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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Comercio exterior: fim da bonanca internacional?

Queda de básicos tira US$ 20 bi da exportação

Cifra considera retração nas vendas externas em dois anos, afetada pela baixa de preços

Márcia De Chiara, de O Estado de S.Paulo
27 de maio de 2013

SÃO PAULO - A queda nos preços internacionais das matérias-primas agrícolas, metálicas e do petróleo deve tirar cerca de US$ 20 bilhões das exportações brasileiras entre 2011 e 2013, nas contas da consultoria GO Associados. Em 2011, as vendas somaram US$ 196,9 bilhões e em 2012 foram US$ 183,7 bilhões. Para este ano, a previsão é de US$ 176,9 bilhões, quase US$ 7 bilhões menos de receita - em comparação ao ano passado - obtida com a venda de produtos básicos, que respondem por 70% das exportações brasileiras.
Praticamente todos as matérias-primas agrícolas e minerais estão com os preços em queda no mercado internacional por duas razões: o baixo crescimento dos países desenvolvidos e as incertezas sobre o desempenho da China, o grande comprador desses produtos. Entre 2011, ano de pico das cotações das commodities, e abril deste ano, os preços médios em dólar no mercado de commodities agrícolas, minerais e energéticas acumularam queda de quase 12%, segundo o índice CRB (Commodity Research Bureau), referência mundial.
Além dos reflexos negativos na receita de exportação e no saldo comercial do País, os preços em queda já começaram a ter impactos nos planos das empresas. A Vale, a maior produtora de minério de ferro do mundo, cortou em US$ 7,8 bilhões os investimentos programados para este ano. O analista da corretora SLW, Pedro Galdi, lembra que a Rio Tinto também reviu investimentos. O minério de ferro responde por pouco mais de 10% das exportações totais do País, ou US$ 30 bilhões.
Outro sintoma da mudança de humor das empresas ligadas ao setor de produtos básicos aparece nas consultas recebidas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para obter financiamento. No setor químico, por exemplo, houve queda de 51,6% no volume registrado no primeiro trimestre deste ano ante igual período de 2012. No segmento de celulose, o recuo foi de 7% em igual período.
"O cenário hoje é de queda de preço das commodities e isso pesa no saldo comercial", afirma o diretor de pesquisa econômica da consultoria GO Associados, Fabio Silveira. Para este ano, ele projeta que as exportações brasileiras somem US$ 235 bilhões, recuo de 3% sobre 2012 ou US$ 7,6 bilhões menos. Dessa retração, US$ 6,8 bilhões serão provenientes da queda nas vendas de commodities agrícolas e minerais e das quase commodities, como produtos intermediários, além do petróleo.
Em termos de saldo da balança, Silveira calcula que o superávit este ano caia mais da metade: de US$ 19,4 bilhões em 2012 para US$ 8 bilhões. A retração será em boa parte provocada pelas commodities, além do aumento das importações.
Déficit. O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, acredita que a queda nos preços das commodities deve subtrair entre US$ 7 bilhões e US$ 8 bilhões das exportações brasileiras este ano. Além disso, Castro considera que a balança feche 2013 no vermelho, mas ainda não arrisca fazer projeções sobre o tamanho do buraco. Se a previsão se confirmar, será o primeiro déficit desde 2000. "Estamos no fio da navalha do déficit." No ano, até a terceira semana de maio, as exportações somam US$ 84,1 bilhões e as importações, US$ 89,2 bilhões. O déficit é de US$ 5,095 bilhões, segundo o Ministério da Indústria e Comércio.

Roberto Civita: um editor que acreditava no seu trabalho (Abril-Veja)


Por Augusto Nunes
VEJA.com, 26/05/2013

“Gosto de ser editor e o que eu sei fazer é revista”, dizia Roberto Civita. Mesmo depois de 1990, quando a morte de Victor Civita o levou a assumir o comando da Abril e chefiar o processo de diversificação do grupo fundado pelo pai, ele nunca se afastou da atividade que o seduziu definitivamente na década de 60, quando começou a por em prática os conhecimentos assimilados anos antes, na sua segunda temporada nos Estados Unidos. Nascido em Milão, Roberto Civita morou em Nova York de 1939 a 1949, quando veio para São Paulo. O bom desempenho no Colégio Graded garantiu-lhe uma bolsa de estudos nos EUA, onde percorreu, ao longo da década de 50, caminhos que o levariam à descoberta da vocação profissional e à volta definitiva ao Brasil.
Depois de interromper o curso de Física Nuclear na Universidade Rice, no Texas, para diplomar-se em jornalismo e economia na Universidade da Pensilvânia, Roberto Civita conseguiu um estágio na editora Time Inc, que controlava as revistas Time, Life e Sports Illustrated. Durante um ano e meio, familiarizou-se com todos os setores da empresa, da redação à contabilidade. Em 1958, quando Victor Civita perguntou ao filho que acabara de voltar o que pretendia fazer, ouviu a resposta que apressaria a entrada da Abril no universo jornalístico: “Quero fazer uma revista de informação semanal, como a Time, uma revista de negócios como a Fortune e uma revista como a Playboy”, respondeu.
O pai prometeu preparar a empresa para o passo audacioso, consumado em 11 de setembro de 1968, quando chegou às bancas a primeira edição de VEJA. Roberto Civita participou intensamente das experiências pioneiras que resultaram no lançamento de Realidade, Exame, Quatro Rodas ou Playboy. Mas nada o deixava mais emocionado que recordar a trajetória descrita pela primeira revista semanal de informação do Brasil. Foi ele quem a criou. E foi ele o primeiro e único editor de VEJA, hoje a maior publicação do gênero fora dos Estados Unidos.
“Ninguém é mais importante que o leitor, e ele merece saber o que está acontecendo”, lembrava aos recém-chegados. “VEJA existe para contar a verdade. A fórmula é muito simples. Difícil é aplicá-la o tempo todo”. Sobretudo em ambientes hostis à liberdade de expressão, aprendeu Roberto Civita três meses depois do parto da revista. Em 13 de dezembro de 1968, a decretação do Ato Institucional n° 5 transformou o que era um governo autoritário numa ditadura militar sem disfarces. A capa da edição que noticiou o endurecimento do regime exibiu uma foto do general-presidente Arthur da Costa e Silva sentado, sozinho, no plenário do Congresso que o AI-5 havia fechado. Os chefes militares não gostaram da imagem, e ordenaram a apreensão de todos os exemplares. A essa violência seguiu-se a instauração da censura prévia, que só em meados da década seguinte deixaria de tolher os passos de VEJA.
Risonho, cordial, otimista, Roberto Civita sempre acreditou que nenhuma atividade vale a pena se não for praticada com prazer. “Você está se divertindo?”, perguntava insistentemente aos profissionais com quem convivia. Mantinha-se otimista mesmo quando contemplava a face sombria do país. Para ele, o Brasil só conseguiria atacar com eficácia seus muitos problemas se antes aperfeiçoasse o sistema educacional, modernizasse o capitalismo nativo, removesse os entraves à livre iniciativa e consolidasse o estado democrático de direito. “O que VEJA defende, em essência, é o cumprimento da Constituição e das leis”, repetia. Também essa fórmula parece simples. Difícil é colocá-la em prática. Foi o que o editor de VEJA sempre soube fazer.

