Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
domingo, 18 de março de 2012
A economia brasileira em 2012 - José Roberto Mendonça de Barros
O imperio tratando bem o Brasil?!; tem alguma coisa errada ai...
Eles sempre nos trataram a caneladas, e agora, quando somos nós que os tratamos às caneladas, eles nos tratam bem???
Deve ter alguma coisa errada.
Onde já se viu um imperialista legítimo afirmar coisas deste tipo?:
"Jacobson, que é responsável pela diplomacia com a América Latina, disse ainda que Washington corteja o Brasil e deseja elevar o diálogo "a um novo nível, que traga resultados concretos para os cidadãos (de ambos os países)"".
Ou ainda isto:
""Somos sócios naturais, algo que não era óbvio há cinco anos", assegurou Jacobson."
Perdi alguma coisa no caminho?
Foi a tal de diplomacia altiva e ativa, soberana, aquela que não descalça os sapatos?
Ou será que o império anda diminuído, cabisbaixo, amor próprio lá embaixo, que anda precisando de um pouco de carinho e afago?
"Ninguém me ama, ninguém me quer", poderia cantar algum imperialista dos velhos tempos a propósito da sua imagem south of the border...
Enfim, gozado não deixa de ser...
Paulo R. de Almeida
Hillary Clinton viaja ao Brasil após Cúpula das Américas em abril
O fascismo economico no Brasil: ate quando se trata de fazer bondades
Mesmo quando as autoridades pretendem fazer bondades -- ilusórias, pois a única coisa que fazem é aliviar um pouco todas as maldades criadas por elas mesmas, e ainda assim obrigando a tantos requerimentos que se trata de uma maldade adicional -- elas submetem os brasileiros empresários a tantas obrigações burocráticas que, na verdade, estão criando um calvário adicional.
Todos esses advogados que escrevem sobre requerimentos tributários -- e que vivem, só existem por causa das dificuldades que existem no inferno chamado Brasil -- não percebem que eles estão submetidos, clientes e intermediários, a um ogro fascista que se chama Receita Federal, e acima deles o Estado em geral, uma entidade dedicada apenas e tão somente a infernizar a vida dos brasileiros, com exigências e tributos.
Há muito tempo que vivemos num Estado fascista, perfeitamente fascista...
Paulo Roberto de Almeida
Insegurança jurídica do conceito de produção nacional para concessão de ex-tarifários
* por Rogério Zarattini Chebabi
Direito Aduaneiro e Comércio Exterior, 17 Mar 2012
* Rogério Zarattini Chebabi é advogado e secretário geral da Comissão de Direito Aduaneiro da OAB/SP
Assembleia de Companheiros Novos Ricos: nada como chegar lá...
Pois é, os chineses são mais ou menos a mesma coisa: eles chegaram lá: roubando, corrompendo, trabalhando honestamente (para os capitalistas ou para o partido, não importa muito agora como), eles finalmente ficaram ricos, e podem falar com as grã-finas do Ibrahim Sued: "Queridas, cheguei!".
Assim vai o mundo. Imagino que muitos companheiros que hoje andam frequentando restaurantes caros de Brasília, exibindo carros de luxo e casas de requinte também podem dizer que chegaram. Não importa a forma (ou importa, mas eles não gostam que se diga), o importante é que eles são os novos ricos...
Prada, Hermès y el PC chino
El ingreso per cápita de un chino es hoy el doble que en 2000 pero inferior a Sudáfrica o Perú
A historia do libanes doido: nem mesmo um crioulo para dar conta...
Enfim, não importa. Mais complicado do que nossas tribulações com os novos racistas brasileiros é a situação do Líbano, um mosaico de povos, de culturas, de religiões, e de tradições diversas, que não conseguem conviver harmoniosamente, o que torna muito difícil fazer um livro único de história nacional.
A começar que não existe essa coisa de nacional, não, isso seria demais. Existem tribos, clãs, comunidades, cada uma empenhada em preservar seus espaços, negando os dos demais. Daí o gatilho, o fuzil, o canhão, a fortaleza, e as selvagerias cometidas uns contra outros.
Acho que o problema dos manuais de história ainda é o menor de todos...
Paulo Roberto de Almeida
L'impossible manuel d'histoire unifié
Eleicoes na nova Russia putinesca: ate Gogol se remexeria...
Pois me caiu, e apresso-me a postar.
