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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Os doze trabalhos da boa governança - Paulo Roberto de Almeida

De vez em quando sou "despertado" para um trabalho antigo por algum estudante que precisa fazer um trabalho universitário, ou por um simples curioso, em busca de algum título apelativo dentre meus trabalhos que não está imediatamente disponível.
Pois acaba de me acontecer mais uma vez, ao receber esta mensagem:

"Por favor, gostaria se possível receber por e-mail seu artigo Os doze trabalhos da boa governança.
Antecipadamente agradeço
"

Já mandei, mas aproveitei para dar uma olhada, sem ler inteiramente (11 páginas é para quem tem tempo...).
Mas, nestes tempos em que temos de presidente uma "gerentona" (ao que dizem; e é isto, pelo menos, que nos querem fazer acreditar seus conselheiros de comunicação, gente que aliás eu detesto), parece que minhas regras de good governance ainda podem ter alguma utilidade.
Mas, eu sou um otimista: sempre acho que as pessoas no poder vão ser tão eficientes quanto um administrador a la Peter Drucker.
Acho que não. Mas espero pelo menos que eles deixem de roubar.
Acho que também não.
Enfim, seja o que for, vamos ao que interessa.
Paulo Roberto de Almeida

440. “Os doze trabalhos da boa governança”, revista eletrônica Espaço Acadêmico (nº 34, março 2004, ISSN: 1519.6186; link: http://www.espacoacademico.com.br/034/34pra.htm); boletim Análi$e da economia regional para homens de negócio (Porto Alegre: nºs 377 a 379, 26 de abril de 2004), p. 5-8. Relação de Trabalhos nº 1214.

Os doze trabalhos da boa governança
Paulo Roberto de Almeida

Nestes tempos em que atitudes éticas e posturas responsáveis são, não apenas necessárias mas, absolutamente indispensáveis para guiar a conduta dos homens públicos (e mulheres idem) e para inspirar, pelo exemplo, os que estão empregados nesse imenso setor do terciário que tem a ver com a chamada res publica, decidi retomar reflexões antigas (mas nem por isso menos úteis) e alinhar num papel – eufemismo para a tela do computador – algumas simples regras de boa administração dessa “coisa pública”. As reflexões surgiram em primeiro lugar no contexto da transição política no Brasil – área na qual outras considerações já foram consolidadas em meu livro A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil (São Paulo: Códex, 2003) – mas elas podem ser vistas como “atemporais” e não determinadas geograficamente.
Como só consegui chegar até uma dúzia delas, pensei que poderia identificar o conjunto por meio de um título “apelativo”, que relembrasse o antigo herói da mitologia grega. Não é obviamente o caso, mas o evocativo parece suscetível de transmitir uma idéia aproximada das reais dificuldades que podem ser encontradas na implementação dessas tarefas da governança. Com efeito, os maiores problemas que se apresentam, nos dias de hoje, no processo de melhoria nas condições de vida e bem-estar das populações, em países ricos ou pobres, não são aqueles derivados da falta de recursos ou de meios técnicos para sua solução, mas provêm, tão simplesmente, da incompetência institucional.
Estes doze novos “trabalhos” podem ser vistos, pelo seu lado de administração da informação, como uma estratégia para a conquista consensual, ou para o convencimento, da maioria, não como uma forma de imposição da vontade do dirigente político. Pelo seu lado de “conselhos” ao dirigente, eles podem ser colocados naquela mesma cesta de recomendações “úteis” ou de observações sobre as técnicas de comando que, desde Kautylia e Maquiavel, vêm enriquecendo a literatura da governança política, sem que se saiba, exatamente, se elas provocam uma melhoria real na qualidade da gestão sobre os homens (e mulheres). Não me parece que elas tenham sido testadas ou controladas por algum órgão gestor dos orçamentos e da moralidade públicas, mas isso não representa um impedimento a que algum voluntário queira fazer alguma verificação empírica sobre sua consistência e adequação intrínseca às tarefas atuais de uma boa governança. Afinal de contas, o teste do pudim, como se diz, vem no ato de comê-lo.
As regras não estão concebidas em intenção de algum serviço estatal particular, nem foram pensadas como devendo aplicar-se exclusivamente a algum país determinado, mas o autor não tem nada contra, muito pelo contrário, a que cada um faça a leitura geográfica que bem lhe aprouver. Em todo caso, sem pretender a que estas regras sejam seguidas, ou sequer consideradas, por dirigentes concretos, num certo país de índole cordial e receptivo a modas as mais bizarras, transcrevo aqui os meus novos trabalhos para algum candidato a Hércules da burocracia deste começo de século 21. Bom proveito aos que pretenderem delas utilizar-se (não pretendo cobrar copyright pelo seu uso).
Apresento primeiro um resumo “literário” desses “novos trabalhos de Hércules”, para depois tecer considerações mais elaboradas sobre cada um deles:

1) Mais administração para resultados, menos declarações genéricas;
2) Antes a seleção pelo mérito do que a escolha corporativa;
3) Prefira uma ação sobre os fins, antes que sobre os meios;
4) Melhor proteger a manada, mesmo que tenha de sacrificar algum animal;
5) Entre a focalização e a universalização, fique com ambas;
6) Auto-publicidade é uma forma perversa de gastar recursos públicos,
7) Conselheiros do príncipe costumam atuar por ensaio e erro: rejeite riscos;
8) Não há conversa em “petit comité” que não escape para a “grande assembléia”;
9) Não distribua favores restritos, coloque tudo em regime de competição;
10) O grande critério de seleção é o benefício para o maior número: abra, portanto;
11) Mercados globais sempre serão melhores do que a “preferência nacional”;
12) O desenvolvimento é uma atitude mental: não existe mais “terceiro mundo”.

Voilà: parece um pouco desordenado e obscuro, mas tudo tem uma razão de ser, segundo os critérios da eficácia social e das melhorias na governança que são os privilegiados neste ensaio reflexivo.
Vamos agora a considerações mais elaboradas sobre cada um dos “trabalhos”.

Primeiro trabalho: Esqueça Antonio Gramsci; adote Peter Drucker.
Já passou o tempo de acreditar na validade conceitual ou mesmo prática dessa conversa de “hegemonia ideológica”: isso valia para uma fase em que a sociedade era feita de poucos homens instruídos, em que a política era oligárquica, isto é, dominada por uns poucos iluminados, na qual mesmo a ação dos partidos ditos progressistas, ou de base operária, tinha de se apoiar sobre uma liderança aguerrida, disciplinada, que detinha a chave do futuro e se dedicava a liderar os demais na conquista e na manutenção do poder. Hoje em dia, graças à disseminação da educação e aos meios de comunicação, todos são razoavelmente bem informados sobre a maior parte das tarefas governativas.
O que vale mesmo, hoje em dia, é a boa gestão da coisa pública: honestidade, transparência, responsabilidade e, sobretudo, eficácia (ou eficiência, se preferirem). Por isso mesmo, creio que o velho (mais de 90 anos em 2004) Peter Drucker, economista austríaco naturalizado americano e guru das técnicas de administração para resultados, apresenta imensas vantagens comparativas intelectuais sobre seu quase contemporâneo (menos de uma geração) Antonio Gramsci. Deixe a retórica de lado, e passe a valorizar a ação concreta na busca de resultados efetivos para os fins almejados. Você prefere se alimentar de discursos ou ver as medidas de interesse público serem implementadas de modo razoavelmente barato, efetivo e transparente?


Segundo trabalho: Não ocupe pela conquista, selecione pelo mérito.
Esta é uma derivação da tarefa anterior, no sentido em que, com a complexidade atual da administração pública, não se pode fazer uma boa gestão, com resultados pelo menos razoáveis, se se parte da idéia de que os únicos capazes para realizar os objetivos da mudança paradigmática são os iniciados e os membros da confraria, quando eles nem sempre possuem o instrumental teórico e técnico para o desempenho de funções especializadas que requerem conhecimento específico e um certo treino funcional. Por isso, pense em primeiro lugar nos resultados e atribua ao mérito a parte que lhe cabe nos processos de escolha do pessoal de apoio. Quanto aos menos preparados, faça-os se habilitarem para as novas funções, seja por esforço próprio, seja por estágios apropriados aos novos requerimentos do ofício.

Terceiro trabalho: Não siga publicitários ou comunicólogos: vá direto à questão.
É uma velha mania das lideranças inseguras, a de se precaver quanto a possíveis iras do povo miúdo mediante campanhas otimistas, bem direcionadas quanto ao foco e quanto ao objeto (apenas que contornando o problema real). Trata-se do velho hábito de esconder os problemas concretos fazendo apelo aos meios, antes que se ocupando dos fins. Como regra de princípio, este tipo de procedimento não costuma sustentar-se por muito tempo, por isso a única recomendação possível, em casos de necessidade urgente, seria a de deixar as relações públicas de lado e se ocupar diretamente da substância das questões públicas, pela via a mais reta possível. Supondo-se, é claro, que você consiga fazer um diagnóstico razoável da questão e das formas mais adequadas de encaminhá-la.

Quarto trabalho: Rejeite demandas de grupos, ataque os problemas da maioria primeiro.
O poder tem isso de incômodo que ele atrai um bando de arrivistas, oportunistas e aproveitadores de todos os matizes, cores e orientações políticas. A maior parte das moscas reais estão em busca de vantagens pessoais, mas numa sociedade organizada como a que vivemos, com incontáveis grupos de interesse e de associações de classe, o mais frequente de ocorrer é a mobilização dessas corporações organizadas que tentam convencê-lo de que seu interesse específico se confunde com o interessa da Nação como um todo. Não acredite nesse tipo de argumento: geralmente, os interesses da Nação não têm, salvo engano, representantes desinteressados que deles se podem fazer porta-vozes. Eles são difusos e, quando concretos, costumam interessar prioritariamente aos mais humildes, que não têm o hábito de se fazer ouvir nos corredores do poder.
Se você não consegue definir quais são os problemas da maioria, existe um modo muito prático e simples de encaminhar esse tipo de diagnóstico: consulte um desses anuários de desenvolvimento social – do PNUD ou do Banco Mundial, por exemplo – e veja as tabelas comparativas de serviços básicos (saneamento, serviços públicos etc.), os indicadores de saúde (sobretudo os fatores de morbidade) e de educação, bem como os resultados de testes de qualidade setorial. Eles darão um retrato imediato de como o seu país se situa na escala da (in)felicidade humana, o que se traduz imediatamente num programa de prioridades governamentais.

