O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sábado, 18 de janeiro de 2014

A conspiracao dos beocios totalitarios - Katia Abreu

Kátia Abreu, senadora
Folha de S.Paulo, 18/01/2014

"Teoria da conspiração" tornou-se uma espécie de mantra para banir qualquer avaliação mais profunda da conjuntura política. O termo é invocado mesmo quando já se está diante não de uma tese, mas da própria prática conspirativa.

Os fatos estão aí: há um projeto em curso, que pretende restringir e relativizar a propriedade privada e a economia de mercado. Em suma, o Estado democrático de Direito. O setor rural é o mais visado.

Usa-se o pretexto da crise social para invasões criminosas a propriedades produtivas: sem-terra, quilombolas e índios têm sido a massa de manobra, incentivada por ativistas, que, no entanto, não querem banir a pobreza.

Servem-se dela para combater a livre iniciativa e estatizar a produção rural. Espalham terror nas fazendas e, por meio de propaganda, acolhida pela mídia nacional, transformam a vítima em vilão. Nos meios acadêmicos, tem-se o produtor rural como personagem vil, egoísta, escravagista, predador ambiental, despojado de qualquer resquício humanitário ou mesmo civilizatório.

No entanto, é esse "monstro" que garante há anos à população o melhor e mais barato alimento do mundo, o superavit da balança comercial e a geração de emprego e renda no campo.

Nada menos que um terço dos empregos formais do país está no meio rural, que, não tenham dúvida, prepara uma nova geração de brasileiros, apta a graduar o desenvolvimento nacional.

Enfrenta, no entanto, a ação conspirativa desestabilizadora, que infunde medo e insegurança jurídica, reduzindo investimentos e gerando violência, que expõe não os ativistas, mas sua massa de manobra, os inocentes úteis já mencionados.

Vejamos a questão indígena: alega-se que os índios precisam de mais terras.

Ocorre que eles --cerca de 800 mil, sendo 500 mil aldeados-- dispõem de mais território que os demais 200 milhões de compatriotas. Enquanto estes habitam 11% do território, os índios dispõem de 13%. Não significa que estejam bem, mas que carecem não de terras, e sim de assistência do Estado, que lhes permita ascender socialmente, como qualquer ser humano.

Mas os antropólogos que dirigem a Funai não estão interessados no índio como cidadão, e sim como figura simbólica. Há o índio real e o da Funai, em nome do qual os antropólogos erguem bandeiras anacrônicas, querendo que, no presente, imponham-se compensações por atos de três, quatro séculos atrás.

O brasileiro índio do tempo de Pedro Álvares Cabral não é o de hoje, que, mesmo em aldeias, não se sente exclusivamente um ente da floresta, mas também um homem do seu tempo, com as mesmas aspirações dos demais brasileiros.

Imagine-se se os franceses de ascendência normanda fossem obrigados pelos de descendência gaulesa a deixar o país, para compensar invasões ocorridas na Idade Média. Ou os descendentes de mouros fossem obrigados a deixar a Península Ibérica, que invadiram e dominaram por oito séculos.

A história humana foi marcada por embates, invasões e violência. O processo civilizatório consiste em superar esses estágios primitivos pela integração. O Brasil é um caudal de raças e culturas, em que o índio, o negro e o europeu formam um DNA comum, ao lado de imigrantes mais tardios, como os japoneses.

Querer racializar o processo social, mais que uma heresia, é um disparate; é como cortar o rabo do cachorro e afirmar que o rabo é uma coisa e o cachorro outra.

A sociedade brasileira está sendo artificialmente desunida e segmentada em negros, índios, feministas, gays, ambientalistas e assim por diante. Em torno de cada um desses grupos aglutinam-se milhares de ONGs, semeando o sentimento de que cada qual padece de injustiças, que têm que ser cobradas do conjunto da sociedade.



Que país pretendem construir? Não tenham dúvida: um país em que o Estado, com seu poder de coerção, seja a única instância capaz de deter os conflitos que ele mesmo produz; um Estado arbitrário, na contramão dos fundamentos da democracia. Não é teoria da conspiração. É o que está aí.

O Afeganistao tem solucao? Provavelmente nao! Nem sem rima. Um Estado mais que falido...

Certos Estados, reconhecidos como tais pela ONU, não reunem, na verdade, condições mínimas para figurar nessa categoria, e isso não tem nada a ver com o colonialismo, com a dominação ocidental, as invasões imperialistas, e outras bobagens do gênero.
Isso tem a ver com a incapacidade de suas elites de governarem o país de uma forma minimamente racional, o que provocou uma situação de anomia absoluta que impede qualquer forma de governança de se estabelecer como Estado normal. Eles estão além da falência, já passaram para a situação de caos permanente.
O Haiti arriscou cair nessa situação e só escapou de cair no precipício por causa da intrevenção estrangeira. Agora, ele vai cair no colo da assistência pública internacional e vai viver nessas situação pelos próximos 50 anos, até dispor de elites capazes de assumir suas responsabilidades.
Somália e Afeganistão, República Centro-Africana, Sudão do Sul e alguns outros já estão numa, ou se dirigem rapidamente para, uma situação terminal.
Não vejo nenhuma solução fácil ou minimamente aceitável, sem enormes custos humanos, no futuro previsível. Não existem elites nacionais capazes de endireitar a situação. Daí o sacrifício do Ocidente, que em outros tempos se chamava o fardo do homem branco.
Isso apenas nos confirma que certos indivíduos, determinadas sociedades e pelo menos uma religião em particular não pertencem ainda ao século 20, mas a um universo muito primitivo, eu até diria troglodita. Assim é o mundo, infelizmente, um lugar que está mais para Hobbes do que para Locke ou Kant. Um dia virá, mas para certos povos, isso ainda vai exigir pelo menos três ou quatro gerações. Isso se o Ocidente não desistir, claro.
Mas o preço a pagar é esse aí, como figura na matéria abaixo.
Paulo Roberto de Almeida 

Atentado em Cabul deixa 16 mortos, a maioria estrangeiros

Representante do FMI e três membros da ONU estão entre as vítimas do ataque

Forças de segurança afegãs deixam o local de um ataque suicida em um restaurante de Cabul, no Afeganistão. O restaurante libanês é popular entre os estrangeiros e afegãos ricos
Forças de segurança afegãs deixam o local de um ataque suicida em um restaurante de Cabul, no Afeganistão. O restaurante libanês é popular entre os estrangeiros e afegãos ricos (Massoud Hossaini/AP)
Um atentado suicida reivindicado pelo grupo terrorista Talibã deixou ao menos dezesseis mortos em um restaurante de Cabul, no Afeganistão. Entre as vítimas estão três funcionários da Organização das Nações Unidas (ONU) e um representante do Fundo Monetário Internacional (FMI). O atentado foi perpetrado na hora do jantar, em um popular restaurante libanês no distrito de Wazir Akbar Khan, que abriga muitas embaixadas.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon condenou o ataque e lamentou a morte dos membros das Nações Unidas. "Estes ataques voltados contra civis são completamente inaceitáveis", afirmou. Em um comunicado, a diretora do FMI, Christine Lagarde, informou que o libanês Wabel Abdallah, de 60 anos, que chefiava o escritório da organização em Cabul desde 2008, é uma das vítimas. "É uma notícia trágica e nós estamos devastados", disse ela.

