar”. Na conversa, Coutinho diz a Geisel: “Agora, melhorou, aqui entre nós, foi quando nós começamos a matar”. O presidente concorda: “Porque antigamente você prendia o sujeito e o sujeito ia lá para fora. [...] Ó Coutinho, esse troço de matar é uma barbaridade, mas eu acho que tem que ser”.
 
Gaspari também relata outro diálogo ocorrido, em janeiro de 1974, entre o tenente-coronel Germano Pedrozo e o presidente Geisel. Eles falavam sobre um grupo de pessoas presas no Paraná e que vinham do Chile, passando pela Argentina. Geisel questiona Pedrozo: “E não liquidaram, não?”. Pedrozo então confirma as execuções: “Ah, já, há muito tempo. É o problema, não é? Tem elemento que não adianta deixar vivo, aprontando. Infelizmente, é o tipo da guerra suja em que, se não se lutar com as mesmas armas deles, se perde. Eles não têm o mínimo escrúpulo.” O presidente, depois, completa: “É, o que tem que fazer é que tem que nessa hora agir com muita inteligência, para não ficar vestígio nessa coisa”.
 
Entre 1972 e 1973, a Comissão Nacional da Verdade identificou 138 vítimas, 69 em cada ano. Esse número inclui tanto os mortos oficiais como os chamados desaparecidos políticos, que, depois do governo Geisel, chegaram a um total de 53 só em 1974. Ao todo, durante os 21 anos da ditadura as vítimas fatais chegaram a 434, sendo 208 desaparecidos.
 
Alguns episódios ficaram conhecidos pelo grau de crueldade usado contra os opositores. Em janeiro de 1973, no município de Paulista, em Pernambuco, ocorreu a “Chacina da Chácara de São Bento”. O caso levou à execução de seis integrantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). O grupo foi denunciado por José Anselmo dos Santos, conhecido como cabo Anselmo, que agia como agente duplo das Forças Armadas dentro da organização e deu informações até sobre sua então companheira Soledad Barret Viedma.
 
No período, muitas mortes também ocorreram durante a chamada Guerrilha do Araguaia. Entre 1972 e 1974, as Forças Armadas fizeram incursões no Pará para eliminar integrantes do PCdoB. Nessas operações, mais de 70 guerrilheiros desapareceram ou foram mortos após os confrontos com os agentes do Exército, que chegou a usar bombas de napalm contra os revolucionários

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Blog do Noblat | Veja
 
Memorando da CIA revela o que o Exército sempre escondeu
 
A História havia sido benevolente até agora com o general Ernesto Geisel, o quarto presidente da ditadura militar que governou o país entre 15 de março de 1974 e 14 de março de 1979. Sabia-se que ele fora conivente com a tortura, o assassinato e o desaparecimento de corpos de presos políticos.
 
Mas graças a ele a tigrada foi pouco a pouco sendo posta sob freio curto, e afinal teve início o processo de abertura política lenta e gradual conduzido por Geisel que culminaria com a eleição em janeiro de 1985 do primeiro presidente civil e o restabelecimento da democracia eclipsada há 21 anos.
 
Um memorando do ex-diretor da CIA William Egan Colby em 11 de abril de 1974 endereçado ao então Secretário de Estado dos Estados Unidos Henry Kissinger deixa claro que Geisel foi muito mais do que apenas tolerante com os crimes cometidos por seus colegas de farda. Ele sabia e autorizou muitos deles.
 
Descoberto pelo pesquisador de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas Matias Spektor entre documentos recentemente liberados para publicação pelo governo americano, o memorando descreve um encontro em 30 de março de 1974 entre Geisel e um grupo de generais.
 
Estavam presentes Milton Tavares de Souza, chefe de saída do Centro de Inteligência do Exército, e Confúcio Danton de Paula Avelino, chefe de chegada. E mais o general João Baptista Figueiredo, chefe do Serviço Nacional de Inteligência (SNI), que mais tarde seria escolhido por Geisel para sucedê-lo.
 