Quinto trabalho: Se tiver de definir setores, faça as políticas mais horizontais possíveis.
Nem sempre é fácil escapar de demandas setoriais: elas são o próprio de sociedades complexas que definem métodos próprios de encaminhamento de problemas técnicos, o que necessariamente envolve temas de natureza restrita a determinados grupos da sociedade. Dessa forma, algumas políticas serão dirigidas a alguns setores apenas da sociedade, ainda que com propósitos generalizantes.
Mas, não se deixe arrastar pelo falso debate entre, de um lado, a universalização dos serviços públicos e, de outro, a focalização das medidas de apoio governamental em favor de uma determinada categoria de cidadãos. Sendo os recursos escassos, e as pessoas desigualmente dotadas por motivos de berço ou de formação, nem sempre é possível atender a todos ao mesmo tempo, daí uma inevitável seleção dos beneficiários desses recursos a partir de alguns simples critérios de escolha por prioridades visíveis. As políticas públicas sempre serão, ao mesmo tempo, universais e focalizadas, mas o ideal é que a definição dos setores não seja excludente.
Esse debate sempre surge a propósito das políticas setoriais, das quais a industrial está sempre na linha de frente para receber algum tratamento favorecido por parte do governo. De fato, a experiência histórica indica que é na indústria que os ganhos derivados da inovação técnica e tecnológica, e portanto os aumentos de produtividade, costumam ter efeitos em cadeia e impactos redistributivos sobre o conjunto da sociedade, cabendo portanto aos governos estimular o progresso industrial. Este é um fato: mas cabe portanto aos governos estimular o progresso técnico da indústria como um todo, não necessariamente uma determinada indústria em particular, ainda que ela possa parecer estratégica ou “fundamental” para a competitividade internacional do país.
A experiência histórica é ainda mais conclusiva a respeito dos ganhos gerais para a economia, em todos os setores, derivados da capacitação em recursos humanos. Como regra de princípio, portanto, prefira as políticas industriais que atuam sobre as condições de inovação tecnológica do conjunto da sociedade, e deixe que ela mesma introduza os aperfeiçoamentos industriais que se revelarem úteis para o bem-estar social.

Sexto trabalho: Não acredite em propaganda governamental, deixe que os meios de comunicação informem sobre suas realizações.
Cada macaco no seu galho: o governo é pago para trazer segurança ao conjunto dos cidadãos, empreender obras públicas de mais longa maturação, criar as condições ideais para que todos possam exercer seus talentos com um mínimo de igualdade de chances na partida competitiva, o que implica em investimentos de educação e saúde, com alguma proteção seletiva aos menos favorecidos. Fazendo isso bem, os próprios governados se encarregarão de divulgar e “propagandear” o que o governo faz de bom.
Isso de publicidade institucional serve apenas para dar dinheiro fácil àqueles mesmos que devem viver de sua capacidade de “vender” algo de útil do ponto de vista da demanda do consumidor: entre duas opções, pode-se escolher ficar com a mais bem vendida do ponto de vista da publicidade, não necessariamente a de melhor qualidade ou menor preço, mas isso é um problema de microeconomia do bem-estar que será resolvido pela liberdade de escolha do consumidor. O governo disponibiliza “bens públicos”, que normalmente não necessitam de campanhas publicitárias, pois seus critérios de escolha ou de preço não são os mesmos da economia privada. Quanto ele tiver de fazer alguma campanha de informação, não faltarão meios adequados para isso. Deixe que os meios de comunicação se ocupem dos demais “produtos” governamentais: é mais barato e mais honesto.

Sétimo trabalho: Pratique a arte de escalpelar acadêmicos, ou melhor: ignore-os.
Conselheiros do príncipe costumam ser idealistas, sonhadores, ingênuos e, no geral, pouco eficientes, na medida em que eles pretendem se ocupar de todas as esferas do conhecimento humano e acabam tendo uma visão superficial sobre cada uma delas, numa era manifestamente complexa e diversificada. Melhor, assim, confiar em tecnocratas especialmente treinados para elaborarem diagnósticos e propostas de ação em seus campos de ação respectivos. Eles costumam ser mais práticos e são bem mais baratos, na medida em que qualquer proposta de acadêmicos bem intencionados custa rios de dinheiro: estes estão sempre querendo revolucionar o mundo ou provar alguma teoria, o que necessariamente provoca despesas desproporcionais do ponto de vista dos minguados orçamentos públicos.

Oitavo trabalho: Não aceite pequenos conluios, acabará aceitando os grandes também.
Os grandes princípios éticos são geralmente agitados em período eleitoral e depois esquecidos na fase prática da governança. Aí é que começa o perigo, pois sempre haverá alguém disposto a “provar” que “este” problema é mais “urgente” do que outro ou que ele requer “medidas especiais” de implementação. Os problemas do diálogo para a busca de soluções tópicas a questões concretas também surgem nesse momento, pois que se deve passar da fase das declarações gerais destinadas ao grande público para a de soluções técnicas a problemas localizados.
As “pequenas” soluções de facilidade, como aquele mecanismo simples destinado a financiar, de modo “indolor”, determinada atividade pública, podem transformar-se, quando menos se espera, em grandes problemas, que só trazem dificuldades aos governantes. Por isso mesmo, pense duas vezes quando for confrontado, ou apresentado, a algum expediente “inovador” no campo da governança: geralmente vai se descobrir que ele já foi apresentado antes (e rejeitado por “heterodoxo”, digamos assim) e que pode provocar, numa análise mais acurada de custo-benefício, grandes despesas depois.

Nono trabalho: Regule pela concorrência, não pelo monopólio.
O princípio da concorrência é uma dessas coisas mais bem aceitas, no plano da teoria, e mais denegadas no terreno da prática. A competição entre muitos ofertantes costuma redundar em uma certa anarquia de situações, nos mercados de bens e serviços, o que pode obviamente perturbar a paz de espírito de algum dos competidores. Ela reduz os ganhos de todos os ofertantes, obriga todos eles a buscar cada vez mais inovações incrementais que diferenciem o seu produto do do concorrente e, pasmem, traz maior volume de opções e menores preços aos consumidores. Ideal no papel, não é mesmo?
Na prática, os concorrentes estão sempre procurando eliminar rivais, buscam com eles formar cartéis ou, no limite, procuram a situação “ótima” da reserva de mercado com pouco ou nenhum risco de concorrência. Governos costumam ser muito mais sensíveis a pleitos de produtores organizados do que aos desejos de consumidores desorganizados, daí o possível surgimento de normas e regulamentos que limitam, de fato, a competição. Os exemplos são muitos e não é preciso delongar-se neles aqui, bastando com citar, por exemplo, o caso da telefonia. Nesta área quanto mais “anarquia” concorrencial, melhor para os usuários, desde que observadas certas regras de fiabilidade no serviço.
Em muitas outras áreas, inclusive e também em determinados serviços públicos, a melhor forma de corrigir distorções de mercado derivadas da baixa qualidade da oferta seria ampliar as franquias para a exploração dos mercados de bens e serviços. Por que, por exemplo, só se pode ter uma única grande estatal explorando pétroleo, refinando o produto e distribuindo seus derivados? (Sei que já não mais ocorre esse monopólio, mas ele foi durante muito tempo defendido não se sabe bem em nome de quais princípios de economia pública.) Por que um presídio tem necessariamente de ser operado diretamente pela autoridade pública, em lugar de passar por uma espécie de “leilões de presos”, regime no qual ofertantes passam a “comprar” condenados do setor judicial ao melhor preço de mercado, para uma prestação determinada de serviços – guarda, reeducação, eventual reinserção no mercado de trabalho – como aliás já ocorre hoje no setor de saúde? São provavelmente idéias ousadas, mas que podem despertar algum desejo de se ter mais concorrência em serviços que se considera como “exclusivos do Estado”.

Décimo trabalho: Analise os efeitos distributivos de cada medida proposta.
Não há nenhuma novidade no que vai dito aqui, mas geralmente se tende a esquecer que a regulação de determinadas atividades públicas tem por objetivo ampliar a disponibilidade de bens e serviços aos cidadãos, não arrecadar mais recursos para o próprio Estado. Os governos constituídos – em todos os níveis – se tornaram as mais poderosas máquinas de arrecadação de recursos que já se conheceram em toda a história, deixando aos contribuintes (empresas e cidadãos) apenas as opções de pagar ou evadir. Muitos recorrem a diferentes mecanismos de evasão ou elisão fiscais, o que justifica uma ampliação ainda maior dos investimentos públicos nos meios (controle da arrecadação, processos, punição etc.), antes que nos fins, eternizando assim o circulo vicioso que consiste em ver o governo trabalhando para o próprio governo.
Quando se fala em analisar os efeitos distributivos de uma determinada medida, não se está obviamente recomendando o distributivismo compulsivo: ele geralmente é demagógico e economicamente desarticulador das atividades produtivas, já que costuma atuar sobre os estoques de riquezas existentes, antes que sobre os fluxos que poderiam ser criados a partir do estímulo contínuo a novas atividades econômicas potenciais. Efeitos distributivos são justamente aqueles que derivam de uma maior capilaridade social dos investimentos públicos, que devem atingir os setores mais carentes relativamente, com vistas a integrá-los num mercado mais amplo de bens e serviços de amplo consumo. Por exemplo: o contrário ocorre com determinadas políticas governamentais – como a PAC da União Européia – de subsídios públicos na área agrícola, já que não se tem, de fato, insegurança alimentar e o dinheiro canalizado é subtraído de utilizações alternativas que poderiam ter maior impacto sobre o emprego e a renda de um maior número de cidadãos.

Décimo-primeiro trabalho: Entre um sistema aberto ao mundo e outro estritamente nacional, prefira o primeiro.
Não há mais nenhuma diferença, hoje, entre mercados nacionais e mercados internacionais, pelo menos na vasta gama de produtos e serviços uniformes (ou indiferenciados) que são consumidos pelos cidadãos, inclusive em áreas aparentemente exclusivas da “cultura” nacional como podem ser os serviços educacionais ou de lazer. Ao contrário, quanto maior a escala de mercado, maior a chance que o seu “produto nacional” possa ser também consumido em outros países, aumentando, portanto, suas vantagens de escala e a produtividade dos fatores de produção. Reservas de mercado, leis do “similar nacional” são cerceadoras da preferência dos consumidores e só servem para consagrar pequenos monopólios ou grandes cartéis que não ajudam em nada a elevação dos padrões de competitividade da economia nacional nos mercados globais, que hoje constituem a característica essencial do mundo interdependente em que vivemos.
Por isso mesmo não acredite quando lhe disserem que “vantagens comparativas” são uma invenção do século 18, que não se aplicam mais ao mundo do conhecimento em que se transformou a economia moderna. O princípio continua mais válido do que nunca, inclusive e principalmente nas novas áreas de atividade produtiva, como na já referida economia do conhecimento. Aliás, quem primeiro falou em “inteligência” como fator de produção, foi um contemporâneo brasileiro de David Ricardo, José da Silva Lisboa, num tempo em que todos eram “filósofos morais” e não economistas. Mercados amplos apresentam possibilidades muito maiores do que mercados cativos ou nacionais, daí uma preocupação constante em trabalhar em regimes abertos aos talentos individuais, antes do que fechados aos interesses de pequenos grupos.