A crônica de como se fraudam eleições na Rússia de hoje, uma de nossas aliadas no Brics, a mesma, aliás, que anda ajudando Bachar Al-Assad a massacrar o seu próprio povo.
Como o Brasil também tem pruridos soberanistas, acaba embarcando na mesma canoa.
Maravilha. Não imaginava ver o Brasil alinha a ditaduras, mas tudo é possível quando a alma não é pequena, e pode abrigar mesmo os mais sórdidos sentimentos...
Paulo Roberto de Almeida
"Les Ames mortes" revisitées
Juizes cocaleros: sentencias al masticar, ao que parece...
O autor da crônica poderia mencionar também que a Constituição boliviana reconhece mais de trinta línguas como oficiais, ao lado do espanhol, e igualmente válidas.
Mais um pouco e eles se aproximam da histeria de traduções e interpretações simultâneas da União Europeia, onde todos e cada um têm direito legítimo, e plenamente exercido de falar a sua própria língua.
Fico imaginando se deputados catalães, galegos, bascos, provençais, bretões, lapões, etc, não formularem também o desejo de se expressar nessas línguas regionais.
Vamos chegar perto da Bolívia, talvez...
A Justiça da coca na Bolívia
sábado, 17 de março de 2012
Fascismo econômico no Brasil: o longo braço da Receita...
STF julga tributação de controladas
O roubo da borracha amazonica: um livro interessante, uma resenha menos interessante
O resenhista diz que:
"Um século depois de a Inglaterra quebrar o monopólio brasileiro da borracha, a região ainda se debate na tentativa de se reerguer. Wickham não poderia tê-lo calculado, mas seu ato condenaria ao atraso uma das mais exuberantes regiões do planeta."
Região exuberante, o que de fato a Amazônia é, sempre foi e parece que vai continuar sendo, não quer dizer rica. Outras regiões tão ou mais exuberantes podem ser ricas, pobres, remediadas, ascendentes, declinantes, tudo depende de riquezas produzidas pelas mãos dos homens, uma vez que a natureza apenas provê determinadas riquezas naturais, mas seu aproveitamento depende do valor que os homens acrescentam para que elas tenham valor de mercado. Ponto um.
Por acaso, o desenvolvimento científico e tecnológico de meados do século XIX, feito inteiramente fora do Brasil, descobriu como "domar" a goma da hevea brasiliensis, pela adjunção de determinados produtos químicos que facilitavam sua transformação industrial e utilização numa gama variada de produtos correntes. Ponto dois.
O Brasil, por acaso, tinha imensa disponibilidade da goma natural, absolutamente irrelevante em termos econômicos para a economia brasileira, a não ser um aproveitamento muito rústico, precário, limitado, na própria economia local, e nada mais do que isso. Ponto três.
O Brasil passou a fornecer a matéria prima aos industriais estrangeiros, por meio de uma rede semi-escravocrata -- como foi sempre a vocação das elites brasileiras -- de colhedores na floresta, os seringueiros, que buscavam as árvores em situação dispersa na floresta virgem, espalhadas por kms de áreas inóspitas. Uns bravos, portanto, mas tendo de trabalhar nas condições primitivas que os patrões impunham, sem qualquer investimento, sem qualquer organização, sem qualquer cuidado com a elevação da produtividade, que significaria, justamente agrupar as árvores para facilitar a coleta, e assim aumentar a produção nas melhores condições possíveis. Ponto quatro.
Quem lucrava de fato eram os intermediários, comerciantes exportadores e, depois, os industriais do setor. Os trabalhadores-escravos da floresta ficavam com uma parte ínfima de todo o processo. Enfim, nada de muito diferente do que já tinha acontecido com outras culturas no Brasil, justamente como, na mesma época, o café. O Brasil tinha (e tem) condições ótimas para produzir café. Começou "roubando", ou "importando" como iniciativa individual, as sementes de café do norte da América do Sul, exatamente como fez o inglês, de forma ainda mais clandestina, com as sementes de hevea. Ou seja, biopirataria todo mundo pratica, se é para empregar uma palavra do momento. E o que faziam os plantadores de café? Beneficiamento mínimo, carregando café não selecionado em sacas ainda com gravetos, paus e pedras, talvez deliberadamente, para aumentar o peso e ganhar mais, mesmo de forma fraudulenta. Parece incrível, mas exportávamos café já desde um século, no auge do boom da borracha, mas nunca nos preocupamos em elevar a qualidade do produto, como os colombianos o fizeram depois. Éramos rústicos, ficamos rústicos. Ponto cinco.
