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sexta-feira, 12 de maio de 2017

Eu nao gosto de praia, mas nao recusaria um apartamento de praia, se fosse meu...

site dagobah
Lula na praia
Lula só será candidato em 2018 se houver um verdadeiro golpe no país
Um criminoso presuntivo, neopopulista e psicopata quer voltar ao poder
O interrogatório de Lula pelo juiz Sérgio Moro, ocorrido ontem, 10 de maio de 2017, foi revelador sob três aspectos. Revelou o criminoso sem explicações plausíveis para os atos ilegais que cometeu, o neopopulista que conspira contra a democracia e o Estado de direito e o psicopata (ou sociopata). Lula é o sujeito desses três atributos.
1 – O CRIMINOSO PRESUNTIVO 
Em primeiro lugar, o interrogatório revelou a presunção de culpa de Lula, posto que ele não teve respostas convincentes para as perguntas feitas pelo juiz. Para acreditar em Lula, teríamos que admitir que todos os seus ex-amigos, correligionários e subordinados, no governo e fora dele, no partido e nas empresas amigas, dirigidas por pessoas de suas mais íntimas relações, estariam mentindo e, mais do que isso, mentindo orquestradamente, o que pressupõe que haveria uma conspiração para condená-lo, com a participação de todos, inclusive da Polícia Federal (que teria plantado provas falsas em seu apartamento em São Bernardo), dos procuradores (que teriam plantado notícias falsas na imprensa) e do próprio juiz Moro (que teria comandado toda a armação para condená-lo prendê-lo).
As alegações de Lula são tão esfarrapadas que praticamente tornam desnecessária qualquer argumentação para desmascará-las. Vejamos algumas:
Lula disse que não tinha amizade com Duque (o indicado pelo PT para chefiar o esquema de corrupção na Petrobrás). Depois confessou que se encontrou com ele num hangar por causa das notícias de corrupção divulgadas pela imprensa.
Lula respondeu a Moro que não sabia se Vaccari e Duque se conheciam. Em seguida disse que pediu a Vaccari que armasse um encontro com ele (para perguntar se ele tinha uma conta secreta no exterior).
Ora, se Lula não era mais presidente, nem tinha – segundo ele – qualquer influência no PT, por que foi cobrar de Duque, que não conhecia, explicações sobre corrupção?
Lula disse a Moro que, nem ele, nem sua falecida esposa, Marisa (que não gostava de praia), queriam o apartamento (para morar ou veranear).
Marisa teria encomendado (ou não) as reformas no triplex – reformas que, aliás, nunca pagou – para fazer investimento. Lula transformou a defunta numa especuladora de imóveis
Será que Marisa também queria o sítio de Atibaia para investimento? Ela mandou fazer lá a mesma cozinha do triplex. E não pagou por ambas.
Mas a cozinha do triplex que não é de Lula foi a mesma do sítio de Atibaia que também não é dele: ambas “pagas” (quer dizer, não pagas) pelo mesmo filho do seu amigo (e ex-dirigente do PT) Jacó Bittar, chamado Fernando Bittar, que também e sócio de próprio filho de Lula em outros empreendimentos escusos.
Lula não soube responder por que uma minuta do contrato do apartamento em Guarujá foi encontrada pela Polícia Federal em seu apartamento em São Bernardo do Campo. Preferiu insinuar que foi a Polícia Federal que plantou essa prova falsa na sua residência.
Lula não soube responder por que já era notório, desde 2010 (segundo reportagem publicada em O Globo), que o triplex era dele, quando (segundo ele próprio) só ficou sabendo da existência do apartamento anos depois. Preferiu acusar o Ministério Público de São Paulo, de ter plantado essa falsa notícia na imprensa. O que só seria verossímil se a armação para condená-lo já estivesse em curso há anos, antes mesmo da Lava Jato.
Lula não soube responder por que Marisa havia assinado uma adesão para aquisição do apartamento em Guarujá um ano antes do prazo em que declarou ter aderido ao negócio.
Lula alegou não ter qualquer influência no PT. Mas se é assim, como é que ele indica todos os presidentes e tesoureiros do partido?
Lula disse a Moro que não tem qualquer influência no PT. Mas em seguida declarou que não saiu candidato em 2014 porque não quis. E que agora em 2018 quer. E então aproveitou para lançar sua candidatura.
2 – O NEOPOPULISTA QUE CONSPIRA CONTRA A DEMOCRACIA E O ESTADO DE DIREITO
