O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 27 de março de 2012

Argentina perde SGP dos EUA: as consequencias sempre veem depois...

Parece que aprendizes de feiticeiro, ou de shaman, estão no comando da Argentina.
Ou talvez a turma dos trapalhões...
Quem sabe até a patota do Chapolin Colorado?
Paulo Roberto de Almeida

US drops trade preferences for Argentina
BUENOS AIRES, Argentina (AP) — The United States dropped Argentina on Monday from its system of trade preferences, citing the South American country's failure to pay court-ordered damages of $300 million plus interest to two U.S. companies.
Until Argentina pays up, the country no longer qualifies under a U.S. trade preferences law that enabled $477 million in Argentine goods to enter the United States duty-free last year, U.S. Trade Representative Ron Kirk said.
Nearly all the world's countries get the U.S. preferences, which as of Monday apply as well to the Republic of South Sudan, Kirk announced. That leaves Argentina in the company of Syria, Belarus and the rest of Sudan as the only countries not eligible, the U.S. Trade Office said.
President Barack Obama notified Congress of the move in a note that accused Argentina of "not acting in good faith."
The trade preference system was created in 1974 to promote developing countries, and now enables nearly 5,000 kinds of products to enter the U.S. market free of import taxes, saving their producers a total of $18.5 billion worldwide.
Obama announced the move only two days after the Argentine Embassy in Washington had sponsored a Cabinet-level mission to promote U.S. trade and investment. It's the second critical announcement from Washington this month; the U.S. government also included Argentina among countries most affected by money laundering.
Argentina hasn't paid the debt because it's desperate to stop capital flight after eating up $10 billion of its reserves last year. Having to say goodbye to more than $300 million in one blow would be psychologically damaging. But refusing to comply could have a boomerang effect, said economist Milagros Gismondi of Orlando J. Ferreres y Asociados in Buenos Aires.
"Capital flight remains very strong in Argentina," she said. "But in economics you have to really understand the consequences. The economy is a dynamic thing, not static. This could slow exports and by the end of the year have many more negative consequences than positives."
Opposition congressman Julian Obligio of the PRO party was withering in his criticism.
"The bureaucrats of this government don't understand how global commerce works, and apply measures whose failures have been proven by history," he said. "If the government continues down this road, by year's end the Argentines will be poorer and farther than ever from the quality of life our neighbors enjoy."
But Argentina's Foreign Ministry sought to blame the companies involved, Azurix and Blue Ridge, for failing to accept Argentina's terms for paying the bills. The government has not publicly explained exactly what those terms are.
"Argentina laments this attempt to obligate our country to take a decision that violates our laws," the ministry said.
According to a report in Argentina's daily La Nacion, Argentina sought to force the U.S. companies to collect their payments within Argentina, where they would be forced to comply with strict currency control rules, and under terms similar to those accepted by hedge funds who knuckled under in 2005 and 2010 and accepted 70 percent cuts in what they had hoped to get from Argentine bonds.
Associated Press Writer Luis Alonso Lugo in Washington contributed to this report.


Brics: promessas prometedoras: a ver no que vai dar...


Segundo comunicado sob responsabilidade do Brasil, a próxima cúpula dos Brics deverá tratar de questões altamente relevantes para a governança mundial: 
"...crescimento econômico, a paz e a segurança internacionais, o desenvolvimento sustentável, os desafios à urbanização e à biodiversidade, bem como o aperfeiçoamento dos mecanismos de governança global..."
Parece ambicioso, quase como uma cúpula do G7, dos velhos tempos, ou do G8 dos novos tempos, sendo que o único país com os pés nos dois fóruns é a Rússia. Meus parabéns, ele deve estar mais preparada que os outros para oferecer soluções criativas a todas essas questões, altamente complexas.
Vamos esperar para ver o que resulta dessa cúpula em termos de realizações concretas.
Enfim, a maior parte das questões pode ser objeto de declarações de boa vontade, como sempre ocorre nessas ocasiões, e depois ficaremos esperando para ver os resultados.
Mas, uma coisa parece preocupante, num plano puramente monetário e financeiro: 
"...deverá ser assinado novo acordo-quadro entre os bancos de desenvolvimento do BRICS para facilitar a implementação das trocas comerciais em moedas locais."
Bancos de desenvolvimento não são exatamente agentes monetários, e sim instituições de fomento, ou seja, podem financiar determinadas operações, com as garantias adequadas, e uma aferição realista de seu custo, e da moeda de conversão, ou seja, o equivalente bilateral da liquidação dos pagamentos pelas operações financiadas.
Como NENHUMA das moedas dos Brics é atualmente conversível, o que se supõe é que ou esses bancos de desenvolvimento, ou os respectivos bancos centrais vão passar a deter reservas nas moedas de cada um. Como será feito o câmbio, qual o valor de referência, quem assume os riscos da paridade cambial, como será feita essa contabilidade? Enfim, será que vale a pena para a pequena parte de comércio que será assim veiculada?
São questões que devem ser respondidas antes de concordar seja com o Banco do Sul, seja com o comércio em moedas locais.
Os cinco países possuem o mesmo preconceito contra o dólar que parece existir em certos horizontes mentais próximos de nós?
Pronto saberemos a resposta...
Paulo Roberto de Almeida 

