O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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segunda-feira, 27 de junho de 2016

Research Gate me cumprimenta: eles ganham com isso e eu não recebo nada...

Recebo mais um relatório de cumprimentos de Rresearch Gate, neste link:
 https://www.researchgate.net/profile/Paulo_Almeida2/stats
dizendo, entre outras coisas, que:

Congratulations

Your publications reached 5,000 reads

e mais isto:

Congratulations

With 118 new reads, you were the most read author from your institution.
 
Bem, digamos, para retomar um velho exercício, que eu ganhasse US$ 0,50 por cada "read". Eu teria ganho US$ 2.500.
Acho que está bem: dá para ir e voltar de avião para Paris e ainda pagar hotel...
Vou pedir uma passagem, ou melhor duas, para mim e para Carmen Lícia, ao Research Gate.
Se não me derem, ameaço retirar os meus textos da plataforma...
Paulo Roberto de Almeida  

Educacao: a destruicao da escola publica e a falta de futuro para o Brasil - Mario Sabino

Quando eu fiz escola (e só podia ser pública, pois eu vim de uma família muito pobre), lembro-me perfeitamente, como escreve Mario Sabino no seu comentário do dia para o blog do Antagonista, de como era boa, ou razoável, essa escola, com a mesma professorinha (moças ou senhoras de classe média, encarregadas de ensinar TODAS as matérias para a classe, durante mais de um ano.
Aprendíamos muito, mas também tinha de haver a participação da família, no caso de pais semi-alfabetizados, incapazes de se substituir aos livros ou aos professores, a participação se dava de modo muito prosaico: a contrapartida das notas baixas no boletim era a cinta ou o chinelo, ou alguma outra punição qualquer.
Do lado da escola, a solução para os fracassados também era muito simples. Incapaz de acompanhar o rigor da escola pública? Não tem problema: SAIA, vá para a escola privada, que era uma confissão de fracasso, de incapacidade, de burrice, estupidez, ou vagabundo.
Hoje, é exatamente o contrário: só vai para a escola pública quem não consegue pagar a escola privada, e se trata de uma confissão de fracasso pedagógico também, já que ninguém espera que um filho seu saia preparado para qualquer coisa da escola pública.
Mas, a situação é pior do que você pensa, pois a escola privada é IGUALMENTE RUIM! Basta conferir os resultados do PISA e ver que alunos das escolas privadas são tão ruins quanto os das escolas públicas, seu nível é medíocre quando comparados a outros países.
Ou seja, se você pensa que a escola privada vai salvar o Brasil, como pensam alguns liberais ingênuos, esqueça.
A nossa educação é ruim, vai continuar ruim, e não há nenhum risco de melhorar.
Exatamente o que diz o Mario Sabino, mas que ainda acredita que um dia possa melhorar, ou pelo menos tem essa esperança. Eu sou mais pessimista.
Paulo Roberto de Almeida

Quero que o meu neto leve olé do neto do Estevão
Por Mario Sabino
O Antagonista, 27 de Junho de 2016

Eu estudei em escola pública do quarto ano ao primeiro colegial. Ou seja, de 1971 a 1976. Fui para a escola pública depois que a separação dos meus pais empobreceu a minha mãe; voltei para a escola particular depois que o meu pai, casado pela segunda vez, parou de brigar com a minha mãe — e a escola pública havia começado a se tornar um lixo completo.
As duas escolas públicas que tive a oportunidade de frequentar contavam com excelentes professores, laboratórios bem equipados, bibliotecas decentes e quadras de esporte impecáveis. Eram exceções num universo incomparavelmente melhor do que o de hoje. Filho de médico, eu convivia com filhos de empregadas domésticas, pedreiros, feirantes, comerciários, garçons e, imagino, desempregados. Branco, eu convivia com outros brancos, negros, mulatos, cafuzos e asiáticos. Bom corredor, no pega-pega, eu levava olé do Estevão, primogênito de uma lavadeira.
Nossos filhos não tiveram nem terão semelhante experiência. Mesmo que ocorram vicissitudes familiares como as que marcaram a minha infância, sempre haverá um tio pronto a evitar a “tragédia” de os sobrinhos serem obrigados a sair do sistema privado de ensino. Escola pública, para a classe média, agora é ameaça de castigo para quem tira notas ruins: “Se não se emendar, mando você para uma escola estadual!”. Virou lugar para vagabundos.
A falência total da escola pública não é só fruto do descaso, mas de uma política desenhada para o seu aniquilamento — que, paradoxalmente, se acentuou com a redemocratização do país. Destruiu-se a escola pública para enriquecer empresários que, em geral, oferecem ao povão um ensino ruim envernizado por instalações físicas razoáveis. Destruiu-se a escola pública e, com isso, fortaleceu-se a pedagogia esquerdista que prega a desordem, não o progresso. Resultado: quedas contínuas no desempenho dos alunos brasileiros nos exames internacionais e da produtividade dos nossos trabalhadores de qualquer nível.
Não haverá democracia no Brasil enquanto não houver escola pública de boa qualidade para todos, inclusive os seus descendentes. Não apenas porque ela oferecerá chances iguais a pobres e ricos, mas porque possibilitará a queda do enorme muro que separa as classes sociais. É preciso que ricos possam brincar com pobres no recreio; é preciso que pobres possam brincar com ricos no recreio — e, juntos, aprendam o que vale a pena a ser aprendido em sala de aula. E, juntos, deixem de ter medo uns dos outros. E, juntos, prosperem e construam uma nação.
Eu quero que, no pega-pega, o meu neto leve olé do neto do Estevão
Mario Sabino

Educacao: progressos sociais do seculo 19 ao 21 - livro de Robert Barro, Jong-Wha Lee

Published by EH.Net (June 2016)

Robert J. Barro and Jong-Wha Lee, Education Matters: Global Schooling Gains from the 19th to the 21st Century. New York: Oxford University Press, 2015. xi + 289 pp. $35 (hardcover), ISBN: 978-0-19-937923-1.

