O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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domingo, 30 de setembro de 2018

A reconstrução econômica no pós-IIGM:book review

Os EUA, de Truman e Eisenhower, fizeram um trabalho extraordinário para evitar uma nova síbdrome de Versalhes (1919) e a volta de ditaduras nos países vencidos: Alemanha e Japão, finalmente, se converteram em democracias.
O que já não é o caso de Afeganistão e Iraque: nas nyse pode fazer milagres: reconstrução é algo bem diferente de desenvolvimento. Os dois bem sucedidos já eram economias avançadas quando foram dominadis por gangues militaristas e expansionistas.
Paulo Roberto de Almeida

Published by EH.Net(September 2018)
Grant Madsen, Sovereign Soldiers: How the U.S. Military Transformed the Global Economy after World War II. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 2018. xi +328 pp. $45 (hardcover), ISBN: 978-0-8122-5036-7.
Reviewed for EH.Net by Jason E. Taylor, Department of Economics, Central Michigan University.

Histories of war generally focus on the details of key battles, turning points, and heroes. Less examined is the economic aftermath of war. During the twentieth century, the United States employed its military to govern many defeated or troubled areas beyond its borders and these actions continued during the early twenty-first century as the U.S. military become involved in governing Iraq and Afghanistan. This is the motivation behind Brigham Young University historian Grant Madsen’s Sovereign Soldiers, as he documents the American military as an external state in the years just after World War II. These soldiers were not charged with defeating the enemy, but rather, getting civilian populations back on their feet. The book traces the steps of heavyweights such as Dwight D. Eisenhower, Lucius Clay, and Douglas MacArthur — important American generals who subsequently became military governors of postwar Germany and Japan. It also examines the roles of lesser known occupation officials such as General William Marquat, Joseph Dodge, and General William Draper, among others.
The failure to achieve a lasting peace after the First World War generally motivated American military governors to try to create a postwar environment in defeated nations that would not again lead to the rise of dictators. In fact, U.S. State Department planners who began to envision the postwar order in 1943 were determined to bring a healthy and prosperous Germany into the fold of the international community. Still, many back home objected to the notion of American help for defeated nations. When President Franklin Roosevelt was shown a draft of these plans he threw it on his desk saying, “Feed the Germans! I’ll give them three bowls of soup a day, with nothing in them…. Control industry … There’s not going to be any industry in Germany to control” (p. 69). Such attitudes were not unique to FDR.
Madsen shows that the military governors generally understood that they were effectively in no-win situations. If they tried too hard to help the populations of the defeated nations, they would likely be blamed for providing too much sympathy to the enemy. But if they left these populations to starve, history may blame them for creating the vacuum that lead to the next war. In the end, the idea of a “soft” peace in which the U.S. would wholeheartedly attempt to help the defeated economies recover won the day. Madsen does an excellent job of thoroughly documenting the many challenges that these “sovereign soldiers” faced in achieving their recovery objectives in postwar era Germany, as well as in postwar Japan where General MacArthur played a major role. Madsen has an impressive grasp of the key economic issues and the pros and cons of the economic models that were debated and tried at the time.
The final section of Madsen’s book focuses heavily on the creation of the postwar economic environment — and the “military-industrial complex” — in the United States, and specifically Eisenhower’s role in creating it during his own presidency. The background events that shaped Eisenhower’s views prior to taking the highest office, which are gleaned in the earlier chapters, give the reader important insights into Ike’s policies.
The archival research behind Madsen’s research is very impressive. This book will be of high interest to Eisenhower historians, in particular, and to those keenly interested in the postwar transitions in Germany and Japan. For the more casual reader, the book’s 325 pages may be a bit much. There were times when I wished for less detail and name dropping — keeping all the players straight became confusing at times — and for the author to offer more insight as to what important lessons or ideas we should take away from studying these events. I was searching for a major theme, finding, or conclusion from the book and was largely left wanting in that respect. The book ends very abruptly — honestly I did not see the end coming. I simply turned the page from the end of Chapter 13 and the book was over (there is a three-page epilogue). A concluding chapter that summarized the key events, lessons, and themes of the book would have been a welcome addition for this reader. In fairness, however, these critiques may be because of the differences in the ways that economists, of which I am one, and historians approach research. Overall, this is an impressive work of scholarship.

