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sábado, 4 de julho de 2015

Livros de P. R. de Almeida: uma resenha de Fabio Ribeiro

Brasil no mundo

Diplomacia sem frescura e com inteligência

Fábio Pereira Ribeiro
Exame.com, 3/07/2015

A diplomacia brasileira sempre foi uma referência no teatro internacional. Muitos diplomatas brasileiros se tornaram verdadeiros heróis de guerras de bastidores, sem contar na defesa de milhares de pessoas e na liberdade e desenvolvimento de novos países.

Referência e respeito, sempre foi assim para a diplomacia brasileira, por mais que nos últimos anos, manchas surreais feriram a honra do legado de Rio Branco.

Outro ponto importante na história da diplomacia brasileira está na sua formação. Tanto a academia de diplomatas como as formações superiores podem ser consideradas as verdadeiras “Think Tank” no Brasil.  O conhecimento produzido é vasto, seja pela academia como também pela produção individual de diversos diplomatas. Conteúdo da melhor safra para a diplomacia mundial, os diplomatas brasileiros se encerem no rol de grandes textos e conhecimentos que formam a inteligência na arte da diplomacia.

Com vasta inteligência, estratégia, diplomacia e prudência, sem contar arrojo internacional, o diplomata Paulo Roberto de Almeida é um dos profissionais da arte diplomática que contribui para este cenário.

Com as suas obras a diplomacia brasileira ganhou um patamar superior de inteligência, e com certeza, sem frescuras. Doutor em Ciências Sociais e Mestre em Planejamento Econômico, o diplomata também foi professor no Instituto Rio Branco e na Universidade de Brasília. Como diplomata serviu em diversos postos no exterior, e hoje é editor adjunto da Revista Brasileira de Política Internacional.

Paulo Roberto de Almeida - Fonte: Exame

Paulo Roberto de Almeida – Fonte: Exame

Recentemente lançou uma obra que apresenta o cenário da diplomacia e sua verdadeira realidade. “Nunca antes na diplomacia… – a política externa brasileira em tempos não convencionais” publicado pela Editora Appris, Paulo Roberto de Almeida apresentou um cenário real dos caminhos, e descaminhos, da diplomacia nacional. Como em uma citação de George Orwell na abertura do livro que Paulo Roberto de Almeida apresenta, “em tempos de grandes mentiras, o ato de falar a verdade torna-se revolucionário”, a obra é revolucionária para muitos irreais governantes que não entendem, ou não dão a devida atenção às questões de política externa.

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Na mesma linha criativa e inteligente, sem perder a diplomacia, Paulo Roberto de Almeida lançou, através de edição própria, dois grandes livros que todo estudante de política internacional, diplomacia, estratégia e inteligência estratégica deveriam ter como referência e cabeceira.

As obras “O panorama visto em Mundorama – ensaios irreverentes e não autorizados” e “Paralelos com o Meridiano 47 – ensaios longitudinais e de ampla latitude” formam uma excelência em altos estudos de diplomacia, estratégia e inteligência. Publicadas este ano pela Editora Hartford em Edição do Autor, as obras constituem um conjunto de experiências na diplomacia e na política, e de uma forma geral, como realmente a política nacional precisa entender a política externa.

Em “O panorama visto em Mundorama – ensaios irreverentes e não autorizados” Paulo Roberto de Almeida revê loucuras diplomáticas de um Estado que se perdeu, ou melhor, que morreu mas esqueceram de enterrar. Com análises cirúrgicas e cenários conscientes de uma verdade diplomacia, Paulo Roberto de Almeida disseca a realidade, e até mesmo o futuro que possa acontecer, da diplomacia atual, principalmente da diplomacia companheira ou da embromação. O livro é um belo tratado de política internacional que demonstra a realidade e sua efetividade para gerar um conhecimento contundente da diplomacia.

Já em “Paralelos com o Meridiano 47 – ensaios longitudinais e de ampla latitude” o diplomata apresenta uma visão completa da política externa através da sociologia, da história e da inteligência estratégica para a construção de uma diplomacia real e sensata para que o Brasil, considerando seus condicionantes de política externa, possa realmente constituir reflexões e construções de um futuro diplomático.

A visão de Paulo Roberto de Almeida traz um novo alento à diplomacia brasileira, principalmente para os novos estudantes e políticos que precisam entender de fato os caminhos da política externa, e cá entre nós, sem frescura.

Para saber mais: http://www.pralmeida.org

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Partido Totalitario: de líder estudantil a chefe de quadrilha, uma trajetoria coerente com os crimes cometidos

Acuado pela Lava Jato, José Dirceu pede habeas preventivo

O Estado de S.Paulo, 02 Julho 2015 | 12:30

Defesa diz que ex-ministro-chefe da Casa Civil no governo Lula está no ‘crepúsculo de sua vida’ e à disposição da Justiça

José Dirceu. Foto: André Dusek/Estadão

José Dirceu. Foto: André Dusek/Estadão

Atualizada às 17h15

Por Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, Julia Affonso e Fausto Macedo

O ex-ministro José Dirceu (Casa Civil no governo Lula) ingressou com habeas corpus preventivo no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF4), que mantém jurisdição inclusive em Curitiba (PR), base da Operação Lava Jato. A medida, subscrita por seis criminalistas defensores do ex-mininstro, busca evitar que Dirceu seja alvo de uma ordem de prisão no âmbito das investigações sobre esquema de propinas e corrupção na Petrobrás.

LEIA A ÍNTEGRA DO HABEAS CORPUS PREVENTIVO DE JOSÉ DIRCEU

LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA DA ASSESSORIA DE IMPRENSA DO EX-MINISTRO JOSÉ DIRCEU

A defesa de Dirceu avalia que ele está “na iminência de sofrer constrangimento ilegal” – referindo-se a uma eventual ordem de prisão pela Justiça Federal no Paraná. A Lava Jato suspeita que o ex-ministro tenha recebido propinas em forma de consultorias de sua empresa, a JD Assessoria. Também é alvo da investigação suposta lavagem de dinheiro por parte de Dirceu.

Delator diz que Dirceu queria reconstruir imagem

Pascowitch detalha elo com José Dirceu

Na última segunda-feira, 29, o lobista Milton Pascowitch firmou acordo de delação premiada com a força-tarefa da Lava Jato e apontou supostos repasses de propinas para o ex-ministro.

Os advogados do ex-ministro – Roberto Podval, Paula Moreira Indalecio Gambôa, Luis Fernando Silveira Beraldo, Daniel Romeiro, Viviane Santana Jacob Raffaini e Jorge Coutinho Paschoal – assinalam no habeas preventivo. ” No caso da conhecida Operação Lava Jato, que tanto tem ocupado os noticiários nos últimos meses e que, quase semanalmente, tem levado diversas pessoas ao cárcere, a dedicada e firme atuação das autoridades públicas envolvidas tem sido motivo de regozijo da sociedade, já que o males da corrupção de agentes públicos e do desvio de recursos do Estado são, com razão, umas das maiores preocupações dos brasileiros.”