domingo, 26 de maio de 2013

Brasil-Argentina: uma análise equilibrada por um conhecedor - Dante Sica


Dez anos de kirchnerismo e a relação com o Brasil

26 de maio de 2013 | 2h 06
DANTE SICA - O Estado de S.Paulo
As administrações kirchneristas completaram dez anos de governo ininterrupto, período que a presidente Cristina Kirchner chamou de "década ganha" (em contraste com a chamada "década perdida" dos anos 80), com certo fundamento se a análise se restringir a comparar pontas do ciclo. Mas considerar estes últimos anos como um todo e como um único esquema de política econômica é, a nosso ver, um erro. Porque, de acordo com nosso diagnóstico, ele é composto por três etapas, não uma só. Uma diferença que não é irrelevante, já que os resultados a que se chega seguindo esse caminho abrem um leque de dúvidas quanto aos benefícios da década.
A primeira etapa é a da abundância, caracterizada por alto crescimento num ambiente de baixa inflação, em que a economia mostrava fortalezas macroeconômicas inéditas. Isso se traduziu rapidamente em melhoria dos indicadores sociais, acompanhada por uma política agressiva das autoridades nacionais nesse campo. Nessa etapa, soube-se aproveitar o vento de popa externo que favoreceu toda a região. A isso se somou um ponto de partida pós-crise de 2001-02 muito favorável, com recursos produtivos ociosos e um câmbio real muito elevado, o que possibilitou um crescimento a taxas inéditas sem se chocar com as restrições fiscais e externas, evitando repetir a história das décadas anteriores. Porém, lamentavelmente, durante esse período se falhou em assentar as bases para sustentar o crescimento.
Isso deu passagem a nova etapa, na qual, em vez de melhorar e mudar essas questões, se tentou remendar as falhas da anterior. Uma etapa em que ficou de lado a abundância, as restrições fiscal e externa começaram a operar em maior ou menor medida e, portanto, os graus de liberdade da política econômica se reduziram. Assim, em meio a uma volatilidade mais acentuada associada a essas margens menores e a um contexto externo conturbado, a economia mostrou maior heterogeneidade em termos de crescimento, com tendência à desaceleração e uma característica que distinguiu essa fase: inflação ascendente até se estabilizar em níveis elevados.
Esse período terminou em 2011. Nesse ano todos os remendos nas inconsistências vindas da etapa anterior se mostraram insuficientes para conter as pressões de todo lado sobre a política econômica, forçando uma mudança de regime. Isto é, não só modificações sobre uma mesma base de política econômica, mas uma mudança total das regras do jogo. Isso abriu nova etapa, a da escassez.
Esse período apagou o crescimento. O investimento despencou e a economia parou de gerar postos de trabalho no setor privado. A economia voltou assim a entrar em cheio, definitivamente, nos ciclos stop-and-go que a caracterizaram em todo o pós-guerra, com uma sucessão de recessões e expansões no marco da inflação alta, embora com uma diferença não desprezível: o contexto internacional, representado pelo preço da soja em torno de US$ 500 a tonelada, e uma pressão fiscal inédita, com uma arrecadação que subiu 10% do PIB em todos esses anos. Num cenário com essas características, é praticamente inexplicável que haja falta de dólares e problemas fiscais. Só o mau desempenho das autoridades pode explicar isso.
Uma década de relação oscilante com o Brasil - A relação com o Brasil foi sempre um reflexo dessas etapas por que transitou a economia argentina nas administrações kirchneristas. Os primeiros anos se caracterizaram por forte aumento das importações do sócio principal, o que deteriorou rapidamente o saldo comercial bilateral. Mas também foi marcada por intensa chegada de investimentos brasileiros, que vieram substituir os de países desenvolvidos. Decisões de investimento que foram enquadradas numa estratégia de internacionalização de empresas do país vizinho, na qual o mercado argentino desempenha papel importante.
Mas no contexto de aumento incessante das importações vindas do Brasil começaram a se fazer ouvir vozes reclamando regulamentações do comércio que protegessem a produção argentina, sobretudo no setor industrial, situação que se agravou com a crise internacional. Assim se intensificaram os primeiros acordos sobre cotas para diversos produtos sensíveis.
Esse panorama se agravou ainda mais já bem entrada a terceira etapa. A necessidade de sustentar o superávit comercial como única ferramenta de geração genuína de divisas na economia obrigou a Argentina a implementar restrições amplas e universais à importação de todo tipo de produtos. O objetivo foi reduzir os déficits comerciais mais significativos em nível setorial, alcançando vários itens de que o Brasil é um dos principais provedores, o que endureceu as posições. Em especial porque a redução das importações oriundas do Brasil muitas vezes não foi compensada por maior produção argentina, mas por um aumento simultâneo da entrada de produtos de outras origens.
Esse cenário piora se somarmos a análise dos maus sinais provenientes do lado do investimento, que têm muito que ver com esse clima negativo em matéria comercial, mas também com a crescente incerteza para fazer negócios na Argentina. O caso Vale, incluindo a forma como se tratou a situação em ambos os países, parece ser a gota d'água do velho formato em que se baseou a relação bilateral (ainda que por trás da decisão da empresa mineradora haja questões próprias de seu negócio), abrindo a porta para um novo cenário que terá de se definir em algum momento próximo.
Assim, a relação bilateral parece estar passando por um equilíbrio muito precário. No entanto, o vínculo histórico e estratégico que nos liga permitirá superar esta e qualquer outra contingência. A vontade política e a vocação de integração nos dois países sempre foram suficientes para resolver as questões em aberto. Mas as tarefas pendentes terão de seguir esperando um momento mais oportuno.
DANTE SICA É ECONOMISTA, DIRETOR DA CONSULTORIA ABECEB.COM, FOI SECRETÁRIO DE INDÚSTRIA DA ARGENTINA 

Venezuela: luta de vida ou morte entre os herdeiros do caos

As armas não são exatamente para defender nenhuma soberania e menos ainda uma revolução que ameaça virar luta de foice entre os sucessores presumidos. São para salvar a própria pele do irresponsável que ainda vai contribuir para o aumento da violência, da delinquência, do banditismo, pois milícias desorganizados são um convite para o aumento do caos em que já vive o país.
Paulo Roberto de Almeida

Maduro anuncia que irá armar operários na Venezuela

  • Em ato oficial, presidente venezuelano anunciou a criação das Milícias Operárias Bolivarianas
  • Oposição qualificou o gesto de irresponsável e intimidador
O Globo, 25/05/2013

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CARACAS — O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ordenou às Forças Armadas que armem a classe operária para reforçar a defesa da soberania nacional e garantir a “estabilidade da Revolução Bolivariana”. Em um ato oficial televisionado na noite de quarta-feira, o governante anunciou que entregará até dois milhões de armas para operários e reiterou que o país deve articular força suficiente para “se fazer respeitar”. A oposição pediu que o presidente explique qual a verdadeira finalidade da medida e qualificou o gesto de irresponsável e intimidador.