A reunião serviu para que Tavares de Souza informasse a Geisel sobre a execução sumária de 104 pessoas feita pelo Centro de Inteligência do Exército até ali. E para que Figueiredo recomendasse a manutenção de tal política. Geisel pediu alguns dias para pensar. Depois deu seu aval, mas com uma ressalva.
 
Doravante, sempre que se prendesse algum opositor do regime que devesse ser eliminado, Figueiredo deveria ser consultado a respeito. Seria dele a última palavra, segundo contou Colby em seu memorando. A sede do Centro de Informações do Exército funcionava no Rio. Mudou-se com Geisel para Brasília.
 
O livro “A Ditadura derrotada”, do jornalista Elio Gaspari, está repleto de fatos que incriminam Geisel e os chefes militares da época com a tortura e o assassinato de presos. Faltava talvez o carimbo oficial de algum organismo de informação ou de espionagem. Não falta mais. A CIA assinou embaixo.
 
A tortura e o assassinato de opositores do regime foi política de Estado enquanto durou a ditadura militar de 64. Tais práticas são consideradas crimes contra a humanidade, segundo tratados internacionais assinados pelo Brasil. Por serem assim, simplesmente não estão cobertas por anistia alguma.
 
Países da América Latina, mas não só, que passaram por ditaduras muito mais atrozes julgaram e condenaram os responsáveis por elas. A Argentina é um exemplo. Aqui se fez de conta que a violação dos direitos humanos foi obra de subalternos enlouquecidos e fora de controle. Não foi.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

America do Sul: a sombra sinistra do Plano Condor - El Pais


Italia condena a cadena perpetua a un exdictador peruano por el Plan Cóndor

Jacqueline Fowks
El País, 18/01/2017

Francisco Morales Bermúdez tiene abierto otro proceso en Lima por la misma operación
Lima - Una corte de Roma condenó este martes a cadena perpetua a ocho militares sudamericanos, entre ellos el exdictador peruano Francisco Morales Bermúdez (1975-1980) y el exdictador boliviano Luis García Meza (1980-1981), por el secuestro y asesinato de 42 jóvenes, incluidos 20 ítalo-argentinos. Los militares perpetraron los asesinatos en Argentina, Bolivia, Chile, Brasil y Uruguay, como parte del Plan Cóndor, que consistía en la coordinación de operaciones encubiertas de persecución y eliminación de opositores políticos de los Gobiernos militares en la región entre 1973 y 1978.
Morales Bermúdez, que se encuentra en Perú, fue presidente en la segunda fase de la dictadura militar y bloqueó reformas sociales de su predecesor, pero permitió el retorno a la democracia mediante una asamblea constituyente en 1978. El exdirigente y otros dos exjefes militares peruanos, Pedro Richter Prada y Germán Ruiz Figueroa, fueron hallados culpables de homicidio de dos de las víctimas.
Luis Vargas Valdivia, abogado del expresidente, declaró a EL PAÍS que “no cabría la extradición si la solicitasen las autoridades italianas”, pues la ley del país sudamericano “prohíbe la condena en ausencia”. “En el proceso en Italia se han cometido irregularidades [con respecto de los tres sentenciados peruanos] como no haber sido citados a declarar, ni haber solicitado su extradición”, aseguró Vargas Valdivia. Este defiende al expresidente en la Sala Penal Nacional de Perú, en otro proceso relacionado con el Plan Cóndor. Esta vez se trata del secuestro de 13 peruanos opositores a la dictadura en mayo de 1978 que fueron trasladados por militares de Perú a una sede del Ejército argentino en Jujuy durante el Gobierno militar de Jorge Rafael Videla. El abogado asegura que la “investigación [en Perú] fue puesta en conocimiento de los jueces y fiscales italianos, quienes la ignoraron”.
La ONG Aprodeh, que defiende a uno de los peruanos secuestrados a Argentina en 1978, indica que los ciudadanos salvaron la vida debido a una intensa campaña de organismos internacionales. Entonces, la dictadura argentina y la embajada peruana en Buenos Aires les entregaron pasaportes de emergencia y no pasaron a la lista de los desaparecidos en las dictaduras del Cono Sur.
El proceso penal en Lima empezó en septiembre de 2015, poco después de inicio del juicio en Italia. Este último fue el resultado de una denuncia de 1999 de seis mujeres, esposas y madres de algunas de las víctimas: Bernardo Arnone, Gerardo Gatti, Juan Pablo Recagno, Andrés Bellizzi, Daniel Banfi y Lorenzo Viñas.
Los otros condenados son los chilenos Hernán Jerónimo Ramírez y Rafael Ahumada Valderrama, el uruguayo Juan Carlos Blanco, y el boliviano Luis Arce Gómez. El juicio había sido abierto contra 27 exmilitares, pero terminó con la absolución de la mayoría de los imputados. La lluvia de exculpados sumió en el desánimo a los acusadores, que han sacado adelante el proceso durante dos años y un total de sesenta audiencias, encabezados por el fiscal italiano Giancarlo Capaldo, principal investigador.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

