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segunda-feira, 16 de junho de 2014

Economia brasileira: Arminio Fraga analisa os problemas atuais

"O arrocho já está sendo feito pela inflação"
Entrevista Armínio FragaPor Claudia Safatle | Do Rio
Valor Pro, 
16/06/2014

Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e sócio da Gávea Investimentos, alerta que "a semente do desemprego já está aí, pois infelizmente a economia não está crescendo". Para reduzir a inflação e evitar o desemprego será preciso, através de compromissos e ações críveis na área econômica, afetar as expectativas. "Faltam hoje transparência nas contas públicas e compromissos com a responsabilidade fiscal e com inflação na meta", disse ele em entrevista ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor. Armínio, que está assessorando o candidato do PSDB, Aécio Neves (PSDB), à presidência da República, não é adepto do "tratamento de choque", seja para derrubar a inflação ou para recolocar a política fiscal no rumo de um superávit primário maior e melhor. O ritmo de queda da inflação em direção à meta de 4,5% terá que ser avaliado "à medida que fique claro o tamanho do atraso que existe em alguns preços". Na política fiscal, a primeira providência deve ser dar transparência aos dados. Acredita que hoje, se bem medido, o superávit primário é próximo a zero. "Temos que cair na real: as coisas não estão dando certo. O país não está crescendo e, se não crescer, as frustrações vão aumentar", diz. Pois é o crescimento, mais do que as transferências de renda aos mais pobres, que vem reduzindo as desigualdades no país. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Valor: Como o sr. vê a performance da economia até o fim do ano?

Armínio Fraga: A economia está fraca, assustada e muito defensiva, com pouco investimento e pouca ousadia. A incerteza tem uma dimensão macroeconômica ligada ao baixo crescimento, à inflação alta e ao déficit em conta corrente; e uma dimensão mais micro, que afeta cada setor de uma maneira diferente. Mas, no geral, assusta, com raízes importantes no setor elétrico, de petróleo, que não são os únicos, mas são os principais. Esse quadro precisa ser abordado de maneira clara e isso não está acontecendo.

Valor: A ausência de investimentos decorre principalmente da queda da confiança do setor privado?

Armínio: Em última instância parte da conta acaba batendo sempre no governo. Há o lado mais macro e um outro que diz respeito às regras do jogo e à capacidade de execução do governo. Não é só um certo receio em relação à qualidade da regulação. O que a gente mais ouve é que tem verba, mas não tem projeto, ou o projeto é ruim ou está atrasado. São projetos muito grandes, complexos, que exigem ações paralelas e basta um tema ficar para trás que para tudo.

Valor: O Estado perdeu a capacidade de investir?

Armínio: Perdeu ou sei lá se tinha. O fato é que no momento não demonstra ter. O Brasil não investe não é de hoje. Só que na infraestrutura hoje as necessidades são gritantes. Talvez há 10 ou 20 anos, não fossem. O quadro foi se agravando. O governo, quem quer que seja o próximo presidente, terá que dar uma virada caprichada nessa área.

Valor: Fazendo o quê? Ampliando e melhorando as concessões?

Armínio : Em cada setor as regras, e como estão sendo aplicadas, vão ter que ser examinadas e, além disso, será preciso um esforço de coordenação no governo para que as coisas possam acontecer. O Brasil como um todo vai ter que mobilizar mais capital. Nossa taxa de poupança está quase tão baixa quanto os níveis dos nossos reservatórios. O Brasil já saiu de uma situação de fornecedor de poupança no exterior - com superávit em conta corrente - para a de usuário, importador de poupança, com déficit em conta corrente.

Valor: Um déficit em transações correntes de quase 4% do PIB é perigoso?

Armínio : Eu diria que não. Acredito que o país se arrumando vai haver aumento do investimento.

Valor: O ex-presidente Lula disse que é o caso de incentivar mais o consumo para estimular o crescimento. É possível ou esse é um processo que já se esgotou?

Armínio: A fase de crescimento acelerado do consumo pode ter ficado para trás porque o PIB não está crescendo, as famílias se endividaram bastante e os juros estão subindo. Mas há um espaço enorme para o consumo crescer. Só que a renda tem que crescer junto, o custo do capital tem que cair e os prazos têm que se alongar.

Valor: Como sair de um quadro de pessimismo, com a economia patinando, e retomar o crescimento?

Armínio: Na área fiscal, por exemplo, primeiro com esforço de transparência para que não fiquem na dúvida sobre se há um truque novo, uma nova pedalada.

Valor: E, se ao dar transparência, a situação das contas públicas for mais complicada?

Armínio: A realidade é o que é. É preciso, para início de conversa, mostrá-la e discutir a resposta que se quer dar. Tem que trazer esse grau de segurança e trazer a inflação para a meta - não da noite para o dia, mas colocá-la em uma trajetória crível de queda. A inflação está há muitos anos lá em cima, apesar de reprimida.

Valor: Quando o candidato Eduardo Campos (PSB) falou em reduzir a meta de inflação para 3,5% em 2019, a presidente Dilma Rousseff reagiu dizendo que isso implicaria em aumento do desemprego para mais de 8%. O desemprego é inexorável nesse quadro?

Armínio: A semente do desemprego já está aí, pois infelizmente a economia não está crescendo. Para reduzir a inflação e evitar o desemprego será necessário afetar as expectativas. Falta hoje transparência nas contas públicas e compromissos com a responsabilidade fiscal e com inflação na meta. O ritmo de queda terá que ser avaliado à medida que fique claro o tamanho do atraso em alguns preços.

Valor: Há projeções de 7,5% de inflação para 2015. Mas isso vai depender de como vão ser as correções de preços represados, não?

Armínio: O mercado está com um número de consenso por aí, acima de 7%. Se fizer uma correção parcial evita-se esse primeiro choque, mas fica uma conta a ser paga ao longo do tempo. Atrasar não significa resolver. Eu ainda não tenho opinião formada. Apesar de eu estar assessorando o senador Aécio Neves (PSDB-MG), não estou pensando nisso agora. Acho que não está na hora.


Valor: Em entrevista a jornalistas estrangeiros, a presidente Dilma, perguntada sobre por que o país cresce tão pouco, respondeu: "Não sei". O senhor sabe?

Armínio: Olhando de maneira quase que contábil, o país está investindo muito pouco. Para crescer tem que investir e tem que investir bem. E para investir tem que ter poupança. Você pode até crescer durante um tempo usando poupança externa.

Valor: E essa poupança externa de R$ 85 bilhões, que é o déficit em transações correntes, não foi para investimento?

Armínio: Pelo visto, não.

Valor: E os mais de R$ 400 bilhões que o Tesouro Nacional repassou ao BNDES para financiar a expansão dos investimentos?

Armínio: Idem. Talvez, sem ele, o investimento tivesse sido mais baixo. O resultado final é uma taxa de investimento muito baixa em um país onde as necessidades são visíveis. A nossa educação não está melhorando na velocidade adequada. Esse é um investimento de longo prazo, mas é o melhor.

Valor: Isso ocorre porque a educação padece da falta de recursos?

Armínio: O Brasil investir 6% do PIB em educação não é igual à Alemanha investir 6% do PIB, pois lá o produto per capita é muito maior. Mas os especialistas acreditam que há problema também de gestão. Uma explicação sobre o baixo crescimento tem que incluir a educação. É verdade que a taxa de escolaridade aumentou nos últimos 25 anos. Há mais crianças na escola, mas muitos não terminam a escola primária ou saem analfabetos funcionais, o que é outra coisa chocante, e menos ainda terminam a escola secundária.

Valor: O economista francês Thomas Piketty, no livro "O capital no século XXI", trouxe o aumento da desigualdade para o centro do debate econômico internacional.

Armínio: O tema da pobreza e da desigualdade é antigo entre nós e levado a sério.

Valor: Como se faz crescimento mais distributivo? Com mais transferência de renda e mais educação?

Armínio: Sim. Há duas frentes de trabalho que deveriam ser não ideológicas. Uma diz respeito ao lado da igualdade de oportunidade. Mesmo o mais liberal dos liberais tende a defender a igualdade de oportunidade. Claro que muitos liberais veem um papel para o governo na provisão da educação e da saúde pública e não necessariamente na produção. Vi isso em uma entrevista recente do Ricardo Paes de Barros [subsecretário de Ações Estratégicas da Secretaria de Assuntos Estratégicos], por exemplo. A provisão cabe ao governo na educação, saúde, segurança, um Judiciário decente, transporte público de qualidade. Essa é a base para uma sociedade onde as pessoas têm chances, onde o filho de uma pessoa pobre não está condenado a ser pobre. Isso é um desejo do Brasil, está na Constituição e o governo deveria estar entregando mais nessas áreas. Esse é um canal de resposta muito poderoso à questão colocada por Piketty.

Valor: Qual é a outra frente?