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- A classe operária será cada vez mais respeitada uma vez que esteja mais consciente e produtiva - disse Maduro na noite de quarta-feira, anunciando que as Milícias Operárias Bolivarianas farão parte das milícias bolivarianas, um corpo criado por Hugo Chávez em 2005. - Seremos ainda mais respeitados se as milícias tiveram 300 mil, 500 mil, um milhão, dois milhões de operários e operárias uniformizados, armados e preparados para a defesa da soberania da Pátria, da estabilidade da Revolução Bolivariana.
Ainda segundo Maduro, a medida deverá armar trabalhadores e estabelecer laços entre associações de profissionais e as Forças Armadas. O presidente também ordenou ao ministro da Defesa, Diego Molero, a avançar o mais rápido possível no estabelecimento e organização da milícia. Mas não deu quaisquer detalhes sobre prazos, números ou sequer se as milícias serão, de fato, armadas. Hoje, estima-se que cerca de 120 mil voluntários façam parte dessa força.
A oposição - que contesta na Justiça o resultado das eleições de 14 de abril e sequer reconhece a legitimidade da Presidência - protestou. Para os críticos do chavismo, essas milícias serão usadas para perpetuar o regime bolivariano.
Nesta sexta-feira, o secretário-executivo da Mesa da Unidade Democrática (MUD), Ramón Guillermo Aveledo, disse que as declarações fazem parte de uma retórica intimidatória que evidencia a incapacidade administrativa do governo. Segundo ele, a ordem ainda contradiz a lei de desarmamento que tramita no Parlamento - e que o governo chavista diz apoiar.
- Que ele pare de dizer esse tipo de besteiras que, em vez de ameaçar, refletem irresponsabilidade - acusou.
O deputado opositor Ismael Garcia, que na semana passada revelou uma gravação de conversas comprometedoras do presidente da Assembleia Nacional, atacou:
- Isso é uma mostra de debilidade; cai mal nos setores que esperam que reine a harmonia e a paz, as empresas, que possam produzir em paz.
A presidente da ONG Controle Cidadão, Rocío San Miguel, também criticou a criação de novas milícias:
- Ele poderia estar interessado em retomar o caminho de uma sociedade obediente e subordinada, porque os membros da milícia não teriam liberdade de reivindicar questões trabalhistas, por estarem sujeitos à disciplina militar.
O anúncio polêmico aconteceu no Teatro Municipal de Caracas, onde Maduro entregou diplomas para a primeira turma da Universidade dos Trabalhadores, composta por 522 profissionais.


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Integracao latino-americana e mercosuliana - Sergio Fausto (InfoLatam)


Integração regional: hora de rever os erros e mudar o rumo


Por SERGIO FAUSTO
InfoLatam, 23 Maio 2013

Quando em 2005, Hugo Chávez, Nestor Kirchner e Diego Maradona encenaram a morte da ALCA, em comício paralelo à 4º Cúpula das Américas em Mar del Plata, o Brasil observou à distância, mas satisfeito. Era o que o governo brasileiro queria. Na óptica da política Sul-Sul, a ALCA era anátema. Representaria um projeto de anexação à economia americana. A integração que corresponderia aos interesses nacionais brasileiros seria essencialmente sul-americana, assentada no eixo Brasil, Argentina e Venezuela, nesta ordem.
Essa premissa levou o governo brasileiro a estabelecer relações especiais com Buenos Aires e Caracas. Na longa controvérsia diplomática entre Argentina e Uruguai em torno da instalação de indústrias de papel e celulose na margem uruguaia do rio que divide os dois países, o Brasil lavou as mãos. Nem o bloqueio sistemático de pontes sobre o rio Uruguai por manifestantes argentinos nem as solicitações do então presidente Tabaré Vázquez, temeroso de uma escalada do conflito, convenceram Brasília a assumir a mediação da discórdia, que acabou resolvida na Corte Internacional de Haia, em favor do Uruguai, em 2010.
Em relação à Venezuela, o governo brasileiro esmerou-se na política de dois pesos e duas medidas. Foi brando com Chávez diante de evidências do apoio de seu governo às FARC e duro com a Colômbia, como deveria ser, quando aviões colombianos bombardearam um acampamento da guerrilha no Equador, em 2008. Não disse uma palavra sobre o crescente autoritarismo do “socialismo do século XXI”, mas, invocando a cláusula democrática do Mercosul, foi implacável no apoio à punição ao Paraguai, quando, em 2012, o Senado daquele país votou o impeachment de Fernando Lugo. Seguiu-se a incorporação da Venezuela ao Mercosul, que se processou de maneira atípica e se consumou de modo arbitrário.
Em sua forma atual, o Mercosul reflete a preferência do governo brasileiro, desde Lula, e sobretudo com Dilma, por uma integração externa limitada, pouco exigente em matéria de abertura comercial e estabilidade das regras do jogo e altamente dependente da mediação governamental e do protagonismo do Estado, de suas empresas e de poucas grandes empresas nacionais. Prevalece em Brasília a visão de que o jogo assim armado é favorável ao país. Afinal, o Brasil entra em campo com gigantes como Vale e Petrobras, companhias privadas brasileiras globais e um banco de investimento, o BNDES, sem igual no hemisfério Sul. O objetivo comum de evitar a “subordinação” econômica da região aos Estados Unidos, as afinidades políticas entre governos e a suposta capacidade do Brasil de enquadrar o chavismo e o kirchnerismo dentro de certos limites de racionalidade econômica e prudência política assegurariam a convergência, sob a liderança do Brasil, dos interesses nacionais dos três países.
A realidade se encarregou de mostrar que o “interesse nacional” assim definido tende a misturar negócios privados com políticas de estado e políticas de estado com preferencias político-ideológicas, e que a propalada liderança brasileira é em grande parte ilusória. Nesses últimos anos, Venezuela e Argentina avançaram ininterruptamente na destruição das instituições formais e informais que assegurariam um funcionamento razoavelmente normal e previsível de suas economias e sociedades. E não hesitaram em contrariar os interesses do Brasil quando assim decidiram fazer. Livres do “imperialismo americano”, ambos os países foram submetidos à vontade de um poder nacional estatal exercido de forma personalista e arbitrária. Só isso pode explicar por que a Venezuela, com sua riqueza petroleira, num período de duradoura e exuberante alta dos preços internacionais do petróleo, vive hoje uma crise crônica de escassez de divisas e energia, com desabastecimento de vários produtos e apagões constantes. O mesmo se pode dizer, com diferença de grau apenas, em relação à Argentina, um país que dispõe de amplas reservas de gás natural e petróleo e oferta exportável de bens agropecuários, também favorecidos pelos preços internacionais. E que parece à beira de uma crise cambial.
Empresas brasileiras estão fechando as portas na Argentina. A Vale e a Petrobras descobriram que o apoio do governo brasileiro não é suficiente para proteger os seus interesses no país vizinho. Na Venezuela, grandes empreiteiras brasileiras têm uma carteira de projetos estimada em 20 bilhões de dólares. Só o incerto futuro dirá o retorno que terão esses investimentos. De alguma maneira, o setor privado se ajustará às novas realidades. Empresas desse porte têm capacidade de absorver perdas e redirecionar seus investimentos para lugares mais promissores. Não deveríamos nos preocupar com seus eventuais problemas, a não ser pelo fato de que recursos públicos foram empregados para viabilizar parte significativa de seus investimentos.
Mais importante é reorientar a política externa brasileira para a região, sem jogar fora o bebê com a água do banho. Ela não pode estar dissociada de uma visão mais realista do mundo. O Brasil não precisa reproduzir o modelo de inserção externa adotado por países como Chile, Peru, Colômbia e México. Mas não pode ignorar o fato de que a opção por um modelo ALCA plus Ásia, com múltiplos tratados de livre comércio, maior abertura das economias, maior protagonismo do setor privado e menor discricionariedade governamental vem produzindo resultados consistentemente superiores aos obtidos pela opção por um modelo Mercosul minus ALCA. O que está em jogo não são siglas, mas uma revisão dos pressupostos que têm orientado a agenda de desenvolvimento e inserção externa do país nos últimos dez anos. Não é fazer mais do mesmo, um pouco melhor. É fazer diferente. E isso requer uma nova visão e uma nova liderança política em Brasília.