Eles fazem um alerta. “Esse júbilo, todavia, tem se transformado em euforia, à medida que novas prisões e novas delações (ou partes destas) são vazadas pela cobertura diuturna da imprensa. Festeja-se a prisão de políticos e empresários como se estivesse sendo feita justiça, ignorando-se que ainda não houve julgamento, que
muitas vezes, sequer foram ouvidos. Toma-se, como verdade absoluta, o relato de delatores, deixando-se de lado a necessidade de que a acusação prove, em juízo, a veracidade de suas alegações, e desprezando o fato de que o motivo que leva alguém a delatar não é o nobre desejo de justiça, mas o anseio pela liberdade a qualquer custo.”

Sobre José Dirceu, os advogados traçam um perfil, desde os primórdios de sua atuação estudantil contra o regime militar e a criação do PT. ” O paciente é pessoa pública desde sua juventude, quando foi preso e exilado por se opor ao regime ditatorial que vigorava no país, tendo, mais tarde, papel determinante na criação de um dos maiores partidos políticos de esquerda da atualidade, o Partido dos Trabalhadores. Independentemente de se concordar ou não com suas ideias, de gostar ou não do seu partido, há que se reconhecer que o paciente foi
personagem importante na história do país.”

Argumentam os defensores: “(Dirceu) nunca se pautou por fins mesquinhos ou gananciosos; ao longo da sua vida como político, não construiu castelos, não criou impérios ou acumulou fortuna. Até mesmo seus críticos mais duros sabem que com ele não encontrarão riquezas escondidas; dele, não acharão contas no exterior, nem com muito, nem com pouco dinheiro. Pelo contrário, o que se afirma nas delações é que amigos pediram por ele. Ainda que verdade fosse (e aqui o afirmamos apenas como exercício argumentativo), essa afirmativa só demonstra sua necessidade.”

Dirceu está no crepúsculo de sua vida e já foi condenado em outro processo, o do Mensalão, diz o texto do habeas corpus. “Hoje, no crepúsculo de sua vida, já com 70 anos, após ter sido processado, condenado, preso e estar cumprindo pena em regime aberto, tudo sob o acompanhamento incansável da imprensa, o paciente vê-se
citado e enredado em nova investigação, agora, porém, sem a perspectiva de viver para ver sua sentença final.”

A defesa descreve as atividades da JD Assessoria e Consultoria. “(Dirceu) foi sócio de empresa de consultoria JD Assessoria e Consultoria LTDA., sediada na cidade de São Paulo/SP , que atuou de 2006 a 2014 prestando assessoria a empresas brasileiras e estrangeiras com foco, sobretudo, em prospecção de negócios no exterior. No período, foram atendidos cerca de 60 clientes de quase 20 setores diferentes da economia, como indústrias de bens de consumo, telecomunicações, comércio exterior, logística, tecnologia da informação, comunicações e construção civil. José Dirceu trabalhou, entre outras, para as brasileiras Ambev, Hypermarcas, EMS, o grupo ABC, do publicitário Nizan Guanaes, além de atender a espanhola Telefônica, e dar consultoria para os empresários Carlos Slim, Gustavo Cisneros e Ricardo Salinas.”

Os advogados apontam para o cerco da força-tarefa do Ministério Público Federal, que pediu a quebra do sigilo da empresa do ex-ministro. ” A mal disfarçada ânsia do parquet (Ministério Público) em envolver o paciente numa suposta prática criminosa fica clara, quando se observa que, no pedido de quebra, o MPF afirma haver indícios de utilização da JD Assessoria na prática de crimes, não por se dispor de qualquer indício nesse sentido, mas apenas em razão de José Dirceu figurar como seu sócio.”

Os advogados de Dirceu reiteram que ele não pretende obstruir as investigações, nem ocultar documentos ou valores. “Ele jamais pretendeu e jamais pretenderá furtar-se à aplicação da lei penal, não havendo que se falar em ilações e presunções a respeito de probabilidade de fuga, tão repelidas pela doutrina pátria. Não havendo, portanto, qualquer prova nos autos, mesmo que indiciária, de que, caso seja condenado, o paciente procurará furtar-se à aplicação da lei penal, não há que se falar em prisão preventiva para se assegurar a aplicação seja da lei penal.”

 

Petrolão: corrupcao e roubalheira muito maiores do que o imaginado

Sempre desconfiei que os tais 3% nunca foram de verdade 3%, assim com achei ridícula a estimativa da nova diretoria da Petrobras para as perdas ocasionadas pela gatunagem petista. A conta só pode ser infinitamente mais alta, coisa de dezenas de bilhões.
No topo de todos esses crimes adivinhem quem vai estar?
Sim, ele mesmo, que já deveria ter sido preso.
O país vai respirar aliviado quando o capô mafioso for preso.
Paulo Roberto de Almeida 


PF já calcula em R$ 19 bi o prejuízo da Petrobrás

O Estado de S.Paulo, 02 Julho 2015 | 19:52

Delegado da Lava Jato anuncia que perícia técnica em fase final apontará sobrepreços muito maiores que os porcentuais inicialmente anunciados em propinas; valor é três vezes maior que o inserido no balanço da estatal

Por Julia Affonso, Fausto Macedo e Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba

Edifício da Petrobrás, no Rio. Foto: André Dusek/Estadão

Edifício da Petrobrás, no Rio. Foto: André Dusek/Estadão

A Polícia Federal reuniu elementos para apontar que o prejuízo gerado para a Petrobrás pelo esquema de cartel, fraudes em licitações, desvios e corrupção alvos da Operação Lava Jato pode chegar a 20% do valor dos contratos. O porcentual é muito superior aos 3% referentes às propinas confessadas por delatores. Segundo a PF, o rombo no caixa da estatal petrolífera já chega a R$ 19 bilhões.

O delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paulo, um dos coordenadores da equipe da Lava Jato, afirmou que essa coleta de elementos “pode levar um prejuízo à Petrobrás em seus contratos da ordem de 15% a 20%”.

“Laudos de nossos peritos da área contábil e de engenharia que devem ser divulgados em breve derrubam a tese de que a corrupção nesses contratos era em torno de 2% a 3%. Provavelmente vamos chegar em patamares de 15% a 20% do valor dos contratos sendo destinados à corrupção”, afirmou o delegado nesta quinta-feira, 2.

