Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
sábado, 4 de abril de 2015
O Diluvio, ou A Degringolada, ou A Debacle: chame como quiser, o governo acabou
Prata da Casa: mini-resenhas de livros de diplomatas: Boletim ADB 1/2015 - Paulo Roberto de Almeida
Paulo Roberto de Almeida
Corrupcao: a mais gigantesca escala desde Cabral
sexta-feira, 3 de abril de 2015
Petrolao: desde a origem, formatado para o Partido Mafioso, comassinatura do poste
A assinatura de Dilma no Petrolão
quinta-feira, 2 de abril de 2015
Petralhabras, Odebrecht e associados: Follow the Money - Merval Pereira
Como é que eles estariam de fora da boquinha? Agora parece que a coisa vai entortar para o lado deles, e endireitar do nosso. Mas, capitalistas na cadeia já está se tornando uma coisa normal.
Queremos ver é políticos na cadeia...
Companhias de construção são inerentemente corruptas, geneticamente corruptas, forçosamente corruptas, inclusive porque elas precisam negociar com a maior fonte de dinheiro para grandes obras, que é o governo.
E não venham me dizer que elas forçam o governo a se corromper, pois a coisa é perfeitamente combinada, mas se o governo se recusasse a lesar o dinheiro público - que é nosso -- não haveria oportunidade para tais "transações", uma vez que não haveria o que ser lesado, não é mesmo?
Uma coisa porém é certa: isto que está sendo revelado agora é apenas uma pontinha mínima do imenso iceberg de corrupção mantido pelo partido totalitário...
Paulo Roberto de Almeida
A trilha do dinheiro
Merval Pereira
O Globo, 2/04/2015
Começa a ser desvendado o mistério envolvendo a participação da empreiteira Odebrecht no esquema de corrupção que a Operação Lava Jato está desvelando, para espanto não apenas de brasileiros, pelo volume de dinheiro que envolveu e o estrago que fez na maior empresa brasileira, a estatal Petrobras, com reflexos em toda a economia nacional.
A explicação extra-oficial que corria no mercado financeiro é que seria muito difícil pegar a Odebrecht em algum desvio, por que ela utilizava empresas no exterior para fazer o dinheiro sujo chegar aos políticos e executivos da Petrobras envolvidos no esquema, sem se utilizar de doleiros nacionais.
Pois ontem o doleiro Alberto Yousseff revelou que a Odebrecht e a Brasken – empresa petroquímica que a empreiteira tem em parceria com a Petrobras – utilizaram seus serviços “duas ou três vezes”. Ele denunciou a Construtora Internacional Del Sur, offshore usada para remessas ao exterior pelas duas empresas, como a distribuidora da propina no exterior ou, algumas vezes, para internalizar o dinheiro através de Yousseff.
A citação da Construtora Internacional Del Sur foi o suficiente para fechar o cerco em torno da Odebrecht, pois em outra delação premiada anterior, o ex-gerente Pedro Barusco havia revelado que a offshore panamenha foi usada pela Odebrecht para o repasse de valores para uma conta sua no Credit Corp Bank AS, de Genebra.
Entre maio e setembro de 2009, a Odebrecht teria transferido US$ 916.697,00 para a conta da Constructora Internacional del Sur, e de lá para uma offshore de Barusco também do Panamá. Cruzando-se os depósitos e recebimentos das contas de Barusco com as do ex-diretor da Petrobras Renato Duque, seu superior imediato indicado pelo PT, verifica-se que foram feitos dois depósitos pela Constructora Internacional Del Sur S.A., de US$ 290 mil, no dia 17 de novembro, e outro de US$ 584,7 mil, dez dias depois, na conta de Duque em Mônaco, que hoje está bloqueada pela justiça daquele principado.
A conta da Constructora Internacional Del Sur era no Credicorp Bank, em Genebra, o mesmo em que Barusco tinha conta. É provável que este tenha sido o elo final para circunscrever as relações da empreiteira Odebrecht com o escândalo da Petrobras. A partir daí, é previsível que as relações da empreiteira com o PT, e em especial com o ex-presidente Lula, a quem a Odebrecht levou para várias viagens na África como garoto-propaganda da construtora brasileira, façam parte das investigações da Operação Lava-Jato.
A boa relação da Odebrecht com os governos petistas vem desde o início do primeiro mandato de Lula. Em 2003, quando Dilma era a ministra das Minas e Energia, em dificuldades para pagar dívidas em torno de U$ 2 bilhões, a empreiteira teve a concessão especial de ampliação no prazo, de 90 para, em alguns casos, até 210 dias, para o pagamento de insumos da Petrobras pela Brasken, a empresa petroquímica do grupo.