O Bolsa Familia e a lei das consequencias involuntarias

Na sequencia do post anterior, retiro este argumento, que parece aplicar-se perfeitamente ao Bolsa Familia:

The law of unintended consequences codified the idea that the most ambitious government programs will have the most unexpected consequences, many of them malignant.

A semana que passou assistiu ao caos social no Nordeste ( mas revelador de certa psicologia coletiva nacional) derivado do boato sobre o término do programa assistencialista (e eleitoral) e também a reclamações de alguns beneficiários, para quem a esmola é tão pouca (na faixa de 170 reais, segundo a declaração) que "não dá nem prá comprar uma calça para a filha, que está custando 300 reais". 
Pois é, essa é uma perfeita demonstração da lei das consequências involuntárias. 
Governos populista e demagogos, como o nosso, estão sempre recaindo nela. Nós pagamos, claro. 
Paulo Roberto de Almeida

Os NeoConservadores Americanos - Patrick N. Allitt (blog do José Galisi Filho)


SEGUNDA-FEIRA, 23 DE JULHO DE 2012

The Neoconservatives 

by Prof. Patrick N. Allitt - Goodrich C. White Professor of History, Emory University (TTC Lecture)

Lecture Twenty-Seven The Neoconservatives

Scope: Among the earliest and sharpest critics of the new conservatives in the 1950s had been a group of liberal social scientists centered at Berkeley, Harvard, and Columbia, including Daniel Bell, Nathan Glazer, Samuel Huntington, and Daniel Patrick Moynihan. In the 1960s, however, many of them, reacting to the decade's social turbulence, began to raise doubts about the governability of their society and about the need for less far-reaching government programs. In 1965, Bell launched a new journal, The Public Interest, with Irving Kristol, dedicated to such practical policy questions as urban renewal, law and order, education, and racial politics. Before long, they and their contributors noticed a strong moral element in their ostensibly neutral analysis and admitted that they were implicitly arguing for traditional virtues. Although many of them had grown up on the political left, they gradually became known as the "neoconservatives" and, for the most part, accepted the label. Less tradition-oriented than most of the National Review group, and more confident that government programs can sometimes be benign, they nevertheless found themselves converging with their former antagonists, often to their own astonishment.

Outline

I. Daniel Bell's anthology, The New American Right (1955), was the most concentrated attack on the new conservatives in the 1950s.
A. It used social-psychological models to explain their conduct, rather than engaging in an analysis of ideas.
B. At its worst, it insinuated a continuity between European fascism and American conservatism.
C. This generation of sociologists was influenced by Theodor Adorno's The Authoritarian Personality.
D. Richard Hofstadter described the conservatives' approach to politics as part of the "paranoid style" and dismissed them as "pseudo-conservatives." E. William Buckley and Russell Kirk answered, in reviews, that if anyone needed psychological treatment, it was the liberal intellectuals.

II. Liberal social scientists were unnerved by the social upheavals of the 1960s and began to fear that America was becoming ungovernable.
A. Proud of their resistance to McCarthyism, they were not accustomed to being attacked from the left.
B. The new left regarded liberal intellectuals as supporters of the military-industrial complex.
C. As senior academics, they often suffered the brunt of student criticism in the campus uprisings.
D. Samuel Huntington speculated about the destabilizing character of too much political involvement, in direct contradiction of the idea that all citizens should take an interest in politics.

III. Daniel Bell and Irving Kristol launched The Public Interest in 1965 as an ostensibly nonideological policy journal.
A. Its contributors emphasized accurate, statistically informed studies of urban and social problems and offered practical solutions.
1. Many of the contributors were members of the New York intellectual family, mostly secular Jews.
2. Kristol himself was a former Trotskyist, long accustomed to arguing against Stalinists. B. Daniel Patrick Moynihan and Nathan Glazer had shown, in Beyond the Melting Pot (1963), that ethnic groups do not disappear in America. This discovery had implications for American racial policy after the civil rights movement.
C. Moynihan's report on African American families (1965) caused a furor and contributed to Moynihan's alienation from mainstream liberalism.
D. Glazer and other contributors began to criticize affirmative action.
1. It was based on a false idea about what society is actually like.
2. It cast doubt on minorities' achievements and provoked a white backlash.
E. Edward Banfield's The Unheavenly City (1970) won widespread praise from conservatives for its harsh summary of inner-city problems.
1. Banfield singled out the "preconventional morality" of the urban underclass.
2. The riots, he argued, were for "fun and profit" and were not political rebellions. F. Norman Podhoretz brought Commentary into the neoconservative orbit. In 1970, it began to attack feminism, black radicalism, and the McGovern movement in the Democratic Party.

