O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Meus livros podem ser vistos nas páginas da Amazon. Outras opiniões rápidas podem ser encontradas no Facebook ou no Threads. Grande parte de meus ensaios e artigos, inclusive livros inteiros, estão disponíveis em Academia.edu: https://unb.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida

Site pessoal: www.pralmeida.net.

domingo, 29 de setembro de 2024

The WTO Review of China’s Trade Policy - Scott Waldron and Zhang Jing (Australian Institute of International Affairs)

 The WTO Review of China’s Trade Policy

 By Dr Scott Waldron and Dr Zhang Jing

Australian Institute of International Affairs

https://www.internationalaffairs.org.au/australianoutlook/the-wto-review-of-chinas-trade-policy-and-what-it-means-for-australia-2/

Mid-July 2024 saw two major events on China’s economic and trade sectors, the first with the Third Party Plenum (TPP) in Beijing, and the second with the World Trade Organisation’s (WTO) ninth biannual review of China’s trade policy. Countries around the world, including Australia, are deeply interested in how China’s economic trajectory will forge international trade relations into the future.

The 2024 WTO trade policy review of China

The WTO conducts periodic reviews of member countries to monitor their trade policies. Since joining in 2001, the WTO has conducted nine reviews of China, the most recent in July 17-19, 2024. The review consists of a 170-page report by the WTO, a report by China, and remarks from the Chairperson based on 72 interventions and 1,500 questions from member states. Statements from the US, the EU, and the UK are publicly available.

All reports highlight the burgeoning role of China in the global economy since the last review in 2021 and China’s active participation in the multilateral trading system and trade agreements. On many other issues, however, stark differences arise between the positions of China and other parties.

Problems of China’s domestic economic imbalance—the topic of Part 1 of this series—permeate the Secretariat’s report. It notes China’s high savings rate, that consumption could be boosted by increased social services, and the halt in the economic transition from industry to the services sector. China’s report only briefly mentions increased consumption in 2023 (post-COVID) and central-local government tax reform.

The Secretariat notes areas where China has liberalised the economy, which is the dominant theme of China’s report, while the Chair encourages China to address economic challenges through further liberalisation. The Secretariat notes the increased numbers of State-Owned Enterprises (SOEs) in key industries that can act as instruments of government policy, while China outlines measures to reform SOEs and support the private sector.

China’s industry policy is another prominent theme of the review. The WTO Secretariat notes a lack of transparency in China’s declaration of government support for industry, while the Chair noted concerns about industrial over-capacity. China argues its industry support is market-conforming.

A review of imports and exports

The review is underpinned by the trends and structures in China’s trade flows, both exports and imports. These are disaggregated in Figure 1 by a two-way classification of goods. It shows a massive long-term increase in the net balance (exports minus imports) of manufactured products, which account for 95 percent of China’s total exports. The WTO Secretariat notes China’s growing surplus in merchandise trade, and higher growth in intermediate goods, reflecting deeper value chain integration.

  China’s trade balance for manufactures and primary products, 1992-23.

Source: UNComtrade, categorised by two-digit HS codes.

China’s imports are dominated by primary products (minerals, fuels, agricultural products). While total import values for all products have plateaued over the review period, China’s report notes that it has been the world’s second largest importer for 15 years in a row.

The balance of all products is shown in the green line, in the form of escalating net trade surpluses from the beginning of the 2000s. There is consensus that the magnitude of China’s trade and current account surpluses are unsustainable and undesirable. Explanations for the persistent surpluses in the literature vary from the role of the State in the economy to domestic imbalances, although explanations based on the savings-investment gap have long been questioned in China.

The discontent of importers from China

In submissions to the WTO review, most were concerned that China’s excessive exports of manufactured goods cause de-industrialisation. For example, the US writes that “The PRC has doubled down on its state-led, non-market approach to the economy, to the detriment of workers and businesses in the United States and other countries.”

The US has challenged China’s imports through complaints to the WTO, Section 301 tariffs on China’s imports in the Trump-Pence administration that escalated into a “trade war,” and a series of industry policies and export controls under the Biden-Harris administration. US barriers to the import of Chinese products such as steel and electric vehicles are shadowed by barriers from other developed countries, most recently the EU and Canada.

While statements to the WTO review have not been made public, there has also been an escalation in anti-dumping and anti-subsidy cases against China from developing countries. Cases come from India, South Africa, and a range of Latin American and Southeast Asian countries for products that include steel, metal sheets, chemicals, tyres, towers for wind turbines, and textiles. Adverse effects on industrialisation in developing countries threaten gains made in global development and China’s relations with the global South.

The discontents of exporters to China

A different set of issues arise in relation to China’s imports. Both the WTO Secretariat and China’s report note minor changes or improvements in import policies (tariffs, customs clearance rates and VAT). The Chair, however, raises concerns from members about import controls through Sanitary and Phyto-Sanitary measures, technical regulations that don’t align with international standards, and the role of State-Trading Enterprises in the import of key agricultural and mineral imports. The EU points out that these and other measures are used to pursue the objectives of import substitution, self-sufficiency, and economic coercion.

On a broader level, China’s representatives refute claims of over-capacity and economic coercion, and claim that China fulfils its WTO commitments. The Third Plenum Resolution claims that “external efforts to suppress and contain China are continuously escalating,” which, in a self-reinforcing loop, requires “systems for enhancing the resilience and security of industrial and supply chains.” 

 

 

Política externa de Lula rebaixa o Brasil ao papel de mordomo-chefe da ditadura da Venezuela - J.R. Guzzo O Estado de S. Paulo

 

Opinião

Política externa de Lula rebaixa o Brasil ao papel de mordomo-chefe da ditadura da Venezuela

Tudo o que o Itamaraty atual conseguiu foi destruir qualquer possibilidade de fazer com que o Brasil seja levado a sério

Por J.R. Guzzo

O Estado de S. Paulo, 28/09/2024

Quase tudo na vida tem dois lados, mas o problema é esse “quase”. Há coisas que só tem um lado, e o lado que existe é muito ruim – ou têm dois, mas um é pior que o outro. O melhor exemplo ora disponível desta realidade é aquilo que o governo Lula chama de “política externa”. Há quase dois anos, desde que começou a sua terceira encarnação como presidente da República, Lula já gastou mais de R$ 3 bilhões em 23 viagens ao redor do mundo atrás da fantasia de tornar-se um guia espiritual do mundo subdesenvolvido. Tudo o que conseguiu de lá para cá foi destruir qualquer possibilidade de fazer com que o Brasil seja levado a sério.