Décimo-segundo trabalho: Acabe com dogmas e restrições mentais: o Brasil não é periferia.
Proposição ousada essa, pois não? Claro que existem economias “centrais”, que “extraem” recursos e mais valia de regiões ditas “periféricas”, mas isto se dá em qualquer sistema ou sociedade, inclusive num âmbito estritamente familiar, por exemplo. Quem organiza uma determinada atividade, distribui custos e concentra benefícios, mas para isso é preciso competência ou autoridade. Antigamente valia a autoridade paterna ou a da conquista; hoje em dia, elas têm cada vez menos capacidade de domínio ou prevalência, passando a ser substituídas pela capacitação própria em organizar sistemas complexos de produção e distribuição de bens e serviços. Por outro lado, aquela coisa de “primeiro mundo” ou “terceiro mundo” simplesmente acabou com o desaparecimento do segundo.
Com efeito, poucos se dão conta que a geopolítica mudou e com ela a relação que os diferentes atores de um mesmo mundo mantêm entre si: já não se está mais levando em consideração a atitude política que esses atores possam ter em relação a algum grande projeto organizador da humanidade – capitalismo, socialismo, essas coisas velhas –, mas apenas e tão simplesmente a atitude que se vai adotar em relação aos desafios do mundo global. Nesse sentido, o problema do desenvolvimento é de fato uma questão de atitude mental, pois tornaram-se peremptas aquelas teorias “conspiratórias” que faziam da exploração de alguns (ou de muitos, contavam algumas histórias) a condição da riqueza e do progresso de outros (os poucos).
Hoje em dia, provavelmente 90% do estoque acumulado de todo o conhecimento humano está livremente disponível para consulta, absorção, cópia e transformação em caráter irrestrito, inclusive de forma cada vez mais acessível nos sistemas abertos e online. Ou seja, não há mais limitação técnica – salvo no sentido estritamente material – ao aproveitamento dessas oportunidades de enriquecimento pessoal e coletivo, o que deveria, normalmente, diminuir as barreiras à entrada de mais sociedades em patamares mais avançados de bem-estar e conforto material.
O fato de que essa “convergência” de padrões de vida tenha alcançado, até aqui, uma fração restrita da humanidade, não se deve a nenhum complô desses países “ricos” no sentido de impedir que sociedades mais pobres conheçam padrões mais avançados de bem-estar, mas se explica pela incapacidade gerencial, ou de governança, das sociedades do chamado “terceiro mundo”. Terminando com nosso próprio exemplo nacional: todos os problemas brasileiros se devem à nossa própria incapacidade em solucioná-los dentro dos limites do sistema nacional, eventualmente com aproveitamento das experiências e conhecimentos já disponíveis a partir da trajetória das sociedades mais avançadas. Nenhum deles tem origem no exterior e eles não terão solução sem uma concentração de esforços no próprio país. Não acredita?: tente identificar uma “tragédia” nacional que se deve exlcusivamente a causas externas. Se encontrar, gostaria de ser avisado…

Paulo Roberto de Almeida
[1º versão: Washington, 1º de setembro de 2003]
[Revisão: Brasília, 23 de fevereiro de 2004]

Os economistas mais relevantes da decada - The Economist

Free exchange - Economics
Economics' most influential people
by R.A.
The Economist, February 1st 2011

WASHINGTON - AS THE world economy emerges from recession and great new questions and challenges appear, the economics profession has engaged in a little self-reflection. Economists are asking themselves what, in fact, they've learned from their recent work and what the profession ought to focus on moving forward. With this reflection has come some reassessment of the profession's leading lights; the economists that offered the best guidance in the 2000s might not be the ones leading the way this decade.

To get a sense of current economist opinion, we turned to the experts at Economics by invitation. We asked them which economists were most influential over the past decade. And we asked them to give their thoughts on which economists were doing most to shape post-crisis thinking.

Many of the respondents submitted detailed explanations with their answers. Click here to see their contributions. I was struck by a few common themes—the idea that humility and a generalist approach to economics have been rewarded, the continued influence of the profession's founding fathers, and the sense that post-crisis economics is a wide-open place. Do read all the contributions.

But we also tallied the nominations for most influential, and the results are interesting. Asked which economist was most influential over the past decade, the network resoundingly answered, with seven individual nominations: Ben Bernanke. John Maynard Keynes was next, with four. Jeff Sachs, Hyman Minsky, and Paul Krugman followed with three, and Adam Smith, Robert Lucas, Joseph Sitglitz, Friedrich Hayek, and Alan Greenspan each had two. There were 26 other economists with a single nomination each*.

We followed up that question with another—which economists have the most important ideas in a post-crisis world? With four nominations, the leader here was Raghuram Rajan. Robert Shiller and Kenneth Rogoff each had three votes, Barry Eichengreen and Nouriel Roubini had two, and there were 13 other economists nominated once**.

This obviously isn't a scientific poll of the profession, but it is interesting to get some sense of from where the profession sees its influence emanating.

*Richard Thaler, Robert Shiller, Andrei Schleifer, David Laibson, Daron Acemoglu, Barry Eichengreen, Ronald Coase, Ernst Fehr, Esther Duflo, Abhijit Banerjee, Manmohan Singh, Irving Fisher, John Taylor, Larry Summers, Kenneth Arrow, Robert Solow, George Akerlof, Martin Feldstein, Nouriel Roubini, Charles Goodhart, Ricardo Caballero, Amartya Sen, Tyler Cowen, Steven Levitt, Deidre McCloskey, and Milton Friedman.

**John Maynard Keynes, Paul Krugman, Friedrich Hayek, John Taylor, Kenneth Arrow, Viral Acharya, Carmen Reinhart, William White, Willem Buiter, Charles Calomiris, Gary Gorton, Olivier Blanchard, Douglas Diamond.

Click here to see their contributions

Bolsas de estudo - Fundacao Estudar

Serviço de utilidade pública (ou pelo menos estudantil):

A Fundação Estudar está com inscrições abertas para o Processo Seletivo 2011 de seu programa de bolsas de estudos. A Fundação apoia estudantes talentosos nas graduações e pós-graduações em Administração, Direito, Economia, Engenharia, Relações Internacionais, entre outros cursos, nas melhores instituições de ensino do Brasil e do exterior. O aluno interessado no programa de bolsas da Fundação Educar deverá consultar o site www.fundacaoestudar.org.br
Informações adicionais: fundacao@estudar.org.br

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Pausa para... a vida como ela é (a la Nelson Rodrigues)

Apenas dois comentários: a Igreja é um empregador consciencioso, que se preocupa com o padrão moral de seus empregados. Neste caso se supõe que o frei pecador esteja suspenso sem vencimentos, não como ocorre com certos juízes e procuradores corruptos por aí, que mesmo suspenso de suas funções por investigações ligadas a corrupção, continuam recebendo seus vencimentos.
Por outro lado, pode-se dizer que a Igreja já não forma mais padres como antigamente, ou talvez isso seja apenas um reflexo da transparência, câmeras de video-vigilância, etc. O papa Bento 16, quando era bispo, ou cardeal, explorou a questão do celibato dos padres, um assunto que vai voltar à pauta da Igreja no próximo papado...
Paulo Roberto de Almeida

MT: Igreja Católica suspende e destitui frei flagrado com adolescente em motel
Fernando Teixeira
O Globo, 01/02/2011

CUIABÁ e SÃO PAULO - A Igreja Católica decidiu suspender do exercício sacerdotal o frei Erivan Messias da Silva, preso ao sair de um motel acompanhado de uma adolescente de 16 anos, em Várzea Grande, Mato Grosso, nesta segunda-feira. O arcebispo de Cuiabá, Dom Milton Santos, divulgou uma nota sobre o caso. Ele disse que sente repulsa pelo que ocorreu.

O religioso, de 50 anos, e a adolescente entraram com o carro da paróquia em um motel por volta das 14 horas. Quando saíram, por volta das 17 horas, a polícia efetou a prisão.

A delegada da delegacia de defesa da mulher, Juliana Palhares, ressalta que fez o flagrante após denúncia anônima.

- Houve denúncia de um comportamento estranho do frei em relação à menor. A denúncia não foi por assédio contra outras adolescentes ou mulheres da paróquia. A partir daí, a polícia monitorou e no mês de janeiro intensificamos as investigações até chegar à prisão dele. A menor era, praticamente, namorada dele - diz a delegada.

Juliana relata ainda que o frei conhecia e era próximo da família da vítima, o que agrava o crime. Segundo informações do site da Arquidiocese, o frei foi ordenado em 1989. Confira abaixo o comunicado oficial da Arquidiocese de Cuiabá:

"Diante dos fatos ocorridos com o FREI ERIVAN MESSIAS DA SILVA, NA TARDE DE 31 DE JANEIRO DE 2011, EM VÁRZEA GRANDE, MT, manifestamos nossa consternação e repulsa pelo fato ocorrido com uma jovem de dezesseis anos.

No tocante à Arquidiocese de Cuiabá já notificamos de imediato ao interessado a SUSPENSÃO DO EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO SACERDOTAL E A DESTITUIÇÃO DE PÁROCO DAS PARÓQUIAS NOSSA SENHORA MÃE DOS HOMENS E NOSSA SENHORA DE GUADALUPE.

Os demais encaminhamentos serão conduzidos pelos Superiores da Ordem/Congregação à qual pertence o Frei.

Milton Santos - Arcebispo

Cuiabá, 01 de fevereiro de 2011."

A tragedia da educacao brasileira - Percival Puggina

Apenas transcrevendo, com alguns comentários, e julgo ser suficientemente eloquente...

A crise dos trabalhadores em educação
por Percival Puggina
Mídia Sem Máscara, 17 de janeiro de 2011

Houve um tempo, longo tempo, tempo que cruza os séculos, em que o professor era símbolo de autoridade no pequeno e gigantesco espaço da sala de aula. Note-se que autoridade é um atributo moralmente superior ao poder, mas, quando fosse necessário, a valiosa autoridade do professor, fundada no saber e na conduta, vinha respaldada por poder. Nas últimas quatro décadas, infelizmente, a educação brasileira foi atacada em dois flancos pela esquerda delirante. E tanto a autoridade quanto o valor econômico e social do trabalho dos professores, reconhecidos há milênios em todas as civilizações, desabaram fragorosamente em nosso país.

Por um dos flancos, fustigou-a aquilo que Nelson Rodrigues chamava de Poder Jovem, acolhido entre aplausos por pedagogos de meia tigela como expressão de libertação para a criatividade. Todo poder ao jovem! A maturidade tornou-se um mal e a imaturidade, um bem a ser preservado. Era imprescindível erradicar as formas negativas da pedagogia. Coisas como certo e errado, sim e não, correção com caneta vermelha, entre outras práticas, precisavam ser substituídas por vaporosas sutilezas que não contrariassem os pupilos. Afinal, eles podem ser portadores natos de uma nova e superior forma de saber. Guardo como pérola desse disparate a frase do vate sergipano que adoça com sua voz aveludada os julgamentos do Supremo Tribunal Federal. No caso da reserva Raposa Serra do Sol, ele, o ministro Ayres Britto, em reverência à sabedoria indígena, lascou, citando Paulo Freire: “Não existe saber maior ou menor; existem apenas saberes diferentes”. De fato, o veterano Marco Aurélio Mello e o garoto Dias Toffoli exemplificam saberes diferentes, quantitativamente iguais, não é ministro? E viva Paulo Freire.

Pessoalmente ainda estou à espera de que algum desses guris maleducados das universidades brasileiras, depois de tantos anos de sua completa libertação, apresentem alguma contribuição à ciência, à técnica e à cultura nacional. Ao contrário, o que se vê é o país ocupando o 93º lugar no componente educação, entre 169 pesquisados. E não me surpreenderei se encontrar por aí doutos pedagogos convencidos de que o mundo, por pura inveja, se recusa a cair de joelhos diante da qualidade muito peculiar e superior do saber construído por nossos jovens. De minha parte, vejo o sucesso sempre ao alcance dos que queimaram pestana sobre os livros, levaram a sério seus estudos ou cavoucaram com responsabilidade seus espaços na vida pública ou na iniciativa privada, mediante capacidade de renúncia ao bem atual com vistas ao investimento no bem futuro maior. Esses jovens agem no contrafluxo do deslizamento que descrevi, arquitetado por uma escola de viés marxista, que está levando três anos inteiros para alfabetizar uma criança, quando nos meus anos de curso primário se aprendia isso em seis meses de aula. A educação, caro leitor, conceitual e deliberadamente, deixou de lado seus objetivos essenciais e se voltou para formar cidadãos conscientes, politicamente engajados. Enquanto não chegam lá, os cidadãozinhos treinam sua cidadaniazinha desrespeitando e espancando os professores.