Leia também:
Ataque suicida no Afeganistão mata 3 soldados da Otan
Após 12 anos, Austrália anuncia retirada do Afeganistão
A explosão no local abriu caminho para dois atiradores entrarem no restaurante e começarem a disparar contra as pessoas que estavam no estabelecimento. Os tiros puderam ser ouvidos durante vários minutos (entre 10 e 20 minutos, segundo relatos) e a principal rua que leva à área foi isolada. O porta-voz do Ministério do Interior, Sediq Sediqi afirmou que dois atiradores foram mortos pelas forças de segurança.
Estratégia terrorista - Segundo o jornal The New York Times, fontes afegãs e ocidentais disseram que pelo menos treze mortos eram estrangeiros. O jornal pontua que o atentado representa uma mudança na estratégia regular do Talibã, que geralmente prefere atacar alvos cercados de segurança, como prédios do governo e símbolos da presença ocidental no país, como a embaixada americana.
Retirada – O atentado ocorre no momento em que a maior parte das forças estrangeiras se preparam para deixar o Afeganistão este ano, depois de mais de uma década marcada por ataques frequentes. Washington negocia com o presidente Hamid Karzai um acordo que permitiria a permanência de algumas tropas americanas no país.
As preocupações com segurança aumentaram no Afeganistão com a proximidade da eleição presidencial marcada para abril, quando a população vai eleger o sucessor de Karzai. Se nenhum acordo for alcançado entre os EUA e o governo local, as forças afegãs terão de enfrentar os terroristas por conta própria.
(Com agência Reuters)

Henry Kissinger sobre Ariel Sharon - The Washington Post

Ariel Sharon’s journey from soldier to statesman

Henry A. Kissinger was secretary of state from 1973 to 1977.
Arik Sharon started as a warrior. He ended his career on the way to being a peacemaker. On that journey from fighting in every one of Israel’s wars to lying comatose for eight years in a Jerusalem hospital, he symbolized the anguish and dilemmas of Israel. A people who had come to their historic homeland had established themselves, surrounded by a culture that never acquiesced in ceding what it considered Islamic patrimony. Even before the proclamation of the Jewish state, Israel found itself in a state of war that has never ended. It has always lacked the essential prerequisite for peaceful coexistence with its neighbors: their recognition of its existence, which everywhere else is the precondition of diplomacy, not its outcome.
This state of affairs produced two aspects of the Israeli psyche: a hair-trigger response to security threats and an attitude toward the peace process both grudging and nostalgic. Israel’s margin of survival has been so narrow that its leaders felt they could not run risks about emerging military capabilities of countries that refused to accept and daily castigated the Jewish state. When threatened, preemption became its style of warfare. And it viewed the peace process both with reluctance to give up territory in an environment so rife with denunciation and with a definition of peace so sweeping as to be very difficult to achieve in a single negotiation.
When he was struck down by a stroke in 2006 , Sharon as prime minister was in the process of putting before his people a vision of coexistence with the Palestinians. Many visionaries of peace in Israel were military men: Yitzhak Rabin won the 1967 war. Shimon Peres, though not a military man, went the same route: a hawk in his early career, a passionate advocate of the peace process in recent decades.
Sharon had to undertake the longest journey to reach this insight. A daring commander, he conducted the battle that reversed the tide of the 1973 war; he was the principal advocate of the operations in Lebanon. For many years, he deplored America’s decision in 1973 to bring about a negotiated end of the war. I was secretary of state at the time, and he missed few opportunities to chide me.
The United States acted as it did then because we were convinced that, however vast the margin of victory, it would leave Israel with its historic challenge: how to translate victories over threats to its security into political coexistence with the societies it lived among. The Egyptian leader, Anwar Sadat, seemed to offer such a prospect.
In our many discussions, I always respected, then grew to admire and eventually develop affection for, this dedicated man living on a farm at the edge of the Negev desert, a kind of symbolic outpost. I looked forward to his visits while he was out of office; he would arrive at our meetings with maps under his arm that he used to explain the minimum requirements of Israel’s survival.
As prime minister, Sharon unexpectedly broadened his definition of security. He sought to bridge the gap between physical and political security with the same courage and decisiveness that had brought him victory in battle. He volunteered the largest withdrawal in Israel’s history. He ended the Israeli occupation of Gaza and returned it to Arab self-rule as a unilateral act without reciprocity, abandoning even the Jewish settlements that had been established there. These gestures were conceived as a test case for a negotiation about the future of the West Bank, which Sharon once had viewed as a permanent Israeli outpost. The man who had identified security with the acquisition of territory became willing to cede territory for an outcome to fulfill the hopes for peace.
It cannot be said that the result justified this act of faith. Israel was threatened by missile attacks from non-state actors: Hezbollah in Lebanon, Hamas in Gaza. Politically, Sharon’s vision was under attack from all sides: from those in Israel who insisted on a larger state, from Arab leaders who denied Israel the right to exist altogether, and from non-state terrorist groups. Still, Sharon’s vision reflected an essential first step; it was a sacrifice on behalf of raising prospects for a lasting peace — to which both sides must make a contribution by taking concrete steps and not by largely symbolic acts alone.
With another peace process underway, one needs to respect the courage of those who are willing to brave it in light of so many disappointments. It must be conducted both with commitment to the process and with a recollection of unfulfilled hopes. The vision of peace must be coupled with a determination not to permit the peace process to be turned into another form of warfare. An outcome must not only draw lines of territorial divisions but also bring a meaningful acceptance of the Jewish state by its negotiating partner as well as by key Arab states.
The writer was secretary of state from 1973 to 1977.

Na origem do caso Dreyfus: Georges Picquart, o homem que buscou a verdade e revelou-a a Emile Zola

Op-Ed Contributor: The Whistle-Blower Who Freed Dreyfus
How the army officer who risked everything to expose France’s travesty of justice was reviled, jailed and ultimately vindicated.