A Lava Jato aponta até o momento um prejuízo de pelo menos R$ 6,2 bilhões para a Petrobrás, valor reconhecido pela estatal em seu balanço.

“Aquele número do balanço da Petrobrás é válido, mas conservador. Não temos dúvida de que os prejuízos são maiores que os R$ 6 bilhões lançados no balanço. Mas é quase impossível fazer essa mensuração porque há uma série de efeitos em toda a cadeia de licitação”, afirmou o procurador da República Carlos Fernando Santos Lima, da força-tarefa da Lava Jato.

Os procuradores da força-tarefa esperam recuperar espontaneamente R$ 1 bilhão até o fim deste ano, segundo avaliação de Carlos Lima. Até o momento já retornaram aos cofres públicos R$ 700 milhões – incluindo valores devolvidos pelos réus confessos.

O delegado Igor Romário explicou que peritos federais incluíram nos cálculos em fase final “não apenas porcentuais destinados a pagamentos de agentes públicos e políticos”. “Mas também prejuízos causados em favor das empresas contratadas através do sobrepreço dos contratos, seja por jogo de planilha, seja por inserção de despesas desnecessárias.”

Igor Romário de Paula explicou que os porcentuais de até 3% comunicados até aqui nas operações da Lava Jato tinham por base a informação dos delatores.

“Só que esses laudos que estão sendo concluídos estão considerando não só a corrupção destinada aos agentes públicos. Estão embutidos aí superfaturamento, jogo de planilhas, montagem de projetos destinados a favorecer as empresas.”

O levantamento em análise concentra alguns contratos investigados. Por isso, o valo total do rombo é muito maior, segundo avaliação dos investigadores.

O delegado da Lava Jato afirmou que assim que for concluído o laudo poderá ser melhor detalhado como as empresas, além de participarem de um cartel, que lhes garantia a divisão do mercado, também recebiam pagamento superior ao que era justificado para o contrato.

As denúncias envolvendo sobrepreço e fraudes em licitações ainda não integram o rol de acusações dos primeiros processos da Lava Jato. O Ministério Público Federal tem priorizado a divisão dos crimes em denúncias distintas, e concentrou as primeiras etapas nos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

“Temos a impressão que nunca chegaremos a um número fechado. E, infelizmente, nunca vamos recuperar um número próximo a esse valor”, afirmou Igor Romário.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Venezuela: a vida miseravel sob a ditadura bolivariana

 

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Maduro, ídolo do Governo Dilma, do Lula e do PT, se aprimora...

Desabastecimento põe venezuelanos horas nas filas para fazer compras

SAMY ADGHIRNI
DE CARACAS

FSP, 02/07/2015 

Numa manhã recente, a engenheira Karina Rangel, 40, mãe de dois bebês, foi a uma farmácia de Caracas onde havia chegado um carregamento de fraldas, item raro numa Venezuela assolada pelo desabastecimento.

Enquanto esperava na fila do caixa, viu entrar na loja um grupo de dez pessoas que ela identificou como "bachaqueros", como são chamados os que compram produtos a preço regulado para revendê-los no mercado negro.

O grupo furou a fila na frente de Karina. A engenheira reclamou, provocando reação furiosa de uma "bachaquera". "Ela me empurrou e jurou que iria me cortar a cara", lembra Karina, que teve de sair da loja protegida pelos seguranças.

Federico Parra - 16.jan.2015/AFP

Venezuelanos fazem fila para entrar em supermercado na capital, Caracas

Em maio, a imprensa local relatou o caso de uma gerente de supermercado que teve o rosto mutilado por uma cliente inconformada por não poder levar mais de três vidros de azeite de oliva –o limite fixado pelo governo.

A dona de casa Dina Rawlins, 57, não voltou ao supermercado do seu bairro desde a recente briga de socos entre um segurança e um cliente acusado de roubo. "Quando a pancadaria começou, quis sair correndo, mas trancaram a porta da loja. Fiquei apavorada", lembra.

É difícil encontrar um venezuelano que não tenha sofrido ou presenciado recente episódio de tensão em mercados ou farmácias, que se tornaram a face mais visível do caos provocado pela crise econômica.

Ir às compras na Venezuela significa passar horas na fila, muitas vezes sob sol escaldante, sem saber se ainda haverá o que se busca ao final da espera ou se o dinheiro será suficiente diante da escalada semanal dos preços.

Significa, ainda, submeter-se a compras racionadas mediante controle de identidade, muitas vezes sob observação de policiais e soldados.

A isso se soma a irritação gerada por quem tira proveito do caos, como pessoas que vendem lugares na fila e os "bachaqueros", que passam na frente de todos sob pretexto de estarem "trabalhando". Na saída das lojas, clientes temem ladrões.

Em janeiro, uma discussão na fila do Makro de Caracas terminou com o assassinato de uma mulher.

"O venezuelano tornou-se agressivo, mal humorado e ressentido. É uma sociedade em estado de 'salve-se quem puder'. Não há espaço para civilidade", diz o psicólogo social Axel Capriles.

Também socióloga, Daniuska González vê sintomas de uma banalização da violência que se manifesta igualmente na proliferação das armas e na admiração por delinquentes.

"Há uma paranoia que leva à reafirmação da identidade por meio do confronto", diz.

QUATRO FILAS SEGUIDAS

Em Caracas, a tensão é palpável nas múltiplas filas do hipermercado estatal Bicentenário.

A primeira fila, que as autoridades empurraram para o estacionamento subterrâneo para escondê-la, antecede a entrada no complexo Bicentenário.

A segunda forma-se no andar da área de vendas.

A terceira, que dá acesso às prateleiras de itens escassos, é a mais tensa.

Folha viu centenas de pessoas espremidas umas às outras atropelarem um cordão de funcionários que tentavam controlar a distribuição de frango e leite em pó.

Nem a presença de policiais armados foi suficiente para conter o caos. "Há dias piores", disse uma policial.

Os clientes ainda precisam encarar uma quarta fila, nos caixas. É comum pessoas chegarem às 6h e só saírem no início da tarde.

A tática básica de quem depende dos mercados estatais –onde quase tudo tem preço subsidiado– é chegar em grupo. Uns garantem logo lugar na fila do caixa, outros buscam produtos.

Comprar em grupo também permite driblar o rodízio de compra por documento de identidade (final em 7 só pode comprar às quintas, por exemplo) e contornar o racionamento (multiplica-se a cota por pessoa).

GUERRA ECONÔMICA

O presidente Nicolás Maduro diz que as filas refletem a "guerra econômica" travada por empresários supostamente opositores que escondem produtos para jogar a população contra o governo.

Segundo economistas, porém, a escassez é fruto do controle de preços e de câmbio e das expropriações de empresas, que minam a já modesta indústria nacional.