É certo que o governo Lula, nas suas realizações internas, é um deserto do Saara que se estende a perder de vista. Então: já que não consegue fazer nada aqui dentro, não daria para fingir que está fazendo alguma coisa lá fora? Se foi essa a intenção, é evidente que não deu certo. O último prego no caixão da nossa “política externa altiva”, como diz o Itamaraty, é o rebaixamento do Brasil ao papel de mordomo-chefe da ditadura da Venezuela.

É uma coisa triste. Quanto mais Lula tenta se fazer de “interlocutor” entre “as partes”, mais ele se afunda como cúmplice público de um dos mais grosseiros roubos de eleição jamais vistos no seu Terceiro Mundo. Não há “duas partes” legítimas na Venezuela; não há, portanto, nada para negociar. Há um crime cometido por seu parceiro e ditador Nicolás Maduro, de um lado, e os eleitores assaltados por ele, de outro. Todo o mundo democrático diz isso, mas Lula acha que a esperteza é fazer de conta que está buscando uma “solução negociada”, enquanto fecha com o ditador por baixo do pano.

Acaba sendo apenas mais uma mentira de baixa qualidade. Lula diz que não condena o roubo porque quer “manter aberto” seu canal de “interlocução” com Maduro. Que canal? Que interlocução? O ditador diz que o outro lado é um bando de “terroristas” que se recusa a aceitar “o resultado das eleições”. Sua milícia já assassinou pelo menos 25 opositores que faziam protestos de rua. Há quase 2.000 presos políticos no país. Maduro diz que vai construir campos de concentração, e por aí se vai. Como o presidente do Brasil pode querer que a oposição “negocie”?

Rússia, Cuba, Irã e as ditaduras de sempre não perderam tempo, nem encheram a paciência de ninguém, com essas conversas sobre “diálogo”. Já foram logo cumprimentando Maduro por sua linda vitória, e vida que segue. Lula quis enganar todo mundo, e ficou com a brocha na mão: quem gosta de ditadura acha que ele vacilou feio, quem gosta de democracia convenceu-se mais uma vez que ele é um hipócrita.

 


 

 

Liderança global de Lula entrou em declínio - Opinião, Editorial O Globo

 Opinião / Editorial  O Globo, 29/09/2024

Liderança global de Lula entrou em declínio

Passagem por Nova York mostra que passou o tempo em que o presidente encantava as plateias

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez o possível na semana passada para se projetar como liderança global em Nova York. Discursou na abertura da Assembleia Geral da ONU, participou de reunião do G20, disparou críticas contra seus desafetos Benjamin Netanyahu e Volodymyr Zelensky, manteve encontros bilaterais com Pedro Sánchez, Cyril Ramaphosa e Gustavo Petro, defendeu reformas na governança global e foi conversar até com representantes de agências de risco, na tentativa de melhorar a nota do Brasil. 

Não dá para negar seus esforços. Mas Lula está longe de alcançar os resultados que gostaria. A verdade é que, em seu terceiro mandato, ele é conhecido no exterior, mas não é mais o líder popular que já foi um dia. Um termômetro disso é uma pesquisa recente do Pew Research Center, com dados recolhidos entre janeiro e abril em cinco países da América Latina: Argentina, Chile, Colômbia, México e Peru. Os resultados mostram que é baixa a confiança latino-americana em Lula fazer o que é certo em termos de política externa. Nem no próprio continente ele consegue atrair a simpatia da maioria. 

Os que mais confiam em Lula são os argentinos (das respostas, 40% foram positivas e 49% negativas). Os mais críticos são os chilenos (62% de respostas negativas), seguidos de mexicanos (60%), peruanos (55%) e colombianos (53%). As respostas são coerentes com a inclinação recente à direita na América do Sul, marcada pela ascensão do argentino Javier Milei à Casa Rosada. Em relação ao Brasil, em contraste, a percepção é positiva. Os argentinos têm a visão mais favorável do país (59% de respostas positivas), seguidos de peruanos (58%) e colombianos (55%) A pesquisa também foi feita nos Estados Unidos. Os americanos são mais reticentes com relação ao Brasil que os latino-americanos: 47% têm imagem favorável e 46% desfavorável. 

Sobre as pretensões de liderança global brasileira, os americanos são céticos: a maioria dos entrevistados (64%) acha que a influência do país no mundo se manteve a mesma nos últimos anos, e 16% acham que ela enfraqueceu. O Brasil está mais fraco no cenário internacional para 33% dos chilenos, 20% dos argentinos, 25% dos colombianos e 23% dos peruanos. 

É provável que haja nas respostas um reflexo dos quatro anos do governo Jair Bolsonaro, cuja política externa transformou o Brasil em “pária internacional”. Mas são evidentes também os efeitos das trapalhadas diplomáticas de Lula na reação às guerras na Ucrânia e no Oriente Médio. O sonho de ser um líder global, mais uma vez manifestado na ONU, leva Lula a se lançar em missões impossíveis diante da projeção do Brasil no mundo, com evidentes limitações na sua influência externa. 

Tampouco na América Latina Lula tem obtido resultados dignos de nota. Sua deferência inexplicável à ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela fez fracassar a tentativa de mediar uma saída para a crise desencadeada pela fraude nas eleições de julho. Até a Argentina de Milei, importante parceiro comercial do Brasil e segunda economia do Mercosul, ele tem procurado manter à distância, apesar da integração entre as duas economias. A passagem de Lula por Nova York deixou evidente aquilo que a pesquisa já mostrava: passou o tempo em que Barack Obama chamava Lula de “o cara” e ele despertava a simpatia de todos como liderança global.


A indignação seletiva da diplomacia brasileira Lourival Sant'Anna (Estadão)

 A indignação seletiva da diplomacia brasileira

A subordinação ideológica do Itamaraty
Lourival Sant'Anna
O Estado de S. Paulo
29 de setembro de 2024

A retirada dos diplomatas brasileiros antes do discurso do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, na Assembleia-Geral da ONU, foi uma amostra de subordinação do Itamaraty à ideologia que emana do Palácio do Planalto e aos ressentimentos antiocidentais que dominam a política externa brasileira.

Os brasileiros imitaram o gesto de colegas do Irã, Turquia, Chile, Colômbia, Botsuana, Djibuti e Guiné-Bissau, entre outros. Numa flagrante indignação seletiva, eles não tiveram a mesma iniciativa perante os discursos ultrajantes e delirantes do embaixador russo, Vasili Nebenzia, que usa a tribuna da ONU desde 2022 para repetir as distorções da história da Ucrânia e as paranoias do ditador Vladimir Putin.