Jason E. Taylor is Professor of Economics at Central Michigan University. His book, Deconstructing the Monolith: The Microeconomics of the National Industrial Recovery Act, will be published by the University of Chicago Press in December 2018.
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O lulopetismo destruiu a economia e a política- Rodrigo Constantino

concordo em praticamente tudo o que disse Rodrigo Constantino, mas ele não parece ver que o lulismo tem uma estratégia de marketing muito similar à do trumpismo, e pode assim ganhar novamente as eleições.
Eles estão dizendo o que os mais pobres (que são maioria no eleitorado) querem ouvir: naqueles tempos, a vida de vocês era melhor, vamos voltar a ela..,
Paulo Roberto de Almeida

Rodrigo Constantino analisa criticamente alguns artigos publicados na imprensa sobre as eleições presidenciais:


Quando formadores de opinião falam dos riscos que nossa democracia corre, puxam da cartola o livro do momento Quando as democracias morrem, e alertam para o iminente perigo de uma vitória de Jair Bolsonaro, só posso concluir que hibernaram nas últimas duas décadas, e continuam hibernando.

Afinal de contas, o adversário direto de Bolsonaro é ninguém menos do que Lula, disfarçado de Haddad. É o PT, que tentou um golpe e pretende, se vitorioso, dobrar a aposta e partir para uma Constituinte. São promessas de campanha, não teorias conspiratórias.

O jornalista Brian Winter, com quem já conversei por telefone sobre a política brasileira, publicou um texto na Folha deste sábado com uma análise correta de como a oposição a Bolsonaro repete os erros da esquerda americana anti-Trump. Conversei exatamente sobre isso com ele, argumentando como a bolha “progressista” vive em seu mundo de ilusões com pautas sem qualquer apelo ao eleitor de carne e osso. Diz ele:

O que aconteceu nos Estados Unidos, então? Basicamente, Hillary e seus partidários se concentraram tanto na oposição a Trump que se esqueceram de falar sobre as questões que importavam para a maioria dos eleitores: desemprego, imigração e assim por diante.

Jamais esquecerei de uma mulher que estava assistindo a um comício de Trump: questionada por um repórter de TV como ela justificava votar em um homem como ele, ela respondeu: “Trump pode dizer o que quiser, desde que ajude meu marido a arrumar emprego”, foi a resposta.

Brian Winter também reconhece o estrago causado pelo PT em sua passagem pelo poder: “O PT causou a pior recessão do Brasil em um século, seu principal líder está na cadeia, e o crime disparou nos 13 anos em que o partido esteve no poder”.

Mas vejam que curioso: mesmo alguém que entende tudo isso acaba concluindo que Bolsonaro é, de fato, uma ameaça maior para nossa democracia, e que o PT precisa mudar a estratégia e o discurso para vencer e “salvar nossa democracia”. Eis o que ele diz:

"Para Haddad e o PT, isso significa que o caminho mais efetivo seria combinar ataques contra Bolsonaro a uma agenda clara quanto aos problemas mais urgentes do Brasil.

Isso inclui uma estratégia nacional mais efetiva de combate ao crime, reconhecimento dos erros passados do partido quanto à corrupção e deixar claro que a política econômica será mais parecida com a do primeiro mandato de Lula do que com a do primeiro mandato de Dilma.

Isso é pedir muito, dada a recente insistência do partido quanto a narrativas de perseguição e nostalgia. Talvez seja impossível. Mas o futuro da democracia brasileira pode depender disso".

Reparem como o jornalista estrangeiro quer acreditar num PT capaz de aprender com seus “erros”, para que possa impedir uma “desgraça” à nossa democracia. Seu futuro depende disso! O futuro da democracia pode depender, diz, de o PT ser mais pragmático. É o desejo do establishment de crer num Haddad “moderado e pragmático”, em vez de acreditar no que o próprio PT prega, na fala de Dirceu, no fato de que quem comanda o show é um presidiário em busca de vingança contra a Justiça e que mira no modelo venezuelano.

Demétrio Magnoli, que também faz comparações entre Trump e Bolsonaro em sua coluna de hoje, conclui que Haddad vence fácil um eventual segundo turno, em parte porque poderá se pintar como defensor da democracia contra um candidato autoritário:

"O nosso Trump é o sonho de consumo de Haddad. No turno final, o avatar de Lula teria o duplo privilégio de falar como representante dos pobres, contra os ricos, e como campeão das liberdades e da democracia, contra o autoritarismo. É vitória certa".