Armínio: Está na outra ponta, que é coibir o enriquecimento ilícito que vem da captura do Estado, da corrupção. Vi outro dia um dado muito interessante num texto da professora Rozane Siqueira, da UFPE. Ela calculou o coeficiente de Gini para o Brasil e para o Reino Unido, antes e depois de impostos e transferências. Normalmente, quando se faz essa conta, se usa a renda bruta das pessoas. Quando se calcula o coeficiente de Gini baseado na renda líquida, a melhora no Brasil é mínima e no Reino Unido é bem grande. Isso indica que, mesmo com todo o esforço do Estado, os resultados em termos distributivos são ainda modestos.

Valor: É possível aumentar o gasto social?

Armínio: Acredito que há bastante espaço para melhorar pela via do gasto limitando, por exemplo, o que o Gustavo Franco chama de 'bolsa empresário' e focando nas áreas que dão mais resultado, como educação e saúde pública. Resumindo, o uso do dinheiro público carece de mais justificativa. Está mal alocado e não é só má alocação produtiva, mas distributiva.

Valor: Empréstimos subsidiados são forma de concentrar riqueza?

Armínio: Sim, mas não acho que o BNDES não deva subsidiar. Não é disso que se trata. Recentemente fiz um artigo em parceria com o Marcos Lisboa defendendo transparência e critério. Acho que há espaço para subsídios, mas é preciso enxergar direito onde está a externalidade e a diferença entre o retorno social e o retorno privado. Tem que ser justificado, ter transparência e uma forma de se medir os resultados. Por alguns anos fui do conselho consultivo do Banco Mundial. Tudo o que o Banco Mundial faz tem que ser desenhado com objetivos claros e de forma que se possa medir os resultados.

Valor: A política industrial vem dando resultado?

Armínio: Não sei, não há dados disponíveis. Mas pelo crescimento baixo, suspeito que não.

Valor: Haveria algum problema mais estrutural que condene o país a crescer pouco?

Armínio: Ao contrário. O Brasil tem uma renda per capita de 20% da renda dos países mais ricos. É totalmente factível crescer 4%, 5% ao ano. Depende do mundo também, mas não há nada que se possa dizer que não, que isso é estrutural do Brasil. O que é estrutural? Você acha que as crianças do Brasil não são capazes de aprender?

Valor: Há anos os juros aqui são maiores que no resto do mundo...

Armínio: Isso vem desde o regime militar. A remuneração da caderneta de poupança pela inflação mais 6%, líquido de imposto, vem de lá. Alguém pensou que 6% real de juros era bom. Uma economia arrumada vai ter juros caindo para uma taxa mais normal. O juro é o que é. Não é fruto da vontade direta de ninguém, mas pode-se construir as condições para o país ter juros normais.

Valor: Para isso seria preciso ter um superávit primário maior?

Armínio: O superávit arrumado, bem medido, hoje está próximo de zero. Tem que ter superávit para estabilizar a dinâmica da dívida e tirar isso da cabeça das pessoas.

Valor: O superávit teria que voltar ao nível de 3% do PIB?

Armínio: Não sei. Depende de quanto o país tiver crescendo. Em um momento de populismo exacerbado, que está sendo a marca deste início de campanha, a política fiscal é uma tema bem delicado.

Valor: O governo tentou trabalhar com uma inflação de 6% ou um pouco mais..

Armínio: Os preços dos alimentos crescem a dois dígitos. As pessoas sabem que há preços congelados e que isso não dura muito. Esse filme todo mundo conhece e quem é novo e não conhece fala com os pais, com os avós. Quando vem o aumento é com juros e correção. Não adianta nada.

Valor: É possível retomar um processo de desinflação?

Armínio: Tem que ter uma sequência. Primeiro, chegar a uma situação de preços normais, não tabelados, não reprimidos, levar essa inflação para a meta e, depois, decidir o que fazer. Acho que a meta deveria cair um pouco e lentamente...

Valor: Então, primeiro vai piorar para depois melhorar?

Armínio: Vamos ter que tirar o remédio do paciente, que está dopado.

Valor: No Brasil períodos eleitorais ainda costumam ter algum estresse nos mercados. O sr. acha que desta vez vai se repetir especulação com taxa de câmbio, juros, algo como o senhor viveu no Banco Central na eleição de 2002?

Armínio: Torço para que não, mas acho que sim.

Valor: Em 2002 o dólar chegou a R$ 4 e a inflação subiu às alturas. Seria algo semelhante?

Armínio: Não tanto. Ali foi um caso mais extremo onde a incerteza era imensa porque tinha uma versão escrita do que se pretendia fazer, que era o programa do PT. O PT evoluiu e o Lula rasgou o programa.

Valor: O PT diz que a campanha de Aécio Neves (PSDB) está cometendo 'sincericídio' ao apontar os problemas da economia e indicar que pode haver medidas amargas. Isso não assusta o eleitor?

Armínio: 'Sincericídio', acho que não. É um pouco de 'honesticídio', isso sim. Temos que cair na real: as coisas não estão dando certo. O país não está crescendo e, se não crescer, as frustrações vão aumentar. Estudiosos como o Ricardo Paes de Barros e o Marcelo Neri [ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos] têm escrito e dito ao longo dos anos que um percentual alto da queda da pobreza e da redução da desigualdade veio do crescimento. Do crescimento. Não é do programa distributivo, do Bolsa Família. Você está falando com alguém que não tem vergonha de dizer que é um liberal com coração. É importante o país crescer e é importante gastar melhor, sim.

Valor: O governo sempre gasta mal?

Armínio: Acho que o Brasil teria que gastar muito melhor do que gasta. E isso não é questionado porque tudo que o PT fala vira dogma da esquerda. Falta honestidade, isso é o que falta. Vamos lá olhar. Faz essa conta do índice de Gini e veja o que está acontecendo. Alguma coisa não está dando certo, com todos os esforços do Fernando Henrique, do Lula e de todo mundo, e isso os próprios pesquisadores do país nessa área têm dito, antes de irem para o governo. Há menos de seis meses, na apresentação que o Marcelo Neri fez com a ministra Tereza Campello, estava lá: o crescimento é importante e acho que o governo deveria gastar melhor, muito melhor, o precioso dinheiro público. Uma parte desse dinheiro vai para os pobres sim, mas não é tão grande.

"A nossa educação não está melhorando na velocidade adequada. Esse é um investimento de longo prazo, mas é o melhor"

Valor: O sr. acha que gastar mal o dinheiro público tem a ver com a estrutura de governabilidade que se montou, em que cada pedaço da administração pública tem que ir para cada partido da base aliada?

Armínio: Acho que sim. O Marcos Mendes aborda isso no livro "Por que o Brasil Cresce Pouco". A resposta direta é que o Brasil não está investindo o suficiente e o que investe não parece ser de boa qualidade. Isso tem a ver com capital físico, capital intelectual, capital humano mais básico. Aí é que nós somos devedores. Porque o Estado não gera essa resposta? Acho que é uma combinação de ideologia com incompetência. Uma parte disso vem de uma certa falta de transparência, por que as pessoas não enxergam direito para onde o dinheiro está indo. A proposta da transparência é a base e daí vêm as respostas. Quer fazer subsídio? Dê transparência, ponha no orçamento e explique. O orçamento existe para forçar essa discussão. Quando se começa a ter orçamentos paralelos, fica difícil obter as respostas corretas.

Valor: Como reduzir os aportes de recursos do Tesouro ao BNDES, que de 2009 para cá triplicaram?

Armínio: Gradualmente. Não sei para que nível ele deve voltar e acho que essa é uma discussão mais ampla sobre o que o país precisa, quanto custa etc. Não acredito em tratamento de choque, a não ser de transparência para poder respeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal, buscar com segurança uma taxa de inflação mais baixa. Eu começaria por aí. O resto é guerra de guerrilha. Vai ter que ter um número de frentes de trabalho, pessoas buscando soluções, manter a capacidade do Estado de exercer seu papel de fiscalizador, regulador, e que não iniba e abra mão de trazer capital interno e externo, mais interno até. A poupança interna vai ter que aumentar com o tempo.

Valor: Há quem defenda aumento dos impostos? O país suportaria?

Armínio: Um número crescente de pessoas acredita que um país de renda média com carga de 36% a 37% do PIB é suficiente para o Estado cumprir bem suas funções em um modelo de social-democracia que temos aqui. Essa é uma discussão de primeira grandeza e não para um tecnocrata resolver. O país deveria procurar um limite de crescimento para o gasto público, para que ele pare de crescer mais do que o PIB, e essa carga poder ficar por aí por um bom tempo. O governo investe pouco e quase todo seu gasto são transferências e despesa corrente, mas parte da responsabilidade pelo aumento do investimento deveria ser do governo. Quando você olha o orçamento, há limitações. Essa é uma discussão política. Há sinais de que a carga tributaria hoje é alta o suficiente para transformar o Brasil em um país menos competitivo.

Valor: O sr. acha que o aumento do salário mínimo foi excessivo?