Em segundo lugar, o interrogatório de Lula revelou a concepção neopopulista do caudilho, que mais parece uma espécie de Maduro à brasileira. Como todo populista, Lula quer ser julgado pelas urnas. Ou seja, ligação direta do líder com o rebanho. Instituições são desnecessárias. O populismo não apenas conspira contra a democracia, mas também contra o império da lei (não, não são a mesma coisa, mas democracia e Estado de direito estão associados na democracia dos modernos).
Vejamos algumas evidências:
Em comício logo após seu depoimento a Moro, Lula afirmou que vai depor quantas vezes for preciso. Mas se é assim, então por que seus advogados fizeram tudo, até a undécima hora, para adiar o interrogatório?
Lula insinuou que uma minuta não assinada do contrato do triplex, apreendida em seu apartamento – e devidamente periciada antes de constar dos autos -, teria sido “prova plantada” pela PF.
Lula declarou que a matéria de O Globo, noticiando, ainda em 2010, que Lula era dono do triplex, foi notícia falsa plantada na imprensa pelo Ministério Público de São Paulo.
A argumentação, repetida ad nauseam, de que não há provas contra ele, refere-se sempre a documentos assinados, títulos de propriedade e assemelhados. Claro que Lula não tem nada em seu nome. Se prova for só isso, então o crime estará liberado no país, bastando para tanto que os frutos do roubo sejam registrados em nome de terceiros.
Ou seja, naquilo que não sabe – e não pode – responder, Lula acusa as instituições do Estado de direito de estarem montando uma armação para condená-lo. Com isso deslegitima tais instituições, alçando-se acima delas como alguém que tem a verdade porque é ungido pelo povo – o que é típico do comportamento político caracterizado como populismo (e neopopulismo).
Lula quer atrasar a condenação de Moro para postergar a condenação do TRF4 e não ficar inelegível. Acha que se subir no palanque escapará. Quer transformar as urnas em tribunais.
A questão central para a democracia não é se Lula será eleito e sim se ele poderá sair candidato. Se sair, não há mais império da lei no Brasil.
3 – O PSICOPATA OU SOCIOPATA
Em terceiro lugar, o interrogatório revelou detalhes alarmantes e escabrosos da personalidade de Lula. Lula não é propriamente um caso de política, nem mesmo apenas de polícia. É um caso de transtorno pesado de personalidade antissocial.
Algumas evidências:
Só um psicopata (ou sociopata) teria coragem de jogar toda a culpa na sua falecida esposa.
Para se salvar, Lula vai entregar todo mundo. Ontem entregou Dirceu, Vaccari, Duque e até a própria esposa. Se mãe viva tivesse, entregaria também.
Ao que tudo indica, Lula vai entregar ainda a cabeça de Palocci, Mantega e Okamotto. Se preciso vai entregar seus próprios filhos. Isso revela uma personalidade transtornada.
Uma das “profissões” mais perigosas do mundo é ser amigo de Lula. À menor dificuldade ele entregará a cabeça de qualquer um para escapar. Quando seus interesses estão ameaçados, Lula não tem amigos, nem mesmo parentes.
Lula é psicopata (ou sociopata) mesmo, daqueles típicos de manual. Fez comício no velório da mulher, mandou Bumlai jogar a culpa pela sede do Instituto Lula na falecida, responsabilizou-a pelas reformas no triplex e fará o mesmo em relação ao sítio de Atibaia. É como se, na verdade, estivesse sendo cometida uma brutal injustiça contra Lula. Tudo foi armado pela (falecida) Marisa: o verdadeiro cérebro por trás do esquema.
Como é possível que a democracia não tenha filtros para barrar a ascensão de psicopatas desse tipo ao poder?
Mas não é que uma pessoa assim não possa se candidatar a presidente do Brasil. Ela não pode permanecer no convívio social. É perigosa não apenas para o Estado, mas para a sociedade humana.
Aguardemos os próximos capítulos dos vários julgamentos em que Lula é réu. Não há, para Lula, como escapar das condenações, a menos que – aí sim – haja uma conspiração para manietar a justiça, barrar a Lava Jato, inculpar Moro e a força-tarefa e absolver todos os criminosos. Ou seja, Lula só não será impedido de fugir da justiça, agarrando a tábua de salvação do palanque de 2018, se houver um verdadeiro golpe no país.
Esperemos que esse golpe não venha da nossa corte suprema de justiça. Se vier, independentemente do desfecho eleitoral de 2018, será sinal de que nos transformamos numa república bolivariana. Atenção! O principal indicador de que isso vai acontecer será a permissão para a candidatura de Lula.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Encyclopedia do Holocausto - Museu do Holocausto dos EUA - free book