A atuação da Odebrecht em outras áreas, como a construção de hidrelétricas aqui e em países da América Latina e da África também já estão sendo investigadas a partir de delações premiadas de Dalton Avancini, presidente da Camargo Corrêa, e Eduardo Leite, vice-presidente, que admitiram que a empresa se comprometeu a pagar cerca de R$ 20 milhões em propina na usina de Belo Monte.
No acerto do cartel, as empresas do consórcio teriam que contribuir com a mesma quantia para um fundo comum que financiaria a propina. O próprio juiz Sérgio Moro já demonstrou estar surpreso com a amplitude do esquema, para além da Petrobras.
Segundo comentários de Moro, as investigações não chegaram nem mesmo à metade do caminho, pois a cada dia aparecem mais informações que levam a novas descobertas. Tudo percorrendo a trilha do dinheiro.
Boletim Mundorama, n. 91, 2015 - dois artigos PRA, uma resenha de livro
Artigos
- On failed strategy and adjustment: Setbacks in the EU’s use of economic sanctions for deterring the Russian aggression on Eastern Ukraine, by Darlí Magioni Junior
- Alma mater diplomática: a formação acadêmica dos diplomatas brasileiros (1985-2010), por Rogério de Souza Farias & Géssica Carmo
- Desafios da economia brasileira na interdependência global, por Paulo Roberto de Almeida
- A “Doutrina Caiado” e a Política Externa Brasileira: dois pólos inconciliáveis, por Daniel de Oliveira Vasconcelos
- MERCOSUL: entre o sucesso e o fracasso total, por Charles Pennaforte e Ricardo Luigi
- Os desafios da Cooperação Internacional em Saúde para o governo de Dilma Rousseff, por Maíra S. Fedatto
- Hipocrisia e Política Internacional, por Bruno Jubran, Ricardo Leães e Robson Valdez
- A globalização e os recursos naturais: a maldição, a bênção e a isenção, por Elia Elisa Cia Alves e Andrea Quirino Steiner
- A crise na Venezuela e a atuação dos EUA, por Ricardo Luigi
- Um Caleidoscópio Europeu, por Luiz Fernando Horta
- BRICS, Segurança Internacional e a Governança Global: Breve Análise das Declarações de Cúpula, Por Mikelli Marzzini L. A. Ribeiro
- De Lima a Paris – entraves e desafios da reforma de um regime complexo, por Mariana Balau Silveira e Matilde de Souza
- A globalização e desigualdade de renda, por Elia Elisa Cia Alves
- Os diálogos de paz na Colômbia e o direito das vítimas, por Diogo Monteiro Dario
- Os articulistas do Boletim Mundorama
- Petróleo, shale e energias de baixo carbono: inter-relações e incertezas, por Larissa Basso
- Um congresso de Viena para o século 21?, por Paulo Roberto de Almeida
- O MERCOSUL e a construção da cidadania sul-americana, por Ayrton Ribeiro de Souza
- Filhos da democracia: a descarioquização da diplomacia brasileira, por Rogério de Souza Farias e Géssica Carmo
- O Brasil e a Internacionalização de Empresas: visão geral, por Carlos Nogueira da Costa Júnior
- Os benefícios do porto de Rocha para a integração regional na América do Sul, por Ricardo Luigi e Gustavo Borges Ansani
- O bicentenário da elevação do Brasil ao Reino Unido a Portugal e Algarves, por Daniel Rei Coronato
- Exteriores Próximos Sobrepostos: A atual disputa russo-europeia sob a velha ótica geopolítica, por Bruna Bosi Moreira e Graciela De Conti Pagliari
- A policy for the continent—reinterpreting the Monroe Doctrine – an interview wih Carlos Gustavo Poggio Teixeira
Resenhas
- Review of “Reforming the World Monetary System” of Carol M. Connell, by Paulo Roberto de Almeida
- Resenha de “A Europa Alemã: A crise do euro e as novas perspectivas de poder”, de Ulrich Beck, por Jéssica Luciano Gomes
Eventos
- Evento – FUNAG lança revista “Cadernos de Política Exterior”
- Evento – Lançamento do No. 27-28 da Revista Conjuntura Austral – UFRGS
- Evento – UFRGS lança nova edição da Revista Austral
- Evento – XXII Fórum Brasil Europa – Fundação Konrad Adenauer
Chamada de artigos
- Chamada de Artigos – Revista Tempo do Mundo – IPEA
- Chamada de trabalhos – Simpósio Temático “História e Teoria das Relações Internacionais: novos desafios” – ANPUH
De poste em poste, o chefao vai apagando o Brasil - Augusto Nunes
O poste é inseparável do fabricante: Dilma será para Lula o que Pitta foi para Maluf
Augusto Nunes
Como um punguista de antigamente depois de afanada a carteira da vítima, Lula tenta afastar-se de Dilma Rousseff com cara de paisagem, assoviando um sambinha enquanto caminha nem tão depressa que pareça medo nem tão devagar que pareça provocação. A malandragem deu certo no escândalo do mensalão. O chefão caiu fora da cena do crime e a patente de comandante do bando acabou enfeitando os ombros do subchefe José Dirceu.