China em duas visoes: a repressao aceita e as reformas dificeis - Raquel Martins e Marcos Caramuru de Paiva

Memórias de Tiananmen
MARCELO NINIO - DE PEQUIM
Folha de S. Paulo, 2/06/2014

Brasileira que vive em Pequim e testemunhou o massacre da praça da Paz Celestial, em 1989, diz que governo chinês conseguiu fazer lavagem cerebral no país

RESUMO Raquel Martins, 49, nasceu em Jundiaí (SP) e com um ano de idade foi para Pequim, quando seu pai, o jornalista Jayme Martins, fugiu do Brasil após o golpe de 1964. Em 1989 ela estudava na Universidade de Pequim, berço dos protestos pró-democracia encerrados com o massacre da praça da Paz Celestial (Tiananmen, em mandarim), que completa 25 anos nesta quarta (4/6). Raquel vive na capital chinesa.
Em 1989, eu cursava o segundo ano de literatura chinesa na Universidade de Pequim, onde começou o movimento estudantil. Os estudantes aproveitaram o enterro de Hu Yaobang, dirigente comunista que defendia reformas políticas e havia sido posto para escanteio, para pedir democracia.
Mas a China mal havia começado sua abertura econômica, e os estudantes pediam democracia sem saber muito bem o que era. Até então não havia nenhum clima de protesto na universidade, foi tudo espontâneo.
O movimento cresceu, ganhou apoio popular e até da mídia estatal. No início era festa. A meta não era derrubar o regime. Os estudantes se consideravam comunistas, só queriam mais liberdade.
Nunca houve a sensação de que o regime iria cair. O governo chinês é forte demais, não cai assim. Ainda mais do jeito que eles são treinados, com lavagem cerebral.
Fui à praça quase todos os dias do protesto, porque estava traduzindo para o meu pai [o jornalista Jayme Martins]. Cada um dizia uma coisa, não havia um discurso unificado. Uns apoiavam os grevistas, outros queriam democracia ou falavam em ter uma vida melhor.
Houve baderna no fim, mas não quebraram uma só loja. Nada parecido com os protestos recentes no Brasil. Só depois que o Exército entrou é que enforcaram alguns soldados.
O último dia que nós fomos à praça foi 3 de junho [véspera do massacre]. Estava calmo, pouca gente. A praça estava imunda, lixo por todo lado, um fedor. Tão insalubre que jogavam desinfetante.
Acho que faltou paciência ao governo. O movimento estava definhando, se deixasse ele morreria sozinho.
Saímos da praça e fomos caminhando até o casamento de uma amiga brasileira. Fazia muito calor e tinha muita gente na rua, idosos, crianças. O Exército já estava dentro da cidade, então se esperava que algo acontecesse.
Perto da 0h, aumentou o movimento de tropas e houve pânico. Ouvimos um barulho maior. No início, pensamos que era jato d'água. Mas eram os tanques chegando. Um rapaz tentou atravessar a rua e o tanque passou por cima, na nossa frente.
Pediam para tirarmos fotos. "Estrangeiros, mostrem ao mundo o que o nosso governo está fazendo."
Quando deu 2h da manhã, começamos a ouvir tiros. Foi uma surpresa: ninguém sonhava que o Exército seria capaz de atirar no povo.
Passamos a noite em claro. Tanques e mais tanques passavam, alguns atirando. O apartamento da secretária do embaixador do Brasil foi atingido, a parede ficou marcada por tiros. Muitos morreram por bala perdida.
O clima era de indignação: como tudo podia acabar assim? Para mim a indignação veio depois, quando o governo negou tudo e acusou os estudantes de contrarrevolucionários. Mas eles só queriam democracia!
Quando amanheceu, Pequim era outra. Silêncio. Barreiras militares. Ônibus e tanques queimados. A embaixada providenciou uma perua, cobriu com a bandeira brasileira e passamos as barreiras de janela aberta.
Havia rumores de que haveria uma guerra civil. Ficamos acampados na Embaixada do Brasil até que o embaixador, Roberto Abdenur, decidiu retirar todos os brasileiros da China. Éramos poucos na época, cerca de 20. Pegamos o primeiro voo que deu, da Pakistan Airlines.
Era uma situação difícil. Não sabíamos se haveria guerra, se poderíamos voltar.
Quando voltei, em agosto, o clima na universidade era totalmente diferente. Voltou a tensão da Revolução Cultural, que eu conhecia bem da infância: ninguém confiava em ninguém. A minha geração saiu da universidade e decidiu ganhar dinheiro.
Continuo achando que poucos chineses sabem do massacre. O governo conseguiu fazer a lavagem cerebral.
O discurso era: vamos olhar para a frente. Naquela época, o país era muito pobre. Essa ideia do Deng Xiaoping de enriquecer fez a cabeça de muita gente.
Oitenta por cento da população era rural. E a vida realmente melhorou. Hoje todos os meus amigos chineses estão em situação melhor.
Se um movimento não funciona assim, não é porque o Partido Comunista não deixa: é porque a tradição não permite desafiar a autoridade. O chinês está condicionado a obedecer há milênios.