KINTBURY, England — Georges Picquart died 100 years ago this Saturday. To which the response from most quarters is likely to be “Georges who?” Even in his native France, his centenary is passing largely unremarked. Yet in the days of Queen Victoria and Theodore Roosevelt, Picquart was a figure of global controversy, revered and reviled in equal measure as the world’s most famous whistle-blower.
Unlike his 21st-century counterparts Bradley Manning and Edward Snowden, Picquart was neither a disaffected nor a junior figure in the organization he was to expose. On the contrary: In October 1894 he was a brilliant, rising army officer. One of his steppingstones to advancement had been a professorship at the École Supérieure de Guerre, and one of the officer-cadets he had taught there was a Jewish artillery captain, Alfred Dreyfus.
Picquart, like many of his contemporaries, was casually anti-Semitic. It came as no surprise to him when Dreyfus — the only Jew on the general staff — was suspected of passing secret intelligence to the Germans. It was Picquart who provided a sample of Dreyfus’s handwriting to the investigators. And when expert analysis seemed to confirm Dreyfus’s guilt, it was Picquart who met his unsuspecting former pupil in the Ministry of War so he could be quietly bundled off to prison.

unch media viewer
In December, Picquart attended Dreyfus’s court-martial as an official observer. For reasons of national security it was held behind closed doors. When told that a file of intelligence evidence existed, conclusively proving Dreyfus’s guilt, Picquart supported the decision to show it in secret to the judges.

The file clinched the conviction. Dreyfus was sentenced to life imprisonment. On Jan. 5, 1895, before a crowd of 20,000 shouting, “Death to the Jew!” Dreyfus had his sword broken and the insignia of his rank torn from his uniform. Observing the spectacle, Picquart remarked laconically to a fellow officer: “He’s a Jew, don’t forget that. He’s thinking of the weight of the gold braid and how much it’s worth.” In March, Dreyfus was transported to Devil’s Island, off the coast of South America, where he was denied all human contact, including conversation with his guards.
Picquart, meanwhile, prospered. Six months later, at age 40, he was made the youngest colonel in the French Army and put in charge of the tiny intelligence unit, known as the Statistical Section, that had compiled the evidence against Dreyfus.
The section’s prize agent was a cleaner at the German Embassy, Marie Bastian, who supplied the contents of the wastepaper basket of the military attaché, Col. Maximilian von Schwartzkoppen. It was she who was the source of the “bordereau” — the note that an expert had concluded was in Dreyfus’s hand.
Nine months into Picquart’s tenure, Bastian passed on a pneumatic telegram card — a “petit bleu” — that von Schwartzkoppen had torn into 40 fragments. Glued together, the telegram revealed that the German attaché was receiving intelligence from a serving French officer, Maj. Charles Ferdinand Walsin Esterhazy. Picquart immediately put Esterhazy under surveillance. He turned out to have the classic profile of a spy: a drunkard, a gambler, heavily indebted, and leading a double life with a prostitute in Montmartre. Moreover, he was dangerously active: He had recently applied for a job in the general staff.
Sitting in his office, Picquart compared Esterhazy’s letters with the bordereau. “I was terrified,” he testified later. “The two writings were not similar; they were identical.” The next day he showed them to the handwriting expert, Alphonse Bertillon, whose evidence had helped convict Dreyfus. Bertillon confirmed Esterhazy’s writing was a perfect match, but saw no reason to revise his original judgment: “It merely shows that the Jews have trained someone else to write using the Dreyfus system.”
Picquart’s next step was to inspect the intelligence that had been passed to Dreyfus’s judges. “I took possession of the secret file for the first time since my entry into the service. I confess that my amazement was profound. I was expecting overwhelming evidence. I found nothing.” Indeed, such scant evidence as there was had plainly been fabricated.
Picquart took his discoveries to the chief of the French general staff, Gen. Raoul de Boisdeffre, and to the overall head of military intelligence, Gen. Charles-Arthur Gonse. Their reaction appalled him. He was told to avoid any avenues of inquiry that might lead to a reopening of the Dreyfus case. “What does it matter to you,” demanded Gonse, “if one Jew stays on Devil’s Island?”
“Well,” replied Picquart, “because he’s innocent ...”
He pressed on with his investigation, to the irritation of his superiors. Two months later, he was relieved of his duties. By the spring of 1897, he was an exile, transferred to a native regiment in Tunisia on what amounted to a near-suicidal mission into the southern Sahara.
It was then that Picquart, after 25 years’ army service, realized he had no alternative but to break ranks. He passed his evidence against Esterhazy to a senior politician, the vice president of the senate, Auguste Scheurer-Kestner. Then, at the end of 1897, he provided Émile Zola with the information that enabled the novelist to write his celebrated exposé of the affair, “J’Accuse ...!” Picquart’s reward was to be dismissed from the army, framed as a forger and locked up in solitary confinement for more than a year.
It was not until 1906 that justice was finally done; Dreyfus’s conviction was quashed, and Picquart was restored to the army with the rank of brigadier general. That fall, when his friend and fellow Dreyfusard, Georges Clemenceau — the owner of the newspaper that published “J’Accuse ...!” became prime minister, he made Picquart minister of war, a post he held for three years.
On Jan. 18, 1914, six months before the outbreak of the First World War, while in command of the Second Army Corps at Amiens, Picquart died of edema of the face — effectively, suffocation — following a riding accident. He was 59.
He had no family to preserve his memory: A bachelor with a succession of married mistresses, he left no children. A large section of the army never forgave him for betraying his comrades. And some of Dreyfus’s supporters continued to accuse him of anti-Semitism. An awkward figure in death as well as life, he slipped through the cracks of history.
And yet the injustices against which he fought so courageously — the inherent unreliability of secret courts and secret evidence, the dangers of rogue intelligence agencies becoming laws unto themselves, the instinctive response of governments and national security organizations to cover up their mistakes, the easy flourishing of “national security” to stifle democratic scrutiny — all these continue. “Dreyfus was the victim,” Clemenceau observed, “but Picquart was the hero.” On this day, he deserves to be remembered.

Robert Harris is the author of a forthcoming novel about Georges Picquart, “An Officer and a Spy.”
A version of this op-ed appears in print on January 18, 2014, in The International New York Times. 