Armínio: Acho os salários no Brasil ridiculamente baixos porque o Brasil é um povo pouco educado e pouco produtivo. Por isso é que os salários aqui correspondem a 20% dos salários dos países ricos. Há algumas áreas que ganham salários parecidos, mas o salário médio aqui é muito baixo porque somos um país pobre. E por que somos pobres? Porque o país não está crescendo. O salário tem que guardar alguma relação com a produtividade. Isso está nas atas do Copom e nas melhores cabeças que estão no governo. O país não está crescendo, caia na real! Qualquer coisa que eu diga vão interpretar como arrocho enquanto o arrocho já está aí, está sendo feito pela inflação.

Valor: Comenta-se no mercado financeiro que um número crescente de brasileiros está remetendo dinheiro para fora do país. O sr vê esse movimento?

Armínio: O brasileiro gosta do seu país, gosta de morar aqui, de investir aqui. Mas o grau de incerteza hoje é tal que as pessoas estão pensando em investir fora do Brasil, estão pensando até em sair do Brasil. Há um medo que vai além da economia, é medo político também. Há uma sensação de medo que as pessoas não têm coragem de manifestar abertamente. Medo de uma atitude contra a liberdade de imprensa, contra a democracia.

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Proibicao de importacao de publicacoes estrangeiras: ABC e SBPC pedem retirada de projeto

A Academia Brasileira de Ciências e a SBPC enviaram carta ao deputado Vicentinho contra o seu famigerado projeto protecionista e obscurantista. Do site da ABC:

SBPC e ABC se manifestam contra projeto que proíbe órgãos públicos de comprar publicações estrangeiras

ABC, 11/06/2014
No último dia 9, a SBPC e ABC enviaram carta ao deputado Vicentinho (PT-SP) protestando contra o Projeto de Lei 7299/2014, de autoria do deputado, que proíbe a aquisição de publicações gráficas de procedência estrangeira pelos órgãos públicos das esferas federal, estaduais e municipais, para utilização de qualquer espécie e natureza da administração pública. Diante das críticas sobretudo da comunidade científica, ontem (10/06) o projeto foi retirado da Câmara dos Deputados.
Na carta, as entidades ressaltaram que têm atuado para promover o desenvolvimento científico e tecnológico no País, de modo a aumentar a produtividade e a qualidade da ciência brasileira com impacto no bem estar social. Segundo o documento enviado ao deputado, no mundo globalizado a geração de conhecimento é cada vez mais internacionalizada.

Leiam a carta compketa neste link:

Heranca maldita dos companheiros: a febre do Haiti

Não precisava, mas faz parte da lei das consequências involuntárias.
Paulo Roberto de Almeida 

A febre que vem do Haiti

IstoÉ, 16/06/2014


Militares que voltaram do país caribenho com a infecção viral reacendem o temor de que a doença se espalhe no Brasil
Na semana passada, a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo confirmou seis casos de infecção pelo vírus CHIVK, causador da febre conhecida por chikungunya. Os testes foram realizados pelo laboratório do Instituto Adolfo Lutz. Os pacientes são soldados brasileiros que regressaram de uma missão de paz no Haiti, onde há um surto da doença.
Não é a primeira vez que a chikungunya é detectada no Brasil. Em 2010, houve dois casos em São Paulo e um no Rio. Todos contraíram a doença em outros países. Atualmente, o vírus se alastra também pela Ásia e África. Foram registrados episódios na Guiana Francesa, no Canadá e até agora 25 casos na Flórida (EUA).
Transmitida pelos mesmos mosquitos que disseminam a dengue, o Aedes aegypti e o Aedes albopictus, a chikungunya provoca sintomas parecidos: febre alta, dores articulares e de cabeça, náusea, inchaço e manchas vermelhas na pele. O mal-estar dura de três a dez dias e sua letalidade, de acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde, é menor do que a da dengue. O aspecto positivo é que não existe uma forma hemorrágica da doença, considerada a mais perigosa. Mas as fortes dores articulares dessa febre podem persistir por meses ou anos.
Para o infectologista Artur Timerman, do Hospital Edmundo Vasconcellos, a presença da doença no País é iminente. "O Brasil possui as condições ideais: uma ocupação urbana caótica, cidades com grande quantidade de mosquitos da dengue e estrangeiros chegando todos os dias de regiões de risco", diz o médico. Basta que um mosquito Aedes pique uma pessoa infectada para adquirir o micro-organismo e iniciar a transmissão. "Porém há tempo de reduzir o impacto que essa doença terá se ocorrer um recrudescimento das ações de combate ao mosquito", alerta Timerman.
O Ministério da Saúde informou, em nota, que a partir do aumento dos casos no Caribe, em 2013, intensificou a vigilância, iniciou o treinamento de profissionais para o atendimento na rede de saúde e a preparação de laboratórios de referência

Eleicoes 2014: sinal amarelo no Planalto (novas pesquisas eleitoraisnegativas)


Ponto Final

Octávio Costa

Sinal amarelo no Planalto
Brasil Econômico, 16/06/2014

A receita de Dilma, que deu certo em outros tempos, perdeu a eficácia. Prova disso são os baixos índices de aprovação do seu governo

Octávio Costa: ocosta@brasileconomico.com.br
Nova pesquisa de opinião saiu do forno no fim de semana e confirmou a tendência dos resultados recentes apontados pelo Ibope e pelo Datafolha. Segundo levantamento do Instituto Sensus feito para a revista IstoÉ, as intenções de voto na presidente Dilma Rousseff caíram de 34% em abril para 32,2% em junho. Em trajetória oposta, o tucano Aécio Neves subiu de 19,9% para 21,5%, enquanto o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos perdeu terreno, de 8,3% para 7,5%. Em quarto lugar, aparece o surpreendente pastor Everaldo Pereira, do PSC, com 2,3%. A margem a favor de Dilma também ficou mais estreita na hipótese de segundo turno. Ela derrotaria Aécio, mas por apenas 5,1 pontos percentuais. Teria 37,8% dos votos contra 32,7% do neto de Tancredo, que oficializou a candidatura em convenção no sábado.
O momento, de fato, não é nada bom para Dilma. Sirva de exemplo o episódio das vaias e xingamento no jogo de abertura da Copa do Mundo, no Itaquerão. Por mais que tenham partido de grupos minoritários formados por gente que tem dinheiro para pagar os ingressos cobrados pela Fifa, é mais do que sabido que São Paulo hoje é ambiente hostil para a presidente. A insatisfação ali é crescente, tanto assim que Alexandre Padilha, candidato do PT ao governo do Estado, está empacado com modestíssimos 3% nas pesquisas. Dilma sequer foi à festa de lançamento da candidatura de seu ex-ministro ontem, alegando que tinha de se preparar para jantar com a chanceler alemã Angela Merkel.
Comenta-se que acendeu um sinal amarelo no staff da campanha de reeleição. Ainda se acredita piamente que os 12 minutos na propaganda obrigatória na TV em horário nobre, a partir de agosto, será arma poderosa para restabelecer a zona de conforto e o favoritismo da atual ocupante do Palácio do Planalto. Mesmo com a economia fazendo água, FHC foi reeleito em 1998, e Lula também foi reconduzido, apesar do escândalo do mensalão. Com a caneta na mão, Dilma tem tudo para manter a regra. Mas há divergência sobre a pegada da campanha. Dizem que o jornalista Franklin Martins, responsável pela comunicação, defende um tom mais agressivo contra os adversários, no estilo bateu/levou. Já o experiente marqueteiro João Santana quer evitar o confronto. Ele prefere campanha mais propositiva, com ênfase nas realizações do período Lula/Dilma.
Porém, diante da tendência das pesquisas, com o paulatino crescimento de Aécio Neves, fica claro que Dilma Rousseff vai ter de mudar a estratégia atual. Apesar dos problemas na economia e na Petrobras, a presidente se mantém fiel à equipe de colaboradores. Nas peças publicitárias do governo e nos programas obrigatórios do PT, ela procura vender o peixe de sua gestão, tentando convencer a opinião pública a partir de uma agenda positiva, baseada nas grandes obras públicas e no êxito dos programas sociais. Mas essa receita, que deu certo em outros tempos, perdeu a eficácia. Prova disso são os baixos índices de aprovação do governo e o desejo de mudança cada vez mais forte.
Tudo indica que os eleitores cobram ações efetivas. Não adianta a presidente da Petrobras, Graça Foster, chorar em depoimento na CPI do Congresso. A pergunta é simples: como o ex-diretor de abastecimento Paulo Roberto Costa conseguiu acumular a fortuna de US$ 28 milhões na Suíça? Onde e como os controles da estatal falharam? Os eleitores exigem respostas. Agora.

