O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

2082) Protocolo adicional ao TNP: duas visoes contrastantes

Escolha a sua: uma determina a defesa da soberania nacional e recusa o Protocolo adicional (de inspeções reforçadas), a outra aceita isso, como parte de nossa inserção internacional.
Folha de São Paulo (10.04.2010):

Instrumento desnecessário e humilhante
Samuel Pinheiro Guimarães

"As ultracentrífugas de tecnologia brasileira são as mais eficientes do mundo e há grande interesse em ter acesso a suas características, uma das consequências da assinatura do Protocolo Adicional, que, no caso do Brasil, seria um instrumento desnecessário, intrusivo, prejudicial e humilhante"
Samuel Pinheiro Guimarães é ministro de Assuntos Estratégicos. Artigo publicado na "Folha de SP":

O centro da questão é o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), cujo objetivo é evitar uma guerra nuclear. A possibilidade de tal conflito não está nos países que não detêm armas nucleares, mas, sim, naqueles que as detêm. Portanto, o principal objetivo do TNP deve ser a eliminação das armas dos países nuclearmente armados: Estados Unidos, Rússia, China, França e Inglaterra.

Há 42 anos esses países se comprometeram a eliminar suas armas, e há 42 anos não cumprem esse compromisso. Ao contrário, aumentaram a eficiência de suas armas nucleares.

Apesar de não terem se desarmado, esses países insistem em forçar os países não nucleares a aceitar obrigações crescentes, criando crescentes restrições à difusão de tecnologia, inclusive para fins pacíficos, a pretexto de evitar a proliferação.

Os países nucleares, ao continuarem a desenvolver suas armas e, portanto, a intimidar os países não nucleares, estimulam a proliferação, pois os países que se sentem mais ameaçados procuram se capacitar. Isso ocorreu com a então União Soviética (1949), com a França (1960) e com a China (1964).

Hoje, diante da inexistência de ameaça de conflito nuclear, o argumento dos países nucleares é a possibilidade de terroristas adquirirem a tecnologia ou as armas.

Essa tecnologia está disponível. A questão é a capacidade de desenvolver industrialmente as armas e os vetores para atingir os alvos.
Nenhum grupo terrorista detém os vetores (mísseis e aviões), nem a estrutura industrial para produzir o urânio enriquecido, nem a técnica para fabricar detonadores. Por outro lado, os terroristas poderiam obter essas armas justamente onde existem, nos países nucleares.

Nesse contexto se insere o Protocolo Adicional. O TNP prevê que todos os países-membros assinem acordos de salvaguardas com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), pelos quais os Estados não nucleares submetem a inspeção todas as suas instalações nucleares. O objetivo do acordo é verificar se há, para fins militares, desvio de material nuclear da instalação (reatores, usinas de enriquecimento etc.).

O Brasil tem atividades nucleares exclusivamente para fins pacíficos, como determina a Constituição, e tem um acordo de salvaguardas com a AIEA, que permite à agência inspecionar instalações brasileiras. Tudo com respeito à soberania nacional e a nossos interesses econômicos.

A AIEA, por proposta americana e a pretexto do programa do Iraque, elaborou um modelo de protocolo adicional aos acordos de salvaguardas, permitindo a visita de inspetores, sem aviso prévio, a qualquer local do território dos países não nucleares para verificar suspeitas sobre qualquer atividade nuclear, desde pesquisa acadêmica e usinas nucleares até a produção de equipamentos, como ultracentrífugas e reatores.

O Protocolo Adicional constituiria uma violação inaceitável da soberania diante da natureza pacífica das atividades nucleares no Brasil, uma suspeita injustificada sobre nossos compromissos constitucionais e internacionais e uma intromissão em atividades brasileiras na área nuclear.

Essa intromissão causaria graves danos econômicos, quando se consideram as perspectivas brasileiras na produção de combustível nuclear, que terá forte demanda com a necessidade de enfrentar a crise ambiental.

A solução ambiental exige a reforma da matriz energética, tanto nos emissores tradicionais, como os EUA, quanto nos de rápido desenvolvimento, como a China e a Índia.

Uma das mais importantes fontes de energia não geradora de gases de efeito estufa é a nuclear. O Brasil tem grandes reservas de urânio, tem o conhecimento do ciclo de enriquecimento do urânio e a capacidade para produzir reatores, ultracentrífugas, pastilhas etc. e, assim, pode vir a atender uma crescente demanda externa.

A preservação do conhecimento tecnológico é, assim, aspecto essencial na área nuclear. Ora, as ultracentrífugas de tecnologia brasileira são as mais eficientes do mundo. Há grande interesse de certos países em ter acesso a suas características, uma das consequências da assinatura do Protocolo Adicional, que, no caso do Brasil, seria um instrumento desnecessário, intrusivo, prejudicial e humilhante.
(Folha de SP, 10/4)

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Adesão não contraria interesse nacional
Rubens Ricupero

"O Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) é desigual e injusto, mas superior às alternativas existentes"
Rubens Ricupero é diretor da Faculdade de Economia da Faap e do Instituto Fernand Braudel de São Paulo. Foi secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e ministro da Fazenda (governo Itamar Franco). Artigo publicado na "Folha de SP":

Da mesma forma que a democracia, segundo Churchill, é a pior forma de governo, exceto todas as demais, o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) é desigual e injusto, mas superior às alternativas existentes. Durante os 40 anos de sua vigência, renunciaram à arma atômica 11 países que já a possuíam ou desejavam adquiri-la (entre eles Brasil, Argentina e África do Sul).

Dos 4 que se tornaram nucleares, 3 (Índia, Paquistão e Israel) jamais assinaram o TNP, e a Coreia do Norte teve que deixá-lo antes de construir a bomba. O controle das armas de destruição de massa não é impossível, pois desde Hiroshima e Nagasaki o mundo viveu 65 anos sem que a tragédia se repetisse.

Brasil e Argentina tomaram juntos a decisão de abandonar seus programas nucleares rivais, desarmando perigosa corrida armamentista na América Latina e abrindo caminho à integração do Mercosul.

O processo culminou, em 1991, com a assinatura do acordo entre o Brasil, a Argentina, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a Agência Argentino-Brasileira de Controle, pelo qual os dois países aceitaram as inspeções da agência da ONU.

A adesão ao TNP constituiu a consequência natural, pois a proibição da arma nuclear já constava da Constituição de 1988 e o acordo de 1991 havia criado para o país todas as obrigações que decorreriam do tratado.

Quando a adesão se deu, em 1997-1998, os únicos que não haviam assinado eram Índia, Paquistão e Israel, que tinham para isso uma razão: queriam adquirir a bomba (o quarto era Cuba, que aderiu logo depois). Que sentido teria tido para o Brasil ficar de fora, em companhia dos três belicistas, se já havíamos assumido na prática as obrigações do TNP?

O mesmo argumento se aplica ao Protocolo Adicional, que não é mais que a aceitação de fiscalização reforçada. O Brasil é dos raros países que permitem à agência acesso até a suas instalações militares. O que teríamos a temer se nada temos a esconder?

Alega-se que deveríamos proteger a originalidade de nossa tecnologia. O objetivo é legítimo, mas, segundo especialistas, pode ser perfeitamente assegurado pela negociação com a agência de modalidades que preservem os segredos tecnológicos.

Até agora, a recusa era justificada pelo desinteresse do governo americano de cumprir a obrigação de desarmamento constante do TNP.

A situação mudou totalmente com o advento do governo Obama, o acordo com a Rússia para redução de ogivas nucleares e a nova estratégia dos EUA, que restringe o papel das armas nucleares. Ainda se está longe do desarmamento, mas é mudança construtiva que deve ser encorajada.

Neste momento, a persistência da recusa será vista como obstrução à evolução positiva em curso. A infeliz coincidência com a visita do presidente Lula a Teerã avivará suspeitas sobre nossas intenções.

Cedo ou tarde, o processo de reforço do TNP conduzirá à proibição da exportação ou importação de urânio enriquecido e restrições de acesso tecnológico para os que rejeitam o protocolo. É risco gratuito quando nossa tecnologia pode ser preservada por negociação cautelosa.

Se o real motivo for armamentista, equivale a golpe gravíssimo contra a Constituição. O argumento da soberania não procede, pois a adesão não contraria o interesse nacional.

Que interesse haveria em adquirir a bomba para país que não está sob ameaça ou em zona de conflito, tendo completado 140 anos de paz ininterrupta com seus dez vizinhos?

Na hora lancinante da catástrofe do Rio de Janeiro, só o delírio de grandeza e a perda de contato com a realidade explicam desviar recursos escassos para prioridades erradas e desnecessárias como os desvarios atômicos. A realidade que chega pela tela da TV nos revela aonde estão nossos inimigos: não no exterior, mas aqui dentro.

A corrupção e a incompetência diante da urbanização selvagem, a patética incapacidade de salvar vidas, a falta de dinheiro para dar casa decente aos trabalhadores -são essas as ameaças a enfrentar. E não será com submarinos nucleares e urânio enriquecido que vamos diminuir um só desses perigos reais e imediatos.
(Folha de SP, 10/4)

2081) Brasil: potencia economica de semiletrados

Há muito tempo, com base unicamente em minha experiência pessoal, venho insistindo no tema educacional, sem ser especialista no setor, e sem sequer fazer pesquisas nessa área. Trata-se de simples percepção pessoal: para mim, o Brasil é um gigante de pés de barro, e mais ainda, se trata de um gigante bobão, com uma classe política e supostas elites sumamente ignorantes, alguns ostentando mesmo o que se poderia chamar de "ignorância enciclopédica" (isto é, espalhando sua estupidez por vários campos do saber e das atividades humanas, e nem preciso lembrar quem é).
Pois bem, creio que este texto de um conhecido especialista no setor ajuda a explicar um pouco as raízes do problema e a agravar o alerta que venho sempre fazendo:
Em matéria de educação, estamos muito pior, mas muuuuiiiito piiiiior do que jamais ousaríamos imaginar, e a situação tende a se agravar, graças ao sindicalismo professoral, às pedagogas freirenas do MEC, às políticas absolutamente erradas do governo (de todos os governos, ou quase).
Acho que o Brasil tem um futuro muito ruim pela frente a persistir essa situação, que aliás não se corrige facilmente, mas exigiria pelos menos uma geração inteira de paciente reconstrução do sistema educacional.
A tragédia, contudo, é que sequer tomamos consciência da situação e ainda não começamos a corrigir o problema...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 13.04.2010)

Brasil: a primeira potência de semiletrados?
Gustavo Ioschpe
Revista Veja, 14.04.2010

"Apesar do oba-oba, o Brasil está próximo de ser um colosso econômico e esquecer a formação de sua gente"