Só seria “vitória certa” se o povo todo fosse como a elite de sociólogos, antropólogos, psicanalistas e artistas, que realmente acredita numa narrativa de PT como defensor dos pobres e da democracia. Justo o PT, que pariu milhões de desempregados e pretende dar um golpe totalitário contra nossa democracia. Essa turma confunde o Leblon com o Brasil. A maioria da população sabe muito bem quem representa a real ameaça à democracia. Até o esquerdista Aloysio Nunes reconhece que Bolsonaro não traria qualquer retrocesso para a democracia:

"No Brasil, não há o menor risco de retrocesso em relação à democracia. Ela é solidamente estabelecida na opinião dos brasileiros, nas instituições jurídicas. Não há o menor risco de retrocesso em matéria democrática.

Há hoje duas candidaturas que se colocam como antípodas no universo político brasileiro, que são as candidaturas que estão hoje na frente (Bolsonaro/PSL e Fernando Haddad/PT), mas nenhuma delas contesta o regime democrático, tanto é que se apresentaram perante o eleitorado para obter os seus sufrágios. O deputado Jair Bolsonaro joga de acordo com as regras da democracia. Tanto é que é deputado há 30 anos".

Ele está errado no que diz respeito ao PT, claro. É o velho ranço socialista falando mais alto. Para concluir isso, o ministro teve que ignorar a declaração do próprio José Dirceu, assim como o programa de governo do PT. O editorialdo Estadão colocou os pingos nos is:

"Um regime autoritário pode se instalar da maneira clássica, por meio de um golpe, ou como resultado de um paulatino processo de captura do poder por um determinado grupo político, que assegura sua hegemonia a partir do aparelhamento do Estado. De um modo ou de outro, o resultado é sempre o mesmo: a submissão do Estado – e da Nação – aos interesses de quem o controla, o exato oposto de uma democracia. É precisamente isso o que o PT tentará fazer se esse partido conseguir vencer a eleição presidencial.

Para os que ainda concedem ao PT o benefício da dúvida, enxergando naquele partido credenciais democráticas que a sigla há muito perdeu – se é que um dia as teve -, recomenda-se a leitura de uma entrevista que o “companheiro” José Dirceu deu ao jornal El País.

Na entrevista, o jornal pergunta ao ex-ministro, deputado cassado e réu triplamente condenado se ele acredita na possibilidade de que o PT seja impedido de assumir a Presidência caso vença a eleição – ou seja, se pode haver um golpe. José Dirceu considera essa hipótese “improvável”, pois significaria colocar o Brasil na rota do “desastre total”, uma vez que “na comunidade internacional isso não vai ser aceito”. Mas então Dirceu, condenado a mais de 33 anos de prisão por corrupção no âmbito da Lava Jato, deixa claro que, para o PT, as eleições, afinal, são apenas uma etapa na tomada do poder. “Dentro do país é uma questão de tempo para a gente tomar o poder. Aí nos vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição”, explicou o ex-ministro.

Não é preciso grande esforço para perceber o projeto antidemocrático petista nessas poucas palavras. Quando diz que “tomar o poder” é diferente de “ganhar uma eleição”, significa que o poder pode ser conquistado e consolidado à margem ou mesmo a despeito do natural processo democrático – que, justamente, tem como um de seus fundamentos a alternância de governantes, para evitar a cristalização de um determinado grupo político-partidário na máquina estatal".

As cartas estão colocadas na mesa para todos que querem enxerga-las. De um lado temos uma quadrilha disfarçada de partido, comandada de dentro da carceragem em Curitiba por um bandido condenado, amigo dos piores ditadores do mundo, que não esconde sua sede por vingança e sua ânsia por poder, participando do Foro de São Paulo como fundador e tendo em Maduro sua referência “democrática”. Do outro lado temos um deputado em seu sétimo mandato, cercado dos melhores economistas liberais, repetindo que seu governo seguirá rigorosamente a Constituição. Mas os “formadores de opinião” preferem acreditar que é Bolsonaro quem representa um risco maior para nossa capenga democracia, já quase destruída antes pelo mesmo PT de Haddad…

A tragedia dos comuns, na obra de Elinor Ostrom - David S. Wilson (Evonomics)

The Tragedy of the Commons: How Elinor Ostrom Solved One of Life’s Greatest Dilemmas

The design principles for solving the tragedy of the commons can be applied to all groups