Netanyahu proferiu um discurso abusivo e arrogante, repleto de ameaças. Mas, diferentemente de Putin, tratado com mal disfarçada complacência pelo presidente Lula e seu assessor especial Celso Amorim, Netanyahu defende seu país da ameaça real, não imaginária, de inimigos a seu redor.

A indignação seletiva é apenas o pano de fundo da incoerência que torna ainda mais espantoso o gesto dos diplomatas. A retirada do auditório da ONU assinala a ruptura das tradições da diplomacia brasileira, baseadas na sobriedade, profissionalismo e coerência.

O Brasil é uma potência regional média. Não tem o poderio militar, econômico, político e tecnológico para impor seu desejo ao mundo. Países com esse perfil compensam essas fragilidades com o chamado poder brando, construído com a fidelidade a valores universais e, acima de tudo, às leis e tratados internacionais.

TRADIÇÃO. Não é por acaso que corpo diplomático e Forças Armadas são dois estamentos, o que significa um status distinto do restante do funcionalismo público. Essas duas categorias devem estar ainda mais blindadas de influências políticas, porque representam interesses nacionais permanentes, que não podem ser contaminados por interesses eleitoreiros e afinidades ideológicas dos governantes de turno.

A subordinação da política externa a afinidades ideológicas e pessoais de um governante acarreta prejuízos à credibilidade de um país e aos interesses nacionais. Esses danos se amplificam quando, para esconder suas incoerências, o governante distorce os fatos e fere a dignidade de outros povos, como tem feito sistematicamente o presidente Lula. Desde que ele assumiu pela primeira vez a presidência, há duas décadas, a longa tradição da diplomacia brasileira vem desmoronando. @


E COLUNISTA DO ESTADÃO E ANALISTA DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS


PROTEÇÃO DE CIVIS - Carlos Alberto dos Santos Cruz

PROTEÇÃO DE CIVIS

Carlos Alberto dos Santos Cruz

Ex-Cmt tropas da ONU no Haiti e na República Democrática do Congo

Canal Mynews

https://canalmynews.com.br/carlos-alberto-dos-santos-cruz/e-fundamental-que-o-principio-da-protecao-de-civis-seja-seguido-nos-conflitos/

Sem longas explicações. É fundamental que o princípio da PROTEÇÃO DE CIVIS seja seguido nos conflitos. Ou isso é feito, ou  aceitamos as barbáries que aconteceram ao longo da história, as que assistimos ao longo de nossas vidas, as que ocorrem atualmente e as que ocorrerão no futuro.

Se não respeitarmos o princípio da proteção de civis, validamos os casos  de assassinato de inocentes, como os campos de concentração, câmaras de gás, paredões de fuzilamento, tribunais revolucionários, bombardeios de civis com produtos químicos, assassinatos chamados de “justiçamentos”, matança de civis em aldeias, genocídios, sequestros e estupros usados como armas de guerra e outras tantas barbaridades.  Isso, considerando só o que aflora com mais visibilidade na mídia. Existe a barbárie que acontece sem cobertura de mídia, aonde a matança de inocentes não se conta por dezenas, centenas ou milhares, mas, sim, em milhões. No coração da África, por exemplo, a escala de massacre de civis é marcada em milhões nos últimos 30 anos. Milhões de pessoas inocentes – homens, mulheres e crianças – são mortos em diversos conflitos, com armas de fogo e com o uso de machados e facões, decapitados, esquartejados e com uma infinidade de outras crueldades. Na origem, parte da herança da violência de cerca de 350 anos de escravidão e  80 anos de colonialismo. Existem alguns exemplos mais atuais, como as barbaridades cometidas pelo Estado Islâmico, Boko Haram, ADF, e um imenso número de outros grupos terroristas menores. E ainda tem os fatos mostrados ao vivo e a cores nos noticiários do momento na Europa e no Oriente Médio.

Qual a diferença da barbárie de matança de civis com facões e machados, por ordem de líderes criminosos, para aquela que é feita com equipamentos mais sofisticados, com tecnologia, com equipamentos militares básicos ou de última geração, também ordenada por líderes políticos com toda a estrutura de planejamento e de assessoria política e militar? 

As Forças Armadas e alguns grupos armados existem para fazer a guerra, se preciso for, para defender seus países, sociedades e interesses. Os  combatentes precisam ser excelentes guerreiros. Eles são pagos para isso e a sociedade espera deles a proteção e a vitória. Os combatentes, aí incluídos os militares de FA institucionais e os civis em estruturas militarizadas, são profissionais da guerra e não instrumento para decisões e ações absurdas, fora de escopo legal e moral. Qualquer autoridade com poder de fazer e conduzir a guerra tem que ter equilíbrio, fazer jus às suas prerrogativas, e também ser  responsabilizada por suas ações. Um líder com poder do uso da força não pode tomar decisões comparáveis àquelas tomadas por assassinos, terroristas, criminosos de grupos rebeldes armados que não têm qualquer consideração pelo próximo. 

Um governante, um chefe, tem que ter coragem para dar uma ordem e também coragem para determinar seu cancelamento se houver risco para os civis (todos!) na área de operações. O conflito empurra para o uso da violência sem limites, mas os comandantes, os chefes, os governantes têm a obrigação e a responsabilidade de  manter as ações  e as pessoas  dentro dos limites legais. 

Autoridades constituídas, estados, comandantes, chefes e líderes têm compromissos assumidos em tratados internacionais e leis dentro de seus próprios países. Essas entidades e pessoas não têm a liberdade criminosa que possuem alguns grupos rebeldes e terroristas que banalizam a violência. 

A impunidade e a falta de responsabilização levam à perda de referências e às barbaridades que aconteceram e acontecem contra as populações civis.

O combatente tem que ser forte, corajoso, determinado, ter iniciativa, agilidade e habilidade em combate, inclusive para sobreviver ao conflito. Todos os combatentes são formados para ter esse comportamento. Mas também precisam saber quando apertar e quando não apertar o gatilho. Combater com determinação e motivação, não é combater com ódio. Ódio, poder pessoal e dinheiro não podem ser motivação de combate. Os militares e os governantes não podem perder a noção do que é certo ou errado, do que é dignidade humana, do que são pessoas inocentes, de quem é inimigo e quem não é.