Quando voltei ao Brasil, depois de anos no exterior, queria montar meu escritório rapidamente. Contratei, então, um desses serviços de secretariado virtual para me ajudar enquanto iniciava o processo de busca por uma equipe permanente. Notei que a secretária virtual não era um gênio, mas achei que quebraria o galho. Certo dia, mandei um e-mail a ela pedindo que me conseguisse a informação de contato do cônsul brasileiro em Houston (EUA). Informação encontrável na internet em poucos minutos. Passaram-se cinco minutos, cinco horas, e nada.
Três dias depois, recebi um e-mail da fulana: "Sr. Gustavo, procurei na Cônsul e até na Brastemp, mas ninguém conhece esse tal de Houston". Pensei que fosse piada. Reli. Não era. Para quem havia ficado alguns anos construindo teses acadêmicas sobre a importância da educação para o desenvolvimento das nações, através do seu impacto na produtividade de uma população, estava ali o exemplo pronto e acabado de como é difícil produzir algo quando a ignorância campeia à volta. É assim para uma pessoa, uma empresa e um país.
Os economistas Gustav Ranis, Frances Stewart e Alejandro Ramirez ilustraram essa relação de forma clara. Analisaram 76 países durante um período de 32 anos. Dividiram-nos de acordo com dois critérios: crescimento econômico e desenvolvimento humano (nesse caso, medido através de uma combinação de indicadores de educação e saúde). Usando essas duas dimensões, você pode ter duas situações de equilíbrio (quando o lado humano e o econômico são igualmente altos ou baixos) e duas de desequilíbrio (quando o humano é alto e o econômico baixo, e vice-versa). Surgem algumas conclusões interessantes desse estudo.
A primeira é que as situações de desequilíbrio duram pouco. Se um país tem muito crescimento econômico e pouco capital humano (CH), ele tende a parar de crescer (caso, sim, do Brasil nas décadas de 60 e 70) ou a aumentar seu lado humano.
A segunda: é muito difícil sair de uma situação de equilíbrio negativo: mais da metade dos países que tinham baixo crescimento e baixo CH em 1960 permanecia empacada na mesma posição na década de 90.
A terceira é que o crescimento econômico, quando desacompanhado de evolução do lado humano, dura pouco: de todos os países que tinham alto crescimento econômico e baixo CH no início do período, nenhum conseguiu chegar ao equilíbrio em alto nível. Todos, sem exceção, terminaram o período com baixo crescimento e baixo CH.
A quarta, e mais importante, é que a estratégia de privilegiar o lado humano dá frutos muito melhores do que aquela que enfatiza só o lado econômico: dos países que começaram o período com alto CH e baixo crescimento econômico, um terço chegou ao nirvana da alta renda e alto nível humano; um terço continuou com um lado mais desenvolvido que o outro, e apenas um terço regrediu para o fim trágico do baixo crescimento e baixo CH.
O resumo da ópera é o seguinte: é muito difícil passar de uma situação de subdesenvolvimento e chegar ao chamado Primeiro Mundo. Mas, se o período 1960-92 servir de guia, das duas estratégias possíveis – privilegiar o crescimento econômico versus privilegiar o crescimento humano –, a primeira se mostrou um fracasso total, e só através da segunda é que um terço dos países chegou ao objetivo desejado.
Esse aprendizado é, hoje, especialmente importante para o Brasil. Apesar de todo o oba-oba com o país nas capas de revistas e jornais estrangeiros, o Brasil está, na verdade, perigosamente próximo de repetir a trajetória do fim da década de 60: ser um colosso em termos de crescimento econômico e esquecer a formação de sua gente. Essa estratégia tem destino certo: a falta de pessoas qualificadas faz com que o processo emperre e o crescimento acabe. Temo, inclusive, que seja tarde demais para evitar parte desse enredo: várias indústrias, especialmente as ligadas à engenharia, já têm seu crescimento cerceado pela impossibilidade de encontrar gente qualificada. O problema será muito pior nos próximos vinte anos, à medida que a demanda por pessoas qualificadas for aumentando e as escolas continuarem formando incompetentes.
Há três diferenças importantes entre o momento atual do Brasil e aquele da época do milagre econômico.
A primeira é que o atraso educacional brasileiro em relação aos países desenvolvidos aumentou consideravelmente. Há trinta anos, o ensino superior era um nível para poucos, mesmo nos países mais ricos. Levantamento feito em 2000 mostrou que a porcentagem de adultos com diploma universitário no Brasil era bastante parecida com a de outros países – 1 ou 2 pontos porcentuais abaixo de Chile e Argentina e 3 a 4 pontos abaixo de Itália e França, por exemplo. Quando se olha para a taxa de matrícula atual do ensino universitário, porém, nota-se que o Brasil tem uma diferença de 20 pontos porcentuais para nossos vizinhos latino-americanos e de 40 ou mais pontos para os países desenvolvidos. A maioria dos brasileiros não se dá conta de quão ruim é a educação nacional. Uma pesquisa de 2009 sobre alfabetização, feita pelo Instituto Paulo Montenegro, mostrou que apenas 25% da população adulta brasileira é plenamente alfabetizada. Deixe-me repetir: só um quarto dos brasileiros conseguiria ler e entender um texto como este. Nenhum país jamais se tornou potência com uma população de semianalfabetos. É improvável que o Brasil seja o primeiro, mesmo com todos os recursos naturais de que dispomos.
Segunda diferença: nos anos 60/70, pouquíssimo se falava sobre educação. Hoje, a questão está em pauta. O diacho é que a maior parte do discurso ainda é pré-científica (ou anticientífica) e continua insistindo em teses furadas e demagógicas: que o Brasil investe pouco e que o principal problema é o salário do professor.
A terceira e última é que naquela época éramos uma ditadura inserida no polo pró-americano em um contexto de Guerra Fria, e hoje somos uma democracia altiva em um mundo multipolar. Se então nossos males nos eram impostos por um regime autocrático, hoje temos liberdade e responsabilidade por nossos destinos. Os problemas e os erros são todos nossos, e as soluções também terão de ser.

2080) Editorial do Globo sobre o Iran e o problema nuclear

Nunca é tarde para transcrever certas manifestações de princípio, que tem a ver com o núcleo mesmo da política externa brasileira, num momento de definições relevantes.
Veremos como se dá a evolução deste processo.

Brasil à deriva no apoio ao Irã
EDITORIAL
O Globo, 09/04/2010

O presidente Barack Obama recepcionará líderes de 47 países na próxima semana, em Washington, para uma reunião sobre segurança nuclear, com três trunfos na mão: a revisão da política nuclear americana, há pouco anunciada, pela qual os Estados Unidos se comprometem a não usar armas atômicas contra países que não as possuam, exceto estados sem lei, como Irã e Coreia do Norte; a assinatura com a Rússia ontem, em Praga, de um pacto para redução em um terço dos arsenais nucleares, apontando para uma nova era de cooperação entre os grandes ex-inimigos da Guerra Fria (a Rússia é a sucessora legal da União Soviética); e, finalmente, a concordância da China em conversar sobre as novas sanções que os EUA e o Ocidente desejam aplicar ao Irã, pela falta de transparência de seu programa nuclear, considerado uma ameaça em escala mundial.

A revisão da política americana feita pelo governo Obama reflete preocupação, não com outras potências nucleares, como Rússia e China, mas com a proliferação: se estados sem lei, no sentido de não confiáveis, como Irã e Coreia do Norte, obtiverem armas atômicas, ainda que rudimentares, muito mais provável se torna a hipótese de que elas caiam em poder de redes terroristas, como a al-Qaeda. Estaria criado o pesadelo do terror nuclear.

Daí a busca de consenso para a imposição de sanções destinadas a interromper o desenvolvimento do programa nuclear iraniano, uma vez que Teerã rejeita submetê-lo à Agência Internacional de Energia Atômica (em relação à Coreia do Norte, há um trabalho permanente que envolve os EUA, China, Grã-Bretanha, França e Alemanha).

Nesse contexto, quanto mais cresce a compreensão de que é preciso evitar que o Irã - governado por uma ditadura militar e teocrática com objetivos expansionistas - desenvolva armas nucleares, mais delicada se torna a posição do Brasil. O governo Lula adota uma política externa de protagonismo terceiro-mundista que, para seus artífices, o "Itamaraty do B", é a melhor forma de defender os interesses do país. Ela se pauta, estranhamente, pelo apoio a ditaduras - como as de Cuba, Venezuela e Irã - colocando o Brasil em rota de colisão com os EUA e o mundo. O argumento do presidente Lula é que "o Brasil conversa com todos". O do chanceler Celso Amorim é que não se deve pressionar o Irã porque isso poderá levar a maior radicalização de sua liderança. Imagine-se este argumento aplicado a Hitler.

Os EUA aceleram as gestões para que o Conselho de Segurança da ONU aprove o quanto antes novas sanções ao Irã. A China, o maior aliado iraniano, aceita conversar sobre a hipótese, embora não se possa dizer que vá concordar com ela. Sobra o Brasil, que, claro, também aceita conversar, mas insiste em dar o benefício da dúvida ao Irã. Se não houver uma evolução da posição brasileira, o presidente Lula chegará a Teerã em maio, retribuindo visita de Ahmadinejad a Brasília, em novembro, num um dilema infernal: se o Brasil votar na ONU a favor das sanções, desembarcará como persona non grata. Se recorrer à abstenção, desagradará tanto a Ahmadinejad quanto ao Primeiro Mundo. E se, num ato delirante, votar contra as sanções, a diplomacia brasileira terá ficado refém de Teerã.

2079) Elogio da Burguesia - Paulo R. Almeida

Meu mais recente trabalho publicado (sim, um elogio à burguesia, da qual, por sinal, eu não me considero membro):

959. “Elogio da burguesia (com uma deixa para a aristocracia também)
Via Política (10.04.2010); Relação de Originais n. 2127.
Link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=131.

2078) Premio Nacional de Desenvolvimento Regional

Premio Nacional de Desenvolvimento Regional
Homenagem a Celso Furtado
http://www.mi.gov.br/desenvolvimentoregional/premio/index.asp

Apresentação
O Ministério da Integração Nacional (MI), com base nos objetivos e estratégias da Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), lança o Prêmio Nacional de Desenvolvimento Regional. Em sua primeira edição, o Prêmio homenageia o economista Celso Furtado, pela sua contribuição ao estudo dos problemas de desenvolvimento econômico e regional no Brasil e em comemoração dos 50 anos do lançamento do clássico “Formação Econômica do Brasil”.

Objetivo Geral
Promover a reflexão sobre os aspectos teóricos e práticos do desenvolvimento regional no Brasil, envolvendo o poder público e a sociedade civil organizada na discussão e na identificação de medidas concretas para a redução das desigualdades de nível de vida entre as regiões brasileiras e a promoção da eqüidade no acesso a oportunidades de desenvolvimento.

Objetivos Específicos
Estimular o debate e a produção acadêmica sobre o desenvolvimento regional no Brasil, de modo a contribuir para a compreensão do tema e a busca de novas alternativas de intervenção no território em múltiplas escalas;

Identificar e dar visibilidade a boas práticas regionais em execução no País, no que se refere aos sistemas de gestão do desenvolvimento regional e aos bens e serviços produzidos no contexto das novas formas de organização da produção com impactos em nível macrorregional e sub-regional;

Identificar projetos inovadores a serem implementados no território, que sejam voltados para a dinamização econômica e inclusão produtiva e que tenham grande potencial de transformação da realidade socioeconômica em escala macrorregional e sub-regional; e

Ampliar a base de discussão e implementação da Política Nacional de Desenvolvimento Regional.

Categorias
Produção do Conhecimento Acadêmico
Concorrerão teses e dissertações acadêmicas, em nível de Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado, na área de desenvolvimento regional, como forma de contribuir para a compreensão da questão regional brasileira e a identificação de medidas de intervenção adequadas ao estágio atual das disparidades regionais no Brasil.

Práticas Exitosas de Produção e Gestão Institucional
Concorrerão relatos de experiências em andamento, com resultados positivos concretos, implementadas por instituições públicas, privadas ou da sociedade civil, capazes de gerar mudanças estruturais e transformações do território onde está instalado e de seu entorno.

Projetos Inovadores para Implantação no Território
Concorrerão propostas inovadoras de atuação no território, de natureza social, econômica, cultural ou ambiental, com comprovado potencial de transformação da realidade socioeconômica em escala sub-regional ou macrorregional por meio da dinamização econômica e inclusão produtiva.