A situação piorou há um ano, quando a queda do preço do petróleo derrubou a arrecadação do Estado, que dispõe de cada vez menos dólares para importar alimentos.

A socióloga González considera o governo incapaz de melhorar a vida das pessoas, o que, de acordo com ela, continuará elevando o "nível de intolerância". 

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quarta-feira, 1 de julho de 2015

Itamaraty: um orcamento ridiculo - João Paulo Peixoto (Diario do Poder)




DE MAJESTADE A PATINHO FEIO – O ITAMARATY EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO
JOÃO PAULO PEIXOTO
 Diário do Poder, 1/07/2015

Houve uma época em que o belo Palácio Itamaraty ostentava em seu espelho d’água vistosas garças, e uma majestosa escultura de Bruno Giorgi – o meteoro. Este ainda está presente, as outras não. Ao menos não as mais vistosas, que voaram para longe levando consigo os bons tempos de outrora. Ambos projetavam elegância, a majestade e beleza estética do Palácio. Não é por acaso, também, que o prédio que abriga as relações exteriores se diferencia, em muito, dos demais ministérios. Sinalizando que a ele é reservado um papel diferenciado no conjunto do governo.
A penúria financeira do Itamaraty no Brasil e no exterior, portanto, espelhando uma realidade que difere muito da aparência, não condiz com sua importância para um país que ostenta a sétima economia do mundo em um mundo globalizado. Ademais, o que chama mais atenção atualmente é o contraste com outros tempos, não necessariamente longínquos. Embora não seja novidade cortes de despesas corriqueiras das embaixadas e dos diplomatas no exterior. A título de exemplo vale lembrar que, certa vez, o chanceler Azeredo da Silveira teve que recorrer diretamente ao presidente Geisel (1974-1979) para reclamar do corte dos telefones do Itamaraty feito pela então Telebrasília. Obviamente, o problema foi resolvido imediatamente.
Por outro lado, desnecessário ressaltar o impacto negativo dos cortes de despesa, os quais resultam em geral em inadimplência junto a organismos internacionais, sobre a atuação do ministério perante seus pares e fornecedores de toda espécie mundo afora, bem como na moral e na autoestima dos membros do Serviço Exterior. Os servidores, por outro lado, encontram-se em situação de fragilidade, convivendo com a incerteza dos pagamentos do auxílio-moradia, que por vezes é maior que o próprio salário, dadas as peculiaridades do mercado imobiliário local. A falta de verba fez com que o último plano de remoções fosse adiado em meses, trazendo toda sorte de inconvenientes para os servidores do Serviço Exterior e suas famílias.
A credibilidade de uma política – qualquer uma – reside em grande parte na respeitabilidade de quem a implementa. Tal credibilidade, por sua vez, se assenta no cumprimento das obrigações e deveres para que se possa fazer valer a vontade política dos seus responsáveis.
No caso do Itamaraty a escassez de recursos é mais grave se considerarmos alguns dos seus dados em relação ao conjunto do governo. Sem levar em conta que se trata, em última análise, da própria imagem do país.
A Casa de Rio Branco administra o terceiro menor orçamento entre os ministérios, excetuando-se as secretarias especiais; a menor média salarial dentre as carreiras típicas de Estado e o menor número de servidores comparando dez principais ministérios da Esplanada. As causas para tal tratamento diferenciado por parte do governo ao seu serviço exterior têm várias causas internas e externas. Não cabendo aqui analisa-las e sim procurar despertar a reflexão, por quem de direito, sobre elas.
Não obstante, torna-se redundante pontuar a importância das relações exteriores neste mundo globalizado. O que por si só, seria justificativa para que o MRE fosse tratado com mais atenção. Para não mencionar a costumeira retórica de necessidade de ampliar a participação do Brasil nas relações comerciais globais. Principalmente nestes dias de escassez e crise econômica doméstica.
Outro dado que espelha o crescimento da importância das relações internacionais é o acréscimo exponencial dos cursos universitários de Relações Internacionais. Hoje são mais de 100. Um número bem distante do pioneirismo da Universidade de Brasília, que por muitos anos atuou sozinha nesse campo, desde que inaugurou o primeiro programa do gênero no Brasil nos anos de 1970.
Da mesma forma os ministérios expandiram em larga medida sua atuação internacional, nem sempre de maneira coordenada com o MRE.
Como se não bastasse, vale lembrar ainda que o Brasil tem hoje na África mais embaixadas do que a Grã-Bretanha. Tendo sido aquela uma outrora potência colonial naquele continente.
Diante desses fatos, a pergunta que se faz é porque a Casa de Rio Branco suporta quietamente, ao menos publicamente, tal situação. Razões lhe sobram para reagir e exigir o devido tratamento, como ocorria em governos passados, desde as décadas de 1970/80 onde o profissionalismo e o respeito pelos seus quadros e suas tradições eram motivo de prestígio, respeito e reconhecimento pelos donos do poder. É tempo de ir em busca dos tempos grandiosos.

Grecia e Brasil: nada a ver? Follow the money (para pegar bandidos) ou a trajetoria dos gastos publicos (para pegar politicos)


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A verdadeira tragédia grega foi o seu gasto público
A conclusão é fragorosa e deve servir de lição: sim, um país pode quebrar por gastar excessivamente com políticas sociais.  Não é questão de ideologia, mas sim de c...

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A verdadeira tragédia grega foi o seu gasto público
por Juan Ramón Rallo, domingo, 14 de junho de 2015