Haiti: um Estado falido, dependente eterno da ajuda internacional? -debate em Zero Hora

O caso do Haiti não é apenas de State governance, mas de Nation building, um caso único na América Latina no qual as elites falharam, e continuam falhando, miseravelmente.
Paulo Roberto de Almeida 

No Haiti, após uma década

Zero Hora, 15/06/2014


Com saída prevista para se iniciar em 2016,missão da ONU deixa dúvidas sobre seu mérito. Chefiada pelo Brasil, é vista por uns como orgulho nacional e, por outros, como fracasso
Dez anos depois de o Conselho de Segurança da ONU ter implementado a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), em 1º de junho de 2004, poucos lembram que a iniciativa havia sido aprovada, em 30 de abril do mesmo ano, para durar seis meses.
A possibilidade de renovação existia. Mas, passados o terremoto devastador, a implacável epidemia do cólera e o agravamento da miséria, a missão completa uma década sob a polêmica entre quem vê avanços na segurança interna de um dos países mais pobres do mundo e quem critica a intromissão militar que inibiria a autonomia institucional.
A longevidade da missão, com seus 30 mil militares no período, provoca protestos de alguns haitianos. Parte deles quer tomar conta do próprio destino. Mas entre 65% e 80% da população planeja se mudar para o Brasil, conforme Ricardo Seitenfus, representante no Haiti da Organização dos Estados Americanos (OEA) entre 2009 e 2011.
Em setembro de 2011 e em maio de 2013, o senado haitiano aprovou resoluções exigindo o fim da Minustah. A ONU, porém, pretende manter as tropas no país até 2016, algo que, na definição do senador haitiano Jean-Charles Moise, equivale já a uma "ocupação", que deveria ser encerrada pela "substituição dos tanques de guerra por tratores agrícolas".
Seitenfus, que está lançando o livro Haiti: Dilemas e Fracassos Internacionais (Editora da Unijuí), define a Minustah como "uma das piores missões de paz da história".
– Foram enviados soldados para onde não havia e não há guerra. Portanto, o desafio haitiano é socioeconômico e institucional. Não há como estabilizar um país com 80% de desemprego, com 50% de analfabetismo – critica Seitenfus.
Além da situação socioeconômica e da necessidade de tomar conta do próprio destino, os haitianos se amparam em estudos para reclamar que a bactéria do cólera foi levada por militares nepaleses da Minustah.
É algo que a ONU jamais reconheceu, rejeitando indenizações. Mas não fica nisso. Haitianos relatam casos de abuso sexual e excessos na repressão por integrantes da missão. E fazem coro com Seitenfus: criticam a instituição da Minustah, sob o capítulo 7 da Carta da ONU, que sustenta o uso da força em caso de "ameaça à paz, ruptura da paz ou ato de agressão". Por que a crítica? Porque dizem não haver justificativa para a intervenção internacional, nem antes nem depois da queda do presidente esquerdista Jean-Bertrand Aristide.

Governo viu chance de ser referência regional
Seitenfus ainda vê um vício de origem. Refere-se ao acordo de 9 de julho de 2004 entre a ONU e o governo haitiano. O documento foi assinado pelo então premier, Gérard Latortue, e não pelo presidente, como previa o artigo 139 da Constituição.
Pelo Brasil, a Minustah foi vista como oportunidade. Era a chance de projetar o país como líder regional, numa missão de estabilização depois da frustração em relação à do Timor Leste, que não prosperou em razão da crise econômica de 1999. O país foi ao Haiti de olho na cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU.
Antônio Jorge Ramalho, assessor do governo e professor de Relações Internacionais na Universidade de Brasília (UnB), considera positiva a participação brasileira.
– O Brasil projetou sua imagem e sua bandeira. Mostrou capacidade de ação, o que é muito relevante. Conteve uma violência disseminada sem danos colaterais. Isso o coloca como um país respeitado quando se cita operações das Nações Unidas – diz.
Quando os militares brasileiros chegaram ao Haiti, a vulnerabilidade era tal que o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, cogitou ser uma missão com data para começar, mas não para terminar. Hoje, mesmo reconhecendo a importância da Minustah, os analistas coincidem quanto à necessidade de criar um planejamento para deixar o país, dando a suas instituições a tão sonhada autonomia.

Entrevista com Antônio Jorge Ramalho, especialista em Relações Internacionais

Antônio Jorge Ramalho, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), foi diretor de cooperação do Ministério da Defesa e implantou o Centro de Estudos Brasileiros em Porto Príncipe. Vê a Minustah como positiva.

Como o senhor avalia a participação brasileira?
O Brasil deu uma contribuição positiva e projetou sua imagem. Mostrou capacidade de ação, o que é muito relevante. Conteve uma violência disseminada sem danos colaterais. Isso coloca o Brasil como um país respeitado quando se citam operações das Nações Unidas. O país deixou uma imagem de profissionalismo. Não por acaso, a ONU escolheu o general brasileiro Carlos Alberto dos Santos Cruz (que, inclusive, comandou as tropas da Minustah entre 2006 e 2009) para comandar a brigada de intervenção na República Democrática do Congo, com autorização de usar a força para impor a paz. Claro que isso se deve ao bom desempenho do Brasil no Haiti.

Como será a saída?
É um fim pausado, cauteloso, com parcimônia. Há transferência para a polícia nacional do Haiti. No ano que vem, haverá eleições. O trabalho não termina. Há já uma mudança de foco, da ajuda militar de combate para a de engenharia, além de ajuda na saúde, na agricultura e outros setores. Ações vão continuar.

O que se pode esperar que ocorra no Haiti a partir da retirada da missão?
Vamos ver como o Haiti absorve essa retirada gradual, com a redução da missão internacional. Kofi Annan (ex-secretário-geral da ONU) chegou a dizer que havia ali uma tarefa para duas décadas. Por essa perspectiva, estamos, em tese, no meio do caminho. O objetivo da missão é de que haja autonomia de gestão por parte dos haitianos. Muitos dos empreendendores, dos profissionais mais capacitados, deixaram o país, naquilo que chamamos de fuga de cérebros. Trata-se de um problema e de um desafio. Tenho dúvidas sobre o real interesse da elite haitiana em promover a estabilidade do país.

Qual é o problema envolvendo a elite do Haiti?
É uma elite dividida, parte dela vive às custas da ajuda internacional. Há muito ceticismo quanto a ela, até porque é uma elite que domina o país desde a ditadura de Duvalier (François Duvalier, conhecido como Papa Doc, apoiado pelos Estados Unidos no contexto da Guerra Fria, instaurou uma ditadura feroz, sendo substituído pelo filho, Jean-Claude Duvalier – o Baby Doc). É possível que a saída da missão brasileira ocorra gradualmente a partir de 2016, mas precisávamos já ter um plano de saída claro, porque se trata de um trabalho continuado.

Entrevista com Ricardo Seitenfus, especialista em Relações Internacionais

Ricardo Seitenfus, doutor em Relações Internacionais e professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), representou a Organização dos Estados Americanos (OEA) no Haiti entre 2009 e 2011. É um crítico da Minustah.

Como o senhor vê a perspectiva de saída em 2016?
O desenvolvimento do Haiti tem de ser feito pelos haitianos. Ser solidário não é substituir, é acompanhar. É bom que se acene com a restauração da soberania haitiana e se ponha termo à presença militar estrangeira da Minustah. Deve-se respeitar a autodeterminação do povo e do Estado haitiano com o processo de apropriação de seu país.

Quando deve ser a retirada?
Discutíamos um modelo de saída quando o terremoto de 12 de janeiro de 2010 jogou o debate para as calendas gregas. Agora se retorna a ele, felizmente. Mais do que uma data-limite, o que importa são as condições da saída, como sair. O desafio haitiano é socioeconômico e institucional. Não há como estabilizar um país com 80% de desemprego e com um Estado que é muito mais uma ficção do que uma realidade. É importante a ONU deixar o Haiti. O país precisa ter tempo para construir a democracia deles. Querem democracia perfeita em um país onde há 50% de analfabetismo?

Como o senhor vê a missão?
A missão no Haiti é uma das piores missões de paz da história da ONU. Se saírem em 2016, deixarão um país pior do que encontraram em 2004. Saí do Haiti porque me opunha à intervenção na política interna do país, me desentendi por causa disso. Até o cólera foi levado para lá. Essa intervenção foi triste e pesarosa. Nada melhorou.

O que o Brasil deve fazer?
Deve liderar o debate com seus parceiros por uma solução rápida. Se isso não ocorrer, o Brasil deve renunciar ao comando da Minustah e retirar seu contingente. Cada dia que passa nos desgasta mais. Gasta-se um capital imenso de reconhecimento e respeitabilidade.

O que deve fazer o Haiti?
Uma reforma constitucional, para desincompatibilizar as funções de presidente e primeiro-ministro (nomeado pelo presidente). O presidente acaba precisando de uma maioria parlamentar, e o parlamento considera o premier um contrapoder. A ONU deve garantir um pacto de governabilidade.