Pelo outro flanco, e no mesmo tom, os professores politicamente engajados, abdicantes de sua autoridade, assumiram-se como "trabalhadores em educação". O conselheiro tutelar, escolhido em pleito de baixíssimo comparecimento, por força de preceito contra o qual nenhuma voz se ergue com suficiência, exerce mais autoridade nas escolas do que os professores ou os diretores. Estes, a seu turno, são, também eles, eleitos num concurso de promessas e de simpatia, com participação e engajamento dos alunos. No Brasil, amigo leitor, aluno vota para diretor! Vota para reitor de universidade! E ninguém se escandaliza! Por que será que os praças não elegem os comandantes e os pacientes não escolhem os diretores dos hospitais e centros de saúde? Quando o poste passa a desaguar no cachorro e o aluno a meter o dedo na cara do professor, ainda há quem se surpreenda.

O Ministério da Educação está veiculando nestes dias um comercial com o objetivo de ampliar o interesse pela carreira do magistério. Mostra uma obviedade: os povos que melhor se desenvolvem atribuem a seus professores o principal mérito por esses bons resultados. É claro que nossos professores ganham muito pouco, mas os maiores problemas, nesse particular, estão na péssima preparação dos graduados para o magistério e na falta de recursos didáticos nas escolas. De outra parte, veja quais os países bem sucedidos em seus objetivos sociais, com mais elevado Índice de Desenvolvimento Humano, que se reportam prioritariamente a fundamentos marxistas nas salas de aula e na formação de seus educadores. Duvido que encontre algum. A crise dos trabalhadores em educação é uma responsabilidade deles mesmos e das ideias que abraçam. É responsabilidade deles mesmos, como professores dos professores nos cursos de Educação, como alunos desses cursos na recepção passiva de ferramentas de trabalho comprovadamente erradas e ineficientes, como reprodutores acríticos do mau conhecimento adquirido. É, também, uma decorrência de suas reivindicações equivocadas, da busca de uma autonomia para fazer o que bem entendem que só é menor do que o desejo dos alunos de se comportarem do mesmo modo. É uma consequência de seus engajamentos, do desmonte que produziram na própria autoridade e dos líderes que vêm escolhendo para os representar.

Mas só aos professores, o senhor diz isso? Não, digo-o com muito maior ênfase a eles porque são, de fato, como informa a propaganda do MEC, os principais responsáveis pelo desenvolvimento social de qualquer nação. Enquanto os professores se submeterem às diretrizes de quem, com um tranco ideológico e partidário, os derruba à condição de meros trabalhadores em educação; enquanto se deixarem levar pelas cartilhas da pedagogia dominante; enquanto conviverem passivamente com a destruição de sua autoridade; enquanto tomarem como inegociável planos de carreira que nivelam competentes e incompetentes; e enquanto não refugarem uma organização que transforma o acesso ao comando da Escola em concurso de coleguismo e simpatia, viverão uma crise sem fim.

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Comentários (3)
3 Ter, 18 de janeiro de 2011 18:10 Paulo Barreto
Sou professsor do Ensino Fundamental II. Quero dizer que concordo plenamente com o artido de Percival Puggina. Passei recentemente num concurso para a Secretaria Municipal de Educação e Cultura e já estou com vontade de me demitir. Após assumir, embora já desconfiasse do que me esperava, constatei o que todos já sabem: que a educação pública é uma grande farsa. As escolas não passam de sucursal do inferno, os alunos, em sua maioria, são subalfabetizados, e os professores, ao mesmo tempo são vítimas e agentes do modelo descrito do artigo. Mas, ninguem fala em lutar por mudanças no modelo vigente, prefere-se viver de questiúnculas de repartição a encarar realisticamente a situação.

2 Seg, 17 de janeiro de 2011 21:31 Agapito Costa
Mais um brilhante comentário, que infelizmente poucos irão tomar conhecimento. Porém nos leva a muitas perguntas: a quem interessa tudo isso?
Vejamos: política e religião quando exercidas por pessoas desonestas formam simetrias perfeitas. Proliferam onde há miséria e ignorância:
Dentro desta linha de raciocínio pergunta-se.
Na atual conjuntura em que se encontra o “Brasil”, qual o político que gostaria de governar o pais tendo uma população de um bom nível de cultural ?
Por que tanto interesse em desarmar a população ?
E o sinistro “PNDH-3”, por que foi articulado nas caladas da noite ?

1 Seg, 17 de janeiro de 2011 15:43 Eduardo
Eu acho que a queda do respeito e e do nivel de educação coincidiu com a invasão do magisterio por professores militantes esquerdistas que privilegiam a doutrinação politica em prejuizo a educação verdadeira.

Nesse caso acho que o mercado regiu de forma coerente, já que tais individuos não merecem nem respeito e nem remureação digna, e é exatamente isso que eles recebem, ou pelo menos a maioria deles, visto que existem muitos mega-salarios nesse meio.

Diplomacia da generosidade: versao 2.1 ?

PARAGUAI TESTA DILMA!
Ex-blog de Cesar Maia, 2/02/2011

1. (ABC Color, Assunción, 01) O Paraguai pedirá ao Brasil para rever dívida espúria. O presidente Fernando Lugo solicitará formalmente à Dilma Rousseff a revisão da espúria dívida de Itaipu, segundo disse ontem a vice-ministra de Minas e Energia, Mercedes Canese, depois da reunião da "Comissão de Energia" do governo. O pedido será feito durante a visita oficial que Dilma fará no país em 26 de março, ocasião em que será entregue o parecer da Controladoria paraguaia que declara a dívida ilegal e violatória do Tratado na parte referente ao passivo da usina binacional. São 4.194 bilhões de dólares acumulados entre 1986 e1996, devido a taxas subsidiadas em favor do Brasil.

2. (Ex-Blog, 02) Falta apenas um detalhe: qualquer alteração deverá passar pelo Senado do Brasil.

Aquecimento global: perigos do novo malthusianismo e argumentos racionais

Volto a postar, por importante, pequena nota informativa sobre a questão em epígrafe, por ter sido objeto de comentários recentes, que transcrevo aqui, junto com meus comentários-resposta, desta data.
Paulo Roberto de Almeida

1497) Aquecimento Global: ceticismo sadio sempre é recomendavel
QUARTA-FEIRA, 11 DE NOVEMBRO DE 2009

Para aqueles, que como eu, mantém uma atitude de ceticismo sadio em relação a todas as paranoias anunciadas -- fim da era do petróleo, falta de energia, de alimentos, aquecimento global, etc. -- sempre é bom ler o máximo possível, antes de sair atrás da manada, dizendo que o fim está próximo.

Papers que reexaminam o papel do aquecimento global tal como teria sido fabricado pela atividade humana:
450 peer-review papers supporting skepticism of man-made global warming.

Este artigo tece considerações científicas, econômicas e filosóficas sobre o aquecimento global: http://www.heartland.org/custom/semod_policybot/pdf/25354.pdf

Nunca é bom correr atrás da manada: é melhor ficar calmo e examinar os dados do problema...
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Alexandre disse...
Professor, existem evidências científicas independentes e concordantes entre si, tanto do aquecimento em si quanto de sua origem através do efeito estufa intensificado pelo homem. Imagino que o sr. não esteja familiarizado com elas, nem tampouco se ateve muito na análise dos 450 supostos artigos "céticos" divulgados pelos Heartland institute.

Assim, quem é que está correndo atrás da manada, e quem está ficando calmo e examinando os dados do problema?
Quarta-feira, Fevereiro 02, 2011 8:40:00 AM
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Paulo R. de Almeida disse...
Alexandre,
Com evidencias mais ou menos fortes de que o aquecimento esteja efetivamente ocorrendo, e que o homem é em parte responsavel por isso, ainda assim recomendo o ceticismo sadio como atitude geral desejavel nesse tipo de questao, pois ela é propria do espirito cientifico, justamente.
O que me preocupa mais, nao é o aquecimento em si, pois as sociedades vão necessariamente se adaptar, mas esse clima malthusiano que se propaga.
Existiam evidencias do aumento da população na época de Malthus, mas ele falhou miseravelmente na previsão da produtividade agrícola.
Tenho certeza de que a humanidade vai superar esse malthusianismo ecologico tambem...
Paulo Roberto de Almeida
Quarta-feira, Fevereiro 02, 2011 9:58:00 AM
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Alexandre deixou um novo comentário sobre a sua postagem "1497) Aquecimento Global: ceticismo sadio sempre é...":

Professor, obrigado pela resposta.

O processo científico de construção de teorias concorrentes já, em si, cético, uma vez que sempre depende de evidências que apóiem essas teorias. Tenho certeza de que não preciso discorrer sobre isso aqui.

O acúmulo de evidências que apóia o aquecimento global antrópico é enorme. Mesmo que as projeções de Malthus tenham falhado, isso não muda o fato de nossa atmosfera estar retendo cada vez mais radiação infravermelha em função de nossos gases estufa. É um fato físico mensurável e verificado, e recomendo o website de qualquer grande instituto de pesquisas atmosféricas do mundo pra consultar referências.

O ceticismo científico é saudável e desejado, ao passo que negar as evidências existentes por incomodarem uma ideologia não é. Imagino que o sr. esteja defendendo o primeiro, e incorrendo involuntariamente no segundo ao apoiar a posição do Heartland.

Podemos ser otimistas. Podemos crer com toda nossa alma que a humanidade, com toda sua criatividade, resolverá mais esse problema. Mas para que o resolva, o primeiro passo é admiti-lo e enfrentá-lo.
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Paulo R. de Almeida deixou um novo comentário sobre a sua postagem "1497) Aquecimento Global: ceticismo sadio sempre é...":

Voce tem inteiramente razao, meu caro Alexandre, e eu nao estou dando mais credito aos ceticos do que aos alarmistas, apenas dizendo que o catastrofismo antecipado pode nos levar a decisoes economicas que custam caro e diminuem, ipso facto, as disponibilidades para as boas pesquisas e outros investimentos na correção de atitudes hoje agravantes dos desequilibrios ecologicos.
Recomendaria a você ler alguns dos materiais do Copenhagen Consensus, animado pelo ecologista cetico Bjorn Lomborg.
O abraço do
Paulo Roberto de Almeida
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Alexandre disse...

Conheço o trabalho do Lomborg. Reitero a recomendação de procurar as evidências nos institutos que de fato pesquisam o assunto.

Claro, pode-se pular essa parte se realmente não se discutem os fundamentos técnicos das observações e projeções, o que o sr. parece não questionar, mas ao mesmo tempo apóia a posição do Heartland e usa as palavras "alarmistas" ou "catastrofismo antecipado" para descrever observações e dados que nos trazem informações alarmantes.

É importante separar bem ambas as questões: uma coisa é a realidade física de um fato. Outra coisa é a resposta que a sociedade pode dar a esse fato, seja no campo econômico, jurídico, tecnológico ou cultural. Se um imposto pigouviano parece ruim, pode-se defender outra via de ação, ou até mesmo, por exemplo, a capacidade do mercado de minimizar sozinho externalidades negativas desse tipo. De preferência, baseando-se em evidências, de novo.

O que não faz sentido é embarcar na do Heartland, que para defender o mercado livre (louvável) faz textos negando evidências, ridicularizando e inventando "fatos", sem efetivamente produzir ciência que suplante a existente. Ou mesmo divulgando um documento que afirmam conter centenas de estudos que supostamente mostrariam uma "outra verdade", mas que incluem afirmações mutuamente contraditórias, do tipo "não está acontecendo" e "é causado pelo sol".

