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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 18 de março de 2012

A economia brasileira em 2012 - José Roberto Mendonça de Barros


O Brasil no início de 2012
José Roberto Mendonça de Barros
O Estado de São Paulo, 18/03/2012

Os dados referentes ao crescimento da economia brasileira em 2011 foram recentemente liberados. Embora o número de 2,7% fosse esperado por todos os analistas, o quadro que emerge deve ser analisado com cuidado.
Do lado positivo, creio que o ponto a ser destacado é que, apesar da crise global, nossa economia ultrapassou a da Inglaterra e é agora a sexta do mundo, quando medida a preços de mercado e utilizando a taxa corrente média de câmbio. Por outro lado, os números também mostram uma forte desaceleração no segundo semestre do ano, bem maior do que a esperada. Por exemplo, o consumo das famílias mostrou queda no terceiro trimestre e, embora tenha se recuperado razoavelmente bem na última parte do ano (levando a uma expansão de 4,1% em 2011), a economia iniciou 2012 bem lenta.
A pior notícia apresentada pelos dados, entretanto, foi a forte desaceleração dos investimentos ao longo do ano. Já havíamos chamado a atenção neste espaço para este ponto, em novembro passado ("O investimento perde o vigor"). Com expansão nula no segundo semestre, a taxa de investimento (ou Formação Bruta de Capital Fixo, na terminologia do IBGE) se manteve teimosamente abaixo dos 20% do PIB, ao contrário do esperado pelas autoridades. Pior que isso, a taxa de poupança recuou para 17,2% do PIB. Esses números sugerem, pelo menos, três observações.
Em primeiro lugar, é preciso ter muito cuidado com a torrente de anúncios de investimentos que as autoridades e bancos públicos colocam nos meios de comunicação. Se os trilhões que se anunciam se materializassem de fato, nossa taxa de investimentos já deveria estar acima de 23% e o País deveria estar crescendo muito rápido. Entretanto, no mundo real, muitos anúncios não se materializam, quer por causa de alguma crise ou, no caso do investimento público, porque as coisas simplesmente não acontecem. É o caso do PAC, local por excelência de muito palanque, muita fumaça e pouco fogo, como tem reiteradamente sido mostrado pelo Estado, desde há muito tempo. Os dados mostram que os investimentos do PAC continuam inferiores a 4% da despesa primária do governo central e equivalem a apenas 1% do PIB, sem tendência de alta.
Em segundo lugar, uma taxa de investimento relativamente modesta, acompanhada de baixo crescimento da produtividade (resultado que decorre, em parte, de nossas mazelas educacionais) e forte elevação de custos, só pode resultar numa evolução do PIB também modesta. Em 2012, nenhum analista do setor privado prevê muito mais que 3,5%. Voltamos a isso mais adiante.
Finalmente, com uma taxa de poupança relativamente baixa precisamos da poupança externa, mesmo para crescer relativamente pouco. O forte estímulo para a expansão do consumo das famílias e a notável evolução dos gastos correntes do governo certamente não contribuem para melhorar a situação.
Indústria. Do lado da oferta, a agricultura (3,9%) e os serviços mais modernos, de informação e financeiros (4,9%), previdência complementar e outros relacionados (3,9%), foram bastante bem. Também foram bem os setores industriais de eletricidade, gás e água (3,8%), construção civil (3,6%) e extrativa mineral (3,2%).
Entretanto, a indústria de transformação teve, mais uma vez, um comportamento decepcionante: foi o pior desempenho entre todos os grandes setores, de 0,1%, e a maior razão para os 2,7% do PIB total.
Consolida-se a ideia de que temos um problema na economia brasileira. Existe uma demanda que evolui de forma rápida, como consequência dos aumentos da renda das famílias, do crédito e do gasto público, especialmente. Do lado da oferta, o que se observa nos últimos anos é uma boa resposta do agronegócio que cresce a produção e a produtividade de forma a atender tanto o mercado interno quanto o externo. Os bons preços internacionais dos últimos anos permitiram ao setor administrar as recentes elevações de custos.
Ao mesmo tempo, os serviços também se expandem, mesmo onde a produtividade não cresce muito. A impossibilidade de importar a maior parte destes itens permite, junto com a demanda crescente, que as margens sejam mantidas via elevação de preços. É por isso que a inflação de serviços está hoje na faixa de 8-9%, sem a menor perspectiva de redução.
Entretanto, existe uma séria dificuldade em parte da área industrial. O setor como um todo manteve sua participação no PIB: 27,8% na média 2010/2011, contra 27,3% na média 2000/2001. Neste período expandiram-se a indústria extrativa mineral (de 1,5% para 3,5%) e a construção civil (de 5,4% para 5,8%), enquanto os serviços de utilidade pública se mantiveram constantes. A indústria de transformação é que teve sua participação diminuída, de 17,1% no início da década para 15,4% agora.
É seguro dizer que temos um problema na indústria, algo que, desde o início de minha participação neste espaço, venho colocando de forma enfática. Embora o governo afirme modestamente que encontrou um novo modelo de crescimento por meio do forte estimulo da demanda, é evidente que temos um sério problema na oferta, cujo resultado é um crescente vazamento da demanda para o exterior. O problema é grande, porque decorre de causas de difícil alteração no curto prazo. A valorização do câmbio tem muito a ver com a redução de nossa vulnerabilidade externa, com as elevadas taxas de juros e com o crescimento das oportunidades de investimento no País, e menos com a "guerra cambial"; ao mesmo tempo, os estudos empíricos revelam uma modestíssima elevação da produtividade, quando existente e, finalmente, uma elevação persistente dos custos de produção que, embora afete todos os setores, machuca mais a indústria, pois a competição com os bens importados impede o repasse via alta de preços. A indústria na realidade tem na importação de partes, peças, componentes e matérias-primas sua única válvula de escape na redução de custos. Daí porque cresce a venda final de produtos industriais, mas não sua produção local.
Restrições. Finalmente, as restrições na oferta e a pressão de custos vão, na situação atual, continuar. Falamos aqui da questão tributária, do custo da energia, do custo da infraestrutura e, em parte, da própria escassez da mão de obra. Pretendo desenvolver essas questões com mais detalhe proximamente; entretanto, hoje gostaria de colocar os seguintes pontos:
- A carga tributária vai continuar a crescer mais do que o PIB, como já ocorre há vários anos. Nosso sistema arrecadador é progressivo nos impostos diretos, e tributa mais os bens cujo consumo cresce mais rápido que a renda, como telecomunicações e energia. Além disso, a formalização em larga escala de trabalhadores e empresas produz um salto na arrecadação.
- O custo da energia elétrica continuará se elevando no futuro porque os novos aproveitamentos hídricos são muito distantes dos centros consumidores e as fontes térmicas são mais caras do que as hídricas. Além disso, a confiabilidade do sistema é cada vez menor, dados os frequentes apagões e seus efeitos danosos sobre os equipamentos.
- A infraestrutura é cada dia mais precária. O seu custo vai continuar subindo, tendo em vista a expansão mais rápida da demanda.
- A mão de obra continuará escassa, especialmente em termos das qualificações necessárias, ainda por muitos anos.
Nenhum desses pontos está sendo enfrentado de um ponto de vista estrutural, assim como outras reformas microeconômicas. O que vemos mais são ações tópicas, desconectadas, pouco elaboradas e que sinalizam apenas um protecionismo mais tosco, ao lado de uma tentativa de desvalorizar o real, via intervenções no mercado de câmbio e uma política monetária que talvez acabe trombando com uma inflação mais elevada.