Enciclopédia de guetos e campos de concentração nazistas para download gratuito

Obra apresenta dados detalhados, fontes, referências, imagens e mapas. São anos de pesquisa reunidos em mais de 4 mil páginas. Os interessados podem baixar os dois volumes do site do Memorial Museu do Holocausto dos EUA.

Ana Paula Tavares | Agência Café História
O Mandel Center, do Memorial Museu do Holocausto dos EUA (USHMM, na sigla em inglês), em parceria com a editora da Universidade de Indiana, disponibilizou os dois primeiros volumes da coleção Encyclopedia of Camps and Ghettos, 1933-1945, referência internacional no campo dos Estudos do Holocausto. São aproximadamente 4 mil páginas disponibilizadas em 4 pdfs.
Capa do livro sobre guetos e campos de concentração nazistas
Capa dos dois volumes da Enciclopédia de guetos e campos de concentração do Museu do Holocausto de Washington.
A obra traz a descrição detalhada dos 20 mil campos e guetos criados pelos nazistas ou por seus aliados – da Noruega ao norte da África, da França à Rússia. A enciclopédia será composta por 7 volumes que serão lançados até 2025. O prefácio institucional do volume I explica o objetivo da coleção: “Quantos campos e guetos existiram? Quem os administrava? Quem foram suas vítimas? Quanto tempo durou a operacionalização de vários campos e guetos, e qual o propósito específico de cada? Quem lucrou com eles? Onde se pode consultar arquivos e outras fontes de pesquisa sobre determinado campo ou gueto?” [1]
Como está dividida a Enciclopédia
A enciclopédia traz testemunhos, mapas, fontes e fotos, além das respostas para as perguntas acima em cada entrada. No entanto, tudo está em inglês, ainda sem tradução para o português. Confira abaixo o que fazer para fazer o download (gratuito) de cada volume: 
Volume I: traz a descrição dos campos mais antigos, dos maiores campos de concentração da SS e seus subcampos – como como o complexo de Auschwitz; os campos especiais da Polônia e da Alemanha e campos para juventude.  Disponível para download mediante cadastro aqui.
Volume II: Trata dos guetos da Europa oriental ocupada pelos nazistas, tais como territórios Estônia, Letônia, Lituânia, região da Criméia, Ucrânia e territórios russos ocupados. Disponível para download mediante cadastro aqui.
Volume III: Trata dos campos e guetos administrados pelos estados europeus “afiliados” ao nazismo, tais como Croácia, Hungria, Itália, Romênia, Bulgária, Eslováquia e a França de Vichy. Inclui também territórios no norte da África. Data de lançamento ainda não anunciada.
Volume IV: Abordará os campos e outras instalações de detenção militares da Alemanha. Data de lançamento ainda não anunciada.
Volume V: Abordará os campos subordinados ao SS-Reich Main Office e ao Higher SS e líderes policiais. Data de lançamento ainda não anunciada.
Volume VI: Abordará os campos de trabalho forçado não subordinados a SS, como o complexo REIMAHG. Data de lançamento ainda não anunciada.
Volume VII: Abordará outras instalações de detenção e extermínio, como os campos de germanização para crianças polonesas e os centros de eutanásia. Data de lançamento ainda não anunciada.
Enquanto estive navegando, confira também as publicações disponíveis gratuitamente sobre o genocídio na Armênia e sobre a questão dos refugiados, ambas somente em inglês.

Notas
[1] Este prefácio que chamamos de institucional é assinado por Paul A. Shapiro, diretor do Centro de Estudos Avançados sobre o Holocausto do USHMM; Alvin H. Rosenfeld, conselheiro do Comitê Acadêmico do Conselho do Memorial do Holocausto; e Sara J. Bloomfield, diretora do USHMM. Há também outro prefácio – “foreword” – no volume I assinado por Elie Wiesel, que faleceu no ano passado e foi escritor vencedor do Prêmio Nobel na categoria e professor dos Departamentos de Filosofia e de Religião da Universidade de Boston.