greece_democracy_referendum_papandreou.jpgA Grécia foi à bancarrota não porque, como dizem os entusiastas do novo governo eleito, pagou taxas de juros "usurárias" sobre sua dívida, mas sim porque se endividou despreocupadamente para que seus políticos pudessem gastar como se não houvesse amanhã.
Vamos aos números.
Se levarmos em conta o valor total de juros pago pelo governo grego em relação ao estoque total de sua dívida, temos que, desde 2006, não houve nenhum ano em que a Grécia tenha pagado mais do que 4,5% de juros sobre sua dívida total. 
Isso dificilmente pode ser classificado como "usura", principalmente quando se leva em conta que a inflação de preços média na Grécia desde 2006 foi de 2%, o que significa que o estado grego jamais pagou juros reais superiores a 2,5% ao ano.  [Nota do IMB: a título de comparação, o governo brasileiro pagar taxas superiores a 10% sobre sua dívida total, e as taxas reais sempre estiveram acima de 4,5%].
Com efeito, no ano de 2013, a Grécia pagou sobre sua dívida pública total taxas de juros nominais inferiores até mesmo às da Alemanha: em concreto, os gregos pagaram 2,28%, sendo que os alemães pagaram 2,62%.
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Gráfico 1: taxa de juros média sobre a dívida pública, 2006-2013   Fonte: Eurostat
E não é só: em 2013, a Grécia foi o quarto país da zona do euro a pagar as menores taxas de juros sobre sua dívida pública:
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Gráfico 2: taxa de juros média sobre a dívida pública em 2013   Fonte: Eurostat
Em que pese todo o bombardeio propagandístico sobre juros usurários contra a Grécia, ninguém deveria se surpreender com os resultados acima, pois foi em 2012 que a troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI) aprovou um segundo plano de resgate para a Grécia, pelo qual o governo grego obteve condições de financiamento extremamente benéficas.
O principal culpado: o descontrole do gasto público
Antes da crise, o volume total da dívida pública grega era de 250% das receitas do governo (2,5 vezes maior).  Na Alemanha, a título de comparação, esse valor era de 150%. (1,5 vez maior).
No entanto, após a crise, o valor grego pula para 350%, chegando a superar 400% (4 vezes maior) no ano de 2011.  Vale notar que tanto o resgate quanto as medidas de "austeridade" começaram a ser implantados na Grécia apenas no ano de 2010, só que em 2009 o governo já tinha um volume de dívida pública totalmente descontrolado.
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Gráfico 3: relação entre dívida pública e receitas do governo, 2006-2013  Fonte: Eurostat
E o que fez aumentar essa dívida pública?
Enquanto a Alemanha conseguiu manter constante, em termos reais, seu gasto público por habitante entre 1996 e 2008, a Grécia o aumentou em nada menos que 80%. 
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Gráfico 4: gasto público real por habitante, 1996-2013     Fonte: Eurostat
A hipertrofia do estado grego simplesmente não possui similares na Europa, especialmente se levarmos em conta como ele se financiou: a Grécia não apenas foi um dos países que mais aumentou seu gasto público, como também foi o que recorreu com mais obsessão ao endividamento para financiá-lo.
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Gráfico 5: aumento da dívida pública entre 1996 e 2008   Fonte: Eurostat
Como consequência desse enorme crescimento do endividamento (e não como consequência de altas taxas de juros), o gasto anual com os juros sobre todo esse estoque de dívida superou, até o segundo pacote de resgate, o valor de 12% das receitas do governo (em 2011, antes do resgate, o total de juros pago por ano era 17% maior do que as receitas).  Compare isso à Alemanha, cujos gastos com juros se mantiveram estáveis em 6% de todas as receitas.
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Gráfico 6: total de juros pagos em relação às receitas do governo, 2006-2013    Fonte: Eurostat
Vale enfatizar: o problema não foi a taxa de juros que a Grécia pagou sobre sua dívida pública, mas sim o enorme volume de sua dívida pública, o que elevou sobremaneira o valor absoluto dos juros pagos. 
Matemática básica: 50% de 10 euros são 5 euros, 1% de 1 bilhão de euros são 10 milhões de euros.  Uma taxa de juros baixa não fará com que seus gastos totais com juros sejam baixos se você deve muito dinheiro.
Sendo assim, a responsabilidade pela situação financeira grega deve ser atribuída a quem gerou esse elevado volume de endividamento: os políticos gregos e todos aqueles que aplaudiam e que foram beneficiados pelas políticas de endividamento do governo (antes e depois da crise). 
O fato é que o grosso da dívida pública grega foi emitido antes que a Grécia fosse socorrida pela Troika: 90% da dívida pública grega do ano de 2010 já havia sido emitida antes de 2010. 
Nem sequer é possível culpar as políticas de suposta austeridade ("suposta" porque um governo sob austeridade genuína não pode aumentar impostos; é como dizer que um trabalhador que está praticando austeridade pode aumentar seu salário): mesmo que o governo grego tivesse sido capaz de manter o mesmo volume de receitas de 2007 (algo muito difícil em meio a uma forte recessão), o tamanho de sua dívida pública em 2011 em relação às suas receitas seria de 391% (comparado aos 403% que realmente foram, e aos 180% da Alemanha), e o peso dos juros em relação às receitas totais teria sido de 15,8% (em relação aos 17,1% que realmente foram, e aos 5,8% da Alemanha).
Portanto, é necessário honestidade: o governo da Grécia não quebrou por causa da Troika e o governo da Grécia não está financeiramente na lona por causa da Troika.  O governo grego está quebrado como consequência das políticas ilustradas nos gráficos 4 e 5.
Enquanto a Alemanha estabilizou seu gasto real por habitante (isto é, descontando a inflação de preços) entre 1996 e 2007, a Grécia o aumentou em mais de 80%, e recorreu ao mero endividamento para financiar a maior parte dessa brutal expansão do seu gasto público.  O governo chegou a um ponto em que simplesmente não mais consegue pagar nem mesmo as prestações dessa dívida.
A composição do gasto público grego
À luz dessa hipertrofia estatal, era óbvio que ao governo grego não restava outra solução senão cortar muito intensamente seus gastos caso quisesse sobreviver financeiramente.  Mas será que mesmo isso foi feito?
O gráfico abaixo mostra a composição do gasto público grego.  O gasto com educação, políticas sociais e saúde disparou de 24,6% do PIB em 2004 para 31,1% do PIB em 2012.  Ou seja, não só os gastos do governo grego se concentram nos "gastos sociais", como também esta foi a rubrica que mais aumentou em termos relativos desde 1996.
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Gráfico 7: composição do gasto público da Grécia, 1996-2012   Fonte: Eurostat
Sim, é verdade que, desde 2009, com as seguidas quedas do PIB, o fato de os gastos sociais terem subido em relação ao PIB não significa que eles aumentaram em termos absolutos, uma vez que o PIB vem se contraindo desde 2009.  No entanto, o que isso realmente significa é que os gastos que menos foram reduzidos proporcionalmente foram justamente aqueles que mais cresceram até 2009: os gastos sociais.
Conclusão
A conclusão é fragorosa e deve servir de lição: sim, um país pode quebrar por gastar excessivamente com "políticas sociais". 
Não é questão de ideologia, mas sim de contabilidade. 
Mais ainda: para evitar essa quebra, é imprescindível que ele tenha de cortar de maneira intensa todos os gastos voltados às políticas sociais.
No entanto, longe de ter aprendido a lição e de assumir a culpa pelo próprio desastre, o novo governo grego não apenas aponta o dedo para terceiros, como ainda promete voltar a aumentar maciçamente o gasto público (estão prometendo mais benefícios sociais, energia gratuita para 300 mil gregos, e mais moradias populares).
É óbvio, portanto, que não entenderam nada.
A questão é simples: quem não pode pagar indefinidamente, não pode gastar indefinidamente. 



