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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sábado, 12 de maio de 2012

O futuro do Mercosul, segundo um de seus protagonistas - Samuel Pinheiro Guimaraes

Poucas pessoas, no Brasil, tiveram tanto envolvimento na integração Brasil-Argentina quanto o diplomata Samuel Pinheiro Guimarães, Secretário-Geral dos governos Lula de 2003 a 2009, quando se aposentou por idade do Itamaraty e passou à condição (breve) de Secretário de Assuntos Estratégicos e, depois, no final do segundo governo, antes mesmo da posse da atual presidente, Alto Representante do Mercosul, uma espécie de comissário político do bloco.
Eu disse "envolvimento" com o processo bilateral Brasil-Argentina, e não exatamente Mercosul, pois é o primeiro esquema que lhe interessa prioritariamente, já que não ocupava mais funções decisórias quando o Mercosul foi criado NA FORMA em que foi criado.
Se dependesse dele, o Mercosul NUNCA teria sido criado dessa forma -- digamos "neoliberal" -- que foi criado, e que ele condena, por preferir os antigos esquemas da integração Brasil-Argentina, que ele ajudou a escrever pessoalmente, ou até foi o redator principal dos principais instrumentos -- protocolos setoriais -- que marcaram aquele processo, preferido por ele, já que o Mercosul, pelo Tratado de Assunção, sempre foi considerado um "desvio" do processo (ainda que a expressão, e a condenação, não sejam feitas de modo explícito).
Quaisquer que sejam, em todo caso, as posições, principistas ou formais, do referido personagem político e diplomático em relação ao Mercosul, se trata, como reconhecido, de figura influente no processo, passado e atual, e sua visão é considerada como sendo uma espécie de história oficial desse processo de integração.
Esta introdução para dizer que o texto abaixo, do qual só vim a tomar conhecimento em 11 de maio de 2012, representa, por assim dizer, uma espécie de síntese intelectual do que esse personagem influente entende como representativa da história passado, da situação presente e dos desafios atuais e futuros para o desenvolvimento desse processo de integração, do bloco do Mercosul, como um todo, que ele se empenha em ampliar, para incorporar toda a América do Sul (o que parece impossível de ocorrer sem desvirtuar os fundamentos do acordo comercial).
Provavelmente teria muitas considerações a fazer a cada um dos parágrafos abaixo transcritos, o que exigiria, talvez, um trabalho de iguais (ou maiores) dimensões, impossível de fazer aqui, neste momento.
Portanto, vai o texto transcrito, sem que isto represente endosso meu aos argumentos do personagem em questão (ao contrário, tenho sérias restrições, nos planos factual, analítico e interpretativo).
Paulo Roberto de Almeida 


Samuel Pinheiro Guimarães
Alto Representante do Mercosul
10 de abril de 2012
revista Austral, Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais
(Porto Alegre, UFRGS, Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais da UFRGS, vol. 1, n. 1, jan.-jun. 2012, p. 13-22)