IV. Among the neoconservatives' most distinctive ideas were the concept of the new class, the law of unintended consequences, and the theory of mediating structures.
A. The new class, according to their theory, thrives in bureaucracy and is sentimentally attached to the adversary culture rather than to the values of the bourgeois middle class.
B. The law of unintended consequences codified the idea that the most ambitious government programs will have the most unexpected consequences, many of them malignant.
C. Peter Berger, Richard Neuhaus, Michael Novak, and others developed the idea of mediating structures that stand between the individual and the state, generating healthy individuals and a healthy society. These include family, church and synagogue, and voluntary organizations.
D. In the late 1970s, neoconservatives also began to write with greater appreciation about capitalism. Suggested Reading: Banfield, The Unheavenly City. Dorrien, The Neoconservative Mind. Kristol, Two Cheers for Capitalism. Steinfels, The Neoconservatives.

Questions to Consider:

1. What events and conditions led this group of ex-radical liberals to change their political identities in the 1960s and 1970s?
2. Why was the controversy surrounding the Moynihan report so intense?

http://history.emory.edu/home/people/faculty/allitt.html

E por falar em decadas perdidas, a Argentina ja acumulou pelo menos oito...

Lembro-me perfeitamente bem, mais de dez anos atrás, quando o Brasil já tinha saído de suas décadas perdidas -- grosso modo o período que vai da crise da dívida externa, em 1982 (mas ela tinha raízes ainda no primeiro choque do petróleo, em 1973), até a estabilização parcialmente alcançada em 1994, e consolidada em 1999-2000 -- aí pelas alturas de 2001-2002, quando a Argentina ainda se debatia nas agruras da sua crise terminal da lei de conversibilidade e não tinha ainda entrado na gloriosa década dos K, a partir de 2003, lembro-me, pois, perfeitamente bem de uma discussão que tive com um alto figurão da república dos companheiros, que também se preparava, então, para tomar o poder, discussão na qual esse figurão (aliás do MRE) defendia ferrenhamente a decisão argentina de moratória unilateral (que até hoje não foi completamente absorvida pelas vítimas do calote) e as decisões posteriores de intervenções pesadas no jogo econômico, com perdas enormes para as empresas nacionais e estrangeiras que tinham investido em diversas áreas abertas pelo Estado na "década menemista", e eu, modestamente, dizia que tudo isso iria custar muito caro à Argentina e ao povo argentino.
Pois bem, parece que fui desmentido por muitos anos de grande crescimento argentina durante a primeira era dos K (mas muito era recuperação da enorme descida aos infernos nos anos 2001 e 2002, com um recuo de talvez 10 ou 15% no PIB), mas eu persistia em dizer que o preço ainda seria pago um dia.
Acho que esse dia já chegou, e a Argentina vai pagar caro, e o seu povo idem, coitado, por todos esses anos de abusos inacreditáveis não apenas contra a teoria econômica e o que dizem os manuais de faculdade, mas sobretudo contra os mais elementares princípios da boa conduta nos assuntos públicos, com atropelos constantes à legalidade e à própria constitucionalidade.
Os companheiros, que aplaudiam ruidosamente a conduta argentina -- principalmente seu calote contra os banqueiros internacionais, mostrando aliás que eles nunca entenderam de mercados financeiros -- devem estar hoje apreensivos, ao ver que esse "modelo" está fazendo água, e o pior é que vai prejudicar ainda mais o Brasil, como já tinha prejudicado desde os anos 1990 e especialmente a partir de 2002-2003, ante a completa passividade do nosso irresponsável dirigente, que deixou de defender os interesses nacionais e foi cúmplice no afundamento do Mercosul.
Mais um crime econômico que pode ser creditado ao inacreditável desastre moral que tem sido a nossa lula-década.
Paulo Roberto de Almeida


Os Kirchners e a década perdida

25 de maio de 2013 | 2h 04
Editorial O Estado de S.Paulo
Numa nova tentativa de reconquistar parte do apoio que a presidente argentina Cristina Kirchner perde velozmente, a Casa Rosada vem procurando popularizar o nome de "década ganha" para a grande festa de comemoração dos dez anos da chegada dos Kirchners ao poder. Para boa parte dos argentinos e, certamente, para a grande maioria dos produtores rurais, no entanto, a festa, se simbolizar alguma coisa, sintetizará uma década perdida.
A produção e as exportações de itens que, no passado recente, caracterizaram a pujança da agroindústria argentina estão em queda, há desânimo no campo e os agricultores lamentam a perda da oportunidade aberta no mercado internacional aos exportadores de commodities, com o alto preço desses itens. Mesmo que, daqui para a frente - numa inesperada e improvável correção de suas políticas nocivas para o setor produtivo e punitivas para os consumidores -, o governo Kirchner faça as coisas certas e libere as exportações, as vantagens para o país serão bem menores do que poderiam ter sido: os preços das commodities estão em queda.
Os problemas para a agricultura argentina começaram no governo de Néstor Kirchner (2003-2007). Sua sucessora e esposa, Cristina Kirchner, que está no segundo mandato presidencial, criou outros e, por causa do estrito controle exercido pelo secretário de Comércio Interior de seu governo, Guillermo Moreno, vem tornando ainda mais difícil a produção e, sobretudo, as exportações. Embora pareçam surpreendentes, os dados recentes sobre a notável perda de importância da agricultura argentina no cenário mundial são a consequência inevitável da política kirchnerista.
A Argentina é historicamente conhecida como importante produtor de carne bovina, pela qualidade de seu produto e, sobretudo, pela condição de ser um dos principais fornecedores mundiais. Cada vez mais, porém, o estrangeiro que quiser provar a qualidade desse produto terá de fazê-lo em território argentino. A carne foi o primeiro produto a entrar na lista baixada pelo governo Kirchner (o presidente era Néstor, morto em 2010) de itens que teriam sua exportação controlada, sob o argumento de que era necessário "garantir a oferta doméstica e preços acessíveis".
Disso surgiram duas consequências. A carne tornou-se um dos alimentos básicos mais caros da dieta dos argentinos. E a Argentina, que chegou a ser o terceiro maior exportador de carne do mundo, hoje está na 11.ª posição e exporta menos do que o Uruguai e o Paraguai (o Brasil é o segundo maior exportador, atrás da Austrália).
Em 2005, a Argentina exportou 771 mil toneladas de carne; em 2012, apenas 183 mil toneladas. As vendas externas do produto são taxadas com um imposto adicional de 15%, chamado de retenção. Além disso, os frigoríficos dispõem de cotas de exportação rigidamente fixadas por Moreno e seu fornecimento para o mercado doméstico está sujeito a tabelamento.
Como resultado, os pecuaristas passaram a se dedicar a outras atividades, como a produção de soja, cuja exportação está sujeita a uma retenção maior (35%), mas não depende de cotas. O rebanho, de 57 milhões de cabeças em 2007, se reduziu para 48 milhões em 2010. Houve uma pequena recuperação nos dois últimos anos.
O país vem perdendo posições também nas exportações de outros produtos, como leite e trigo. O problema tornou-se crítico no caso das exportações da área de energia. Em 2011, a Argentina tornou-se o quarto maior exportador mundial de biodiesel, mas, desde o ano passado, enfrenta crise nessa área. A produção no primeiro trimestre deste ano foi 39,8% menor do que a de igual período de 2012, enquanto as exportações diminuíram 51,2%.
É a consequência do gesto populista de maio de 2012, quando o governo Kirchner estatizou as ações que a espanhola Repsol detinha na petrolífera YPF. Em represália, a Espanha suspendeu as importações do biodiesel argentino. E a Espanha é a principal porta de acesso do produto à União Europeia, que absorvia 75% das exportações do biodiesel argentino.

