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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

O PT, a OMC e o comércio internacional - Percival Puggina

Caro leitor,
Antes de ler o artigo abaixo, sobre a situação atual, leia antes estas declarações "econômicas" do velho PT:
"O Brasil caminhará em direção a uma alternativa ao neoliberalismo que, necessariamente, terá que vir acompanhada de uma disputa de hegemonia com a cultura da mercantilização excessiva propagada pela globalização capitalista. É esta que articula valores, relações sociais, controles institucionais e que determina atitudes, comportamentos e projetos individualistas, oportunistas e consumistas inclusive entre os próprios excluídos e oprimidos."
Veja ainda esta outra declaração:
"As políticas liberais foram acompanhadas de uma nova institucionalidade internacional. Além do Banco Mundial e do FMI, a Organização Mundial do Comércio (OMC) ocupou um papel de destaque em pressionar e monitorar a liberalização comercial e garantir as práticas monopolistas das grandes corporações transnacionais."
E ainda esta aqui, criticando uma suposta deterioração das relações comerciais externas, que na verdade só viria a ocorrer sob o reino dos companheiros:
"Outro elemento constitutivo da inserção externa no âmbito do modelo liberal foi a abertura comercial. Pela sua forma e velocidade, esta abertura terminou por produzir uma regressão expressiva do setor produtivo doméstico e uma precarização do nosso comércio exterior."
E o que se propunha, então?:
"Para corrigir os desequilíbrios oriundos da abertura comercial será necessário rever a estrutura tarifária, e criar proteção não tarifária para determinadas atividades. A correção desse desequilíbrio se fará através de uma política comercial com caráter seletivo. Ou seja, será necessário criar novas atividades geradoras de divisas e incentivar as empresas implantadas no país para que cumpram a função de substituir importações, ampliar exportações e reinvestir internamente os seus lucros."

Todas essas declarações faziam parte das propostas de política econômica do PT em 2001, quando ele se preparava para a campanha eleitoral presidencial do ano seguinte.
Pois é, quem diria?
Paulo Roberto de Almeida

SUCESSOS DA HERANÇA DESDENHADA
Percival Puggina
12/05/2013 

            Mas não é que o brasileiro, embaixador Roberto Azevêdo, foi eleito para dirigir a Organização Mundial do Comércio (OMC)? Que tal? É nós na fita, como se poderia dizer, apropriando o título do espetáculo encenado por Marcius Melhem e Leandro Assun. Como foi acontecer uma coisa dessas?
            Pois é. Um pouco mais do mesmo. Os outros plantam, o PT atrapalha quanto pode e, depois, colhe. Durante anos ouvi os petistas dizerem que abertura ao comércio internacional era coisa maldita, neoliberal, invencionice da nefasta globalização. A bem da verdade, essa ideia, de um viés nacionalista equivocado, que transformou o Brasil numa das economias mais fechadas do mundo, era anterior ao PT. Mas ganhou militância com o petismo.
            Nas últimas décadas do século passado, o Brasil convivia com inúmeras maldições, entre elas estas três: atraso tecnológico, precaríssimo acesso a muitos bens de consumo e preços escorchantes por mercadorias do Primeiro Mundo. Ah, o Primeiro Mundo! O Primeiro Mundo promovia integrações e mercados comuns. Fazia tudo errado ... e ia muito bem. Bem demais, aliás, a ponto de esquecer a primeiríssima das lições, aquela que todas as donas de casa sabem: quem gasta mais do ganha se endivida e, um dia, a conta chega. Mas essa é outra história.
            Nós, brasileiros, nos habituamos a ouvir discursos em defesa dos protecionismos a setores tecnologicamente atrasados, avessos à abertura a importações, contra privatizações, contra o pagamento da dívida externa - chave mestra para todas as dificuldades do país. Moratória já! Ianques go home! Abaixo o receituário do FMI! O Brasil, não precisaria tanto para se tornar carta fora do baralho nas relações internacionais.
            Deus talvez não seja brasileiro. Se for, não é lá muito bairrista. Mas, felizmente, nos propiciou reação a essa didática do atraso. E o Brasil, aos poucos, foi rompendo com aquele nacionalismo fajuto, irresponsável e caloteiro. À medida que isso acontecia, revertia-se o quadro e o país granjeava credibilidade e respeito no mercado internacional. Desde o final do século 20, tornamo-nos um país que paga contas, cumpre contratos e se integra comercialmente. Sob vaias, é verdade. Quanto mais o Brasil dava certo nas relações externas, mais essa política econômica era combatida, escarrada e pisoteada. A metralhadora giratória do PT e seus consectários tinha nela seu alvo preferido.
            Loucura ideológica não rasga dinheiro. Quando o PT chegou ao poder, sem pedir desculpas a ninguém pelas bobagens que antes defendia e pelos impropérios que proferia, tratou de preservar o que estava dando certo. Descobriu, por exemplo, que o agronegócio paga as contas da balança comercial. Mas era tudo herança antes desdenhada. Por mais que o petismo delirante pretenda atribuir esses êxitos às suas próprias investidas em novos mercados africanos, o certo é que estes representam apenas 4% dos negócios do Brasil e não têm como passar disso em médio prazo. São economias muito pequenas.
            Portanto, a eleição de um diplomata brasileiro para presidir a OMC é expressão de um sucesso que avançou à conta dos empreendedores brasileiros e de políticas às quais o PT se opunha com humores e furores vulcânicos.
_____________
* Percival Puggina (68) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Brasil: do deficit comercial ao de transacoes correntes? - Editorial Estadao