O imperio tratando bem o Brasil?!; tem alguma coisa errada ai...

Ops, nunca vi palavras iguais na boca dos nossos amigos imperialistas.
Eles sempre nos trataram a caneladas, e agora, quando somos nós que os tratamos às caneladas, eles nos tratam bem???
Deve ter alguma coisa errada.
Onde já se viu um imperialista legítimo afirmar coisas deste tipo?:
"Jacobson, que é responsável pela diplomacia com a América Latina, disse ainda que Washington corteja o Brasil e deseja elevar o diálogo "a um novo nível, que traga resultados concretos para os cidadãos (de ambos os países)"".
Ou ainda isto:
""Somos sócios naturais, algo que não era óbvio há cinco anos", assegurou Jacobson."
Perdi alguma coisa no caminho?
Foi a tal de diplomacia altiva e ativa, soberana, aquela que não descalça os sapatos?
Ou será que o império anda diminuído, cabisbaixo, amor próprio lá embaixo, que anda precisando de um pouco de carinho e afago?
"Ninguém me ama, ninguém me quer", poderia cantar algum imperialista dos velhos tempos a propósito da sua imagem south of the border...
Enfim, gozado não deixa de ser...
Paulo R. de Almeida

Hillary Clinton viaja ao Brasil após Cúpula das Américas em abril

iG São Paulo, 13/03/2012
Além da agenda bilateral, secretária de Estado americana deve tratar com governo brasileiro de temas como sanções contra Síria e Irã
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, viajará ao Brasil no dia 16 de abril, após a Cúpula das Américas em Cartagena e uma semana depois da visita da presidente Dilma Rousseff à Casa Branca.
Segundo a subsecretária interina Roberta Jacobson, Hillary participará de um diálogo ministerial para reforçar a relação bilateral entre os dois países. Além disso, a previsão é que Hillary aborde temas como sanções contra Síria e Irã.
Hillary Clinton discursa na sede da ONU, em Nova York, sobre divisão do Conselho de Segurança em relação à Síria
Hillary Clinton discursa na sede da ONU, em Nova York, sobre divisão do Conselho de Segurança em relação à Síria
Jacobson, que é responsável pela diplomacia com a América Latina, disse ainda que Washington corteja o Brasil e deseja elevar o diálogo "a um novo nível, que traga resultados concretos para os cidadãos (de ambos os países)".
As relações políticas entre os Estados Unidos e o Brasil se estabilizaram após a chegada ao poder da presidenta Dilma Rousseff, em janeiro de 2011. Apesar das boas relações, no entanto, as divergências comerciais persistem, como demonstrou o recente e inesperado cancelamento do Departamento de Defesa de um contrato para a compra de aviões Super Tucano da Embraer.
Diplomacia: Brasil rejeita entrega de armas à oposição síria e intervenção militar
O episódio ofuscou a primeira visita oficial de Dilma como presidente à Casa Branca, no dia 9 de abril. "O tema levará seu tempo, não está sujeito a prazos políticos", disse Jacobson.
Dilma se reuniu três vezes com Obama, e o recebeu em Brasília há um ano. Na ocasião, os dois presidentes decidiram estabelecer um diálogo permanente em temas econômicos, educacionais e diplomáticos.
Petróleo
Os Estados Unidos, que buscam abandonar progressivamente sua dependência petroleira na região de países como Venezuela, têm interesse especial nas perspectivas do Brasil em águas profundas.
Obama, grande partidário das fontes de energia renováveis, não oculta seu interesse pela experiência brasileira em biocombustíveis.
Além disso, o Brasil é uma voz de destaque no grupo de países desenvolvidos e emergentes, embora critique com frequência as políticas monetárias e financeiras de Washington.
Apesar das divergências, Hillary continua comprometida para que a diplomacia brasileira se una aos países que estão aplicando sanções contra Síria ou Irã. "Somos sócios naturais, algo que não era óbvio há cinco anos", assegurou Jacobson.
O Brasil, no entanto, se mantém em um plano discreto quanto à colaboração diplomática e prefere se concentrar nas divergências comerciais.
*Com AFP

O fascismo economico no Brasil: ate quando se trata de fazer bondades

Eu acho incrível como as pessoas "normais" -- com perdão da expressão -- não percebem o quanto o Brasil já descambou para o fascismo econômico.
Mesmo quando as autoridades pretendem fazer bondades -- ilusórias, pois a única coisa que fazem é aliviar um pouco todas as maldades criadas por elas mesmas, e ainda assim obrigando a tantos requerimentos que se trata de uma maldade adicional -- elas submetem os brasileiros empresários a tantas obrigações burocráticas que, na verdade, estão criando um calvário adicional.
Todos esses advogados que escrevem sobre requerimentos tributários -- e que vivem, só existem por causa das dificuldades que existem no inferno chamado Brasil -- não percebem que eles estão submetidos, clientes e intermediários, a um ogro fascista que se chama Receita Federal, e acima deles o Estado em geral, uma entidade dedicada apenas e tão somente a infernizar a vida dos brasileiros, com exigências e tributos.
Há muito tempo que vivemos num Estado fascista, perfeitamente fascista...
Paulo Roberto de Almeida
Insegurança jurídica do conceito de produção nacional para concessão de ex-tarifários
* por Rogério Zarattini Chebabi
Direito Aduaneiro e Comércio Exterior, 17 Mar 2012



Quem presta serviços para obtenção de ex-tarifários conhece bem o conceito de produção nacional, propriamente divulgado no site do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

O conceito remete à obrigatoriedade de o produtor nacional comprovar que o bem por ele produzido, comparativamente com o importado, possui: mesma ou superior qualidade, produtividade e performance, mesmo ou mais baixo consumo de energia e matérias-primas, e igual ou melhor prazo de entrega usual, desempenho e, principalmente, provar fornecimentos anteriores efetuados.

Estes itens formadores do conceito, há anos vinham sendo respeitados.

Todavia, com a publicação na Resolução Camex n. 55/2011, que inseriu a figura do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na composição do Comitê de Análise de Ex-Tarifários (CAEx), tudo mudou.