O profissionalismo e o equilíbrio movem os bons combatentes e as autoridades decentes. O ódio, a vingança e a falta de escrúpulos movem os criminosos. 

A coragem é para combater e não para trucidar inocentes sem proteção.

São indiscutíveis os direitos de defesa e de antecipação às agressões. Mas existem maneiras de exercer esses direitos respeitando a proteção de civis. Sempre haverá homens, mulheres e crianças nas áreas de conflito; sempre alguns combatentes inimigos estarão misturados na população, seja em ambiente de conflito urbano ou rural. Alguns danos colaterais poderão existir, mas também existem muitas maneiras de preservar os inocentes e mitigar os riscos de efeitos paralelos. 

Os ambientes de combate são os mais variados: áreas densamente povoadas, áreas rurais,  vegetação (selva, floresta), ambiente marítimo e ribeirinho, deserto, espaço aéreo, regiões montanhosas etc. Os componentes fundamentais para proteger os civis são a consciência dos governantes e dos chefes e a capacidade combativa de todos os militares. Uma especial atenção ao componente terrestre - Esse é que vai colocar os pés no terreno, entrar na selva, nos túneis, combater na área urbana, no combate casa-a-casa, separar quem é combatente e quem não é; vai trabalhar num conjunto harmônico com a inteligência e a contrainteligências. É o componente terrestre que vai olhar nos olhos do inimigo ... e também nos olhos dos inocentes.  O combatente bem treinado e capacitado vai fazer a guerra sem crimes, vão fazer a guerra passo a passo, lance por lance, sem a destruição das cidades junto com seus habitantes; sem dizimar as populações das vilas, não irão queimar as aldeias nem cometer absurdos contra os civis. 

Tropas bem treinadas e especializadas fazem o vencedor respeitado. A matança indiscriminada, com qualquer desculpa que seja, cria ódio com consequências futuras muito piores do que os problemas atuais.

Os governantes e chefes precisam liderar em combate considerando o respeito à população, aos não-combatentes homens, mulheres e crianças.

O combate, a guerra, não podem ser atividades criminosas. A proteção de civis precisa ser uma das condicionantes  nas decisões políticas, no planejamento militar e na execução das operações.

 Atacar homens, mulheres e crianças inocentes não é combate; é massacre, é crime, é covardia.

Carlos Alberto dos Santos Cruz

Ex-Cmt tropas da ONU no Haiti e na República Democrática do Congo

Reunião Brasil-China sobre paz na Ucrânia termina com 13 aliados e quatro dissensões - Marianna Holand e Ricardo Della Coletta (FSP)

Reunião Brasil-China sobre paz na Ucrânia termina com 13 aliados e quatro dissensões

Folha de S. Paulo | Mundo
28 de setembro de 2024

Proposta bilateral rejeitada por Kiev e Washington foi tema de encontro de 17 países às margens da Assembleia-Geral da ONU

Marianna Holand e Ricardo Della Coletta

NOVA YORK Além de Brasil e China, 15 países participaram nesta sexta (26) da reunião para discutir um processo de paz na Ucrânia. Ao final do encontro, porém, quatro deles não assinaram o documento negociado no encontro.

A iniciativa é rejeitada pelo presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, e considerada por Estados Unidos e aliados no Ocidente como favorável à Rússia.

Etiópia, Tailândia, Emirados Árabes Unidos e Vietnã não apoiaram a declaração final, o que indica divergência em ao menos algum ponto da iniciativa. O México chegou a se dissociar da proposta na tarde desta sexta, mas voltou a apoiá-la após horas de negociação.

Além desses países, estiveram presentes Argélia, Bolívia, Colômbia, Egito, Indonésia, Cazaquistão, Quênia, África do Sul, Turquia e Zâmbia. Três países europeus participaram como observadores: França, Suíça e Hungria.

A redação negociada após a reunião afirma que o conflito causou repercussões que afetaram muitos países, inclusive os do Sul Global, termo não oficial usado por esse grupo para se referir a nações em desenvolvimento.

Também defende princípios como o respeito à integridade territorial (um aceno à Ucrânia), e o reconhecimento de preocupações legítimas dos estados (aceno à Rússia, que diz estar ameaçada pela expansão da Otan, a aliança militar do Ocidente).

O comunicado divulgado após o encontro defende pontos como uma diminuição dos conflitos e a não expansão dos campos de batalha. "Pedimos a abstenção do uso ou da ameaça de uso de armas de destruição em massa, especialmente armas nucleares, bem como armas químicas e biológicas. Todos os esforços devem ser envidados para prevenir a proliferação nuclear e evitar uma guerra nuclear".

Horas depois do encontro, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, recebe Zelenski e diz

Trump recebe Zelenski e diz querer 'acordo justo para todos' para encerrar guerra

Ao lado de Volodimir Zelenski, Donald Trump afirmou na manhã desta sexta-feira (27) que seu objetivo, caso eleito, é alcançar "um acordo justo para todos" para encerrar a Guerra da Ucrânia. O empresário novamente não respondeu se, para isso, apoiaria cessão de território ucraniano à Rússia.

Zelenski tampouco entrou em detalhes sobre o que esse eventual acordo seria, limitando-se a dizer que é preciso fazer de tudo para pressionar Vladimir Putin.

Os dois conversaram por cerca de uma hora em Nova York, durante passagem do ucraniano para a Assembleia-Geral da ONU.

Antony Blinken disse que qualquer proposta de paz precisa respeitar a Carta da ONU, numa crítica à proposta sino-brasileira. "Uma paz em que o agressor leva tudo aquilo que busca e em que a vítima não tem os seus direitos respeitados não é a receita para uma paz duradoura. Certamente não é justa", afirmou.

Brasil e China organizaram a reunião para divulgar a proposta conjunta de um plano de paz para a guerra entre Ucrânia e Rússia. O documento foi anunciado em maio, durante uma visita do assessor internacional de Lula, Celso Amorim, a Pequim. A proposta foi assinada por ele e por Wang Yi, ministro das Relações Exteriores da China.

Nesta sexta-feira (27), Amorim minimizou a ausência de Rússia e Ucrânia da reunião. De acordo com ele, as partes diretamente envolvidas no conflito se juntarão à proposta "quando o momento certo chegar".

"É natural, vocês já estudaram história. Quantas vezes um país achava que ia ganhar a guerra com facilidade e depois ficou difícil? Às vezes tem que chegar esse momento e ainda não chegou, mas vai chegar. Estamos conversando. E, quando chegar, vamos dizer: 'olha, tem um caminho para voltar à paz'", disse Amorim, ao final do encontro.