IV Cúpula do BRICS - Nova Delhi, 28 e 29 de março de 2012

A Presidenta Dilma Rousseff participará, em Nova Delhi, da IV Cúpula do BRICS, dias 28 e 29 de março, juntamente com o Primeiro-Ministro da Índia, Manmohan Singh; o Presidente da África do Sul, Jacob Zuma; o Presidente da China, Hu Jintao, e o Presidente da Rússia, Dmitri Medvedev.
A Cúpula, intitulada “Parceria do BRICS para Estabilidade Global, Segurança e Prosperidade”, debaterá o crescimento econômico, a paz e a segurança internacionais, o desenvolvimento sustentável, os desafios à urbanização e à biodiversidade, bem como o aperfeiçoamento dos mecanismos de governança global, com o objetivo de adequá-los à nova realidade política e econômica e de ampliar a representatividade e a legitimidade das atuais instituições.
O encontro favorecerá o debate sobre mecanismo de financiamento a projetos de infra-estrutura, não apenas em países do grupo, mas também em outros países emergentes e em desenvolvimento, com a possibilidade de designação de mecanismo para estudar a criação de um Banco Sul-Sul, liderado pelo BRICS.
No dia 28 de março, os Ministros do Comércio e de Relações Exteriores examinarão o estado global da economia e as oportunidades de comércio e investimento intra-BRICS, além das negociações da Rodada Doha da OMC. Em seguimento ao acordo firmado em 2011, deverá ser assinado novo acordo-quadro entre os bancos de desenvolvimento do BRICS para facilitar a implementação das trocas comerciais em moedas locais. Será lançado o “Relatório BRICS: um Estudo do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul com foco nas Sinergias e Complementariedades”.
O comércio intra-BRICS alcançou US$ 212 bilhões, em 2010, e a estimativa é de que tenha superado US$ 250 bilhões em 2011. A título de comparação, em 2002, o volume de comércio entre os membros do agrupamento montava apenas a cerca de US$ 27 bilhões. Há estimativas de que possa chegar a mais de US$ 500 bilhões até 2015. Já o comércio Brasil-BRICS passou de US$ 10 bilhões em 2003 para US$ 96 bilhões em 2011.
Em 2012, o FMI estima que o BRICS contribuirá com 56% do crescimento do PIB mundial. O BRICS ocupa cerca de 26% da área terrestre do planeta, abriga 41% da população mundial e detém 46% de força de trabalho global.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Dinheiro vivo parece ser mais seguro...

Havia um tempo, muito tempo atras, em que dinheiro no Banco era mais seguro. Sobretudo com bandidos correndo soltos por aí.
Estranho que um dirigente de um Fundo de Pensão, e outro do Banco do Brasil, não acreditem na segurança que podem dar um banco...
Vai ver eles o conhecem por dentro, e temem uma quebradeira, sei lá.
O que a Receita, esse órgão fascista por excelência, teria a dizer a respeito?
Nós, que somos trouxas, deixamos o dinheiro no banco.
Não sabemos o perigo que corremos...
Paulo Roberto de Almeida

Presidente da Previ compra casa com dinheiro vivo 

Por Andreza Matais, na Folha (15/03/2012)
O presidente da Previ, Ricardo Flores, usou R$ 190 mil em dinheiro vivo para comprar uma casa em Brasília em 2010. Flores afirma que tomou o dinheiro emprestado de um empresário conhecido, que negou a informação.  (…)
[Flores] comprou a casa de uma dentista por R$ 1,65 milhão. Na semana passada, Flores disse à Folha que pagou R$ 900 mil com um empréstimo da Previ e R$ 750 mil com recursos “disponíveis”. Flores ganha R$ 50 mil brutos por mês. A dentista Angela Françolin disse que parte do pagamento foi feito em espécie. “Fui um dia, à tarde, buscar na imobiliária. O dinheiro estava num envelope pardo.”
(…)
Segundo documentos que Flores exibiu à Folha, o empresário [que emprestou o dinheiro] é Jorge Ferreira, dono de restaurantes em Brasília e amigo de políticos do PT. 
Ferreira disse conhecer Flores, mas afirmou que nunca emprestou dinheiro a ele. “Nunca. Para o presidente da Previ? Me tira disso.”
(…)
O presidente do BB, Aldemir Bendine, também usou dinheiro vivo num negócio em 2010, quando pagou R$ 150 mil em espécie por um apartamento em São Paulo. Flores e Bendine são protagonistas de uma disputa política que tem alimentado trocas de acusações.

Concurso para a carreira diplomatica: TPS comentado por Mauricio Costa

Meu colega Mauricio Costa, que é professor de curso preparatório e anima o blog e a lista Diálogo Diplomático, postou nesse blog seus...
In fine, o comentário de um candidato que fez o concurso e achou tudo uma M...; creio que eu também ficaria horrorizado com certas questões, como já fiquei com várias outras em concursos anteriores: questões ambíguas, politizadas, vagas, enviesadas e muitas outras deformações.
Paulo Roberto de Almeida 


COMENTÁRIOS SOBRE O TPS

Diálogo Diplomático


Ontem foi o primeiro grande dia do CACD 2012. Apenas cerca de 4% do mais de 6000 inscritos ultrapassarão esta etapa. Espero que todos os leitores deste blog, meus alunos e todos os demais candidatos tenham tido boa sorte na execução da prova.

Comentarei a prova por disciplina, depois apresentarei minha impressão geral. Gostaria de salientar que são apenas as minhas impressões de professor e orientador de candidatos, e não devem ser tomadas como afirmações absolutas. Após o gabarito e após o desenvolvimento do ranking, poderei mudar de opinião, ou não, como diria o glorioso Caetano.

A prova de português seguiu o padrão do CACD 2011, com muitas questões de interpretação e com peso relativo menor de sintaxe. Confirmou-se a tendência de mudança para aqueles que preferiam acreditar que a prova de 2011 havia sido um ponto fora da curva. Muito embora tenha sido uma prova trabalhosa, os candidatos que compreenderam a tendência e se prepararam adequadamente devem ter bom desempenho.