Premiação
Em cada categoria, serão premiadas as propostas selecionadas em:
1º lugar: Diploma de Reconhecimento de Mérito e a quantia de R$ 46.500,00 (quarenta e seis mil e quinhentos reais)
2º lugar: Diploma de Reconhecimento de Mérito e a quantia de R$ 23.250,00 (vinte e três mil duzentos e cinquenta reais)

Veja também:
• Regulamento
• Anexo I - Instruções para Inscrição
• Inscrições
• Celso Furtado
• Informações
• Notícias

2077) Origem das crises financeiras: excesso de credito e moeda

Para os que acreditam, a despeito de tantas evidências em contrário, que são os "mercados livres" que produzem as crises, vale a leitura deste post de Fred Foldavary, em seu blog The Foldvarium.
Ele simplesmente demantela essa ideia, com base em trabalhos empiricamente fundamentados em dados relativos à expansão do crédito e da moeda nas fases imediatamente anteriores, jogando a responsabilidade, portanto, nas costas de governos irresponsáveis que permitiram o acúmulo de desequilíbrios e o excesso de investimentos "especulativos".
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 13.04.2010)

Credit Booms Gone Wrong
Fred Foldvary
Sunday, April 04, 2010

Recent research by economists Moritz Schularick and Alan M. Taylor have confirmed the theory that economic booms are fueled by an excessive growth of credit. They have written a paper titled “Credit Booms Gone Bust: Monetary Policy, Leverage Cycles and Financial Crises, 1870–2008" (http://www.nber.org/papers/w15512), published by the National Bureau of Economic Research.
A major cause of the Great Depression was a credit boom, as analyzed by Barry Eichengreen and Kris Mitchener in their paper, “The Great Depression as a credit boom gone wrong” (BIS Working Paper No. 137, http://www.bis.org/publ/work137.pdf). Eichengreen and Mitchener cite Henry George’s Progress and Poverty as providing an early theory of booms and busts based on land speculation. They also credit the Austrian school of economic thought, which in the works of Friedrich Hayek and Ludwig von Mises, had developed a theory of the business cycle in which credit booms play a central role. Henry George’s theory of the business cycle is complementary to the Austrian theory, as George identified the rise in land values as the key role in causing depressions.
An expansion of money and credit reduces interest rates and induces a greater production and purchase of long-duration capital goods and land. The most important investment and speculation affected is real estate. Much of investment consists of buildings and the durable goods that go into buildings as well as the infrastructure that services real estate. Much of the gains from an economic expansion go to higher land rent and land value, so speculators jump in to profit from leveraged speculation. This creates an unsustainable rise in land value that makes real estate too expensive for actual uses, so as interest rates and real estate costs rise, investment slows down and then declines. The subsequent fall in land values and investment reduces total output, generates unemployment, and then crashes the financial system.
We can ask whether this theory is consistent with historical evidence. One strand of evidence is the history of the real estate cycle, which has been investigated by the works of Homer Hoyt, Fred Harrison, and my own writings. Another strand is the history of credit booms, as shown by Schularick and Taylor, who assembled a large data set on money and credit for 12 developed economies 1870 to 2008. They show how credit expansions have been related to money expansions, and how financial innovations have greatly increased credit. Because economic booms are fueled by credit expansion, Schularick and Taylor note that credit booms can be used to forecast the coming downturn.
Followers of Henry George have focused on the real estate aspect of the boom and bust, while the Austrian school has focused on credit, interest rates, and capital goods. A complete explanation requires a synthesis of the theories of both schools, but these recent works on credit booms have not recognized the geo-Austrian synthesis. In order to eliminate the boom-bust cycle, both the real side (real estate) and the financial side (money and credit) need to be confronted.
Current Austrian-school economists such as Larry White and George Selgin have investigated the theory and history of free banking, the truly free-market policy of abolishing the central bank as well as restrictions on banking such as limiting branches and controlling interest rates. In pure free banking, there would be a base of real money such as gold or a fixed amount of government currency. Banks would issue their own private notes convertible into base money at a fixed rate. The convertibility and the competitive banking structure would provide a flexible supply of money along with price stability. The banks would associate to provide one another with loans when a bank faces a temporary need for more base money, or a lender of last resort.
Both the members of the Austrian school and the economists who have studied credit booms have not understood the need to prevent the land-value bubble by taxing most of the value of land. That would stop land speculation and eliminate the demand for credit by land buyers.
But the credit-bubble theorists have not understood that financial regulation and rules for central banks cannot solve the financial side of credit bubbles. Credit booms always go wrong. As the Austrians have pointed out, there is no scientific way to know the correct amount of money or the optimal rates of interest. Only the market can discover the rate of interest that balances savings and borrowing, and only the market can balance money supply with money demand.
Thus the remedy for the boom-bust cycle is both land value taxation and free banking. Land speculation would not be as bad without a credit boom, but will still take place as land values capture economic gains and land speculators suck credit away from productive uses. But also, a credit boom with land-value taxation will still result in excessive construction and the waste of resources in fixed capital goods, reducing the circulating capital need to generate output and employment, as Mason Gaffney has written about. Economic bliss requires both the public collection of rent and a free market in money.

2076) Cupula de Washington sobre material nuclear

De certa forma se trata da materialização, por Obama, de antiga proposta feita por George Bush, tão desprezado, sobre controle total de todo o material nuclear (combustível, equipamentos, etc), que tinha sido formulada em 2004 de maneira unilateral.
O que Obama propõe é basicamente o mesmo, apenas com esse envelope de conferência plurilateral para melhor implementar seus objetivos.

La cumbre de Washington pretende eliminar los riesgos de ataque nuclear
Líderes de 47 países se reúnen hoy para poner bajo control el material atómico

ANTONIO CAÑO - Washington -
El Pais, 12/04/2010

La ciudad de Washington acoge hoy la mayor cumbre de su historia y Barack Obama emprende uno de los objetivos más ambiciosos de su presidencia: eliminar el riesgo de un ataque nuclear. Líderes o altos representantes de 47 países se reúnen durante dos días para detener el tráfico de material atómico y poner bajo control todo el uranio enriquecido y plutonio que existe en el mundo.

Los expertos afirman que sólo se requieren 25 kilos de uranio enriquecido para fabricar un artefacto nuclear. Hay actualmente alrededor de 1.600.000 kilos de ese producto diseminados en más de 40 países. Algunos cálculos más alarmantes apuntan a que, considerando el uranio del que no se tiene oficialmente noticia, se dispone de suficiente material nuclear sobre el planeta como para fabricar más de 100.000 bombas atómicas.
Gran parte de ese material está guardado en instalaciones militares en algunas de las cinco mayores potencias nucleares -Rusia, Estados Unidos, Francia, China y el Reino Unido, por este orden, según el número de cabezas nucleares con el que cuentan-. Pero otra parte está repartida en países inmersos en conflictos regionales -Israel, Pakistán e India- o en otros que enriquecen uranio únicamente para su uso como energía. Incluso en los países en los que no existe ninguna sospecha sobre el uso de ese material por parte de sus gobiernos, siempre queda el riesgo de un robo en sus instalaciones civiles, a veces no suficientemente protegidas.
"El peligro de una guerra nuclear ha decrecido, pero el peligro de un ataque nuclear ha aumentado considerablemente", dijo Obama hace un año en Praga, punto de salida de su odisea por un mundo sin armas nucleares.
Esa meta está lejana aún, pero mientras tanto hay que dar los pasos para al menos atenuar el riesgo al que se enfrenta la humanidad. La firma reciente de un nuevo tratado entre Rusia y EE UU para destruir una tercera parte de sus arsenales nucleares es uno de esos pasos. La conferencia que hoy se inaugura aquí, oficialmente denominada Cumbre sobre Seguridad Nuclear, es otro no menos importante.
Los participantes se comprometerán con un plan de trabajo para poner en condiciones seguras y bajo control internacional todo el material nuclear existente en un plazo de cuatro años. Algunos países harán concesiones unilaterales para reducir el volumen total de ese material. Chile anunciará que sus últimos 28 kilos de uranio enriquecido han sido ya trasladados a depósitos seguros en EE UU. Canadá y Ucrania se comprometerán a cambiar sus plantas con reactores de uranio altamente enriquecido (el que se requiere para las bombas atómicas) a otras de uranio de bajo enriquecimiento. Rusia y EE UU, probablemente, detallarán planes sobre qué hacer con el plutonio sobrante de las armas eliminadas.
Todo eso no garantiza que dentro de cuatro años el peligro de un ataque nuclear por parte de un grupo terrorista o un gobierno haya desaparecido. En primer lugar, están ausentes de la cumbre algunos de los países de los que se sospecha que están desarrollando programas nucleares, como Irán, Corea del Norte y Siria. El primer ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, canceló su participación en esta conferencia, dejando en el aire la duda sobre si se siente personalmente involucrado en sus objetivos.
Uno de los ausentes, Corea del Norte, ya ha hecho ensayos de misiles que han provocado una gran inquietud entre sus vecinos asiáticos. El resto de los países que no participan están implicados en la explosiva crisis de Oriente Próximo, donde parece evidente el desarrollo de una carrera nuclear.
La amenaza no se reduce a los Estados. Organizaciones terroristas como Al Qaeda han dejado clara su intención de utilizar todos los medios a su alcance para destruir a sus enemigos. A su alcance podría estar parte del material nuclear que existe en el mundo. Las antiguas repúblicas soviéticas, por ejemplo, conservaron tras su independencia las reservas nucleares instaladas en su territorio. Un acuerdo con EE UU en 1991 consiguió eliminar o poner bajo control gran parte de ese material. Pero aún queda una porción, quizá más de 10%, en condiciones que los expertos consideran incontroladas.
También en los países occidentales es necesario reforzar las medidas de seguridad, muy abandonadas en los últimos años. El Reino Unido ha pedido al Organismo Internacional de Energía Atómica una inspección de sus instalaciones por si fuera necesaria alguna mejora. Obama ha solicitado al Congreso 3.100 millones de dólares para ayudar a los países que necesiten recursos para mejorar su seguridad nuclear.
"La parte más difícil de construir una bomba atómica es obtener el material necesario", ha advertido el secretario norteamericano de Energía, el premio Nobel de física Steven Chu, "por eso es esencial mantenerlo bajo estricta custodia".
Seguridad nuclear
- La Cumbre sobre Seguridad Nuclear reúne a representantes de 47 países. Entre ellos no figuran Irán, Corea del Norte y Siria.
- Los expertos calculan que hay 1.600.000 kilos de uranio enriquecido diseminados en instalaciones de más de 40 países, en muchos casos desprovistas de los sistemas de seguridad deseables.
- Barack Obama ha pedido 3.100 millones de dólares al Congreso de EE UU para mejorar la seguridad en países con escasos recursos.

2075) Posicao do presidente Lula sobre armas nucleares

Supõe-se que esta seja também a posição da diplomacia brasileira, o que seria uma decorrência lógica da manifestação pública do chefe de Estado, mas não existe uma manifestação clara a este respeito:

Lula: "No podemos admitir países armados hasta los dientes y otros desarmados"
El presidente de Brasil lleva un mensaje de firmeza a la cumbre de seguridad nuclear

Juan Luis Cebrián, en Brasilia
EL PAÍS - Madrid - 11/04/2010

"Voy a preguntarle al presidente Obama cuál es el significado de su reciente acuerdo con Medvédev sobre la desactivación de ojivas nucleares [entre EE UU y Rusia]. ¿Desactivación de qué? Porque si estamos hablando de desactivar lo que ya estaba caducado no tiene sentido. Yo tengo también en mi casa un cajón de medicinas del que voy sacando las que caducan. O hablamos en serio de desarme o no podemos admitir que haya un grupo de países armados hasta los dientes y otros desarmados".

Así se explicó el presidente de Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, en una conversación con Juan Luis Cebrián, periodista y consejero delegado de EL PAÍS, que tuvo lugar el viernes pasado en el despacho oficial del mandatario brasileño. Lula, que asistirá a partir de mañana en Washington a la cumbre internacional sobre seguridad nuclear, recibió a Cebrián en el marco de la preparación de unas jornadas sobre Brasil que EL PAÍS y el diario Valor organizarán el mes que viene en Madrid.

"Pakistán", dijo el jefe del Estado brasileño, "tiene la bomba atómica, Israel también. Es comprensible que quien se siente presionado por esa situación pueda pensar en crear la suya. No tenemos derecho a poner a nadie contra la pared, a practicar la táctica del todo o nada".
"He explicado a Obama, a Sarkozy, a Merkel, que hay que hablar con Irán", agregó Lula. "Es un gran país, con una cultura propia, que creó una civilización. Es preciso que los iraníes sepan que pueden enriquecer uranio para fines pacíficos y que los demás tengamos la tranquilidad de que es sólo para dichos usos pacíficos. No se puede partir del prejuicio de que Ahmadineyad es un terrorista al que es preciso aislar. Tenemos que negociar. Quiero conversar con él de estos temas hasta el último minuto. Y el único límite a la posición de Brasil es el respeto a las resoluciones de Naciones Unidas, que mi país cumplirá
".