O plano sino-brasileiro foi rejeitado por Zelenski - que chamou a proposta de destrutiva - e por aliados de Kiev no Ocidente.

The Pact for the Future, global digital compact, and declaration on future generations (United Nations)

The Pact for the Future, global digital compact, and declaration on future generations (United Nations)

he Pact for the Future, global digital compact, and declaration on future generations: Summit of the future outcome documents published by United Nations (2024)

The Pact for the Future 1. We, the Heads of State and Government, representing the peoples of the world, have gathered at United Nations Headquarters to protect the needs and interests of present and future generations through the actions in this Pact for the Future. 2. We are at a time of profound global transformation. We are confronted by rising catastrophic and existential risks, many caused by the choices we make. Fellow human beings are enduring terrible suffering. If we do not change course, we risk tipping into a future of persistent crisis and breakdown. 3. Yet this is also a moment of hope and opportunity. Global transformation is a chance for renewal and progress grounded in our common humanity. Advances in knowledge, science, technology and innovation could deliver a breakthrough to a better and more sustainable future for all. The choice is ours.

65 p.

Ver: https://www.joserobertoafonso.com.br/wp-content/uploads/2024/09/sotf-pact_for_the_future_adopted1.pdf

 

Table of Contents

 

The Pact for the Future  1

I. Sustainable development and financing for development  3

 

Action 1. We will take bold, ambitious, accelerated, just and transformative actions to implement the 2030 Agenda, achieve the Sustainable Development Goals and leave no one behind. 4

Action 2. We will place the eradication of poverty at the centre of our efforts to achieve the 2030 Agenda.  . 4

Action 3. We will end hunger and eliminate food insecurity and all forms of malnutrition.  4

Action 4. We will close the Sustainable Development Goal financing gap in developing countries.  5

Action 5. We will ensure that the multilateral trading system continues to be an engine for sustainable development.  . 6

Action 6. We will invest in people to end poverty and strengthen trust and social cohesion.  . 7

Action 7. We will strengthen our efforts to build peaceful, just and inclusive societies for sustainable development, provide access to justice for all and build effective, accountable and inclusive institutions at all levels and uphold human rights and fundamental freedoms.    7

Action 8. We will achieve gender equality and the empowerment of all women and girls as a crucial contribution to progress across all the Sustainable Development Goals and targets.  8

Action 9. We will strengthen our actions to address climate change. 8

Action 10. We will accelerate our efforts to restore, protect, conserve and sustainably use the environment.  10

Action 11. We will protect and promote culture and sport as integral components of sustainable development.  11

Action 12. We will plan for the future and strengthen our collective efforts to turbocharge the full implementation of the 2030 Agenda for Sustainable Development by 2030 and beyond.  . 12

 

II. International peace and security  . 12

 

Action 13. We will redouble our efforts to build and sustain peaceful, inclusive and just societies and address the root causes of conflicts.  12

Action 14. We will protect all civilians in armed conflict. 13

Action 15. We will ensure that people affected by humanitarian emergencies receive the support they need.  14

Action 16. We will promote cooperation and understanding between Member States, defuse tensions, seek the pacific settlement of disputes and resolve conflicts.  14

Action 17. We will fulfil our obligation to comply with the decisions and uphold the mandate of the International Court of Justice in any case to which our State is a party.  . 15

Action 18. We will build and sustain peace.    15

Action 19. We will accelerate the implementation of our commitments on women, peace and security. 16

Action 20. We will accelerate the implementation of our commitments on youth, peace and security.  17

Action 21. We will adapt peace operations to better respond to existing challenges and new realities. 17

Action 22. We will address the serious impact of threats to maritime security and safety. 18

Action 23. We will pursue a future free from terrorism.  . 18

Action 24. We will prevent and combat transnational organized crime and related illicit financial flows.  19

Action 25. We will advance the goal of a world free of nuclear weapons.  19

Action 26. We will uphold our disarmament obligations and commitments.  . 20

Action 27. We will seize the opportunities associated with new and emerging technologies and address the potential risks posed by their misuse.

 

III. Science, technology and innovation and digital cooperation  . 21

 

Action 28. We will seize the opportunities presented by science, technology and innovation for the benefit of people and planet.  22

Action 29. We will scale up the means of implementation to developing countries to strengthen their science, technology and innovation capacities. 22

Action 30. We will ensure that science, technology and innovation contribute to the full enjoyment of human rights by all.   23

Action 31. We will ensure that science, technology and innovation improve gender equality and the lives of all women and girls.  24

Action 32. We will protect, build on and complement Indigenous, traditional and local knowledge.  24

Action 33. We will support the Secretary-General to strengthen the role of the United Nations in supporting international cooperation in science, technology and innovation. 24

IV. Youth and future generations. 25

Action 34. We will invest in the social and economic development of children and young people so that they can reach their full potential.  . 25

Action 35. We will promote, protect and respect the human rights of all young people and foster social inclusion and integration.  26

Action 36. We will strengthen meaningful youth participation at the national level. 27

Action 37. We will strengthen meaningful youth participation at the international level. 27

V. Transforming global governance  . 28

Action 38. We will transform global governance and reinvigorate the multilateral system to tackle the challenges, and seize the opportunities, of today and tomorrow. 28

Action 39. We will reform the Security Council, recognizing the urgent need to make it more representative, inclusive, transparent, efficient, effective, democratic and accountable. 29

Action 40. We will strengthen our efforts in the framework of the intergovernmental negotiations on Security Council reform as a matter of priority and without delay.    29

Action 41. We will strengthen the response of the Security Council for the maintenance of international peace and security and its relationship with the General Assembly.  30

Action 42. We will increase our efforts to revitalize the work of the General Assembly . 30

Action 43. We will strengthen the Economic and Social Council to accelerate sustainable development. 31

Action 44. We will strengthen the Peacebuilding Commission.  31

Action 45. We will strengthen the United Nations system.  32

Action 46. We will ensure the effective enjoyment by all of all human rights and respond to new and emerging challenges.   32

Action 47. We will accelerate reform of the international financial architecture to address the challenges of today and tomorrow. 33

Action 48. We will accelerate reform of the international financial architecture to strengthen the voice and representation of developing countries.  . 33

Action 49. We will accelerate reform of the international financial architecture to mobilize additional financing for the Sustainable Development Goals, respond to the needs of developing countries and direct financing to those most in need.   34