Cuba-Coreia do Norte: dois regimes companheiros (e amigos doscompanheiros) - Mac Margolis

Sem comentários, pois do contrário seria cáustico para certa diplomacia..
Paulo Roberto de Almeida 

 Conexão Havana-Pyongyang

Coluna / Mac Margolis


São 12,5 mil quilômetros de Cuba à Coreia do Norte, mas as afinidades encurtam as distâncias. Regidos por dinastias em vias de extinção, os dois países também têm em comum um pacto natural de Estados párias. Foi assim em julho de 2013, quando o regime de Raúl Castro resolveu ajudar os irmãos norte-coreanos com um navio carregado de surpresas. No manifesto do cargueiro Chong Chon Gang constava apenas açúcar. Quando os fiscais no Canal do Panamá foram checar, acharam bem mais.
Debaixo de mais de 200 mil sacos de açúcar refinado cubano havia não drogas, como imaginavam, mas um arsenal para alegrar qualquer ditador: dois caças MiG desmontados, 15 motores de avião, nove mísseis e duas plataformas antiaéreas completas.
Os panamenhos apreenderam o navio, prenderam a tripulação e reportaram o contrabando à ONU, que desde 2006 veta o envio de armamentos pesados ao regime norte-coreano, que nutre sonhos nucleares. Foi o início de uma tortuosa dança diplomática, ao estilo de Pyongyang e à moda bolivariana.
Na semana passada, Cingapura apresentou queixa-crime contra uma companhia de navegação local que teria bancado a operação com um operador panamenho. Todos aguardam a decisão do Conselho de Segurança da ONU, que recebeu um relatório detalhado sobre o caso, mas ainda não determinou sanções aos dois países.
Se depender da complexa tradição da corporação, onde China e Rússia, aliadas de conveniência de Pyongyang, têm poder de veto, o resultado da maior apreensão de armas ilegais enviadas para uma das piores tiranias do planeta pode acabar em pizza habanera.
Desde cedo, vários países latino-americanos trabalharam para garantir exatamente isso. São os aliados do falecido líder venezuelano Hugo Chávez, que ergueram uma cerca companheira. Acusaram o Panamá, nação “lambe botas” dos gringos, de ingerência em assuntos entre duas nações soberanas, Cuba e Coreia do Norte.
Se não fosse criminosa, a versão seria risível. Em primeiro lugar, os cubanos jamais admitiram enviar armas, apenas açúcar. Flagrados, disseram que o material era obsoleto e se destinava à manutenção na Coreia do Norte, para depois ser devolvido. Portanto, ele estaria isento do boicote da ONU.
Balela. Segundo o comandante Belsio González, diretor do Serviço Aeronaval do Panamá, os caças russos, assim como os motores, estavam em "excelente" estado. O Panamá libertou parte da tripulação do Chong Chon Gang sob fiança de US$ 700 mil, mas ainda mantém detidos três oficiais do navio. No seu relatório anual, um painel de especialistas da ONU concluiu que é a diplomacia norte-coreana que articula envios clandestinos de armas para Pyongyang por meio de complexos artifícios financeiros. A conexão com Havana faz parte do embuste.
A ditadura asiática encobriu o rastro da operação desastrosa. Trocou seu embaixador em Havana e abafou a história. Na bizantina política norte-coreana, o diplomata era ligado ao poderoso Jang Song-thaek, inimigo mortal do novo líder supremo, Kim Jong-un. Especula-se se que ambos, Jang e o ex-embaixador, tenham sido executados.
Chama a atenção que a desventura do Chong Chon Gang começou no Porto de Mariel, cuja reforma o governo brasileiro banca para consolidar laços companheiros e dinamizar o comércio do país amigo. Ao que parece, de olhos bem fechados.

Lula e o seu vocabulario de politica externa: Eduardo Scolese e Leonencio Nossa (via Augusto Nunes)

O mundo e o Brasil foram desagradavelmente surpreendidos pelas grosserias desfechadas contra aquela que dirige o país por ocasião da abertura da Copa, em 12 de junho. De fato, xingamentos não são o melhor argumento para expressar o desagrado com alguma coisa.
Mas em matéria de ofensas, o presidente anterior era campeão, como demonstra este trecho de coluna do jornalista Augusto Nunes, transcrito do blog de Orlando Tambosi.
Esses palavrões já tinham sido tornado públicos quanda da publicação do livro, em 2005. Talvez expliquem um pouco da má vontade dos vizinhos para com o Brasil. Aliás, em matéria de palavrões, parece que eles continuam a enfeitar abundantemente o linguajar do Palácio do Planalto nos dias que correm.
Ou seja, os exemplos vêm de cima.
Como querem então?
Paulo Roberto de Almeida 

Nunca antes na política externa brasileira: ofensas em Profusão (Lula)
No ótimo Viagens com o Presidente, os jornalistas Eduardo Scolese e Leonencio Nossa relatam episódios que testemunharam e histórias que colheram durante os quatro anos em que, a serviço da Folha e do Estadão, seguiram os passos do chefe de governo. Confira quatro momentos. Diferentemente do livro, que expõe com crueza o estilo do grosseirão sem cura, asteriscos fazem o papel de vogais e consoantes nos palavrões cuja publicação é vetada pelas normas do site de VEJA:

VIZINHOS NA MIRA
O fato se dá em Tóquio, no Japão, no final de maio de 2005. Uma dose caprichada de uísque com gelo e, antes mesmo do inicio do jantar, Lula manda servir o segundo, o terceiro e o quarto copos. Visivelmente alterado:
— Tem horas, meus caros, que eu tenho vontade de mandar o Kirchner para a p*** que o pariu. É verdade. Eu tenho mesmo – afirma, aos gritos. — A verdade é que nós temos que ter saco para aturar a Argentina. E o Jorge Battle, do Uruguai? Aquele lá não é uruguaio po*** nenhuma. Foi criado nos Estados Unidos. É filhote dos americanos. O Chile é uma m****. O Chile é uma piada. Eles fazem os acordos lá deles com os americanos. Querem mais é que a gente se fo** por aqui. Eles estão cag***do para nós. (págs 270 e 271)

EXAME DE PRÓSTATA
Numa audiência com a ministra do Meio Ambiente Marina Silva, na época em que o governo começa a discutir a transposição de parte das águas do Francisco, o Presidente ouve opiniões contrárias dela e dos técnicos:
— Marina, essa coisa de Meio Ambiente é igual a um exame de próstata. Não dá para ficar virgem toda a vida. Uma hora eles vão ter que enfiar o dedo no ** da gente. Companheira, se é para enfiar, é melhor enfiar logo. (Pág 71).

MARCO AURÉLIO GARCIA
Antes de uma cerimônia no palácio, Lula se aproxima do assessor para assuntos internacionais, o professor Marco Aurélio Garcia, e diz:
— Marco Aurélio, eu já mandei você tomar no ** hoje?
O professor sorri. (Pág. 71).

ORADOR EXIGENTE
Na suíte do hotel, recebe das mãos de assessores discurso sobre combate mundial à fome. Diante do ministro Celso Amorim e dos auxiliares do Planalto e do Itamaraty, folheia rapidamente a papelada e arremessa a metros de distância:
— Enfiem no ** esse discurso, c****ho. Não é isso que eu quero, po***. Eu não vou ler essa m****. Vai todo mundo tomar no** Mudem isso, rápido. (Pág. 249). 

Esses exemplos bastam para exibir a nudez do reizinho. Inquieto com as rachaduras no poste que instalou no Planalto, o presidente honorário do grande clube dos cafajestes tenta impedir o desabamento fantasiado de doutor honoris causa em boas maneiras. Haja cinismo.

Eleicoes 2014: loiros ricos, de olhos azuis, se espalham perigosamente pelo Brasil inteiro...

Esse pessoal capaz de pagar 900 reais por um bilhete de jogo da Copa existe no Brasil inteiro.
Burgueses ricos, aliados da mídia golpista, servindo aos interesses das elites, totalmente submissos ao imperialismo, estão se infiltrando até em audiências populares, em plateias de operários, em grupos de estudantes, toda essa gente que normalmente deveria estar encantada e agradecida ao grande partido totalitário que nos governa...
Pessoal traidor...
Paulo Roberto de Almeida


A presidente Dilma Rousseff foi vaiada neste sábado (3), na abertura oficial da 80ª edição da Expozebu
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/05/1449037-dilma-e-vaiada-em-mg-no-1-evento-apos-pt-reafirmar-sua-candidatura.shtml

Dilma é vaiada na abertura da Copa das Confederações
http://www.epochtimes.com.br/dilma-e-vaiada-na-abertura-da-copa-das-confederacoes/

Dilma Rousseff é vaiada em evento do Minha Casa Minha Vida, em Tocantins.
http://coturnonoturno.blogspot.com.br/2014/03/dilma-e-vaiada-e-bate-boca-com.html

Dilma sendo vaiada em seu pronunciamento nacional
https://www.youtube.com/watch?v=aV2h0Ghxvvo

Dilma é vaiada por estudantes em Natal Rio Grande do Norte
https://www.youtube.com/watch?v=lJEOvjv6JK4

Dilma é vaiada na posse do presidente do Paraguai. 
https://www.youtube.com/watch?v=_Q4y_i22s7E

POVO DESABAFA SOBRE DILMA NO SHOW DO RAPPA
https://www.youtube.com/watch?v=ajPrJe3_9Gg

Dilma é vaiada ao falar 'portador de deficiência' durante a 3ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, em Brasília.
http://www.josemararaujo.com/not/not89.html

Dilma é vaiada por operários no Rio de Janeiro 
https://www.youtube.com/watch?v=HaXUUEF_6TE

domingo, 15 de junho de 2014

Venezuela: operar com dolares continua sendo ilegal, mas a prostituicao faz a ponte...