É uma retórica que só se desmascara com algum aprofundamento nos processos físicos envolvidos e nos dados disponíveis.

Não conheço seu trabalho, mas tenho certeza que sr. poderia contribuir de várias maneiras com idéias para se limitar a emissão de um gás com externalidades negativas importantes, que respeitassem a corrente ideológica de sua preferência, e que não fossem economicamente catastróficas.

Negar a externalidade, decerto, não é o caminho. Sei que o sr. está convencido de não estar fazendo isso. Estou tentando chamar sua atenção para o fato de o sr. estar endossando quem o faz.
Quarta-feira, Fevereiro 02, 2011 12:44:00 PM
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Alexandre,
Voce argumentou como um verdadeiro cientista, ou economista, e só posso concordar com você. As evidências se acumulam, como você diz, embora eu também tenha confiança na capacidade humana de dar saltos tecnológicos quando a necessidade se impõe.
Nossa responsabilidade atual é preservar, minimizar, evitar, embora eu creia mais em tecnologias adaptativas do que em grandes ações "reversionistas" de tendências aparentemente irreversíveis, na escala humana do tempo.
Em todo caso, o alarmismo que eu rejeito, em parte, nos faz tomar consciência da fragilidade dos sistemas e da nossa própria incapacidade em reverter desastres já encomendados, em grande medida pela mão do homem.
Estou transcrevendo todo este debate num novo post, de hoje.
O abraço do
Paulo R. Almeida

(Por enquanto ficou nisto...)

Faz bem consultar o dicionario: palavra "idiota" desta vez...

Nesta data, 1 de fevereiro de 2011, na abertura do Congresso (mas a tortura deve continuar pelos dias seguintes), imagens, matérias e reportagens foram dominadas por três ou quatro personagens bizarros que tomavam posse na Câmara dos Deputados.
Eles eram, ou são, supostamente (como os jornalistas dizem, frequentemente) famosos: um palhaço analfabeto, um jogador de futebol preguiçoso e de hábitos pelo menos suspeitos, um lutador de boxe e um outro indivíduo sobre o qual não tenho a menor informação quem seja, mas que também deve ser famoso, pois também foi assediado pela imprensa, filmado, questionado, enquadrado pela mídia, como dizem muitos...
Eu fiquei me perguntando se, pelo nível geral das respostas que eles balbuciaram frente aos microfones e câmeras, eles eram idiotas mesmo. Tudo leva a crer que sim, mas como eles vão ganhar sem trabalhar nos próximos quatro anos, ou seja, vão viver às nossas custas, de modo muito folgado, cheguei à conclusão que não são eles os idiotas.
Idiotas são todos aqueles que os elegeram, e o bando de repórteres estúpidos que os cercaram, procurando extrair algumas frases, já não digo inteligentes, mas qualquer frase deles.
Esses são os verdadeiros idiotas.
Para me certificar fui consultar o dicionário.
Encontrei isto:

idiota

n adjetivo e substantivo de dois gêneros
1 diz-se de ou pessoa que carece de inteligência, de discernimento; tolo, ignorante, estúpido
2 diz-se de ou pessoa pretensiosa, vaidosa, tola
3 (1873)Rubrica: psiquiatria.
diz-se de ou pessoa afetada por idiotia
n adjetivo
4 que denota falta de inteligência, de discernimento; parado, estúpido, imbecilizado
Ex.: no seu rosto, havia uma expressão i.
5 que não tem valor, sem interesse, sem sentido
Ex.:


Assim é se lhe parece...
Paulo Roberto de Almeida

Faz bem ler economistas sensatos...

Num mundo (e no Brasil) onde tantos economistas malucos se disfarçam em conselheiros do príncipe -- e recorrem a velhos truques que nunca deram certo no passado em lugar nenhum (controles de preços, restrições a movimentos de capitais, manipulações cambiais, protecionismo, etc. -- sempre é bom ler economistas que simplesmente dizem as coisas como as coisas são.
Este, por exemplo:

A volta do dragão
Ilan Goldfajn
O Estado de S.Paulo, 01 de fevereiro de 2011

Cidadãos do mundo, preparem seus bolsos. A inflação está voltando. Ela vem a reboque do tsunami de aumentos de preços de commodities globais em economias emergentes já aquecidas. Os antigos remédios para combatê-la - política monetária (juros) e flutuação cambial (deixar apreciar) - estão sob suspeita. Novos remédios experimentais - medidas "macroprudenciais" - estão em uso intenso, sem sabermos ao certo quão eficazes e quais seus efeitos colaterais. O risco de uma parada mais brusca na atividade futura para combater a inflação aumentou.

O fenômeno é global. Os preços das commodities subiram por várias razões. No começo, pelos juros baixos no mundo (EUA, Europa, Ásia) e pela depreciação do dólar, que induziram a compra de ativos "reais". Recentemente, os preços estão subindo pelo crescimento econômico e pelos problemas climáticos globais. Há poucos meses a preocupação era com a volta da recessão nos EUA, chamada de mergulho duplo (double dip). Não só a recessão foi evitada, como o crescimento nos EUA no último trimestre do ano foi muito forte. O mundo parece que estava despreparado para a volta do crescimento simultâneo das economias maduras (EUA, etc.) e das emergentes (que crescem fortemente e demandam mais commodities para a urbanização crescente da sua população).

A inflação, quando é global, costuma ser de ninguém. Não se identificam os responsáveis individuais pelo excesso de demanda global. Cada país percebe a inflação como um choque externo. O viés é deixar o outro combatê-la. No caso da inflação de commodities, esse comportamento é institucionalizado: faz parte das regras dos bancos centrais retirá-lo do índice de inflação e combater a inflação do que sobrou (o núcleo). Como se toda a inflação de commodities fosse temporária, resultante de choques de oferta.

O problema de inflação é mais agudo nas economias emergentes. Enquanto o risco nas economias maduras era de falta de crescimento, as emergentes deram-se ao luxo de sobreaquecer sua economia, estimulando-a para além da resposta à crise de 2008. O sobreaquecimento era incentivado. As economias maduras precisavam de estímulos externos para a sua retomada. Mas agora a retomada é global. As economias emergentes enfrentam choques inflacionários globais em economias já vulneráveis à inflação doméstica (serviços, por exemplo), precisando desaquecer.

O risco atual nas emergentes é a inflação subir em excesso. E para evitar corroer o poder de compra da população as autoridades econômicas precisarão desacelerar suas economias além do previsto. Nesse processo de desaquecimento, podem até errar a mão (desaquecer demais ou de menos). O risco é maior desta vez. Novos instrumentos estão sendo adotados, com resultados menos estudados. São medidas administrativas, como a elevação dos compulsórios, exigências regulatórias que encarecem o crédito e/ou reduzem o prazo do financiamento.

Essas novas medidas são denominadas macroprudenciais porque foram idealizadas para prevenir crises financeiras futuras, como a que culminou com a quebra do Lehman Brothers. Hoje seu uso está se deslocando para políticas anticíclicas, de reação ao sobreaquecimento, não prevenção. Com medidas anticíclicas é difícil estimar precisamente seu efeito sobre a economia, há muita incerteza.

O uso crescente de medidas administrativas (macroprudenciais) ocorre também como consequência da crise financeira e da reação dos EUA. Na saída da crise, com a redução dos juros básicos a zero, restou a política monetária do Federal Reserve (Fed) de estimular a economia via expansão monetária, cujo último objetivo era estimular a economia via redução das taxas de juros mais longas também (a taxa de dez anos caiu para quase 2% no auge do efeito). Com a queda dos juros americanos houve uma força para sair dos ativos americanos em direção a ativos no mundo, o que ajudou a depreciar o dólar e apreciar as moedas nos outros países. As economias emergentes resistiram (e têm resistido) à apreciação cambial via intervenção (compra de reservas, além de outras medidas), numa batalha que foi denominada "guerra cambial".

O problema dessa "guerra cambial" é que ela induz a políticas que podem potencializar o problema da inflação. A manutenção do câmbio num patamar fixo, independente do mérito dessa política por outras razões, impede o câmbio de absorver parte da subida das commodities no mundo via apreciação e permite que a inflação de commodities se transfira integralmente para os preços domésticos. Além disso, como a preocupação é com os fluxos de capital, subidas de juros são evitadas para não atrair mais capital. Portanto, a política monetária fica viesada para adotar mais medidas administrativas e menos subidas de juros.

Mas a adoção de medidas administrativas não é de graça. No passado, essas medidas haviam sido preteridas pelos instrumentos de preço, como a taxa de juros, porque eram menos gerais (afetavam determinados setores) e induziam distorções na economia (geradas pelas tentativas de burlar as políticas).

Interessante, os juros americanos voltaram a subir (juros de dez anos perto de 3,5%) e os motivos iniciais para evitar os instrumentos tradicionais perderam força. Há menos incentivo para a saída de capital dos EUA. Não há razão para os juros não voltarem a ser o instrumento principal das emergentes, como antes. Mas, ao estilo de dom Quixote, a batalha continua. Países como a Turquia chegam ao limite de reduzir juros para combater a inflação, justificando o ato com medidas administrativas compensatórias.

Em suma, as crises têm sempre seus legados. O pêndulo às vezes atinge o outro extremo. Desta vez, temos mais inflação e o uso excessivo de medidas macroprudenciais. Mais adiante, o risco é uma parada mais brusca da atividade do que o planejado nas economias emergentes.

ECONOMISTA-CHEFE DO ITAÚ UNIBANCO E SÓCIO DO ITAÚ BBA

A frase do momento (a proposito do Egito, claro)...

The worst thing you can say about a revolutionary situation is, "Things couldn't possibly get worse." Things can always get worse. If you have trouble imagining how, just wait for the revolution to unfold. Events will usually oblige you: see France in 1789, Russia in 1917, Germany in 1933, China in 1949, or Iran in 1979. I hope Egyptian policies improve when Mubarak goes, but I'm not optimistic.

Bryan Caplan

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A Guerra Fria Economica - Mundorama, Paulo R. de Almeida

Esta é a versão em Portuguës, ligeiramente modificada, de um ensaio publicado originalmente em Inglês, como referido in fine:

A Guerra Fria Econômica: um cenário de transição?
Mundorama (01/02/2011)
link: http://mundorama.net/2011/02/01/a-guerra-fria-economica-um-cenario-de-transicao-por-paulo-roberto-de-almeida/#more-7197
Relação de Originais n. 2241; Publicados n. 1020.