Reforma difícil na China
Marcos Caramuru de Paiva
Folha de S. Paulo, 2/06/2014

O país convive com práticas dos tempos de fechamento; alterá-las requer mudanças profundas na sua cultura
Há dias, uma estatal chinesa no setor de óleo e gás determinou uma mudança surpreendente na política de recrutamento: os filhos de seus funcionários não mais terão emprego automático na empresa, a menos que se graduem numa universidade de primeira linha. Aqueles formados em instituições de menor reputação passarão por um exame e competirão com outros candidatos.
A medida foi, evidentemente, aplaudida. Afinal, as estatais pertencem ao país, e não aos seus empregados, e o sistema do emprego hereditário tende a ser um entrave à eficiência.
Os funcionários, no entanto, revoltaram-se. Na essência do regime comunista está a proteção do trabalhador e de suas famílias. Por que proteger menos?
O episódio dá uma ideia de como é difícil transformar a China. O país moderno convive com práticas herdadas dos tempos de fechamento. Alterá-las ainda requer uma mudança profunda de cultura. Os que acreditam que a existência de um partido único soluciona qualquer problema estão longe da realidade. Novas ideias encontram um movimento natural de resistência.
Por isso, é preciso primeiro inseri-las numa grande moldura política e depois aprofundá-las em decisões práticas para que sejam absorvidas pela burocracia estatal. É um processo lento e gradual, que contrasta vivamente com o ritmo rápido das obras de construção e de infraestrutura.
Além disso, muitas medidas tomadas em âmbito partidário ou federal passam pela interpretação das autoridades locais, e ela nem sempre é uniforme.
Recentemente, o Partido Comunista decidiu que a melhor forma de mudar as estatais e suas práticas é abrir o seu capital. Empresas de capital aberto teoricamente são cobradas, têm que exibir contas, dar satisfação aos acionistas.
O problema é que a implementação dependerá dos governos provinciais e municipais. E, a julgar pelas diretrizes já anunciadas por três deles, o da província de Sichuan e o das cidades de Chongqing e Xangai, o critério será diferenciado.
Na verdade, as próprias empresas estatais também têm uma parcela de autonomia sobre as decisões. Algumas saem à frente, operando mudanças; outras adiam a ação o quanto podem.
As estatais federais são reguladas. Os reguladores determinam, por exemplo, o lucro mínimo esperado a cada ano. É uma forma de forçar ajustes, baixar custos e aumentar a produtividade. Mas as locais não estão cobertas.
O misto da China antiga com a nova mostra um saldo considerável para a nova. Mas isso acaba sendo um entrave a mudanças. Muitos no partido parecem acreditar que basta repetir a experiência dos últimos 30 anos, sem fazer grandes emendas, para levar o país ao sucesso.