Temos hoje um prazo duas a três vezes maior para análise dos pedidos no MDIC em virtude do ingresso deste novo órgão. E qual a finalidade deste novo componente? Explico:

O BNDES analisará os bens de capital importados, através de catálogos, propostas de vendas, etc., e os comparará com máquinas que porventura e futuramente alguma empresa nacional possa produzir, com base em pedidos de financiamentos àquele banco, feitos por fabricantes de máquinas.

Notem que eu destaquei que "futuramente alguma empresa nacional possa produzir", ou seja, hoje ainda não existe produção nacional do bem!

Portanto, se algum fabricante nacional de máquinas disser que poderá futuramente produzir um bem parecido com o a ser importado, se correrá o risco de o ex-tarifário não ser concedido. Este absurdo vai totalmente contra as regras do conceito de produção nacional.

Ora, se não se produz o bem ainda no Brasil, não há como se provar fornecimentos anteriores, não há como se provar garantia de performance, desempenho, etc.

Esta nova sistemática de análise além de proteger um "fabricante nacional" que não existe no plano físico mas somente no plano das ideias, não obedece o regramento jurídico que rege a matéria do ex-tarifário.

O MDIC mudou as "regras do jogo" apenas verbalmente, esquecendo de antecipadamente mudar as normas.

O descumprimento à legalidade e anterioridade, aliado à demora nas análises dos pleitos, causam insegurança jurídica e de planejamento aos que pretendem importar bens de capital.

E não se pode esquecer que os importadores de bens de capital, que buscam bens do exterior muitas vezes mais caros do que os inferiores nacionais, são geradores de empregos, exportadores habituais e movimentam a economia.


* Rogério Zarattini Chebabi é advogado e secretário geral da Comissão de Direito Aduaneiro da OAB/SP

Assembleia de Companheiros Novos Ricos: nada como chegar lá...

Nos velhos tempos da brilhantina, no Brasil, um cronista social do Globo, Ibrahim Sued, sabia distinguir muito bem entre os ricos ricos e os ricos arrivistas, ou seja, entre os que eram ricos naturalmente, de berço, digamos assim, e os arrivistas, os oportunistas, os corruptos e os ladrões, ou seja, os que não vinham da noblesse d'epée, mas que se tinham alçado à noblesse de robe pelo dinheiro acumulado (por vezes das maneiras mais heterodoxas, para usar uma expressão neutra).
Pois é, os chineses são mais ou menos a mesma coisa: eles chegaram lá: roubando, corrompendo, trabalhando honestamente (para os capitalistas ou para o partido, não importa muito agora como), eles finalmente ficaram ricos, e podem falar com as grã-finas do Ibrahim Sued: "Queridas, cheguei!".
Assim vai o mundo. Imagino que muitos companheiros que hoje andam frequentando restaurantes caros de Brasília, exibindo carros de luxo e casas de requinte também podem dizer que chegaram. Não importa a forma (ou importa, mas eles não gostam que se diga), o importante é que eles são os novos ricos...


Prada, Hermès y el PC chino

El ingreso per cápita de un chino es hoy el doble que en 2000 pero inferior a Sudáfrica o Perú

Moisés Naím
El País, 17/03/2012

En estos días Forbes publicó, como todos los años, su lista de las personas más ricas del mundo. Por casualidad, esto coincidió con otro evento anual que tenía lugar en las antípodas de la sede de Forbes en Nueva York. Se trata de la reunión de la Asamblea Popular Nacional de China, que es formalmente el órgano supremo del Estado chino y representa el poder legislativo. Sorprendentemente, estos dos hechos están conectados. La lista de los delegados a la Asamblea china incluye a casi todas las personas más ricas de ese país. Y algunas de ellas figuran también en la lista de Forbes.
Con sus 2.987 representantes, la Asamblea china constituye el Parlamento más numeroso del mundo, y sus reuniones en el Gran Palacio del Pueblo, en la legendaria plaza de Tiananmen de Pekín, son siempre noticia. No por las decisiones que allí se toman: este organismo no tiene, en la práctica, poder alguno. Es un ente simbólico. Y su reunión coincide con la de otra institución que también tiene mucho nombre y poco poder: la Conferencia Consultiva Política del Pueblo.
La importancia de estos congresos anuales se debe a que los verdaderos líderes del país utilizan sus discursos para dar a conocer a su pueblo y al mundo sus prioridades y preocupaciones. En esta última reunión, por ejemplo, el primer ministro, Wen Jiabao, señaló que China tiene que emprender reformas urgentes. Reconoció que la desigualdad y la corrupción son problemas críticos y que el crecimiento económico de su país será en adelante más lento que hasta ahora.
La reunión de la Asamblea Popular también ha sido noticia por la elegancia de los representantes. La periodista Louisa Lim destacó, por ejemplo, el traje de la delegada Li Xialin —un Emilio Pucci que cuesta 2.000 dólares— o el bolso Louis Vuitton modelo Alma de 2.500 dólares que llevaba la delegada Cheng Ming Ming. Me parece pertinente informarles que la señora Li es la hija del ex primer ministro Li Peng y que la señora Cheng, quien completaba su cartera de Vuitton con un vistoso abrigo de pieles, es la dueña de uno de las mayores empresas de cosméticos de China.

El patrimonio personal de los 70 delegados más ricos de la Asamblea Popular Nacional de China alcanzó en 2011, según Bloomberg, los 90.000 millones de dólares

No faltaron incluso representantes de ciertas minorías étnicas que combinaban sus atuendos tradicionales con carteras de Burberry de 800 dólares. Inevitablemente, la vibrante y cada vez más audaz comunidad de blogueros chinos ha comenzado a referirse a las reuniones de la Asamblea como “la Semana de la Moda de Pekín”.
La probabilidad de que estos bolsos, trajes o cinturones sean falsificaciones no es muy alta: los delegados a la Asamblea se pueden dar el lujo de comprar los originales. Su opulenta elegancia es la manifestación de su inmensa riqueza. El patrimonio personal de los 70 delegados más ricos de la Asamblea Popular Nacional de China alcanzó en 2011, según Bloomberg, los 90.000 millones de dólares, 11.500 millones de dólares más que en 2010.
Los delegados a la Conferencia Consultiva Política del Pueblo son aún más ricos: el patrimonio personal de cada uno de ellos supera los 1.500 millones de dólares (un 14% más que el año pasado). Para tener idea de las proporciones, basta saber que el ingreso promedio por habitante en China es de tan solo 4.200 dólares al año. A pesar de que el ingreso per cápita es hoy el doble de lo que era en 2000, sigue siendo inferior al de países muy pobres como Sudáfrica o Perú.
La presencia de los súperricos chinos en estos órganos del Estado comenzó con una decisión deliciosamente irónica: hace una década, el secretario del Partido Comunista, Jiang Zemin, abrió a “los capitalistas” de su país la afiliación al partido. Si bien muchos de los ricos se afiliaron, también es cierto que muchos de los miembros del partido se han hecho ricos. “Esta es una situación como la del huevo y la gallina ¿Son políticamente poderosos porque son ricos o son ricos debido a su influencia política?", se pregunta Rupert Hoogewerf, que publica Hurun, una lista anual de los 1.000 chinos más acaudalados.
La revista Forbes y su lista de ricos puede auxiliar al señor Hoogewerf en la búsqueda de la respuesta: al examinar los orígenes de las fortunas más grandes del mundo, se hace evidente que muchas de ellas crecieron al amparo (o más que eso) de los gobiernos. El Estado, y no el mercado, es en muchos países la ruta para obtener riquezas inimaginables. Y, en eso, China no es diferente.