1.  A análise da situação do Mercosul, de seus objetivos e das estratégias para alcançá-los, é de especial relevância no momento em que se vem de comemorar os vinte anos da assinatura, em 26 de março de 1991, do Tratado de Assunção, em plena e extraordinária crise e transformação política  e econômica mundial.
2.  Em 1991, era hegemônico o pensamento neoliberal, em um cenário econômico de grande otimismo. Era a Nova Ordem Mundial, anunciada pelo presidente G. H. Bush, a era da globalização, do fim das fronteiras, do fim da História, do progresso ilimitado para todos os Estados e para todos os indivíduos. Era o mundo unipolar, pacífico e próspero.
3.  Esse pensamento neoliberal, que veio a ser articulado no Consenso de Washington e impulsionado pelas políticas dos países desenvolvidos nos organismos e negociações internacionais e em suas relações bilaterais com os Estados da América Latina, viria a se refletir, em decorrência dessas pressões externas e até por convicção das elites dirigentes, nas políticas domésticas, econômicas e sociais, dos quatro Estados do Mercosul.
4.  Apesar das naturais diferenças entre as situações em que se encontravam Estados e sociedades naquele momento e do grau de radicalismo com que foram implementadas, essas políticas todas tinham como principal objetivo reduzir o Estado a seu mínimo, através de programas de privatização, de desregulamentação e de abertura externa para bens e capitais, muitas vezes adotados de forma unilateral, sem negociação, como “contribuição voluntária” ao progresso de globalização.
5.  Em 1991, a situação política internacional estava marcada pela desintegração da União Soviética, pelo fim dos regimes socialistas da Europa Oriental, pelo desprestígio do socialismo como sistema político e econômico, pela expansão (voluntária ou “estimulada”) de regimes democráticos, pelo fim aparente dos conflitos regionais,  pela “ressurreição” das Nações Unidas e, finalmente, pela hegemonia dos Estados Unidos.
6.  Em 2012, a economia mundial se caracteriza pelo aumento da distância entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos, pela expansão da globalização e das mega empresas multinacionais e, de outro lado, passa pela sua mais profunda crise desde 1929, a qual se originou em uma tendência à superprodução, à extensão excessiva do crédito e, finalmente, em um enorme movimento especulativo, desencadeado por bancos, fundos de investimento, auditoras e corretoras, permitido pela globalização e pela profunda desregulamentação nacional e internacional dos sistemas financeiros. A crise eclodiu nos Estados Unidos e se espraiou pelos sistemas financeiros dos demais países desenvolvidos, enquanto se atribuiu aos países emergentes, de forma indistinta, a capacidade de manter algum crescimento positivo da economia mundial. Enquanto os países ocidentais desenvolvidos se encontram mergulhados em suas crises, que já afetam a unidade européia, a China surge como a segunda maior potência econômica do mundo.
7.  Em 2012, o panorama político-militar internacional se caracteriza pelo desenrolar de guerras em países islâmicos, com a expansão dos poderes da OTAN para muito além de sua área de competência; pela luta contra um inimigo difuso, o terrorismo; pela eclosão, imprevista, de movimentos populares contra ditaduras árabes tradicionalmente apoiadas, e às vezes até financiadas, pelas potências ocidentais; pela intervenção das potências ocidentais, a pretexto humanitário, nos assuntos internos de Estados mais fracos; pelo ressurgimento da xenofobia e do racismo, em especial na Europa, com reflexos sobre imigrantes sul-americanos; pela crescente sofisticação e automação das forças militares das grandes potências e pelo seu esforço em desarmar, inclusive em termos convencionais, os Estados mais fracos e já desarmados.
8.  Este cenário político-militar estará sendo cada vez mais transformado pela expansão geográfica da presença política, e no futuro militar, da China, a partir de sua crescente influência econômica, em sua qualidade de maior economia,  maior potência exportadora e importadora, segundo maior destino de investimentos internacionais, de sua crescente capacidade científica e tecnológica, de sua situação de maior detentora de reservas internacionais e de maior investidora em títulos do Tesouro americano. Apesar de todas as dificuldades e desafios a trajetória econômica e política chinesa tende a não sofrer radicais alterações devido às características de seu sistema político colegiado e de ascensão gradual dos membros do Partido Comunista  às posições de alta responsabilidade no Bureau Político do Comitê Central.
9.  A emergência da China como a maior potência econômica do mundo, e possivelmente, em breve, como a segunda maior potência política e militar, tem extraordinárias consequências para a América do Sul, mas muito especialmente para os Estados do  Mercosul.
10.   Em especial para o Mercosul, na medida em que certos governos da América do Sul tomaram a decisão, de grande   importância para seus países e para o futuro político e econômico da   América do Sul, que foi a de se inserir, inicialmente, no sistema econômico norte-americano, através da assinatura de amplos acordos econômicos, chamados impropriamente “de livre comércio”, e, em seguida, na economia mundial, através da negociação de  acordos, ai sim de livre comércio,  com a União Européia e com muitos outros países, entre eles a China.
11.   Esses países sul-americanos optaram por uma política de inserção irrestrita na economia global e abdicaram da possibilidade de utilizar  diversos instrumentos de promoção do desenvolvimento,  em especial importantes no caso de países subdesenvolvidos, com populações expressivas, com alto grau de urbanização, com grandes disparidades sociais e econômicas. E em consequência, abdicaram de uma participação mais intensa em um processo de integração regional sul-americano pela impossibilidade de participar de uma união aduaneira regional e de políticas regionais de natureza industrial que permitam o fortalecimento das empresas produtivas instaladas em seus territórios. Assim, a retórica presente em todos os encontros acadêmicos e políticos sobre a aspiração, a possibilidade e os benefícios de uma futura integração sul-americana deve ser vista à luz desta realidade atual.
12.   O impacto da China sobre a economia dos países do Mercosul, que já é  grande, se tornará extraordinário.
13.   A economia chinesa vem crescendo a 10% ao ano, em média, nos últimos trinta anos, desafiando os recorrentes prognósticos negativos dos especialistas. Sua economia moderna é integrada por cerca de 300 milhões de indivíduos, com um déficit crescente de alimentos para uma população que melhora e diversifica seu padrão alimentar, sem suficientes terras aráveis e água para a irrigação em grande escala, (ainda que haja a possibilidade de dessalinização da água do mar e de desenvolvimento de tecnologias agrícolas adequadas às suas regiões inóspitas), com uma demanda voraz e um déficit de minérios muito significativo, e com um déficit energético crescente, apesar dos ambiciosos programas de expansão de seus sistemas eletro-nuclear e eólico. A incorporação gradual de mais de um bilhão de chineses, hoje no campo e em atividades de baixa produtividade,  ao setor moderno da economia tornará a China o maior mercado do mundo, superior ao mercado americano e europeu somados.
14.   Apesar de a demanda chinesa por minérios, por alimentos e por energia poder ser suprida por outras regiões, em especial a África, a América do Sul e os países do Mercosul estão em condições especiais para atendê-la, como, aliás, já vem fazendo com suas exportações de soja e de minério de ferro, entre outros produtos.
15.   A demanda chinesa por minérios, petróleo e produtos agrícolas contribui, de forma expressiva, para o aumento dos preços mundiais desses produtos, para um impulso inflacionário em todos os países, para a geração de grandes receitas cambiais nos países do Mercosul,  e para a consequente valorização de suas moedas nacionais, afetadas pelo influxo simultâneo do excesso de moeda ofertada pelos Estados Unidos, através de sua política de “monetary easing”.
16.   Por outro lado, a China, que se constituiu, inicialmente, em uma enorme plataforma de produção e exportação das megaempresas multinacionais, passou, através de suas políticas comerciais,  industriais e de transferência de tecnologia, a criar e desenvolver suas empresas de capital chinês, capazes de participar do mercado mundial, nos mais diversos setores, com produtos dos mais simples aos mais complexos, com custos de produção e preços de exportação altamente competitivos. 
17.   A própria situação da China e sua estratégia de desenvolvimento afetará da forma mais profunda as perspectivas de desenvolvimento de cada país do Mercosul, colocará em cheque suas políticas comerciais, industriais e tecnológicas, pautadas pelas normas da OMC, negociadas e adotadas em um contexto internacional diverso, e o próprio futuro do Mercosul, como esquema de desenvolvimento econômico, de transformação produtiva e de desenvolvimento social da região.
18.   De um lado, a demanda chinesa por produtos primários e, de outro lado, sua oferta de produtos industriais a baixo preço, diante da ortodoxia de política econômica de certos países (centrada em uma excessiva preocupação com o combate à inflação e com o equilíbrio fiscal) e de seu baixo dinamismo tecnológico poderá levar, se não vierem a ser formuladas e implementadas firmes e permanentes políticas industriais de agregação de valor aos produtos primários em forte demanda,  a uma  especialização na produção primária para exportação, e à conquista pela China dos mercados de produtos industriais dos sócios do Mercosul e dos demais países da América do Sul .
19.   Esta situação tenderia a se agravar com a superação da crise econômica nos países altamente industrializados, que provocou a redução temporária de sua demanda por insumos primários. Com a retomada de seu crescimento industrial e de renda, esses países passarão a exercer uma pressão adicional ainda maior sobre os mercados de produtos primários, agrícolas e minerais, com alta possibilidade de aprofundar o processo de especialização regressiva dos países da América do Sul e em especial do Mercosul, que inclui as duas maiores economias industriais da região.
20.   Em sociedades cada vez mais urbanizadas e com populações expressivas, sob o impacto permanente da propaganda agressiva de estímulo ao consumo, essa especialização regressiva levaria a uma  oferta de empregos industriais nessas sociedades insuficiente para atender à crescente demanda decorrente do crescimento demográfico e da necessidade de absorver os estoques de mão de obra secularmente subempregados e desqualificados. Os efeitos sociais dessa insuficiente geração de empregos urbanos seriam de extrema gravidade.
21.   Esse cenário afetaria profundamente as perspectivas e as possibilidades de integração mais profunda entre os Estados do Mercosul na medida em que esta integração depende da vinculação cada vez maior entre suas economias (e consequente vinculação política) o que somente é possível pelo intercâmbio de produtos industriais pois, no setor  agrícola, além da menor gama de produtos típica desse  setor, as produções dos quatro países são, em larga medida, concorrentes. Suas economias ficariam gradual ou até mesmo rapidamente cada vez mais isoladas umas das outras e o processo de integração mais profunda ficaria definitivamente abalado e reduzido a esforços de cooperação em setores importantes, porém limitados. 