Reviewed for EH.Net by Sun Go, School of Economics, Chung-Ang University.

Can we analyze the role of education in economic, political, and social development using cross-country panel data? Robert J. Barro (Paul M. Warburg Professor of Economics at Harvard University) and Jong-Wha Lee (Professor of Economics and the Director of the Asiatic Research Institute at Korea University) have long been studying this subject and have published numerous academic works on it for more than twenty years. Education Matters is a comprehensive volume of their contributions to the literature on human capital and development, compiled by creating and analyzing their own long-term panel data at the country level. The book is mainly composed of two parts. The first part (Chapters 2 and 3) explains how they created cross-country panel data on average school years, and projects the growth of educational attainment to 2040. The second part (Chapters 3, 4, and 5) presents their analysis of the panel data on the effect of educational attainment on growth, fertility, and political institutions. In Chapter 5, in particular, Barro and Lee create another set of educational attainment data considering the quality of schooling, and repeat their analysis using the new quality-adjusted data set.

A conspicuous contribution of Barro and Lee is the creation of the cross-county educational attainment data sets. They first collect 146 countries’ enrollment rates of school-age population at the elementary, secondary, and tertiary levels at five-year intervals from 1950 to 2010. Most of the enrollment data are collected from UNESCO statistics based on each country’s census reports. By applying school-entering ages, term lengths, and the dropout rates to the enrollment rates by year and country, they compute the average years of schooling of the young cohorts, such as the 15 to 19 or the 20 to 24 year-old population. The average years of schooling for the older cohorts are estimated by applying cohort and education-level specific mortality rates to the educational attainment of younger cohorts under the assumption of no adult education. Finally, the educational attainment of the working population of a country for a year are calculated by the average years of schooling of the five-year-interval birth cohorts weighted by their population sizes. In addition to the total educational attainment data, Barro and Lee also estimate country-level educational attainment by sex. This is the baseline data that they have created and updated since the 1990s.

The book introduces another historical panel of educational attainment at the country level from 1870 to 1945, which is constructed in a similar way. The starting point is again a collection of the enrollment rates at elementary, secondary, and tertiary levels of 89 countries from 1820 to 2010 at five-year intervals. They calculate the enrollment rates using various historical statistics of school enrollments and school-age populations. Historical enrollment statistics are compiled from diverse sources such as Databanks International, Mitchell’s International Historical Statistics, Benavot and Riddle (1988), Lindert (2004), U.S. Bureau of Education’s Annual/Biannual Reports, Barnard (1854), and Monroe (1911). School-age population statistics are collected from Mitchell’s International Historical Statistics, the United Nations’ Demographic Yearbooks, and the League of Nation’s Statistical Yearbooks. However, due to the limited availability of historical enrollment data, a portion of the enrollment rates are created by linear interpolation or estimation assuming a logistic trend. About 38 percent of the school enrollment rates of total population from 1870 to 1945 are either interpolated or estimated. The share of the artificial data is greater for the female population and the period before 1870. Using the historical enrollment rates, Barro and Lee estimate the historical data on educational attainment by sex in a similar way to their baseline data for 1950-2010.

The two data sets are freely downloadable from the authors’ webpage (http://www.barrolee.com). The baseline data on educational attainment from 1950 to 2010 have already been widely used by researchers in social sciences, and their unique historical panel is expected to attract the interests of scholars. The historical panel will be useful in capturing long-run trends and examining over-time correlation between the expansion of formal schooling and other variables in the long run. However, the Barro-Lee historical panel of educational attainment may not be the best for identifying moments of change in educational expansion or research that requires identifying the timing of variation in formal schooling, as it contains values structurally estimated only by the trend.

Barro and Lee also present various results from the cross-country panel analysis using their own data sets. Although they have created balanced panels of educational attainment, the data sets for further analysis become unbalanced panels because other dependent and control variables, such as GDP per capita, fertility, and the democracy index, are not available for all the countries and years. Their development accounting shows that about 6 to 20 percent of the cross-country variation in output per worker can be explained by educational attainment. The contribution of human capital to economic growth is estimated to be a bit higher in growth accounting. The authors also present results from the three-stage least squares regressions with country fixed effects, which use lagged explanatory variables as instruments to deal with a possible endogeneity problem between education and the outcome variables — the growth rate of GDP per worker, fertility, and the democracy index. The results are not exactly the same as in the existing literature. The effect of educational attainment on growth is weak and statistically insignificant. The effect on fertility differs by gender. Women’s schooling leads to lower fertility, while men’s schooling is positively associated with fertility. The effect on democracy is nonlinear. Controlling for the country fixed effects, the higher average years of schooling, particularly of women, raise the democracy index at a decreasing rate. The panel regressions using the baseline data of 1950-2010 and the historical panel of 1870-2010 return similar results.

In Chapter 6, Barro and Lee repeat the panel regression analysis using another cross-country panel of 70 countries containing the quality-adjusted human capital stock measures from 1960 to 2010 at five-year intervals. The quality-adjusted human capital stock is calculated by weighting the average schooling years of each five-year birth cohort by the relevant test scores representing the quality of education and associated labor market returns. Their collection of standardized test scores spans 134 countries from 1965 to 2010 at the elementary and secondary school levels, despite a significant portion of the observations being missing, especially for the earlier period. Barro and Lee again fill the missing observations with estimates by linear interpolation or regional trends. The real and artificial standardized test scores for each five-year interval then become cohort-specific aggregate measures of school quality at each level of schools. The quality-adjusted panel of educational attainment is constructed in a similar way to the previous data sets. Further, from the panel IV regressions, Barro and Lee find that quality-adjusted educational attainment has a positive effect on the growth rates of GDP per worker if average years of schooling are controlled.