2074) Diplomacia soberana na berlinda: o caso das sancoes contra o Iran

Adesão da China a sanções contra Irã pode isolar Brasil
Medidas contra Teerã devem ocupar discusões em cúpula sobre segurança nuclear nesta 2ª-feira em Washington.

BBC Brasil, 12 de abril de 2010

A posição brasileira de rejeitar novas sanções contra o Irã poderá ser posta em xeque caso a China decida apoiar as medidas, dizem analistas ouvidos pela BBC Brasil.

"Se a China concordar com novas sanções, isso vai mostrar que as grandes potências mundiais estão preocupadas com a questão nuclear do Irã", diz Mauricio Cárdenas, diretor da Iniciativa para a América Latina do Instituto Brookings, de Washington.

"E ignorar esse fato não é a direção correta a ser tomada por um país que deseja ser uma potência global", afirma.

A questão nuclear iraniana deverá estar no centro dos debates a partir desta segunda-feira, quando representantes de 47 países, entre eles o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, participarão da Cúpula sobre Segurança Nuclear organizada pelo governo americano em Washington.

Até o momento, Brasil e China têm adotado discursos semelhantes sobre o assunto, com manifestações contrárias à imposição de uma quarta rodada de sanções da ONU contra o Irã e com a defesa do diálogo como melhor caminho.

Nas últimas semanas, porém, Pequim vem dando sinais de que poderia mudar sua posição.

O governo chinês já aceitou "discutir" a questão das sanções e, na última quinta-feira, enviou um representante a uma reunião entre os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha para debater o tema.

"O Brasil talvez tenha de acabar apoiando as sanções se a China assim o fizer", diz Alireza Nader, especialista em Irã da Rand Corporation.

Conselho de Segurança

A China é um membro permanente do Conselho de Segurança, ao lado de Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia, e por isso tem poder de veto sobre as resoluções do órgão.

O Brasil também integra o conselho, mas com uma vaga rotativa, sem poder de vetar as resoluções. O governo brasileiro, porém, deseja obter no futuro uma vaga permanente.

A Rússia, outro membro permanente que também era contrário a novas sanções contra o Irã, recentemente manifestou seu apoio às medidas.

Os Estados Unidos e outros aliados pressionam por uma quarta rodada de sanções por causa da recusa do governo iraniano em interromper seu programa de enriquecimento de urânio.

Esses países temem que o Irã esteja trabalhando secretamente para fabricar armas nucleares. O governo iraniano nega essas alegações e diz que seu programa é pacífico.

As três rodadas de sanções anteriores já aprovadas pelo Conselho de Segurança se mostraram até agora pouco eficazes em pressionar Teerã a interromper seu programa nuclear.

As novas sanções em discussão, segundo especialistas, seriam direcionadas a empresas ligadas à Guarda Revolucionária do Irã, que controlam negócios domésticos e no Exterior.

Depois que os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança chegarem a um acordo sobre uma nova rodada de sanções, a proposta de resolução é levada a votação, com a participação dos outros dez membros com vagas rotativas.

Além do Brasil, Turquia e Líbano também têm se manifestado contrários a novas sanções e favoráveis a insistir no diálogo com Teerã.

Imagem

"Em geral, a posição do Brasil não seria crucial. Mas o Brasil é o único país com uma boa reputação global, considerado um 'bom cidadão global', que parece apoiar o Irã neste momento", diz o presidente emérito do instituto de análise política Inter-American Dialogue, Peter Hakim.

O analista afirma que não se deve esperar que o Brasil mude de posição de uma hora para outra, caso a China resolva apoiar as sanções.

"Mas vai ter que mudar em algum momento. Ou não vai ser levado a sério", diz Hakim.

O Brasil recebeu o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, em novembro passado. No próximo mês, o presidente Lula deverá retribuir a visita.

Segundo Hakim, ao contrário da China, o Brasil, além de se manifestar contra as sanções e a favor do diálogo com o governo iraniano, também demonstra não acreditar que o Irã busque desenvolver armas nucleares, e está disposto a dar ao governo iraniano o benefício da dúvida.

"Agindo assim, o Brasil dá a impressão de estar desconectado dos fatos. Sugere que considera o Irã um cidadão internacional perfeitamente responsável. Dá a impressão de não estar totalmente informado sobre o papel do Irã no Oriente Médio", diz Hakim.

Mauricio Cárdenas afirma que a imagem do Brasil poderia ser arranhada caso o país insista em apoiar o Irã.

"Em uma questão que diz respeito a toda a comunidade internacional, discordar não é sinal de independência. É sinal de que o Brasil não entendeu os riscos", diz o analista do Brookings.

Cúpula

A programação oficial da Cúpula de Segurança Nuclear prevê plenárias e discussões sobre a cooperação internacional para evitar o terrorismo nuclear.

Segundo a Casa Branca, os países vão discutir medidas conjuntas e individuais e buscar um plano de ação sobre o tema.

A questão iraniana não aparece na agenda oficial, mas deverá movimentar os encontros bilaterais previstos para os dois dias do encontro.

O presidente americano, Barack Obama, vem mantendo uma série de discussões bilaterais desde domingo. Nesta segunda-feira, uma de suas reuniões será com o presidente da China, Hu Jintao.

A cúpula ocorre no momento em que a questão nuclear ocupa espaço de destaque na agenda política de Obama.

Na semana passada o presidente americano apresentou uma nova estratégia de defesa que restringe o uso de suas armas nucleares, embora o entendimento da estratégia possa abrir uma exceção para o Irã e a Coreia do Norte. Também assinou com a Rússia um acordo bilateral de redução dos arsenais nucleares dos dois países, o principal tratado do tipo em 20 anos.

O presidente Lula não tem encontros bilaterais previstos com Obama. Entre as reuniões privadas já confirmadas, estão encontros com os líderes da Itália, Turquia, Japão, Canadá e França.

O programa nuclear brasileiro também estará em pauta em maio, quando ocorre em Nova York a conferência de revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear. BBC Brasil

2073) Confusoes monetarias nos Brics

Raramente assisti, em temas internacionais, a uma exposição pública de dúvidas, indefinições, hesitações, confusão mental quanto ao que se pretende fazer. Em diplomacia é certamente bizarro esse tipo de confissão pública sobre incertezas de propósitos.
O tema da moeda única, ou da moeda alternativa ao dólar, que deveria se prestar a sustentar as relações comerciais (e outras) entre os Bric, tem demonstrado que isso é possível. Raramente ocorre na exposição pública de determinadas decisões entre países normais tal demonstração de indefinição de vaguidão nas políticas, mas por vezes acontece essa "coisa" de não se saber bem o que se pretende, mas isso apenas entre países que não sabem bem onde se situam no mundo, a que galáxia pertencem, enfim, pessoas e instituições perdidas no espaço, pode acontecer assim...

Lula vai propor aos países do BRIC adoção de moeda única
Karina Nappi
Diário do Comércio e Indústria, 09/04/10

SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os representantes dos países que integram o BRIC - Brasil, Rússia, Índia e China - se reúnem em Brasília na próxima semana para discutir questões comuns aos países. Um dos temas que serão abordados na 2ª Cúpula do BRIC é a adoção de uma moeda alternativa a ser adotada pelo grupo nos acordos comerciais. A pedido dos chineses, está na mesa a proposta de escolher uma moeda que não seja o dólar.
Por enquanto, os debates estão em nível técnico. Nas relações multilaterais, a ideia é ampliar as parcerias e buscar mecanismos para fortalecer o grupo no cenário internacional.
"É uma obrigação de todos os países buscar um mecanismo com mais sustentabilidade. Mas não se trata de fazer nada [de modo] açodado. Ninguém pretende fazer algo que dê marolas ou ondas excessivas", afirmou o subsecretário-geral Político do Itamaraty, Roberto Jaguaribe, que coordena a cúpula.
Segundo o embaixador, os técnicos dos bancos centrais dos países integrantes do BRIC vão se reunir para discutir o tema. De acordo com ele, o objetivo é que o grupo seja reconhecido como um fórum de coordenação e negociação, não uma entidade normativa. "O BRIC não pretende ser um grupo como o G-7 ou G-8, mas um fórum de conversas. É um esforço de coordenação, não um grupo normativo", disse ele.
Jaguaribe afirmou que há cálculos que indicam que de 2000 a 2008 as nações do BRIC foram responsáveis pelo maior crescimento econômico no mundo. "[O grupo] passou a ser um instrumento de análise e virou uma categoria de compreensão dos entendimentos do comércio", disse.
Apesar de diferenças pontuais entre seus integrantes, o BRIC considera que há muitas questões convergentes. O Brasil e a Rússia são grandes produtores de matérias-primas, os brasileiros, de alimentos e os russos, de petróleo. A Índia concentra o setor de serviços, enquanto a China acelera o crescimento industrial tornando um dos principais parceiros de vários países. Com economias em desenvolvimento, todas as nações se sentem unidas pelas dificuldades no cenário internacional.

2072) Mercados nunca falham - paper de Fred Foldvary

Quase 100 por cento dos economistas e a maior parte dos manuais de economia falam das "falhas de mercado" como se fosse uma verdade absoluta, ou seja, que os mercados são imperfeitos e que eles muito frequentemente falham, sendo portanto preciso a "mão salvadora" do Estado para recolocar os mercados no seu lugarzinho "correto".
Nada mais errada do que essa concepção, e eu mesmo já escrevi exatamente a mesma frase em alguns dos meus textos elaborados no auge da crise financeira americana de 2008 que se transformou na crise econômica internacional de 2009. Mercados podem até tardar um pouco -- já que dependem da ação de indivíduos ou de grupos de agentes econômicos que continuam a imprimir certa numa força numa determinada direção -- mas inevitavelmente farão o que eles sempre fazem: corrigir os desequilíbrios acumulados numa ponta pelo restabelecimento das relações "corretas" entre os diferentes elementos em jogo.
O que é falho, certamente, e a qualidade e o volume das informações disponíveis aos agentes intervindo nos mercados, mas esse é um problema técnico que não envolve nenhuma falha do mercado em si, pois a informação disponível sempre está lá, apenas que não é percebida pelos agentes, ou por serem distraídos, ou por serem apressados, ou por não se darem ao trabalho de coletar essa informação, ou porque simplesmente eles não querem ver.
O trabalho abaixo de um economista americano confirma a minha percepção de não economista (mas de estudioso da economia), de uma forma elegante e sistemática.

Markets Never Fail
Fred E. Foldvary
Dept. of Economics, Santa Clara University
ffoldvary@scu.edu
Available here

Session 6.4: The State Versus the Market, I
APEE Conference, Las Vegas, April 4, 2006
"Private Solutions to Market Failures: Is Government Always the Answer?"

Abstract:
Mainstream allegations of market failure are based on misunderstandings of markets, governance, and ethics. This paper dissects the categories of alleged market failure: externalities, public goods, market structures, asymmetries, irrational behavior, injustice, and lack of sustainability. The analysis reveals that none of these phenomena contain any inherent market failures.
....

Almost all economists believe in the doctrine of market failure. Every widely-used textbook of economics presents the doctrine that markets fail. The mainstream view in economics is that an economy with "perfect competition" would be efficient, but the real world has no perfect competition, and market outcomes are inequitable, so market failure is ubiquitous. Markets always fail, and the only issue to be discussed is the degree of failure. That degree, it is said, is especially severe in the case of public goods, externalities, informational asymmetries, and economic justice.

Ler a íntegra do texto aqui, ou no site original do autor, aqui.

domingo, 11 de abril de 2010

2071) A frase da semana: Jose Serra

A frase da semana, quem sabe do mês, talvez do ano:

QUANTO MAIS OS ADVERSÁRIOS FALAREM MENTIRAS SOBRE NÓS, MAIS VERDADES FALAREMOS SOBRE ELES.