A alta cúpula, no entanto, sabe que isso não é possível. A China ainda crescerá com alguma força porque é pobre. Mas sem reformas, sobretudo nas suas estatais, pode perder o gás.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Venezuela: regime atinge nivel demencial na paranoia repressiva

Venezuela government accuses opposition leader of 'coup' plot

CARACAS -Foreign PolicyWed May 28, 2014 

Venezuelan opposition leader Maria Corina Machado speaks during an interview with Reuters in Caracas May 23, 2014. REUTERS/Jorge Silva

(Reuters) - Venezuelan officials on Wednesday accused hardline opposition leader Maria Corina Machado of leading plots to topple President Nicolas Maduro in league with U.S. officials.
The allegations are the latest in a torrent from the government, which says three months of protests this year were a veneer for a U.S.-backed conspiracy to unseat the successor to late socialist leader Hugo Chavez.
Opposition leaders deny and deride those accusations as a smokescreen for a struggling government, saying the demonstrations, in which 42 people died, were a spontaneous response to economic hardship, insecurity and state repression.
Maduro's top officials lined up for a much-touted news conference, which all local broadcasters were required to carry live, to denounce Machado and other opposition figures for "assassination" and "coup" plots against the president.
They also accused U.S. envoy to Colombia, Kevin Whitaker, of being involved and in touch with Machado. A spokeswoman for the U.S. Embassy in Colombia did not immediately respond to requests for comment.
"What we are presenting is part of a criminal investigation," ruling Socialist Party official Jorge Rodriguez said, showing emails he said were proof of the plans.
Machado, 46, who was instrumental in calling Venezuelans onto the streets for three months of demonstrations against Maduro this year, scoffed at the accusations as "infamy" via Twitter.
Rodriguez, a psychiatrist as well as a politician, showed iPad screenshots of various emails he said were from Machado, showing language typical of "serial killers."
"We need to clean up this rubbish, starting at the top, taking advantage of the global climate with Ukraine and now Thailand, as soon as possible," read one.
"The time has come to join forces, make the necessary calls and obtain the funds to annihilate Maduro."
Machado and another hardline opposition leader, Leopoldo Lopez, were the main proponents of the protests that began in February.
Lopez was jailed in mid-February and his wife, Lilian Tintori, who is also close to Machado, met Pope Francis at the Vatican on Wednesday during an international tour to garner support for her husband. Three generals and an army captain were also imprisoned in March on charges of "coup" plots.
(Additional reporting by Brian Ellsworth in Bogota; Editing by Grant McCool)


segunda-feira, 12 de maio de 2014

Venezuela: retratos de um pais excessivamente democratico... - Moises Naim

Tão democrático, como diria um ex-presidente, que Unasul e Mercosul não precisam fazer nada, apenas continuar no seu marasmo moribundo que ninguém vai lhes cobrar coerência com suas respectivas cartas e instrumentos democráticos firmados pelos países.
Para que, não é mesmo?
Para nada...
E a OEA, já morreu?
Paulo Roberto de Almeida

Postais da Venezuela
Moisés Naím
El País, 12/05/2014

Relatório do Human Rights Watch constata violações dos direitos humanos

Primeiro postal: "Moisés Guánchez tem 19 anos e trabalha como garçom em um restaurante nos arredores de Caracas. Em 5 de março, ao sair do trabalho, encontrou-se preso junto com outras 40 pessoas em um estacionamento. Membros da Guarda Nacional Bolivariana que estavam reprimindo um protesto nessa área começaram a lançar bombas de gás lacrimogêneo e a disparar balas de borracha contra o grupo onde estava Guánchez. Ao tentar sair de lá, um membro da Guarda Nacional o impediu, disparando balas de borracha no seu rosto. Embora não encontrassem nenhuma resistência, dois guardas se revezaram a espancá-lo, enquanto um terceiro atirou à queima-roupa na sua pélvis. Guánchez teve que passar por cirurgia nos braços, na perna e no testículo".