A prova de política internacional foi bastante coerente. As 11 questões foram abrangentes e trataram de atualidades, sempre concentradas naquilo de mais relevante para a política externa brasileira. MERCOSUL, UNASUL, BRICS, IBAS, BASIC, oriente médio e primavera árabe, comércio exterior, África, questão nuclear, teoria das relações internacionais. O que faltou? Nada, porque meio ambiente caiu em geografia! Por outro lado, havia itens de alto grau de dificuldade, cuja solução dependia do conhecimento de detalhes e de especificidades com relação aos temas. Esses detalhes serão a armadilha de muitos candidatos desprevenidos.

Geografia foi uma prova limitada pela pequena extensão, apenas quatro questões. Esse fator limita demais a abrangência da prova. Ainda assim, foi possível surpreender com questões que os candidatos esperavam em outras provas, como a de meio ambiente, esperada em PI, e a de limites e fronteiras, sempre esperada na prova de história do Brasil.

Inglês foi uma prova bem elaborada, acredito que bastante equilibrada. Sempre se deve considerar que o grau de dificuldade da prova está diretamente relacionado ao nível de cada candidato na língua, portanto não se podem fazer afirmações absolutas sobre esta prova.

A prova de direito teve grande ênfase em direito interno, o que alguns candidatos consideram surpreendente. Eu diria que não foi tão surpreendente assim, porque o mesmo ocorreu em concurso recente, mais especificamente em 2009. O grande mérito e, ao mesmo tempo, o grande problema de uma prova assim é que uma prova com esse estilo testa a ênfase dada pelos candidatos em relação a cada ponto do programa. Por isso afirmo repetidamente que se deve estar preparado pra tudo.

Economia confirmou a tendência recente de "desmatematização da prova". Mais teoria, menos matemática, mais raciocínio econômico, menos cálculo.  Para uma prova de "noções", como ainda é definida, estava bastante bem elaborada.

História do Brasil teve pouca ênfase em HPEB, o que não foi surpreendente. Há pelo menos uma questão controversa, mas deixemos esse debate para os candidatos e para os recursos. De forma geral, foi uma prova bem elaborada.

História mundial pareceu a mim, e a todos os candidatos com quem conversei uma prova mais equilibrada do que a de 2011. Acredito que se deva ter atenção com a sensação de "falsa facilidade" desta prova, uma que é extensa, e muitas armadilhas esperam os candidatos em detalhes que são ignorados ou desconhecidos. Muito embora a prova estivesse mais equilibrada, acredito que deverá ser uma das responsáveis pela diminuição da média geral, juntamente com a prova de português.

Minha avaliação geral da prova pode ser sintetizada nos seguintes pontos:

1- acredito que deve ser mantido o padrão de desempenho do CACD 2011.  Não esqueçamos que a prova, pela primeira vez, repetiu o número de questões por disciplina;
2- O grande número de questões de múltipla escolha deve ser o principal fator de contenção a nota de corte. Mais do que pontos perdidos, são os pontos não alcançados nessas questões que diminuem a média geral;
3- A nota de corte não deve ser muito mais elevada do que a nota do 200o colocado em 2011 (42,2), a não ser que haja grande número de anulações de questões. Se houver muitas anulações, sobe a média geral e sobe a nota de corte.

Espero ter contribuído para o debate. Nos próximos dias, voltarei a discutir esse tema com base no gabarito provisório e no desenvolvimento do ranking. Desejo boa sorte a todos e espero encontrá-los no curso de segunda fase!


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Comentário de um leitor, candidato, indignado, se ouso dizer, provavelmente com inteira razão: 



Um processo seletivo discricionário e vergonhoso. Erros crassos que só evidenciam a incompetência do Cespe, totalmente incompatível com o grau de exigência da prova. A mera disposição da numeração dos itens em sua sequência lógica parece um desafio homérico para essa instituição que se quer exemplo de primazia na seleção dos "candidatos". Muitos dos quais serão aprovados sem a menor vocação para o cargo.
Dor de cotovelo? Talvez. Mas com páginas que trazem o nome do candidato impresso em frente e verso, questões mal formuladas, e funcionários sem competência para, sequer, transmitir informações coerentes quanto ao procedimento frente à palhaçada da "dança dos números" da última prova, só resta o ceticismo. Tanto melhor que o processo não se pretendesse "democrático".
No mais, desculpas pela indignação, se parece infundada, mas não pela sinceridade.
Saudações ao Professor. 




Mercosul: o que pensa o Uruguai a respeito?

Não se pode dizer que os uruguaios estejam particularmente entusiasmados com o Mercosul.
Este artigo diz por que...
Paulo Roberto de Almeida 



Qué hacemos con el Mercosur 
HERNÁN BONILLA | COLUMNISTA INVITADO
Uruguai – El País, 26/03/2012

La creación del Mercosur fue apoyada por todos los partidos políticos uruguayos, aprobada casi por unanimidad en el Parlamento y generó mucha expectativa en la población. Sin embargo, 21 años después la historia muestra que no solamente no hemos logrado avanzar en el camino adecuado, sino que hemos tomado otra ruta ya no solo inconducente, sino directamente contraproducente para los intereses de Uruguay.

No se ha avanzado en lo institucional, no se cumple el artículo primero del Tratado de Asunción que habla de la libre circulación de bienes, servicios y factores productivos, los organismos internos no funcionan, se quiere meter a Venezuela a prepo pisoteando al Parlamento de Paraguay y, por si fuera poco, desde diciembre del año pasado ni siquiera existe un arancel externo común, elemento que define a una unión aduanera que se supone es lo que era el Mercosur. Y en lo que se avanzó, aunque afortunadamente poco, es en el plano político, a través de un Parlamento eminentemente contrario al interés nacional. Es hora entonces de replantearse nuestra estrategia de inserción internacional.