A Guerra Fria Econômica: um cenário de transição?
Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, Professor de Economia Política Internacional no Uniceub; (www.pralmeida.org)
Mundorama (01/02/2011)

Velhas Realidades
A Guerra Fria geopolítica está encerrada definitivamente, ao que parece. A despeito de tensões políticas “normais” e fricções comerciais entre as grandes potências, não existem mais concepções totalmente opostas sobre como organizar o mundo, economicamente ou politicamente. Ninguém mais está dizendo algo semelhante a “nós vamos enterrar vocês”, como ocorreu no passado com um líder soviético. Daniel Bell, recentemente falecido, já tinha antecipado, desde meados dos anos 1950, o “fim das ideologias”, julgamento de certa medida confirmado por Francis Fukuyama. Mas, no que depender de gente como Eric Hobsbawm, e de inocentes úteis desse tipo, as ideologias ainda têm um brilhante futuro pela frente...
O que estamos assistindo agora, na verdade, é uma Guerra Fria econômica, ou algo próximo disso. De fato, não parece haver nada capaz de provocar uma confrontação em grande escala entre as maiores potências. O que temos, na presente conjuntura, são fricções comerciais e desalinhamentos monetários, num cenário de ajustes pós-crise. Existem disputas políticas sobre como as políticas econômicas nacionais devem levar em consideração seus impactos sobre a situação econômica de outros países. Como Mark Twain poderia ter argumentado, os rumores sobre uma guerra cambial global são grandemente exagerados. É certo que ainda não superamos totalmente a presente crise financeira; mas ela é apenas uma, dentre muitas outras, que afetam mercados dinâmicos de forma recorrente desde o começo do capitalismo. Profetas da crise final do capitalismo e outros utopistas do gênero vão novamente se sentir frustrados dentro de alguns meses (sem reconhecer o fato, claro).
Existem muitas concepções errôneas sobre as origens e o desenvolvimento da crise atual, várias delas propagadas pelos mesmos utopistas conhecidos. Não é exatamente verdade que esta crise tenha sido provocada pela desregulação dos mercados financeiros, ainda que a regulação flexível, ou mal implementada, possa ter facilitado a expansão de várias bolhas nos mercados. O maior responsável pela bolha que provocou o desastre, porém, foram as baixas taxas de juros definidas pelos bancos centrais, a começar pelo Federal Reserve, durante um período muito longo. Da mesma maneira, mas talvez por meios e instrumentos um pouco diferentes, que os velhos Lords of Finance dos anos 1920 criaram as condições que levaram à crise de 1929 e à depressão dos anos 1930, pela sua ação ou inação, a presente crise é o resultado de políticas inadequadas dos novos Lords of Finance (ver o livro de Liaquat Ahamed, Lords of Finance: the Bankers who Broke the World; New York: Penguin, 2009.)
Tampouco é verdade que a crise atual, ou as crises – já que são várias, interconectadas – são suficientemente severas para justificar o programa, que muitos recomendam, de um novo Bretton Woods, ou seja, um redesenho completo das relações econômicas mundiais, com a restruturação das organizações existentes. Menções a uma nova arquitetura financeira internacional, ou mesmo de redistribuição do poder econômico mundial, estão em contradição com as realidades mais prosaicas dos nossos dias. Comentaristas superficiais gostam de recorrer a grandes analogias históricas – que em geral são falsas – para falar dos eventos correntes, mas o fato é que não estamos vivenciando nenhum grande ajuste posterior a alguma crise de proporções monumentais, como gostariam alguns. Vivemos, é certo, uma transição, mas não uma revolução, qualquer que seja o sentido que possamos dar a esses conceitos. Vejamos os precedentes.
Não estamos em face de um reordenamento radical e completo da ordem mundial, após algum evento cataclísmico, afetando todos e cada um dos grandes atores da cena internacional, ou mesmo regional. Não estamos em Vesfália, em 1648; não estamos em Viena em 1815; tampouco estamos em Paris ou Versalhes, em 1919, sequer em Bretton Woods em 1944, e muito menos em São Francisco, em 1945. Definitivamente, não estamos em nenhum momento de refundação fundamental da ordem política e econômica internacional. Simplesmente estamos, atualmente, no meio de algo semelhante aos anos 1930, tentando administrar uma grande crise por meio de respostas nacionais, cada uma delas adaptada a circunstâncias específicas de cada país, e desvinculada dos maiores desastres afetando os demais e cada um dos países envolvidos no processo.
Para ser mais preciso, estamos em algum ponto entre 1931 e 1933, ainda no meio de uma recessão, mas não numa depressão. O nível de desemprego não é tão alto quanto em 1933, e está provavelmente alinhado com os padrões dos nossos dias. Os fluxos comerciais e financeiros não foram tão desestruturados quanto nos anos 1930, ainda que a liberalização econômica tenha regredido: apenas revertemos a uma versão light do protecionismo comercial dos velhos tempos, mas sem cotas ou restrições quantitativas ao velho estilo.
Esta nova Guerra Fria Econômica emerge a partir de mudanças estruturais na economia mundial, já em curso desde os anos 1980, quando a China começou a flexionar os seus músculos novamente. Ao mesmo tempo, os países em desenvolvimento deixaram de implementar projetos nacionais, introvertidos, de desenvolvimento nacional e abriram-se aos investimentos estrangeiros. Desde então, o a economia mundial foi transformada irreversivelmente, embora gradualmente.
Mas nem tudo, obviamente, mudou. As principais instituições de tomada de decisões ainda continuam a ser o que sempre foram, com a mesma distribuição dos direitos de voto. O FMI e o Banco Mundial estão no meio de seus labores para definir uma nova repartição de votos, tendo já operado algumas acomodações. Os votos coletivos da China, da Índia e do Brasil é 20% menor do que os da Bélgica, dos Países Baixos e da Itália, a despeito do fato que o PIB conjunto do primeiros países é quatro vezes maior do que aquele de seus contrapartes europeus; eles têm uma população 29 vezes maior. Estas são algumas das razões para uma nova Guerra Fria econômica.
Como administrar estas novas realidades no terreno econômico, dispondo das mesmas alavancas políticas e das mesmas velhas estruturas de tomada de decisão como nos processos do passado? Esta é uma questão complicada, sem uma resposta clara ao dilema. Administrar a economia mundial é uma pretensão que mesmo o velho G7 nunca conseguiu alcançar nos seus tempos gloriosos. Os países desenvolvidos controlavam então uma grande proporção do PIB mundial e dos fluxos comerciais e financeiros. Mas eles nunca foram capazes de coordenar suas políticas macroeconômicas entre eles mesmos; menos ainda se poderia esperar que eles estabelecessem regras e metas para o resto do mundo.
Atualmente, com uma penosa queda nas economias avançadas, parece difícil visualizar o que poderia ser feito para restaurar o crescimento a partir de níveis próximos da estagnação em várias economias europeias. Além dos problemas cíclicos afetando as grandes economias (com as exceções da China, da Índia e de alguns outros países), existem vários desafios globais à frente, entre eles o da pobreza nos países menos avançados, e grandes decisões a serem tomadas em relação a questões ambientais, a violações dos direitos humanos em países não democráticos, e vários outros temas relevantes.
Uma estratégia singular poderia ser a definição de apenas uma grande meta global para a comunidade mundial: teria de ser a promoção do desenvolvimento global, não exatamente através da assistência (ou a tradicional Ajuda Oficial ao Desenvolvimento), mas prioritariamente através de uma real liberalização comercial, especialmente no setor agrícola, a única possibilidade efetiva para que os países menos avançados possam ser integrados à economia mundial. Os Estados Unidos e a União Europeia possuem, evidentemente, a maior responsabilidade nesse terreno.
É altamente improvável que propostas consensuais relativas ao desenvolvimento global possam emergir de um fórum tão amplo quanto o G20 financeiro, muito heterogêneo para ser capaz de alcançar posições comuns. Talvez fosse mais indicado lograr uma evolução informal do atual G8 para um novo G13, interrompendo o ciclo do atual G20 (o que talvez já seja difícil de se obter). Isso representaria agregar aos atuais membros do G8 outras cinco grandes economias, nomeadamente Brasil, China, Índia, África do Sul, e ou Indonésia ou México. A experiência demonstra que pequenos grupos informais estão mais próximos de se entenderam sobre ações concretas do que grandes órgãos institucionalizados que acabam dominados pela lerdeza burocrática e desentendimentos políticos.

Novas Perspectivas?
O que deve ser feito? O maior problema nessa modalidade organizacional de se ter um G20 diminuído seria o de como adquirir a legitimidade implícita ao ato de falar para toda a comunidade mundial partindo de um fórum de apenas 13 países. Para resolver essa limitação se necessitaria de um grau de confiança política entre os líderes desses 13 países, definindo um terreno de entendimentos recíprocos entre eles que teria de ser compatível com a função de representação mais ampla que eles pretenderiam assumir em nome de toda a comunidade de nações.
Encontrar terrenos comuns é uma tarefa dura de ser alcançada no estado atual das relações internacionais, caracterizada, como já se sublinhou, por uma guerra fria econômica típica das fases de transição. Parece ser bastante difícil de se lograr uma coordenação perfeita das agendas dos grandes países avançados e das economias emergentes e, mais ainda, entre eles todos e os demais membros das organizações internacionais que eles pretenderiam “substituir”. O mundo não é, simplesmente, tão globalizado como se requereria para alcançar esse tipo de interação. Disparidades de interesses, diferenças entre níveis de desenvolvimento, desequilíbrios entre os países, vários fatores se combinam para tornar praticamente impossível um exercício de coordenação desse tipo.
Uma proposta mais modesta poderia ser se obter uma interação mais frequente – uma vez ao ano – entre os líderes desse novo G13. Sherpas especialmente designados, encontrando-se duas vezes ao ano, poderiam ser mobiliados para discutir questões comerciais, assuntos ambientais, a proteção dos direitos humanos em países apresentando conflitos, missões de peace-keeping das Nações Unidas e outros temas do gênero, dotados de mandatos específicos de seus líderes políticos. Mas não se deve esperar pela ONU para organizar esse tipo de agenda. Já é difícil implementar qualquer coisa através da ONU, um órgão muito burocrático e passavelmente caótico. Melhor realizar a coordenação de agendas através das três mais importantes agências para a globalização contemporânea: o FMI, o Banco Mundial e a OMC.
A tarefa principal dos “novos sherpas” seria a de assegurar a coordenação econômica internacional em torno dos temas mais relevantes para a comunidade global. Uma sugestão possível seria tentar estabelecer um “global new deal”, um novo pacto mundial, intercambiando uma proteção extensiva aos investimentos e à riqueza proprietária (patentes e coisas do gênero), assim como outras condições apropriadas para o desenvolvimento da atividade produtiva no plano microeconômico, do lado dos países em desenvolvimento (ou recebedores de IDE), contra práticas de licenciamento extensivo e investimentos efetivos e liberalização comercial da parte dos países ricos e dos investidores privados. Esse tipo de pacto, ao ampliar os direitos proprietários para os ricos, poderia resultar no fortalecimento dos fluxos de investimentos financeiros e de comércio para os pobres, dando um grande impulso à globalização.
A assistência tradicional ao desenvolvimento, por ineficiente, deveria ser substituída, essencialmente, por um novo foco nas melhorias educacionais graduais, ou seja, um extenso programa para a qualificação de recursos humanos. A assistência, enquanto tal, deveria ser as limitada à implementação de um programa consistente de erradicação da maior parte das doenças infecciosas nos países africanos e em vários outras nações em desenvolvimento. A maior razão para a persistência da pobreza nesses países não é exatamente a falta de recursos, mas a ausência de governança e sua não-integração à economia mundial através de vínculos comerciais.
Considerando que questões de governança democrática e de proteção dos direitos humanos podem ser um desafio para países como a China, ou mesmo, talvez, para a Rússia, o alvo principal da agenda de um novo G13 poderia ser a adoção de altos padrões de governança pública na acepção técnica desta expressão. Na atual fase de guerra fria econômica pode ser precoce a tentativa de se fazer da governança democrática e do respeito pelos direitos humanos o critério decisivo para a cooperação bilateral ou multilateral. Mas estes devem ser os fins últimos de qualquer tipo governança global. Em última instância, a agenda de Fukuyama permanece atual e absolutamente necessária. Remeto, a propósito, ao meu artigo: “O Fim da História, de Fukuyama, vinte anos depois: o que ficou?” (Meridiano 47, n. 114, janeiro 2010, p. 8-17; link: http://meridiano47.files.wordpress.com/2010/05/v11n1a03.pdf). Esse programa não tem nada a ver com o fim da história, e sim com o fim dos regimes autoritários e fechados economicamente. Se existe algum determinismo na História, este parece ser o único aceitável.