As duas Américas Latinas: a que funciona e a que patina... - Editorial Estadao

Eu já tinha postado o artigo original do Wall Street Journal aqui, mas sem comentários.
Este editorial serve de comentário, mas eu já vinha escrevendo sobre isso desde os últimos dez anos...
Paulo Roberto de Almeida

As duas Américas Latinas
Editorial O Estado de S.Paulo, 17/01/2014

A Aliança do Pacífico, bloco comercial formado por México, Colômbia, Peru e Chile, deverá ter neste ano um crescimento médio de 4,25%, com inflação baixa e forte investimento estrangeiro, conforme estimativa do Morgan Stanley. A mesma instituição financeira calcula que Brasil, Argentina e Venezuela, as três principais economias do Mercosul, terão expansão média de apenas 2,5% - e o Brasil crescerá modesto 1,9%. Tal perspectiva evidencia o crescente contraste entre a América Latina que optou pelo livre-comércio e a América Latina estatizante, protecionista e intervencionista.
Conforme notou The Wall Street Journal, essas diferenças permitem acompanhar, no mesmo continente e sob condições relativamente semelhantes, uma espécie de certame sobre qual modelo de desenvolvimento é o mais adequado, algo como um "experimento econômico controlado".
Ao longo da última década, parecia que o grupo dos brasileiros, argentinos e venezuelanos levaria a melhor, sob o impulso da alta dos preços das commodities e das boas condições macroeconômicas para conceder estímulos fiscais. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a sugerir, em 2009, no auge da crise internacional, que "os países avançados deveriam caminhar para o novo modelo colocado pelos países emergentes". Em 2010, a economia brasileira não só conseguiu evitar a contaminação pela crise, como cresceu 7,5%, enquanto o mundo desenvolvido patinava.
Em pouco tempo, a fantasia desse triunfo se esfumou. Confiou-se excessivamente no crescimento chinês como motor da expansão das economias latino-americanas exportadoras de petróleo, minérios e soja, sem levar em conta a possibilidade de desaceleração da China e a consequente queda nos preços dessas commodities. O "modelo de sucesso" emergente inebriou incautos e adiou reformas necessárias que tornariam a economia menos dependente dos humores chineses.
Enquanto isso, países latino-americanos menos afeitos ao populismo optaram pelo livre mercado, aproximando-se dos Estados Unidos depois que a ideia da Área de Livre-Comércio das Américas (Alca) foi torpedeada, em 2005, pela aliança entre o petismo e o kirchnerismo - que queria fazer da hostilidade aos americanos o eixo da política comercial da região. Nos anos seguintes, a Aliança do Pacífico usufruiu da vantagem de ter acesso preferencial ao mercado americano. Já o Brasil enfrentou - e ainda enfrenta, sem se queixar - o inflexível protecionismo argentino, que distorce as relações comerciais no Mercosul.
Assim, enquanto Brasil, Argentina e Venezuela se atavam a compromissos ideológicos, o bloco do Pacífico se preparava para os novos tempos. O Chile, cuja dependência do comércio de cobre é conhecida, está se esforçando para diversificar as exportações. No caso do México, as vendas externas de manufaturados hoje representam 25% do total, enquanto no Brasil essa fatia ainda é de 4%.
É a comparação com a Argentina e a Venezuela, contudo, que torna as diferenças mais claras. Os venezuelanos, donos de uma das maiores reservas de petróleo do mundo, enfrentam escassez crônica e inflação na casa dos 50% ao ano, como resultado dos delírios do "socialismo do século 21".
A Argentina, por sua vez, viu sua moeda perder 32% do valor em relação ao dólar no mercado oficial em 2013. A inflação, maquiada pelo governo, ronda os 30% anuais, mesmo com o controle de preços praticamente generalizado. O país convive com apagões diários, graças à falta de investimentos das empresas de energia, prejudicadas pelo represamento das tarifas.

Para o Journal, a atual conjuntura sugere que o Brasil está se tornando uma Argentina, a Argentina está virando uma Venezuela, e a Venezuela já é quase um Zimbábue. Pode ser um exagero, mas a comparação com a Aliança do Pacífico é, de fato, constrangedora. Como disse o ex-ministro da Fazenda peruano Pedro Pablo Kuczynski, "no fim das contas, os resultados dos dois diferentes blocos vão resolver o debate" sobre qual é o melhor modelo, "mas as más ideias levam muito tempo para morrer".

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

A ilha do tesouro des companheiros: uma bela conta de Pizzolato na Suica

Mensalão

Governo investiga conta secreta de Pizzolato na Suíça

Condenado pelo Supremo Tribunal Federal e foragido do país, ex-diretor do Banco do Brasil na época do mensalão teria acumulado 2 milhões de euros

Henrique Pizzolato, ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil
Henrique Pizzolato, ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil (Rodrigo Paiva/AE)
Autoridades brasileiras e suíças investigam uma conta secreta de Henrique Pizzolato, ex-diretor do Banco do Brasil, condenado no julgamento do mensalão. Pizzolato fugiu para a Itália após ter prisão decretada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A conta aberta em um banco na Suíça foi movimentada há dois meses, logo depois da fuga do mensaleiro, que deixou o Brasil em setembro. O saldo inicial seria de quase 2 milhões de euros e, atualmente, a conta não está zerada, segundo revelou o jornal O Estado de S.Paulo nesta sexta-feira.
Segundo o governo brasileiro, a conta internacional confirma como foi bem orquestrada a fuga de Pizzolato. Apesar da certeza da Polícia Federal quanto à ida do condenado à Itália, a PF afirma que não tem recebido cooperação da polícia italiana – a única com poder para apurar o paradeiro de Pizzolato, que tem dupla cidadania.
Um tratado assinado entre Brasil e Itália não permite extradição de quem tem dupla cidadania.
A recém-criada coordenação de rastreamento e captura da polícia assumiu a investigação com uma equipe de seis policiais. A Interpol, organização que reúne polícias de vários países, também auxilia no caso. O assunto ainda é mantido em sigilo pela Procuradoria-Geral da República e pela PF.
A principal linha de investigação é rastrear o percurso do dinheiro. Diplomatas do Brasil afirmaram que ocorreu uma “intensa troca” de cartas e comunicações entre Brasília e Berna, na Suíça, nas últimas semanas.
Resistência - O pedido de ajuda de Brasília aos suíços enfrentou resistência inicial para ser atendido, apesar do acordo de cooperação judicial mantido entre os dois países. Isso porque o suposto crime não teria ocorrido na Suíça e não existiriam provas na Justiça local de que o dinheiro movimentado fosse fruto de corrupção.
O que permitiu a cooperação foi o fato de o nome de Pizzolato ter entrado na lista da Interpol. Com isso, as autoridades suíças também foram levadas a colaborar com um caso de alguém que já havia sido julgado e condenado em última instância. O sinal verde para a cooperação foi dado, mas com a condição de que o papel das autoridades suíças não fosse revelado inicialmente.
O pedido de ajuda do Brasil foi tratado pelo Escritório Federal da Polícia, conhecido como Fedpol. Uma vez recebido, o departamento lançou uma busca nos cantões suíços, obrigou bancos a buscar o nome de Pizzolato e conseguiu identificar a movimentação na área que seria de responsabilidade legal de Genebra.
O ex-diretor do Banco do Brasil foi condenado a 12 anos e 7 meses de prisão pelo STF pelos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção passiva e peculato. As investigações mostraram que ele recebeu 326.000 reais de propina para favorecer uma das empresas de Marcos Valério em contratos com o Banco do Brasil. Como ex-diretor do banco, Pizzolato teria participado do desvio de aproximadamente 74 milhões de reais do Fundo Visanet para alimentar o esquema.