O desafio das assimetrias
22.   As assimetrias entre os Estados do Mercosul, que são notáveis em  território e população, aspectos o primeiro fixo e o segundo  de lenta transformação, mas que tem, todavia,  grande  importância econômica, vem crescendo rapidamente em termos de grau de diversificação produtiva, de dinamismo tecnológico e de dimensão dos respectivos parques produtivos.
23.   A dinâmica dessas assimetrias, deixada ao sabor das forças de mercado, em uma  união aduaneira e em uma área de livre comércio, na inexistência de esquemas corretivos, leva a um grau de desenvolvimento cada vez mais distinto e, portanto, a fricções, a frustrações e a ameaças permanentes à coesão do Mercosul, com todas as  consequências para a capacidade, tanto dos Estados maiores mas em especial dos menores, de defender e de promover seus interesses  em um cenário internacional cada vez mais caracterizado, apesar da crise, pela expansão de grandes blocos de países, nas Américas, na Europa e na Ásia. 
24.   A redução das assimetrias é essencial para que as economias e as  sociedades possam se beneficiar de forma equitativa do processo de integração.  As assimetrias que, em termos  concretos, correspondem a grandes diferenças de infra-estrutura física e  social, de capacitação da mão de obra e de dimensão das empresas, fazem com que os investimentos privados não possam se distribuir de forma mais harmônica dentro do espaço comum, que a geração e a qualidade de empregos seja desigual e que, portanto, seja desigual a geração de renda e o bem estar nas diversas sociedades.
25.   Outros esquemas de integração, como a União Européia, desde sua origem em 1958, se preocuparam com a existência e os efeitos de  diferentes níveis de desenvolvimento entre os Estados que deles participavam e com a necessidade de promover o desenvolvimento mais acelerado dos países mais atrasados para tornar mais equilibradas as oportunidades dentro do espaço econômico comum. Lançaram mão de vários programas, basicamente de transferência de recursos, com o objetivo de nivelar a economia dos Estados que foram se agregando à União Européia e que se encontravam em diferentes estágios de desenvolvimento. O processo de reunificação das duas Alemanhas foi e é um exemplo de grande transferência de recursos que chega a atingir trilhões de dolares com o objetivo de nivelar duas economias e sociedades que se integram.
26.   Devido à doutrina neoliberal e a seus objetivos implícitos, que presidiram à criação do Mercosul, inicialmente julgou-se e afirmou-se que as dimensões assimétricas dos Estados não afetariam o desenvolvimento de cada um deles  e que a simples integração comercial automática,  sem levar em conta de forma adequada essas assimetrias, permitiria a cada um deles usufruir, de forma igual ou semelhante, dos benefícios decorrentes do processo de integração.
27.   Vinte anos depois do Tratado de Assunção há uma aceitação generalizada de todos os Governos da importância e das consequências de toda ordem das assimetrias entre os Estados e da necessidade de enfrentá-las com programas eficazes, cujo montante de recursos até agora alocados são absolutamente insuficientes para a dimensão da tarefa.
28.   Algumas afirmações básicas podem ser feitas sobre a possibilidade de êxito no enfrentamento do desafio de redução das assimetrias, indispensável para a coesão e o futuro econômico e político do Mercosul:
a. sem a compreensão generosa (e, aliás, de seu próprio interesse, econômico e político) dos Estados maiores, que deve se refletir em suas contribuições financeiras para os diversos programas, em especial para o FOCEM (Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul) pode-se continuar a enfatizar retoricamente a importância das assimetrias mas elas não se reduzirão;
b. sem a construção da infra-estrutura de energia e de transportes nos Estados menores as assimetrias não se reduzirão e
c. nenhum programa ou política comunitária em nenhuma das diversas áreas de integração poderá ir adiante sem a a criação de instrumentos financeiros assimétricos de financiamento desses  programas e políticas.

Ampliação geográfica do Mercosul
29.   Em um cenário internacional caracterizado pela ampliação de grandes blocos de países fortalecidos, a despeito da crise do euro, a capacidade do Mercosul de defender e de promover os interesses de seus Estados depende de seu fortalecimento econômico e político.
30.   Do ponto de vista econômico e social, o fortalecimento do Mercosul  resultará do desenvolvimento produtivo de cada uma das quatro economias nacionais, de sua  integração física e comercial, da redução significativa das disparidades em cada uma das sociedades, de seu dinamismo tecnológico, da redução das vulnerabilidades externas de cada um de seus membros.
31.   Do ponto de vista político, o fortalecimento do Mercosul como bloco depende de um lado de uma coordenação cada vez mais estreita de seus membros e, de outro lado, do número de Estados soberanos que o integram, Estados que, por esta razão, tem interesse em coordenar suas ações, como membros de um bloco, nas negociações e foros internacionais e diante de crises e iniciativas de terceiros Estados, em especial daqueles mais poderosos.
32.   A ampliação geográfica do Mercosul significa a adesão de novos membros. Por causa de decisões que tomaram no passado, não podem, no momento atual, fazer parte do Mercosul Estados que assinaram acordos de livre comércio com outros Estados ou blocos, tais  como a União Européia, e que, por esta razão, aplicam tarifa zero às importações provenientes daqueles Estados ou blocos e que, assim, não poderiam adotar e aplicar a Tarifa Externa Comum do Mercosul.
33.   A ampliação geográfica do Mercosul teve início com o processo de adesão da Venezuela. A participação integral da Venezuela no Mercosul é da maior importância política e econômica, dada a riqueza de recursos minerais e energéticos do país e de sua decisão de desenvolver industrialmente sua economia. Depende ela agora somente de decisão do Senado Paraguaio, já tendo sido aprovada pela Argentina, Brasil, Uruguai e Venezuela.
34.   Além da Venezuela, poderiam, em princípio, ingressar no Mercosul a Bolívia, o Equador, o Suriname e a Guiana. A possibilidade de Estados extra-regionais, isto é, situados fora da América do Sul,  ingressarem no Mercosul é reduzida.
35.   É de todo o interesse dos Estados do Mercosul criar as condições as mais favoráveis possíveis ao ingresso da Bolívia, do Equador, do Suriname e da Guiana como membros plenos no Mercosul e de fortalecer as relações com todos os demais países da América do Sul que, aliás, já são Estados associados, para que, no futuro, caso desejem ingressar no Mercosul, este ingresso seja mais fácil e eficaz, política e economicamente.