Economics, September 29, 2018

As an evolutionary biologist who received my PhD in 1975, I grew up with Garrett Hardin’s essay “The Tragedy of the Commons,” published in Science magazine in 1968. His parable of villagers adding too many cows to their common pasture captured the essence of the problem that my thesis research was designed to solve. The farmer who added an extra cow gained an advantage over other farmers in his village but it also led to an overgrazed pasture. The biological world is full of similar examples in which individuals who behave for the good of their groups lose out in the struggle for existence with more self-serving individuals, resulting in overexploited resources and other tragedies of non-cooperation.
Is the so-called tragedy of the commons ever averted in the biological world and might this possibility provide solutions for our own species? One plausible scenario is natural selection at the level of groups. A selfish farmer might have an advantage over other farmers in his village, but a village that somehow solved the tragedy of the commons would have a decisive advantage over other villages. Most species are subdivided into local populations at various scales, just as humans are subdivided into villages, cities and nations. If natural selection between groups (favoring cooperation) can successfully oppose natural selection within groups (favoring non-cooperation), then the tragedy of the commons can be averted for humans and non-human species alike.
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At the time that Hardin published his article and I was working on my thesis, this possibility had been considered and largely rejected. A book titled Adaptation and Natural Selection, written by evolutionary biologist George C. Williams and published in 1966, was on its way to becoming a modern classic. Williams described between-group selection as theoretically possible but almost invariably weak compared to within-group selection. By his account, attempts to explain evolutionary adaptations as “for the good of the group” reflected sloppy and wishful thinking. Hardin’s article reflected the same pessimism about avoiding the tragedy of the commons other than by top-down regulation. My interest in rethinking the plausibility of group selection placed me in a very small group of heretics (see Okasha 2006, Sober and Wilson 1998, Wilson and Wilson 2007, and Wilson 2015 for more on the controversy over group selection, which in my opinion has now been mostly resolved).
Evolutionary theory’s individualistic turn coincided with individualistic turns in other areas of thought. Economics in the postwar decades was dominated by rational choice theory, which used individual self-interest as a grand explanatory principle. The social sciences were dominated by a position known as methodological individualism, which treated all social phenomena as reducible to individual-level phenomena, as if groups were not legitimate units of analysis in their own right (Campbell 1990). And UK Prime Minister Margaret Thatcher became notorious for saying during a speech in 1987 that “there is no such thing as society; only individuals and families.” It was as if the entire culture had become individualistic and the formal scientific theories were obediently following suit.
Unbeknownst to me, another heretic named Elinor Ostrom was also challenging the received wisdom in her field of political science. Starting with her thesis research on how a group of stakeholders in southern California cobbled together a system for managing their water table, and culminating in her worldwide study of common-pool resource (CPR) groups, the message of her work was that groups are capable of avoiding the tragedy of the commons without requiring top-down regulation, at least if certain conditions are met (Ostrom 1990, 2010). She summarized the conditions in the form of eight core design principles: 1) Clearly defined boundaries; 2) Proportional equivalence between benefits and costs; 3) Collective choice arrangements; 4) Monitoring; 5) Graduated sanctions; 6) Fast and fair conflict resolution; 7) Local autonomy; 8) Appropriate relations with other tiers of rule-making authority (polycentric governance). This work was so groundbreaking that Ostrom was awarded the Nobel Prize in economics in 2009.
I first met Lin (as she preferred to be called) just a few months before she was awarded the prize, at a workshop held in Florence, Italy, titled “Do Institutions Evolve?” (recounted in Wilson 2011a). Similar events were taking place all over the world in 2009 to celebrate the 200th anniversary of Darwin’s birth and the 150th anniversary of On the Origin of Species. Multilevel selection theory, which envisions natural selection operating on a multi-tier hierarchy of units, had become more widely accepted by then, especially with respect to human cultural evolution, making me much in demand as a speaker. I had also cofounded a think tank called the Evolution Institute2 that formulates public policy from an evolutionary perspective, giving me a strong interest in the workshop topic. I had become somewhat familiar with Lin’s work but having the opportunity to talk with her at length had a transformative impact.
I quickly realized that Lin’s core design principle approach dovetailed with multilevel selection theory, which my fellow-heretics and I had worked so hard to revive. Her approach is especially pertinent to the concept of major evolutionary transitions, whereby members of groups become so cooperative that the group becomes a higher-level organism in its own right. This idea was first proposed by cell biologist Lynn Margulis (1970) to explain how nucleated cells evolved from symbiotic associations of bacteria. It was then generalized during the 1990s to explain other major transitions, such as the rise of the first bacterial cells, multicellular organisms, eusocial insect colonies and human evolution (Maynard Smith and Szathmary 1995, 1999).
Hunter-gatherer societies are famously egalitarian, not because everyone is nice, but because members of a group can collectively suppress bullying and other self-aggrandizing behaviors within their ranks – the defining criterion of a major evolutionary transition (Boehm 1993, 1999, 2011). With disruptive competition within groups held largely in check, succeeding as a group became the main selective force in human evolution. The entire package of traits regarded as distinctively human – including our ability to cooperate in groups of unrelated individuals, our ability to transmit learned information across generations, and our capacity for language and other forms of symbolic thought – can be regarded as forms of physical and mental teamwork made possible by a major evolutionary transition.