Action 50. We will accelerate the reform of the international financial architecture so that countries can borrow sustainably to invest in their long term development. 35

Action 51. We will accelerate the reform of the international financial architecture to strengthen its capacity to support developing countries more effectively and equitably during systemic shocks and make the financial system more stable.   36

Action 52. We will accelerate the reform of the international financial architecture so that it can meet the urgent challenge of climate change.  . 37

Action 53. We will develop a framework on measures of progress on sustainable development to complement and go beyond gross domestic product. 37

Action 54. We will strengthen the international response to complex global shocks. 38

Action 55. We will strengthen our partnerships to deliver on existing commitments and address new and emerging challenges.  38

Action 56. We will strengthen international cooperation for the exploration and use of outer space for peaceful purposes and for the benefit of all humanity . 39

Annex I  40

Global Digital Compact. 40

Objectives    40

Principles. 41

Commitments and actions  . 42

Objective 1. Close all digital divides and accelerate progress across the Sustainable Development Goals  . 42

Objective 2. Expand inclusion in and benefits from the digital economy for all  45

Objective 3. Foster an inclusive, open, safe and secure digital space that respects, protects and promotes human rights 46

Objective 4. Advance responsible, equitable and interoperable data governance approaches. 50

Objective 5. Enhance international governance of artificial intelligence for the benefit of humanity. 52

Follow-up and review . 54

Annex II. 56

Declaration on Future Generations. 56

Preamble 56

Guiding principles. 57

Commitments  58

Actions  60

 

 

ƒlong

 https://www.joserobertoafonso.com.br/the-pact-for-the-future-global-digital-compact-and-declaration-on-future-generations-united-nations/?utm_source=mailpoet&utm_medium=email&utm_source_platform=mailpoet 


Marcelo Guterman ajuda a diplomacia brasileira resumindo o discurso de Netanyahu na AGNU

Marcelo Guterman dá uma ajudinha à diplomacia brasileira resumindo o discurso de Netanyahu na AGNU, quando a delegação do Brasil se retirou. Suponho que tenha sido para demonstrar insatisfação. Então, pode-se concluir que tenha experimentado satisfação com o discurso do presidente iraniano, e aceitará tranquilamente ouvir o discurso mentiroso dos russos, que estão massacrando civis inocentes da Ucrânia. PRA

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, discursou ontem na ONU. A delegação brasileira boicotou o discurso, retirando-se do plenário. Ou seja, não quis ouvir o que o chefe do Estado israelense tinha a dizer.

Vou aqui prestar um serviço aos diplomatas brasileiros, e resumir o discurso de Netanyahu que vocês perderam. Depois poderão dizer o que há de errado.

Blog do Marcelo Guterman é uma publicação apoiada pelos leitores. Para receber novos posts e apoiar meu trabalho, considere tornar-se uma assinatura gratuita ou uma assinatura paga.

Além de obviamente lembrar o atentado de 07/10, podemos resumir o discurso em uma ideia chave: Israel está lutando contra o Irã. Netanyahu lista as ofensivas que tiveram o apoio logístico do país dos aiatolás contra Israel:

- O ataque do Hamas em 07/10

- Os mais de 8 mil foguetes lançados pelo Hezbollah no norte do país desde 07/10

- Os mais de 250 ataques com drones dos houthis do Yemen

- Dúzias de ataques das milícias xiitas da Síria e do Iraque

- Os mais de 300 drones e mísseis lançados pelo próprio Irã

Netanyahu colocou a questão como uma luta entre dois polos, que ele chamou de “mapa da benção” e “mapa da maldição”. O mapa da benção inclui Israel e os países árabes dispostos a cooperar entre si para construir. O mapa da maldição inclui o Irã, Iraque, Síria e Yemen, que estão dispostos a ameaçar e destruir.

Sobre Gaza especificamente, Netanyahu não aceitará um governo do Hamas. Afirmou que está disposto a trabalhar por uma administração local civil em Gaza, desmilitarizada e desradicalizada. E avisou que a guerra contra o Hamas não terminará enquanto os reféns não forem libertados. Não acho que qualquer país do mundo faria diferente.

Com relação ao Hezbollah, Netanyahu perguntou qual país não reagiria se uma milícia forçasse 60 mil de seus cidadãos para fora de suas casas. Isso equivaleria a 1,2 milhão de brasileiros, uma cidade como Porto Alegre. Além disso, o fantasma do ataque de 07/10 ainda está muito fresco na memória, e Israel não tem porque ficar exposto a outro ataque como aquele, agora vindo do norte.

Por fim, Netanyahu reafirma o direito de Israel de existir e de se defender, o que, como ele mesmo diz, é a mesma coisa.

A única falha nesse discurso, ao meu ver, é a falta de alguma sinalização no sentido do estabelecimento de um estado palestino. O máximo que ele se permitiu foi a admissão de uma “administração civil” em Gaza. Nada sobre a Cisjordânia, onde colonos israelenses muitas vezes espalham o terror. Sem isso, o discurso de Netanyahu perde força, ao não endereçar uma aspiração legítima dos árabes da região.

De qualquer modo, a escolha que ele coloca entre o Irã e Israel é real. Os diplomatas brasileiros, ao se retirarem do plenário, deixaram clara a sua opção. O Irã foi aceito no BRICs e Lula sempre foi parceirão dos aiatolás. Diga-me com quem andas, e eu te direi quem és.

sábado, 28 de setembro de 2024

A caminho de uma nova conflagração mundial? - Paulo Roberto de Almeida (Revista da Rio Bravo Investimentos

 A caminho de uma nova conflagração mundial?

 

Paulo Roberto de Almeida

Revista da Rio Bravo Investimentos (15/07/2025; link: https://www.riobravo.com.br/a-caminho-de-uma-nova-conflagracao-mundial/).

 

Não se tem ainda uma visão clara de como poderão evoluir as relações internacionais no plano dos fatores essenciais de poder, uma vez que estamos contemplando uma possível nova bipolaridade em fase de construção, já chamada de “segunda Guerra Fria”. A situação atual é dominada pela guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, adicionalmente pela guerra entre o Hamas e Israel, que alterou o equilíbrio geopolítico no Oriente Médio, com o envolvimento do Irã, fornecendo armas a seus principais aliados naquele teatro de operações. Uma nova corrida armamentista entre as grandes potências deve se instalar no presente momento e pelo futuro previsível, levando o mundo a embarcar numa acumulação inútil de novas armas, sobrecarregando orçamentos já estrangulados pela demografia declinante e por gastos crescentes em saúde e aposentadorias.