Mas não se terceiriza o pessoal e intransferível. A segunda-dama Rose Noronha, o prefeito Fernando Haddad e a instalação de uma usina de maracutaias nas catacumbas da Petrobras, por exemplo, são coisa de Lula. Dilma Rousseff também. Lula logo aprenderá que um poste é inseparável de quem o inventou — e um produto de péssima qualidade pode levar seu fabricante à falência política. Dilma Rousseff será para Lula o que Celso Pitta foi para Paulo Maluf.
Ambos deslumbrados com os altos índices de aprovação reiterados pelas usinas de pesquisas, o prefeito Maluf em 1995 e o presidente Lula em 2007 resolveram mostrar que conseguiriam transformar qualquer nulidade em ocupante provisório do trono. Para que os escolhidos cumprissem sem resmungos a missão de guardar o lugar até que o chefe voltasse, constatou um post de 2010, o marajá de São Paulo e o reizinho do Brasil decidiram-se, sem consultar ninguém, por figuras sem autonomia de voo nem luz própria.
O primeiro pinçou na Secretaria de Finanças do município um negro economista. O segundo pinçou na Casa Civil uma mulher economista. Ao apresentar o sucessor, o prefeito repetiu que foi Maluf quem fez São Paulo.Mas quem arranjou o dinheiro, revelou, foi aquele gênio da raça chamado Celso Pitta. Ao apresentar a sucessora, o presidente reterou que foi Lula o parteiro do Brasil Maravilha. Mas quem amamentou o colosso, ressalvou, foi aquela sumidade político-administrativa por ele promovida a Mãe do PAC.
Obediente a Maluf e monitorado pelo marqueteiro Duda Mendonça, Pitta atravessou a campanha driblando debates e entrevistas, declamando obviedades e louvando o criador de meia em meia hora. Como herdaria uma cidade sem problemas, sua missão seria torná-la mais que perfeita com espantos de matar de inveja a rainha da Inglaterra. Grávido de orgulho, o padrinho ordenou aos eleitores que nunca mais votassem em Paulo Maluf se o afilhado fracassasse.
Obediente a Lula e tutelada pelo marqueteiro João Santana, Dilma percorreu o atallho para o Planalto desconversando em debates e entrevistas, gaguejando platitudes e bajulando o criador a cada 15 minutos. Como lhe cairia no colo um país pronto, caberia à herdeira tocar em frente o pouco que faltava para torná-lo uma espécie de Noruega com praia, mulher bonita e carnaval. Grávido de confiança, o padrinho comunicou ao eleitorado que ele e ela eram a mesma coisa. Votar em Dilma seria a mesma coisa que votar no maior dos governantes desde o Descobrimento.
São Paulo demorou três anos para entender que estava nas mãos do pior prefeito de todos os tempos. Descoberta a tapeação, milhões de iludidos escorraçaram Pitta do emprego e atenderam à vontade do seu inventor: nunca mais Paulo Maluf foi eleito para qualquer cargo executivo. O Brasil demorou quatro anos para compreender que, ao conferir um segundo mandato a Dilma Rousseff, ratificara a mais desastrosa opção presidencial de todos os tempos.
Pena que as multidões não tenham acordado algumas semanas mais cedo. Mas enfim despertaram — e despertaram de vez, berram as manifestações de rua e o sumiço do único “líder de massas” do mundo que só discursa para plateias amestradas. Antes do fiasco de Alexandre Padilha nas urnas de outubro, Lula caprichou na ironia presunçosa: “De poste em poste estou iluminando o Brasil”, repetia.
O terceiro poste afundou a muitas léguas do Palácio dos Bandeirantes. O segundo, Fernando Haddad, pedala no mundaréu de ciclovias para fugir do naufrágio inevitável. O poste inaugural vai sendo tragada pelo mar de corrupção e incompetência. Dilma Rousseff debate-se furiosamente milímetros acima da superfície. Lula quer que afunde sozinha. Mas não escapará do abraço de afogado.