Instituto Megalomaniaco: seria o comeco do desmantelamento do GuiaGenial dos Povos?

Fausto Macedo
O Estado de S.Paulo, 17/01/2014

O Ministério Público do Estado ingressou judicialmente nesta sexta feira, 17, com ação civil pública contra a Prefeitura e o Instituto Lula por causa da área cedida à entidade no centro de São Paulo. Através da lei municipal 15.573, de 31 de maio de 2012 (gestão Gilberto Kassab), o Município de São Paulo foi autorizado a ceder ao Instituto Lula, mediante concessão administrativa, independentemente de concorrência, pelo prazo de 99 anos, o uso de áreas situadas na Rua dos Protestantes, Centro, para a instalação de Memorial.

Para a Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social, braço do Ministério Público, “o procedimento dos réus de facultar a divulgação de acervo de apenas um ex-presidente (Lula) sem lei municipal de incentivo a acervo presidencial constitui ferimento aos princípios da legalidade, igualdade e da democracia e aos princípios da administração pública da impessoalidade, publicidade, moralidade, eficiência previstos no artigo 37 da Constituição Federal”.
A ação civil é subscrita pelos promotores Valter Foleto Santin e Nelson Luís Sampaio de Andrade. “A situação se enquadra como verdadeira doação indevida de recursos públicos ou de imóvel público (mesmo temporariamente, mas por longos 99 anos) à entidade privada, beneficiada totalmente pelo lucro político e pessoal de espaço público para promoção pessoal do seu homenageado especial (Lula).”
“Não há interesse público devidamente justificado em cessão de imóvel para instalação de Memorial do ex-presidente Lula em momento de escassez de recursos e de terrenos públicos, longe do interesse do povo de melhoria da sua qualidade de vida e efetivação dos direitos sociais”, assinalam os promotores.

Pobreza nos Estados Unidos: numeros, apenas numeros, a partir do Censo - The Globalist

America’s 50-Year War on Poverty

Key figures on poverty in the United States, five decades after President Johnson launched his “war.”


1.The poverty rate varies dramatically by race. The poverty rate for black Americans was the highest — at 27.2% — of the four major racial groups tracked by the U.S. Census Bureau.
2.That was nearly double the official poverty rate of 15% for the nation as a whole.
3.The 10.9 million blacks in poverty accounted for almost a quarter of the 46.5 million Americans living in poverty in 2012.
4.The poverty rate for white Americans, at 9.7%, was about three times lower than for black Americans.
5.However, because white Americans constitute such a large percentage of the overall population, they constitute the largest number of Americans living in poverty — 18.9 million.
6.The poverty rate for Hispanic Americans was, at 25.6%, nearly as high as for black Americans.
7.Hispanics comprise the second-largest ethnic group in the United States, and they are also the second-largest group of Americans living in poverty — at 13.6 million.
8.Asian Americans are the smallest of the four major U.S. racial groups. In 2012, the poverty rate for this group was 11.7%.
9.This means that 1.9 million Asian Americans were living in poverty last year, or about 4% of all Americans in poverty.
10.Poverty rates also vary along regional lines. The poverty rate is highest in the South, where 16.5% of people were poor in 2012. This compares to 13.3% in the Midwest, 13.6% in the Northeast, and 15.1% in the West.
11.In 2012, 21.8% of all Americans under the age of 18 were poor, compared to 13.7% of those aged 18 to 64. The poverty rate was lowest among Americans 65 and older — at 9.1%.
12.Spending by the federal government on the major means-tested programs for low-income Americans — including Medicaid, the Earned Income Tax Credit, Supplemental Security Income, Temporary Assistance for Needy Families, and the Supplemental Nutrition Assistance Program (food stamps) — amounted to $588 billion in 2012.
13.That was $82.5 billion less than the $670.5 budget for defense-related expenditures.

14. While the U.S. government has invested significant sums of money to reduce poverty or to provide the resources that keep many millions from falling into poverty, it is clear that a key weapon in the War on Poverty is job creation.
15.The poverty rate for full-time workers in 2012 was just 3%, while for part-time workers it was 16% — and for those who had no job, it was 33%.
Editor’s note: With a few exceptions, the data in this feature are from the U.S. Census Bureau. They can be found here, in Table 3. People in Poverty by Selected Characteristics: 2011 and 2012.

O BC aumenta os juros para evitar aumento de juros para o Governo,entendeu?

Não tem importância, eu explico: se o BC não aumentasse a Selic, os tomadores de títulos do Governo exigiriam juros mais altos do Tesouro.
Entendeu agora? OK!
Paulo Roberto de Almeida 
Alta da Selic gera custo extra de ao menos R$ 14 bilhões aos cofres públicosO Globo, 17/01/2014
Salto diz que sua estimativa é conservadora, pois considera apenas as operações compromissadas – instrumento do Banco Central (BC) para enxugar excesso de liquidez na economia pela venda de títulos públicos. Não está incluso o impacto dos juros sobre os títulos pós-fixados vendidos pelo Tesouro.
- Esses R$ 70 bilhões já representam três orçamentos do Bolsa Família. E o governo não vai conseguir mudar isso por decreto. É preciso mudar a base desta política fiscal expansionista, o que abriria espaço para uma política monetária mais decente – diz.
Pelos cálculos de José Roberto Afonso, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), o aumento de gastos com o ciclo da Selic é um pouco maior, de R$ 15,3 bilhões. O número, também considerado conservador, tem como base a estimativa informada na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) da União. Segundo o texto, o aumento de um ponto percentual da Selic provoca despesa extra com pagamento de juros de 0,09% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de produtos e serviços produzidos no país).
- A taxa de juros é o instrumento predominante de política monetária também em outros países, mas parece que existe monopólio disso aqui no Brasil – disse Afonso, lembrando que o governo também tem adotado outros caminhos para conter preços. – O governo está intervindo diretamente nos preços dos combustíveis, da energia elétrica. Os chamados preços administrados estão sendo mais administrados do que nunca.
Segundo Margarida Gutierrez, professora da UFRJ, o crescimento do custo de pagamento de juros pode ser maior este ano por causa das incertezas em torno do corte da nota de classificação de risco do Brasil pela agência Standard & Poor’s (S&P) e do ano eleitoral. Ela explica que, neste cenário, os investidores tendem a exigir maior rendimento nos títulos do país.
- Se o BC não elevasse a Selic, aumentaria ainda mais a incerteza e cresceria ainda mais a conta de juros.
Fonte: O Globo