A historia do libanes doido: nem mesmo um crioulo para dar conta...

Hoje em dia, com todo esse politicamente correto solto por ai, já não se pode nem usar a expressão "crioulo", que parece estar em total desconformidade com o que pregam os novos racistas do Apartheid negro antibranco.
Enfim, não importa. Mais complicado do que nossas tribulações com os novos racistas brasileiros é a situação do Líbano, um mosaico de povos, de culturas, de religiões, e de tradições diversas, que não conseguem conviver harmoniosamente, o que torna muito difícil fazer um livro único de história nacional.
A começar que não existe essa coisa de nacional, não, isso seria demais. Existem tribos, clãs, comunidades, cada uma empenhada em preservar seus espaços, negando os dos demais. Daí o gatilho, o fuzil, o canhão, a fortaleza, e as selvagerias cometidas uns contra outros.
Acho que o problema dos manuais de história ainda é o menor de todos...
Paulo Roberto de Almeida 

L'impossible manuel d'histoire unifié

LE MONDE |  • Mis à jour le 
C'est un signe supplémentaire, s'il en fallait encore, de la fracture libanaise. Un livre devient un sujet hautement sensible dans un pays pluriel et meurtri par quinze années de guerre : le manuel d'histoire unifié, qui doit permettre aux élèves d'apprendre un passé commun. Le ministre de l'éducation qui parviendra àintroduire dans les écoles du Liban un texte jugé consensuel passera à la postérité, tant les essais ont jusqu'ici été infructueux.
Lundi 12 mars, le premier ministre, Najib Mikati, a décidé de "retirer du débatpolitique" le programme d'histoire en cours d'élaboration. "Nous avons besoin d'un compromis pour que toutes les communautés approuvent le manuel", explique, pour justifier ce blocage, Albert Chamoun, porte-parole du ministre de l'éducation, qui chapeaute le projet.
La fronde contre la nouvelle tentative de rédaction d'un manuel d'histoire, menée par des ministres du gouvernement dominé par la coalition du Hezbollah, est venue de chrétiens de l'opposition. Parmi les points de discorde sur le projet en cours, "la mention de résistance est exclusivement associée au Hezbollah et à sa lutte contre Israël", regrette Sami Gemayel, à la pointe de la contestation. Or pour le député des Kataëb (droite chrétienne), "d'autres Libanais (chrétiens) ont résisté, contre la présence palestinienne armée ou l'occupation syrienne (1976-2005), et cela devrait apparaître." Le mécontentement de son parti s'est exprimé, samedi 10 mars, par une manifestation de la branche estudiantine, marquée par des violences avec les forces de l'ordre.
Les essais et récits journalistiques abondent pourtant sur la guerre de quinze ans (1975-1990). Elle est aussi au coeur de nombreux romans d'écrivains libanais. Mais son enseignement, prévu en théorie dans les classes de 3e et de terminale, reste le principal point d'achoppement de toute réforme de l'histoire. De quoi disposent aujourd'hui les jeunes Libanais ? D'un programme officiel qui s'arrête en 1943, avec l'indépendance du Liban. Et, pour ceux qui sont scolarisés dans le privé (67 % des élèves en 2007-2008), de manuels proposant du sur-mesure, selon les communautés. Quand ces livres scolaires abordent la guerre, c'est de façon sommaire, en la désignant comme "les événements". La rédaction du manuel d'histoire unifié est prévue par les accords de Taëf (datant de 1989 et censés entériner la fin de la guerre). Mais rien que la terminologie à utiliser pour désigner le conflit - civil ? régional ? par procuration ? - pose un problème.
La tâche des historiens qui s'attellent à ce manuel est d'autant plus difficile que plane, au Liban, une "amnésie collective" autour de la guerre, selon la formule souvent employée par la société civile. Une amnésie nourrie par la loi d'amnistie générale votée en 1991.
Tout aussi délicate à formuler, l'histoire très récente. L'ex-ministre de l'éducation Hassan Mneimneh (2008-2011, membre du parti de Saad Hariri, actuellement dans l'opposition) souhaitait, malgré les réticences de plusieurs de ses collaborateurs, que le programme s'étende jusqu'à 2008. C'est-à-dire qu'il prenne en compte le climat à couteaux tirés entre la coalition du Hezbollah et celle deSaad Hariri. Arrêter l'histoire contemporaine à 2005, date de l'attentat contre Rafic Hariri, a été le choix de la nouvelle équipe, au grand dam de l'opposition, qui voit ainsi disparaître, entre autres, "l'intifada libanaise" contre la mainmise syrienne."On ne peut pas écrire l'histoire alors que nous sommes en train de la vivre", plaide Albert Chamoun.
Les historiens qui ont essayé d'avancer sur le projet depuis 1996 sont souvent très amers. Ils ont assisté aux querelles entre les politiciens associés à la réforme pour faire mention d'un épisode ou en retirer un autre, pour des raisons moins historiques que politiques. Ils ont aussi vu leur travail académique suspendu par les convulsions qui ont secoué le pays, comme ce fut le cas en 2005.
La difficulté à écrire une "mémoire nationale", comme l'espéraient les premiers rédacteurs chargés du manuel (1996-2000), reflète aussi le fait que, comme juge un historien qui fut associé à son élaboration, les Libanais se définissent "avant tout comme famille, clan, communauté. Et chaque communauté élabore sa propre identité""Chacun préfère croire, et faire croire, que c'est l'autre qui a provoqué le conflit", témoigne la directrice d'une école publique du Liban-Sud pour expliquer le "tabou" autour de la guerre. Tels sont bien les enjeux posés par le manuel d'histoire unifié : peut-on écrire un passé commun sans un véritable processus de réconciliation ? Comment dépasser les clivages et rendre la parole, monopolisée par les politiques, aux historiens et aux faits ?
stephanlaure@gmail.com

Eleicoes na nova Russia putinesca: ate Gogol se remexeria...