O Mercosul como mecanismo de desenvolvimento regional  
36.   À época da criação do Mercosul, existia a convicção nos  governos  dos Presidentes Menem, Collor, Rodrigues e Lacalle, de que a execução das políticas preconizadas pelo Consenso de Washington, isto é,  de desregulamentação, de privatização,  de abertura ao capital estrangeiro e de remoção das barreiras ao comércio, seriam suficientes para promover o desenvolvimento econômico e social.
37.   O Mercosul foi criado em 1991 para ser um esquema de liberalização comercial, como uma etapa de um processo “virtuoso” de eliminação de barreiras ao comércio e de plena inserção na economia internacional, e não para ser um organismo de promoção do desenvolvimento econômico nem dos Estados isolados nem em conjunto.
38.   A implementação do Tratado de Assunção, ao não levar em conta de forma adequada as diferenças entre os países e o impacto econômico e político dos deslocamentos econômicos causados pela redução de tarifas, levou a todo tipo de esquemas “provisórios”, tais como o acordo automotivo e as exceções à TEC, periodicamente renovadas, para bens da capital e de tecnologia de informação, e os acordos, muitas vezes informais, de organização do comércio  em certos setores empresariais.
39.   A transformação do Mercosul de uma simples união aduaneira e área de livre comércio imperfeitas em um esquema de desenvolvimento regional equilibrado e harmonioso dos quatro Estados, o que significa a eliminação das assimetrias e a gradual construção de uma legislação “comum”, exigiria:
a) o reconhecimento enérgico das assimetrias, cuja realidade se verificaria pela constituição de fundos comuns assimétricos, com recursos adequados, em cada área de integração, para financiar projetos, inclusive de harmonização gradual da legislação;
b)   a garantia de condições para permitir políticas de promoção do desenvolvimento industrial de cada Estado;
c) a celebração de acordos em setores industriais relevantes, semelhantes ao acordo automotivo;
d)   a criação de mecanismos que impeçam a “desorganização dos mercados” nacionais e, ao mesmo tempo, evitem o desvio de comércio em favor de países não-membros do Mercosul;
e) o acesso das empresas de capital nacional, sediadas nos quatro Estados, aos organismos nacionais de financiamento de qualquer um dos quatro Estados do Mercosul;
f) a harmonização da legislação dos quatro Estados em todas as áreas de integração.
40.   A crise econômica internacional, a estratégia e as políticas de desenvolvimento implementadas pela China, os programas implementados pelos países industrializados para enfrentar a crise e a verdadeira “suspensão”, na prática, das normas incluídas nos diversos acordos da OMC, “negociados” à época da hegemonia do pensamento neo liberal, criam um ambiente propício à adoção deste elenco de medidas.
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sexta-feira, 11 de maio de 2012

Franca e Alemanha: contradicoes na lideranca europeia


Germany remains opposed to calls for economic stimulus in Europe

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The Washington Post, May 10, 2012

BERLIN — French President-elect Francois Hollande and German Chancellor Angela Merkel have each been prescribing the same salve — growth — to ease Europe’s economic ills. But the medicines vary sharply on either side of the Rhine.
And though European leaders will meet later this month to try to work out their differences, the 17 countries that share the euro currency remain far from abandoning the debt-funding spending cuts that Germany has long championed.
Hollande’s version of growth involves spending more money to stimulate jobs and economic recovery. Merkel’s version remains focused on slow-moving economic measures, such as making it easier to hire and fire workers, that increase short-term pain before yielding long-term benefits.
As opponents of austerity won elections in both France and Greece this weekend, some analysts and government officials, including some at the International Monetary Fund, have suggested giving governments more time to reduce their deficits, thus taking some of the bite out of steep budget cuts.
Hollande, the Socialist victor in French elections on Sunday, has pushed for larger changes to the austerity pact that was signed by 25 of the European Union’s 27 members earlier this year. But Merkel has all but ruled out any large-scale stimulus programs to jolt struggling countries out of their doldrums, and expectations are low that any large-scale new remedies will come from the May 23 meeting in Brussels.
“Growth through structural reforms is sensible, important and necessary. Growth on credit would just push us right back to the beginning of the crisis, and that is why we should not and will not do it,” Merkel said in a speech to the German parliament on Thursday.
Instead, European leaders who will meet over dinner are expected to discuss measures such as boosting the lending capacity of the European Investment Bank, cracking down on tax evasion and improving financing for small businesses.
Both Merkel and Hollande “know they cannot have an open dispute, because that would kill the euro zone. So they are both willing to compromise somewhat. The question is how much,” said Sebastian Dullien, a senior policy fellow at the European Council on Foreign Relations in Berlin.
The strains are playing out against the backdrop of more uncertainty in Greece, where politicians who are trying to form a post-election coalition are likely instead to opt over the weekend for new parliamentary elections in June.
For now, the 17 countries that share the euro currency appear c loser to writing off a member, Greece, than ever before in their 13-year history. But some of Merkel’s allies have said they could envision once again reducing the interest payments that Greece is making on its emergency bailout loans.
If there are to be new elections, Europe’s willingness to offer concessions, however small, may be a determining factor in how well pro-bailout politicians do the second time around, after a first vote in which they were rejected two to one.
One of those pro-bailout leaders, Socialist Evangelos Venizelos, took up efforts to form a government Thursday, and called a meeting with Fotis Kouvelis, the leader of a small center-left party that favors remaining on the euro, “a good omen,” raising the prospects that the country could head off new elections.
Other proposals that may be discussed at the May summit but are likely to be more controversial include a European-wide financial transaction tax that is favored by euro-zone leaders as a way of raising revenue, but strongly opposed by Britain, which is a hub of the financial industry and does not use the euro.
“I think people want to see action,’’ said Peter Bofinger, a member of Merkel’s independent panel of economic advisers who has been an outspoken critic of the German response to the crisis.
Sony Kapoor, managing director of Re-Define, an economic think tank, said the election results in France and Greece show that “politically it has become imperative’’ for leaders to acknowledge the limits of their austerity plans.
“It is quite remarkable how much people are willing to take and sacrifice if it can be shown that tomorrow and the day after tomorrow will look better than today,’’ Kapoor said.


Correspondent Anthony Faiola in London contributed to this report.

China: impasses no crescimento e na estabilidade politica (WP)