JOSÉ SERRA
(10.04.2010)

2070) Kissinger: amigo das ditaduras...

...das que eram amigas dos EUA, obviamente.
Henri Kissinger era obviamente um democrata, no sentido constitucional da palavra. Mas, em política externa, se tratava de um realista cínico.
Era "amigo" (no sentido figurado) de todos os regimes que fossem amigos ou aliados dos EUA, no contexto da Guerra Fria. Como patriota americano, sua missão principal era a de cuidar dos interesses nacionais americanos, e portanto de um ambiente internacional que fosse o mais possível favorável a esses interesses, independentemente do tipo de regime político e do tipo de ocupante político estivesse no cargo (ditadores poderiam ser deixados em paz se eles favorecessem os interesses americanos).
Abaixo, controvérsias que refazem superfície...
Paulo Roberto de Almeida (11.04.2010)

Cable Ties Kissinger to Chile Controversy
By THE ASSOCIATED PRESS
The New York Times, April 10, 2010

WASHINGTON (AP) -- As secretary of state, Henry Kissinger canceled a U.S. warning against carrying out international political assassinations that was to have gone to Chile and two neighboring nations just days before a former ambassador was killed by Chilean agents on Washington's Embassy Row in 1976, a newly released State Department cable shows.

Whether Kissinger played a role in blocking the delivery of the warning against assassination to the governments of Chile, Argentina and Uruguay has long been a topic of controversy.

Discovered in recent weeks by the National Security Archive, a non-profit research organization, the Sept. 16, 1976 cable is among tens of thousands of declassified State Department documents recently made available to the public.

In 1976, the South American nations of Chile, Argentina and Uruguay were engaged in a program of repression code-named Operation Condor that targeted those governments' political opponents throughout Latin America, Europe and even the United States.

Based on information from the CIA, the U.S. State Department became concerned that Condor included plans for political assassination around the world. The State Department drafted a plan to deliver a stern message to the three governments not to engage in such murders.

In the Sept. 16, 1976 cable, the topic of one paragraph is listed as ''Operation Condor,'' preceded by the words ''(KISSINGER, HENRY A.) SUBJECT: ACTIONS TAKEN.'' The cable states that ''secretary declined to approve message to Montevideo'' Uruguay ''and has instructed that no further action be taken on this matter.''

''The Sept. 16 cable is the missing piece of the historical puzzle on Kissinger's role in the action, and inaction, of the U.S. government after learning of Condor assassination plots,'' Peter Kornbluh, the National Security Archive's senior analyst on Chile, said Saturday. Kornbluh is the author of ''The Pinochet File: A Declassified Dossier on Atrocity and Accountability.''

Jessica LePorin, a spokeswoman for Kissinger, says that the former secretary of state dealt many years ago with questions concerning the cancellation of the warnings to the South American governments and had no further comment on the matter.

Kissinger has dealt with the issue indirectly. Writing in defense of Kissinger in 2004 when the issue arose, William D. Rogers, Kissinger's former assistant secretary of state, said Kissinger ''had nothing to do with'' a Sept. 20, 1976 cable instructing that the warnings to Chile, Argentina and Uruguay be canceled. Rogers died in 2007.

''You can instruct'' the U.S. ambassadors ''to take no further action'' on the subject of Operation Condor, said the Sept. 20 cable by Harry Shlaudeman, assistant secretary of state for Inter-American affairs, to Shlaudeman's deputy.

The next day, on Sept. 21, 1976, agents of Chilean Gen. Augusto Pinochet planted a car bomb and exploded it on a Washington, D.C., street, killing both former Ambassador Orlando Letelier, and an American colleague, Ronni Karpen Moffitt. Letelier was one of the most outspoken critics of the Pinochet government.

Nearly a month before the blast, the State Department seemed intent on delivering a strong message to the governments engaged in Operation Condor.

An Aug. 23, 1976 State Department cable instructs the U.S. embassies in the capitals of Chile, Argentina and Uruguay to ''seek appointment as soon as possible with highest appropriate official, preferably the chief of state.''

The message that was to be conveyed: the U.S. government knows that Operation Condor may ''include plans for the assassination of subversives, politicians and prominent figures both within the national borders of certain ... countries and abroad.''

''What we are trying to head off is a series of international murders that could do serious damage to the international status and reputation of the countries involved,'' Shlaudeman wrote in a memo to Kissinger dated Aug. 30, 1976. That memo is referenced in the newly disclosed Sept. 16, 1976 cable containing Kissinger's name.

Concerns among the ambassadors may have led to cancellation of the planned warning.

In the Aug. 30, 1976 memo, Shlaudeman discussed a possibility that the U.S. ambassador in Uruguay might be endangered by delivering a warning against assassination. The U.S. ambassador to Chile said that Pinochet might take as an insult any inference that he was connected with assassination plots.

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On the Net:
National Security Archive: www.nsarchive.org

2069) Cuba: uma ditadura que apodrece e sua juventude rebelde

Juventude rebelde

Duda Teixeira, de Havana
Revista Veja, 14 de abril de 2010

(sem as fotos para não sobrecarregar demais este post)

Eles têm a idade que os barbudos tinham quando desceram com 
Fidel Castro a Sierra Maestra - e a mesma sede de liberdade. São 
os jovens cubanos em luta contra a miséria moral e material da 
ditadura comunista. Suas armas são blogs, festas punk e hip-hop

As ruas de Havana Velha estão sempre cheias de turistas que, depois de tomar seu mojito na Bodeguita del Medio, vão aos ambulantes comprar camisetas de Che Guevara, charutos desviados das tabacarias estatais e comprimidos clandestinos de PPG, droga derivada da cana-de-açúcar receitada para controlar o colesterol e tida como afrodisíaca. Quem se aventura além dessa vitrine de produtos típicos do socialismo cubano encontra a Cuba real dos cortiços superlotados e caindo aos pedaços. A Cuba das panelas vazias, do medo e da delação. Mas também a Cuba da resistência jovem à ditadura comunista.

Ao cruzar a porta de um desses cortiços, no topo de uma escada íngreme e precária, chega-se à cozinha, onde um jovem tecla em um notebook Compaq cujo peso e tamanho denunciam sua antiguidade tecnológica. Ao lado do computador, colado na mesa, há um adesivo com a bandeira de Cuba, o símbolo da arroba e a expressão "Internet para todos". Na gerontocracia dos irmãos Fidel e Raúl Castro, que governam a ilha há 51 anos, o acesso à web é restrito a certas repartições públicas, hotéis, embaixadas e às casas dos chefões do regime. Fora dos círculos privilegiados da nomenklatura castrista, a internet é, digamos, manual. O velho Compaq está com sua memória cheia de arquivos com reportagens de jornais espanhóis e americanos, músicas de protesto e blogs feitos por cubanos na ilha e no exílio. Essa biblioteca digital, considerada subversiva pela ditadura comunista, é enriquecida semanalmente por pen drives que passam de mão em mão, de porta USB a porta USB, abrindo uma trilha digital de liberdade em meio à selva da opressão comunista.

Dessa maneira, uma única pessoa com acesso esporádico à internet consegue abastecer centenas de amigos com informações sobre o mundo e sobre Cuba. Essa panfletagem pós-moderna conecta milhares de jovens cubanos. A geração que hoje está na faixa dos 20 ou dos 30 anos é a segunda a nascer após a revolução de 1959. Desde pequenos, esses cubanos foram criados para idolatrar Fidel Castro e jamais contestar o sistema socialista. O medo da violência policial, das prisões, da vigilância dos vizinhos colaboracionistas e da perda de emprego, no entanto, já não é o suficiente para calá-los. A juventude cubana está se rebelando.

Prever quando uma ditadura longeva vai se extinguir é impossível. A história mostra, contudo, que a derrocada dos tiranos quase sempre é precedida pelo surgimento de um grupo de pessoas tão saturado da falta de liberdade que já não teme a violência política. Cuba parece estar nesse estágio. Cinco anos atrás, era impensável ter jovens cubanos expondo o rosto e suas opiniões como os que aparecem nesta reportagem. Hoje, eles fazem questão de ser vistos e escutados. Reivindicam liberdade de expressão e o direito de usar a internet, viajar e seguir a profissão de seus sonhos. Raramente fazem parte de um grupo organizado (ainda que clandestino) de oposição, tampouco têm um projeto político. Apesar de não se considerarem dissidentes, são rotulados como tal, o que não é de estranhar em um país onde ou se está com o governo ou contra ele. Diz a blogueira Yoani Sánchez: "Em Cuba, basta respirar para ser dissidente". Que dizer quando se tem a ousadia de escrever frases de protesto nas roupas, de criar blogs para descrever a realidade do país ou de compor músicas denunciando o fracasso da economia planificada. Esses atos aparentemente solitários e quase ingênuos de rebeldia são arriscados. Muitos já foram presos e/ou apanharam da polícia. Desde o mês passado, a penitenciária de Santa Clara mantém o prisioneiro de consciência mais jovem da ilha, Danny Perez Rodriguez, de 18 anos. Seu crime: sair às ruas para gritar "Abaixo Fidel!" em protesto contra o fato de ter perdido o emprego apenas por ser filho de um preso político.

A coragem da juventude rebelde de Cuba deve muito ao exemplo dado pela dissidência pacífica formada nos anos 90, que conseguiu conquistar certa projeção internacional aproveitando-se da abertura ao turismo. A entrada de estrangeiros e de dólares foi a solução paliativa encontrada pelo governo cubano para compensar a perda do financiamento soviético, após a queda do Muro de Berlim, em 1989. O movimento de oposição foi em grande parte abafado em 2003 com a prisão de 75 dissidentes, no que ficou conhecido como a Primavera Negra. O episódio é relembrado todos os domingos pelas mulheres, irmãs e filhas dos presos políticos durante uma passeata pelas ruas de Havana. Vestidas de branco e armadas apenas com uma flor na mão, em referência à primavera, elas são agredidas por agentes do regime e forçadas a voltar para casa. Manifestações de rua são o tipo de protesto mais temido pelos irmãos Castro porque é o mais visível para a população. Por isso, o regime não poupa medidas para intimidar os manifestantes. Em novembro passado, por exemplo, o artista plástico Amaury Pacheco, de 40 anos, organizador de uma passeata em Havana pela não violência, foi preso por policiais e levado para a delegacia. O interrogatório durou três horas, tempo necessário para impedir que Pacheco participasse da passeata. Quando a sessão de tortura psicológica acabou, Pacheco recusou-se a ir embora. "Fiquei para explicar por que sou contra a violência", diz o artista plástico.