E porque o "ato [do inglês] conden[ou] ao atraso uma das mais exuberantes regiões do planeta"???
Puro non sense: a Amazônia sempre foi atrasada, desde tempos imemoriais, e só se tornou rica, por um brevíssimo período, quando ela foi "internacionalizada", justamente, quando as exportações da borracha criaram uma riqueza fugaz, aliás muito mal aproveitada. Fizeram alguns prédios suntuosos, criaram-se grandes riquezas individuais, mais dos intermediários do que os produtores diretos, mas não se investiu nada, absolutamente nada, na racionalização da produção. Vão agora acusar os ingleses de terem causado o atraso da Amazônia pelo fato de nós, brasileiros, não termos tido a preocupação de rentabilizar uma produção que continuou e continua importante? Ponto seis.
Vão novamente acender a vela do patriotismo ofendido, a paranóia embutida e a xenofobia explícita, por termos fracassado no empreendimento?
Quando vão "internacionalizar" a Amazônia novamente?
Os tupiniquins protecionistas, que estão dificultando a exploração dos recursos da floresta, são os mesmos que a condenam ao atraso.
Só internacionalizando a Amazônia, no bom sentido da palavra, ela vai deixar de ser atrasada, e se integrar novamente aos circuitos da economia mundial.
Zona Franca é apenas um convite à fraude e à evasão fiscal, uma aberração brasileira, como tantas outras.
Por que é que ainda me preocupo com nossas bobagens econômicas?
Paulo Roberto de Almeida
Quem roubou a borracha brasileira
Veja, 14/03/2012 às 14:00 Livros & Filmes
Vejam a foto, leiam o texto: este bigodudo foi quem roubou a borracha brasileira — e acabou com a fabulosa prosperidade da Amazônia no século XIX
VILÃO E HERÓI -- O aventureiro ingles Wickham, o Cavaleiro britânico que levou a Amazônia à falência (Foto: Dedoc)
O PIRATA AMAZÔNICO Um jornalista americano narra as aventuras e desventuras do inglês que traficou para seu país sementes de seringueira e pôs fim ao ciclo da borracha no Brasil. Era início da estação seca de 1876. O chamado verão amazônico, quando o transatlântico SS Amazonas fundeou em uma enseada de águas turquesa no Rio Tapajós, em frente à Vila de Boim, no Pará. O vapor da companhia inglesa Inman Line ancorou em uma área remota da selva. Sem porto, para receber uma carga secreta. Foram embarcadas em centenas de cestos de palha 70.000 sementes de Hevea brasiliensis, a seringueira. A operação em um vilarejo escondido na floresta foi coordenada pelo inglês Henry Wickham (1846-1928) – um aventureiro que, depois de mais de uma década de desditas pela Amazônia, foi contratado pela Coroa para traficar as sementes do Brasil. Essa história é contada em O Ladrão no Fim do Mundo (tradução de Saulo Adriano; Objetiva; 458 páginas; 49,90 reais), do jornalista americano Joe Jackson. O livro descreve como o sonho de Wickham de imitar os grandes exploradores foi usado para perpetrar a mais bem-sucedida e a mais danosa ação de biopirataria já registrada em solo brasileiro. O roubo de Wickham viria a encerrar uma fase próspera da economia do Norte brasileiro, o chamado ciclo da borracha. No momento em que ele surripiou as sementes, o Brasil respondia por 95% da produção global de látex, matéria-prima da borracha, e as metrópoles amazônicas do fim do século XIX, Belém e Manaus, viviam sua belle époque. Da riqueza à decadência Em 1896, a capital do Amazonas se tornou a segunda cidade brasileira a possuir uma rede pública de iluminação elétrica. No mesmo ano, começaram a circular pelas ruas os primeiros bondes elétricos. Em 1878, os belenenses inauguravam o Teatro da Paz. Dezoito anos depois, Manaus ganhava o Teatro Amazonas. As duas casas se transformaram nos símbolos do fausto em que viviam os amazônidas. Companhias europeias de ópera desconhecidas dos cariocas e paulistas se apresentavam nos palcos da floresta. Mas as sementes roubadas por Wickham e levadas para o Jardim Botânico de Londres germinaram. Transportadas para as paragens tropicais abrangidas pelo império