Já tinha lido esta cronica do estrangeiro no Le Monde impresso, e tinha ficado com vontade de postá-la. Felizmente, a internet tem dessas surpresas: como temia o chefe Abraracourcix -- quem já leu Asterix sabe do que estou falando -- as coisas caem literalmente sobre a cabeça da gente.
Pois me caiu, e apresso-me a postar.
A crônica de como se fraudam eleições na Rússia de hoje, uma de nossas aliadas no Brics, a mesma, aliás, que anda ajudando Bachar Al-Assad a massacrar o seu próprio povo.
Como o Brasil também tem pruridos soberanistas, acaba embarcando na mesma canoa.
Maravilha. Não imaginava ver o Brasil alinha a ditaduras, mas tudo é possível quando a alma não é pequena, e pode abrigar mesmo os mais sórdidos sentimentos...
Paulo Roberto de Almeida 

"Les Ames mortes" revisitées

LE MONDE | 
Nikolaï Gogol pourrait se retourner dans sa tombe si ce n'était déjà fait, comme l'affirment les guides qui font visiter sa sépulture au cimetière de Novodievitchi. Un bon siècle et demi après Les Ames mortes, la Russie reste fidèle à l'esprit de Gogol avec la création de bureaux de vote "fantômes", lors de l'élection présidentielle du 4 mars, remportée par Vladimir Poutine avec 63,6 % des voix.
Le jour du scrutin, 24 bureaux de vote "provisoires" ont surgi à Moscou, 70 à Saint-Pétersbourg. "Ces bureaux ne figuraient pas dans le registre de la commission électorale de Moscou, les observateurs les ont découverts par hasard", écrit le quotidien des affaires Vedomosti dans son édition du mardi 13 mars.
Les locaux étaient fantômes, mais pas les résultats publiés par la commission électorale centrale (TsIK). Ils apparaissent très favorables au candidat Poutine, qui y a recueilli jusqu'à 90 % des voix. Dmitri Chtchedrine, observateur dans le petit bourg de Mosrentguen (sud-ouest de Moscou), a trouvé incidemment le bureau fantôme n° 3377 au marché du bricolage. La photo de ce local est visible sur le blog de Vladislav Naganov (http://naganoff.livejournal.com/47629.html).
Explication des autorités : comme le bureau de vote voisin, situé dans une maternité, ne savait que faire de ses électeurs, il a bien fallu en ouvrir un autre... sur le marché, désert en ce dimanche d'élection. "Personne n'y a jamais vu un électeur mais, selon les résultats, la participation était élevée et 87 % des pseudo-votants ont donné leur voix à Vladimir Poutine", rapporte l'hebdomadaire New Times.
Autre subtilité : le vote sur le lieu de l'entreprise, garanti sans observateurs. Hôpitaux, maternités, instituts, casernes, usines ont affiché un taux de participation hors norme (90 %, contre 65,39 % au niveau national). Là encore, le favori des urnes était Vladimir Poutine, avec en moyenne 70 % à 90 % des suffrages.
Autre technologie : les listes complémentaires. Selon la loi, l'électeur qui n'a puobtenir une procuration pour voter en dehors de son bureau d'origine peut s'inscrire sur une liste complémentaire jusqu'à trois jours avant la date du scrutin. Ces listes servent ensuite au "vote en groupe", quand le personnel d'une même entreprise, sous la conduite du contremaître, du brigadier ou du chef d'atelier, vientaccomplir son devoir d'un seul homme dans le même bureau de vote.
Ces listes complémentaires, impossibles à vérifier, ont décontenancé les observateurs. Konstantin Belov, observateur au bureau n° 1359 de Lioublino (sud-est de Moscou), rapporte que, au soir du 3 mars, la liste des électeurs tenait dans trois registres. Le 4 mars au matin, jour du vote, "il y avait un registre de plus". Konstantin Belov a remarqué qu'un groupe venu voter était composé d'ouvriers et d'employés des services communaux municipaux "dépourvus de passeports russes".
Constituées par les représentants de la municipalité dans les quartiers, les listes étaient assez insolites. Tantôt les entreprises mentionnées n'existaient pas, tantôt les électeurs étaient virtuels. Une semaine avant le scrutin, Mikhaïl, 42 ans, commerçant moscovite, avait dû transmettre les données (noms, prénoms, numéros de passeports) de dix personnes de son entourage, plus les siennes propres, au représentant de la municipalité dans son quartier. Ces personnes ne se sont pas déplacées pour voter, on l'a fait à leur place.
Autre nouveauté, les urnes mobiles ont battu un record avec 6,1 millions de votes à domicile, contre 4,5 millions aux législatives du 4 décembre. C'est bien connu, il y a en mars beaucoup plus de malades qu'en décembre. Là encore, la procédure était douteuse : "Dans plusieurs circonscriptions, 200 votes ont été recueillis en deux heures, c'est infaisable", explique Grigori Melkoniants, de l'ONG Golos spécialisée dans la surveillance du processus électoral. D'après les observateurs, Vladimir Poutine a recueilli 10 % à 16 % de voix en plus grâce à la fraude.
"L'art de la fraude s'est perfectionné entre les législatives du 4 décembre 2011 et la présidentielle du 4 mars 2012. Le 4 décembre, nous avions recensé beaucoup de bourrages d'urnes et la réécriture des bordereaux de décompte des voix, ce qui a suscité le mouvement de protestation que l'on sait. Pour la présidentielle, ces procédés ont perduré là où il n'y avait pas d'observateurs. A Moscou et à Saint-Pétersbourg, où ils étaient fort nombreux, la fraude a pris d'autres formes, moins détectables", constate le jeune homme.

Juizes cocaleros: sentencias al masticar, ao que parece...

Impagável esta crônica da irrealidade cotidiana na Bolívia, um bom caso para os casos de kitsch institucional, ou de surrealismo governamental, muito frequentes de serem encontrados em certos hermanos bolivarianos.
O autor da crônica poderia mencionar também que a Constituição boliviana reconhece mais de trinta línguas como oficiais, ao lado do espanhol, e igualmente válidas.
Mais um pouco e eles se aproximam da histeria de traduções e interpretações simultâneas da União Europeia, onde todos e cada um têm direito legítimo, e plenamente exercido de falar a sua própria língua.
Fico imaginando se deputados catalães, galegos, bascos, provençais, bretões, lapões, etc, não formularem também o desejo de se expressar nessas línguas regionais.
Vamos chegar perto da Bolívia, talvez...