Paulo Roberto de Almeida
[Brasília, 31 Janeiro 2011]

1015. “Now, an Economic Cold War: Old Realities, New Prospects”, FRA, Revista de Ciencias y Humanidades de la Fundación Ramón Areces; Monográfico: “Mas Allá de la Crisis: El Futuro del Sistema Multilateral (Madrid: Fundación Ramón Areces, Diciembre 2010, p. 116-120). Postado no blog Diplomatizzando (23/01/2011). Relação de Originais n. 2202.

Declinio americano: de volta a uma velha fabula...

Por vezes, fábulas se realizam... talvez não da forma esperada, ou no momento esperado, mas um dia a "coisa" chega...

Think Again: American Decline
This time it's for real.
BY GIDEON RACHMAN
Foreign Policy, JANUARY/FEBRUARY 2011

"We've Heard All This About American Decline Before."
This time it's different. It's certainly true that America has been through cycles of declinism in the past. Campaigning for the presidency in 1960, John F. Kennedy complained, "American strength relative to that of the Soviet Union has been slipping, and communism has been advancing steadily in every area of the world." Ezra Vogel's Japan as Number One was published in 1979, heralding a decade of steadily rising paranoia about Japanese manufacturing techniques and trade policies.

In the end, of course, the Soviet and Japanese threats to American supremacy proved chimerical. So Americans can be forgiven if they greet talk of a new challenge from China as just another case of the boy who cried wolf. But a frequently overlooked fact about that fable is that the boy was eventually proved right. The wolf did arrive -- and China is the wolf.

The Chinese challenge to the United States is more serious for both economic and demographic reasons. The Soviet Union collapsed because its economic system was highly inefficient, a fatal flaw that was disguised for a long time because the USSR never attempted to compete on world markets. China, by contrast, has proved its economic prowess on the global stage. Its economy has been growing at 9 to 10 percent a year, on average, for roughly three decades. It is now the world's leading exporter and its biggest manufacturer, and it is sitting on more than $2.5 trillion of foreign reserves. Chinese goods compete all over the world. This is no Soviet-style economic basket case.

Japan, of course, also experienced many years of rapid economic growth and is still an export powerhouse. But it was never a plausible candidate to be No. 1. The Japanese population is less than half that of the United States, which means that the average Japanese person would have to be more than twice as rich as the average American before Japan's economy surpassed America's. That was never going to happen. By contrast, China's population is more than four times that of the United States. The famous projection by Goldman Sachs that China's economy will be bigger than that of the United States by 2027 was made before the 2008 economic crash. At the current pace, China could be No. 1 well before then.

China's economic prowess is already allowing Beijing to challenge American influence all over the world. The Chinese are the preferred partners of many African governments and the biggest trading partner of other emerging powers, such as Brazil and South Africa. China is also stepping in to buy the bonds of financially strapped members of the eurozone, such as Greece and Portugal.

And China is only the largest part of a bigger story about the rise of new economic and political players. America's traditional allies in Europe -- Britain, France, Italy, even Germany -- are slipping down the economic ranks. New powers are on the rise: India, Brazil, Turkey. They each have their own foreign-policy preferences, which collectively constrain America's ability to shape the world. Think of how India and Brazil sided with China at the global climate-change talks. Or the votes by Turkey and Brazil against America at the United Nations on sanctions against Iran. That is just a taste of things to come.

"China Will Implode Sooner or Later."
Don't count on it. It is certainly true that when Americans are worrying about national decline, they tend to overlook the weaknesses of their scariest-looking rival. The flaws in the Soviet and Japanese systems became obvious only in retrospect. Those who are confident that American hegemony will be extended long into the future point to the potential liabilities of the Chinese system. In a recent interview with the Times of London, former U.S. President George W. Bush suggested that China's internal problems mean that its economy will be unlikely to rival America's in the foreseeable future. "Do I still think America will remain the sole superpower?" he asked. "I do."

But predictions of the imminent demise of the Chinese miracle have been a regular feature of Western analysis ever since it got rolling in the late 1970s. In 1989, the Communist Party seemed to be staggering after the Tiananmen Square massacre. In the 1990s, economy watchers regularly pointed to the parlous state of Chinese banks and state-owned enterprises. Yet the Chinese economy has kept growing, doubling in size roughly every seven years.

Of course, it would be absurd to pretend that China does not face major challenges. In the short term, there is plenty of evidence that a property bubble is building in big cities like Shanghai, and inflation is on the rise. Over the long term, China has alarming political and economic transitions to navigate. The Communist Party is unlikely to be able to maintain its monopoly on political power forever. And the country's traditional dependence on exports and an undervalued currency are coming under increasing criticism from the United States and other international actors demanding a "rebalancing" of China's export-driven economy. The country also faces major demographic and environmental challenges: The population is aging rapidly as a result of the one-child policy, and China is threatened by water shortages and pollution.

Yet even if you factor in considerable future economic and political turbulence, it would be a big mistake to assume that the Chinese challenge to U.S. power will simply disappear. Once countries get the hang of economic growth, it takes a great deal to throw them off course. The analogy to the rise of Germany from the mid-19th century onward is instructive. Germany went through two catastrophic military defeats, hyperinflation, the Great Depression, the collapse of democracy, and the destruction of its major cities and infrastructure by Allied bombs. And yet by the end of the 1950s, West Germany was once again one of the world's leading economies, albeit shorn of its imperial ambitions.

In a nuclear age, China is unlikely to get sucked into a world war, so it will not face turbulence and disorder on remotely the scale Germany did in the 20th century. And whatever economic and political difficulties it does experience will not be enough to stop the country's rise to great-power status. Sheer size and economic momentum mean that the Chinese juggernaut will keep rolling forward, no matter what obstacles lie in its path.

"America Still Leads Across the Board."
For now. As things stand, America has the world's largest economy, the world's leading universities, and many of its biggest companies. The U.S. military is also incomparably more powerful than any rival. The United States spends almost as much on its military as the rest of the world put together. And let's also add in America's intangible assets. The country's combination of entrepreneurial flair and technological prowess has allowed it to lead the technological revolution. Talented immigrants still flock to U.S. shores. And now that Barack Obama is in the White House, the country's soft power has received a big boost. For all his troubles, polls show Obama is still the most charismatic leader in the world; Hu Jintao doesn't even come close. America also boasts the global allure of its creative industries (Hollywood and all that), its values, the increasing universality of the English language, and the attractiveness of the American Dream.

All true -- but all more vulnerable than you might think. American universities remain a formidable asset. But if the U.S. economy is not generating jobs, then those bright Asian graduate students who fill up the engineering and computer-science departments at Stanford University and MIT will return home in larger numbers. Fortune's latest ranking of the world's largest companies has only two American firms in the top 10 -- Walmart at No. 1 and ExxonMobil at No. 3. There are already three Chinese firms in the top 10: Sinopec, State Grid, and China National Petroleum. America's appeal might also diminish if the country is no longer so closely associated with opportunity, prosperity, and success. And though many foreigners are deeply attracted to the American Dream, there is also a deep well of anti-American sentiment in the world that al Qaeda and others have skillfully exploited, Obama or no Obama.

As for the U.S. military, the lesson of the Iraq and Afghan wars is that America's martial prowess is less useful than former Defense Secretary Donald Rumsfeld and others imagined. U.S. troops, planes, and missiles can overthrow a government on the other side of the world in weeks, but pacifying and stabilizing a conquered country is another matter. Years after apparent victory, America is still bogged down by an apparently endless insurgency in Afghanistan.

Not only are Americans losing their appetite for foreign adventures, but the U.S. military budget is clearly going to come under pressure in this new age of austerity. The present paralysis in Washington offers little hope that the United States will deal with its budgetary problems swiftly or efficiently. The U.S. government's continuing reliance on foreign lending makes the country vulnerable, as Secretary of State Hillary Clinton's humbling 2009 request to the Chinese to keep buying U.S. Treasury bills revealed. America is funding its military supremacy through deficit spending, meaning the war in Afghanistan is effectively being paid for with a Chinese credit card. Little wonder that Adm. Mike Mullen, chairman of the Joint Chiefs of Staff, has identified the burgeoning national debt as the single largest threat to U.S. national security.

Meanwhile, China's spending on its military continues to grow rapidly. The country will soon announce the construction of its first aircraft carrier and is aiming to build five or six in total. Perhaps more seriously, China's development of new missile and anti-satellite technology threatens the command of the sea and skies on which the United States bases its Pacific supremacy. In a nuclear age, the U.S. and Chinese militaries are unlikely to clash. A common Chinese view is that the United States will instead eventually find it can no longer afford its military position in the Pacific. U.S. allies in the region -- Japan, South Korea, and increasingly India -- may partner more with Washington to try to counter rising Chinese power. But if the United States has to scale back its presence in the Pacific for budgetary reasons, its allies will start to accommodate themselves to a rising China. Beijing's influence will expand, and the Asia-Pacific region -- the emerging center of the global economy -- will become China's backyard.

"Globalization Is Bending the World the Way of the West."
Not really. One reason why the United States was relaxed about China's rise in the years after the end of the Cold War was the deeply ingrained belief that globalization was spreading Western values. Some even thought that globalization and Americanization were virtually synonymous.

Pundit Fareed Zakaria was prescient when he wrote that the "rise of the rest" (i.e., non-American powers) would be one of the major features of a "post-American world." But even Zakaria argued that this trend was essentially beneficial to the United States: "The power shift … is good for America, if approached properly. The world is going America's way. Countries are becoming more open, market-friendly, and democratic."

Both George W. Bush and Bill Clinton took a similar view that globalization and free trade would serve as a vehicle for the export of American values. In 1999, two years before China's accession to the World Trade Organization, Bush argued, "Economic freedom creates habits of liberty. And habits of liberty create expectations of democracy.… Trade freely with China, and time is on our side."

There were two important misunderstandings buried in this theorizing. The first was that economic growth would inevitably -- and fairly swiftly -- lead to democratization. The second was that new democracies would inevitably be more friendly and helpful toward the United States. Neither assumption is working out.

In 1989, after the Tiananmen Square massacre, few Western analysts would have believed that 20 years later China would still be a one-party state -- and that its economy would also still be growing at phenomenal rates. The common (and comforting) Western assumption was that China would have to choose between political liberalization and economic failure. Surely a tightly controlled one-party state could not succeed in the era of cell phones and the World Wide Web? As Clinton put it during a visit to China in 1998, "In this global information age, when economic success is built on ideas, personal freedom is … essential to the greatness of any modern nation."

In fact, China managed to combine censorship and one-party rule with continuing economic success over the following decade. The confrontation between the Chinese government and Google in 2010 was instructive. Google, that icon of the digital era, threatened to withdraw from China in protest at censorship, but it eventually backed down in return for token concessions. It is now entirely conceivable that when China becomes the world's largest economy -- let us say in 2027 -- it will still be a one-party state run by the Communist Party.

And even if China does democratize, there is absolutely no guarantee that this will make life easier for the United States, let alone prolong America's global hegemony. The idea that democracies are liable to agree on the big global issues is now being undermined on a regular basis. India does not agree with the United States on climate change or the Doha round of trade talks. Brazil does not agree with the United States on how to handle Venezuela or Iran. A more democratic Turkey is today also a more Islamist Turkey, which is now refusing to take the American line on either Israel or Iran. In a similar vein, a more democratic China might also be a more prickly China, if the popularity of nationalist books and Internet sites in the Middle Kingdom is any guide.