Vejam este video, no site da Bloomberg News: uma trabalhadora do sexo (como figura na classificação companheira), cujo trabalho é legal naquele país do socialismo de algum século indefinido, geralmente pede 60 dólares a hora por seus serviços não muito especializados.
No câmbio negro, que é ilegal, esse valor equivale a um mês inteiro de salário mínimo.
Elas se tornaram cambistas involuntárias.
Assim são as coisas no país aliado dos companheiros e membro pleno do Mercosul.
Paulo Roberto de Almeida 

Watch this video at http://bloom.bg/1leXJfQ

Venezuelan Prostitutes Turn Currency Tricks

Prostitution is legal in Venezuela but currency trading by individuals isn't. None of this would matter if the economy in Venezuela wasn't in such a mess.

America Latina segue em dois ritmos, o do Pacifico e o do Atlantico - El Pais

El País, 14/06/2014

A década de ouro dos preços altos das matérias-primas e a entrada de dinheiro a cântaros na América Latina chega ao fim, e com isso se aprofunda a distância entre os países da costa do Pacífico, mais dinâmicos e abertos, e os do Atlântico, mais protecionistas e burocráticos. Se durante os primeiros anos do novo milênio —o período mais influente do chavismo— a região esteve dividida em termos políticos entre Governos conservadores e de esquerda, agora a ruptura é predominantemente comercial em dois grandes blocos: a Aliança do Pacífico (Chile, Peru, Colômbia e México) e o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela).
Os relatórios mais recentes sobre perspectivas econômicas mundiais, começando pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) ou pelo Instituto para as Finanças Internacionais (IIF), de Washington, dão conta de que o futuro em curto e médio prazo da Aliança do Pacífico é mais promissor do que o do Mercosul. O primeiro bloco crescerá este ano entre 3% e 4%; enquanto isso, Brasil, Argentina e Venezuela, as economias que representam 98% do produto interno bruto (PIB) do segundo bloco, crescerão apenas entre 0,6% e 1%. Uruguai e Paraguai têm previsões melhores de crescimento do que seus parceiros, mas suas economias são muito pequenas.
“Em curto e médio prazo, acredito que a vantagem da Aliança do Pacífico sobre o Mercosul tende a se ampliar”, acredita Ramón Aracena, economista-chefe do Instituto para as Finanças Internacionais (IIF), de Washington. “A Aliança está demonstrando ser mais resistente às crises, reflete um compromisso forte com o modelo de livre mercado que adotou e, acima de tudo, goza de um intangível que é a credibilidade. O Mercosul pode mudar em certo tempo e se abrir mais aos mercados internacionais, mas está bem atrasado... A Aliança nasce de interesses pragmáticos, de baixo para cima, impulsionada pela comunidade empresarial dos países membros, não de cima para baixo, como um projeto político. E essa origem é chave para seu desenvolvimento e seu futuro como bloco comercial”, acrescenta o economista chileno.
A Aliança do Pacífico cresce mais depressa, mas o Mercosul tem gastos sociais maiores
Muitas coisas separam um bloco do outro. A Aliança do Pacífico, criada em 2011, apostou na economia de mercado e nos acordos de livre comércio com os EUA, Europa e Ásia. Conta, além disso, com uma confiança maior dos investidores internacionais e dos organismos de crédito, e seus governantes têm uma tendência menor a cair na demagogia.
Ao contrário, as três grandes economias do Mercosul —fundado em 1991— são mais intervencionistas e são percebidas como menos amigáveis com o livre comércio e os investimentos estrangeiros. Os Governos populistas da Argentina e Venezuela, além disso, têm problemas para controlar a inflação e para conseguir financiamento externo. Em relação ao investimento social, os países do Mercosul superam os da Aliança do Pacífico. Mas ainda que a imensa ajuda pública tenha permitido a muita gente sair da pobreza extrema, os desembolsos não representaram uma verdadeira revolução no desequilíbrio da renda e na desigualdade de oportunidades — flagelos aos quais nenhum país da região escapa.
O Brasil, maior economia latino-americana, sofreu duas revisões da queda de sua solvência financeira por parte das agências Moody’s e e Standard and Poor’s desde o ano passado. Apesar de o país ser o que provavelmente vai registrar o maior crescimento do bloco Atlântico este ano (entre 1,8% e 1,5%, conforme análise do FMI ou do Banco Mundial), o índice continuará sendo menor do que o do México (entre 2,3% e 3%), o menos significativo do bloco do Pacífico. A onda de protestos com epicentro em São Paulo de um ano atrás e as que sacodem o país em função da Copa do Mundo de futebol semearam inquietude entre os investidores internacionais sobre o futuro brasileiro, apesar de o país continuar sendo o principal alvo de investimento estrangeiro direto na região.
A inflação no país subiu mais do que o previsto, principalmente por problemas na rede de abastecimento derivada do déficit energético, o que reduziu o poder aquisitivo da classe média, que cresceu durante os anos de forte expansão (2005-2010). O país ocupa o 116 lugar do total de 189 países do relatório Doing Business 2014, do Banco Mundial. Demora-se 107,5 dias para abrir uma empresa, diante da média de 36,1 dias do resto da região. Depois de abertas, as empresas têm de investir cerca de 2.600 horas por ano em questões fiscais, em relação a 369 horas em média na região.
O modelo de fomento da demanda interna pelos gastos sociais e o investimento dão sinal de esgotamento
Na imprensa geral e nas publicações especializadas do Brasil ampliam-se as vozes de empresários que pedem maior abertura da economia para dar impulso a uma atividade que vem caindo há três anos e que corre o risco de uma estagnação prolongada. A elite econômica teme que o país perca muita competitividade no exterior se a Aliança do Pacífico avançar em seus planos de associação com 12 países asiáticos (entre eles, Japão e Coreia do Sul, mas não China e Índia).
O temor de perder espaço como grande exportador também elevou no Brasil o tom do debate sobre as restrições que as regras do Mercosul impõem para que um de seus membros possa negociar pactos comerciais com certa margem de manobra. Foi o que viveu de perto o Uruguai quando quis se aproximar mais dos EUA; e os próprios brasileiros e argentinos, em suas tentativas de fechar acordos com a União Europeia. As constantes disputas comerciais entre Brasília e Buenos Aires desgastaram o Mercosul depois de 25 anos nos quais o processo de integração pouco avançou. “A Aliança diz: tenhamos livre comércio entre nós e com o mundo. O Mercosul: tenhamos livre comércio entre nós e imponhamos tarifas ao resto”, explica Aracena. “Acredito que se tudo correr muito bem para a Aliança, as pressões devem aumentar no coração do bloco do Sul no sentido de mudar o modelo”, acrescenta.
O Brasil enfrenta “muitos gargalos” em infraestrutura e “não definiu se vai resolvê-los com investimento público, que não é suficiente, ou privado, que tem suas condições”, observa Jürgen Weller, economista da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). “O modelo que levou o país a crescer mais na década passada está debilitado. O emprego não aumenta, os salários também não, e com isso a demanda interna cai. Essa demanda interna dos últimos anos fez crescer as importações e, assim como em muitos países, isso trouxe um déficit na conta corrente. Houve depreciação do real, a inflação não é tão alta, mas o banco central aumentou os juros para 11%, o que também reduz a atividade, pois o crédito se contrai”, diz Weller.
A Argentina e a Venezuela têm problemas com a inflação; é mais grave no país caribenho
Argentina e Venezuela têm sérios problemas tanto para controlar a inflação como para obter financiamento depois de anos dando as costas para o mercado e maquiando ou tentando esconder os números macroeconômicos. A difícil vida entre o desabastecimento e o nível de preços mais alto do mundo (59,3%) disparou um protesto social na Venezuela que custou a vida de mais de 40 pessoas este ano. A Argentina teve de maquiar suas estatísticas e reconciliar-se com os credores externos para reinserir-se no sistema financeiro internacional e conseguir dinheiro do exterior. A jogada serviu para aliviar um pouco o chamado risco-país, que é o mais alto da região depois da Venezuela, mas chega um pouco tarde para reverter totalmente a delicada situação do país a pouco mais de um ano das eleições. Tanto o FMI como o Banco Mundial preveem a estagnação tanto da economia venezuelana como da argentina este ano.
“Muitos analistas costumam avaliar os dois juntos, mas o caso argentino não é tão negativo. Em ambos houve má gestão econômica, mas na Argentina nunca houve o nível de distorção da Venezuela, onde não se entende que, com um barril de petróleo a 100 dólares, haja crise cambial”, analisa o economista colombiano José Antonio Ocampo, professor da Universidade de Columbia e coautor, com o Nobel Joseph Stiglitz, do livro A hora da mão visível: Lições da crise financeira mundial de 2008. O especialista concorda com o relatório do Banco Mundial de que a Argentina adotou este ano medidas para reverter a situação, como a desvalorização do peso, a normalização das estatísticas públicas, o acordo para o pagamento da dívida com o Clube de Paris (grupo de 19 países credores) e a indenização da Repsol pela expropriação da YPF. “Mas deve fazer mais ajustes”, destaca Ocampo.
“São medidas de estabilização, mas não de estímulo”, adverte Weller sobre a Argentina, um país em que os produtos industrializados representam 32,6% das exportações e onde precisamente as fábricas de automóveis e peças são as que estão suspendendo ou demitindo trabalhadores. A Venezuela, onde as exportações não petroleiras são de apenas 4,7% do total, está mais distante do que a Argentina de resolver sua escassez de divisas. O país caribenho enfrenta um alto déficit de energia elétrica que afeta o setor produtivo e problemas para tornar eficientes as numerosas empresas nacionalizadas pelo chavismo.
No bloco da Aliança do Pacífico parece que todos estão em melhor situação do que os do Atlântico, mas entre seus associados também há muitas diferenças. No relatório do Banco Mundial divulgado na quarta-feira, a Colômbia é a única das grandes economias que vai crescer em 2014 mais do que no ano anterior. País exportador de petróleo e minerais (apenas 22,8% de suas vendas são de produtos industrializados), “a Colômbia se viu impulsionada por um ambicioso programa de investimento público em infraestrutura e moradia, e pelo auge de um novo setor de matéria-prima, o do carvão”, explica Weller.
Na hora de analisar os dois blocos por seus progressos sociais, os resultados são diferentes dos dados macroeconômicos
Há algumas semanas, o embaixador colombiano em Madri, Fernando Carrillo, arriscou dizer a empresários canários que um acordo de paz entre o Governo e as guerrilhas das FARC e do ELN poderá acrescentar até dois pontos percentuais no PIB se os recursos da guerra se destinarem a serviços públicos que orientem o desenvolvimento, segundo a agência EFE.
O segundo grupo dentro da Aliança é o dos países que reduzem seu crescimento devido à queda da demanda por produtos de mineração: Peru e Chile. O primeiro deve suportar melhor a desaceleração da demanda porque o preço dos hidrocarbonetos e dos metais preciosos se mantém forte. “Além disso, o Peru”, diz Weller, “cresce um pouco mais porque vem de fortalecer o mercado interno com o surgimento de uma nova classe média. No Chile isso tinha acontecido já nos anos 1990.” A presidenta chilena Michelle Bachelet, que reassumiu o poder em março passado, estimula uma reforma para melhorar as oportunidades de educação e outra para diversificar uma economia na qual as exportações industriais representam apenas 13,5% do total. No Peru, são de 14,7%.
O México cresce mais do que no ano passado, mas a um ritmo mais lento do que o esperado depois das reformas que o presidente Enrique Peña Nieto realizou em 2013, como a que abrirá a área petroleira ao capital privado e estrangeiro. “O Governo identificou os gargalos que geraram expectativas exageradas de efeito imediato. Além disso, no México, ao contrário da América do Sul, fomentou-se a competitividade com um controle dos custos de mão-de-obra que fez cair o salário mínimo nos anos 1990 e o manteve congelado em 2000. Ao contrário, na América do Sul fomentou-se a demanda com altas do salário mínimo, e isso deu dinamismo ao mercado interno, o que agora está chegando ao fim, pois era financiado pela demanda externa [de produtos básicos]”, diz o especialista da CEPAL.
Na hora de julgar os dois blocos por seus avanços sociais, os resultados são diferentes dos dados traçados para o comportamento macroeconômico. Entre 2005 e 2013, a pobreza caiu pela metade no Brasil, de 36% para 18%; na Argentina, em um terço, de 30% para 20%, segundo o número do ano passado, recalculado esta semana pelos técnicos do Instituto Nacional de Estatística, que se negaram a praticar qualquer manipulação dos dados. Enquanto isso, na Venezuela, caiu de 37% para 27%. No entanto, tanto em Buenos Aires como em Caracas teme-se que o flagelo da pobreza volte a disparar este ano, ao lado da alta inflação. Enquanto isso, na Aliança do Pacífico, a Colômbia conseguiu diminuí-la de 45% para 32% e o Peru, à metade, de 52% para 25%; mas o México sofreu um retrocesso, de 31% para 37%, e o Chile, que saía de uma situação melhor, reduziu-a de 13% para 11%, segundo o último relatório da CEPAL.
A desigualdade de renda entre os 20% mais ricos da população e os 20% mais pobres entre 2002 e 2012 caiu mais de 10 pontos percentuais no Brasil, entre cinco e dez na Argentina, Venezuela e Peru, e menos de 5 na Colômbia, Chile e México. A região mais injusta do mundo no que se refere a redistribuição de renda obteve progressos nessa matéria, ao contrário do resto do planeta, mas essas melhorias estão estacionando, segundo relatório de George Grey Molina, economista-chefe para a América Latina do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Nao aos prodigos, incorrigiveis e totalitarios - Percival Puggina