A Justiça da coca na Bolívia

MAC MARGOLIS 
O Estado de S.Paulo, 18 de março de 2012 | 3h 06
Que a coca seja uma planta de propriedades possantes, ninguém duvida. Mastigada, a folha dessa árvore baixinha - uma dádiva da Pachamama, o nome indígena aimará para a Mãe-Terra - há milênios ajuda a espantar a fome e a fadiga. Triturada e composta com a química certa, produz cocaína. Agora, graças ao candor de um graduado juiz boliviano, ficamos sabendo que a coca também serve como acessório de jurisprudência.
Esta semana, Gualberto Cusi, magistrado da Corte Constitucional, revelou a uma emissora de televisão de seu país como resolve casos difíceis. "Quando o caso é complexo, jogo um punhado de folhas de coca em uma manta", explica. Dependendo de como elas caem, revela-se o veredicto. "Na coca, sai!", disse.
Não foi piada. O depoimento de Cusi causou celeuma nacional, incluindo colegas dos tribunais. "Absolutamente todos os magistrados, entre eles o doutor Gualberto Cusi, devem seguir estritamente a Constituição e a regra jurídica aplicável na resolução das causas", reagiu Ruddy Flores, presidente do Tribunal Constitucional. A oposição política clamou pela renúncia de Cusi enquanto Jaime Navarro, do Partido Unidade Nacional, lamentou que a "Justiça está nas mãos da coca".
Mas, na Bolívia, a doutrina é outra. A Bolívia não é mais uma república unificada. É um "Estado plurinacional". A distinção parece pequena, mas no fundo significa que há nações distintas dentro do território boliviano. Todas elas informam e pautam as regras da vida nacional. Assim, na reforma judicial de 2009, mudou-se o sistema de selecionar juízes.
Hoje, as vagas nos diversos tribunais são preenchidas com juízes eleitos pelo voto direto, entre eles a Corte Constitucional, que tem como missão interpretar as leis máximas do país. Portanto, o doutor Gualberto Cusi, não é doutor, muito menos juiz. E nem precisa ser. É um líder comunitário, de origem aimará, diplomado por sua popularidade entre a maioria indígena, com uma forcinha da Mãe-Terra.
Cusi leva seu mandato a sério. O mais votado do pleito, brigou para ser indicado presidente do tribunal. Agora briga para justificar o injustificável. Surpreendido com a tempestade que criou, ensaiou um desmentido, dizendo que o tema não deve ter "essa transcendência". Mas não se retratou.
"A coca não é uma simples planta. Para nós, os aimarás, é um símbolo de resistência à opressão, contra o imperialismo", disse. "Por meio da coca nos comunicamos com a Pachamama."
Assim, admite consultar a coca "não para decidir uma sentença" senão para saber "se estamos sendo justos, corretos e definitivamente guiar-nos pelo caminho harmonioso e de paz social". De quebra, atribuiu a reação às suas declarações ao preconceito "da gravata contra o poncho".
Quando Evo Morales assumiu o poder em 2006, prometeu a refundar o país para expurgar séculos de injustiça social, convidando a maioria pobre e indígena a ocupar o poder. Sócio do socialismo do século 21, seguiu a cartilha do venezuelano Hugo Chávez.
Com sua maioria no Congresso e o estilo rolo compressor (a multidão governista barrou a entrada da oposição na assembleia) refez a Constituição. A Constituinte reinventou a Justiça, um sistema que Evo Morales alegou ser comprometido pelo compadrio elitista.
Teve certa dose de razão. Antes, os magistrados, embora diplomados, eram escolhidos pelo Congresso, deixando a Justiça vulnerável à agenda política partidária. O presidente Evo conseguiu piorá-la, abrindo caminho para a crendice togada.
Esta semana, em uma conferência em Viena, enquanto Gualberto Cusi se explicava aos compatriotas, o presidente Evo Morales fez apaixonada defesa da coca como patrimônio nacional da Bolívia. Ele ainda exortou seus magistrados a cumprir "o grande desafio" de "exportar a Justiça boliviana". Haja folha.

sábado, 17 de março de 2012

Fascismo econômico no Brasil: o longo braço da Receita...


STF julga tributação de controladas

Em uma última estratégia, o setor empresarial tenta uma reviravolta no julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de uma das causas de maior valor no Judiciário brasileiro: a cobrança de Imposto de Renda (IR) e CSLL das controladas e coligadas no exterior, mesmo quando não há distribuição de lucro aos acionistas no Brasil. A disputa, que pode voltar hoje à pauta do Supremo, envolve pelo menos R$ 38,6 bilhões, segundo levantamento do Valor a partir do balanço de nove companhias. No mercado, porém, fala-se que a cifra poderia chegar a R$ 56 bilhões, incluindo outras empresas afetadas. Somente a Vale discute o tema em processos que somam R$ 30,5 bilhões.

O roubo da borracha amazonica: um livro interessante, uma resenha menos interessante

Minhas poucas observações a esta resenha de um livro interessante.
O resenhista diz que:  
"Um século depois de a Inglaterra quebrar o monopólio brasileiro da borracha, a região ainda se debate na tentativa de se reerguer. Wickham não poderia tê-lo calculado, mas seu ato condenaria ao atraso uma das mais exuberantes regiões do planeta."
Região exuberante, o que de fato a Amazônia é, sempre foi e parece que vai continuar sendo, não quer dizer rica. Outras regiões tão ou mais exuberantes podem ser ricas, pobres, remediadas, ascendentes, declinantes, tudo depende de riquezas produzidas pelas mãos dos homens, uma vez que a natureza apenas provê determinadas riquezas naturais, mas seu aproveitamento depende do valor que os homens acrescentam para que elas tenham valor de mercado. Ponto um.
Por acaso, o desenvolvimento científico e tecnológico de meados do século XIX, feito inteiramente fora do Brasil, descobriu como "domar" a goma da hevea brasiliensis, pela adjunção de determinados produtos químicos que facilitavam sua transformação industrial e utilização numa gama variada de produtos correntes. Ponto dois.
O Brasil, por acaso, tinha imensa disponibilidade da goma natural, absolutamente irrelevante em termos econômicos para a economia brasileira, a não ser um aproveitamento muito rústico, precário, limitado, na própria economia local, e nada mais do que isso. Ponto três.
O Brasil passou a fornecer a matéria prima aos industriais estrangeiros, por meio de uma rede semi-escravocrata -- como foi sempre a vocação das elites brasileiras -- de colhedores na floresta, os seringueiros, que buscavam as árvores em situação dispersa na floresta virgem, espalhadas por kms de áreas inóspitas. Uns bravos, portanto, mas tendo de trabalhar nas condições primitivas que os patrões impunham, sem qualquer investimento, sem qualquer organização, sem qualquer cuidado com a elevação da produtividade, que significaria, justamente agrupar as árvores para facilitar a coleta, e assim aumentar a produção nas melhores condições possíveis. Ponto quatro.
Quem lucrava de fato eram os intermediários, comerciantes exportadores e, depois, os industriais do setor. Os trabalhadores-escravos da floresta ficavam com uma parte ínfima de todo o processo. Enfim, nada de muito diferente do que já tinha acontecido com outras culturas no Brasil, justamente como, na mesma época, o café. O Brasil tinha (e tem) condições ótimas para produzir café. Começou "roubando", ou "importando" como iniciativa individual, as sementes de café do norte da América do Sul, exatamente como fez o inglês, de forma ainda mais clandestina, com as sementes de hevea. Ou seja, biopirataria todo mundo pratica, se é para empregar uma palavra do momento. E o que faziam os plantadores de café? Beneficiamento mínimo, carregando café não selecionado em sacas ainda com gravetos, paus e pedras, talvez deliberadamente, para aumentar o peso e ganhar mais, mesmo de forma fraudulenta. Parece incrível, mas exportávamos café já desde um século, no auge do boom da borracha, mas nunca nos preocupamos em elevar a qualidade do produto, como os colombianos o fizeram depois. Éramos rústicos, ficamos rústicos. Ponto cinco.
E porque o "ato [do inglês] conden[ou] ao atraso uma das mais exuberantes regiões do planeta"???
Puro non sense: a Amazônia sempre foi atrasada, desde tempos imemoriais, e só se tornou rica, por um brevíssimo período, quando ela foi "internacionalizada", justamente, quando as exportações da borracha criaram uma riqueza fugaz, aliás muito mal aproveitada. Fizeram alguns prédios suntuosos, criaram-se grandes riquezas individuais, mais dos intermediários do que os produtores diretos, mas não se investiu nada, absolutamente nada, na racionalização da produção. Vão agora acusar os ingleses de terem causado o atraso da Amazônia pelo fato de nós, brasileiros, não termos tido a preocupação de rentabilizar uma produção que continuou e continua importante? Ponto seis.
Vão novamente acender a vela do patriotismo ofendido, a paranóia embutida e a xenofobia explícita, por termos fracassado no empreendimento?
Quando vão "internacionalizar" a Amazônia novamente?
Os tupiniquins protecionistas, que estão dificultando a exploração dos recursos da floresta, são os mesmos que a condenam ao atraso.
Só internacionalizando a Amazônia, no bom sentido da palavra, ela vai deixar de ser atrasada, e se integrar novamente aos circuitos da economia mundial.
Zona Franca é apenas um convite à fraude e à evasão fiscal, uma aberração brasileira, como tantas outras.
Por que é que ainda me preocupo com nossas bobagens econômicas?
Paulo Roberto de Almeida 