Resenha de livro: O Homem que Amava os Cachorros, de Leonardo Padura - Olavo de Carvalho
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 31/03/2015
A Editora Boitempo publicou em tradução o romance de Leonardo Padura, “El Hombre que Amaba a los Perros”, com o título de “O Homem que Amava os Cachorros”. Eu teria preferido “Cães”, porque, ao lidar com uma língua irmã da sua própria, o tradutor deve ter o bom gosto e bom senso de escolher, seja palavras de igual raiz com significado idêntico nas duas línguas, seja palavras que inexistem no idioma original, jamais palavras idênticas com significado diverso. “Cachorro”, em espanhol, é “filhote”. Talvez o tradutor achasse que “cão” é termo do vocabulário “burguês”.
Mas o problema maior não é esse. Dedicada eminentemente à promoção de idéias e autores comunistas, a equipe da Boitempo mostrou que é capaz de traduzir e divulgar um dos grandes romances do século, ganhando algum dinheiro com ele, sem se deixar afetar pelo seu conteúdo no mais mínimo que seja. É um caso de insensibilidade literária que raia a psicastenia. Pois raramente, no mundo, o comunismo, não nos detalhes do imensurável horror físico que produziu, mas nas profundezas da deformidade psicopática que o inspira, foi descrito em termos tão cruamente realistas como nesse livro: é uma imagem do inferno ou, para usar as palavras do autor, algo que se parece “antes a um castigo divino do que a uma obra de homens”.
Com base em farta documentação, só complementando-a com a especulação imaginativa nos pontos onde isso é indispensável, o livro conta a história dos últimos anos de vida de Leon Trotski e do seu assassino, Ramon Mercader, paralelamente à do narrador, um escritor cubano reduzido à impotência criadora pelas imposições da burocracia castrista empenhada em tudo rebaixar e mediocrizar. Os três são homens que apostaram tudo no socialismo e aos quais só resta, no fim da história, a consciência amarga da “vida inteira que poderia ter sido e que não foi”.
Embora a maior parte do enredo se passe no tempo de Stalin, o romancista não apela ao expediente costumeiro de trocar “comunismo” por “stalinismo”, usado para branquear a imagem do regime nas épocas subseqüentes, mas mostra com muita clareza que, de um modo ou de outro, a mistura de violência assassina e mendacidade alucinante que caracterizou o stalinismo se conservou em ação em todos os países comunistas muitas décadas depois da morte do ditador. Padura, que nasceu e ainda mora em Cuba, publicando seus livros no México, viveu tudo isso de perto e colocou no personagem do narrador de “El Hombre que Amaba a los Perros” muito da sua experiência pessoal.
Hoje os brasileiros se espantam ante um governo que lhes rouba bilhões de reais enquanto, com a maior cara dura, continua posando de paladino da moralidade, e, rejeitado por noventa por cento da população, ainda se faz de porta-voz do “povo” contra a “elite”. Se conhecessem algo da história do comunismo, como a trama urdida por Stalin para dar cabo de Trotski, entenderiam que a mendacidade psicopática, em proporções tão vastas que raiam o diabolismo puro e simples, não é uma invenção do PT: é inerente à mentalidade comunista em todas as épocas e lugares.
Os capítulos finais deste livro mostram o próprio assassino de Trotski, Ramon Mercader, consciente de haver jogado sua vida fora numa farsa demoníaca, concebida para fazer de Trotski, então um exilado sem dinheiro e quase sem seguidores, chutado de cá para lá por todos os governos do mundo, o todo-poderoso líder de uma conspiração global para derrubar o governo soviético com a ajuda simultânea – porca miséria! -- dos nazistas e dos americanos. Durante décadas, Mercader foi adestrado para odiar Trotski com todas as suas forças, só para descobrir, depois, que na realidade nada sabia contra ele além de balelas e invencionices absurdas e antinaturais, injetadas em sua cabeça com violência comparável à do golpe de picareta no crânio com que ele deu fim à existência da sua vítima.
Após ter ido parar na cadeia num dos muitos expurgos que eram rotina na política soviética, o próprio agente secreto que treinou e disciplinou a mão assassina de Mercader tem, na velhice, a mesma consciência de ter servido apenas aos caprichos insensatos de um ditador enlouquecido pelo medo, que não se acalmaria antes de haver eliminado da face da Terra todos os seus inimigos reais, hipotéticos, virtuais ou totalmente imaginários.