A industria do declinismo: sempre pujante - Demetrio Magnoli

O declínio do "declinismo"
Demetrio Magnoli
O Globo, 16/01/2013

A profecia do declínio dos EUA é uma narrativa política cíclica que descreve trajetórias balísticas. No ciclo mais recente, o lançamento do projétil do declinismo coincidiu com o colapso financeiro de 2008, um evento que lhe conferiu alta velocidade inicial e extraordinário alcance. Contudo, o projétil atingiu o apogeu anos atrás e já ingressou na etapa descendente de sua trajetória. Nessa etapa, os países que acreditaram no mito declinista, como o Brasil, precisam se ajustar a um cenário externo inesperado.
Os arautos do antiamericanismo são, quase sempre, adeptos fervorosos do declinismo. Eles imaginam-se pensadores originais, mas estão enganados: as fontes do declinismo encontram-se na própria tradição política americana, que gera versões liberais e conservadoras dessa profecia. Nos EUA, desde o sobressalto causado pelo lançamento do Sputnik soviético, em 1957, emergiram cinco narrativas declinistas sucessivas em número igual de décadas. Do “Vietnã” ao “Afeganistão e Iraque”, da “estagnação econômica” à “crise financeira global”, a música da ruína reproduz melodias conhecidas, ainda que sedutoras. A diferença entre o declinismo “made in USA” e o declinismo propagado fora dos EUA não está na composição, mas no tom dos instrumentos: melancolia, num caso; júbilo, no outro.
O declinismo é uma fábula e, como tal, “não trata de verdades, mas de consequências”, assinalou Josef Joffe. A narrativa da ruína americana é, portanto, impermeável ao teste da validação empírica, o que explica sua inesgotável capacidade de renascer ciclicamente, com a mesma força persuasiva de sempre. Os declinistas tocam uma música destinada a configurar crenças e mudar atitudes políticas. Nas suas versões autóctones, a finalidade é perturbar os espíritos para vender uma ideia de redenção — e, assim, derrotar a profecia insuportável. Pense, por exemplo, no vaticínio de Samuel Huntington sobre os efeitos corrosivos da imigração hispânica na coesão da sociedade americana, um artefato “sociológico” destinado a fornecer argumentos eleitorais para a ala direita, nativista, do Partido Republicano.
Os arautos do antiamericanismo são, quase sempre, adeptos fervorosos do declinismo
Fora dos EUA, a narrativa declinista é um componente crucial nos discursos antiamericanos de correntes políticas avessas ao liberalismo, ao modernismo, ao cosmopolitismo e ao judaísmo. Meio século atrás, o egípcio Sayyd Qutb formulou a doutrina da jihad contemporânea sob o impacto duradouro de uma viagem aos EUA na qual concluiu que o Ocidente perdera a vitalidade moral, condenando-se a um declínio irreversível. A França de Vichy era declinista, tanto quanto é, hoje, a Frente Nacional, de Marine Le Pen. Entre as elites francesas, conservadoras ou social-democratas, o prognóstico da decadência americana é algo próximo a um consenso nacional, com raízes psicológicas fincadas na percepção compartilhada do declínio francês. Há uma década, a direção do Partido Comunista Chinês promoveu um seminário fechado sobre a história da ascensão e do declínio das grandes potências, extraindo a reconfortante conclusão de que a “Pax Americana” cederá lugar a uma “Pax Chinesa”.
A profecia declinista perpassava os discursos de Nikita Kruschev, mas só contaminou de fato o pensamento da esquerda marxista depois da queda do Muro de Berlim. O filósofo-militante alemão Robert Kurz fabricou uma versão pretensamente sofisticada da venerável narrativa no livro “O colapso da modernização”, de 1991, que interpreta a implosão do “império soviético” como sinal periférico anunciador de uma crise terminal do sistema capitalista. A tese rocambolesca converteu-se, instantaneamente, numa espécie de amuleto das correntes de esquerda engajadas no movimento antiglobalização. Nesses círculos, o nome de Kurz brilhou intensamente durante a pequena recessão do início do século e, novamente, na hora da crise global deflagrada pela queda da Casa dos Lehman Brothers.
A esquerda latino-americana, vincada pelos nacionalismos e atraída por caudilhos, sempre foi esperançosamente declinista. A “revolução bolivariana” de Hugo Chávez reativou a profecia da decadência americana, que encontra fortes ecos no PT. A crença na falência histórica do (mal denominado) “capitalismo liberal” provocou uma notável inflexão na política externa brasileira, deixando como herança o isolamento comercial do Brasil na concha de um Mercosul sem horizontes. No auge do ciclo declinista mais recente, Lula convenceu-se da eficácia do capitalismo de estado e, para regozijo comum dos seus “desenvolvimentistas” e do alto empresariado associado ao Palácio, soltou as rédeas do crédito público subsidiado. Desse autoengano nasceu o “pibinho da Dilma”, um reflexo da retração da produtividade de nossa economia.
Obviamente, todas as curvas balísticas ingressam, em algum momento, na etapa descendente. O ano de 2014 abre-se com o prognóstico de um crescimento global (calculado à base da paridade do poder de compra) próximo a 4%, quase um ponto percentual mais que o do ano passado. Depois de muitos “anos chineses”, o motor da expansão será, uma vez mais, a economia americana, que experimenta os efeitos combinados da recuperação dos preços dos imóveis e da explosão da produção interna de energia. Novamente, o declinismo entra em declínio, recolhendo-se à hibernação até que algum evento geopolítico ou econômico impactante propicie a sua reanimação.
Nessa etapa, carentes de argumentos verossímeis, os profetas do declinismo tendem a enrijecer sua linguagem, refugiando-se nas mais desvairadas hipóteses conspiratórias. A fórmula manjada do “ataque especulativo” (contra o BNDES, na versão de Luciano Coutinho, ou contra a política fiscal do governo, na de Arno Augustin), inscreve-se nesse padrão facilmente reconhecível. A “guerra psicológica adversa”, invocada por Dilma Rousseff, pertence ao mesmo arsenal de bombas sujas. Eles não aprenderam nada. Azar do Brasil.