Lin’s design principles (DP) had “major evolutionary transition” written all over them. Clearly defined boundaries (DP1) meant that members knew they were part of a group and what the group was about (e.g., fisherman with access to a bay or farmers managing an irrigation system). Proportional equivalence of costs and benefits (DP2) meant that members had to earn their benefits and couldn’t just appropriate them. Collective choice arrangements (DP3) meant that group members had to agree upon decisions so nobody could be bossed around. Monitoring (DP4) and graduated sanctions (DP5) meant that disruptive self-serving behaviors could be detected and punished. Fast and fair conflict resolution (DP6) meant that the group would not be torn apart by internal conflicts of interest. Local autonomy (DP7) meant that the group had the elbow room to manage its own affairs. Appropriate relations with other tiers of rule making authority (DP8) meant that everything regulating the conduct of individuals within a given group also was needed to regulate conduct among groups in a multi group population.
The concordance between Lin’s core design principle approach and multilevel selection theory had three major implications. First, it placed the core design principle approach on a more general theoretical foundation. Lin’s “Institutional Analysis and Development (IAD)” framework emanated from political science and she was an early adopter of economic game theory, but her main case for the design principle approach was the empirical database that she compiled for common-pool resource groups around the world, as described in her most influential book Governing the Commons (Ostrom 1990). Multilevel selection theory showed how the core design principle approach follows from the evolutionary dynamics of cooperation in all species and from our own evolutionary history as a highly cooperative species.
Second, because of its theoretical generality, the core design principle approach is likely to apply to a much broader range of human groups than those attempting to manage common-pool resources (CPRs). Almost any group whose members must work together to achieve a common goal is vulnerable to self-serving behaviors and should benefit from the same principles. An analysis of business groups, churches, voluntary associations and urban neighborhoods should yield the same results as Lin’s analysis of CPR groups.
Third, the core design principle approach can provide a practical framework for improving the efficacy of groups in the real world. It should be possible for almost any kind of group to assess itself with respect to the design principles, address shortcomings, and function better as a result. This prospect was especially appealing to me as president of the Evolution Institute, since I was now actively engaged in formulating and implementing public policy from an evolutionary perspective.
Lin inspired me to begin several projects in parallel with each other. One was to collaborate with her and her postdoctoral associate Michael Cox to write an academic article, “Generalizing the Core Design Principle for the Efficacy of Groups” that established the three major implications listed above for an academic audience (Wilson, Ostrom and Cox 2013). Michael was the lead author of a 2010 article that evaluated the core design principle approach for the literature on CPR groups that had accumulated since Lin’s original analysis (Cox et al. 2010). Our article was published in a special issue of the Journal of Economic Behavior & Organizationtitled “Evolution as a General Theoretical Framework for Economics and Public Policy.” Both the article and the special issue should be consulted for more on the theoretical framework that underpins the design principle approach.
In addition, I started to use the design principle approach in projects that involved working with real-world groups in Binghamton, New York. One was a collaboration with the City of Binghamton and United Way of Broome County called “Design Your Own Park,” which used the opportunity to turn a neglected space into a neighborhood park. Neighborhood groups that formed to create a park would be coached in the core design principles and start to manage the affairs of their neighborhood in other respects. This project led to the creation of four neighborhood parks—and their groups—in our city (Wilson 2011b).
The second project was a collaboration with the Binghamton City School District to create a “school within a school” for at-risk youth called the Regents Academy (Wilson, Kaufmann, and Purdy 2011). This was our most ambitious and best documented project because we were able to employ the gold standard of scientific assessment, the randomized control trial, which randomly assigns participants into an experimental group and a control group to identify significant variables that might affect outcomes. To the best of its ability, the Regents Academy implemented the eight core design principles and two auxiliary design principles deemed to be important in a learning context (a relaxed and playful atmosphere and short-term rewards for long-term learning goals). Not only did the Regents Academy students vastly outperform the comparison group, but they even performed on a par with the average high school student on the state-mandated Regents exam (see Wilson, Kauffman and Purdy 2011 for details). This is a strong indication that the design principle approach can be generalized beyond CPR groups and can be used as a practical framework for improving the efficacy of groups in our everyday lives.
The third project was a collaboration with a number of religious congregations in Binghamton to reflect upon the core design principles in relation to their faith and social organization. These conversations did not lead to a formal effort to change practices but they were invaluable for exploring how the success of religious groups can be understood in terms of the design principles approach.
All of these projects were instructive and broadly confirmed the relevance of the core design principle approach for any group whose members must work together to achieve a common purpose. They also showed how the design principles can be sadly lacking in some groups, such as disadvantaged neighborhoods and public schools. It is important to remember that Ostrom was able to derive the core design principles for CPR groups because they varied in how well the design principles were implemented. Some did well without needing to be taught, while others did poorly and might benefit from some coaching. Based on my own projects, I became convinced that all groups are likely to face similar challenges in implementing the core design principles.
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Sadly, Lin died of cancer in June 2012. I was with her only a few months before at a workshop, “Rules as Genotypes in Cultural Evolution,” which we organized together and hosted at her Workshop in Political Theory and Policy Analysis, at Indiana University. She was simultaneously trying to care for her aging husband Vincent, satisfy the worldwide demand for speaking appearances, manage her projects and care for herself. I am grateful to be among the many who were touched by her and proud to contribute to her legacy by helping to generalize the core design principle approach and make it available to any group whose members must work together to achieve shared goals.*
2016 October 29