Historia intelectual: uma bibliografia - Vanderlei Sebastiao de Souza (Cafe Historia)

História Intelectual: objetos, abordagens e perspectivas

Ampla e interdisciplinar, a História Intelectual se consolidou nos últimos anos no Brasil e no mundo. Confira uma bibliografia comentada sobre este importante domínio historiográfico.

Por Vanderlei Sebastião de Souza
Café História, 08/05/2017
A História Intelectual pode ser definida tanto como uma disciplina quanto um campo de estudo, cujos objetos, abordagens e perspectivas de análise são variadas e interdisciplinares. De maneira geral, esse domínio historiográfico transita ainda na fronteira de outras disciplinas, como a História dos Intelectuais e a História Cultural ou das Mentalidades, conforme pratica a historiografia francesa, ou a História das Ideias, a História Política e a Filosofia da Linguagem, conforme a versão predominante nas historiografias britânica e norte-americana. Nas últimas décadas, a História Intelectual tem produzido uma série de polêmicas teóricas e metodológicas que colocaram no centro das discussões o próprio estatuto do trabalho historiográfico: a possibilidade de interpretação do texto histórico, do seu contexto de produção e das intenções do autor ao escrever uma obra, um conceito ou um enunciado qualquer. Esse debate tem enriquecido a historiografia e alargado o horizonte de análises em diferentes direções, desde a História dos Conceitos, passando pelos debates sobre História da Leitura, da Recepção e Circulação de Ideias, até pesquisas em torno das gerações, movimentos ou redes intelectuais, ou mesmo do estudo de biografias e trajetórias de intelectuais.
História Intelectual - Máquina de escrver
A História Intelectual é hoje um domínio historiográfico consolidado. Foto: Unplash / Florian Klauer.
Nos últimos anos, esse campo também ampliou seu diálogo com a História Social e Cultural, atentando para a inextricável relação entre o mundo social, as sensibilidades culturais e a produção de ideias, tanto de intelectuais e de tradições consagradas quanto de autores anônimos e movimentos intelectuais considerados marginais. Neste sentido, a bibliografia aqui indicada trata tanto das obras teóricas e metodológica quanto daquelas que apresentam estudos temáticos ou empíricos com os quais vem se ocupando a História Intelectual. O objetivo é apresentar aos leitores do Café História uma lista de obras que permita compreender as diferentes perspectivas de análise, as problemáticas norteadoras, os objetos e as possibilidades de pesquisa desse diversificado e impreciso campo de estudo.
LACAPRA, Dominick. Rethinking Intellectual History: texts, contexts, language. Ithaca: Cornell University Press, 1983.
Publicado ainda nos anos 1980, a obra é uma das principais referências teórica e metodológica no campo da História Intelectual. Partindo de uma perspectiva transdisciplinar e num estreito diálogo com as propostas do linguistic turn, LaCapra propõe nesse livro uma ampla renovação da História Intelectual a partir do diálogo com a Filosofia, a teoria da linguagem e a crítica literária, reformulando o problema da relação entre os grandes textos da tradição ocidental e seus contextos de produção, ou mesmo de antigas dicotomias sobre as visões internalistas e externalistas. O autor defende que os historiadores intelectuais precisam reavaliar o modo como concebem a leitura e a interpretação dos textos históricos, ampliando seu diálogo com a crítica literária e as noções de textualidade. Ao invés de analisar o texto como um documento histórico, como um testemunho ou artefato de constituição de um determinado período histórico, LaCapra destaca a necessidade de pensar as relações complexas entre o presente e o passado, entre os textos, a realidade e os discursos, as formas de leitura, interpretação e apropriação textual, sobretudo das obras clássicas ou dos cânones.
SKINNER, Quentin. As fundações do pensamento político moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
Embora o livro seja mais comumente associado ao campo da História Política, As fundações do pensamento político moderno é uma obra exemplar de História Intelectual. No livro, o historiador britânico coloca em perspectiva o contextualismo linguístico, método de análise desenvolvido pelo autor a partir dos anos 1960, quando se tornou um dos principais representantes da chamada Escola de Cambridge. Nesta obra, Skinner analisa os principais textos do pensamento político no período de transição da Idade Média para a Moderna, atentando especialmente para a formação do Estado e do pensamento político moderno. Preocupado com os modos de estudos e interpretação dos textos históricos, Skinner analisa tanto os autores clássicos quanto os chamados pensadores marginais, procurando enfocar as matrizes mais amplas de formação social e intelectual desses pensadores e o significado de suas atuações políticas. Ao invés de concentrar atenção nos clássicos, como se fossem pensadores atemporais, Skinner elabora uma história das ideologias políticas, evidenciando a natureza e os limites da linguagem e do vocabulário normativo disponível num determinado período histórico. Alargando seu compromisso com o método de pesquisa da História Intelectual, o historiador britânico enfatiza que, para compreender o significado de uma obra e as intenções do autor, o historiador intelectual precisa analisar as “ideias em contexto”, atentando não somente para o contexto intelectual em que as obras foram concebidas, mas para “o contexto das obras anteriores e dos axiomas herdados a propósito da sociedade política, bem como o contexto das contribuições mais efêmeras da mesma época ao pensamento social e político”.