LA TRAMPA. Sin dudas, las intenciones de los "padres fundadores" del Mercosur distan mucho de su realidad actual. Del acuerdo pensado para crear una unión aduanera, con una zona de libre comercio entre los cuatro fundadores a la que después se asociaron Chile y Bolivia, pasamos a un bloque en el que las exportaciones de un país a otro son inciertas, las barreras paraarancelarias pululan, cuando no directamente decisiones administrativas violatorias del Tratado de Asunción. Del "regionalismo abierto" en el que el acuerdo sirviera como plataforma de inserción internacional conjunta para los países miembros, pasamos a un bloque que se cierra en sí mismo, aplica medidas proteccionistas y no logró un solo acuerdo de importancia con otros bloques en el mundo.

Una de las lecciones -por cierto no la única- que dejó la crisis de 2002 es que es un error concentrar nuestro comercio exterior en el Mercosur. Desde 2005, hemos retomado una tendencia similar alcanzando nuestras exportaciones al bloque ya más de un 30%, como muestra el gráfico.

Una de las vulnerabilidades de nuestro país era y es que hay varios rubros, en general aquellos con mayor valor agregado, que solo encuentran colocación en los países vecinos. Antes de 2002 debido a que las políticas comercial y cambiaria llevaban inexorablemente a que los únicos países con los que no perdíamos competitividad eran Brasil (hasta 1999) y Argentina (hasta 2001). Hoy, nuevamente, nuestro país pierde competitividad por la política cambiaria pero también porque no hemos avanzado en los fundamentos de la competitividad.

Muchas veces se centra la mentada discusión de la falta de competitividad en el tipo de cambio. Naturalmente, es cierto que influye, pero hay muchos otros elementos que no suelen tomarse en cuenta. Influye mucho más en la incapacidad de salir de la región para muchas empresas la elevada carga impositiva, las sobretarifas de las empresas públicas, nuestro esclerosado e hiperregulado mercado laboral, la falta de recursos humanos calificados en áreas claves, la pésima infraestructura en transporte y comunicaciones (verbigracia, carreteras en malas condiciones e internet lenta y cara) o la pesada burocracia con que deben lidiar. Se puede argumentar que la mejora de las empresas públicas o la disminución del costo del Estado son metas complejas de alcanzar en Uruguay (lo que de todas formas no debería llevarnos a bajar los brazos y aceptar mansamente el triunfo de las corporaciones sindicales) pero hay otras áreas en que podríamos avanzar más rápido. Por ejemplo, según el informe Doing Business 2012 del Banco Mundial los documentos necesarios para exportar en Uruguay son 9 mientras que el promedio de América Latina y el Caribe (que no es la región más amigable al inversor) es 6. No creo que nadie esté en contra de mejorar en estos temas.

NUEVO PROTECCIONISMO. Es probable que la desilusión con el Mercosur arranque por 1999, cuando el clima interno comenzó a deteriorarse. Las negociaciones con otros bloques, como la Unión Europea no avanzaron un ápice, mientras Chile logró un acuerdo de libre comercio. La evidencia demuestra que uno de los fundamentos para integrar el Mercosur, que era la necesidad de integrar un bloque comercial para negociar con otros, no tiene fundamento. El Mercosur duerme la siesta de los justos en un mundo donde nadie regala nada mientras Chile ha logrado decenas de tratados que le permiten una diversificación envidiable de su comercio exterior. Y más que eso, atraer inversiones nacionales y extranjeras gracias a su capacidad para vender en el mundo. Evitando las falacias populistas del proteccionismo, Chile ha logrado una senda de crecimiento sostenido que le permite combatir la pobreza y acercarse al primer mundo. Tenemos mucho que aprender, especialmente de ProChile, sobre cómo poner a funcionar a la Cancillería al servicio de nuestra inserción internacional.

Argentina y Brasil, en cambio, han decidido reincidir en las políticas proteccionistas de mediados del siglo XX que los llevaron al declive económico. La estrategia de Brasil es más sofisticada que la Argentina, y hay áreas, como la política monetaria en que mantiene una conducta ortodoxa. Pero es claro que decidió sortear la incertidumbre de la economía mundial recurriendo al mercado interno, lo que inexorablemente hará caer su tasa de crecimiento de largo plazo.

Argentina, por su parte, repite en forma más tosca y precipitada el camino del control de cambios y del comercio exterior que caracterizó la época de la sustitución de importaciones que lo llevó de ser una las primeras economías del mundo a un país subdesarrollado. Los aumentos específicos al arancel externo común, los permisos para importar ante la Administración Federal de Ingresos Públicos (AFIP), el llamado "corralito del dólar" y, en definitiva, la creciente discrecionalidad política sobre la vida o muerte de las empresas que socava el Estado de Derecho no auguran nada bueno.

QUÉ HACER. El panorama, como vemos, es complejo. El Mercosur no funciona ni va a funcionar en el futuro cercano. Prestigiosos economistas han propuesto que Uruguay cambie de categoría y pase de miembro pleno a asociado del Mercosur. En teoría es lo mejor pero en la práctica es muy difícil de concretar. Mal o bien hay muchas empresas que, pese a las dificultades, dependen de los mercados vecinos y un cambio de esa naturaleza traería aparejado pérdidas comerciales directas e, inevitablemente, represalias de otro tipo.
En consecuencia, el camino razonable para nuestro país entre el ideal paradigma chileno y la exasperante espera de "más y mejor Mercosur" es ser esencialmente pragmáticos. Debemos seguir dentro del bloque, pero también comenzar una búsqueda activa por nuestra cuenta de tratados comerciales con otras zonas y países. Uruguay ha tenido una paciencia extraordinaria reclamando el cumplimiento del Tratado de Asunción cientos de veces sin éxito, mientras nuestros vecinos lo violaban permanentemente. Si avanzamos por nuestra cuenta, Argentina y Brasil van a protestar pero sin ningún derecho, como han argumentado expertos como Roberto Porzecanski o Carlos Pérez del Castillo.