The New York Times, May 10, 2012

China’s Growth Slows, and Its Political Model Shows Limits



CHONGQING, China — After the economies of Western nations imploded in late 2008, Chinese leaders began boasting of their nation’s supremacy. Talk spread, not only in China but also across the West, of the advantages of the so-called China model — a vaguely defined combination of authoritarian politics and state-driven capitalism — that was to be the guiding light for this century.
But now, with the recent political upheavals, and a growing number of influential voices demanding a resurrection of freer economic policies, it appears that the sense of triumphalism was, at best, premature, and perhaps seriously misguided. Chinese leaders are grappling with a range of uncertainties, from the once-a-decade leadership transition this year that has been marred by a seismic political scandal, to a slowdown of growth in an economy in which deeply entrenched state-owned enterprises and their political patrons have hobbled market forces and private entrepreneurship.
“Many economic problems that we face are actually political problems in disguise, such as the nature of the economy, the nature of the ownership system in the country and groups of vested interests,” said Zhang Ming, a political scientist at Renmin University in Beijing. “The problems are so serious that they have to be solved now and can no longer be put off.”
On Thursday, China released data that showed its economy was continuing to weaken. Many economists have been urging the government to loosen controls over the financial system, to support lending to private businesses while reining in state-owned enterprises, to allow more movement in exchange rates and interest rates, and to improve social benefits.
Such changes would curb the state’s role, lessen corruption and encourage competition. But making them would involve a titanic power struggle. Executives of Chinese conglomerates, army generals, Politburo members, local officials and the “princeling” children of Communist Party elders have little incentive to refashion a system that fills their coffers.
Another significant aspect of the China model is the growing security apparatus. Its heavy-handed tactics in pursuit of social stability have been called into question by, among other things, more than 30 self-immolations by disaffected Tibetans and a diplomatic crisis between China and the United States precipitated by the plight of a persecuted dissident, Chen Guangcheng. A well-documented uprising last winter against corrupt officials in the southern village of Wukan ignited a debate about how protests should be addressed: by the sword of the security forces, or through mediation by senior officials.
But it is the scandal over Bo Xilai, until recently a member of the party’s elite Politburo, that has most humbled those who previously praised the well-oiled nature of China’s political system and its appearance of unity.
Before the charismatic Mr. Bo lost his party chief post in Chongqing, other leaders were already starting to view him as an increasingly intolerable maverick. After arriving in Chongqing in late 2007, Mr. Bo began what was billed as a crackdown on crime, along with a revival of Mao-era singalongs and welfare policies, aimed at generating populist backing and winning political support from the “new left,” or hard-core socialists, for his bid to join the top-level Politburo Standing Committee, which is scheduled to turn over this year.
Mr. Bo’s bid veered sharply from the traditional route of ascension, which since the era of Deng Xiaoping has been one of back-room patronage and shadowy negotiations among party elders. The problem now in China is that the powers of those elders have diminished with each generation — the current president and party chief, Hu Jintao, is weaker than his predecessor, Jiang Zemin, who was much weaker than Mr. Deng.
With the dissolution of power, a multitude of factions and alliances are emerging under one-party rule, with no one voice able to impose order.
“China needs a system in place more than ever,” said Wang Kang, a liberal writer from Chongqing. “Only a system can guarantee stability.”
Some say that the purge of Mr. Bo was a correction in the political system, and that the system has returned to normal. But many others argue that given the growing incoherence at the top, and the diversity and reach of mass media in China, it is inevitable that more politicians will adopt Mr. Bo’s populist methods. Cheng Li, a scholar of Chinese politics, noted that at the annual National People’s Congress in March, several rising sixth-generation leaders gave prominent news media interviews, a form of self-promotion that was a break from tradition.
“There are no clear and steadfast rules,” said Wu Si, chief editor of Yanhuang Chunqiu, a journal of politics and history. “In this confused state, there is bound to be someone like Bo Xilai who deploys various methods to compete to enter the standing committee.”
Mr. Bo’s policies also helped expose another fault line in the China model: the priority placed on economic growth through investment projects carried out by state-owned enterprises, with generous loans from state banks. This is the framework propping up the Chinese economy.
Flush with infrastructure projects, Chongqing, with a population of 31 million, had an economic growth rate of 16.4 percent last year, the highest of any municipality. But the municipal government and local state-owned companies have accumulated $160 billion in debt, according to an estimate by Victor Shih, who studies China’s political economy. Many of those loans might never be repaid.
Policy makers pushing for a different model across China, one that relies more on consumer spending and encourages private enterprise, insist that long-stalled structural overhauls must be restarted. Some see an opening in the coming leadership transition. But the biggest hurdle may be the fact that both departing and incoming leaders have close ties to state-owned enterprises, which are keen to preserve the status quo.
The hesitancy over the next step is heightened by China’s cooling economy. The growth rate slowed to 8.1 percent in the first quarter of this year, and Prime Minister Wen Jiabao in March cut the forecast for the year to 7.5 percent. The property market is deflating. The data released on Thursday showed that domestic demand is weakening and exports are flagging.
China warded off the global financial crisis with a $580 billion stimulus package and a loosening of bank lending. Its leaders could fall back on that government-led, investment-driven approach if the economy cools too much.
One thing keeping them in check, however, is fear of rampant inflation, which could increase social unrest. Discontent among the poor and middle class is a major source of anxiety for Chinese leaders, yet there are no easy solutions to the widening wealth gap, as long as rapid growth is the priority.
The surging number of protests arising from this gap is another stress point in the China model. Officials rely heavily on domestic security forces to quell what they call “mass incidents,” which one sociologist, Sun Liping, estimated at 180,000 in 2010. In March, the government announced that it planned to spend $111 billion on domestic security this year, a 12 percent increase over 2011, and $5 billion more than this year’s military budget.
During the uprising in Wukan last winter, which began because of what villagers called illegal land seizures by local officials, police units surrounded the village, but backed off after Guangdong Province officials negotiated with the residents. Wang Yang, the provincial party chief, took credit for the peaceful settlement and has proposed that that strategy be more widely adopted, in an implicit criticism of the militant tactics used in “stability maintenance.”
The weakness of those tactics was exposed once again when Mr. Chen, the activist put under house arrest in 2010, made his nighttime escape from village guards who had beaten him and his wife. Mr. Chen, who is blind, fled to the United States Embassy in Beijing. That such brutality could set off a diplomatic crisis between the world’s superpower and its rising rival is as obvious a sign as any of the deep flaws in China’s security methods.
“From the few times I’ve engaged with them,” Mr. Chen said, “I know they have the intention of reforming, of slowly initiating the rule of law. But I don’t know how soon.”

Jonathan Ansfield contributed reporting, and Li Bibo and Edy Yin contributed research.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Quantas pessoas trabalham na ONU: O DOBRO...

Este artigo, sobre um dos maiores dinossauros mundiais, conclui dizendo que o número de pessoas que trabalham na ONU, ou para a ONU, e diz que é "a metade".
Pois eu acho que é o dobro, o dobro de todos os números nos quais se possa pensar.
Paulo Roberto de Almeida 

AFINAL, QUANTAS PESSOAS TRABALHAM NA ONU….
Jamil Chade
O Estado de S.Paulo, 8/05/2012