A situação é muito mais grave do que a que transparece neste editorial, inclusive porque os problemas são de difícil solução (o que aliás está registrado no texto) e porque um déficit comercial tem consequências inevitáveis sobre as transações correntes, nas quais os serviços já são cronicamente deficitários.
A partir de um determinado nível nessa balança (digamos 4 a 5% do PIB como déficit) começa a desconfiança dos investidores estrangeiros e dos próprios nacionais: a tendência se acelera e o déficit se avoluma muito rapidamente, com fuga de capitais e desinvestimento.
As perspectivas não são brilhantes, para não dizer que são claramente negras, se me permitem a boutade politicamente incorreta...
Paulo Roberto de Almeida

A crise que o governo não vê

12 de maio de 2013 | 2h 07
Editorial O Estado de S.Paulo
Ao minimizar os maus resultados da balança comercial - que, de janeiro a abril, acumulou um déficit de US$ 6,15 bilhões, o maior da história para o período -, como fez na segunda-feira em São Paulo, a presidente Dilma Rousseff tenta encobrir um problema que preocupa cada vez mais o empresariado e está cada vez mais longe de ser passageiro. "Qualquer oscilação na balança comercial é apenas uma oscilação", disse tautologicamente a presidente, na posse da nova diretoria da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo, para demonstrar despreocupação com o desempenho do comércio exterior. É uma atitude que pode ter consequências - e não serão positivas para o Brasil.
Nessa questão, quanto mais despreocupado estiver o governo tanto pior para o País, pois cada vez menos os responsáveis pelas políticas públicas voltadas para o setor produtivo conseguirão entender que o problema não é ocasional. Por sua persistência e profundidade, começa a transformar-se em problema estrutural da economia brasileira. Ainda há tempo para evitar que a situação piore tanto que fique muito mais difícil corrigi-la, mas é preciso que, primeiro, o governo entenda o que ocorre e, depois, admita que o problema existe e é grave e comece a agir na direção correta.
São muitos os fatores que afetam o setor produtivo brasileiro, sobretudo a indústria de transformação, que vem tendo dificuldades cada vez maiores para enfrentar os competidores, tanto no mercado externo como no interno.
São muito expressivos os números que mostram a progressiva perda de competitividade dos produtos manufaturados brasileiros. O jornal O Globo (6/5) mostrou que, no ano passado, o setor de bens manufaturados registrou um déficit comercial de US$ 94,9 bilhões. Não se trata de uma oscilação, mas de um processo que começou há seis anos (em 2006, o setor registrou superávit comercial, que, naquele ano, alcançou US$ 5,2 bilhões), intensificou-se em consequência da crise mundial iniciada em 2008 e mantém-se ativo. Os resultado vêm piorando de maneira persistente.
A crise mundial aprofundou uma tendência iniciada em 2007 (no primeiro trimestre daquele ano, a balança da indústria de transformação registrou saldo positivo), fazendo crescer os déficits até os níveis observados atualmente.
De acordo com um relatório divulgado há dias pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o crescimento do déficit comercial da indústria de transformação nesse período não ocorreu de maneira homogênea. Em 2010 e 2011, o saldo negativo foi causado sobretudo pelo rápido aumento das importações, fato que ficou conhecido como "invasão" do mercado por produtos estrangeiros. Embora as exportações continuassem a crescer, as importações cresceram a velocidades bem maiores.
Em 2013, no entanto, embora as importações continuem a crescer, as exportações começaram a diminuir, o que pode tornar ainda maiores os déficits do setor. Essa tendência é observada em três dos quatro segmentos da indústria classificados de acordo com a densidade tecnológica dos produtos. A exceção é a indústria de baixo conteúdo tecnológico, cuja linha de produção inclui itens como alimentos industrializados, bebidas, fumo, produtos de madeira, celulose, papel.
Quanto maior o conteúdo tecnológico, mais rápida tende a ser a deterioração da balança comercial. A balança conjunta da indústria de alta intensidade tecnológica - que atende aos mercados que mais crescem em todo o mundo - e de média intensidade, por exemplo, registrou déficit de US$ 16,3 bilhões no primeiro trimestre, 22,6% maior do que o dos três primeiros meses de 2012.
As causas da perda de competitividade da indústria são conhecidas. Carga tributária excessiva, graves deficiências de infraestrutura, ausência de política efetiva de comércio exterior, escassez cada vez mais aguda de mão de obra adequadamente preparada, entre outras. Sobre isso, o governo nada diz. 

Brasil recua no comercio internacional - Luiz Felipe Lampreia


As opções internacionais do Brasil

12 de maio de 2013 | 2h 04
Luiz Felipe Lampreia*
"In Latin America, and elsewhere, it's no coincidence that the practitioners of free trade are also the ones who consistently enjoy the most robust economic growth and development." 
Claudio Loser, revista 'Forbes', maio de 2013