A estrutura das relações internacionais contemporâneas, em especial na área econômica, pode estar sendo transformada, em função desta segunda Guerra Fria e das políticas nacionais das principais economias planetárias. Não cabe supor que a globalização venha a retroceder dramaticamente, nos anos à frente, mas é muito provável que ocorram mudanças nas configurações assumidas pelas cadeias de valor – a base da globalização econômica – e na forma de trabalho e nos respectivos mandatos assumidos pelas agências mais importantes do multilateralismo contemporâneo – a base da globalização política. 

Em que medida possibilidades desse tipo são suscetíveis de ampliar um alegado “declínio” dos Estados Unidos, e abrir ainda mais espaço para uma irresistível ascensão da China no cenário geopolítico mundial, permanecem questões sem respostas definidas no momento atual. Não se imagina uma nova hegemonia chinesa suplantando a atual hegemonia dos EUA e das principais potências ocidentais, uma vez que tal preeminência não se estabelece unicamente com base no poderio econômico. Ela também se apoia, se for consentida e não imposta, em outros vetores da globalização, aqueles da influência cultural, os das normas e dos padrões de conduta aplicáveis aos problemas de natureza global e plenamente respeitadores das liberdades individuais e dos direitos humanos, valores que não estão próximos de serem aposentados pela grande maioria das sociedades avançadas. 

Apresentam-se, contudo, cenários, não semelhantes, mas talvez similares aos que se manifestaram no entre guerras, mais especificamente nos anos 1930, quando potências expansionistas se lançaram em aventuras militares que acabaram precipitando a mais terrível guerra da história. O cenário seria ainda mais catastrófico atualmente, em vista da arma atômica, inexistente até o derradeiro final da Segunda Guerra Mundial. Desde a crise dos mísseis soviéticos em Cuba, em 1962, o mundo não conhecia tal estado de tensão nas relações internacionais, vale dizer, nas relações recíprocas entre as grandes potências. No início dos anos noventa do século passado, o então presidente George Bush (pai) havia proclamado o nascimento de uma nova ordem mundial, com base no desaparecimento da potência que havia prometido enterrar o capitalismo. 

Desde aquela época, o mundo caminhou na senda de uma globalização otimista, o que se desfez, infelizmente, nos embates criados desde as aventuras militares de Putin na Geórgia, na Moldávia e na Ucrânia, e novamente a partir de novos focos de tensão e de guerra no Oriente Médio, concomitantemente à emergência da “desglobalização”, ou de uma globalização fragmentada, tendência ainda mais reforçada pela política externa caótica do presidente Trump, entre 2017 e 2020. Às vésperas da Grande Guerra, 110 anos atrás, o jornalista inglês Norman Angel proclamava a impossibilidade prática de uma guerra total entre as grandes potências devido à imbricação de seus interesses econômicos e financeiros, o que ainda era o caso até recentemente. O seu otimismo se desvaneceu com os “canhões de agosto” de 1914, em grande medida o fruto de equívocos diplomáticos e da arrogância dos grandes impérios centrais, como demonstrado pela historiadora Barbara Tuchman. Esses interesses, agora, já não estão mais fortemente imbricados entre si, em função das sanções econômicas e políticas adotadas pelos países ocidentais contra a Rússia, e parcialmente contra a China. O momento é, portanto, de extrema tensão, o que mais uma vez exige que a diplomacia não incorra em novos e fatais equívocos, e que os atuais impérios não sejam tão arrogantes quanto o foram seus antecessores, os impérios centrais, na segunda década do século passado. 

Desta vez, não serão apenas os “canhões de agosto”, e sim mísseis balísticos e vetores nucleares, num volume jamais visto em qualquer época. Por ocasião da crise dos mísseis soviéticos em Cuba, em 1962, o presidente John Kennedy, assessorado por diplomatas e estrategistas competentes, conduziu o processo a uma definição aceitável, ou tolerável, por ambas as partes, abrindo espaço, pouco adiante, para tratados de limitação de armas e para foros de diálogo no Comissão do Desarmamento ou diretamente entre os grandes atores. Uma eventual falha nessa esfera, nas presentes circunstâncias, seria não apenas um fracasso da diplomacia, mas, sobretudo, uma derrota da racionalidade no teatro das fricções tectônicas entre os grandes impérios da atual geopolítica em ebulição. Se isso ocorrer, a História não absolverá quem quer que seja, diplomatas ou soldados.

 

Paulo Roberto de Almeida

 

Klaus Mann, un combattant de la liberté - Olivier Galland (Telos

 

Klaus Mann, un combattant de la liberté

Sept. 28, 2024


Klaus Mann, 

Contre la barbarie 1925-1948

 Editions Libretto, 2024


 

image001.jpg

 

Les éditions Libretto publient un recueil de textes de Klaus Mann[1]. Fils du célèbre Thomas Mann, et lui-même romancier – ses œuvres les plus connues sont Méphisto et l’autobiographie Le Tournant – cet écrivain allemand a été dès le début des années 1930 un opposant farouche et résolu à l’idéologie nationale-socialiste. Ce recueil constitué d’articles et de conférences en témoigne.

Sa lucidité est impressionnante comme le montre le texte qu’il publia en 1931 sous le titre « Jeunesse et radicalisme », en réponse à son mentor et ami, Stefan Zweig qui, à la suite du succès des nazis au Reichstag en 1930, y avait vu une révolte de la jeunesse « contre les lenteurs de la haute politique »

Klaus Mann voit dans cette « prétention à tout comprendre, une sorte de complaisance à l’égard de la jeunesse qui va trop loin ». Et il ajoute « Tout ce que fait la jeunesse ne nous montre pas la voie de l’avenir ». Propos toujours d’actualité ! Car à ses yeux le « radicalisme » (terme de la traduction française de l’ouvrage, on pourrait plutôt dire la radicalité) « ne peut être à lui seul quelque chose de positif ». Dans la suite de son texte Mann fait l’éloge de la modération et de la progressivité dans le changement. Il récuse toute « forme d’extrémisme » et préfère encore « le rythme d’escargot » de la Société des Nations (on pourrait dire la même chose aujourd’hui de l’Union européenne) à la radicalité qui mènera à la catastrophe. L’avertissement de Mann concerne évidemment en 1930 la montée d’un « néonationalisme hystérique », mais il pourrait s’adresser aujourd’hui encore à bien d’autres causes prises dans le même emballement radical.