 Nesta semana, em um almoço entre empresários em Genebra, fui colocado ao lado de um dos diretores de uma das maiores empresas de consultoria do mundo. Por sete anos ele foi um dos encarregados de propôr e tentar implementar uma reforma da administração da ONU. Além das histórias geniais que contou sobre o funcionamento das Nações Unidas, o consultor revelou que seu trabalho, na realidade, começou com uma pergunta simples: quantas pessoas trabalham na ONU.
Mas o que parecia ter uma resposta óbvia levou anos para ser decifrada. Em Genebra, o prédio da ONU é o símbolo de um sonho. Alí estão depositadas as esperanças de milhares de pessoas, de que conflitos serão solucionados, que a pobreza seja superada e que o bem-estar seja conquistado por todos. Confesso que não vejo o mundo sem o trabalho da ONU.
Mas o edifício conta com um outro lado. A ONU, ao ser o espelho de governos de todo o mundo, é também a síntese de toda a burocracia mundial. E o pior de cada burocracia. Em doze anos percorrendo os corredores da entidade como correspondente, confesso que sinto a mesma frustração do consultor que se sentou ao meu lado: afinal de contas, quantas pessoas trabalham na ONU. E o que de fato fazem.
Uma opção para ter uma resposta seria chegar pela manhã e avaliar o número de pessoas entrando no edifício. O problema é que não há “ponto” e horários são “flexíveis”, principalmente em dias depois de feriados. Uma boa opção é esperar até as 10am, quando as lanchonetes do edifício ficam lotadas com funcionários, ávidos por um café. Outra opção é ainda a cafeteria, que serve almoço entre meio-dia e duas da tarde e também está lotada, sempre. A última opção é ainda esperar até as 6pm. Mas, nesse horário, a maioria dos funcionários já deixou o edifício e os corredores estão vazios.
Questionar o que cada um faz dentro do monstruoso edifício é ainda mais problemático, isso sem contar com perguntas relacionadas ao orçamento. Na FAO, em Roma, 60% do orçamento da entidade é usado para pagar os funcionários na capital italiana. O restante, claro, é usado para combater a fome no mundo, que atinge 1 bilhão de pessoas. Há alguns anos, um diretor-geral da ONU em Genebra causou um mal-estar ao tomar posse. Insistia que a frota de carros que o servia não era adequada e mandou comprar novos carros de luxo. Especificou que queria um certo modelo, que ficava acima do orçamento disponível. Misteriosamente, o orçamento foi modificado e seu carro chegou dias depois.
Fui surpreendido no domingo passado, no aeroporto de Genebra, ao ver que um dos motoristas de uma missão latino-americana aguardava alguém no setor de desembarque, uniformizado, como manda o protocolo. Fui querer saber quem estava chegando. A resposta foi a mais óbvia: o embaixador daquele país, que havia passado o fim de semana fora da cidade a passeio. Na realidade, nunca entendi porque em Genebra, uma cidade de 300 mil habitantes, embaixadores precisam de motoristas. Mas, enfim, por algo será.
Na Organização Mundial de Propriedade Intelectual, o ex-diretor foi pego construindo uma piscina em sua mansão em Genebra. Documentos revelados pelo Wikileaks mostraram como os gastos da missão da ONU no Haiti nunca foram plenamente esclarecidos, principalmente os recibos suspeitos de gasolina nos carros oficiais. No Fundo Global contra a Aids, uma auditoria mostrou no ano passado como governos desviaram dinheiro que seria usado para tratar pacientes. Como eu disse, a ONU não passa de uma síntese das burocracias mundiais.
Há poucos anos, a ONU resolveu renovar uma de suas salas de reunião e gastou US$ 30 milhões para isso, em uma única sala, hoje chamada de catedral (ver foto).
Peço ao leitor que não me classifique como alguém que quer ver o fim da ONU, como os neo-conservadores americanos. Muito pelo contrário. O mundo precisa de uma ONU forte, profissional e competente. Mas, para isso, muito terá de ser mudado.
As limitações não são apenas administrativas. Seu histórico nos últimos dez anos revela um cenário de calamidade diplomática. A entidade foi ignorada pelos americanos na guerra do Iraque, ignorada por iranianos e norte-coreanos no desenvolvimento de programas nucleares, foi ignorada pela Rússia na Chechênia, pelo Sri Lanka (com a ajuda do Brasil), pela OTAN na Líbia e em tantas outras crises. Os responsáveis disso tudo: os próprios governos, que operam dentro da entidade manobras políticas constantes, o que não deveria ser uma surpresa para ninguém. Há uns anos, Ban Ki Moon me confessou: seus discursos são aguados. Uma obviedade diante das limitações que governos o colocam.
Mais uma chance está sendo dada à ONU mostrar sa relevância na crise na Síria. Kofi Annan, o mediador, faz questão de não desistir, mesmo se admite que seu plano de paz avança “centímetros”, e não metros.
Se a ONU espera ser ponto de referência no mundo, governos precisam de fato mudar suas atitudes. Mas a administração da entidade também precisa passar por uma reforma profunda e atuar como se resultados tivessem de ser apresentados a acionistas, que no caso são os cidadãos de todo o mundo.
Por enquanto, isso também não passa e um sonho, como o da redução da pobreza e paz mundial. Ah sim…, respondendo à pergunta inicial. Aquele consultor, ao final de sete anos de trabalho, finalmente acredita que descobriu quantas pessoas trabalham na ONU: metade

Parasitas e desenvolvimento economico: um livro de historia

Existem vários tipos de parasitas no mundo, especialmente os de duas patas e de gravata. Vários deles prejudicam terrivelmente o desenvolvimento econômico.
Mas, vamos ver um livro sobre determinadas espécies de parasitas, com mais de duas patas...
Paulo Roberto de Almeida 



------ EH.NET BOOK REVIEW ------
Title: Parasites, Pathogens, and Progress: Diseases and Economic Development
Published by EH.Net (May 2012)

Robert A. McGuire and Philip R. P. Coelho:
Parasites, Pathogens, and Progress: Diseases and Economic Development
Cambridge, MA: MIT Press, 2011. viii + 343 pp. $30 (hardcover), ISBN: 978-0-262-01566-0.
Reviewed for EH.Net by John E. Murray, Department of Economics, Rhodes College.