É minha convicção que estamos crescentemente limitados e isolados em nossas opções de comércio internacional. Em termos de acordos, só temos a exibir uma lista particularmente magra, em especial pela obrigação de negociar conjuntamente com os demais sócios do Mercosul. Ora, na realidade o Mercosul desviou-se totalmente de sua concepção original de projeto de integração comercial e econômica e hoje é quase que somente uma frente política. Há fortes tendências protecionistas internas que frequentemente colidem com os propósitos originais do próprio Mercosul.
Há 20 anos era possível encher o peito para dizer que o Brasil era um global trader. Hoje somos apenas um grande exportador de um número restrito de commodities de pouco valor agregado e de uma pequena e decrescente porcentagem de manufaturados que só se destinam a um número muito limitado de mercados. Daí é legítimo concluir que algo deu errado.
Nossa pauta de exportações voltou a ser, como era antes dos anos 1970, marcada pela preponderância dos produtos de base, com todos os riscos gerados pela volatilidade de preços inerente a esse tipo de mercados. Nossos produtos manufaturados vêm perdendo espaço, seja por obra do protecionismo, em particular da Argentina, seja pela perda de vantagem competitiva criada por preferências comerciais dadas por nossos tradicionais compradores a nossos competidores em razão de acordos comerciais ou, enfim, por concorrência intensa de produtos chineses.
A persistir esse quadro, o Brasil terá déficits de balança comercial cada vez maiores, ficando mais vulnerável a flutuações de preços de commodities e mais dependente de grandes ingressos de capital estrangeiro para equilibrar a conta corrente. Além do mais, é preciso enfatizar que não pertencer a acordos comerciais importantes significa tornar o Brasil menos atrativo para a integração de cadeias produtivas que, sempre mais, constituem a essência dos acordos de comércio modernos.
Recorde-se, aqui, a existência dos diversos acordos de grande alcance: entre Estados Unidos e Coreia do Sul (Korus), o acordo entre China e a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), a Aliança do Pacífico (México, Colômbia, Peru e Chile), a Parceria Trans-Pacífico (TPP)e o acordo Estados Unidos-União Europeia. Alguns deles em fase de negociação, outros já em plena vigência. O Brasil não pertence a nenhum deles.
Pertencemos à Organização Mundial do Comércio (OMC), entretanto, e ela continua a ser a tábua das leis. As 550 páginas de seus textos normativos são o fundamento do livre-comércio. Há grandes lacunas, sem dúvida, especialmente na agricultura, em que o protecionismo que falseia o comércio continua a vigorar em todo o mundo desenvolvido. Mas a OMC é a instituição em que impera o sistema de solução de controvérsias que permite a qualquer de seus membros questionar os atos de outros, qualquer que seja a disparidade de força entre eles. Por isso ganhamos importantes questões dos Estados Unidos e da União Europeia. Temos de defender a OMC, porque ela é o último reduto contra os abusos dos mais fortes.
A vitória de Roberto Azevêdo para diretor-geral da OMC é, antes de mais nada, um êxito pessoal de um diplomata de grande profissionalismo e competência. Sem isso não teria sido possível eleger um brasileiro que serve a um governo cada vez mais protecionista e, portanto, pouco afinado com o espírito de liberalização do comércio, que é a alma da OMC. Mas o que contou na eleição foi a mensagem central de Roberto de que não há tempo a perder, pois - uma vez institucionalizados os acordos extra-OMC, como os acima mencionados, em vigor ou em gestação, entre um limitado número de países - será dificílimo retomar a dinâmica multilateral e evitar que a OMC se torne um organismo apenas subsidiário.
Independentemente dessa vitória e da luta permanente pelo fortalecimento da OMC, é urgente reavaliar as opções internacionais do Brasil. Será necessário rever a regra da posição solidária de todos os membros do Mercosul ou deveremos continuar a nos apresentar, sem muitas chances, em companhia da Argentina e da Venezuela nas mesas de negociação que virão? Devemos estudar a possibilidade de buscar acordos bilaterais com a União Europeia, os Estados Unidos e outras grandes potências do comércio internacional? Podemos explorar um entendimento com os quatro países da Iniciativa do Pacífico? São questões de grande atualidade que precisam ser estudadas a fundo pelo governo, pelo Congresso Nacional, pelos atores econômicos brasileiros e por todos os que nelas têm interesse. O que não é possível é praticar a política da cabeça enterrada na areia, que o avestruz aperfeiçoou.
O preço do imobilismo seria o aprofundamento do protecionismo nacional e, portanto, o afastamento dos principais centros de inovação. Seria também a exclusão crescente do Brasil do movimento de integração de cadeias industriais produtivas que está em marcha em escala global.
Esses grandes temas precisam ser objeto de uma reflexão profunda entre nós. Não levá-la a cabo significará uma crescente marginalização do Brasil em termos de investimentos, balanço de pagamentos, comércio internacional e, portanto, de desenvolvimento econômico.    
 * Foi ministro das relações exteriores no governo Fernando Henrique Cardoso

A desindustrializacao ameaca tornar-se sistemica no Brasil: energia carissima

O preço da energia, em geral, que já foi muito barato no Brasil dos anos 1970 e 1980, tornou-se abusivamente cara, mais do dobro da média mundial, obrigando grandes indústrias transformadoras baseadas no uso intensivo da eletricidade a migrarem do Brasil para paragens mais amenas (como a indústria do alumínio, por exemplo).
Agora é o pessoal do vidro e da cerâmica -- enganados pela propaganda governamental de que teriam gás barato fornecido pela Bolívia -- que enfrenta elevação dos preços, o que simplesmente torna inviável a produção nacional para exportação. O mercado interno certamente não conseguirá absorver toda a oferta protegida, inclusive porque sempre haverá alguma competição externa, vinda da China, por exemplo.
Acrescenta-se, pois, mais uma tragédia nacional.
Quando é que o governo vai começar a resolver problemas sistêmicos, estruturais, da economia brasileira?
Paulo Roberto de Almeida


Energia barata nos EUA já afeta indústrias no Brasil

Com a exploração mais consistente do gás de xisto nos EUA, preço do gás americano passou a custar 20% do cobrado no Brasil, o que reduziu a competitividade nacional e afastou investimentos de indústrias como as de vidro, cerâmica e petroquímica