A parábola bíblica não se ajusta ao caso dos companheiros. Eles nunca se arrependeram, continuam patifes e como tal devem ser escorraçados, banidos, expulsos do convívio com os demais familiares e com todos os demais membros da comunidade. Vão morar lá onde são bem recebidos: entre os bandidos, mafiosos, criminosos, impenitentes...
Paulo Roberto de Almeida


FILHO PRÓDIGO E INCORRIGÍVEL
          Percival Puggina

No Evangelho de São Lucas, Jesus narra uma história que se tornou, provavelmente, a mais conhecida dentre todas as suas parábolas. Ela descreve a experiência de um filho que pede ao pai rico a antecipação de sua herança. Com a grana na mão, ele viaja para um país distante, cai na vida, afunda nos vícios, gasta tudo que tem e experimenta o sabor da mais irrecorrível miséria (vem daí o adjetivo pródigo, ou seja, esbanjador, gastador, associado a esse personagem). Gradualmente, porém, ele se arrepende, decide retificar sua conduta e retorna à casa do pai, a quem pede e de quem recebe efusivo perdão.

          Tem muita razão o jornalista Eugênio Bucci, em artigo publicado no Estadão no dia 12 deste mês. Segundo ele, embora a presidente Dilma e os governistas acusem a oposição de explorar politicamente o evento da FIFA, foram os governos petistas que confundiram futebol com política e eleição desde que se dispuseram a oferecer o país para a realização da Copa de 2014.

          É bom recordar. Logo no início, Lula faturou os abraços e as lacrimosas efusões de alegria perante a - assim proclamada - conquista. Depois, explorou as escolhas das sedes da Copa, aumentando em cinquenta por cento, sem necessidade alguma, os teatros em que ela se desenrolaria. Bastavam oito sedes, mas Lula quis 12 para faturar em mais quatro Estados os dividendos eleitorais que disso adviriam. Depois, junto com Dilma, aproveitou politicamente, anúncio por anúncio, as "obras da Copa" voltadas para mobilidade urbana, aeroportos e infraestrutura.

          Custou a cair a ficha. Passaram-se seis anos inteiros, ao longo dos quais o governo petista reinou com a convicção de que poderia fazer o que bem entendesse no país. O PT se tornou o novo Príncipe de Machiavel, com a vantagem de estar com os cofres cheios de dinheiro para usos e abusos. O partido do governo se fundiu e confundiu com o Estado, com o governo, com a administração pública federal e com as empresas estatais. Como é fácil, na política, a vida dos endinheirados inescrupulosos!

          Foi em junho do ano passado, quando entramos na contagem regressiva para os jogos da Copa, que a ficha começou a cair e a nação passou a compreender o quanto haviam sido absurdos e abusivos os custos, os gastos, as exigências e as concessões feitas pelo governo petista. O escandaloso contraste entre o "padrão FIFA" e a realidade social do país, a tenebrosa situação do sistema de saúde e a péssima qualidade do ensino público, levou o povo às ruas nos protestos de junho de 2013. E produziu a impressionante reação popular ante a presença da presidente Dilma no jogo inaugural da Copa.

          No entanto, vale o alerta: no poder, o governo petista conta com o dinheiro de todos nós e nada - absolutamente nada! - sugere que vá  arrepender-se, ou mudar de conduta. Para o PT, cair em si significa fazer mais do mesmo. E vem aí a outra "conquista" desse filho pródigo da ingenuidade nacional - os Jogos Olímpicos de 2016. O PT é um filho pródigo incorrigível, que precisa ser mantido a quilômetros de distância dos recursos públicos.

* Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+ e membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Pensar se tornou obsoleto? Um opiniao sobre a universidade

Leiam atentamente o que vai escrito. Volto ao final.
Paulo Roberto de Almeida 

Pensar está se tornando obsoleto

É sempre surpreendente — e apavorante — constatar quantos assuntos extremamente sérios não são discutidos seriamente hoje em dia; as pessoas simplesmente saem emitindo afirmativas e contra-afirmativas, tudo de maneira generalizada. Seja em debates de internet ou até mesmo em programas de televisão, as pessoas simplesmente tentam calar seu opositor falando mais alto do que ele ou simplesmente recorrendo a frases de efeito de cunho emotivo.