(Fotos:)
Na semana passada, aconteceu em Havana o Congresso da União de Jovens Comunistas (UJC), que vive uma crise de quadros
DESMOTIVAÇÃO
Ao completarem 32 anos, os jovens da UJC são convidados a ingressar no Partido Comunista de Cuba. Menos da metade deles tem aceitado o convite
FUGA EM MASSA
Neste ano, 3 600 jovens pediram a desfiliação da UJC em protesto contra o regime, um recorde
IDADE AVANÇADA
O controle da UJC está nas mãos de anciãos como Raúl Castro, de 78 anos, e José Machado Ventura, de 79

A vitalidade da UJC sustentava-se no fato de que fazer parte da organização era o caminho mais curto para conseguir os melhores empregos públicos (em uma economia estatizada como a cubana, praticamente todos) e os mais altos salários. Isso não existe mais. A técnica de contabilidade Claudia Cadelo, de 26 anos, por exemplo, chegou a trabalhar em um salão de beleza do governo onde ganhava o equivalente a 7 dólares por mês – o valor não dá nem para pagar uma hora de acesso à internet em um hotel. Insatisfeita, pediu demissão e foi vender roupas e sorvete nas ruas. Mais tarde, passou a dar aulas particulares de francês. Com isso, multiplicou por cinco sua renda. "Ninguém mais vê vantagem em trabalhar para o governo", diz Claudia, uma das blogueiras mais aguerridas da ilha e, por decisão da repressão castrista, persona non grata em eventos públicos. O esvaziamento dos empregos formais também está registrado na música El Comandante, da banda punk Porno para Ricardo. A letra diz: "Não seja tão estúpido, Coma Andante / Se quer que eu trabalhe / Vai ter de me pagar antes". A banda, que foi proibida de fazer shows em lugares públicos, burla a censura tocando em festas na casa de amigos e em terrenos baldios de Havana.
Os jornais do regime, como o Granma, o Juventud Rebelde e o Trabajadores, os únicos com direito a circular nacionalmente em Cuba, esforçam-se por difamar as vozes dissonantes no país acusando-as de ser financiadas pela CIA, o serviço secreto americano. "A mesma mentira, repetida durante cinco décadas, não se torna uma verdade", diz a blogueira Yoani Sánchez. Ela e outros cubanos críticos ao governo são pobres como quase toda a população e sobrevivem fazendo bicos. Yoani dá aulas de espanhol para estrangeiros e às vezes atua como guia turística informal. Há também os que recebem dinheiro de parentes que vivem no exterior. A dificuldade de conseguir um sustento mínimo é até maior para quem ousa expressar-se livremente ou frequentar shows clandestinos, porque o aparato estatal de repressão faz de tudo para atrapalhar. Os jovens mais ativos, por exemplo, são seguidos na rua por policiais à paisana e hostilizados pelos vizinhos. Seus encontros com estrangeiros são delatados por motoristas de táxi, quase todos ex-agentes do Ministério do Interior. Frequentemente, são detidos por algumas horas e depois liberados. Alguns são encarcerados por tempo indefinido. Nas contas de Elizardo Sánchez, diretor da Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, em Havana, três de cada quatro presos em Cuba têm menos de 35 anos. Cerca de 4 000 deles foram detidos com base no artigo de "periculosidade pré-delitiva", um estranho tópico da legislação cubana que permite ao governo prender qualquer indivíduo com base na suspeita de que ele possa, um dia, cometer um crime.

Entre as diferentes formas de protesto que se tornaram corriqueiras em Cuba, a mais extrema é a greve de fome. Em fevereiro passado, o pedreiro Orlando Zapata Tamayo morreu após ficar 85 dias sem comer na prisão. Ele protestava contra as condições degradantes da cadeia. Em seguida, o psicólogo e jornalista Guillermo Fariñas parou de se alimentar e de se hidratar para pedir a libertação de 26 presos políticos que enfrentam problemas de saúde. Na semana passada, a greve de fome de Fariñas completou 47 dias. Ele só permanecia vivo porque, após perder a consciência, foi internado e forçado a receber alimentação parenteral, injetada diretamente na veia do braço. Raúl Castro, que herdou de seu irmão Fidel o posto de ditador, chamou Fariñas de chantagista e o acusou de ser financiado pelos Estados Unidos. "Se alguma vez meu filho foi mercenário, foi quando lutou como soldado cubano na guerra civil de Angola, pago pela União Soviética", diz Alícia Hernandez, de 72 anos, mãe de Fariñas. Ela convidou a reportagem de VEJA para conferir o que preparava no fogão para o jantar. A comida que mal dava para uma pessoa teria de alimentar três: ela, a filha e a neta. Mais do que as acusações do governo cubano, no entanto, o que mais ofendeu Alícia foi o fato de o presidente Lula ter comparado Fariñas aos prisioneiros comuns brasileiros. "Meu filho não matou e não roubou: tudo o que ele faz é pelos outros", diz Alícia.
O sacrifício de Zapata e Fariñas é visto com admiração pela juventude cubana. Mas, ao contrário desses dissidentes, que um dia acreditaram no regime cubano e acabaram se desiludindo, os jovens de hoje nunca abraçaram de fato a ideologia comunista. Eles fazem parte de uma geração consciente de ser fruto de um experimento histórico fracassado que, criado pelas armas e viabilizado pelos pelotões de fuzilamento, se mantém há meio século. A angústia básica dos jovens cubanos é simplesmente não ter futuro. "A história da revolução e os ditames do partido comunista não têm a menor importância para eles", diz o economista Oscar Espinosa Chepe, de Havana. "Eles olham para a frente e querem uma vida melhor, com mais liberdade." O veterano dissidente recorda que, há cinco anos, apenas ele e meia dúzia de pessoas criticavam o castrismo abertamente. Hoje, são milhares. Uma das medidas do vigor desse fenômeno é a debilidade da organização que se propõe a renovar os quadros do partido comunista, a União de Jovens Comunistas (UJC). Na semana passada, havia mais rapazes e moças se prostituindo no centro histórico, nos hotéis e no Malecón, a avenida costeira de Havana, do que discutindo o futuro do comunismo no congresso da UJC. O evento foi presidido por Raúl Castro e José Ramón Machado Ventura, um jovem combativo de 79 anos. A única função dos participantes com menos de duas décadas de vida é balançar bandeirinhas de Cuba, como demonstrou a presença de Elian González, de 16 anos. Em 1999, aos 6 anos, Elian tornou-se o centro de uma disputa entre Cuba e Estados Unidos depois de ser encontrado em uma jangada no litoral da Flórida. Sua mãe e outros refugiados haviam morrido na tentativa de escapar da ilha-prisão. Por decisão da Justiça americana, o garoto foi devolvido ao pai, que vive em Cuba. Elian passou dez anos isolado da realidade cubana e só é convocado em datas comemorativas da Revolução Cubana, para emprestar seu rosto conhecido à propaganda castrista.

Se ainda há um grande número de jovens ousados fora das cadeias, isso é resultado do uso inteligente que eles fazem da internet. "Se o governo prendesse, hoje, um grupo grande de pessoas, como aconteceu em 2003, a reação interna e externa seria muito maior", diz o dissidente Vladimiro Roca, que foi detido na Primavera Negra e solto depois por razões de saúde. Um exemplo prático desse fenômeno aconteceu em 2008, quando o vocalista da banda Porno para Ricardo, Gorki Águila, foi preso com base na lei de periculosidade pré-delitiva. A pena prevista era de quatro anos de cadeia. A presença de embaixadores, dissidentes, artistas, jornalistas estrangeiros e dezenas de jovens no dia do julgamento inibiu os algozes. Gorki foi liberado. As ditaduras de direita têm data de validade. As de esquerda se presumem eternas. Ambas acabam tendo seu encontro amargo com a história. É esse processo que os jovens cubanos estão apressando com seus blogs, camisetas e seus hinos hip-hop.

(Fotos em cada um dos boxes abaixo)
"Abaixo Fidel"

No dia 29 de outubro de 2008, Lia Villares, de 25 anos, saiu de casa às 9h30 da manhã com a frase "Abaixo Fidel", escrita a caneta azul em seu tênis. Enquanto esperava o ônibus, foi abordada por uma policial, que a levou para a delegacia. Lia foi interrogada por dois homens e depois liberada. No mesmo dia, a história já estava em seu blog na internet. Ela ainda conseguiu que seu tênis da rebeldia não fosse confiscado. Meses depois, Lia saiu com dois amigos pelas ruas de Havana perguntando aos pedestres: "Abaixo quem?". Alguns se recusaram a responder. Os mais jovens, porém, falavam o nome dos irmãos Castro. A "pesquisa" durou duas quadras. Na esquina, três viaturas esperavam os amigos, uma para cada um. O trio dormiu na delegacia. Diz Lia.

"59, o Ano do Erro"

Ex-funcionário de um pequeno escritório de serigrafia, Gorki Águila, de 41 anos, é um ídolo da juventude de Cuba. Vocalista da banda punk Porno para Ricardo, foi preso duas vezes (acima). Na primeira, ficou dois anos na cadeia. "A cela era tão pequena que eu encostava nas duas paredes opostas ao mesmo tempo", diz. Em liberdade condicional, tornou-se ainda mais explícito em suas críticas ao regime. Em O General, ele fala de Raúl Castro: "A m... continua". Gorki é mais efetivo ainda nas frases que estampa em camisetas. Dois exemplos: "59, o Ano do Erro" (os irmãos Castro tomaram o poder em 1959) e "Che Guevara, o Assassino do Povo Cubano" (o médico e motoqueiro argentino Ernesto Guevara foi encarregado pelos Castro das execuções sumárias por fuzilamento que vitimaram centenas de cubanos).

Um rapper incômodo

Aldo Roberto Rodríguez, de 27 anos, é o líder do grupo de rap Los Aldeanos. As letras de suas músicas não usam subterfúgios para falar da realidade cubana. Em Contrarrevolucionário, ele dispara: "Falo do que estou vendo / Para ninguém é segredo / Que o sistema não funciona / Educação gratuita/ Potência médica / Dizem que temos bons doutores / Mas nenhum deles está aqui". Há dois anos, Aldo começou a ser censurado e hoje está proibido de cantar em lugares públicos. De pouco adianta. É praticamente impossível andar pelas ruas de Havana sem ouvir suas músicas no volume máximo rasgando as caixas de som dentro das casas. "Não importa se não faço shows, as pessoas me escutam", diz o rapper. "Vou continuar incomodando."

Escola de blogueiros

A autora do diário virtual Generación Y, Yoani Sánchez, de 34 anos, é a madrinha dos blogueiros cubanos. Em outubro do ano passado, ela deu início à Academia Blogger, na sala de seu apartamento, em Havana. Trinta pessoas frequentaram o curso gratuito de quatro horas por dia, duas vezes por semana. Durante os seis meses que durou o curso, quatro alunos foram presos einterrogados. Ouviram dos policiais que a escolinha de Yoani era um partido político e que deveriam tomar cuidado. Nenhum deles desistiu. "A intimidação não funciona mais como antes. Os cubanos estão perdendo o medo", diz Yoani, que já foi espancada na rua por agentes da repressão.

Amanhã será outro dia

A professora particular de francês Claudia Cadelo não pode entrar em cinemas, salas de exposição e museus. O motivo da proibição é seu blog Octavo Cerco, em que escreve sobre a realidade do país. Em fevereiro deste ano, Claudia e seu marido foram impedidos de assistir a uma mostra de filmes. O barraco armado pelo casal foi registrado com um aparelho de celular e colocado no blog. No vídeo, pode-se ver Claudia gritando para um policial desconcertado: "Eu não vou entrar porque você tirou o meu direito. Mas isso não é um direito seu. Hoje você desfruta a impunidade, mas amanhã não será mais assim". Depois do episódio, Claudia entrou com uma ação na Procuradoria-Geral da República para contestar o ostracismo cultural a que é submetida. O processo foi ignorado.

Condenado a pintar paisagens
O maior sonho do artista plástico Yussuán Remolina, de 26 anos, é fazer telas inspiradas em personagens de quadrinhos. Para sobreviver em Cuba, porém, sua primeira ideia foi pintar quadros com imagens de pontos turísticos e vendê-las em uma feira de antiguidades. Remolina não recebeu a autorização do governo para tal e desistiu. Mais tarde, fez uma exposição com retratos de soldados cubanos. Na inauguração do evento, funcionários do governo disseram que, ao retratar seus colegas dos tempos de serviço militar, Remolina estava cometendo o crime de culto à personalidade. O jeito, então, foi limitar-se a pintar paisagens. "Eu preferiria que Cuba voltasse à realidade de antes da revolução. Tenho certeza de era melhor do que hoje", diz Remolina.

O médico dos direitos humanos
Em 1997, o então estudante de medicina Ismely Iglesias Martinez foi chamado para medir os sinais vitais do dissidente político Guillermo Fariñas, em sua primeira greve de fome. Iglesias foi orientado a não conversar com o paciente. Revoltado, pediu baixa da União de Jovens Comunistas. Após a formatura, em 2000, foi enviado a hospitais distantes como punição. Depois de organizar protestos com os pacientes para pedir melhores condições de higiene, Iglesias perdeu o emprego. Foi ele quem, no mês passado, levou Fariñas ao hospital quando o dissidente perdeu a consciência durante sua atual greve de fome (acima). A esposa de Iglesias, engenheira, teme perder o emprego. "Eu disse a ela que, se isso ocorrer, vou pescar para sobreviver", diz o médico.