12 de maio de 2013 | 23h 40
Sabrina Valle - O Estado de S. Paulo
RIO - A concorrência com o baixo custo do gás de xisto americano, que em três anos passou a custar 20% do preço do gás natural no Brasil, está fazendo o País perder ou adiar bilhões de dólares em investimentos.
Indústrias que têm até 35% de seus custos no gás, como fabricantes de cerâmica e vidro, petroquímica e química, perderam competitividade, elevaram importações e migram investimentos para o exterior. Até setores tradicionais, como o de brinquedos, sentem os efeitos.
"Uma fatia importante do setor está com forno desligado. Estamos perdendo competitividade. O risco é a produção nacional ser substituída pela importada", diz o superintendente da Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos (Anfacer), Antonio Carlos Kieling.
Kieling diz que as importações do setor estouraram 9.000% em sete anos, para US$ 220 milhões ao ano, num movimento crescente, já que 25% dos custos de produção vêm do gás. A avaliação sobre perda de competitividade é a mesma em vários setores, mas atinge com maior peso a indústria química e petroquímica. Empresas como Braskem, Unigel e Dow Chemical estão entre as que paralisaram decisões de investimento de bilhões de dólares.
A multinacional de vidros AGC decidiu há pouco mais de três anos investir numa fábrica de R$ 800 milhões. Será inaugurada em Guaratinguetá (SP) neste ano para produção de vidro plano, espelhos e vidro automotivo. "De lá para cá, o preço do gás dobrou, mudou totalmente o cenário e a rentabilidade", disse o CEO da AGC Vidros do Brasil, Davide Cappellino.
A decisão de dobrar a capacidade, com mais R$ 800 milhões, foi suspensa por tempo indeterminado. Unidades da multinacional nos Estados Unidos, Emirados Árabes, Arábia Saudita e Egito, onde o preço do gás é 20% do cobrado no Brasil, ganharam preferência na destinação de recursos. "Com certeza, o preço do gás tornou a decisão de investir no Brasil muito mais difícil."
Revisão
A também multinacional Cebrace planejou até R$ 1 bilhão para transformar o Brasil em plataforma de exportação de vidros para a América Latina. A empresa estancou novas decisões de investimentos no Brasil e voltou os olhos para países como Argentina e Colômbia. O mesmo aconteceu com a Guardian, que revê investimentos. Hoje, o setor importa 35% do vidro plano, ante 10% de 2007.
"Não há novos investimentos de peso, e o futuro depende de decisões de agora. Quero ver como o setor vai estar lá para 2018", diz Lucien Belmonte, superintendente da associação setorial Abividro, que estima, grosso modo, uma perda de até US$ 3 bilhões na década pela redução de competitividade acarretada pelo preço do gás.
Revolução
A reviravolta no mercado aconteceu depois de uma revolução energética nos Estados Unidos, com a disseminação, nos últimos cinco anos, da técnica de fraturamento terrestre em formações de xisto.
Neste curto período, os Estados Unidos trocaram a posição de grande importador de gás pela de potencial exportador, um cenário impensável em 2008. A superoferta fez o preço do gás americano cair de US$ 9, naquele ano, a US$ 1,82 por milhão de BTU (unidade térmica britânica, a referência para o mercado de gás) em abril de 2012.
Hoje, o preço do gás americano fica em torno de US$ 2,5 a US$ 3 por milhão/BTUs. No Brasil o produto está cerca de cinco vezes mais caro – custa entre US$ 12 e US$ 16. Na Europa, ronda os US$ 8 a US$ 10. "Todo mundo que compete no mercado internacional e que tem produção no Brasil está reclamando conosco", diz uma fonte do governo.
O efeito é mais intenso para indústrias que usam o gás como matéria-prima, caso das fabricantes de fertilizantes, ou para mover as máquinas. Costuma ser o caso também de produtos que dependem de altas temperaturas para serem produzidos, como as cerâmicas. 

domingo, 12 de maio de 2013

Anatomia da corrupcao - Joao Sayad



Taxonomia dos ratos
João Sayad
Folha de S.Paulo, 06/05/2013

Face a problemas insuperáveis, a ciência classifica.
Médicos classificam tumores em benignos, malignos, perversos ou dóceis. Zoólogos falam de baratas pretas, marrons, voadoras, cascudas ou molengas; ratos de rabo longo, camundongos, ratazanas, roedores urbanos e rurais. O método se chama taxonomia.
Se é impossível resolver, extinguir ou explicar, classificamos. O taxonomista é, antes de tudo, um resignado.
Convido o leitor a iniciar uma taxonomia da corrupção.
Existe a corrupção do fiscal, do policial, do oficial de justiça, do perito avaliador, do inspetor da prefeitura, do parlamentar. Esta é a malversação do tipo público. E a corrupção do setor privado, obviamente, faz par a cada uma das classes de corrupção do setor público.
Mas gêneros, espécies e subespécies ainda não foram bem definidos.
Contribuo, então, com uma classificação que, mesmo modesta, pode aumentar a produtividade dos caçadores de ratos, fabricantes de inseticidas e ratoeiras, auditores, corregedores, promotores, funcionários do Ministério Público, jornalistas e até gente do terceiro setor que ainda se incomode com o tema.
Dividiria a corrupção do setor público em dois grandes grupos.
A grande corrupção (chamemos de corrupção "a la grande") está associada a investimentos públicos enormes. É o mundo das negociatas impressionantes, das concessões viciadas, das toneladas de cimento.
O caso famoso do prédio do Tribunal Regional do Trabalho, na Barra Funda, em São Paulo, é bom exemplo. O prédio está lá. É grande, espaçoso e funcional. Pode-se dizer até que é bonito. Custou 160 milhões de reais a mais do que deveria ter custado. Mas está lá.
O culpado pelo desvio foi morar em Miami, comprou um monte de carros esporte e voltou preso. Quem ficou aqui acabou devolvendo em prestações o superfaturamento praticado. A relação custo-benefício, no final das contas, foi positiva: houve custo excessivo, mas o prédio, repita-se, ficou pronto.
As características desse tipo de corrupção são duas: primeiro, o bem público foi produzido e entregue. Depois, o valor subtraído ficou conhecido e teve limite. Acabou a obra, acabou o roubo. E os culpados mudam de ramo e nos deixam em paz, se não forem presos.
Existe também a corrupção pequena (de custeio, diriam os economistas): contrata parentes, compra papel higiênico superfaturado, orienta a criação de empresas de fachada para prestarem serviços, cria cooperativas para pagar funcionários terceirizados, faz acordo de "kick back" com os fornecedores e, principalmente, avacalha, paralisa, lasseia e termina por matar a organização que administra.
Esse tipo de corrupto "petit cash" instala-se em organizações públicas menores, nas quais pode atender a fisiologia e necessidades de financiamento eleitoral sem ser percebido de imediato. funcionários de carreira; o segredo e a confidencialidade passam a ser as regras na organização.