O Brasil ainda continua como credor liquido do mundo? Duvidas a respeito... - Financial Times

Brazil: net debtor to the world 
Jonathan Wheatley 
Financial Times, January 16, 2014

How well protected is Brazil against external shocks? Perhaps not as well as is commonly thought. 
It has been a proud boast of Brasília for several years that it is a net creditor to the world because it holds more in foreign exchange reserves than it owes in overseas debt. However, it is far from clear that this is still the case. The issue is just one example of the vulnerabilities investors must include in their calculations of how Brazil and other emerging markets will fare as monetary policy in the developed world becomes less accommodating. 
Global liquidity has been a boon to Brazil for at least a decade. Before the crisis of 2008-09, global demand for Brazil’s commodities and the rise of millions of new consumers at home led to and fed off huge inflows of money. Since the crisis, the flows have continued thanks to quantitative easing by the US Federal Reserve and other central banks in the developed world. 
The impact is clearly visible in Brazil’s foreign exchange reserves, which rose from about $35bn in 2001 to about $360bn by the end of last year. 
Combined public and private sector foreign debt was steady at about $200bn from 2001 until 2009 and then began to rise, reaching about $310bn by the end of last year. Nevertheless, thanks to the steady increase in foreign reserves, Brazil has been a net creditor since early 2009. 
Or has it? 

At about the same time as the country became a creditor, Brazil’s central bank began using a nifty new method of intervention on foreign exchange markets. Instead of buying and selling dollars on the spot market – the standard method of central bank intervention – it used currency swaps. This is a clever alternative because it achieves the same result as buying or selling dollars with no impact on the stock of reserves. 
When the bank uses such a swap to limit the depreciation of the real, it offers to pay the difference between the initial exchange rate and the final exchange rate during the period of the contract, plus a dollar-linked rate of interest (known to traders as the cupom cambial). In return, it receives the cumulative interbank interest rate (currently about 10 per cent a year) on the amount of the contract in Brazilian reals. Crucially, the contracts are settled entirely in reals. No dollars exchange hands and there is no obvious impact on the country’s ability to pay its foreign debts. 
The method works because it satisfies demand for foreign exchange contracts by financial market participants looking to hedge foreign exchange exposure or to speculate on movements in the exchange rate. By doing so, it removes demand from the market and has the same effect on the exchange rate as if that demand had been met by buying or selling dollars. 
During several periods since the method was introduced, the central bank used it (in a mirror image of the contract described above) to limit the appreciation of the real, which was being driven up by the arrival of all that hard currency and undercutting the competitiveness of Brazilian exports. 
But when the US Fed began talking about tapering its QE programme last year, the real went on a slide. Since then, the central bank has upped its currency swap programme to a different order of magnitude. As Gabriel Gersztein and Thiago Alday at BNP Paribas in São Paulo pointed out in a recent note, between May 31 last year and January 10, the bank accumulated a short position on the US dollar through currency swaps of more than $77bn. 
You may well ask, so what? It is all done in reals, after all, so there is no impact on foreign reserves. But big bazookas don’t come cheap and you can’t support your currency to the tune of $77bn at no cost. 
And of course there is a cost. If the swaps are successful – and a central bank working paper published in July 2013 suggests they often are – then the bank may even make a profit on them. But what if the real continues to slide, in spite of the central bank’s heavy weaponry? The currency has shown some resilience since the panic went out of foreign exchange markets last September. But it has still weakened from R$1.95 to the dollar last March to about R$2.35 today. Every time its swap contracts go against it, the central bank – or rather Brazil’s national treasury – takes a hit. 
How big is that hit? If we assume there is no such thing as a free lunch, let alone a free big bazooka, we must also assume the cost is significant. Gersztein and Alday at BNP Paribas think a reasonable indication of the cost is to net out the central bank’s short dollar position through currency swaps from its foreign reserves. After all, it is not only the stock of reserves but also the broader health of the Brazilian economy that affects its ability to pay its debts. 
If we do that, we discover that, thanks to the use of its bazooka, Brazil ceased to be a net creditor to the world in October last year. The central bank’s latest figures, for November 2013, show external debt at $312bn and foreign reserves at $362bn, giving a cushion of $50bn. Net out its short position through swaps of $68bn at the end of November and the cushion is gone. 
That is something investors may wish to keep a close eye on if, as widely predicted, the real continues to weaken and Brazil’s fiscal position continues to deteriorate during 2014 and 2015. 

Crimes ordinarios, e aliados mais que ordinarios - Reynaldo Rocha

REYNALDO ROCHA
Blog de Augusto Nunes, 16/01/2014

A barbárie a que assistimos estupefatos no feudo medieval da Famiglia Sarney é só parte da tragédia.
Muito já foi dito sobre as masmorras que Roseane Sarney ─ a rebenta que não admite ser interrompida quando fala e é aplaudida pelos “açeçores” quando ofende a inteligência do Brasil ─ entregou para ser administradas pelo sócio do próprio cunhado. Uma dolorosa repetição do que é feito há mais de 50 anos.