Face au nationalisme agressif et guerrier, Klaus Mann est sans doute un des premiers à prôner une fédération d’Etats européens. C’est profondément un humaniste qui défend la « dignité humaine » ; pour lui, celle-ci « est universelle » et « lui faire subir la moindre attaque, c’est la blesser dans son intégrité ».

Il écrit dans cet esprit de très belles pages sur « l’esprit de tolérance ». Klaus Mann, dont la mère est issue d’une famille juive sécularisée, voit dans l’antisémitisme des nazis « le symptôme le plus spectaculaire et le plus manifeste » du caractère odieux de leur doctrine. Mais pour lui, l’antisémitisme traduit en fait la volonté de « détruire les traditions européennes dans leur totalité : l’héritage hellénique, l’héritage du christianisme, de la Révolution française ; l’héritage de Goethe et de Voltaire, de Kant et de Marx, de Schiller et de Rousseau… » Le crime des nazis est un crime contre l’esprit. C’est de ce constat que découle son attachement à l’idée d’une Europe unifiée, et unifiée dans ses valeurs. Et c’est pourquoi aussi il n’est pas séduit par le communisme et sa doctrine matérialiste.

Klaus Mann est un homme qui ne transige pas avec ses principes et il en paiera le prix. Il est contraint de quitter sa ville natale, Munich, et de s’exiler d’Allemagne en 1933 à l’arrivée d’Hitler au pouvoir. Il passera les années suivantes entre Amsterdam, la France et la Suisse. Il sera le censeur intransigeant de nombreux intellectuels ou artistes allemands qui se laissent séduire par le régime nazi ou se laissent aller à des compromissions. Mais l’histoire est cruelle car Klaus Mann qui a abandonné la nationalité allemande et pris la nationalité américaine (il combattra avec l’armée américaine dans la campagne d’Italie) ne trouvera pas sa place dans le monde d’après-guerre. Ses œuvres ne seront pas bien accueillies dans l’Allemagne d’après-guerre. Il se suicidera en 1949 à Cannes.

Son destin peut être mis en regard de celui d’un de ses anciens amis, Gustaf Gründgens. Ce dernier était un metteur en scène et un acteur très populaire de l’Allemagne d’avant-guerre. C’était un ami de jeunesse de Klaus Mann. Il a mis en scène et interprété une de ses pièces. Il a épousé sa sœur Erika (ils divorceront par la suite). Dans des pages au ton sarcastique et désenchanté, Klaus Mann fait le bilan de la suite de la carrière de son ancien ami. Au début de sa carrière, Gründgens était un « intellectuel gauchisant, le plus en vogue de tous les bolchéviques de salon ». Il « se présentait comme le défenseur de la cause révolutionnaire dans les meetings communistes ».

Une fois les nazis arrivés au pouvoir, il se trouva évidemment dans une position « délicate » car pouvant être accusé d’être ce qu’on appelait alors un « bolchevik culturel », mais écrit Mann, il « décida de tenter sa chance », alors que la plupart de ses amis libéraux quittaient le pays. « L’ex-communiste dut faire preuve de prudence », mais la chance lui sourit effectivement grâce à la fiancée d’Hermann Göring, l’actrice Emmy Sonnemann. Elle avait besoin d’un bon metteur en scène pour s’imposer sur la scène berlinoise et Gründgens fit l’affaire. Il devint son ami et par son entremise put avoir le soutien de Göring pour pouvoir rejouer : « deuxième ascension de Gustaff vers la gloire ». Son protecteur lui fit cadeau d’une propriété à la campagne et il fut nommé conseiller d’Etat. Il devint intendant du Théâtre national. Était-il un nazi ? Non, dit Mann, juste un opportuniste.

Sentant le vent tourner il démissionna de ses fonctions au Théâtre national et dans la débâcle du Reich, en 1944, s’engagea comme simple soldat dans la Wehrmacht, « la cachette la plus sûre ». Fait prisonnier par les Russes et libéré au bout de neuf mois, il parvint à se faire réhabiliter, à retrouver sa place au théâtre et y triompher dans son premier rôle depuis la fin de la guerre, en 1946.

Et Mann conclut : « Il retrouva rapidement son moi habituel, son prestige – séduisant comme toujours, avec cravate blanche, teint rose et perruque blonde : l’inusable coqueluche du Berlin prénazi, nazi et postnazi ».

Cette question de la place et du rôle des intellectuels et des artistes dans des sociétés autocratiques ou des dictatures se pose toujours aujourd’hui. Depuis la mort de Navalny qui sera le Klaus Mann russe ? Ce sera peut-être Vladimir Kara-Murza qui vient d’être libéré après un vaste échange de prisonniers entre la Russie et les pays occidentaux. Ces intellectuels ne peuvent se battre qu’avec la seule arme dont ils disposent, les mots. C’est ce que fit Klaus Mann tout au long de sa vie. Mais le faire dans son pays d’origine peut conduire à la prison et parfois à la mort. C’est pourquoi beaucoup, comme Klaus Mann en son temps, sont contraints à l’exil. Mais alors leur voix porte-t-elle auprès de leurs concitoyens ? Comme le note Klaus Mann en parlant des Allemands qui combattent le Troisième Reich à l’étranger, « il pourrait nous arriver de perdre le contact avec la réalité allemande ».

Une autre question taraude Klaus Mann, celle de la responsabilité du peuple allemand dans le désastre et les horreurs auxquels Hitler a conduit son pays et le Monde. Son point de vue a évolué au fur et à mesure de la guerre et du dévoilement des crimes nazis. En 1936, il pense que « certaines caractéristiques du peuple allemand ont rendu possible l’avènement de cette dictature », mais il ajoute qu’il « ne vient à l’esprit d’aucun d’entre nous de haïr le peuple allemand tout entier ; il faudrait alors se haïr soi-même ». A la fin de la guerre il sera plus sévère dans un texte de 1945 (« Tous les Allemands sont-ils des nazis ? ») en parlant d’une « nation coupable et en faillite ». Il constate néanmoins avec amertume que « les nazis et demi-nazis sont traités [par les alliés] avec plus de clémence qu’eux-mêmes ne s’y attendaient, tandis que les adversaires des nazis avaient espéré davantage de soutien et d’encouragement moral ». Lui-même, on l’a vu, ne reçut pas un accueil enthousiaste de son pays d’origine après la guerre. Les combattants de la liberté paient souvent un prix élevé pour leurs engagements.

 

[1] Klaus Mann, Contre la barbarie 1925-1948, Editions Libretto, 2024