E os serviços públicos que seriam oferecidos vão perdendo qualidade, tornam-se irrelevantes. Os funcionários acabam deprimidos, pois não têm o que fazer, ganham mal e sabem que o "andar de cima" ganha bem por dentro e por fora. O resultado é o apodrecimento da organização até a morte definitiva.
O custo desse tipo de corrupção parece pequeno. Mas um desvio de 1 milhão por ano por tempo indefinido tem um valor atual elevado. Se a taxa de juros de desconto for de 7,5% ao ano, 1 milhão por ano custa ao contribuinte mais de 10 milhões.
Sangra a organização anos a fio, faz favores a seus superiores e enche-se de queijo de maneira paulatina e continuada. A alta administração do órgão se afasta e se esconde dos Pior ainda, a relação custo-benefício é infinita: custa 10 milhões e não oferece nenhum benefício público. Não há adição, só subtração. É dez dividido por zero.
Não há um prédio, não há nada concreto no fim da linha, só há ruínas e desmoralização. E a sociedade fica sem o serviço público direito, enquanto centenas de funcionários passam anos em meio ao lixo.
Finalmente, esse tipo de corrupção tem um agravante.
Como é obtido em suaves prestações, não permite ao parasita fugir para outro país, ir morar na praia ou dedicar-se à criação de cavalos. O parasita permanece grudado na instituição hospedeira da qual suga o sustento por longos períodos, até que mudem os partidos no governo.
É uma corrupção mixa, que não produz fóruns, estradas ou pontes.
Proponho, a quem tiver paciência de continuar o trabalho de classificação, chamá-la de "corrupção brega". Minha vontade de prosseguir na tarefa acabou. Estou indignado.
JOÃO SAYAD, 67, doutor em economia pela Universidade Yale (EUA), é presidente da Fundação Padre Anchieta.

12 de Maio de 1943: vitoria completa dos Aliados na Africa do Norte

Este dia na História,  do New York Times:

Tunisian Resistance Ends in Rout of Germans; Gen. Von Arnim and 150,000 Men Captured; Pacific Believed Roosevelt-Churchill Topic




African War Over



110,000 of Captive Total Believed German -- Booty is Huge



FEW STILL RESISTING



British and French Draw Ring Tighter Around Pocket in South


By FRANK L. KLUCKHOHN
Wireless to The New York Times

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Allied Headquarters in North Africa, May 12 -- The war in Africa is over, it was officially announced tonight.
Col. Gen. Dietloff von Arnim, the Prussian Commander in Chief of the Axis forces in North Africa, has been captured by the British, apparently on Cap Bon. In all, 150,000 prisoners are believed to have been taken since May 5, when the final assaults on Tunis and Bizerte began. Twelve generals have been captured.
[Of the 150,000 captives, it was estimated that some 110,000 were Germans and the remainder Italians, The United Press said.]
This brings to 400,000 the total of Axis prisoners taken since the North African campaign aproached Lieut. Gen. Sir Bernard Freyberg for peace terms somewhere north of Enfidaville, the New Zealand commander said two words: "Unconditional surrender."
General von Sponeck announced that he would fight to his last bullet. Then, that Prussian point of military honor having began satisfied by fire from British guns heavier than his own, he surrendered.
That the end would come within a few hours was apparent by noon today, after British tanks, with infantry hanging on their sides, had toured the coast roads of what might have been the strong fortress of Cap Bon in virtual joyrides. Every time a tank pointed its gun, hordes of prisoners came in to give up. Moreover, the Germans and Italians had begun surrendering en masse to the French commanded by General Mathenet.
The French, defeated in 1940, received the surrender of 25,000 Axis soldiers, including two German major generals. The Americans announced today that they had taken 37,998 prisoners, of whom 33,498 were Germans.
Reichsfuehrer Hitler's disastrous adventure in North Africa can at last be gaged in full. It was a complete and final disaster and few, if any, of his men escaped. The American, British and French all played a major part in the final victory.




Front Page Image Provided by UMI

Dia das maes: tres vivas para a adocao (Washington Post)

Apoio totalmente a ideia de se valorizar a gestaçāo-adoção como uma das melhores ações que se possa pensar em apoio a casais que buscam desesperadamente um filho e para evitar o recurso ao aborto ou à maternidade sem pai, afligindo jovens mulheres que se tornaram grávidas e que serão mães sem o desejar.
Minha homenagem às mães, a todas as mães...
Paulo Roberto de Almeida