Segundo: "José Romero, de 17 anos, foi detido em 18 de março ao sair de uma estação de metrô em Caracas. Um guarda nacional pediu a sua identificação e, quando Romero a entregou, o guarda lhe deu um tapa e o prendeu sem maiores explicações. Foi levado a um lugar desconhecido onde ficou incomunicável, ameaçado de morte e espancado. Foi obrigador a ficar de joelhos por 12 horas sem água, comida ou poder ir ao banheiro. Durante a noite, os guardas lhe disseram que o estuprariam e um deles levantou sua camiseta e o queimou. Isso aconteceu três vezes".

Terceiro: "Em 21 de março, na cidade de Valencia, Daniela Rodríguez estava filmando, com o seu celular, uma passeata que ficou violenta. Rodríguez correu para casa e trancou a porta. Trinta membros da polícia e do serviço de inteligência entraram à força na sua casa, prendendo-a e o seu irmão Luis".

Quarto: "Em 13 de fevereiro, Juan Manuel Carrasco, de 21 anos, e dois amigos correram para fugir de confrontos violentos entre a Guarda Nacional e manifestantes na cidade de Valencia. Entraram no carro de um deles, mas foram rodeados por 15 guardas em motos. Obrigaram-nos a sair, bateram neles, pegaram seus celulares e outros pertences e colocaram fogo no carro. Em seguida, eles foram levados para um parque onde foram forçados a ficarem deitados no chão enquanto eram agredidos e pisoteados no rosto com as botas dos guardas. Um deles colocou o fuzil no pescoço de Carrasco e foi baixando o cano da arma pelas costas, baixou a sua roupa interior e penetrou o seu reto com a arma, causando uma hemorragia. Os outros detidos foram obrigados a deitarem de costas enquanto um guarda passava três vezes por suas pernas com uma moto".

Esses são apenas quatro casos de um longo inventário de horrores compilado pela organização internacional Human Rights Watch (HRW) durante uma visita a Venezuela, em março. A leitura do relatório completo (disponível na internet) é tão assustadora quanto obrigatória. Cada incidente está documentado com evidências que não deixam espaço para dúvidas sobre a veracidade do que é relatado. Os especialistas do HRW visitaram Caracas e três estados venezuelanos, entrevistaram mais de 90 vítimas, os médicos que as atenderam, testemunhas, jornalistas e organizações de defesas dos direitos humanos. Coletaram centenas de fotografias, vídeos, relatórios médicos e documentos legais.

Nas palavras de José Miguel Vivanco, diretor do HRW para as Américas: "A magnitude das violações dos direitos humanos que documentamos na Venezuela e a participação de membros das forças de segurança e funcionários judiciais nesses crimes demonstram que não se tratam de incidentes isolados, nem do excesso de alguns indisciplinados. Pelo contrário, fazem parte de um padrão preocupante de abusos que representa a crise mais grave que presenciamos na Venezuela em anos".

O relatório do HRW prova que o governo de Nicolás Maduro faz uso ilegal de força contra manifestantes desarmados e inclusive contra simples pedestres. Os espancamentos graves, o uso indiscriminado de munições reais, balas de borracha e gás lacrimogêneo e os disparos à queima-roupa com chumbo grosso contra pessoas que estavam sob custódio são rotineiros. Também se comprovou um abuso contínuo e sistemático dos detidos, que em alguns casos pode até ser considerado tortura.


O principal conflito na Venezuela hoje em dia não é entre os que promovem o socialismo e os que acreditam no capitalismo, entre ricos e pobres ou entre os simpatizantes dos Estados Unidos e os que repudiam a superpotência. Está entre os que defendem um governo que usa a violação dos direitos humanos como política de Estado e os que estão dispostos a sacrifícios para impedi-lo.