Quem roubou a borracha brasileira
Veja, 14/03/2012 às 14:00 Livros & Filmes

Vejam a foto, leiam o texto: este bigodudo foi quem roubou a borracha brasileira — e acabou com a fabulosa prosperidade da Amazônia no século XIX

Henry-Wickham-pirata-amazonicoVILÃO E HERÓI -- O aventureiro ingles Wickham, o Cavaleiro britânico que levou a Amazônia à falência (Foto: Dedoc)

O PIRATA AMAZÔNICO
Um jornalista americano narra as aventuras e desventuras do inglês que traficou para seu país sementes de seringueira e pôs fim ao ciclo da borracha no Brasil.

Capa: O ladrão no fim do mundoCapa de "O Ladrão no Fim do Mundo"
Era início da estação seca de 1876. O chamado verão amazônico, quando o transatlântico SS Amazonas fundeou em uma enseada de águas turquesa no Rio Tapajós, em frente à Vila de Boim, no Pará.
O vapor da companhia inglesa Inman Line ancorou em uma área remota da selva. Sem porto, para receber uma carga secreta. Foram embarcadas em centenas de cestos de palha 70.000 sementes de Hevea brasiliensis, a seringueira.
A operação em um vilarejo escondido na floresta foi coordenada pelo inglês Henry Wickham (1846-1928) – um aventureiro que, depois de mais de uma década de desditas pela Amazônia, foi contratado pela Coroa para traficar as sementes do Brasil.
Essa história é contada em O Ladrão no Fim do Mundo (tradução de Saulo Adriano; Objetiva; 458 páginas; 49,90 reais), do jornalista americano Joe Jackson. O livro descreve como o sonho de Wickham de imitar os grandes exploradores foi usado para perpetrar a mais bem-sucedida e a mais danosa ação de biopirataria já registrada em solo brasileiro.
O roubo de Wickham viria a encerrar uma fase próspera da economia do Norte brasileiro, o chamado ciclo da borracha. No momento em que ele surripiou as sementes, o Brasil respondia por 95% da produção global de látex, matéria-prima da borracha, e as metrópoles amazônicas do fim do século XIX, Belém e Manaus, viviam sua belle époque.
Desenho de Wickham, de uma folha de seringueiraUma folha de seringueira, conforme desenho de Wickham (Imagem: Dedoc / Editora Abril)
Da riqueza à decadência
Em 1896, a capital do Amazonas se tornou a segunda cidade brasileira a possuir uma rede pública de iluminação elétrica. No mesmo ano,  começaram a circular pelas ruas os primeiros bondes elétricos.
Em 1878, os belenenses inauguravam o Teatro da Paz. Dezoito anos depois, Manaus ganhava o Teatro Amazonas. As duas casas se transformaram nos símbolos do fausto em que viviam os amazônidas. Companhias europeias de ópera desconhecidas dos cariocas e paulistas se apresentavam nos palcos da floresta.
Mas as sementes roubadas por Wickham e levadas para o Jardim Botânico de Londres germinaram. Transportadas para as paragens tropicais abrangidas pelo império britânico – o Ceilão (atual Sri Lanka) e a Malásia -, as plantas vingaram, e 2.000 mudas deram origem ao primeiro seringal fora dos limites da inóspita Floresta Amazônica.
Silenciosamente, dava-se início ao fim da riqueza do vale amazônico.

Wickham recebeu 700 libras pelo trabalho (em valores atualizados, cerca de 158.000 reais).
Restariam ao Brasil mais trinta anos de domínio do mercado da borracha: foi esse o tempo necessário para que as árvores atingissem a maturidade no Extremo Oriente. Ultrapassado esse período de maturação. O látex produzido de forma intensiva nos seringais ingleses invadiu o mercado.
Mais barata que a borracha “selvagem” produzida à base da seiva extraída de árvores nativas espalhadas pela floresta, a produção intensiva dos ingleses arruinou a economia gomífera brasileira. A debacle da Amazônia foi rápida. Em 1928, a região atendia a apenas 2,3% do consumo mundial. Os investimentos e as empresas seringalistas se mudaram para a Ásia, e o desemprego tomou conta das cidades antes prósperas.
Responsável pela ascensão da indústria da borracha, Wickham chegou à velhice no esquecimento. Tentou encontrar a riqueza na Inglaterra e na Papua-Nova Guiné, mas se afundou em dívidas ao apostar em empreendimentos fracassados.
Viveu amargurado pela falta de reconhecimento por seu feito. Somente em 1911, aos 65 anos, ganhou da Associação Inglesa dos Plantadores de Borracha 1.000 libras como prêmio. Também naquele ano, viajou para o Ceilão, onde viu a plantação de seringueiras resultante de seu roubo.
seringais-do-ceilao-wickhamWickham e uma das seringueiras resultante de seu roubo das sementes brasileiras (Foto: Dedoc / Editora Abril)
Morreu pobre, e, então, a Amazônia já estava mergulhada na miséria
Na fotografia acima, Wickham aparece apoiado em uma das árvores que brotaram de “suas sementes”.
O gigante de quase 30 metros de altura produziu 168 quilos de borracha entre 1909 e 1913. 