Seguramente, el principal problema que tiene nuestra política de inserción internacional hoy es que no tenemos ninguna. Ya hemos perdido demasiado tiempo, es hora de actuar en forma profesional y pragmática, poniendo a trabajar a nuestra Cancillería en este tema de una vez y dejando de lado prejuicios ideológicos anacrónicos. Los acuerdos de libre comercio llevan tiempo y requieren de mucho trabajo, por lo que los resultados pueden demorar años. Sería trágico esperar a que pase la bonanza para empezar a hacer lo que hace tiempo sabemos que tenemos que hacer.

Que delicia de reuniao! Esses empresarios fantasticos e suas sugestoes maravilhosas...

Parece que o PIB brasileiro está contente de ser recebido pela soberana. Ele aguarda ansiosamente medidas que permitam aos empresários ficarem um pouco mais ricos.
Ops, ricos eles já são. Eles só querem sobreviver à maré chinesa.
Que coisa hem?!
E eu pensava que eles estivessem submergidos é pela maré, pelo tsunami de impostos no Brasil.
Pelas dificuldades burocráticas, pelo fascismo da Receita, pela precariedade da infraestrutura, pelo chamado custo Brasil.
Por que esses empresários maravilhosos não fazem uma "fronda", como seus antigos colegas aristocráticos da Inglaterra e da França, quando confrontados à espoliação dos respectivos soberanos?
Eles são covardes?
Ou apenas acomodados?
Poltrões...
Paulo Roberto de Almeida 



O que quer Dilma, o que querem os empresários
Coluna/ Sergio Leo
Valor Econômico, 26/03/2012

Joesley Batista, da JBS /Friboi, pavoneou-se com sua fábrica de celulose, "a maior fábrica de celulose do mundo"; um diferente Batista, Eike, alardeou que investirá no Brasil R$ 56 bilhões até 2016; investimentos de US$ 46 bilhões até 2015 foram anunciados por outros dos 28 empresários, banqueiros e representantes de associações empresariais convidados na quinta-feira para uma reunião com a presidente Dilma Rousseff. Ela não quis uma reunião com empresas, mas com líderes empresariais. Abílio Diniz, de viagem, tentou mandar representante do Pão de Açúcar e lhe informaram que o convite era intransferível.
A reunião coincidiu com uma semana infernal para Dilma, que sofreu derrotas no Congresso impostas por supostos aliados insatisfeitos com seu jeito de lidar com políticos. Marcado antes da rebelião parlamentar, a pedido do empresário Jorge Gerdau, que convenceu Dilma da necessidade de melhorar a interlocução com os empresários, o encontro juntou, no Planalto, expressiva coleção de figurões do setor privado, interessados em desencalhar decisões atoladas em terrenos pouco republicanos no Congresso.
Se como disse a presidente à revista "Veja" no fim de semana, crises institucionais se alimentam da "perda de legitimidade do governante", os empresários indicaram que essa perda, no caso dela, não está no roteiro da vida real. Como comparação, às vésperas da queda de Fernando Collor (que, recentemente, advertiu Dilma sobre os riscos de perder apoio parlamentar) Brasília foi palco de um almoço promovido pelas associações da indústria, com guardanapos e toalhas de mesa pretas, a cor da campanha pelo impeachment.
Dilma foi convencida a melhorar interlocução com os empresários
A intenção explícita da reunião no Planalto foi a de animar os empresários a manter e ampliar seus planos de investimento, dando a todos a garantia de que o governo tem, sim, um plano de longo prazo e compromisso em enfrentar os principais entraves à competitividade do Brasil e de suas empresas. Implicitamente, Dilma, com seu discurso e o encontro, reconheceu que não pode querer que a taxa de investimento no país chegue aos desejados 24% do Produto Interno Bruto mantendo como linha de ação as descoordenadas iniciativas pontuais do governo, em resposta a demandas setoriais ou eventos inesperados.
Os empresários desfiaram a pauta tradicional de queixas, expurgada, talvez, das reclamações habituais contra a taxa de câmbio, que já é alvo público das ações do governo, inclusive do Banco Central. Se houve um consenso gritante, foi a condução da política tributária. Os empresários veem como grande barreira às decisões de investimento e à sobrevivência das empresas o regime complexo, burocrático e opressivo de impostos.
O governo, até agora, apresenta como grande feito, na área, a promessa de "desoneração" das folhas de pagamento em troca de aumento da tributação sobre o faturamento. Os líderes do setor privado prestigiados pela presidente acham que se deveria ir bem além, reduzindo a carga de imposto e simplificando sua atuação. Deixaram claro que uma medida que reduzisse imposto em toda a cadeia de produção, não apenas em algumas de suas pontas seria bem-vinda.
Pragmático, Josué Gomes, da Coteminas, propôs a criação de uma meta de redução da carga tributária, dando prazo à máquina pública para acostumar-se com maior moderação nos gastos. André Esteves, do BTG Pactual, foi mais ambicioso: por que não um corte linear em todas as alíquotas? Dilma anotou, o que dá esperanças - tênues - de que cobre de sua equipe econômica resposta à demanda.
O absurdo custo da energia no Brasil também foi, como se esperaria, um tema de destaque. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, defendeu aproveitar o fim das atuais concessões do setor elétrico para atrair a competição e operadores com menores preços. Outros empresários aceitam medida mais modesta, com uma renegociação dura das tarifas na renovação das concessões, como parece ser o caminho do governo.
Também na manifestação das preocupações dos empresários, a coincidência entre a reunião com Dilma e a crise no Congresso serve para ressaltar a preocupante dissonância entre o que o setor privado considera as grandes questões nacionais e a lógica dos parlamentares, que, ao debater a questão tributária, por exemplo, levantam a voz com mais firmeza quando falam em receitas e distribuição de verbas. A necessidade de pressionar o Congresso surgiu na reunião de maneira discreta, até porque empresários já fazem isso.
Ao fim da reunião, o governo deixou claro que, na volta da viagem à Índia, onde estará nesta semana, Dilma anunciará medidas de apoio aos investimentos. Até agora, de certo há a receita pontual e insuficiente, com decisões como prorrogação de isenção do IPI de eletrodomésticos e "desoneração" parcial da folha. O compromisso de encontros trimestrais com os empresários obrigará o governo a maior ousadia, se não quiser transformar as reuniões em constrangedores sessões de desabafo do setor privado.