Education Matters offers a bird’s eye view of the role of education in the long-run development in the global context. It clearly shows the pioneering endeavor of Robert Barro and Jong-Wha Lee for the construction and analysis of their unique cross-country panels of educational attainment data. Anyone interested in cross-country analysis on the effect of human capital on economic, social, and political outcomes will undeniably find this volume a practically helpful starting point. This book also contains good teaching resources for undergraduate courses, such as maps showing the expansion of formal schooling in the world or figures presenting correlations between the average years of schooling and other socioeconomic indicators. On the other hand, the book may not be perfect for studying what really happened in history, as descriptions of historical or institutional backgrounds are not sufficiently accompanied by the valuable work of data construction and analysis. The book also contains little discussion of the contributions by economic history research to the literature on the rise of formal schooling and its associated effects on various outcomes since the nineteenth century.

References:

H. Barnard (1854), National Education in Europe: Being an Account of the Organization, Administration, Instruction and Statistics of Public Schools of Different Grades in the Principal States, New York: C.B. Norton.

A. Benavot and P. Riddle (1988), “The Expansion of Primary Education, 1870-1940: Trends and Issues,” Sociology of Education, 61(3): 191-210.

P. Lindert (2004), Growing Public, Cambridge, UK: Cambridge University Press.

P. Monroe (1911), A Cyclopedia of Education, New York: Macmillan.

Sun Go is an Associate Professor of Economics at Chung-Ang University. His research focuses on the development of public school finance in the nineteenth-century United States and twentieth-century Korea.

Copyright (c) 2016 by EH.Net. All rights reserved. This work may be copied for non-profit educational uses if proper credit is given to the author and the list. For other permission, please contact the EH.Net Administrator (administrator@eh.net). Published by EH.Net (June 2016). All EH.Net reviews are archived at http://eh.net/book-reviews/

Brasil vs Brexit - artigo do ministro das Relacoes Exteriores Jose Serra

Brasil x Brexit. Bola prá Frente
José Serra, ministro de Estado das Relações Exteriores
Folha de S.Paulo, 27/06/2016, p. A-3

O mundo assistiu apreensivo à decisão do povo britânico, em plebiscito, pela saída da União Europeia. O Brasil respeita, mas não comemora a notícia. O projeto da União Europeia é o mais avançado processo de integração econômica e política existente. Construído sobre as cinzas da Segunda Guerra Mundial, a integração econômica que levou à formação da União Europeia trouxe paz e prosperidade à Europa Ocidental por 60 anos e tornou menos traumática a transição dos países da antiga Europa Oriental para o mundo que sucedeu à Guerra Fria.

A saída do Reino Unido abala o relativo consenso pró integração que predominou na Europa há décadas e alenta as forças desagregadoras no continente. Amplia a incerteza e terá efeito negativo sobre o crescimento no Reino Unido, na União Europeia e na economia mundial, em momento no qual os países europeus, ainda fragilizados pela crise iniciada em 2008, buscavam retomar o crescimento.

O Tesouro britânico estima que pode haver queda no PIB de longo prazo de cerca de 6% em seu país. Segundo o FMI, o PIB do Reino Unido poderia crescer a menos, até 2019, entre 1,4%, se mantiver o acesso pleno ao mercado europeu, e 5,6%, se tiver que pagar as tarifas de importação sem descontos. Afinal, o comércio exterior corresponde a 59% do PIB britânico, e 45% de suas exportações vão para a Europa. Parte do setor financeiro, tão crucial à economia de Londres e do Reino Unido, poderia migrar para outras praças europeias e, com menos investimentos entrando no país, as taxas de juros poderão elevar-se, pressionando a desvalorização da libra, pois o déficit em conta corrente é de 5% do PIB.

Sucessivos estudos mostraram que a imigração é benéfica para a economia do Reino Unido, mas o temor aos estrangeiros foi uma das principais motivações dos que votaram pela saída. Os britânicos pensam que o percentual de estrangeiros na população é muitas vezes superior aos dados reais. Ou seja, uma das principais razões que teriam motivado a saída da UE não tem fundamento na realidade.

O fato de que percepções equivocadas tenham influenciado o voto majoritário no plebiscito não diminui sua importância. É preciso perguntar de onde nascem e como combatê-las. Na década de 1940, Karl Mannheim, um dos pais do Estado de bem estar social instalado no Reino Unido no pós-guerra, argumentava que uma das razões que havia levado à derrocada da democracia liberal e aos totalitarismos pré-guerra foi o enfraquecimento dos vínculos de solidariedade social. Hoje, é preciso fazer acompanhar o avanço da integração econômica global de mecanismos de inclusão social e redução das desigualdades, assim como recusar inequivocamente as soluções isolacionistas. Confiamos que a União Europeia e o Reino Unido saberão trilhar esse caminho enquanto ajustam com serenidade seu relacionamento. Afinal, as dificuldades que a Europa enfrenta com migrantes e refugiados não se resolverão com a redução de sua presença no mundo. Requerem, na verdade, atuação cada vez mais solidária com as nações e os povos de origem dos fluxos humanos de nossa era.

O efeito econômico na União Europeia tende a ser comparativamente menor, mas o impacto político é preocupante. Visões excessivamente nacionalistas e xenófobas poderiam ganhar força, levando a um maior fechamento europeu ao resto do mundo. Não é provável que aconteça, mas o mundo sairá perdendo se a Europa apostar mais no isolamento do que na cooperação.