Obra atrasada e "x" vezes mais cara: alguem esperava outra coisa?

Obra pública geralmente é assim, especialmente em certos governos, competentíssimos em práticas wue imaginávamos restritas a certos meios...
PRA

Obra da Transnordestina nem chegou à metade, mas orçamento quase dobrou

Acordo entre governo e CSN deve elevar o preço de R$ 4,5 bilhões para mais de R$ 8 bilhões, ampliou concessão em mais 30 anos e estendeu prazo de entrega de 2010 para 2015

SÃO PAULO - Com dois anos e meio de atraso, as obras da Ferrovia Transnordestina, uma das grandes promessas do governo Lula, ainda não estão nem na metade, mas o orçamento não para de crescer. Começou com R$ 4,5 bilhões, em 2007; foi reajustado para R$ 5,4 bilhões, em 2010; e acaba de ser revisto para R$ 7,5 bilhões. O detalhe é que o aumento do custo não vai parar por aí: por contrato, o valor é corrigido pela inflação e, segundo pessoas envolvidas no projeto, já estaria em mais de R$ 8 bilhões.
Embora seja uma obra privada, a Transnordestina nasceu como um projeto para ser executado pelo governo federal. Sem verbas e enrolada na burocracia, a obra nunca saiu do papel e foi repassada como uma missão à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), do empresário Benjamin Steinbruch. Ele já tinha a concessão de uma ferrovia no Nordeste e o direito de operar a nova Transnordestina.
A estrada de ferro começa no sertão do Piauí e seus 1.728 km de trilhos passarão por cerca de 80 cidades em três Estados, até chegar aos portos de Pecém (CE) e Suape (PE). Foi desenhada para escoar a produção de novas fronteiras agrícolas da região e incentivar investimentos no semiárido, como exploração de ferro e gesso.
Ao transferir o projeto para a CSN, a administração federal prometeu financiamentos de bancos e órgãos públicos, como o (BNDES) e o Banco do Nordeste. Por esse motivo, a revisão do orçamento, pleiteada desde 2011, dependia do aval do governo.
O acordo fechado com a CSN vai além do preço da obra e inclui ainda a prorrogação do contrato de concessão da Transnordestina por mais três décadas, novo prazo para entrega das obras, renegociação de dívidas e a criação de uma nova estrutura empresarial. O Ministério dos Transportes confirmou o acordo, por meio de nota. A CSN não quis se manifestar.
Atraso. Além da complexidade de lidar com vários pontos em aberto, as negociações se arrastaram também por causa da irritação da presidente Dilma Rousseff com a CSN. Desde que era ministra da Casa Civil, ela reclamava e ameaçava retomar a concessão por causa dos atrasos nas obras. Na visão da presidente, a CSN fazia corpo mole para forçar a renegociação do contrato. Sem ser atendida, a CSN reduziu o ritmo das obras.
No início, as obras atrasaram por dificuldades nas desapropriações - que eram responsabilidade dos Estados - e porque as liberações de verbas do governo foram feitas de forma irregular, ditando o ritmo da construção. E o custo do empreendimento estourou porque o orçamento foi feito com base em avaliações irrealistas desde o começo. Os primeiros estudos já apontavam que o valor mais razoável da obra girava em torno de R$ 8 bilhões. Só que o governo pediu mudanças no projeto e reduziu o valor para R$ 4,5 bilhões. É uma repetição do que tem ocorrido com a usina hidrelétrica de Belo Monte, cujo investimento começou com R$ 16 bilhões e já está em R$ 30 bilhões.
Cisão. O acerto entre o governo e a CSN prevê ainda um novo cronograma para entrega da obra: dezembro de 2015, segundo o Ministério dos Transportes, que liderou a negociação. Outra reivindicação da CSN foi a extensão do tempo de concessão da Transnordestina por mais 30 anos, a partir de 2027, quando vence o prazo original. O contrato está valendo desde 1997 e, por causa dos atrasos, a empresa já perdeu 16 anos de concessão sem explorar a nova ferrovia.
Para destravar de uma vez o acordo, a ANTT assinou com a CSN um aditivo ao contrato de que permitiu a renegociação de R$ 6 milhões em multas pelo descumprimento de obrigações contratuais. Os débitos foram parcelados e os compromissos pendentes ganharam novos prazos. Outra mudança para melhorar a operação foi a cisão das concessões, com a criação de duas empresas. Uma ficará com a malha existentes e a outra com os 1.728 km da Nova Transnordestina. As dívidas serão separadas e os acionistas, como Valec e BNDES, terão as participações elevadas.
Com as mudanças, a ferrovia ganha uma nova chance para se tornar realidade. Ainda assim, se tudo der certo, ela será entregue com cinco anos de atraso e pelo dobro do preço.