A Mother’s Day plea to stop equating adoption with abandonment


Nina Easton is Fortune magazine’s Washington columnist and a Fox News analyst.
The Washington Post, 10/05/2013
In today’s America, a single woman facing a surprise pregnancy is likely to consider just two options: abortion or single motherhood. The third choice, adoption, carries such a social stigma that domestic placement of infants has plummeted — even as the number of parents desperate for a baby grows.
Birth mothers choose life, and a family, for their child. But this choice is rarely celebrated. Women routinely face family, friends and even health-care providers who think that adoption equals abandonment, according to researchers and conversations with birth mothers. “Just look at the language people use: ‘She’s giving up her baby,’ ” says Kathy Kunkel, founder of the Utah-based agency A Act of Love. “In fact, a birth mother is choosing a good home for her baby.”
Birth mothers in the United States each year number in only the thousands, compared with approximately 1.2 million abortions performed annually, according toGuttmacher Institute estimates, and 1.4 million unexpected unwed births each year. Women bucking the cultural tide generally do not publicize their choice. They are much more willing to admit they have terminated a pregnancy, adoption advocates say, than to say they have placed a live newborn with loving parents.
This cultural bias infuses the guidance women receive. Just 1 percent of pregnant women who seek counseling, whether at a church-backed pregnancy crisis center or a clinic where abortions are performed, walk out with an adoption referral, according to the National Council for Adoption. And as council President Charles Johnson told me in an interview: “Your decision is only as good as the information you’re given.”
Russia’s recent ban on adoptions by American parents has drawn attention to the troubled state of international programs, but the U.S. adoption system is also in crisis. Reliable data on American babies placed for adoption are difficult to find. Figures from the adoption councilthat are five years old suggest that annually there are about 18,000 children up to age 2. Only some of those are newborns.
A woman’s decision to carry a baby to term knowing that she will not reap the fruits of motherhood should be treated as an act of bravery and selflessness — the ultimate standards of good motherhood. How did it come to be considered an act of shame?
The numbers offer some insights. Domestic adoptions peaked in 1971 at 90,000 a year — and began a dramatic decline after the 1973 Supreme Court decision in Roe v. Wade made abortion legal. Whereas abortion silences the trauma of unexpected pregnancy, birth-mothering trumpets it. Carrying a baby to term invites intrusive questions from friends and strangers alike, and admitting that you are not keeping your baby may incite hostility.
Single motherhood, meanwhile, has become socially acceptable. A majority of births to women under 30 now occur outside marriage. Plenty of single moms carry that off, but what of those who end up in a destructive cycle of poverty, government dependency or abusive partners?
The stigma of adoption even extends to some pro-life evangelical quarters, where, Johnson notes, abortion is cause for seeking forgiveness and moving on, but adoption means giving up on your faith — and your baby. During his years training pro-life counselors at pregnancy crisis centers across the nation, Johnson told me, he would invoke the names of inspiring adoptees from the Bible, including Moses, to make his case.
Tears ran down Adria Anderson’s cheeks as she recounted last month — publicly for the first time — her decision to terminate her surprise pregnancy three years ago. She was too young to raise a child on her own, she explained when we met, and abortion seemed the least bad option. Now it’s a decision she will always regret. “No one ever talked about adoption,” she recalled.
Anderson is helping to lead the adoption council campaign geared toward birth mothers, atIChooseAdoption.org. “I want to make sure no one has to feel the pain that I do,” she says. “I want to feel proud about the choice I made.”
A full accounting of adoption as an option would not underestimate its emotional challenges — the grief and loss for birth mothers, the uncertainties for adoptive parents operating under a patchwork of state laws. But commonly held myths about domestic adoption would be dispelled. The super-secret affairs of old are largely gone; rather, birth mothers typically choose the family, and adoptive parents share letters and pictures. The baby’s future does not disappear into a black hole.
Adoption should be an empowering option for young women in crisis, knowing that the people around them — family, friends, church — will respect their choice. On this Mother’s Day, I’ll be celebrating the courage of the birth mother who gave our daughter the gift of life — and gave my husband and me the greatest joy of our marriage.

sábado, 11 de maio de 2013

O Brasil virou uma bagunça?: uma pergunta inconveniente

Aumento de custo em obras públicas é uma constante no cenário brasileiro, em parte por "experteza", em grande parte por corrupção, e em outra medida pela incompetência gerencial de burocratas e técnicos encarregados. Tem também os perturbadores de sempre, manifestantes das causa ecológicas, humanitárias, sindicalistas oportunistas, malucos de toda ordem, enfim. Tudo isso junto, deve explicar, acho, os 150% de aumento em cada uma dessas obras, ou seja, elas sempre custam mais do que o dobro do estimado inicialmente.
Seria uma tara nacional?
Seria simples baguncismo tradicional?
E a gente aceita, passivamente?
Sem um pio de protesto?
Aceitamos pagar mais do dobro, assim, como se fosse normal?
Acho que o Brasil está longe, longíssimo de poder se classificar, já não digo como país desenvolvido, o que parece que manifestamente ele não é, do ponto de vista da administração pública, mas simplesmente como país normal.
Não somos um país normal, definitivamente.
E aceitamos essa singularidade, essa bizarrice, esse surrealismo de sermos um país anormal.
Em que pagamos mais do que o dobro do que tinha sido contratado oficialmente.
Vai continuar assim?
Parece que vai...
Paulo Roberto de Almeida

Orçado em R$ 16 bilhões, custo da Usina de Belo Monte já supera os R$ 30 bilhões

Aumento dos gastos para a construção da terceira maior hidrelétrica do mundo, no Pará, é provocado por fatores como custos ambientais maiores e as paralisações frequentes, fruto de protestos indígenas e de greves por melhores condições de trabalho