O Brasil não será muito afetado diretamente. É pequena a participação (1,52%) do mercado britânico nas nossas exportações. Mantém-se também a expectativa de que os investimentos britânicos continuem a buscar as oportunidades por aqui. A situação externa da economia brasileira, com reservas elevadas e superávit comercial, reduz os riscos para o Brasil. Sofremos um pouco mais com a instabilidade de curto prazo dos mercados financeiro e cambial e com o impacto negativo de médio prazo para o crescimento no Reino Unido e na União Europeia. De nossa parte, redobraremos os esforços para concluir o acordo de associação Mercosul-UE e nos empenharemos em buscar acordos de comércio e investimentos com o Reino Unido.

domingo, 26 de junho de 2016

Corrupção lulopetista: sua inacreditável extensão e profundidade - Estadão

Matéria do Estadão transcrita no blog do meu amigo Orlando Tambosi, a quem mais uma vez agradeço pela dedicação sempre demonstrada pela boa informação, base de qualquer reflexão ponderada sobre graves problemas nacionais.
Paulo Roberto de Almeida 

O tráfico de influência no governo Lula

Cópias de e-mails do pecuarista José Carlos Bumlai revelam a esbórnia que foi o governo Lula, que mais parecia uma organização criminosa de assalto ao Estado. Espantoso é que esse tiranete continue solto, vilipendiando as instituições:

Um relatório da Polícia Federal anexado em inquérito da Operação Lava Jato, em Curitiba, reúne cópias de e-mails do pecuarista José Carlos Bumlai que reforçam as suspeitas dos investigadores de tráfico de influência no governo Luiz Inácio Lula da Silva. São conversas de Bumlai com um lobista, empresários e amigos do ex-presidente que tratam da agenda do ex-presidente, de ministros e de assunto no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Bumlai é investigado por tráfico de influência, suspeito de intermediar interesses privados no Planalto na gestão do petista. Preso em novembro de 2015 – alvo da fase Passe Livre – ele é réu em uma ação penal, em Curitiba, e alvo de outros inquéritos.

Nas mensagens trocadas no período em que Lula era presidente, os interlocutores tratam com Bumlai e outros amigos do ex-presidente de negócios em Gana, no Catar, de uma parceria com o BNDES, com pedido de agendamento de reunião com o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, do Programa Fome Zero e de assuntos de interesse de um servidor da Infraero.

“Parte da influência exercida por Bumlai pode ser verificada em e-mail enviado por seu filho, Fernando, no qual ele pergunta se pode interceder por Roberto da Infraero de Campo Grande, que esta sendo transferido para Guarulhos”, registra o Relatório de Informação 64/2016, da PF de Curitiba, anexado em um desses inquéritos. Ele trata do conteúdo das mensagens de duas contas de e-mail do pecuarista.

Bons amigos. Na última semana, voltaram para a equipe da Lava Jato, em Curitiba, os primeiros inquéritos que têm Lula como alvo remetidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A força-tarefa tem elementos para apontar que um grupo de amigos de Lula serviu para tentar apagar suas digitais do esquema de corrupção na Petrobrás – espelhado nas demais estatais do governo.

Além de abrirem portas para empresários na gestão petista, alguns deles teriam servido de “laranjas” na ocultação de bens e propriedades, caso da família do ex-prefeito petista de Campinas (SP) Jacó Bittar.

Amigo de Lula desde a década de 1970 e um dos fundadores do PT, ele informou à Justiça ser o dono do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), que teria sido comprado para o convívio entre as famílias. Para a Lava Jato, a propriedade pertence ao ex-presidente e foi reformada por empreiteiras do cartel. Oficialmente, no imóvel está registrado em nome de uma filho de Bittar, Fernando, e seu sócio Jonas Suassuna – ambos sócios dos filhos de Lula. Essa deve ser uma das primeiras denúncias formais da Procuradoria, em Curitiba, contra o ex-presidente.

No documento da PF, anexado no último mês a um dos inquéritos da Lava Jato contra Bumlai, há uma sequência de mensagens em que Bumla e Khalil Bittar – outro filho do ex-prefeito de Campinas, sócio de Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha na PlayTV (antiga Gamecop) – são acionados para agendamento de reunião com o ex-ministro Guido Mantega, em 2009.

“Ola Bittar e Zé, Por favor vejam esta carta em anexo que foi enviada ao BNDES, o nosso cartão ambiental hoje esta hoje em parceria com o Fundo da Amazonia, Salve !” escreve Márcia Martinn, no dia 4 de maio, em nome de uma projeto do Instituto Eco Goal. “Temos que agendar com o Ministro Guido Mantega e Antoninho Trevisan, conforme combinamos, OK.”

A interlocutora copia carta enviada ao BNDES por um representante do Instituto Eco Goal para contrato de desenvolvimento de um “cartão ambiental em parceria com o Fundo da Amazonia”. O negócio seria vinculado à Copa de 2014. Ela não foi localizada. O banco foi o caixa que financiou, direta e indiretamente, contratos bilionários alvos da força-tarefa, como as construções das usinas Belo Monte e Angra 3, de plataformas para o pré-sal e de aeroportos, rodovias e ferrovias.

Além do ex-prefeito petista e seu filho, outros amigos de Lula estão na mira da Lava Jato. O advogado e compadre, Roberto Teixeira, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, e o consultor Toninho Trevisam integram a lista.

África. Bumlai é o principal alvo, no grupo dos “bons amigos” do ex-presidente suspeitos de “abrirem portas no governo”. Responsável pela execução das obras de reformas no Sítio Santa Bárbara, e pelo empréstimo fraudulento de R$ 12 milhões tomado para o PT pago com contrato da Petrobrás, o pecuarista foi preso em novembro de 2015.

Aos 71 anos, e doente, desde março ele cumpre prisão domiciliar. Antes de virar o pecuarista amigo do presidente Lula, Bumlai trabalhou para a Constran, empreiteira do Rei da Soja, Olacyr de Moraes, comprada, em 2010, pela UTC – do delator Ricardo Pessoa.