An old saw proposes that holding a hammer makes everything look like a nail.  When Robert McGuire and Philip Coelho suggest (p. 5) that Jared Diamond’s bestseller (1997) should have been titled Germs, Germs, and Germs, the reader may think that the authors carry not a hammer but a microscope.  Everywhere in this history, germs appear as the critical and virtually only influence on economic development.  By the end the reader better understands microbes in American history, but may still wonder if natural resource endowments, property rights and contract law, accumulating human capital, and flexible markets played a role as well.
Parasites, Pathogens, and Progress synthesizes a considerable literature on infectious disease and U.S. economic history, particularly before 1900.  On the purely economic side, a set of verbal and flowchart models of economic growth stress connections between ever greater population density and increasing infectious disease rates.  These connections, they argue, counterbalance better known Smithian growth models in which increasing density leads to the division of labor and Malthusian anti-growth models in which increasing density leads to food shortages.  Traditionally in neither of these stories do infectious diseases play much of a role.  This book aims to fix that omission.  The authors write (p. 6), “We do not claim that we are the first to bring parasites and pathogens into the history of humanity and the economy, but we do so with emphasis and conviction that are missing in other histories.”  Here is truth in advertising.  Readers familiar with the work of world historians such as William McNeill, Philip Curtin, or Alfred Crosby, or historians of medicine such as Kenneth Kiple, Todd Savitt, or Margaret Humphreys will find little new here.  The same disease agents, transmission processes, and racial differentials appear in this book as in the works of those historians.  To these factors the authors attribute monocausal explanatory power with iron single-mindedness.
Disease in economic development (or stagnation) is fascinating, and this book brings out much of that inherent interest, but with little subtlety.  Much of the authors’ case moves forward without reference to work of previous historians.  Concerning European contact with the New World, they write (p. 33), “The assumptions that the biological environment is unchanging and that the ecology is exogenous to human actions are spectacularly incorrect.”  But after McNeill’s Plagues and Peoples (1976) and Crosby’s Ecological Imperialism (1986), very few scholars believe in a static global disease environment.  The idea that disease might explain some of a historical episode rather than all of it generally is absent.  Two pages concern the irresistible Antebellum Paradox of declining adult heights and life expectancies in an era of increasing per capita incomes.  Expanding transportation networks integrated local, and then regional, and then national disease pools.  The authors conclude, “The deteriorating disease environment affected the biological standard of living and, as a result, average heights fell” (p. 53).  Full stop.  But no scholar doubts that disease mattered, and most try to account for its influences.  Despite the strongly worded conclusion, no evidence supports their absolute attribution, nor can the authors rule out the explanatory power of trends in pork production, income distribution, infant mortality, and urbanization.  The publication with the best evidence for the transport-disease connection (Haines, Craig, and Weiss 2003) is not cited in this book.
The bulk of the book is given over to the importance of infectious disease, primarily malaria, in determining that the labor force in the South would be drawn from African slaves rather than bound Europeans or Indians.  The authors cast their story of racial differentials in malaria susceptibility against Kenneth Stampp’s claim in The Peculiar Institution (1956) that Africans, Europeans, and their descendants were equally vulnerable to Plasmodium.  In contrast, write McGuire and Coelho, a sound scientific literature has arisen that attributes differential mortality rates by race to physiological differences such as the presence or absence of sickle cells or the Duffy antigen.  This discussion, in Chapter 6, is clearly presented, even in its technical parts, as well as engaging and informative.  But it is a bit beside the point because the hypothesis of differential malaria susceptibility and its consequences for our history is widely accepted by historians.  As a typical example, Humphreys concluded ten years ago in her Malaria (2001, p. 28; not cited in this book), “While no simple cause and effect can be directly established, and other diseases such as yellow fever certainly played their part, it can at least be concluded that malaria had a substantial impact on labor and settlement patterns in the American colonies, patterns that would ultimately lead to the Civil War.”
The authors occasionally succumb to the temptation to let inferences from their model replace historical evidence.  Here are two examples.  First, on the transition from temporarily-bound Europeans to permanently-bound Africans:  The authors describe a process of natural selection in favor of relative resistance of white people to cold weather diseases and of black people to hot weather diseases, which more or less accords with the scientific literature.  “As a result,” they write (p. 100), “there is (sic) an increase in the migration of European indentured servants” to the northern colonies.  To explain the absence of evidence for this claim, they note (p. 100) that “reliable data for indentured servants bound for New England are not available.”  They seem unaware that the lack of such data, reliable or otherwise, was due to the tendency of indentured servants to avoid New England in the first place, contrary to the conclusions of the authors’ model.  A second example concerns antebellum medical practice.  With no reference to its price, they assert (p. 161) that planters could afford quinine for their slaves, that a sufficient quantity of quinine to stem a malarial episode was cheaper than replacing a slave (almost certainly true), and there they stop.  Did planters actually provide quinine to their slaves?  We know from a standard work, Savitt’s Medicine and Slavery (1981, p. 155; not cited in this book), that in fact quinine was widely used on plantations.  A simple citation to Savitt’s findings would have completed their argument.
Disease has played an important role in American history, and the number of historians who think so are greater than this book seems to assume.  If infectious disease might have been overlooked at some point in the historiography, this book will help gain greater attention for its multifaceted influences.  Still, it would have helped the authors’ case if they had contented themselves with nominating parasites and pathogens to join the ranks of relevant subjects for historical study, rather than asserting their near-exclusive primacy.

References:
Crosby, Alfred. Ecological Imperialism: The Biological Expansion of Europe, 900-1900. New York: Cambridge University Press, 1986.
Diamond, Jared. Guns, Germs, and Steel: The Fates of Human Societies. New York: W.W. Norton, 1997.
Haines, Michael, Lee Craig, and Thomas Weiss.  “The Short and the Dead: Nutrition, Mortality, and the ‘Antebellum Puzzle’ in the United States,” Journal of Economic History 63 (2003): 382-413.
Humphreys, Margaret. Malaria: Poverty, Race, and Public Health in the United States.  Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2001.
McNeill, William. Plagues and Peoples. New York: Anchor Press, 1976.
Savitt, Todd L. Medicine and Slavery: The Diseases and Health Care of Blacks in Antebellum Virginia.  Urbana: University of Illinois Press, 1978.
Stampp, Kenneth. The Peculiar Institution: Slavery in the Ante-Bellum South. New York: Vintage Books, 1956.

John E. Murray is Joseph R. Hyde III Professor of Political Economy at Rhodes College in Memphis, Tennessee.  His next book, The Charleston Orphan House: Children’s Lives in the First Public Orphanage in America, will be published by the University of Chicago in early 2013.

Copyright (c) 2012 by EH.Net. All rights reserved. This work may be copied for non-profit educational uses if proper credit is given to the author and the list. For other permission, please contact the EH.Net Administrator (administrator@eh.net). Published by EH.Net (May 2012). All EH.Net reviews are archived at http://www.eh.net/BookReview.

Livros disponiveis na internet - Universia Brasil


Mais de 500 livros disponíveis para download gratuito

Portal publica inclusive oito das nove obras exigidas pelos vestibulares da Fuvest e da Unicamp

07 de maio de 2012 | 19h 58


Estadão.edu
Mais de 500 obras literárias estão disponíveis para download gratuito no portal Universia Brasil. Entre elas, oito dos nove livros cobrados pelas bancas da Fuvest e da Unicamp no vestibular. O único que ainda não ganhou versão digital é Capitães da Areia, de Jorge Amado.
Ao todo foram publicados 521 arquivos em formato PDF, que pode ser lido em computadores, tablets e e-readers. As obras são dos mais variados estilos: há desde biografias de cineastas até textos científicos sobre comunicação, passando, claro, por grandes clássicos da literatura.
Segundo a gerente de conteúdo do portal, Alexsandra Müller, o objetivo da iniciativa é incentivar a leitura e democratizar o acesso ao conhecimento. "A gente acredita no poder de transformação da leitura, do ponto de vista pessoal e acadêmico", afirma.
Alexsandra conta que os textos já estavam publicados na internet. O trabalho da equipe do site foi agregar o conteúdo em um único endereço eletrônico. "Esses livros foram pedidos por nossos leitores em enquetes e nas nossas redes sociais. Um internauta, por exemplo, queria muito ter acesso a textos de Gregório de Matos."
Para se ter uma ideia, a demanda por obras gratuitas é tão grande que uma notícia sobre 120 obras acadêmicas disponíveis para download, publicada em setembro do ano passado, continua liderando o ranking das matérias mais lidas do portal.
Vestibular
Estão disponíveis para download os seguintes livros da Fuvest e da Unicamp:
A Cidade e as Serras (Eça de Queirós)
O Cortiço (Aluísio Azevedo)
Memórias de um Sargento de Milícias (Manuel Antônio de Almeida)
Memórias Póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis)
Sentimento do Mundo (Carlos Drummond de Andrade)
Til (José de Alencar)
Viagens na Minha Terra (Almeida Garrett)
Vidas Secas (Graciliano Ramos) 
As obras de Aluísio de Azevedo são destaque entre o material. São 17 livros do romancista, contista, cronista, diplomata, caricaturista e jornalista nascido no Maranhão. Além disso, pode ser feito o download de 27 livros de José de Alencar, 18 de Eça de Queirós, 13 de Fernando Pessoa, 8 de Lima Barreto.
Quem quiser treinar o inglês poderá baixar 15 livros do poeta inglês William Shakespeare.
O portal também oferece uma série com 20 livros sobre cinema nacional, como biografias de cineastas e roteiros de filmes de destaque.
Ainda há outras 30 obras sobre comunicação, entre as quais Jornalismo e Convergência: Ensino e Práticas Profissionais, de Cláudia Quadros, Kati Caetano e Álvaro Laranjeira, eComunicação e Política, de João Carlos Correia.
Para acessar a lista completa e baixar os arquivos, basta acessar o sitehttp://noticias.universia.com.br/tag/livros-gr%C3%A1tis/ e salvar o material.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Diplomacia eleitoral paralela: promovendo os aliados ideologicos