11 de maio de 2013 | 23h 00
Renée Pereira - O Estado de S. Paulo
A Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, foi orçada em R$ 16 bilhões, leiloada por R$ 19 bilhões e financiada por R$ 28 bilhões. Quase dois anos depois do início das obras, o valor não para de subir. Já supera R$ 30 bilhões e pode aumentar ainda mais com as dificuldades para levar a construção adiante.
Com a sequência de paralisações provocadas por índios e trabalhadores, estima-se que a obra esteja um ano atrasada. Se continuar nesse ritmo, além dos investimentos aumentarem, a concessionária poderá perder R$ 4 bilhões em receita.
O vaivém dos números da terceira maior hidrelétrica do mundo deve acertar em cheio a rentabilidade dos acionistas, que em 2010 estava calculada em 10,5%. Hoje, as planilhas dos analistas de bancos de investimentos já apontam um retorno real de 6,5% ao ano.
A Norte Energia, concessionária responsável pela construção da usina de 11.233 megawatts (MW) no Rio Xingu, evita falar de indicadores financeiros e afirma apenas que os valores (de R$ 25 bilhões) foram corrigidos para R$ 28,9 bilhões.
Leiloada em abril de 2010, a usina foi arrematada por um grupo de empresas reunidas pelo governo para que a disputa tivesse concorrência. Desde então, o projeto tem sido pressionado por uma série de fatores em áreas distintas. A montagem eletromecânica dos equipamentos, por exemplo, até hoje não foi contratada, e um dos motivos seria a elevação dos preços dos serviços, de R$ 1 bilhão para cerca de R$ 1,6 bilhão. Custos ambientais e gastos administrativos também estão bem acima das previsões iniciais.
Junta-se a essa lista as despesas indiretas com mão de obra, como cesta básica e tempo para visitar a família. Dados do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon) mostram que, em apenas um ano e meio, o valor da cesta básica dos trabalhadores de Belo Monte subiu 110% e o intervalo entre as visitas das famílias, pagas pela empresa, recuou de 180 dias para 90 dias.
Vale destacar que a obra tem 22 mil trabalhadores, e a maioria fica em alojamentos. Qualquer mudança nos benefícios – mesmo que pequena – tem impacto relevante no orçamento.
As interrupções dos trabalhos por causa das invasões e greves também são fatores que explicam o aumento dos custos. Até quinta-feira, cerca de 7 mil trabalhadores do sítio Belo Monte, onde está sendo construída a casa de força da usina, ficaram parados por causa da invasão de 83 índios no local. A paralisação durou uma semana. Desde o início das obras da hidrelétrica, foram 15 invasões (e 16 dias de greve) que paralisaram as atividades e ajudaram a atrasar o cronograma em cerca de um ano.
Aceleração
Recuperar o tempo perdido exigiria um programa de aceleração das obras e significaria elevar os custos de mão de obra, dobrar turnos ou contratar mais gente. Ainda assim, afirmam executivos que trabalham na obra, não é certeza de que a hidrelétrica seja entregue no prazo estabelecido. Desde a década de 70, quando os primeiros estudos começaram a ser feitos, Belo Monte é motivo de polêmica.
Pela dimensão do investimento e sua visibilidade no mundo inteiro por causa das questões ambientais, o projeto é alvo de reivindicações e protestos – e ninguém duvida que novas greves e invasões vão ocorrer até o fim da obra.
Pelo cronograma original, as operações da usina devem começar em dezembro de 2014. Hoje, porém, apenas 30% das obras civis estão concluídas.

Chá de cadeira em Dilma - Editorial Estadao

Como desorganizar uma agenda diplomática? Vamos ver:
O padrão de atraso no governo anterior era de 50 minutos, mais ou menos.
O padrão de atraso do bolivarianismo era de 1h:30ms, mas podia ser mais.
Agora, parece que aumentou para 2hs.
Sinal de progresso, de crescimento?
Paulo Roberto de Almeida


Chá de cadeira em Dilma

Editorial O Estado de S.Paulo, 11 de maio de 2013
A presidente do Brasil é Dilma Rousseff, mas isso parece ser apenas um detalhe. Na fabulação bolivariana, ela não passa de uma nota de rodapé ante os "gigantes" Luiz Inácio Lula da Silva, Hugo Chávez e Néstor Kirchner. Por isso, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, não teve nenhum pudor em deixá-la esperando por quase duas horas, durante sua visita ao Brasil, enquanto se encontrava com o ex-presidente Lula. Não foi apenas Dilma que saiu menor desse episódio. É a própria Presidência brasileira que encolhe a olhos vistos ante o menosprezo de Lula pela liturgia do cargo que ele não mais ocupa, mas do qual não consegue "desencarnar". Dilma, por sua vez, obediente e disciplinada, parece aceitar seu status de presidente ad hoc.
Como se sabe, Maduro veio ao Brasil para obter a legitimidade política que lhe falta na Venezuela, graças à truculência com que ele está tratando a oposição - dona de metade dos votos na controvertida eleição vencida pelo herdeiro de Chávez. Maduro enfrenta resistência também nas próprias fileiras chavistas, porque, com a morte do Comandante, se multiplicaram focos de rebelião daqueles que se sentiram preteridos dentro do Politburo venezuelano e relutam jurar lealdade ao presidente.
Já começam a circular rumores de que os próprios chavistas, principalmente o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, estão conspirando para prejudicar Maduro. Suspeita-se que Cabello - que já está sendo chamado de "ditador em espera", é muito ligado aos militares e não é bem visto pelo regime cubano, padrinho de Maduro - esteja incitando a violência para precipitar a crise.
Tudo isso acontece em meio a uma avassaladora crise econômica, cujo lado mais perverso e politicamente explosivo é o desabastecimento de alimentos - que Maduro atribuiu à "sabotagem econômica", sem reconhecer a óbvia incompetência de seu governo. Não surpreende que já haja pesquisas mostrando que, se a eleição presidencial fosse hoje, o vencedor seria o opositor Henrique Capriles.
Nesse contexto, Maduro veio ao Brasil para pedir ajuda - que se traduzirá em acordos comerciais francamente desequilibrados em favor da Venezuela - e para consultar-se com Lula para saber o que fazer. O ex-presidente não o decepcionou. "Hoje, Lula nos banhou de sabedoria", declarou, entusiasmado, o venezuelano, após a audiência que contou também com a presença do presidente do PT, Rui Falcão, numa deliberada confusão de questões de Estado com interesses político-ideológicos. Lula falou durante uma hora sobre sua "experiência de luta", disse Maduro, que qualificou o petista de "pai dos homens e mulheres de esquerda da América Latina". Para o venezuelano, "dos três gigantes que começaram este processo de integração da América Latina, Kirchner, Chávez e Lula, só nos resta Lula". Assim, a visita oficial de um chefe de Estado ao Brasil converteu-se em peregrinação para adorar um santo vivo e beber de seus "ensinamentos".
Somente depois de beijar a mão de Lula e de reconhecer-se como seu "filho" é que Maduro dirigiu-se ao Planalto para ser recebido por Dilma, que lhe reservou honras de Estado, a despeito do chá de cadeira que levou. Não contente em fazê-la esperar, Maduro ainda lhe presenteou com um enorme retrato de Chávez, numa cena constrangedora, que tornou a presidente ainda menor em todo o contexto. Restou a Dilma fazer um discurso curto, protocolar, em que exaltou a "parceria estratégica" entre Brasil e Venezuela e chamou de "momento histórico" o fato de que a Venezuela assumirá a presidência do Mercosul no segundo semestre - situação esdrúxula que só está sendo possível graças a um golpe bolivariano para isolar o Paraguai, que se opunha à entrada da Venezuela no bloco.
À vontade, Maduro sentiu-se autorizado a dizer, sem que a mentira fosse contestada, que o projeto do Mercosul "nasceu em essência das ideias de Chávez". No culto à personalidade de Chávez e Lula, Dilma é cada vez mais apenas uma coadjuvante.