Bumlai afirmou ter trabalhado do grupo até 2000 na empresa, em entrevista ao Estadão, às vésperas de sua prisão. Os e-mails reunidos pela PF, no entanto, mostram sua participação nas tratativas da Constran, em 2008, em negócio de produção de etanol em Gana, na África.

Em abril daquele ano, Lula levou uma comitiva de empresários, em busca de negócios, ao país africano. Num dos e-mails do relatório da PF consta a foto enviada a Bumlai pelo Planalto, em que ele aparece de mãos dadas com o ex-presidente e o então presidente de Gana, John Agyekum Kufour.

Juntos, estão dois representantes dos negócios do Rei da Soja: “Fabio Pavan (lobista da Constran em Brasília)” e “Wilson Quintella Filho (fundador da Estre)” – ambos investigados.

A Lava Jato encontrou a troca de e-mails posterior ao encontro. “Bumlai diz ter tratado do assunto com Pavan, e que eles devem ganhar tempo até eles estarem com os documentos liberados”, registra a PF, sobre e-mail trocado pelo pecuarista com Quintella Filho no dia 20 de maio. “Amanhã tenho um café da manha como meu amigo, e depois te falo. (…) Ontem falei com o filho sobre a relação de eqtos. Que nos foi dada e ele me avisou que estão procurando um dos eqtos.”

A PF registra que “Bumlai diz que ligara para Wilson, mas que sera de um ‘fone mais seguro’, que levanta suspeita sobre a legalidade do assunto a ser tratado”. Os investimentos da Constran em Gana contavam com financiamento indireto do BNDES, e envolviam uma usina de etanol e a construção de usinas hidrelétricas.

Em nota, divulgada via assessoria de imprensa do Instituto Lula, o ex-presidente informou que “levou 84 missões empresariais brasileiras a países de todos os continentes promovendo contatos de alto nível de empresas brasileiras com autoridades estrangeiras e parceiros comerciais nos mais diversos setores. Eram viagens para promover o interesse do país no exterior. Dentro da lei e a favor do Brasil”, afirma o instituto.

No material reunido pela PF, há ainda outras mensagens encontradas nos e-mails de Bumlai. Uma deles envolve convite para incluir na agenda de encontros comerciais propiciados pela Presidência com representantes do Catar, em 2010. Nas mensagens estão um representante do Grupo Bertin – investigado pela Lava Jato – e o homem apontado como lobista da Constran.

Fábio Pavan, Wilson Quintella, Khalil Bittar e seu pai, Jacó, e os representantes do Instituto Eco Goal não foram localizados pela reportagem. O espaço está aberto. (Continua no Estadão).

2 comentários:

Anônimo disse...

A única explicação que encontro para o fato do Jararaca ainda estar solto é que ele, enfim, estava coberto de razão quando afirmou que os ministros do STF são um bando de COVARDES!!! 

Orlando Tambosi disse...

Anônimo,

como o tiranete não tem foro privilegiado, quem tem que tratar dele é a justiça de primeira instância. Moro, felizmente.

Senado americano aprova etiquetas para produtos geneticamente modificados (BIC)

Recebido da Brazil Industries Coalition (BIC), uma entidade que representa o setor privado brasileiro nos EUA.
Paulo Roberto de Almeida 

Acordo no Senado deve aprovar padrões nacionais de etiquetagem para ingredientes geneticamente modificados

O Senado dos Estados Unidos chegou a um acordo bipartidário sobre novas regras federais de etiquetagem para produtos que possuem ingredientes geneticamente modificados (GMO).

O novo texto do projeto de lei propõe emenda ao Agricultural Marketing Act de 1946 e previne estados de implantarem suas próprias regras de etiquetagem. A regulamentação exigirá impressão de links e símbolos nas embalagens que direcionam à informações online sobre GMOs contidos nos produtos.

A medida afeta produtos alimentícios em geral, mas não se aplica a carne bovina, aves, carne suína e ovos.

A versão proposta pelo Comitê de Agricultura do Senado ainda precisa ser aprovada nas duas casas. A Câmara de Representantes já aprovou projeto de lei H.R. 1599 tratando o mesmo assunto e deve pressionar para que sua versão prevaleça.

O setor privado está divido sobre o tema. Organizações como a Grocery Maufacturers Association, American Soybean Association e National Manufacturers Association apoiam o texto do Senado.

As associações de produtores rurais ressentem que o texto do Senado exige apenas que o conteúdo sobre GMO esteja explicitado ao consumidor por meio de links ou símbolos eletrônicos impressos nas embalagens. O acesso a informação dependeria, portanto, do uso de smartphones no ato da compra.

BRAZIL INDUSTRIES COALITION
Brazil Industries Coalition (BIC) is a non-profit and independent business association, which represents the Brazilian private sector in the United States.

sábado, 25 de junho de 2016

Fim da travessia do deserto? Chegando ao seu termo? - Paulo Roberto de Almeida


Num dos muitos tournants de uma carreira diplomática razoavelmente feliz, na qual pude desempenhar funções profissionais, ou funcionais, durante muito tempo, temporariamente interrompidas por circunstâncias alheias à minha vontade, e combinar essas atividades com lides acadêmicas igualmente gratificantes, durante algum tempo exclusivas, período também no qual estive particularmente engajado numa espécie de quilombo de resistência intelectual contra certos desvios em algumas das políticas públicas que constituem um dos focos de meus estudos, reflexões e escritos, num desses tournants, retomo, estou vendo, se não me engano, alguns traços de terra na beira do oceano, ou alguns vestígios de vegetação e habitat humano ao final do deserto.
Neste momento, cabe uma palavra aos que não esmoreceram na defesa de um serviço profissional, em condições por vezes adversas de manutenção dos princípios permanentes da política externa brasileira, e que lutaram pela preservação dos valores da carreira diplomática, por parte de um colega que, por acaso, é também acadêmico, e que sempre levou um duplo combate, nas duas frentes, em prol da ideia de honestidade intelectual e do princípio do interesse nacional.
A minha palavra é apenas esta: vale perseverar...