Governo Obama intimida jornalistas e seus proprios funcionarios - NYT

Leak Inquiries Show How Wide a Net U.S. Cast
WASHINGTON — Even before the F.B.I. conducted 550 interviews of officials and seized the phone records of Associated Press reporters in a leak investigation connected to a 2012 article about a Yemen bomb plot, agents had sought the same reporters’ sources for two other articles about terrorism.
In a separate case last year, F.B.I. agents asked the White House, the Defense Department and intelligence agencies for phone and e-mail logs showing exchanges with a New York Times reporter writing about computer attacks on Iran. Agents grilled officials about their contacts with him, two people familiar with the investigation said.
And agents tracing the leak of a highly classified C.I.A. report on North Korea to a Fox News reporter pulled electronic archives showing which officials had gained access to the report and had contact with the reporter on the day of the leak.
The emerging details of these and other cases show just how wide a net the Obama administration has cast in its investigations into disclosures of government secrets, querying hundreds of officials across the federal government and even some of their foreign counterparts.
The result has been an unprecedented six prosecutions and many more inquiries using aggressive legal and technical tactics. A vast majority of those questioned were cleared of any leaking.
On Thursday, President Obama ordered a review of Justice Department procedures for leak investigations, saying he was concerned that such inquiries chilled journalists’ ability to hold the government accountable. But he made no apology for the scrutiny of the many officials whose records were searched or who had been questioned by the F.B.I.
“He makes the case that we have 18-year-olds out fighting wars and acting like adults, and we have senior administration officials quoted in stories acting like children,” said Tommy Vietor, a former National Security Council spokesman. Mr. Obama and top administration officials say some leaks put Americans at risk, disrupted intelligence operations and strained alliances.
Some officials are now declining to take calls from certain reporters, concerned that any contact may lead to investigation. Some complain of being taken from their offices to endure uncomfortable questioning. And the government officials typically must pay for lawyers themselves, unlike reporters for large news organizations whose companies provide legal representation.
“For every reporter that is dealing with this, there are hundreds of national security officials who feel under siege — without benefit of a corporate legal department or a media megaphone for support,” said a former Obama administration official. “There are lots of people in the government spending lots of money on legal fees.”
When an agency spots classified information in the news, officials file what is called a “Crimes Report” with the Department of Justice answering 11 standard questions about the leak, including the effect of the disclosure “on the national defense.”
F.B.I. agents then set out to find the leaker, a process that has become far easier in recent years as e-mail and other electronic records have proliferated.
Officials who have been questioned in the current investigations are reluctant to describe their experiences. But the account of William E. Binney, who spent more than 30 years at the National Security Agency, shows what can happen.
Mr. Binney, 69, who retired from the N.S.A. in 2001, was one of several people investigated in an inquiry into a 2005 Times article on the spy agency’s warrantless wiretapping program.
He was cleared of any wrongdoing, but the investigation derailed his career and changed his life. Starting in March 2007, Mr. Binney said, he was interviewed by the F.B.I. three times and felt he had cooperated fully.
But in July 2007, a dozen agents appeared at his house in Severn, Md. One of them ran upstairs and entered the bathroom where Mr. Binney was toweling off after a shower, pointing a gun at him.
Agents carried away a computer, disks and personal and business records. Last year, he and three former N.S.A. colleagues went to federal court to get the confiscated items back; he is still waiting for some of them.
Mr. Binney spent more than $7,000 on legal fees. But far more devastating, he said, was the N.S.A.’s decision to strip his security clearance, forcing him to close the business he ran with former colleagues, costing him an annual income of $300,000.
“After a raid like that, you’re always sitting here wondering if they’re coming back,” Mr. Binney said. “This did not feel like the America we grew up in.”
One of the most striking recent revelations about the Obama administration’s pursuit of leakers was the disclosure that the Justice Department had obtained e-mails from the Google account of James Rosen of Fox News, in which he corresponded with a State Department analyst suspected of leaking classified information about North Korea. Investigators routinely search the e-mails of suspected leakers, but Congress has forbidden search warrants for journalists’ work product materialsunless the reporter committed a crime.
A 2010 affidavit seeking the warrant — necessary, an F.B.I. agent wrote, because the analyst had deleted e-mails in his own accounts — said Mr. Rosen qualified for that exception because he violated the Espionage Act by seeking secrets to report.
No American journalist has been prosecuted for publishing classified information, and the administration insisted it has no intention of doing so. Attorney General Eric H. Holder Jr. signed off on the warrant request.
Of the thousands of leaks that have played a crucial role in the ebb and flow of public discourse over the years, only about a dozen resulted in criminal charges against those accused of disclosing the information, according to David Pozen, a law professor at Columbia University.
But the government’s willingness to go after journalists’ e-mail and phone records without warning their news organizations — a practice that allows them to challenge the demand in court — appears to be increasing.
“There seems to have been a shift in attitude,” said Steven Aftergood, who directs a project on government secrecy for the Federation of American Scientists. “The latest revelations indicate that reporters’ communications are now fair game.”
By contrast with the secret subpoena for A.P. and Fox News records, prosecutors openly demanded phone records from two Times journalists nine years ago — and set off a court battle.
A prosecutor sought the reporters’ phone records to see whether anyone had tipped them off about a planned seizure of assets from an Islamic charity in Illinois suspected of helping to finance Al Qaeda. Prosecutors argued that a call from one of the reporters to charity officials had led them to shred documents before a federal raid on their offices.
The Times balked, saying the work of the reporters, Philip Shenon and Judith Miller, was protected under the First Amendment. After a federal judge ruled for the newspaper, the Bush administration appealed, eventually winning the case and obtaining the records — two years after the subpoena. No charges resulted.
It is not clear how often the government has obtained reporters’ communications records. In the North Korea case, the F.B.I. obtained call logs for five lines related to Mr. Rosen, and — as in the A.P. investigation — notified the news organization only afterward. That was nearly three years ago, a law enforcement official said. But the subpoena’s existence became public only this month, when unsealed court papers also showed the government had obtained the warrant for Mr. Rosen’s e-mails. F.B.I. agents also studied one official’s entrances and exits from the State Department, obtained his Yahoo e-mail information and even searched his hard drive for deleted files, documents unsealed this month showed.
On Saturday, a Fox News executive said that the notice had gone to News Corp., its parent company, on Aug. 27, 2010, but that Fox News was not told until Friday. The executive said they were still trying to sort out how the notice fell through the cracks.
Erin Madigan, an A.P. spokeswoman, also said The A.P. was not contacted by the government about leak investigations into two 2010 articles. One, by the reporters Matt Apuzzo and Adam Goldman, published on June 30, 2010, contained extensive details from an indictment, then still sealed, against Adnan Shukrijumah, accused of being a Qaeda operative.
The other, published on July 8, 2010, written in part by the same reporters, was about the arrest of terrorism suspects in Norway.
In both the Norway article and the more recent one about Yemen, The A.P. disclosed that it had delayed publication at government officials’ request. But law enforcement officials said the leaks werealarming because someone had shared information while overseas intelligence operations were still under way.
The investigation into reporting by David E. Sanger of The Times, about efforts to sabotage the Iranian nuclear program, appears to be one of the most active inquiries. Mr. Holder publicly announced the investigation last June, the same day he took similar action in the A.P. Yemen case.
Mr. Obama, responding to criticism that his administration has gone too far in pursuing leakers, has also now revived support for enacting a federal media shield law. It would put the decision about whether to subpoena a journalist’s phone records before a judge rather than leaving it to the Justice Department, although the decision would be heavily weighted toward the government in national security cases.
Separately, more than a year ago, a federal judge ruled that the First Amendment already gave her the power to quash a subpoena for testimony by a Times journalist, James Risen, in the prosecution of a former C.I.A. official accused of leaking about an earlier effort to disrupt the Iranian nuclear program. The Obama administration has appealed.

Vao continuar a zombar de nossa passividade, querem apostar?