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O sonho do governo grego: espoliar permanentemente os p...
A economia grega, que já estava mal, paralisou-se completamente desde a chegada do novo governo ao poder no início de 2015. O principal objetivo desse novo govern...

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O sonho do governo grego: espoliar permanentemente os pagadores de impostos da União Europeia

por Juan Ramón Rallo, segunda-feira, 22 de junho de 2015



yunanistanda-syriza-ruzgri-57812.jpgA economia grega, que já estava mal, paralisou-se completamente desde a chegada do novo governo ao poder no início de 2015. 
O principal objetivo desse novo governo, sob o comando do partido Syriza — que é um acrônimo para "Coligação da Esquerda Radical" —, era "reestruturar" o insuportável fardo da dívida pública grega, que atualmente é de 177% do PIB do país.
Só que o Syriza chegou ao poder prometendo a quadratura do círculo: haveria mais gastos públicos e menos impostos, e ainda continuariam recebendo todos os benefícios repassados pela União Europeia.
Obviamente, sob este arranjo, alguém teria de arcar com a fatura e este "alguém" escolhido foram os demais pagadores de impostos europeus: estes não apenas não receberiam de volta o dinheiro que, por meio de seus governos, emprestaram para a Grécia, como também, além deste calote (chamado eufemisticamente de "reestruturação da dívida"), deveriam continuar emprestando indefinidamente para o governo grego, para que o país pudesse se manter na zona do euro.
Segundo os integrantes do Syriza, a Grécia não tem como pagar suas dívidas, o que faz com seja imprescindível uma profunda reestruturação da mesma.  Mais especificamente, o governo queria alargar os prazos de vencimento, reduzir as taxas de juros que incidem sobre a dívida total, e até mesmo simplesmente reduzir o valor total da dívida, o que significa um calote parcial da mesma.
A realidade, no entanto, é que boa parte do discurso sobre a insustentabilidade da dívida total da Grécia é infundada.  Nas economias modernas, caracterizadas por governos expansivos e moedas inflacionárias, o principal da dívida pública nunca é quitado; tudo é refinanciado.  A dívida não se paga; ela é rolada. 
Sendo assim, o custo de o governo estar endividado depende exclusivamente das taxas de juros que o estado paga sobre o conjunto de sua dívida pública.
Em 2011, a Grécia tinha de pagar juros equivalentes a 7,3% do seu PIB.  Esta era, de fato, a carga mais alta da Europa e dificilmente era sustentável.  No entanto, houve uma reestruturação da dívida grega — orquestrada pela Troika — em 2012, o que fez com que o país conseguisse reduzir o fardo dos juros para 4% do PIB.
Embora tal valor não seja baixo, ele tampouco é insustentável.  Com efeito, países como Irlanda, Itália e Portugal — que até o momento ainda não pediram reestruturações de suas dívidas — estão enfrentando custos financeiros muito maiores que os da Grécia.
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Gráfico 1: total de juros que incidem sobre a dívida pública em relação ao PIB, 2013  Fonte: Eurostat 
E, se levarmos em conta que o PIB da Grécia está no subsolo (já caiu 30% desde seu pico), e que certamente está muito abaixo do que poderia ser caso houvesse uma liberalização e uma estabilização econômica, é difícil concluir que a reestruturação de sua dívida seja uma absoluta e inexorável necessidade.
Para completar, o prazo de vencimento da dívida grega é, disparado, o mais elevado de toda a zona do euro, e também de toda a União Europeia.
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Gráfico 2: vencimento médio da dívida pública em 2013 (anos)  Fonte: OCDE
O mesmo ocorre com a taxa média de juros sobre a dívida, que é a quarta mais baixa da zona do euro.  É, inclusive, mais baixa do que a da Alemanha.
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Gráfico 3: taxa média de juros sobre a dívida pública em 2013 Fonte: Eurostat
Em outras palavras, os cidadãos europeus estão, por meio de seus impostos, subsidiando o governo grego.  Seus impostos estão sendo utilizados para estender crédito ao governo grego, por meio da Troika, a condições bem mais vantajosas do que a que eles próprios usufruem.  É como se você se endividasse a 10%, me emprestasse e me cobrasse 5%: você, obviamente, está perdendo dinheiro com essa operação.
E o governo grego ainda quer mais privilégios.
Então, se não há muita margem nem para aumentar os prazos do vencimento da dívida grega (que já são os maiores da União Europeia) e nem para reduzir as taxas médias de juros, o que mais pode ser feito em termos de reestruturação da dívida?  A única hipótese que resta é um calote da dívida.
Quanto a isso, convém lembrar que a dívida do governo grego em mãos de credores privados já foi submetida, em 2012, a uma redução de 53,5% do seu valor nominal.  E, se a isso somarmos o alargamento do prazo de vencimento e a redução dos juros incidentes sobre a dívida total, a dívida grega já sofreu uma redução de nada menos que 75% do seu valor nominal
Sendo assim, por que os pagadores de impostos da União Europeia devem conceder ao governo grego mais uma rodada de privilégios?
Para completar o ultraje, vale lembrar que o governo grego é um dos mais perdulários da União Europeia.  Seus gastos totalizam nada menos que 58,5% do PIB.  Esse valor é maior até que o da Dinamarca (57,2% do PIB), da França (57,1%) e da Suécia (52,8%).  Será que é realmente impossível o governo grego cortar gastos?  Reduzir um gasto público que chega a soviéticos 58,5% do PIB é impor "austeridade draconiana"?
No entanto, convém não dramatizar a questão do calote.  Toda e qualquer pessoa que investe nos títulos da dívida pública de um país tem de estar ciente de que, em algum momento, esta pode ser caloteada pelo estado emissor, sem que o investidor possa forçar o estado e lhe pagar (uma vez que a soberania estatal impede que ele seja forçado a executar seus próprios contratos).  Sendo assim, a amortização da dívida pública no prazo acordado se torna uma mera questão de boa fé.  Nada mais do que isso.
Portanto, os investidores — privados e estatais (80% da dívida grega está em posse de organismos oficiais) — que aplicaram nos títulos do governo grego têm de aceitar as consequências e assumir os riscos que voluntariamente correram ao emprestar para o governo grego.
Por outro lado, do mesmo modo que os investidores devem arcar com a responsabilidade de ter concedido crédito a um governo que a qualquer momento pode calotear impunemente sua dívida, o governo grego também terá de aceitar as consequências de decretar um calote unilateral em sua dívida: no caso, será impossível continuar financiando seu déficit público.
A plataforma do Syriza não é simplesmente a de não pagar as dívidas do governo grego; além de dar o calote, o novo governo grego também quer continuar recebendo empréstimos para aumentar de maneira substantiva seus gastos (prometeram mais benefícios sociais, energia gratuita para 300 mil gregos e mais moradias populares) sem ter de aumentar impostos. 
Ou seja, ele não quer pagar sua dívida, mas quer continuar emitindo dívida e sendo livremente financiado.
Essa quadratura do círculo é impossível, obviamente.  Se o Syriza de fato optar pelo calote, aí sim é que ele terá de enfrentar uma verdadeira austeridade.  Sem acesso ao financiamento de credores externos, o governo grego não mais poderá incorrer em déficits; ele só poderá gastar exclusivamente aquilo que arrecadar por meio de impostos.  Logo, e ironicamente, a "asfixiante ultra-austeridade" contra a qual o Syriza diz lutar irá realmente ocorrer caso o partido dê o calote.  E a Grécia terá de vivenciar essa austeridade por vários anos, até que o governo eventualmente recupere sua credibilidade perante os investidores estrangeiros.
Em suma, se o Syriza não quer pagar a dívida do governo grego, não pague.  Mas que sofram as consequências.  Assim como os gregos têm o direito de votar em quem quiserem, os demais pagadores de impostos da União Europeia também têm o direito de não mais financiar o perdulário e caloteiro governo grego.