britânico – o Ceilão (atual Sri Lanka) e a Malásia -, as plantas vingaram, e 2.000 mudas deram origem ao primeiro seringal fora dos limites da inóspita Floresta Amazônica. Silenciosamente, dava-se início ao fim da riqueza do vale amazônico. Wickham recebeu 700 libras pelo trabalho (em valores atualizados, cerca de 158.000 reais). Restariam ao Brasil mais trinta anos de domínio do mercado da borracha: foi esse o tempo necessário para que as árvores atingissem a maturidade no Extremo Oriente. Ultrapassado esse período de maturação. O látex produzido de forma intensiva nos seringais ingleses invadiu o mercado. Mais barata que a borracha “selvagem” produzida à base da seiva extraída de árvores nativas espalhadas pela floresta, a produção intensiva dos ingleses arruinou a economia gomífera brasileira. A debacle da Amazônia foi rápida. Em 1928, a região atendia a apenas 2,3% do consumo mundial. Os investimentos e as empresas seringalistas se mudaram para a Ásia, e o desemprego tomou conta das cidades antes prósperas. Responsável pela ascensão da indústria da borracha, Wickham chegou à velhice no esquecimento. Tentou encontrar a riqueza na Inglaterra e na Papua-Nova Guiné, mas se afundou em dívidas ao apostar em empreendimentos fracassados. Viveu amargurado pela falta de reconhecimento por seu feito. Somente em 1911, aos 65 anos, ganhou da Associação Inglesa dos Plantadores de Borracha 1.000 libras como prêmio. Também naquele ano, viajou para o Ceilão, onde viu a plantação de seringueiras resultante de seu roubo.
Wickham e uma das seringueiras resultante de seu roubo das sementes brasileiras (Foto: Dedoc / Editora Abril)
Morreu pobre, e, então, a Amazônia já estava mergulhada na misériaNa fotografia acima, Wickham aparece apoiado em uma das árvores que brotaram de “suas sementes”. O gigante de quase 30 metros de altura produziu 168 quilos de borracha entre 1909 e 1913. O reconhecimento oficial só veio aos 74 anos, quando Wickham recebeu o título de Cavaleiro do Império Britânico. No ano de sua morte, em 1928, ele era um homem pobre, e a Amazônia já se encontrava mergulhada na miséria. Hoje. Um século depois de a Inglaterra quebrar o monopólio brasileiro da borracha, a região ainda se debate na tentativa de se reerguer. Wickham não poderia tê-lo calculado, mas seu ato condenaria ao atraso uma das mais exuberantes regiões do planeta. (Resenha de Leonardo Coutinho publicada na edição impressa de VEJA) |
Economia brasileira: discursos grandiosos, resultados mediocres - Editorial Estadao
Paulo Roberto de Almeida
O Brasil ficou mal na foto
'A margem de um relatorio da Unasul
Se considerarmos que já existe a OPAS, com sede em Washington, chegamos à conclusão que os sul-americanos pretendem duplicar, em grande medida, o trabalho da OPAS, o que inevitavelmente vai resultar em gastos administrativos -- ou seja, com atividades-meio -- antes que se possa pensar em gastos com atividades-fim, ou seja, com a saúde dos sul-americanos. Como o Instituto é de Governo, são os governos, ou seja, todos nós, que vão pagar pelos novos gastos.
Seria interessante se não fosse preocupante essa mania sul-americana -- e portanto brasileira também -- de sair por aí criando novas instituições, todas elas exigindo novos gastos, quando existem instituições que funcionam nos mesmos setores designados. A menos que seja, claro, para escapar dos braços de ferro do império, que deve subordinar os gastos com saúde feitos a partir de sua capital aos seus desígnios estratégicos, sempre suspeitos, por definição.
A mesma informação diz que o intercâmbio comercial entre os membros da Unasul quadruplicou na última década, elevando-se de US$ 19 bilhões para US$ 76 bilhões. Ora, se a Unasul só existe desde dois anos, não se pode atribuir esse aumento a qualquer ação, iniciativa, promoção da dita entidade, não é mesmo? Esse tipo de amálgama soa incongruente, de fato ilógico, já que o comércio existe por ele mesmo, independente de ser dos países membros.