Bye bye Brazil! Viva o protecionismo...

Os empresários brasileiros -- todos a favor do protecionismo -- dizem que só querem "isonomia" com a produção importada.
Ué! Só isso?
Mas é fácil: é só exigir do Estado brasileiro uma carga tributária igualzinha à que vigora nos países exportadores para o Brasil.
Isso não seria uma perfeita isonomia?
Eu acho que sim...
Mas tem gente que não.
Eles querem que os exportadores tenham uma carga fiscal igual à dos burros de carga do Brasil. ENORME.
E se ela não existe, não tem problema: eles CRIAM.
Colocam impostos, tributos, contribuições, taxas, barreiras de todos os tipos até que os produtos estrangeiros fiquem igualzinhos de caro como os do Brasil.
Não é uma solução genial?
Eles não são inteligentes todos esses empresários e burocratas brasileiros?
Geniais, mesmo?
O que seria de nós se eles não implantassem a isonomia???!!!
Paulo Roberto de Almeida 


Notícias deste dia da graça (mas não de graça) de 26/03/2012:



O Estado de S. Paulo - Governo edita 40 medidas protecionistas / Primeira página

O governo da presidente Dilma Rousseff prepara, ou já baixou, 40 medidas para proteger a indústria nacional contra importados. O protecionismo brasileiro provoca apreensão nos parceiros comerciais, mas os empresários reclamam que é pouco.
Dilma baixa 40 medidas protecionistas e os empresários querem bem mais
RAQUEL LANDIM - A presidente Dilma Rousseff já adotou uma avalanche de iniciativas para proteger a indústria nacional da invasão dos importados. Levantamento feito pelo "Estado" identificou 40 medidas aplicadas ou em análise. O protecionismo brasileiro provoca apreensão nos parceiros comerciais, mas os empresários reclamam que as medidas são pontuais e não resolvem o problema.
O esforço engloba desde medidas abrangentes como intervenção no câmbio, maior fiscalização nos portos e preferência a produtos nacionais em licitações, até sobretaxas para produtos específicos, elevação de impostos só para importados e a renegociação do acordo automotivo com o México.
Desde o início da crise em 2008, o ministério da Fazenda já alterou 13 vezes a alíquota e/ou o prazo do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para frear a entrada de dólares - seis só no governo Dilma. O Banco Central também intervém rotineiramente no mercado de câmbio para impedir a alta do real.
A equipe do ministro Guido Mantega adotou medidas heterodoxas no comércio exterior como a alta de 30 pontos porcentuais do IPI dos carros importados ou a transformação do imposto de importação do vestuário em valor fixo (a medida já é lei, mas não foi regulamentada).
A Receita Federal se tornou protagonista no esforço de defender a indústria. Na semana passada, deflagrou a operação Maré Vermelha, que torna mais rigorosa a importação de vários bens de consumo. "Com 200 servidores envolvidos, a mobilização da operação é histórica", disse Ernani Argolo Checcucci Filho, subsecretário de aduanas e relações internacionais.
O órgão discute convênio com o Inmetro para verificar se os produtos importados respeitam normas de qualidade e segurança. Importadores temem que fiscalização vire barreira técnica.
Reforço. Os mecanismos de defesa comercial tradicionais foram reforçados. O governo Dilma aplicou 14 taxas antidumping e outras 11 investigações estão em curso. Também retomou a utilização das salvaguardas e implementou novos instrumentos, como combate a triangulação e investigação de subsídios.
Para Rubens Ricupero, ex-secretário-geral da Unctad, "o Brasil segue o caminho da Argentina" - país criticado pelo protecionismo. Ele diz que a desindustrialização é grave e que as medidas seriam aceitáveis se fossem temporárias e acompanhadas de reformas estruturais.
Vera Thorstensen, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), argumenta que o Brasil não é protecionista, porque utiliza mecanismos previstos nas regras internacionais. Além disso, a valorização do real anula as tarifas de importação. "A não ser que se discuta a manipulação do câmbio na OMC, o País vai ter que inventar medidas cinzentas para se defender".