(Foto:)
PRATELEIRAS VAZIAS
Mercado em Cuba: leite, só para crianças ou para os turistas

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Addendum: apenas para lembrar, neste mesmo momento:

GUILLERMO FARIÑAS DIJO QUE "ACEPTA EL RETO" DE CASTRO

LA HABANA - El disidente cubano Guillermo Fariñas asumió como un "reto" la advertencia del presidente Raúl Castro de que no cederá al "chantaje" de las huelgas de hambre, y dijo este lunes que "ahora más que nunca" continuará "hasta morir" su ayuno iniciado hace 40 días. "Ahora más que nunca es que hay que continuar la huelga de hambre, porque lo que lanzó Raúl fue un reto (...) y le aceptamos el reto y vamos a morir con toda la dignidad", declaró telefónicamente a la AFP Fariñas desde el hospital provincial de Santa Clara, 280 km al este de La Habana, donde fue hospitalizado el 11 de marzo.
"No me tomó por sorpresa esta actitud intransigente de Raúl", porque "siempre hemos dicho que el gobierno cubano ha demostrado históricamente que actúa de manera irracional", añadió el sicólogo de 48 años, periodista de una agencia de noticias independiente en internet.
Al clausurar el domingo un congreso de la Unión de Jóvenes Comunistas de Cuba (UJC), Raúl Castro dijo que "pase lo que pase" no cederá al "chantaje" en el caso de Fariñas, a quien volvió a responsabilizar del desenlace que pueda tener la protesta.
Las criticas
"Llama chantaje a una petición de un ciudadano y no analiza que llevan 50 años y más chantajeando al pueblo de Cuba con el terror impuesto por el comunismo", opinó Fariñas, quien inició su huelga de hambre el 24 de marzo para exigir la libertad de 26 presos políticos enfermos.
El opositor dijo sentirse "bastante bien" y subrayó que luego de que Raúl Castro "anunciara que nos van a dejar morir", "todo está dicho" por lo que afirma estar en "huelga de palabra" con el gobierno.
"Invitamos al mundo a que contemple la crueldad y la falta de humanismo de este régimen", expresó Fariñas, que comenzó su protesta un día después de que muriera el preso político Orlando Zapata, tras dos meses y medio de huelga de hambre en reclamo de mejores condiciones carcelarias.
La madre de Fariñas, Alicia Hernández, declaró a la AFP que su hijo está "muy deteriorado" y que "en cualquier momento cae en estado de coma".
Via: Las noticias de la web

2068) A arte da improvisacao (elevada ao cubo...)

Todos nós improvisamos, de certa maneira, pois raramente temos tempo e disposição para sentar, colocar no papel todos os elementos de uma dada questão, calcular todos os custos e alternativas e dai então, só depois de tudo isso, aí sim tomar uma decisão com base na melhor informação disponível, contando os nossos tostões (ou milhões, dependendo do caso) e aceitando os custos e benefícios da decisão adotada.
Isso, em economia, se chama custo-oportunidade, ou seja, quanto renderia aquele seu dinheiro empregado em diferentes alternativas, sendo que algumas alternativas são obrigatórias; por exemplo, ninguém pode deixar de comer, mas pode-se escolher comer caviar e foie-gras, ou ficar mesmo no feijão com arroz, dependendo da sua renda e gostos pessoais.
A prudência, a racionalidade ou o simples bom-senso nos recomendam fazer isso na maior parte das vezes, para maximizar nosso bem-estar, como dizem os economistas da escola marginalista (ou seja, empregar os seus recursos sempre limitados na maior extensão possivel).
Parece que o governo brasileiro não faz isso, mesmo dispondo de Ministério do Planejamento, IPEA e, sobretudo, uma Empresa de Planejamento Energético.
Não se trata de algo distante, pois é, simplesmente, a terceira maior hidrelétrica do mundo, depois de Três Gargantas (China) e Itaipu. Ou seja, se trata do seu, do meu, do nosso dinheiro, pois todos vamos pagar a construção, e depois a energia elétrica fornecida.
O artigo abaixo do conhecido comentarista econômico do Estadão nos comprova, mais uma vez, que este governo vive de improvisão.
Isso pode custar caro, muito caro (sem mencionar a corrupção inevitavelmente associada a todo e qualquer grande projeto público).
Paulo Roberto de Almeida
Shanghai, 11/04/2010

Jogo pesado
Celso Ming
O Estado de S.Paulo, 9 de abril de 2010

A construção da hidrelétrica do porte da Usina de Belo Monte está sendo decidida sem que antes estejam equacionados enormes conflitos de interesse. Aparentemente, o acirramento desses conflitos poderia ser evitado se o governo federal não estivesse forçando demais os resultados.

O Ministério do Meio Ambiente atrasou um ano a liberação da licença ambiental e o edital saiu apenas a 20 dias do leilão, agendado para 20 de abril.

Será a terceira hidrelétrica do mundo, com potência instalada de 11,2 mil MW, inferior apenas à de Três Gargantas (na China) e à de Itaipu (no Brasil e Paraguai). É o maior negócio no gênero do momento, orçado pelo governo em R$ 19 bilhões (US$ 10,7 bilhões), magnitude considerada baixa demais pelos concorrentes à licitação, que projetam até R$ 30 bilhões (US$ 17 bilhões).

Será construída no Rio Xingu, no município de Altamira (PA), onde não há infraestrutura. Imagine a logística necessária para instalar 18 mil funcionários; construir perto de 9 mil casas; abastecer o canteiro de obras e levar para lá máquinas, materiais de construção e 29 gigantescas turbinas previstas no empreendimento.

E lá estão em choque interesses de todo tipo: os direitos das 16 etnias indígenas e das 6 mil famílias que vivem na região; as questões ambientais que advirão da inundação de 516 quilômetros quadrados; o jogo da corporação estatal incrustada na Eletrobrás; as cartadas do governo que elegeu a licitação da obra como grande trunfo eleitoral; e os interesses locais que esperam ganhar dinheiro com o que vier junto.

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), presidida por Maurício Tolmasquim, já cometeu graves erros de avaliação no passado e pode estar cometendo mais um ao subavaliar o valor da obra. Boa parte das empreiteiras vem usando e abusando das pressões por mais verba. A Odebrecht, por exemplo, é campeã nisso. Em 2007, contestou até o último instante o preço teto previsto no edital da Usina Santo Antônio, no Rio Madeira (RO), mas acabou aceitando um deságio de 35%.

E o governo federal é useiro em fixar preços iniciais mais baixos destinados a facilitar a viabilidade financeira da obra, mas depois vai aceitando argumentos para engolir contas extras. Furnas, por outro lado, pode ser enfiada na história apenas para garantir a viabilidade em quaisquer condições por estar em jogo o interesse do setor estatal.

O valor compatível com o orçamento de R$ 19 bilhões puxaria uma tarifa de energia de R$ 83 por MWh, o preço máxima da licitação, mais do que o dobro pago pela energia gerada pelas atuais hidrelétricas brasileiras e que poderá saltar para muito mais se o orçamento for revisto. Mas, ainda assim, trata-se de uma energia mais barata do que a produzida por termoelétricas ou por turbinas eólicas.

Afora isso, o governo Lula escolheu o leilão como evento destinado a fazer sucesso, porque Belo Monte é a principal obra do PAC, cuja mãe é Dilma Rousseff, a candidata do governo à Presidência. E vai manobrando para que se formem consórcios fantasmas ou técnica e financeiramente incapazes de tocarem o projeto. Puxa os administradores da Eletronorte, do BNDES e dos fundos de pensão para pagarem a conta dos subsídios que fazem parte do financiamento da obra.

Difícil saber onde em todo esse emaranhado está o interesse público, que deve nortear todo empreendimento social.

2067) A arte da bajulacao (elevada ao quadrado...)

Em modo extremo
J. R. Guzzo
Revista Veja, edição 2160 - 14 de abril de 2010

"Lula não corrige nenhum dos erros que comete, pois acabou convencido de que não erra nunca; além disso, é estimulado o tempo todo a continuar errando"

O brasileiro comum, do tipo que não pode nomear parentes nem agregados para "cargos em comissão" no serviço público, raramente tem a oportunidade de ser bajulado. Em compensação, passa a vida pagando pelos estragos causados pela bajulação praticada em escala maciça, e todos os dias, nas esferas mais altas do governo – a começar pela esfera mais alta de todas. Não existe uma única alma, ali, capaz de admitir que possa haver algum erro, mesmo de pequeno porte, em qualquer coisa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva diga, faça ou pense. O resultado é que Lula não corrige nenhum dos erros que comete, pois acabou convencido de que não erra nunca; além disso, é estimulado o tempo todo a continuar errando. A conta, como de costume, é paga pelo público em geral. Como poderia ser diferente, quando as pessoas com quem Lula fala e convive diariamente estão dispostas a tudo para deixar claro, claríssimo, que ele tem sempre razão, seja lá no que for?

O presidente, por sua própria iniciativa, já se acha a obra mais bem-acabada que a história do Brasil conseguiu produzir até hoje. Fica ainda mais convencido disso, naturalmente, quando é chamado por seus ministros e principais mandarins de "Nosso Mestre", "Nosso Guia" ou "Nossa Luz", e passa o dia inteiro cercado de gente cuja grande preocupação na vida é dar um jeito de dizer só o que ele quer ouvir. Ou então não dizer, de jeito nenhum, o que ele não quer ouvir. Talvez ninguém tenha resumido melhor essa questão do que a ex-ministra Dilma Rousseff, pré-candidata oficial nas próximas eleições presidenciais. Questionada recentemente sobre o que achava da situação dos presos políticos em Cuba, que Lula havia acabado de comparar com "bandidos" de São Paulo, Dilma mostrou que só pensa naquilo – como concordar com o chefe. "Vocês não vão tirar de mim nenhuma crítica ao presidente Lula", respondeu aos jornalistas. "Nem que a vaca tussa." A candidata, em suma, não disse nada sobre a liberdade em Cuba. Ao mesmo tempo, disse tudo sobre o padrão de conduta hoje em vigor no governo.

Até algum tempo atrás, com seus índices de popularidade que não param de subir, Lula parecia satisfeito em ouvir de seus auxiliares, concordando 100% com eles, que é o maior presidente que o país jamais teve. Hoje já começa a dar a impressão de que está se sentindo grande demais para caber nas fronteiras do Brasil. "Eu gostaria que todos os governantes do mundo agissem como eu ajo", disse ele numa de suas recentes viagens ao exterior. Ultimamente deu para achar que o Brasil tem condições de resolver o problema do Oriente Médio, que está aí pelo menos desde 1948, ou de convencer os aiatolás do Irã a utilizar de maneira construtiva a bomba atômica que, segundo se suspeita, estão fabricando. Imagina que a melhor maneira de amansar ditadores é ficar amigo deles, e vive ouvindo de seus colaboradores que é um grande nome para chefiar as Nações Unidas depois que acabar seu mandato presidencial; aparentemente, até agora, vem achando muito natural essa possibilidade.

É óbvio que não se pode esperar nada muito diferente disso; a Presidência da República, aqui ou em qualquer lugar do mundo, é um ecossistema voltado para a sobrevivência dos mais aptos a bajular, obedecer e dissimular o que pensam. Tome-se, por exemplo, o caso da Casa Branca, onde a palavra "transparência" tem um valor quase religioso, pelo menos no discurso oficial da política americana. Ninguém que tenha um gabinete ali dentro sairia de casa de manhã, rumo ao trabalho, prometendo a si próprio: "Hoje eu vou dizer umas boas verdades a esse Obama". Se disser, serão as suas últimas palavras no emprego – o índice de mortalidade na carreira é altíssimo para pessoas que querem, ao mesmo tempo, servir a presidentes da República e manter intacta a sua sinceridade. Na verdade, a história se repete em qualquer lugar, público ou privado, onde alguém manda. O máximo que se consegue nesses ambientes, em matéria de crítica, são comentários do tipo: "O grande defeito do chefe é que ele trabalha demais". Ou é perfeccionista demais, sincero demais, confia demais nas pessoas, e por aí afora.