DOSSE, François. La marcha de las ideas. Historia de los intelectuales, historia intelectual. Valencia: Universitat de València, 2007.
O livro deve ser visto como um balanço teórico e metodológico das principais perspectivas e problemáticas que envolvem a História Intelectual. O historiador francês demonstra que esse campo historiográfico emergiu do entrecruzamento da tradicional História das Ideias com a História Cultural e das Mentalidades, ou mesmo da influência da História das Ciências, sobretudo no contexto da historiografia francesa. Na primeira parte do livro, o autor trata do próprio conceito de intelectual, demonstrando que as suas definições e caracterizações são amplas, polissêmicas e polifônicas. Segundo ele, embora o intelectual possa ser caracterizado pelo compromisso com a crítica e o engajamento público, a definição de intelectual não pode ser tomada a priori, mas a partir de uma dada perspectiva histórica e sociológica, chamando a atenção para a relação entre a História Intelectual e a História Social e Cultural. A segunda parte do livro trata das diferentes tendências da História Intelectual, destacando especialmente as análises propostas pelo contextualismo linguístico da Escola de Cambridge, representada por historiadores como Quentin Skinner, John Pocock e John Dunn, e pela História dos Conceitos construída por Reinhart Kosseleck em estreito diálogo com a História Social. Dosse destaca ainda a importância da renovação historiográfica produzida após a virada linguística, cujas reformulações romperam com as tradicionais dicotomias entre as análises internas e externas, a relação texto e contexto, passado e presente, o que possibilitou a construção da História Intelectual como um interessante e promissor campo historiográfico.
DARNTON, Robert. Boemia literária e revolução: o submundo das letras no Antigo Regime. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
A obra de Robert Darnton tem contribuído sobremaneira para renovação da História Intelectual, especialmente pelo estreito diálogo que articula com a História Cultural. Em Boemia literária e revolução, o historiador norte-americano analisa o papel dos intelectuais marginais e da subliteratura às vésperas da Revolução Francesa. Ao contrário da historiografia tradicional, que procurava entender as ideias revolucionárias a partir dos grandes filósofos iluministas, Darnton busca as motivações que alimentaram a Revolução nos escritos subversivos, anticlericais e pornográficos que circulavam no submundo dos excluídos, da boemia literária, dos panfletistas e dos filósofos fracassados. Além de analisar as ideias políticas e morais defendida por essa literatura underground, Darnton persegue com maestria o processo de circulação e comercialização dessas obras, demonstrando a existência de um rico comércio editorial clandestino que envolvia tipógrafos, escritores, contrabandistas e leitores, seja do submundo da boemia ou de burgueses ávidos pela propaganda radical contra o Antigo Regime, a moral aristocrática e a corrupção do clero. Atentando, portanto, para a produção e a circulação marginal de ideias políticas e filosóficas, o livro não apenas alarga a nossa compreensão sobre o consumo e a difusão de ideias potencialmente explosivas, decisivas para a deflagração revolucionária, como renova a metodologia da História Intelectual em diferentes direções.
PALTI, Elías José. Giro lingüístico e historia intelectual. Stanley Fish, Dominick LaCapra, Paul Rabinow y Richard Rorty. Buenos Aires, Universidad Nacional de Quilmes, 1998.
O historiador argentino Elías José Palti, especialista em História Intelectual da América Latina, apresenta neste livro uma interessante análise das implicações do giro linguístico nas Ciências Humanas, destacando a renovação da História Intelectual norte-americana depois dos anos 1960. Na primeira parte do livro, Palti introduz as principais questões que nortearam o linguistic turn e o modo como a História Intelectual passou a repensar o significado da linguagem, do texto histórico, das formas de interpretação e recepção das ideias e, acima de tudo, da textualização do mundo. Partindo da análise da produção de Hayden White, Stanley Fish, Dominick LaCapra, Fredric Jameson e Richard Rorty, o historiador argentino historiciza o giro linguístico destacando, ao mesmo tempo, suas contribuições para o processo de renovação da História Intelectual e os paradoxos e limitações de suas teorias da linguagem. Na segunda parte do livro, Palti reúne um excelente conjunto de textos de autores norte-americanos ligados ao movimento do giro linguístico, com destaque para o clássico texto Repensar la historia intelectual y leer textos, de Dominick LaCapra, e Relativismo: el encontrar e el hacer, de Richard Rorty. Esse conjunto de texto não apenas dialoga com as principais questões apresentadas por Palti na primeira parte do livro, como também lançam novas questões para repensar os desafios colocados pelas teorias da linguagem ao campo da História Intelectual.
SILVA, Helenice Rodrigues da. Fragmentos da História Intelectual: entre questionamentos e perspectivas. Campinas, Papirus, 2002.