O personagem já deveria ter sido sacado de onde está na primeira denúncia efetuada, ainda antes de ter tomado posse, mas o fato de ter sido preservado contra ventos e marés, com muitas outras denúncias efetuadas, indica um outro tipo de proteção, a que nasce de certas corporações dedicadas, se é que vocês me entendem...
Quosque tandem abutere, etc., etc., etc...
Paulo Roberto de Almeida

Por Rubens Valente e Andreza Matais, na Folha:


O ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento), um dos mais próximos da presidente Dilma Rousseff e cotado para coordenar sua campanha à reeleição, é acusado pela Procuradoria-Geral da República de ser “autor de delitos” e ter “concorrido ativamente” para o desvio de R$ 5 milhões da Prefeitura de Belo Horizonte em 2004, quando era prefeito da cidade. A Folha teve acesso ao inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). O caso está sob a relatoria do ministro José Dias Toffoli. Ele deve apresentar seu voto ao plenário do tribunal, que decidirá se abre ação penal.

O inquérito analisa as circunstâncias da contratação, pela Prefeitura de Belo Horizonte, da Câmara dos Dirigentes Lojistas local para implantar o projeto “Olho Vivo”, que previa a instalação de 72 câmeras para coibir crimes no centro da cidade. O documento da Procuradoria, datado de março de 2012, é assinado pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e sua mulher, Cláudia Sampaio, e acusa diretamente o ministro: “O denunciado [Pimentel] concorreu ativamente para o desvio dos R$ 5 milhões em favor da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte”.

(…) 


E a Apple inventou o iTax... - Editorial New York Times


The New York Times


May 25, 2013

‘A’ Is for Avoidance

Even before last week’s Senate hearing on Apple, it was clear that the aggressive use of tax havens and other tax avoidance tactics had become standard operating procedure for global American companies.
Microsoft and Hewlett-Packard were the focus of a similar Senate hearing last September, while Google, Amazon and Starbucks have drawn recent scrutiny in Europe. And, of course, there is General Electric, which achieved a perfect zero on its United States tax bill in 2010. In fact, G.E. was reputed to have the world’s best tax avoidance department until Apple came along with tactics to stash some $100 billion in Ireland without paying taxes on much of it anywhere in the world and, apparently, without breaking any law.
And that is the problem. Rampant corporate tax avoidance may not be illegal, but that doesn’t make it right or fair.
As corporate tax revenue has withered as a share of the economy and as a share of total revenue, Washington has leaned more heavily on individuals to pay for government. In 2012, personal income taxes and payroll taxes raised $1.9 trillion, compared with $242 billion raised from corporate taxes, a disparity that contributes to widening inequality and, in turn, to a slow economy and less social mobility. Congress’s Joint Committee on Taxation estimates that fully taxing the profits sheltered abroad by American corporations would raise an additional $42 billion in revenue this year, enough to end more than half the spending cuts in the sequester.
Yet it is not clear that lawmakers are committed to stopping widespread tax avoidance. Instead, they may further entrench the system, or even make it worse. The most immediate issue involves a tax repatriation holiday. Under the law, American corporations can defer paying tax on their profits as long as the money is held abroad. Apple is one of nearly two dozen major corporations pushing for a tax holiday, which would permit corporations to bring their foreign-held profits to the United States over the course of a year at a discounted tax rate.
A tax holiday in 2005 dropped the rate from 35 percent to 5.25 percent, enticing corporations to repatriate some $300 billion. It was billed as a way to create jobs and boost investment, but it was a total policy failure. The repatriated money was mostly used for dividend payments, share buybacks (which tend to raise executive pay) and severance pay for employees laid off in corporate restructuring. The holiday rewarded aggressive tax avoidance, with 77 percent of the repatriated profits coming from tax haven countries, according to the Government Accountability Office.
Worse, that tax holiday encouraged American companies to come up with even more ways to shift profits abroad in anticipation of a second tax holiday. Since the last holiday ended, profits held in foreign countries have skyrocketed, according to expert testimony at the tax avoidance hearings in the Senate last year. American corporations now have an estimated $2 trillion stashed abroad.
Some American corporations are also lobbying for a new “territorial” tax system, which would, in effect, be a permanent holiday: profits made or shifted abroad would be forever untaxed in America, even if the country where the profits were held was a haven with no or low taxes. That would further encourage the shift of jobs, investment and profit abroad — exactly the wrong policy direction.
Equally pernicious is the notion, shared by members of both political parties, that corporate tax reform should be “revenue neutral” — meaning that it should simplify the code but not raise any taxes. That is absurd. It would leave the nation chronically short of revenue and increasingly reliant on working people to shoulder the tax burden.
Global corporations present difficult issues for which there are no easy answers, but it is clear what we should not do. And there are steps that can be taken in the short run to curb abusive tax avoidance. Corporations should be barred from deducting expenses against foreign-held profits on which taxes are deferred, as is currently allowed. Congress also needs to end a practice known as “check the box,” which allows companies to easily create the requisite corporate structures to shift profits offshore. Tax rules and enforcement must be tightened to ensure that profits attributable to patents, design, marketing and other intangibles developed in the United States are indeed taxed in the United States. A more permanent fix would end tax deferral of foreign-held profits, imposing American taxes on profits when they are made.
The revelations in the hearings on Apple and other companies have given Congress all the evidence it needs to justify new corporate taxes. But there are no signs yet that it has the courage to impose them.

Seremos submergidos pelos idiotas? A proposito de uma pesquisa...

Comentário recebido de um leitor anônimo, sobre o post nele indicado.
Não partilho da tese da conspiração dos néscios, mas cada vez que sou obrigado a frequentar uma repartição pública de serviços para o público em geral, ou que tenho de ser atendido por algum balconista de qualquer tipo de produto ou serviço, ou, então, vários minutos depois que consegui superar o terrível encadeamento de números opcionais para, enfim, chegar num atendente humano (será?), homem, mulher, ou de qualquer outro sexo, tenho a nítida impressão de que os responsáveis por esses serviços (serviços???!!!), escolheram, sim, os de QI mais elementar só para nos infernizar um pouco mais a vida.
Tampouco acredito num QI único, um conceito perigoso -- pronto para ser manipulado por psicólogos  mal-intencionados, como já tinha demonstrado Stepen Jay Gould, em The Mismeasure of Man --  mas acho que certos primatas ditos superiores não deveriam ter saído da copa das árvores para acompanhar o resto da malta nas peregrinações pela savana...

Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Pesquisa indica que a humanidade ficou mais burra ...":

Desde o início dos anos sessenta que a população escolarizada usa métodos anti-conceptivos. Os ignorantes por sua vez aumentaram em progressão geométrica graças à diminuição da mortalidade infantil. A alteração das leis da natureza gerou um nivelamento por baixo.

E depois dizem que a Natureza é sábia...
Paulo Roberto de Almeida