Ao Brasil cabe o espetáculo oferecido por Dilma e seus parceiros engajados no apoio a aliados e na perseguição a adversários. A tropa de choque inclui José Eduardo Cardozo e Maria do Rosário. De um lado, declarações absurdas. De outro, silêncio obsequioso.
Cardozo ouviu calado, e sem um mínimo de vergonha, as explicações sobre a raiz do problema do Maranhão: a riqueza do estado mais miserável da federação. Em meio à fala do ministro, assistiu a um chilique histérico da governadora, que nega estar no poder graças à família mafiosa. É governadora por ser Roseana, não Sarney. Ok.
Cardozo preferiu comparar o Maranhão a São Paulo e Santa Catarina. Não falou das cadeias do Rio Grande do Sul, onde Tarso Genro também ignora as pocilgas atulhadas de seres humanos. Os exemplos se restringem a estados governados pela oposição.
Onde estão os lulopetistas que SEMPRE acusam a direita raivosa de politizar qualquer discussão? Perdeu, cambada! Faz 50 anos que o “homem incomum” de Lula coleciona erros. O “maior ladrão do Brasil”, segundo o mesmo Lula, comanda e explora a capitania hereditária que é a verdadeira raiz do massacre.
A ministra Maria do Rosário, uma gaúcha sempre boquirrota, também perdeu a voz. Desde que creditou à oposição a onda de boatos sobre o fim do Bolsa-Família, Maria do Rosário tem economizado declarações. O Brasil agradece. Mas uma criança de 6 anos foi queimada viva. E a ministra dos Direitos Humanos continua muda.
Não se ouviu uma única palavra de apoio à mãe que perdeu a filha num atentado contra o mais básico dos direitos humanos: o direito à vida. A ministra que defende a cracolândia e os black blocs, enquanto ataca as Polícia Militar de São Paulo, agora prefere somente observar um bandido de 17 anos ─ o Porca Preta ─ queimar uma menina, Ana Clara, que ainda brincava com bonecas.
Seria por coisas assim que Dilma afirmou que para ganhar eleições “se faz o diabo”? Foi isso que levou Gilberto Carvalho a avisar que o bicho iria pegar?
O silêncio respeitoso e a blindagem do aliado-mor José Sarney configuram um exemplo de covardia, conivência e apoio eleitoral.
Dilma diz “acompanhar com atenção” a barbárie no Maranhão (expressão minha: Ela NUNCA diria algo nesta linha sobre o Maranhão. Disse sobre a desocupação de Pinheirinho em SP, onde a PM seguiu uma ordem judicial e NINGUÉM morreu ou ficou internando em hospitais!).
Também não tentou consolar a mãe de Ana Clara, que também luta para continuar vivendo. Seria uma afronta ao clã que venera. E evoca estados controlados por oposição onde crimes também aconteceram. NOTA: nenhum deles tem presídios administrados por sócios de cunhados, nem registrou decapitações de presos cujas cabeças serviram como bola num macabro jogo de futebol.
Que o povo maranhense saiba se livrar ─ ainda há tempo! ─ dos responsáveispor 50 anos de miséria, sordidez, covardia e cinismo. O restante do Brasil que avalie o que leva Cardozo a dizer asneiras, Rosário a se calar e Dilma a exaltar o aliado preferencial.

Que continuem aliados. Os brasileiros com vergonha na cara não podem esquecer Ana Clara, nem seus assassinos e cúmplices que se refestelam nos palácios.

Gabolice, mentiras e fraudes repetidas na Copa dos companheiros - Augusto Nunes

Augusto Nunes
!6/01/2014

Em 30 de outubro de 2007, assim que a Fifa anunciou oficialmente a escolha do anfitrião da Copa de 2014, o presidente Lula resolveu animar a festança em Zurique com mais uma discurseira triunfalista. “Vocês verão coisas lindas da natureza e nossa capacidade de construir bons estádios”, vangloriou-se com sete anos de antecedência o camelô de bazófias e gabolices. “Os investimentos em infraestrutura deixarão um legado de melhoria nas condições de vida do nosso povo.Vamos fazer uma Copa para argentino nenhum botar defeito”.
A menos de um semestre do início da competição, muitas arenas padrão Fifa nem foram concluídas e já estão condenadas a agonizar como elefantes brancos no minuto seguinte ao último apito. Os monumentos à modernidade que fariam do País do Futebol um campeão da mobilidade urbana encalharam na garganta de Lula ou dormem na imaginação de Dilma Rousseff. O trem-bala e o terceiro aeroporto de São Paulo, por exemplo, jazem no cemitério das fantasias eleitoreiras que o padrinho criou e a afilhada não para de ampliar. E boa parte do mundaréu de obras prometidas pelos fundadores da potência emergente sucumbiu ao raquitismo congênito.
Nesta quarta-feira, um editorial da Folha reiterou que o “legado da Copa” é só a vigarice mais recente (e uma das mais perdulárias forjadas pelos vendedores de vento. Dos 56 projetos divulgados com pompas e fitas em 2010, sobraram 39. O volume de investimentos baixou de 15,4 bilhões para 7,9 bilhões. Conjugadas, a a falta de dinheiro e incompetência de sobra adiaram para quando Deus quiser novas linhas de metrô, monotrilhos, estradas, avenidas, trens metropolitanos, reparos nas malhas viárias, reformas em aeroportos ou corredores de ônibus, fora o resto. Como preveniu o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, o legado da Copa pode acabar resumido à apresentadora Fernanda Lima, .
Não foi por falta de aviso que o fiasco se materializou. Em julho de 2010, por exemplo, um repórter quis saber de Jerôme Valcke como andavam os preparativos para a Copa do Brasil. “Falta tudo”, resumiu o secretário-geral da Fifa. “Tudo”, repetiu, com cara de quem acabou de descobrir que lidara havia três anos com tratantes e ineptos. Surpreendido pelo pontapé na canela, Lula tentou um carrinho por trás. ”Terminou uma Copa do Mundo na África do Sul agora e já começam aqueles a dizer: ‘Cadê os aeroportos brasileiros? Cadê os estádios brasileiros? Cadê os corredores de trem brasileiros? Cadê os metrôs brasileiros?’ Como se nós fôssemos um bando de idiotas que não soubéssemos fazer as coisas e não soubéssemos definir as nossas prioridades”.
O troco desmoralizante viria em março de 2012, quando Valcke afirmou que os organizadores da Copa mereciam um chute no traseiro: talvez assim começassem a trabalhar direito. O descompromisso do supercartola com as boas maneiras escancarou o descompromisso da turma no poder com a verdade ─ e comprovou que os governos lulopetistas não sabem mesmo “fazer as coisas”  nem “definir as nossas prioridades”. As perguntas desdenhadas pelo palanque ambulante na réplica a Valcke continuavam (e continuam) implorando por respostas. (Como imploram por investigações os incontáveis casos de polícia envolvendo negociatas bilionárias, contratos superfaturados e procissões de propinas).
Inauguradas no Dia da Criação, só escaparam do atraso irresponsável “as coisas lindas da natureza”. Mas o arquivamento dos projetos vinculados a três cartões postais do Rio sugere que não serão vistas tão facilmente as maravilhas evocadas por Lula na Suiça. O Corcovado está onde sempre esteve. Só que a modernização do trenzinho foi adiada para 2015. O tempo de espera na fila do bondinho do Pão de Açúcar não será inferior ao de viagens aéreas intercontinentais. E convém contemplar de longe a baía de Guanabara devastada pela poluição.

É compreensível que Lula, Dilma, Aldo Rebelo, Ricardo Teixeira e outros festeiros de 2007 não tenham dado as caras na cerimônia de entrega do troféu Bola de Ouro, em Paris, durante a qual a Fifa homenageou o anfitrião do próximo Mundial. A cinco meses do jogo de abertura, a turma do carnaval temporão em Zurique sabe o que é sabido até pela grama do Maracanã: a Copa que faria meia Argentina morrer de inveja pode matar de vergonha e indignação o Brasil que presta.