Quando Lula era presidente, aquela cláusula constitucional sobre a não interferência nos assuntos internos de outros países não tinha nenhum significado. Não só não tinha, como ele a violava expressa, deliberada, consciente e repetidamente, sempre quando houvesse um candidato dito progressista -- ou seja, antiamericano -- em algum lugar.
Esse tipo de prática chegou aos extremos no caso de Honduras, quando o Brasil, não contente de tramar com Chávez o retorno ao país do ex-presidente deposto, permitiu que ele fizesse política a partir da Embaixada do Brasil, violando, assim, não apenas aquele preceito constitucional, mas diversos tratados sobre asilo político e a própria convenção de Viena sobre relações diplomáticas.
Com relação a Venezuela, os apoios foram explícitos, repetidos e clamorosos, como continuam, ainda hoje.
Talvez a assessoria requerida atualmente seja mais de natureza médica do que propriamente política...
Paulo Roberto de Almeida 

Reinaldo Azevedo, 6/05.2012
Luiz Inácio Lula da Silva, definitivamente, não está sabendo ser ex-presidente, conforme prometeu que faria. Certa feita, referindo-se a FHC, sugeriu que ele ficasse em casa cuidando de livros e netos. Netos, ao menos, Lula os tem. Não contente em investir na desordem institucional no Brasil, conforme escrevi no texto que manterei no alto da home ainda nesta manhã, o ex-presidente brasileiro está se metendo nas eleições venezuelanas para tentar garantir sobrevida política ao tiranete Hugo Chávez. Parece que o outro tem aquilo que lhe faz falta aqui: o direito de ficar no poder até quando Deus quiser.  Chávez, sim, sabe odiar sem amarras institucionais!
Reportagem de Frank López Ballesteros publicada ontem no jornal venezuelano El Universal informa as investidas e interferências de Lula no processo sucessório venezuelano. Em março, o Apedeuta se reuniu com o marqueteiro do PT, João Santana — que está prestando assessoria ao candidato Chávez — para saber detalhes da campanha eleitoral do Beiçola de Caracas. Quis conhecer as propostas de trabalho que seriam apresentadas ao PSUV, o partido do ditador. Em meados de abril, segundo o jornal, Santana desembarcou na Venezuela para se encontrar com o tiranete, levando a tiracolo ninguém menos do que José Dirceu. Dirceu é aquele senhor acusado pela Procuradoria Geral da República de ser “chefe de quadrilha”. Que encontro!!!
Valter Pomar
Antes, em março, quem passou pela Venezuela foi Válter Pomar, secretário de Relações Internacionais do PT e secretário-geral do Fórum de São Paulo, que reúne partidos e grupos de extrema esquerda da América Latina. As Farc já fizeram parte da turma — hoje, oficialmente ao menos, está afastada do Fórum… Pomar desfilou ao lado dos chefões do PSUV e, acreditem, decidiu desqualificar Henrique Capriles Radonski, o candidato da oposição.
Lula está mesmo empenhado. No encontro que manteve no fim de março com o governador do Rio, Sérgio Cabral, e com o prefeito da capital, Eduardo Paes, no Circo Libanês, o Apedeuta expressou ao governador o seu descontentamento pela suposta simpatia que Cabral teria pela candidatura de Capriles. Segundo a fonte do Universal, “a vinculação do governador com o oposicionista venezuelano é pessoal, não pública”. De todo modo, Renato Pereira, marqueteiro das campanhas de Cabral e Paes, teria se encontrado com a equipe de Capriles. O chefão petista não gostou. Segundo essa mesma fonte, Lula quer que seus aliados mantenham distância da oposição venezuelana.
É isto: se há regime autoritário na América Latina — e no mundo! —, Lula é a favor. Só exige, claro!, que seja de esquerda ou, ao menos, antiamericano. Eis o nosso Apedeuta. Justiça se lhe faça, não promove a destruição de instituições e de valores democráticos apenas em seu pais.

Cooperacao internacional - livro sobre emergentes


The book "Development Cooperation and Emerging Powers: New Partners or Old Patterns", edited by Sachin Chaturvedi, Thomas Fues and Elizabeth Sidiropoulos, explores the development cooperation policies of China, India, Brazil, and South Africa and compares them with those of Mexico and Western actors. In exploring the motivation and execution of these countries' development policies, the volume analyzes how South-South cooperation has evolved, and where it differs from traditional development cooperation. This vital new collection brings together first-hand experience from a range of national experts from these countries, all members of the "Managing Global Governance" network, to provide a forward-looking analysis of global frameworks and the evolution of a possible convergence of traditional and emerging development actors.

A velha Guerra Fria geopolitica e a nova "guerra fria" economica - Artigo Paulo Roberto de Almeida

Recebi, finalmente, o link e as informações apropriadas relativos a este artigo feito um ano atrás e publicado numa revista militar: 

2306. “A economia política da velha Guerra Fria e a nova “guerra fria” econômica da atualidade: o que mudou, o que ficou?”, Brasília, 1ro setembro 2011, 20 p. Paper preparado para o seminário: Estudos sobre a Guerra Fria, USP, 7-9 de Novembro de 2011. Feita versão completa, adaptada às normas de publicação da Revista da Escola de Guerra Naval enviada em 29/09. Publicada na Revista da Escola de Guerra Naval (Rio de Janeiro: vol. 17 n°2, Dezembro de 2011, p. 7-28; ISBN: 1809-3191; link: https://www.egn.mar.mil.br/arquivos/revistaEgn/novaRevista/pagina_revista/n17_2/_edicao17_2.pdf). Relação de Publicados n. 1063.