Helenice Rodrigues da Silva trata neste livro tanto das discussões teóricas e metodológicas da História Intelectual, chamando a atenção para a diversidade de abordagens e perspectivas teóricas, quanto da trajetória e da atuação dos intelectuais franceses na segunda metade do século XX. Curiosamente, o livro traça a História Intelectual francesa a partir de uma ampla análise da própria contribuição dos franceses para campo da História dos Intelectuais. Em diálogo com a História Social francesa, a autora analisa o modo como os intelectuais daquele país leram e responderam aos momentos nefrálgicos da história da França, como a participação na Segunda Guerra Mundial, a memória sobre o nazismo, a Guerra Fria, as manifestações de 1968 e o processo de colonização e descolonização. Para a autora, ao mesmo tempo que os eventos culturais, políticos e sociais foram decisivos para modelar as visões e valores dos intelectuais, estes também ajudaram a formatar a sociedade a partir da atuação pública e do desejo de transformar a realidade, como foi a grande marca da intelectualidade francesa a partir de meados do século XX. Neste sentido, Helenice Rodrigues da Silva esboça uma história social das ideias, ou uma história sociológica dos intelectuais, analisando as perspectivas, os projetos e a atuação de um conjunto de intelectuais que vai de Jean Paul Sartre a Michel Foucault, passando por Norbert Elias, Hannah Arendt, Claude Leford até Pierre Bourdieu.
LOPES, Marco Antônio (org). Grandes nomes da história intelectual. São Paulo: Editora Contexto, 2003.
Organizado por Marco Antônio Lopes, o livro apresenta um extenso número de textos escritos por diferentes historiadores brasileiro. A obra pode ser considerada uma das principais contribuições para a História Intelectual já produzida no Brasil, uma vez que concilia as reflexões teóricas e metodológica com a análise de uma diversidade de temas e estudos de caso que vão da História Intelectual, a História Social das Ideias, a História do Pensamento Político, passando pela História da Historiografia até a História Cultural. A coletânea apresenta análises que cobrem diferentes períodos da História, seja do mundo antigo e medieval, seja da História Moderna e Contemporânea. Merece destaque a última seção do livro, intitulada O Brasil dos intelectuais, os intelectuais do Brasil, que coloca em cena a análise da obra e atuação de viajantes, literatos, ensaístas e pensadores sociais brasileiros do século XIX e XX. De forma proposital, a variedade de autores, textos, temas e abordagens refletem a própria diversidade teórica e metodológica do campo da História Intelectual, conforme o próprio organizador do livro destaca em seu texto de introdução.
PALLARES-BURKE, Maria Lucia. Gilberto Freyre: um vitoriano dos trópicos. São Paulo: Editora da Unesp, 2005.
O livro de Maria Lucia Pallares-Burke não é apenas um dos mais ricos estudos sobre Gilberto Freyre, mas uma interessante obra de História Intelectual. Produzido a partir de uma extensa pesquisa documental, a autora persegue a trajetória intelectual, a vida social, as ideias, projetos e antagonismos de Gilberto Freyre até a publicação de Casa-Grande & Senzala, emblemático estudo da sociedade brasileira publicado em 1933. Ao mesmo tempo em que traça uma biografia intelectual do escritor pernambucano, Pallares-Burke preocupa-se em investigar as leituras, as formas de apropriação, os diálogos, as redes e as sociabilidades do autor com intelectuais brasileiros, latino-americanos, norte-americanos e europeus. Sua preocupação é entender como foi possível a escrita de Casa-grande & Senzala, cuja síntese exalta a História Cultural e a identidade mestiça brasileira, num contexto marcado pelo determinismo biológico e racial. O argumento central de Pallares-Burke é que a obra de Gilberto Freyre deve muito ao diálogo que estabeleceu com a cultura britânica, representada acima de tudo pelo universo literário e científico de escritores como Thomas Carlyle, William B. Yates, Lafcadio Hearn, Herbert Spencer, Alfred Zimmern e Franklin Giddings.
SÁ, Dominichi Miranda de. A ciência como profissão: médicos, bacharéis e cientistas no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2006.
O livro de Dominichi Miranda de Sá é uma das melhores expressões da recente produção de historiadores intelectuais brasileiros, seja pela originalidade do tema abordado seja pela renovada perspectiva com que incorpora a metodologia da História Intelectual ao estudo da História das Ciências. Logo na introdução da obra a autora já deixa entrever as suas referências teóricas e metodológicas, apontando para o diálogo entre a História Intelectual, a História Social das Ideias e a história dos conceitos praticada por Reinhart Koselleck. Neste sentido, a autora incorpora a noção segundo a qual a produção de discursos, textos e linguagens precisa ser analisada no cruzamento com os diferentes contextos temporais de produção e de transformação do mundo social, refutando o princípio da textualização da cultura. Interessada em compreender a mudança no estilo de produção cultural brasileira no início do século XX, a autora analisa o processo de especialização da atividade intelectual e da emergência do “cientista” no Brasil. No livro, Dominichi Miranda de Sá demonstra que a pratica da atividade diletante, beletrista e bacharelesca que caracterizava a atividade intelectual brasileira até o final do século XIX passou a perder prestígio com o surgimento da pesquisa científica especializada, num contexto em que os próprios cientistas passaram a repreender indistintamente a pretensa inutilidade social dos homens de letras, dos eruditos e retóricos.