*PROSOCIAL is the first Internet platform that enables any group, anywhere in the world, to evaluate itself and increase its efficacy based on a fusion of the core design principle approach and evidence-based methods from the applied behavioral sciences.
References
Boehm, Christopher. 1993. “Egalitarian Society and Reverse Dominance Hierarchy.” Current Anthropology, 34:227 – 254.
———. 1999. Hierarchy in the Forest: Egalitarianism and the Evolution of Human Altruism. Cambridge, Mass: Harvard University Press.
———. 2011. Moral Origins: The Evolution of Virtue, Altruism, and Shame. New York: Basic Books.
Campbell, Donald T. 1990. “Levels of Organization, Downward Causation, and the Selection-Theory Approach to Evolutionary Epistemology.” In G. Greenberg & E. Tobach, editors, Theories of the Evolution of Knowing, 1 – 17. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum Associates.
Cox, M., G. Arnold & S. Villamayor-Tomas. 2010. “A Review of Design Principles for Community-based Natural Resource Management.” Ecology and Society. 15.
Hardin, Garrett. 1968. “The Tragedy of the Commons.” Science. 162:1243-1248.
Margulis, Lynn. 1970. Origin of Eukaryotic cells. New Haven: Yale University Press.
Maynard Smith, John, & E. Szathmary. 1995. The Major Transitions of Life. New York: W.H. Freeman.
———. 1999. The Origins of Life: From the Birth of Life to the Origin of Language. Oxford: Oxford University Press.
Okasha, Samir. 2006. Evolution and the Levels of Selection. Oxford, UK: Oxford University Press.
Ostrom, Elinor. 1990. Governing the Commons: The Evolution of Institutions for Collective Action. Cambridge, UK: Cambridge University Press.
———. 2010. “Polycentric Systems for Coping with Collective Action and Global Environmental Change.” Global Environmental Change. 20:550 – 557.
Sober, Elliot, & Wilson, D. S. 1998. Unto Others: The Evolution and Psychology of Unselfish Behavior. Cambridge, MA: Harvard University Press.
Williams, George. C. 1966. Adaptation and Natural Selection: A Critique of Some Current Evolutionary Thought. Princeton: Princeton University Press.
Wilson, D.S. 2011a. The Neighborhood Project: Using Evolution to Improve My CityOne Block at a Time. New York: Little, Brown.
———. 2011b. “The Design Your Own Park Competition: Empowering Neighborhoods and Restoring Outdoor Play on a Citywide Scale.” American Journal of Play. 3:538 – 551.
———. 2014. “Introducing PROSOCIAL: Using the Science of Cooperation to Improve the Efficacy of Your Group.” This View of Life.
———. 2015. Does Altruism Exist? Culture, Genes, and the Welfare of Others. New Haven: Yale University Press.
Wilson, D.S., Kauffman, R. A., & Purdy, M. S. 2011. “A Program for At-risk High School Students Informed by Evolutionary Science.” PLoS ONE, 6(11), e27826. doi:10.1371/journal.pone.0027826
Wilson, D.S., & Gowdy, J. M. 2013. “Evolution as a General Theoretical Framework for Economics and Public Policy.” Journal of Economic Behavior & Organization. 90:S3 – S10. doi:10.1016/j.jebo.2012.12.008
Wilson, D.S., Hayes, S. C., Biglan, A., & Embry, D. 2014. “Evolving the Future: Toward a Science of Intentional Change.” Behavioral and Brain Sciences. 37:395 – 460.
Wilson, D.S., E. Ostrom & M. Cox. 2013. “Generalizing the Design Principles for Improving the Efficacy of Groups.” Journal of Economic Behavior & Organization. 90:supplement, S21 – S32.
Wilson, D.S., & E.O. Wilson. 2007. “Rethinking the Theoretical Foundation of Sociobiology.” Quarterly Review of Biology. 82:327 – 348.