O problema, nos casos de bajulação em modo extremo como a que existe hoje em torno do Palácio do Planalto, é que o governo já começa a achar que a ausência de aplauso é uma anomalia; algo tão incompreensível que só pode ser má-fé. "Eu inaugurei 2 t000 casas e não vi uma nota no jornal", espantou-se o presidente tempos atrás. É nisso que veio dar essa história de "Nosso Mestre"...

sábado, 10 de abril de 2010

2066) Todos cometemos erros, inclusive este que aqui escreve...

Um pouco de modéstia e autocrítica não fazem mal a ninguém (inclusive a mim mesmo)

Como lembrou-me o visitante, ou leitor habitual deste blog, José Marcos, no comentário ao post anterior a este, todos nós cometemos errus (ele escreveu deliberadamente assim, como falamos), posto que (e ele também me corrigiu o emprego desta expressão, que eu venho utilizando de forma inadequada como uma relação causativa) a língua portuguesa, por suas nuances gramaticais e peculiaridades estilísticas, é por demais complexa, eivada de regras e condicionalidades acumuladas ao longo do tempo, ou impostas por "çábios" da Academia (como já escreveu alguém, talvez o Millor Fernandes, no que foi copiado por muitos, inclusive um jornalista famoso, que pretende dar lições de mora a gregos e goianos).

Concordo com o José Marcos, e também devo penitenciar-me pelos muitos erros que cometo em meus textos, motivados seja pela pressa em escrever -- e nesse caso se trata de simples erros de digitação, de ortografia mais comumemente --, seja por deficiências de estilo (não sou partidário da tese segundo a qual "o estilo faz o homem"), seja ainda por impropriedades substantivas que fui adquirindo ao longo da vida, de minha notória insuficiência no estudo da língua e pela persistência nessas deformações gramaticais e estilísticas (aquela coisa de hábitos arraigados).

Sou grato ao José Marcos por trazer-me de volta à Terra, demonstrando ele, cabalmente, como somos todos falhos em nossa redação escrita e em nossa expressão oral, o que deveria levar-nos a ter mais modéstia pessoal e exercer um pouco contenção na exposição e condenação dos erros alheios.
Sim, é verdade, sempre se poderá apontar nossos próprios erros de redação, para nos trazer de volta à realidade e parar com essa mania censória e passavelmente autoritária de pretender corrigir erros alheios, mesmo daqueles que manifestamente estavam apenas interessados em se fazer ouvir num espaço aberto como este.
Estou consciente disso, penitencio-me pelo meu "faux pas" e agradeço uma vez mais ao José Marcos por ter-me lembrado desta realidade tão simples.

Falando agora em meus próprios erros de redação -- e eles são tantos que seria fácil a um leitor mais crítico apontar-me uma penca deles -- devo dizer o seguinte. De fato, eu tenho inúmeras falhas em meus textos, algumas graves, outras menos graves. As mais graves são certamente as impropriedades redacionais, ou linguísticas, algo equiparado a crimes se estivéssemos aplicando o Código Penal, ou seja, contravenções manifestas contra a língua portuguesa. Sim, sou criminoso, contumaz e reincidente, podendo apenas alegar em minha defesa que jamais estudei gramática, nunca me dediquei a decorar as regras da boa escrita e da redação correta, simplesmente porque não tenho paciência, tempo, disposição para ler manuais (nunca os leio, mesmo dos aparelhos eletrônicos mais complexos, sempre pedindo ajuda a alguma criança para fazê-lo por mim).
Eu simplesmente aprendi a ler, e comecei a ler desbragadamente, sem jamais parar, ou melhor, apenas parando para escrever, que também é um ato de ler...
Sem ter tido disposição ou o cuidado de me remeter à Senhora Gramática, eu só posso cometer atentados contra ela em todas as vezes em que escrevo.
Deve ter sido a "má influência" de Monteiro Lobato e sua "Emília no País da Gramática", onde o grande escritor paulista desafia aquela velha ranzinza e lhe aplica uma cura forçada de inovações nem sempre permitidas pelas boas regras de redação.

Enfim, eu comecei a escrever, errado, como todos fazemos, e nunca mais parei, daí minha tendência em incorrer em determinados erros repetitivos que são como deformações lamarckianas, adquiridas e repassadas ao longo de toda uma vida. Desculpo-me com meus leitores por isto. Pretendo mais ter o que dizer, do que preocupar-me com a forma de fazê-lo, o que também é um erro.
Sim, uma vez que introjetamos um erro, fica difícil desvencilhar-se dele nas fases seguintes, sobretudo quando não se dispõe de alguma alma piedosa para nos alertar e corrigir esses erros. Eles ficam grudados no subconsciente e daí à eternização é um pequeno passo muito facilmente transposto.

Depois tem a questão do estilo, minha horrível prolixidade, frases muito longas, apostos intermináveis, contrademonstrações no meio do parágrafo, enfim, uma maçaroca de ideias, conceitos e informações que sobrecarregam as minhas frases, tornando-as pesadas, difíceis de compreender, quase ilisíveis para alguém que pretende incorporar rapidamente alguma nova ideia ou informação. Desculpo-me por isso também e sempre achei que esses meus maus hábitos tivessem algo a ver com a chamada "Escola Paulista de Sociologia", quando ela talvez tenha apenas a ver com as peculiaridades do estilo florestânico, ou seja, da maneira de escrever de Florestan Fernandes, um dos meus mestres no aprendizado das Ciências Sociais.

Bem, fica aqui a adevertência sempre bem vinda do José Marcos, e um alerta ao leitor: policie-se, em seu próprio estilo e maneira de redação, para não incorrer nos mesmos erros que eu.
Pior, aliás, do que simples erros gramaticais, são a soberba e a arrogância na defesa de seus próprios argumentos. Devemos sempre estar abertos à revisão e à ponderação dos demais.
Muito grato José Marcos, por trazer-me de volta à Terra.

Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 11.04.2010)

2065) Todos sao bem vindos, mesmo os que tropecam nas palavras

Blogs, por definição, estão abertos a todos, jovens, aborrecentes, maduros, estudantes e aqueles que ainda deveriam estudar...
Digo isto porque de vez em quando recebo um comentário que não sei se devo publicar ou simplesmente rejeitar. Em nome da democracia, do potencial educativo do meu blog, acredito que todos devem ter uma chance de se expressar, desde que os comentários sejam pertinentes ao tema em questão.
Mas, por vezes hesito sinceramente em fazê-lo, tendo em vista certas coisas que pessoas normais normalmente teriam certa dificuldade em aceitar, como agressões muito claras à língua pátria. Mas, como não sou guardião da pureza da lingua.
Vejam apenas dois exemplos num comentário que me chegou recentemente (não importa o tema):

"...essas bousas (Familia, Gás, Reclusão e etc...) isso na minha opinião é apenas uma forma de compra de Votos, pois acho que quando se você quer ajudar uma pessoa que precisa, nunca você deve dar o "Peixe" mais sim uma "vara e ensinar a pescar", e quando algum politico foi até a familia de trabalhador (que quando voltava do trabalho foi assaltado e morto por uma bandido que hoje esta preso e Comendo, bebendo, dormindo e recebendo "Salario", Pago por nós e pela familia de quem ele matou) perguntar se estão passando por dificuldades finaceiras, sem pedir seu voto em troca... (pensem nisso)

Agora Esse Blog é muito entereçante por abordar..."

Bem, o resto não estava tão estropiado quanto essas duas passagens acima, mas elas são de doer, confessemos tout de suite...

Cada vez que eu vejo coisas como essa, assusta-me o futuro do Brasil, que será ainda um pouquinho (ou talvez bastante) pior do que o atual em matéria de ensino, refletindo as políticas que estão sendo praticadas atualmente.
Sorry, meus jovens, vocês vão continuar a ter uma educação miserável, do kindergarten à universidade, e quem sabe até o mestrado?!!

Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 11 de abril de 2010)

2064) O Brasil conciliador com o Iran, na visao de um americano

Interessante que no caso de Honduras, um país sem a importância do Irã, o Brasil foi tudo menos conciliador...

think.
Brazil and Its Global Agenda
Stanley Foundation, April 2010

(Editor’s Note: Stanley Foundation program officer David Shorr recently visited Brazil where he held a series of conversations with members of Brazil’s foreign policy community. This article is a summary of his perspectives on Brazil’s role in the world.)

In mid-March, Brazilian President Luiz Ignacio Lula da Silva visited the Middle East on a five-day swing through Israel, Jordan, and the Palestinian Authority. The trip aptly symbolized the growing influence of a country whose recent rise in global stature is exceeded only by China and India. Behind the symbolism, of course, was the famously charismatic leader’s effort to exert Brazil’s diplomatic influence on some of the world’s most sensitive and prominent challenges—Middle East peace and the Iranian nuclear program. That effort has, in turn, prompted a nascent debate over Brazil’s global political role.

In interviews prior to his visit, Lula professed his strong belief in the power of dialogue to resolve conflicts such as the Israeli-Palestinian clash as well as the peacemaking contribution Brazil can make, given its generally amicable relations with most other nations. Beyond the question of whether, as President Lula claims, a new set of interlocutors can be more successful in bringing Middle East peace, there’s the matter of how much diplomatic heavy lifting Brazil can or should handle.

Recent global shifts have not only boosted the influence of emergent powers like China and Brazil, they have also brought an agenda of challenges (climate change, nonproliferation, economic development) that are harder to solve—that will require more than just a few decisions by a few key powers. This seems to argue for an all-hands-on-deck approach to international cooperation and leadership. Not just for Brazil, but any influential nation that can help with the lifting.

To say that Brazil should be an international leader—beyond its inevitable role in the Western Hemispheric region—leaves room for debate regarding whether and how it could do so. The dilemmas of the Iran case are already serving as somewhat of a test. President Lula has cultivated good relations with Iranian leader Mahmoud Ahmadinejad, just as international pressure is mounting for Iran to give added transparency and reassurance that its nuclear program is civilian. This certainly fits with the strategy of being “friend to all.” Yet it also begs the question of whether conciliation rather than pressure in response to another nation’s actions is always the best path to peace.

—David Shorr

2063) Unasul exige explicacoes do Brasil; isso se aplica a todos?

Interessante esta pretensão abaixo explicitada do secretário temporário da Unasul, exigindo explicações do Brasil quanto ao recente acordo anunciado de cooperação militar com os EUA.
Não me lembro de ter ouvido demandas similares em relação aos vários acordos militares firmados pela Venezuela, com a Rússia, por exemplo...
Paulo Roberto de Almeida

Unasul quer explicações sobre acordo Brasil-EUA
Da Redação
Jornal do Brasil,Sábado, 10 de abril de 2010

A União de Nações Sul-Americanas (Unasul) espera que o Brasil explique rapidamente seu acordo de cooperação em defesa que firmará com os Estados Unidos na segundafeira, disse ontem o chanceler do Equador, Ricardo Patiño, que exerce a secretaria temporária da instituição.

– Sei que o Brasil dará sua explicação – declarou Patiño durante uma reunião sobre o combate ao tráfico de drogas – Isso é importante porque há um acordo entre os países da Unasul para oferecer mutuamente informação sobre qualquer tema militar e de segurança.

Patiño disse que levará a questão ao governo brasileiro na próxima semana. O tema também será analisado pelos presidentes da Unasul durante reunião prevista para 4 de maio, em Buenos Aires.

O representante do Brasil na Unasul, Marcos Vinicius Pinta, disse que “não é necessária qualquer explicação porque já enviamos esta informação a todos os países da Unasul”. Pinta destacou que o tratado não prevê a instalação de bases americanas no Brasil nem o uso de destacamentos por soldados americanos.