"Globalization Is Not a Zero-Sum Game."
Don't be too sure. Successive U.S. presidents, from the first Bush to Obama, have explicitly welcomed China's rise. Just before his first visit to China, Obama summarized the traditional approach when he said, "Power does not need to be a zero-sum game, and nations need not fear the success of another.… We welcome China's efforts to play a greater role on the world stage."

But whatever they say in formal speeches, America's leaders are clearly beginning to have their doubts, and rightly so. It is a central tenet of modern economics that trade is mutually beneficial for both partners, a win-win rather than a zero-sum. But that implies the rules of the game aren't rigged. Speaking before the 2010 World Economic Forum, Larry Summers, then Obama's chief economic advisor, remarked pointedly that the normal rules about the mutual benefits of trade do not necessarily apply when one trading partner is practicing mercantilist or protectionist policies. The U.S. government clearly thinks that China's undervaluation of its currency is a form of protectionism that has led to global economic imbalances and job losses in the United States. Leading economists, such as New York Times columnist Paul Krugman and the Peterson Institute's C. Fred Bergsten, have taken a similar line, arguing that tariffs or other retaliatory measures would be a legitimate response. So much for the win-win world.

And when it comes to the broader geopolitical picture, the world of the future looks even more like a zero-sum game, despite the gauzy rhetoric of globalization that comforted the last generation of American politicians. For the United States has been acting as if the mutual interests created by globalization have repealed one of the oldest laws of international politics: the notion that rising players eventually clash with established powers.

In fact, rivalry between a rising China and a weakened America is now apparent across a whole range of issues, from territorial disputes in Asia to human rights. It is mercifully unlikely that the United States and China would ever actually go to war, but that is because both sides have nuclear weapons, not because globalization has magically dissolved their differences.

At the G-20 summit in November, the U.S. drive to deal with "global economic imbalances" was essentially thwarted by China's obdurate refusal to change its currency policy. The 2009 climate-change talks in Copenhagen ended in disarray after another U.S.-China standoff. Growing Chinese economic and military clout clearly poses a long-term threat to American hegemony in the Pacific. The Chinese reluctantly agreed to a new package of U.N. sanctions on Iran, but the cost of securing Chinese agreement was a weak deal that is unlikely to derail the Iranian nuclear program. Both sides have taken part in the talks with North Korea, but a barely submerged rivalry prevents truly effective Sino-American cooperation. China does not like Kim Jong Il's regime, but it is also very wary of a reunified Korea on its borders, particularly if the new Korea still played host to U.S. troops. China is also competing fiercely for access to resources, in particular oil, which is driving up global prices.

American leaders are right to reject zero-sum logic in public. To do anything else would needlessly antagonize the Chinese. But that shouldn't obscure this unavoidable fact: As economic and political power moves from West to East, new international rivalries are inevitably emerging.

The United States still has formidable strengths. Its economy will eventually recover. Its military has a global presence and a technological edge that no other country can yet match. But America will never again experience the global dominance it enjoyed in the 17 years between the Soviet Union's collapse in 1991 and the financial crisis of 2008. Those days are over.

Delfim Netto: o grande "inversor" da historia economica...

Inacreditável Delfim Netto: ele consegue involuir economicamente e historicamente.
O artigo que ele publica hoje, no jornal Valor Econômico, sobre o processo de desenvolvimento ("O desenvolvimento é mais embaixo", p. A2), constitui a mais notavel inversão de fatores causais já registrada nos últimos 130 mil anos, ou se o ex-deputado quiser, nos últimos 300 anos, relativamente aos fatores de indução ou de aceleração desse processo.
Ao "explicar" essa "história de mercado", que só funcionaria adequadamente se fosse bem organizado pelo Estado, o articulista se refere ao caso da Inglaterra e da Holanda, mas diz que no caso da China, supostamente bem dotada em fatores de produção, a elevação da produtividade só se deu quando se teve:
"um Estado indutor" que:
1) respeitasse e dignificasse a atividade do setor privado;
2) libertasse o 'espírito animal' dos empresários...
3) garantisse que cada um poderia apropriar-se dos benefícios de sua iniciativa."

Inacreditável essa descoberta da pólvora ao contrário do ex-deputado, pois o que ele está dizendo é que a China só começou a se desenvolver quando o Estado chinês garantiu -- ou talvez "criou", na concepção -- tudo isso.
Não lhe ocorre que a história pode E DEVE ser lida completamente ao contrário: se o Estado (comunista) chinês não tivesse proibido tudo isso, o processo de desenvolvimento na China poderia ter vindo muito antes, sem esses ENTRAVES criados pelo Estado.
Em resumo, as três condições do ex-deputado devem ser lidas completamente ao contrário: "se um Estado 'normal' (não indutor), não tivesse proibido as atividades do setor privado, se ele não tivesse extirpado os capitalistas do país, se ele não tivesse proibido a propriedade privada...", toda a história teria sido diferente.

Certos articulistas precisam parar para pensar no que estão escrevendo...

Paulo Roberto de Almeida

G20 comercial e G20 financeiro: a confusao continua...

Jornalistas se enganam, claro, como qualquer ser humano. Mas eles raramente se dispõem a retificar uma informação equivocada frente a seus leitores. Eu havia alertado, neste meu post, sobre a confusão entre G20 comercial (que não deveria ter esse nome, pois nunca teve um número fixo de membros, pois variou entre 18 e 23 ao longo do tempo e nem se sabe, atualmente, quantos efetivamente participam de algo muito informal), e o G20 financeiro, este sim formalizado, com reuniões de cúpula e todo esse balé diplomático.
Vamos aguardar uma matéria para desfazer a confusão, pois os esclarecimentos ainda não foram muito explícitos.
Paulo Roberto de Almeida

Os G-20
Merval Pereira
O Globo, 1/02/2010

O economista Nouriel Roubini, professor de economia na Universidade de Nova York, que ganhou notoriedade por ter sido talvez o único a antecipar a crise financeira que abalou os mercados mundiais nos últimos anos, tem uma visão pessimista da atuação do G-20, o grupo que reúne as maiores economias do mundo, afirmando que há “um completo desentendimento” no que chama de G-Zero.

No Fórum Econômico Mundial de Davos, Roubini lamentou que não existam hoje no mundo lideranças que possam organizar a ação internacional para enfrentar a crise, que ainda está presente.

Essa, porém, não é a opinião predominante entre os principais executivos e autoridades que andaram na semana passada pelo Fórum de Davos.

O papel do G-20 de coordenar uma resposta efetiva à crise financeira global que estourou em 2008 foi considerado exitoso pela maioria dos presentes que, ao contrário, consideram que o organismo internacional ganhou corpo para enfrentar uma tarefa mais complexa, que representa um desafio até maior: assegurar a estabilidade e uma recuperação econômica sustentável.

Para isso, o G-20 terá que tomar medidas que previnam uma próxima crise sistêmica. Essa foi a conclusão genérica de um painel realizado no Fórum Econômico Mundial em Davos, coordenado pelo jornalista Michael J. Elliott, editor da revista “Time” e que teve a presença, entre outros, de Tony Clement, ministro da Indústria do Canadá; Cui Tiankai, vice-ministro Relações Exteriores da China; e Mari Elka Pangestu, ministro do Comércio da Indonésia.

O desafio mais sensível é a regulação dos mercados financeiros internacionais, uma prioridade já anunciada pelo presidente francês Nicolas Sarkozy, que preside o grupo este ano.

Houve um consenso na mesa de debates: os líderes do G-20 terão que ser cautelosos em relação à regulação dos mercados financeiros, pesando bem os custos dessa regulação e o potencial destrutivo de suas consequências. Tão importante quanto a regulação deve ser a criação de mecanismos que façam com que o sistema seja resistente a futuras crises, como uma rede de proteção para países vulneráveis a choques externos e fuga de capitais.

Há um entendimento generalizado, contrariando a visão de Roubini, apelidado de “Mr. Catástrofe” por seu pessimismo, de que o G-20 representa um passo gigantesco em termos de governança e cooperação internacionais, embora haja críticas quanto à sua representatividade.

Em particular, há a sensação de que a África deveria estar mais representada no grupo, enquanto a Europa está super-representada.

Também as economias emergentes precisam ter papéis mais afirmativos no FMI e no Banco Mundial, a partir de suas presenças no G-20.

Acima de tudo, diz um resumo do debate no Fórum Econômico Mundial, o G-20 tem que evitar ser um “ clube exclusivo”, encarando os problemas globais que interessem a todos os países, e não apenas aos interesses específicos de seus membros.

De qualquer maneira, o G-20 transformou-se em pouco tempo em um organismo importante e teve um papel fundamental de prevenção na crise financeira de 2008, restaurando um mínimo de senso de estabilidade coordenando uma expansão fiscal sem precedentes de cerca de US$5 trilhões.

O G-20 que reúne as maiores economias do mundo, na definição do embaixador Roberto Abdenur, é mais relevante “e agora se ergue, no complicado esforço de administrar a crise e tentar proceder de maneira consensual a um rearranjo do poder decisório sobre a economia internacional”. Na avaliação de Abdenur, porém, o G-20 comercial surgido há vários anos no seio da OMC, no contexto das negociações da Rodada de Doha para o Desenvolvimento, teve sua importância.

Iniciativa de Brasil e Índia, reuniu 20 países em desenvolvimento, irmanados num objetivo comum: a luta contra os subsídios agrícolas praticados pela UE, EUA e muitos outros países desenvolvidos.

Para além disso, congregava o grupo o sentimento de que a agenda agrícola não poderia ser jogada de lado, como havia ocorrido na Rodada Uruguai.

O G-20 se dividiu quando da apresentação, em meados de 2008, de um pacote de conciliação. O Brasil aceitou a iniciativa, Índia e China se opuseram fortemente, pois, ao contrário do Brasil, têm postura defensiva no que se refere a acesso a seus mercados agrícolas, o que resultou no fracasso das negociações.

Embora volta e meia seja anunciada a retomada das negociações da Rodada Doha, e este ano em Davos não foi diferente, Abdenur diz ironicamente que ela está “em estado de coma meio criogênico, à maneira da tripulação da nave do Avatar. Talvez algum dia volte ao planeta Terra, e se reanime. Mas isso, nas presentes circunstâncias, ainda vai demorar”.

O outro G-20 é aquele que agora reúne o G-7/8 — que sobrevive, dedicado agora a questões da paz e segurança internacionais — e outros 12 países, todos eles emergentes, entre os quais China e Índia, os mesmos que discordaram do Brasil na rodada do G-20 comercial de 2008.

Agora, esses mesmos países estarão discutindo a agenda do presidente francês Nicolas Sarkozy, que prioriza a regulamentação dos mercados financeiros internacionais e também o mercado de commodities, inclusive o de alimentos, e provavelmente estarão unidos novamente para defender seus interesses específicos.

Esse G-20 já existia há alguns anos, reunindo-se, no nível de ministros das Finanças, à sombra do FMI/Banco Mundial. O embaixador Roberto Abdenur localiza na sua origem uma ideia do então influente ministro canadense, Paul Martin.

Abdenur considera que a “revolução”, em termos do reordenamento do sistema decisório, foi a elevação, ainda na Presidência de George W. Bush, do G-20 ao nível de chefes de governo, como uma maneira de encarar os problemas internacionais que estiveram na origem da crise global desatada em fins de 2008.