Especialmente significativa é uma personagem secundária, a mãe de Mercader, Caridad. Mulher frígida que o marido burguês corrompe para ver se desperta nela o desejo sexual, ela se entrega então a uma vida devassa e ao consumo de drogas, chegando a uma tentativa de suicídio. Só emerge da depressão quando encontra uma saída existencial no comunismo e reestrutura sua personalidade com base nos valores da militância, tornando-se uma combatente fanática, odiando o marido e o capitalismo como se fossem uma só entidade e contribuindo decisivamente para fazer do filho um assassino a soldo de Stalin. Eu não poderia ter encontrado melhor ilustração para o conceito do outsider como militante, que descrevi em artigo recente neste mesmo jornal (http://www.dcomercio.com.br/categoria/opiniao/os_desajustados).
No fim, o desencanto de Caridad é o mesmo de Ramón e de seu instrutor, com a diferença de que ela não tem nem mesmo a força deles para meditar sobre a insensatez do seu passado.
O vazio, a secura, a tristeza vã e desesperançada que são tudo o que resta a esses homens quando compreendem a pantomima tola e sangrenta da qual se fizeram servidores e agentes, são a mensagem derradeira legada pelo século XX à presente geração, aí incluídos os editores brasileiros incapazes de ouvi-la.
Não é preciso dizer que perseguições em massa, cruéis e insensatas, no mais puro modelo stalinista, aconteceram também na China comunista, em Cuba, no Vietnã, no Camboja, em todos os países-satélites da URSS e por toda parte onde a opinião comunista tenha saído do subsolo psicopático que lhe é natural e conquistado um lugar de respeito na sociedade. O modelo universalizou-se. A única coisa que varia é a dosagem respectiva da violência e da mendacidade que a fórmula da loucura comunista assume em distintos lugares do mundo. Nos países onde não tem força bastante para tomar o poder pelas armas, o comunismo apela à estratégia gramsciana do engodo geral e, por isso mesmo, como aconteceu no Brasil, rouba mais do que mata, pelo menos até que o produto do roubo, crescendo até dimensões oceânicas, lhe assegure a posse dos meios de matar.
Diplomacia brasileira: bolivarianizando-se? - Veja
quarta-feira, 1 de abril de 2015
Africanos "aceitaram" perder a liberdade? - Paulo Roberto de Almeida
A partilha da Africa: excerto de livro - Delanceyplace
"In turn, Leopold's ambition to acquire what he called 'a slice of this magnifique gateau africain' was largely responsible for igniting the 'scramble' for African territory among European powers at the end of the nineteenth century. Hitherto, European activity in Africa had been confined mainly to small, isolated enclaves on the coast used for trading purposes. Only along the Mediterranean coast of Algeria and at the foot of southern Africa had European settlement taken root. But now Africa became the target of fierce European competition.
"In the space of twenty years, mainly in the hope of gaining economic benefit and for reasons of national prestige, European powers claimed possession of virtually the entire continent. Europe's occupation precipitated wars of resistance in almost every part of the continent. Scores of African rulers who opposed colonial rule died in battle or were executed or sent into exile after defeat. In the concluding act of partition, Britain, at the height of its imperial power, provoked a war with two Boer republics in southern Africa, determined to get its hands on the richest goldfield ever discovered, leaving a legacy of bitterness and hatred among Afrikaners that lasted for generations.
"By the end of the scramble, European powers had merged some 10,000 African polities into just forty colonies. The new territories were almost all artificial entities, with boundaries that paid scant attention to the myriad of monarchies, chiefdoms and other societies on the ground. Most encompassed scores of diverse groups that shared no common history, culture, language or religion. Some were formed across the great divide between the desert regions of the Sahara and the belt of tropical forests to the south, throwing together Muslim and non-Muslim peoples in latent hostility. But all endured to form the basis of the modern states of Africa. ...
"Colonial rule was expected to last for hundreds of years, but turned out to be only an interlude in Africa's history, lasting for little more than seventy years. Facing a rising tide of anti-colonial protest and insurrection, European governments handed over their African territories to independence movements. The colonial legacy included a framework of schools, medical services and transport infrastructure. Western education and literacy transformed African societies in tropical Africa. But only a few islands of modern economic development emerged, most of them confined to coastal areas or to mining enterprises in areas such as Katanga and the Zambian copper belt. Much of the interior remained undeveloped, remote, cut off from contact with the modern world. Moreover, while European governments departed, European companies retained their hold over business empires built up over half a century. Almost all modern manufacturing, banking, import-export trade, shipping, mining, plantations and timber enterprises remained largely in the hands of foreign corporations. As the end of colonial rule approached, Europeans followed the old adage: 'Give them parliament and keep the banks.' "