O Estado de S. Paulo - Indústria afirma que só quer isonomia

Empresários reclamam que há muitas demandas que ainda não foram atendidas pelo governo e dizem que querem isonomia com importados
RAQUEL LANDIM - Apesar do grande número de medidas do governo Dilma Rousseff para proteger a indústria nacional, os empresários ainda consideram o esforço "insuficiente" e reclamam que há muitas demandas que não foram atendidas. Os representantes da indústria enfatizam que não precisam de "proteção", mas de isonomia para competir com os importados.
"São muitas medidas pontuais. Fica parecendo que fizeram muita coisa, mas não é verdade", disse o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. "Queremos uma ruptura com as medidas pontuais e a adoção de reformas eficazes", completou.
Skaf participou na quinta-feira do encontro de Dilma, em Brasília, com 28 comandantes de empresas de grande porte. Hoje recebe na Fiesp o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Skaf pediu ao governo que a desoneração da folha de pagamento abranja toda a indústria, sem a contrapartida da criação de um novo imposto.
Mantega vem discutindo com alguns setores, como bens de capital e a indústria naval, a desoneração da contribuição patronal do INSS, que seria substituída por um imposto de cerca de 1% sobre o faturamento. O presidente da Fiesp solicitou ainda esforço para reduzir o custo da energia elétrica brasileira, "que é o segundo mais alto do mundo".
Para Milton Cardoso, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), o diagnóstico do governo sobre os problemas da indústria está correto, mas as medidas são lentas e adotadas a conta-gotas. "Quando uma medida é aplicada, o problema já está maior", disse.
Ele dá o exemplo do antidumping contra a importação de calçados chineses. Segundo o executivo, quando a sobretaxa foi adotada, os importadores estavam trazendo os tênis via Vietnã, Malásia e Tailândia.
O governo iniciou então um processo para apurar se há triangulação de calçados, que ainda não foi concluído, enquanto os importadores já começam a trazer o produto desmontado.
Guerra. Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), diz que a indústria precisa de medidas de "curtíssimo, médio e longo prazos". "Queremos a reforma tributária, mas também precisamos de medidas urgentes. O mundo vive uma guerra comercial", argumentou.
Diniz está especialmente preocupado com a "guerra dos portos", em que alguns Estados concedem redução de ICMS ao produto importado. O governo tenta acabar com problema por meio de uma minirreforma tributária no Congresso.
O dirigente da Abit diz que "não falta vontade política ao governo Dilma para atender os pleitos da indústria", enfatizando a disponibilidade dos ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, em receber os empresários.
Outros setores não estão tão satisfeitos com a postura do governo. Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), reclama que nunca recebeu uma resposta do pleito do setor para elevar as tarifas de importação para 35%.
A Abinee tenta agora incluir os fabricantes de aparelhos de geração e distribuição de energia nas desonerações da folha de pagamentos, mas ainda não foi chamada por Guido Mantega para conversar.

O Estado de S. Paulo - Medidas de proteção comercial do Brasil preocupam europeus

Autoridades e estudiosos se queixam das atitudes adotadas pelo governo Dilma para proteger o mercado interno
JAMIL CHADE, CORRESPONDENTE / GENEBRA - A onda de medidas no Brasil tem preocupado parceiros comerciais, analistas e acadêmicos. "Já deixamos claro ao Brasil nossas preocupações", declarou ao Estado o comissário de Comércio da União Europeia (UE), Karel de Gucht. "O Brasil está liderando uma tendência na economia mundial que, se for mantida, será desastrosa", disse Simon Evennet, especialista em comércio da Universidade de Saint Gallen (Suíça), um dos principais estudiosos do protecionismo hoje.
"O Brasil entrou em uma lógica muito negativa e tomou um caminho perigoso para sua própria economia e para a economia internacional. O mundo está segurando a respiração para ver qual será o próximo passo tomado pelo governo de Dilma Rousseff", alertou.
De acordo com ele, a grande preocupação de especialistas e exportadores em todo o mundo é o "efeito cascata" que o Brasil pode causar pelo mundo. "O Brasil é uma democracia e um país que quer dar uma imagem de modernidade. Mas, quando se volta ao protecionismo da forma que está fazendo, está abrindo as possibilidades para que outros países em desenvolvimento também caminhem nessa direção", afirmou Evennet. "Muitos na África e outras regiões já dizem: se o Brasil pode, por que eu também não posso?"
Evennet acha que pode não demorar até que uma onda de queixas comece a aparecer. "A paciência dos principais parceiros comerciais do Brasil está acabando e estamos à beira de ver uma eclosão de ações contra o País."
O que tem evitado a guerra comercial com o Brasil por enquanto é o fato de o País estar elevando suas tarifas de importação dentro do que a Organização Mundial do Comércio (OMC) permite. "Por enquanto, não vi nenhuma tarifa que tenha passado o teto (estabelecido legalmente)", disse o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy há cerca de uma semana.
Em média, as tarifas de importação no Brasil estavam em 2011 na faixa de 12%. Mas, legalmente, o País tem o direito de eleva-las até 35% sem violar as regras internacionais.
Insustentável. Mas, dentro do próprio governo, a onda protecionista tem criado fricções importantes entre o Ministério da Fazenda, de um lado, e o Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento, de outro. Fontes na chancelaria admitem que estão freando parte dos projetos de elevação de tarifas sugerido pela pasta comandada por Guido Mantega.
Entre o setor privado mundial, a percepção é de que a onda protecionista no Brasil não será sustentável. "Não há como crescer implementando barreiras", alertou Harold McGraw, presidente do Conselho para Negócios Internacionais dos Estados Unidos, entidade que reúne algumas das maiores empresas americana.
Mas o comportamento do País já começa a se refletir em seus acordos comerciais e em negociações com outros governos. Além de suspender e revisar o acordo automotivo com o México, o governo brasileiro praticamente abandonou a ideia de qualquer avanço em outras frentes.
Na OMC, o Brasil, que por anos foi um dos principais protagonistas da Rodada Doha, hoje apenas atua para evitar que haja pressões para que abra ainda mais seu mercado.
Nesta semana, o Brasil vai liderar um debate na entidade, mas justamente no sentido contrário: até que ponto seria justificável adotar sanções ou elevar barreiras? Mas vai escutar um recado claro de Lamy. Problemas da área financeira não necessariamente conseguirão ser resolvidos com medidas comerciais.
Na negociação com a União Europeia para a criação de uma área de livre comércio com o Mercosul, o Brasil também não vê pressa nenhuma em fechar um acordo. Em projetos que haviam iniciado no fim do governo Lula, como uma aproximação com os países da Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático), não existe nada hoje na agenda.
Outra negociação que não caminha é a iniciativa do Brasil de 2010 de conseguir que 30 países emergentes reduzissem tarifas entre suas economias. Hoje, o grupo sequer se reúne para debater as áreas de liberalização.