Paulo Roberto de Almeida  
Brasília, 25 de junho de 2016
(adaptado do frontspício de um dos meus livros).

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Populistas sao idiotas? Provavelmente Mario Sabino, mas jornalistas tambem podem se enganar...

Meus comentários iniciais a esta crônica interessante mas mal informada sobre o Brexit:
Escreve Mario Sabino:
"A economia do Reino Unido, (...) é baseada na exportação de manufaturados que perderão o acesso sem barreiras ao maior mercado do planeta. Mercado, aliás, que está para integrar-se ao americano. UE e Estados Unidos negociam a criação da maior zona de livre comércio do mundo -- e o Reino Unido ficará fora dela."
Não Mario Sabino, os produtos ingleses, ou britânicos, NÃO perderão o acesso ao maior mercado consumidor do planeta. Eles continuarão tendo acesso, pois assim estabelecerão pessoas inteligentes (algumas até eurocratas, vejam vocês) dos dois lados da Mancha, que vão negociar um simples acordo de associação, ou de livre comércio entre uma GB fora da UE (se sair, o que ainda pode não ser definitivo) e o "resto" da Europa, ou seja, esses turbulentos europeus "além Mancha". A lógica, a história, os interesses assim o determinam.
Mais ainda: é muito mais fácil para uma GB livre, sozinha, chegar antes a um acordo de livre comércio com os EUA do que aquele bando de mercantilistas franceses e outros protecionistas do continente. A GB sempre foi a favor do livre comércio, desde 1846, com apenas um intervalo de algumas décadas no século XX, por força de sua própria decadência. Mas desde aquela "dama de ferro" da qual alguns não gostam, ela continua sendo a favor da liberalização comercial.
Tampouco acredito nisto Mario Sabino:
"O Reino Unido não ficará pobre, mas enriquecerá menos no seu esplêndido isolamento. A queda do valor da libra é o sinal mais evidente do futuro britânico."
Isso é terrorismo econômico dos eurocratas e outros dirigistas doentios. A Suíça, a Noruega e alguns outros irredentistas não ficaram mais pobres, relativa ou absolutamente, por escolherem não pertencer à UE, e aos seus milhares de regulamentos intrusivos e excessivamente burocratizados. Eles podem levar uma vida mais simples, e ainda assim ter todos os intercâmbios possíveis com aquele monstro burocrático, sem precisar aderir à selva de regulamentações kafkianas (desculpe Franz).
 Vamos com calma, Mario Sabino, não faça do Brexit um drama econômico, ele é só uma comédia política. Os europeus continentais vão continuar sendo o que são, e a GB retomará sua liberdade para negociar acordos de livre comércio com quem ela quiser, dejar, for possível, inclusive com os EUA, a China, o Brasil, whoever.
Viver livre é sempre uma boa opção, em lugar de ter de manter uma confusa catedral gótica que custa um bocado para ficar sempre limpa e arrumada, sobretudo com aqueles corais gigantescos, cada um cantando na sua lingua, e mais 83 combinações de interpretações simultâneas necessárias, inclusive do finlandês para o grego, e do húngaro para o espanhol.
Falar inglês, não tem preço, ou melhor, custa muito mais barato...
Paulo Roberto de Almeida

Populistas são idiotas
Por Mario Sabino
O Antagonista, 24 de Junho de 2016

O populismo de esquerda e direita é capaz de infectar até mesmo países altamente civilizados, caso do Reino Unido. O Brexit representou uma vitória do populismo de direita, cujo rosto é Nigel Farage, chefe do Independence Party.
Os motores do Brexit foram principalmente a crise migratória e a xenofobia dos mais velhos -- os britânicos com menos de 24 anos votaram maciçamente pela permanência do Reino Unido na União Europeia. O excesso de regulação dos burocratas de Bruxelas contou para o “Leave”, mas serviu como força auxiliar para a decisão que causou um terremoto nas bolsas de todo o mundo e lançou uma sombra sobre o processo de globalização.
O populismo é o exato oposto da racionalidade, demonstra o Brexit. Como escreveu David Cassidy, da “New Yorker”, os seus partidários não ouviram a City, o ministro das Finanças, o Banco da Inglaterra, o FMI, o governo americano e uma infinidade de grandes economistas e empresários. Ao contrário do que diz toda essa gente respeitável, os adeptos do “Leave” acreditam que o Reino Unido poderá se tornar uma Noruega ou uma Suíça, países que rejeitaram a integração com o bloco, mas se beneficiam de um status especial com as nações da UE.
É um engano. A economia do Reino Unido, além de ser bem maior do que a norueguesa e suíça, é baseada na exportação de manufaturados que perderão o acesso sem barreiras ao maior mercado do planeta. Mercado, aliás, que está para integrar-se ao americano. UE e Estados Unidos negociam a criação da maior zona de livre comércio do mundo -- e o Reino Unido ficará fora dela. Muito inteligente.
A massa ignara que votou pela saída do bloco europeu deixou-se levar pelo discurso estúpido de Nigel Farage e asnos do Partido Conservador, sem se dar conta de que a integração à UE foi determinante para tirar o país da recessão na década de 80 e empurrar ladeira acima a economia britânica nos anos que se seguiram. O thatcherismo não teria dado resultados tão espetaculares sem a adesão ao bloco, apesar de todas as bravatas da Dama de Ferro.
A burocracia da UE é exasperante? Sim. A adoção do euro, sem união fiscal, foi desastrosa? Sim. A crise iniciada em 2008 continua a bater forte, em especial no Sul do continente? Sim. Os tropeços, contudo, não apagam o fato de que o bloco europeu é um sucesso político -- amalgamou nações historicamente inimigas -- e econômico. Não há um país que tenha empobrecido por causa da UE. Ela propiciou e acelerou o enriquecimento de todos, absolutamente todos, que a integram. O Reino Unido não ficará pobre, mas enriquecerá menos no seu esplêndido isolamento. A queda do valor da libra é o sinal mais evidente do futuro britânico.
A saída da UE também causará um problemão interno. Escócia e Irlanda do Norte votaram majoritariamente na permanência do Reino Unido no bloco. Em 2014, no plebiscito que definiu que os escoceses continuariam ligados à Inglaterra, um forte argumento utilizado nesse sentido foi dado pela UE. Os principais líderes europeus afirmaram que, se a Escócia saísse do Reino Unido, ela dificilmente seguiria no bloco. Agora, a Escócia está fora da UE, por causa do atrelamento à Inglaterra. Escoceses já recomeçam a falar em independência, dessa vez para voltarem ao bloco. Na Irlanda do Norte, por seu turno, o Sinn Fein, o partido nacionalista, quer um referendo para uni-la à Irlanda, que ficou rica graças à UE.
A ironia, nota David Cassidy, é que o Reino Unido corre o risco de se esfacelar do ponto de vista político antes de se desligar do bloco europeu, processo que deve demorar alguns anos para completar-se.
Populistas são, acima de tudo, idiotas.