Vanderlei Sebastião de Souza é Doutor em História e professor da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro-PR). Tem experiência na área de História Intelectual e História das Ciências, com trabalhos publicados sobre História da Eugenia, interpretações do Brasil, raça, nação e identidade nacional, História da Antropologia Física e da Genética. É coordenador do grupo de pesquisa “Intelectuais, Ciência e Nação” e também coordena o “Laboratório de História das Ciências e História Intelectual”.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Eventos do IPRI: maio 2017

Inscrições abertas para os 
seguintes eventos:

Novos olhares sobre a Política Externa brasileira - Gustavo Westmann (livro)


Gustavo Westmann
       Nascido em São Paulo, Gustavo Westmann é Bacharel em Direito pela USP-SP e em Relações Internacionais pela PUC-SP. Diplomata desde 2007, já atuou nas áreas cultural, comercial e de energia do MRE e, nos últimos quatro anos, foi Chefe do Setor Comercial da Embaixada do Brasil na Itália. Atualmente é Chefe do Setor Econômico e Comercial da Embaixada do Brasil na Indonésia, onde vem aprofundando seus estudos sobre o processo de formação da sociedade global. Mestre em Diplomacia pelo Instituto Rio Branco e em Política Internacional pela Escola de Governo da Luiss Guido Carli (Roma), Gustavo Westmann também é especialista em Direito Internacional Público pela UC Berkeley e pela The Hague Academy of International Law. Já foi professor visitante nas Universidades Tor Vergata (Roma) e Luiss (Roma). Antes da carreira diplomática, atuou como consultor jurídico na área de direito ambiental.