O Estado de S. Paulo - Brasil é o país mais fechado do G-20

Em meio à crise mundial, País passou a ser líder na adoção de medidas protecionistas
JAMIL CHADE/GENEBRA, FERNANDO DANTAS/RIO - De campeão do liberalismo ao posto de país mais fechado do G-20. Em quatro anos de crise internacional, o Brasil revolucionou sua política comercial, abandonou o discurso de defesa da abertura de mercados, suspendeu acordos e passou a ser um dos líderes na aplicação de tarifas e medidas protecionistas.
De 2008 a junho de 2011, o Brasil foi o segundo país que mais iniciou ações antidumping contra importações, com um total de 80, só sendo superado pela Índia, com 137. Naquele período, o Brasil iniciou mais ações antidumping do que Estados Unidos (48), União Europeia (57) e até a Argentina (65), conhecida por sua postura protecionista.
Além disso, dados obtidos pelo Estado apontam que, desde o início da crise em 2008, o Brasil é o quinto país a adotar o maior número de barreiras no mundo. Em termos de impacto, porém, essas medidas colocam o Brasil na liderança entre os países mais protecionista hoje do G-20.
No total, o Brasil já adotou ou anunciou pelo menos 85 medidas claramente protecionistas desde o início da crise. Em média, uma nova barreira é criada a cada 15 dias no país desde 2008. Só Rússia, China, Índia e Estados Unidos adotaram em números absolutos um volume maior de medidas protecionistas. Mas a realidade é que o impacto das novas barreiras brasileiras tem ido além de qualquer outro país.
Segundo um levantamento do Centro para a Pesquisa de Políticas Econômicas, financiado pelo Banco Mundial, as ações brasileiras já atingiram as exportações de 131 países. O grande foco é a China, com mais de um quarto de todas as medidas, 25, seguida pelas barreiras contra produtos americanos (22), alemães (14), italianos (11) e japoneses (10).
No total, as medidas brasileiras já afetam 254 produtos e a constatação de especialistas é de que as barreiras são as mais básicas, como a elevação de tarifas, e sem qualquer elaboração para dar maior competitividade às indústrias nacionais que estejam sofrendo. Tais medidas, segundo funcionários da OMC, são típicas dos países mais pobres do mundo, que não têm outro instrumento senão a criação de muros contra o comércio.
A proliferação de medidas é uma reviravolta em comparação à situação do País nos primeiros meses após o colapso do Lehman Brothers, em setembro de 2008. Naquele momento, o ex-presidente Lula apelava para que países não recorressem a barreiras e chegou a ser considerado publicamente pelo diretor da OMC, Pascal Lamy, como o "campeão na resistência contra o protecionismo".
"Logo depois da crise, a reação brasileira não foi protecionista, e o diagnóstico era mais ligado ao acesso a crédito", analisa a economista Sandra Rios, do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes, "think tank" de comércio internacional no Rio).
Mas Sandra acrescenta que, a partir de 2010, e principalmente após o lançamento pelo governo do "pacote de competitividade" naquele ano, começou a ênfase em medidas protecionistas, incluindo uma série de iniciativas para incentivar o conteúdo nacional nas cadeias produtivas.
Em 2010, o Brasil iniciou 37 ações antidumping, novamente só perdendo para a Índia, com 41. A União Europeia, a terceira colocada, deu entrada a apenas 15 ações.
Em 2011, até junho, houve uma aparente desaceleração, com a abertura de 11 ações antidumping pelo Brasil. Mas, no final do ano passado, a escalada protecionista ganhou força, e o Brasil recusou-se a fazer parte de uma iniciativa que estabelecia que países congelariam suas tarifas e não aumentariam suas barreiras.
Em setembro, foi anunciado o aumento de 30 pontos porcentuais no IPI de veículos importados de países fora do Mercosul ou fabricados no bloco, mas com índice insuficiente de nacionalização de componentes e etapas de produção. "Essa medida claramente fere as regras da OMC, porque atrela um subsídio a conteúdo nacional, o que é proibido", diz Sandra, acrescentando que já houve pedido de consultas de alguns países orientais.
No final de 2011, o Mercosul decidiu que cada país poderia criar uma lista de 100 novos produtos que poderiam ter suas tarifas elevadas, mesmo não estando na lista de exceções à tarifa externa comum (TEC).
A gota d"água, para Sandra, é a tentativa de o Brasil renegociar o acordo automotivo com o México, depois de ter usufruído de superávits comerciais com o parceiro por quatro ou cinco anos. "Quando o negócio começa a virar, dizemos que não estamos mais de acordo e queremos impor uma cota de importação que é a metade do valor exportado por eles no ano passado - não tem o menor cabimento, como é que o Brasil pode querer ter credibilidade desse jeito?", critica.
Dessa forma, não é surpresa que um levantamento realizado pela Câmara Internacional de Comércio tenha indicado que o Brasil chegou ao final de 2011 como a economia mais fechada do G-20, apesar das promessas realizadas em cada uma das cúpulas de que iria manter aberto seu mercado. O ranking avalia a abertura dos mercados a produtos importados, nível tarifário, regras internas, exigências de conteúdo local, as políticas comerciais, infraestrutura ao comércio e a abertura do país a investimentos estrangeiros.
Entre as 75 maiores economias do mundo, só sete são mais protecionistas que o Brasil. O País tem praticamente a mesma abertura de mercado que a Venezuela, do presidente Hugo Chávez, e está próximo dos níveis do Paquistão, Argélia e Sudão.