O reconhecimento oficial só veio aos 74 anos, quando Wickham recebeu o título de Cavaleiro do Império Britânico.
No ano de sua morte, em 1928, ele era um homem pobre, e a Amazônia já se encontrava mergulhada na miséria.
Hoje. Um século depois de a Inglaterra quebrar o monopólio brasileiro da borracha, a região ainda se debate na tentativa de se reerguer. Wickham não poderia tê-lo calculado, mas seu ato condenaria ao atraso uma das mais exuberantes regiões do planeta.
(Resenha de Leonardo Coutinho publicada na edição impressa de VEJA)

Economia brasileira: discursos grandiosos, resultados mediocres - Editorial Estadao

Sem comentários, absolutamente dispensáveis...
Paulo Roberto de Almeida 

O Brasil ficou mal na foto

Editorial Estado de S.Paulo16 de março de 2012

O governo brasileiro exibe um estranho troféu quando compara o pífio desempenho econômico do País em 2011 com o do resto do mundo e ainda tenta contar vantagem. No ano passado, o crescimento da economia brasileira foi menor que o do Grupo dos 20 (G-20), sua inflação foi maior e seu investimento continuou muito abaixo do necessário para uma expansão segura e continuada. No entanto, a presidente Dilma Rousseff aproveitou uma viagem à Alemanha para reclamar da política do Banco Central Europeu e recomendar mais investimentos públicos - como se o seu governo estivesse aplicando montanhas de recursos em estradas, portos, centrais elétricas e outras obras.
As bravatas da presidente e de seus principais ministros ficam ainda mais ostensivas - e indefensáveis - quando se examinam os dados sobre o desempenho do G-20 divulgados nesta semana pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
No ano passado, as economias do G-20, as maiores do mundo, cresceram em média 2,8%, pouco mais que a brasileira (2,7%). Aquela média foi obviamente elevada pelo excelente desempenho da China (9,2%) e da Índia (7,3%), mas isso explica só em parte o resultado geral melhor que o do Brasil. Pelo menos uma economia da zona do euro cresceu mais que a brasileira. Foi a alemã, com expansão de 3%. Também exibiram crescimento maior que o do Brasil a Indonésia (6,5%), a Coreia (3,6%), o México (3,9%), a Arábia Saudita (6,8%) e a África do Sul (3,1%). O resultado final da Turquia, também membro do grupo, ainda não foi publicado, mas no terceiro trimestre seu Produto Interno Bruto (PIB) foi 8,5% maior que o de igual período do ano anterior.
A OCDE publicou também outros indicadores de desempenho dos países-membros do G-20. A inflação média em 2011 chegou a 6,6% no Brasil. Só três países tiveram desempenho pior nesse quesito: Argentina, com taxa oficial de 9,5% e taxa real provavelmente acima de 20%, Índia (8,9%) e Rússia (8,4%). Em todos os demais, incluídos alguns com crescimento acelerado, os preços aumentaram menos intensamente - 5,4% na China e na Indonésia, por exemplo. Na Alemanha, a alta de preços ficou em 2,3%, taxa muito maior que a de 2010, mas sem risco de descontrole.
O levantamento da OCDE inclui também a expansão dos investimentos produtivos, isto é, da formação bruta de capital fixo. Isso engloba os valores aplicados em máquinas, equipamentos, construções de fábricas, de moradias e de outros edifícios e, naturalmente, em obras de infraestrutura. O desempenho do Brasil foi ruim também sob esse aspecto. No ano passado, o total investido pelo setor público e pelo setor privado brasileiros foi 4,7% maior que em 2010. O governo apresentou esse resultado como altamente positivo, embora o investimento ainda tenha correspondido a 19,3% do PIB, proporção muito inferior à observada em outras economias.
O contraste é indisfarçável. No ano passado, o investimento aumentou 7,2% na Austrália, 6,9% no Canadá, 6,4% na Alemanha (a presidente Dilma Rousseff não devia saber disso), 8,8% na Indonésia e 5,7% na Holanda, mas esses números mostram apenas uma parte do quadro. Se a comparação envolvesse também as taxas de investimento, isto é, a porcentagem do PIB correspondente à formação de capital fixo, a desvantagem brasileira seria bem mais ostensiva.
O baixo nível de investimento limita fortemente as possibilidades brasileiras de expansão econômica. O investimento do setor público depende principalmente da Petrobrás. O desempenho das outras estatais é, no melhor dos casos, medíocre. Os programas e projetos inscritos no Orçamento-Geral da União e financiados diretamente pelo Tesouro são executados muito lentamente. Apesar disso, a tributação brasileira é muito mais pesada que a dos outros emergentes e de boa parte dos países desenvolvidos. Essa é uma das limitações ao investimento privado. Mas é muito mais simples, para as autoridades federais, protestar contra a expansão monetária na Europa e nos Estados Unidos e atribuir aos outros os males do Brasil. Governar seriamente dá um trabalho terrível.

'A margem de um relatorio da Unasul

Com base em relato a propósito da mais recente reunião da Unasul, ocorrida em Assunção em 17 de março de 2012, ficamos sabendo que os chanceleres examinaram o estabelecimento do Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde (ISAGS).
Se considerarmos que já existe a OPAS, com sede em Washington, chegamos à conclusão que os sul-americanos pretendem duplicar, em grande medida, o trabalho da OPAS, o que inevitavelmente vai resultar em gastos administrativos -- ou seja, com atividades-meio -- antes que se possa pensar em gastos com atividades-fim, ou seja, com a saúde dos sul-americanos. Como o Instituto é de Governo, são os governos, ou seja, todos nós, que vão pagar pelos novos gastos. 
Seria interessante se não fosse preocupante essa mania sul-americana -- e portanto brasileira também -- de sair por aí criando novas instituições, todas elas exigindo novos gastos, quando existem instituições que funcionam nos mesmos setores designados. A menos que seja, claro, para escapar dos braços de ferro do império, que deve subordinar os gastos com saúde feitos a partir de sua capital aos seus desígnios estratégicos, sempre suspeitos, por definição.
A mesma informação diz que o intercâmbio comercial entre os membros da Unasul quadruplicou na última década, elevando-se de US$ 19 bilhões para US$ 76 bilhões. Ora, se a Unasul só existe desde dois anos, não se pode atribuir esse aumento a qualquer ação, iniciativa, promoção da dita entidade, não é mesmo? Esse tipo de amálgama soa incongruente, de fato ilógico, já que o comércio existe por ele mesmo, independente de ser dos países membros.
Ao mesmo tempo, se sabe que o Brasil exportou para a América do Sul um total de US$ 45 bilhões, e importou US$ 31 bilhões, o que deixa um saldo positivo de US$ 14 bilhões; pode-se talvez perguntar a opinião dos demais países membros sobre esse "desequilíbrio".
Será que os demais membros vão exigir compensações, como o Brasil acaba de fazer com o México, por exemplo?
Não precisa responder...
Paulo Roberto de Almeida