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E se a Grécia sair do euro?
Sempre que um país passa por problemas econômicos, surge um grupo de economistas dizendo que tudo pode ser corrigido caso o governo simplesmente desvalorize ...

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E se a Grécia sair do euro?
por Diversos Autores, segunda-feira, 29 de junho de 2015



Greece_2347277b.jpgSempre que um país passa por problemas econômicos, surge um grupo de economistas dizendo que tudo pode ser corrigido caso o governo simplesmente desvalorize a moeda — isto é, deprecie sua taxa de câmbio.

Não obstante não seja possível encontrar um só exemplo de país que tenha saído da pobreza e se tornado próspero depreciando sua moeda em relação às outras, tal "solução" segue impavidamente em voga. A desvalorização da moeda é uma panacéia que ainda atrai muitos "pensadores" e continua sendo uma ideia extremamente popular entre alguns círculos de economistas.
Aproveitando o momento, façamos um exercício mental para analisar as prováveis consequências da desvalorização.  Vamos utilizar a Grécia como exemplo.
Suponhamos que a Grécia, que hoje faz parte da zona do euro, conseguisse de alguma forma voltar a emitir um Novo Dracma, e que essa nova moeda se desvalorizasse rapidamente, passando de um dracma por euro para dois dracmas por euro em um curto período de tempo (um mês, talvez), o que representaria uma desvalorização de 50%.  
Vamos também supor que o governo utilize seus poderes coercivos para estipular que todas as obrigações existentes em euro, tais como títulos e contratos trabalhistas, para todas as pessoas e entidades na Grécia, sejam unilateralmente convertidas em dracmas na relação de 1 dracma para 1 euro.
O dracma agora é uma moeda independente e com câmbio flutuante, e sua taxa de câmbio está relativamente estável perto de 2 dracmas por euro (uma taxa até bastante otimista).
Sendo assim, o valor total da dívida do governo da Grécia, em termos de euro, cai 50% (repetindo: a moeda se desvalorizou 50% em relação ao euro, mas todos os passivos foram convertidos de euro para dracma à taxa de 1 para 1).
Consequentemente, as dívidas de todos os outros devedores na Grécia, tais como empresas, bancos e pessoas físicas, também são reduzidas em 50% em termos de euro.  (Se uma empresa devia 100 milhões de euros, agora ela deve 100 milhões de dracmas.  Mas como 1 dracma vale 0,50 euro, 100 milhões de dracmas são 50 milhões de euros.)
A princípio, isso não é um grande benefício para os endividados gregos, dentre eles o governo, pois a renda deles, denominada em dracmas desvalorizados, também caiu 50% em valores de euro.  Tanto a dívida quanto a receita tributária do governo foram simultaneamente desvalorizadas, e o mesmo ocorre com os salários das pessoas e suas dívidas. 
No entanto, não vai demorar muito para que as receitas tributárias, as receitas das empresas e os salários das pessoas comecem a subir (em termos nominais) em decorrência tanto da inflação monetária que agora o governo grego poderá causar (ao sair do euro e adotar uma moeda própria, o governo está mais livre para inflacionar a moeda) quanto da grande inflação de preços que será causada pela desvalorização da moeda.
Como consequência de tudo, os calotes nas dívidas diminuirão.  O declínio nos calotes irá permitir que os bancos gregos, até então descapitalizados por causa de empréstimos ruins, readquiram alguma saúde financeira.  Para completar, os ativos estrangeiros dos bancos gregos (como títulos do governo alemão ou empréstimos feitos a empresas italianas e espanholas) irão dobrar de valor em termos de dracma, o que irá melhor seus balancetes consideravelmente.
Com a redução dos calotes, as falências corporativas também irão diminuir, o que significa menos desemprego.  Trabalhadores gregos, cujos salários foram reduzidos à metade em termos de euro, agora estão mais "competitivos" (isto é, recebem menos) que os de Portugal, Espanha e Itália. 
Por outro lado, as empresas gregas voltadas exclusivamente para o mercado interno não usufruirão grandes benefícios, pois os trabalhadores gregos não serão capazes de comprar muita coisa com seus salários desvalorizados.  Por causa da súbita desvalorização cambial, o poder de compra dos gregos despencou. O custo dos bens e serviços importados dobrou, o que reduz ainda mais a renda disponível dos trabalhadores. Tudo o que foi produzido no país e que não foi consumido (pois a renda real da população caiu), será transformado em excedente exportável.
Aqueles assalariados mais bem pagos da Alemanha e da Inglaterra, que querem escapar de seus respectivos invernos e estão à procura de uma praia (ou mesmo de um local barato para viver quando se aposentarem), trocarão a Espanha pela Grécia e aproveitarão todas as ofertas sendo oferecidas em dracmas desvalorizados.
Sendo assim, a Grécia vivenciará um forte aumento nos negócios e nas contratações relacionadas ao turismo e, talvez, ao setor de exportação.  Por causa disso, a economia parecerá estar melhorando, e as receitas tributárias do governo estarão aumentando, ao menos em termos nominais de dracmas.  Os preços ao consumidor subirão aproximadamente 20% no primeiro ano da desvalorização, e os economistas aplaudirão efusivamente, pois a deflação de preços "foi superada".
Principalmente por ter começado com valores pequenos em decorrência da crise, a bolsa de valores da Grécia irá disparar.  Mas ela teria de subir pelo menos 100% apenas para se manter com o mesmo valor em termos de euros.
Esse cenário parece palatável, não?
Mas há outros fenômenos ocorrendo.  O que acontecerá com todos os bancos alemães e franceses que fizeram empréstimos para empresas gregas?  O que acontecerá com todos aqueles títulos do governo grego em posse dos bancos alemães?  Os títulos e os empréstimos agora valem apenas 50% de seu valor de face em termos de euro.  Os bancos alemães e franceses terão de ser socorridos, e milhões de correntistas alemães e franceses darão esse socorro compulsório por meio de uma redução em suas contas bancárias (exatamente como ocorreu no Chipre).