Comemorando o trabalho nr. 3.000 (yes, three thousand works) - Paulo Roberto de Almeida

Esta noite de quinta para sexta, já sonolento, escrevi o que considero o meu trabalho número 3.000, o que de certa forma exige comemoração (vou ver se tem champagne na geladeira, para abrir com Carmen Lícia esta noite de sexta para sábado).
Eis aqui a ficha do dito cujo:

3000. “Relações Institucionais Internacionais”, Brasília, 23 junho 2016, 3 p. Ementa de curso de curta duração, a ser dado no quadro do programa de MBA de Relações Institucionais do Ibmec Business School, nos dias 25/06/, 9/07 e 6/08, a ser desenvolvido com base no trabalho 585 (Estrutura institucional das relações econômicas internacionais do Brasil: acordos e organizações multilaterais de 1815 a 1997), atualizado no livro Relações Internacionais e Política Externa do Brasil (2012).

Não é um trabalho completo, como vocês podem verificar abaixo, apenas o esquema do curso que vou dar durante três sábados seguidos, a começar amanhã. Mas o trabalho já está praticamente feito, com base no que já escrevi no passado (indicado na bibliografia ao final do programa), e também no que fui atualizando em três livros didáticos, e que vou agora transpor para apresentação em slides, para discutir pausadamente com os alunos, e depois repassar uma versão atualizada desse meu trabalho sobre a construção do multilateralismo contemporâneo.
Mas, não pensem que eu fiquei parado no trabalho 3000, pois já fui logo passando adiante. Esta manhã, antes de partir para o Uniceub, onde dei a última aula de Economia Política do semestre, para meus alunos de mestrado e doutorado, ainda escrevi uma pequena nota sobre o Brexit inglês, que vou transcrever em outra postagem. Esta a ficha do novo trabalho:


3001. “A Grã-Bretanha e a integração europeia depois do Brexit: de volta a 1971, a 1967 ou a 1959?”, Brasília, 24 junho 2016, 2 p. Nota sobre o contexto histórico dos processos negociados da GB em esquemas de integração europeus, notadamente o MCE-CEE e Efta (1960), e o retrocesso atual, a ser complementado por nova nota sobre o estado atual de indecisão entre Londres e Bruxelas.

Transcrevo o meu trabalho 3000, apenas para conhecimento.
Paulo Roberto de Almeida


Ibmec Business School

MBA de Relações Institucionais


Relações Institucionais Internacionais

Prof. PAULO ROBERTO DE ALMEIDA


Qualificação do professor:
Paulo Roberto de Almeida (São Paulo, 1949) é Doutor em Ciências Sociais (Universidade de Bruxelas, 1984), Mestre em Planejamento Econômico (Universidade de Antuérpia, 1977), e diplomata de carreira desde 1977. Foi professor no Instituto Rio Branco e na Universidade de Brasília, diretor do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IBRI) e, desde 2004, é professor de Economia Política no Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em Direito no Centro Universitário de Brasília (Uniceub). Como diplomata, serviu em diversos postos no exterior e na Secretaria de Estado. De janeiro de 2013 até outubro de 2015 foi Cônsul-Geral Adjunto do Brasil em Hartford, Connecticut. De volta à Secretaria de Estado das Relações Exteriores foi designado Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, que se encontra integrado à Fundação Alexandre de Gusmão, constituindo um centro de eventos culturais e acadêmicos.

Descrição e Objetivos da Disciplina:
O curso tem como objetivo expor a lenta construção do multilateralismo contemporâneo, desde o século XIX (pós-Congresso de Viena), representando por entidades multilaterais, de caráter intergovernamental, ou de interesse da comunidade de negócios, desde aproximadamente o início da segunda metade do século XIX. Ao mesmo tempo em que vai identificar cada uma das entidades do multilateralismo contemporâneo, o curso vai examinar como funcionam essas organizações (algumas universais, outras regionais, ou setoriais), bem como a participação do Brasil em cada uma delas.

Ementa do Curso:
O curso se situa no próprio âmago do multilateralismo contemporâneo, ou seja, da construção das principais instituições do direito internacional, atualmente simbolizada sobretudo pela ONU e suas agências especializadas, que ocupam lugar de destaque nas relações internacionais, em contraposição às práticas diplomáticas tradicionais, baseadas sobretudo nas relações bilaterais de cunho político, e na preeminência das grandes potências sobre a política e a economia mundial. A diversificação da comunidade internacional aumentou a complexidade do sistema, e a multiplicação de entidades e acordos de escopo universal se torna menos impositiva e mais negociadora, o que, ao mesmo tempo, redunda na diminuição da soberania absoluta dos Estados sobre aspectos por vezes cruciais de suas atividades (como a economia e os intercâmbios), e no âmbito dos espaços comuns.