Há inúmeras maneiras de fazer parecer que se está argumentando sem que na realidade se esteja produzindo absolutamente nenhum argumento coerente.

Décadas de educação escolar e universitária simplificada — para não dizer idiotizante — certamente têm algo a ver com a atual situação, mas isso não explica tudo. A educação não somente foi negligenciada no sistema educacional atual, como também já foi quase que completamente substituída pela doutrinação ideológica. A doutrinação que hoje é feita por professores e instituições supostamente educacionais é amplamente baseada na simples vocalização das mesmas pressuposições básicas e não-comprovadas de sempre.

Se as instituições educacionais de hoje — desde escolas a universidades — estivessem tão interessadas em diversidade de ideias quanto estão obcecadas com diversidade racial e sexual, os estudantes ao menos adquiririam experiência ao ver as pressuposições que existem por trás de diferentes visões, e entenderiam a função da lógica e da evidência ao debaterem tais diferenças. No entanto, a realidade é que um estudante pode passar por todo o seu ciclo educacional, desde o jardim de infância até seu doutoramento, sem entrar em contato com absolutamente nenhuma visão de mundo que seja fundamentalmente diferente daquela que prevalece dentro do espectro de opiniões autorizadas e politicamente corretas que domina o nosso sistema educacional.

No que mais, a perspectiva moral da visão ideológica predominante é completamente maniqueísta: as pessoas imbuídas dessas ideias realmente se veem como anjos combatendo todas as forças do mal — seja o assunto em questão o desarmamento, o ambientalismo, o racismo, o homossexualismo, o feminismo ou qualquer outro ismo.

Um monopólio moral é a antítese de um livre mercado de ideias. Um indicativo desta noção de monopólio moral dentre a intelligentsia esquerdista é o fato de que as instituições que estão majoritariamente sob seu controle — escolas, faculdades e universidades — são justamente aqueles que usufruem muito menos liberdade de expressão do que o resto da sociedade.

Por exemplo, ao passo que a defesa e até mesmo a promoção da homossexualidade é comum nos campi universitários — e comparecer a palestras e aulas que fazem tal promoção é frequentemente algo obrigatório nos cursos introdutórios —, qualquer crítica ao comportamento homossexual é imediatamente rotulada de "reacionarismo", "preconceito" e "incitação ao ódio", sujeita a imediata punição.

Enquanto porta-vozes de vários grupos raciais e étnicos são livres para denunciar com veemência "os brancos" por seus pecados passados e presentes, verdadeiros ou imaginários, qualquer estudante branco que similarmente venha a denunciar as transgressões ou os desvarios de grupos não-brancos garantidamente será punido, se não expulso.

Até mesmo estudantes que não defendem ou não promovem absolutamente nada podem ter de pagar um preço caso não concordem com a lavagem cerebral que ocorre nas salas de aula. (...)

Estamos hoje vivenciando todo o esplendor do anti-intelectualismo que se espalhou por metástase ao longo de todo o mundo acadêmico. As universidades se tornaram tão dominadas por uma insistência na inviolabilidade de um determinado pensamento grupal, que qualquer professor "forasteiro", que não compactue com a predominância deste pensamento gregário, não mais pode falar a respeito de um determinado assunto sem antes ter sido devidamente credenciado por seus pares. Uma simples pesquisa sobre o tratamento dispensado a acadêmicos que ousam questionar a santidade do aquecimento global mostra bem esse ponto.

Já houve uma época em que um curso universitário era considerado um meio de introduzir as pessoas a uma ampla gama de assuntos que lhes permitiria pensar e falar inteligentemente sobre várias questões que estivessem afetando suas vidas. O pensamento coletivista — que hoje é predominante no meio universitário — rejeita tal ideia, conferindo o monopólio de determinadas questões apenas àquelas pessoas que são reconhecidas como "especialistas" por seus pares.

Este método educacional que recorre à intimidação e à simples repetição de frases de efeito de cunho emocional evidencia a completa falência do sistema educacional. Se professores universitários — teoricamente a nata intelectual da sociedade, pessoas que por vocação e profissão deveriam ser as mais rígidas seguidoras do rigor intelectual — agem assim, como podemos esperar que o restante da população apresente discernimentos mais profundos? 

Para sobreviver e progredir, seres humanos precisam saber pensar. Porém, estamos cada vez mais terceirizando esta função para acadêmicos, que por sua vez pautam o conteúdo da mídia. Tal terceirização de pensamento ajuda a explicar por que há hoje uma escassez de pensamentos originais e significativos. 

O fracasso do sistema educacional vai muito além da ausência de um aprendizado útil. O real fracasso está naquilo que de fato é ensinado — ou melhor, doutrinado — nas salas de aula, algo evidenciado pelos formandos que as universidades cospem para o mundo, seres incapazes de apresentar qualquer resquício de pensamento original. 

Jamais se preocupe em se aprofundar em qualquer assunto: os "especialistas" cujos empregos se resumem a promover a agenda do establishment político e cultural já têm tudo explicado para você. (Na íntegra).

Volto agora, Paulo Roberto de Almeida 
O que eu transcrevi acima é um artigo de Thomas Sowell, o famoso economista liberal americano, negro, que é contra cotas raciais e por uma politica econômica resolutamente livre da interferência do Estado. 
O texto dele é sobre a situação das universidades americanas, mas se encaixa perfeitamente no caso brasileiro também. 
Para ficar conforme, apenas exclui um trecho, que vai abaixo transcrito e que deve ser inserido na passagem com (...).
Devo o artigo ao sempre atento Orlando Tambosi, como creditado abaixo e cuja introdução faz parte de minha mensagem também, pois subscrevo inteiramente a seus argumentos. 
Paulo Roberto de Almeida 
Sowell: pensar está se tornando obsoleto
Para o economista Thomas Sowell, estamos vivendo "o esplendor do anti-intelectualismo" e da doutrinação ideológica travestida de conhecimento. Em vez de argumentar, as pessoas simplesmente tentam calar o opositor. As universidades estão menos preocupadas com a diversidade de ideias do que com a diversidade racial e sexual, graças ao relativismo imperante nos campi. Há um monopólio moral maniqueísta, particularmente entre a intelligentsia esquerdista que domina as instituições de ensino superior. Sowell fala das universidades norte-americanas, mas sua análise vale também para as universidades brasileiras, que sofrem do mesmo mal. É proibido pensar e, sobretudo, divergir:

Trecho suprimido no ensaio de Thomas Sowell, onde está indicado: (...)
Recentemente, nos EUA, um aluno da Florida Atlantic University que se recusou a pisotear um papel em que estava escrito a palavra "Jesus", a mando de seu professor, foi suspenso pela universidade. Felizmente, a história veio a público e gerou uma onda de protestos fora do mundo acadêmico.

A atitude deste professor pode ser descartada e ignorada como sendo um caso isolado de extremismo, mas o fato é que o establishment universitário saiu solidamente em sua defesa e atacou implacavelmente o estudante. Tal atitude mostra que a podridão moral que impera na academia vai muito mais além do que um simples professor adepto da doutrinação e da lavagem cerebral.

A frase da semana: o inferno para a neutralidade em tempos de crise moral

Confesso que não li, pois não sou afeto à leitura de best-sellers que tripudiam sobre a história, misturando superstições e religião (e sei que isso encanta milhões ao redor do mundo), mas o mais recente livro de Dan Brown, Inferno (assim mesmo, na edição original em inglês), supostamente (ou enganosamente), envolvendo o referencial dantesco em torno das condenações, feito o genial escritor e forjador da língua italiana, com Petrarca, em sua Divina Comédia, traz esta epígrafe, que encontro particularmente apropriada ao Brasil, nos tempos que correm:

The darkest places in hell are reserved for those who maintain their neutrality in times of moral crisis.

Permito-me acrescentar um comentário à frase selecionada, o que raramente faço, pois cada uma delas deveria bastar-se a si mesma, em toda a sua plenitude, se ainda me permitem esta redundância.
Creio que todos nós temos perfeita consciência de que o Brasil vive uma profunda crise moral, que é mais profunda, devastadora e extensa do que a simples crise política, econômica, ou cultural. Ela é o resultado de doze anos de abusos contínuos do poder companheiro, em termos de mentiras, fraudes, enganação, desvio de dinheiro público, populismo, demagogia, fisiologismo, patrimonialismo, prebendalismo e vários outros ismos negativos que encontramos no dicionário da política e da sociologia.
Por isso mesmo, não temos o direito moral de permanecer neutros neste ano eleitoral.
Não se trata de escolher uma candidatura alternativa. Não indico nenhuma.
Se trata apenas de afastar a máfia criminosa que se apossou do Estado no Brasil.
Este é um dever moral de todos os brasileiros conscientes. Simples assim.
Paulo Roberto de Almeida
Washington, 15/05/2014