Pequena historia de duas mentiras - Reynaldo Rocha


REYNALDO ROCHA
Blog de Augusto Nunes, 11/05/2013

Não se deve temer a verdade. É bíblico. “A Verdade vos libertará!”. Não é assim?
Mas qual é a verdade dos homens? Sei quais não são. Do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra jamais será. A argumentação do assassino demonstra que continua acreditando na mentira.
Não foi ele quem impediu a implantação de um regime de extrema esquerda no Brasil. Foi o povo nas ruas.
A derrubada de uma ditadura de extrema direita ensinou que toda e qualquer quebra da legalidade deve ser execrada. Aprendemos que deveríamos impedir que outra – de extrema-esquerda – fosse imposta ao Brasil.
A nós, nas ruas, não importava a cor do porco. O essencial era impedir a continuidade da barbárie cometida em nome do Estado e com o uso do mesmo. Sempre quisemos liberdade, dignidade e democracia.
De onde o famigerado Ustra tira a conclusão de que ele seria um “defensor” de nossos direitos, como afirmou no depoimento patético na Comissão da Verdade?
É um anistiado. E em nome do que foi possível ser feito, à época, para dar fim ao pesadelo. Seria salutar que o Brasil passasse a respeitar os compromissos com a história assumidos pelo povo. Ou em nosso nome.
Não propugno a prisão de quem foi anistiado. Anistia é perdão. Foi negociada e não imposta. Foi uma conquista que os que estão agora no poder (e naquela época, onde estavam?) teimam em tentar desprezar, sem entender que desprezam a NOSSA luta.
Mas a Verdade tem que ser dita. Demonstrada e exposta, como antídoto. Ustra foi (e parece continuar a ser) um monstro. Alguém com um grave desvio de conduta. É daqueles que se compraziam com a dor imposta a outros. Com o poder infinito sobre a vida de terceiros.
Acha que quem deveria estar sentado na Comissão da Verdade é o Exército. Precisa explicar melhor o que diz e identificar os alvos que está mirando.
Nada que é erguido sobre mentiras tem a mais remota chance de prosperar. Como a ditadura não prosperou. Foi por isso que as ditaduras — todas — não prosperam. É por isso que democracias centenárias esbanjam saúde.

As democracias são eternas. As ditaduras são acidente de percurso, dolorosos e desnecessários. Estes novos tempos pós-ditadura são diferentes dos anos de chumbo.
O que há em comum entre o que vivemos hoje e o que sofremos ontem é a mentira oficial. É indispensável a demonização dos adversários. Se antes éramos os “comunistas” – nunca fui! – hoje somos os “raivosos direitistas”. Nunca fui!
A ferocidade de um Ustra não tem parentesco estreito com a imbecilidade patética de um Delúbio Soares, a arrogância idiota de um José Genoino, a mitomania de um Dirceu ou a megalomania de um Lula. São males distintos. Um é uma besta humana. Os outros são delirantes corruptos.
Mas há como ver nos dias de hoje as mesmas sementes que germinaram no pântano de 1964. A tentativa de censurar a imprensa, por exemplo. O Brasil que se deve amar ou deixar. A idolatria que substituiu generais por sindicalistas. A procissáo de programas nunca executados: antes a Transamazônica, agora o PAC. A compra de apoios da dita classe (desclassificada) política. O emprego de asseclas (antes os milicos, hoje os companheiros). A alteração da história como instrumento de permanência no poder (antes o perigo vermelho, hoje o desprezo pelo que outros fizeram. Pelo que nós fizemos.)
Ideologicamente, cada vez mais o hoje se parece com o ontem.
Sem Ustras, pois isso seria repetir a barbárie! Com a troca da violência física pela violência moral.
Os lulopetistas somente aprimoraram o método.

Os que os vistantes buscam: um simples reflexo estatistico do blog Diplomatizzando

Limpando comentários ainda não moderados (ou moderados e ainda visíveis nas estatísticas), constatei os acessos mais frequentes no período recente.
Postando apenas como simples reflexo do interesse pessoal dos visitantes ocasionais ou navegadores habituais:

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Paulo Roberto de Almeida