Os destinos turísticos na Espanha e no sul da Itália perderão clientes e, como consequência dessa súbita perda de receitas, começarão a dar calotes em suas dívidas.  As indústrias de cimento e naval de outros países europeus não conseguirão concorrer contra as importações baratas da Grécia, e também começarão a dar calotes em suas dívidas.  O desemprego nestes países irá subir.
O trabalhador grego agora tem um novo emprego, mas seu salário, reduzido à metade em termos de euro, não mais compra tudo aquilo que antes ele conseguia comprar.  Os preços internos aumentam continuamente, e, embora seu salário também aumente em termos nominais, ele não acompanha a subida dos preços.  Os pensionistas gregos são os mais afetados, principalmente aqueles cuja poupança estava nos bancos gregos (e não em outros países da zona do euro).  Ao passo que seus semelhantes na França e na Alemanha tiveram uma perda de 20% em suas contas bancárias (20% é o total de títulos gregos em posse dos bancos europeus), os poupadores gregos descobrirão que agora compram aproximadamente 50% menos com sua poupança (por causa da desvalorização cambial e da inflação de preços crescente na Grécia).
O sistema tributário grego certamente não será ajustado de acordo com a desvalorização.  A consequência será a de que, com rendas nominais maiores, uma maior fatia dos ganhos será tributada.  E o resultado final é que pessoas com renda real mais baixa — e até então isentas — também terão de pagar imposto de renda.  Isso gerará um grande fardo sobre toda a economia, o qual poucos serão capazes de identificar.  Tradicionalmente, a culpa será atribuída aos altos preços da energia importada.
Após algum tempo — talvez alguns anos —, os salários dos trabalhadores gregos já terão subido, em termos nominais, o bastante para acabar com aquela "vantagem comparativa" inicial.  Os impostos reais mais altos começarão a introduzir uma persistente obstrução na economia grega.
Adicionalmente, o sistema financeiro grego já se tornou deficiente e inconfiável.  Após a desvalorização, ninguém mais está disposto a conceder mais empréstimos em dracmas.  Afinal, quem vai querer correr o risco de ter seus ativos subitamente desvalorizados novamente?  As taxas de juros domésticas já subiram e estão altas, e o volume de empréstimos está baixo. 
Grandes empresas ainda conseguem tomar empréstimos em euros, mas isso não estará disponível para famílias e pequenas empresas.  As famílias, que já foram prejudicadas uma vez, não irão manter sua poupança nos bancos gregos.  O mais provável é que elas descubram maneiras informais de poupar e investir sem recorrer ao sistema financeiro.  Já as famílias mais sofisticadas irão simplesmente utilizar os bancos alemães (mesmo porque os mais ricos já retiraram quase todo o seu dinheiro dos bancos gregos), e sua poupança e seu capital jamais retornarão à Grécia.
Por tudo isso, a economia grega apresentará uma baixa criação de capital, um ambiente de investimentos totalmente distorcido, no qual apenas as grandes corporações conseguem financiamento, e uma baixa criação de empregos.  A economia volta a se estagnar.  Consequentemente, o governo volta a incorrer em déficits orçamentários, uma vez que as receitas tributárias começam a cair e as demandas por serviços assistencialistas cresceram.  Como o governo não mais consegue se endividar em dracmas — só a taxas de juros proibitivas —, ele terá de se endividar em euros.  Mas isso também será difícil, pois o governo já se mostrou inconfiável.  A única opção restante será aumentar ainda mais os impostos. 
À medida que essas dificuldades vão se acumulando, alguns economistas acreditarão ter encontrado a solução: desvalorizar novamente! Essa ideia ganhará o imediato apoio dos grandes exportadores e do setor de turismo, os quais adorariam voltar a ter uma "vantagem competitiva" em termos de mão-de-obra barata. 
Como esses setores já haviam se beneficiado economicamente antes, eles se tornaram mais politicamente influentes.  Por outro lado, os setores que foram prejudicados pela desvalorização, como as empresas que dependem de importações e as voltadas exclusivamente para o mercado doméstico, já perderam toda a sua influência política.  Sendo assim, o sistema político passa a ser guiado apenas pela ideia de mais desvalorizações.
Com a imposição de novas desvalorizações, todo o ciclo se reinicia: o setor exportador e o setor turístico ganham um impulso temporário, mas todo o restante dos trabalhadores gregos perde poder de compra, e seu custo de vida sobe.  A inflação de preços dá outro salto.  O imposto de renda continuará não sendo corrigido pela inflação — pois o governo precisa de todas as receitas possíveis —, o que gerará um confisco cada vez maior da renda real das pessoas e empresas, o que, por sua vez, prejudicará ainda mais os investimentos.
Já os outros países da zona do euro muito provavelmente não ficarão passivos perante os setores exportador e turístico gregos.  É provável que imponham pesadas tarifas sobre as importações e também sobre a conversão de euros em dracmas.
A conclusão é que a desvalorização funciona apenas por algum tempo, e é benéfica apenas para poucos setores muito específicos — e ainda assim apenas no curto prazo.
Em termos gerais, a desvalorização da moeda prejudica toda a população, pois esta é roubada do seu poder de compra, é submetida a uma grande inflação de preços, e acaba ficando sem acesso a bens importados de maior qualidade. 
Um governo que desvaloriza sua moeda está, na prática, fechando suas fronteiras aos bens estrangeiros, isolando sua população (e prejudicando principalmente a fatia mais pobre, agora proibida de comprar produtos estrangeiros mais baratos), reduzindo sua renda, e destruindo enormemente seu padrão de vida.
Economista que realmente acredita que desvalorizar a moeda é o caminho para a prosperidade está, na prática, dizendo que uma sociedade formada por uma minoria exportadora e rica e por uma maioria que não tem nenhum poder de compra é o arranjo ideal. Está dizendo que uma redução compulsória da renda total da população representa prosperidade e enriquecimento. Não faz absolutamente nenhum sentido.
O que aconteceu com a Argentina em 2002, quando a súbita desvalorização do peso fez com que fosse quase impossível para muitas mães comprarem leite para seus filhos, pode perfeitamente acontecer com a Grécia em 2015.  É muito difícil uma desvalorização da moeda passar impune.