Critérios de Avaliação:
O grau final do aluno neste curso consistirá na soma dos graus obtidos em uma avaliação individual e sem consulta, sob a forma de prova escrita, a ser realizada após o término da disciplina (70%) e em trabalhos individuais ou em grupo realizados em sala ou em casa (30%).


Carga Horária Total:
24 horas/aula distribuídas em 3 encontros: 25/06; 9/07 e 6/08/2016.

Metodologia:
A metodologia de ensino consistirá de aulas expositivas e participativas, utilizando recursos audiovisuais e recurso à bibliografia especializada, estudos de casos e discussão sobre o papel das entidades do multilateralismo contemporâneo, com foco na participação do Brasil nesses foros e organizações que constituem uma parte substantiva de sua diplomacia.

Plano de Aula:
Sessão
Temas
Casos
Leituras Recomendadas
1.      
Introdução à construção do multilateralismo contemporâneo, em perspectiva histórica, desde meados do século XIX até a atualidade.
A diplomacia dos Estados modernos, do bilateralismo ao multilateralismo, e o impacto dessa evolução sobre as relações internacionais, em termos econômicos e políticos.
BARNETT, Michael; FINNEMORE, Martha. Rules for the World: International Organizations in Global Politics. Ithaca: Cornell University Press, 2004.
2.      
As entidades multilaterais, desde as primeiras “uniões” de interesse econômico até a ONU e suas agências especializadas; os organismos econômicos de Bretton Woods
Relação cronológica de todas as entidades multilaterais, universais e regionais, criadas desde o século XIX, com destaque para as econômicas, que definem as regras no mundo da produção e comércio internacional.
MURPHY, Craig N. International Organization and Industrial Change: global governance since 1850. New York: Oxford University Press, 1994.
3.      
A participação do Brasil no multilateralismo contemporâneo, entidades regionais e foros de interesse setorial ou especializado.
Como o Brasil se inseriu na política e na economia contemporânea, saindo da esfera bilateral do século XIX, para o plano multilateral do século XX.
ALMEIDA, Paulo Roberto de: Relações internacionais e política externa do Brasil: a diplomacia brasileira no contexto da globalização. Rio de Janeiro: GEN, 2012.
4.      
PROVA
Questões colocadas aos alunos



Bibliografia Recomendada:

Básica:
ALMEIDA, Paulo Roberto de: Relações internacionais e política externa do Brasil: a diplomacia brasileira no contexto da globalização. Rio de Janeiro: GEN, 2012.
_______ : Os primeiros anos do século XXI: o Brasil e as relações internacionais contemporâneas. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
BARNETT, Michael; FINNEMORE, Martha. Rules for the World: International Organizations in Global Politics. Ithaca: Cornell University Press, 2004.
BAYNE, Nicholas; WOOLCOCK, Stephen (eds.). The New Economic Diplomacy: Decision-Making and Negotiation in International Economic Relations. Farnham: Ashgate, 2010.
COLLIARD, Claude-Albert. Institutions des relations internationales, 6ª ed., Paris: Dalloz, 1974.
COLLAS, Bernard, et alii. Accords Économiques Internationaux. Paris: Documentation Française, 1990.
GARCIA, Eugênio Vargas. Cronologia das relações internacionais do Brasil. São Paulo: Alfa-Omega; Brasília: Funag, 2000.
JACKSON, John H. The World Trading System. Cambridge, Mass.: MIT Press, 1997.
MURPHY, Craig N. International Organization and Industrial Change: global governance since 1850. New York: Oxford University Press, 1994.
NICHOLSON, Michael. International relations: a concise introduction. New York: New York University Press, 1998.
SABORIN, Louis. Organismes Économiques Internationaux. Paris: Documentation Française, 1994.

Complementar:
ALMEIDA, Paulo Roberto de: O Brasil e o multilateralismo econômico. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 1999.
_______ : “A ordem política e econômica mundial no início do século XXI: Questões da agenda internacional e suas implicações para o Brasil”. In: BRANT, Leonardo Nemer Caldeira (org.), III Anuário Brasileiro de Direito Internacional. Belo Horizonte: CEDIN, v. 3, n. 2, 2008, pp. 151-189.
_______ : “Brasil: cronologia sumária do multilateralismo econômico, 1856-2006”. In: SEITENFUS, Ricardo; VENTURA, Deisy. Direito Internacional Público. 4a ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006.
_______ : “OCDE, UNCTAD e OMC: uma perspectiva comparada sobre a macroestrutura política das relações econômicas internacionais”. In: CASELLA, Paulo Borba; MERCADANTE, Araminta de Azevedo (orgs.). Guerra comercial ou integração mundial pelo comércio?: A OMC e o Brasil. São Paulo: LTr, 1998, pp. 149-198.
_______ : “O Brasil e o sistema de Bretton Woods: instituições e políticas em perspectiva histórica, 1944-2002”.  In: MAZZUOLI, Valério de Oliveira; SILVA, Roberto Luiz (orgs.). O Brasil e os acordos econômicos internacionais: perspectivas jurídicas e econômicas à luz dos acordos com o FMI. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, pp. 30-64.
JAMES, Harold. International Monetary Cooperation since Bretton Woods. Washington: International Monetary Fund-New York: Oxford University Press, 1996.
KEYLOR, William R. The Twentieth-Century World: An International History. Oxford: Oxford University Press, 1996.
KRIEGER, Joel (ed.). The Oxford Companion to the Politics of the World. New York: Oxford University Press, 1993.