Rio Branco reenquadrado, por Luis Claudio Villafane (entrevista na IstoÉ)

Luís Cláudio Villafañe G. Santos traça um perfil pouco heroico do patrono da diplamacia brasileira, revelando segredos, como suas aventuras amorosas e envolvimento com jogatina e espionagem

Crédito: Alexia Fidalgo
O escritor Luis Claudio Villafañe (Crédito: Alexia Fidalgo)
O diplomata carioca Luís Cláudio Villafañe G. Santos, de 58 anos,  pesquisou ao longo de mais de dez anos para concluir o livro “Juca Paranhos, O Barão do Rio Branco” (Companhia das Letras). O volume tem mais de 500 páginas, mas é o contrário da típica biografia monumental, em que o biografado surge como vulto da pátria. Para Santos, trata-se de evitar o heroísmo e assim fazer surgir o perfil realista de José Maria da Silva Paranhos Filho (1845-1912), o barão do Rio Branco. Santos traça um perfil nada heroico do patrono da diplomacia brasileira. Revela segredos de alcova, caça e conflitos internacionais. Mas também apresenta uma interpretação do papel e do legado do Barão.
Ainda é possível dizer algo de novo ou encontrar novidades em uma das personagens mais biografadas do Brasil como o Barão do Rio Branco?
Claro que sim. Para começar, as boas biografias do Rio Branco são antigas – a do Álvaro Lins é de 1945 e a do Viana Filho de 1959. De lá para cá, há alguns ensaios de qualidade, mas nenhuma biografia propriamente dita. Além de documentos revelados na pesquisa, o livro faz um resgate de histórias que caíram no esquecimento e reinterpreta os diversos episódios à luz das discussões historiográficas atuais. E, também, a própria abordagem biográfica mudou muito, já não cabe a construção de um herói da nacionalidade, com uma trajetória linear, sem contradições, erros, inseguranças e incertezas. O Rio Branco real acerta, erra, se reinventa, trai e é traído, etc.
Que fatos novos você revela no livro?
Em relação às biografias existentes há uma coleção de novidades. Algumas estavam enterradas em livros antigos ou documentos esquecidos, outras conhecidas apenas pelos raros estudiosos e algumas que identifiquei ao longo da pesquisa. Dou exemplos. Eu resgatei um tratado secreto que o Rio Branco assinou com o Equador para uma ação militar conjunta em uma eventual guerra contra o Peru, algo que nenhum biógrafo anterior jamais mencionou. Eu publiquei o texto desse acordo em uma revista especializada em 2017, mas o tema era desconhecido na historiografia brasileira. Desencavei no Arquivo Histórico do Itamaraty um minucioso estudo que não chegou a ser publicado de um bibliotecário do Ministério sobre as anotações que o Barão fazia nos livros de sua vasta biblioteca, com muitas coisas interessantes. Resgatei histórias esquecidas como a do genro-espião, o quase assassinato de um colega de faculdade pelo jovem Juca, o uso de lobistas e mesmo de informantes infiltrados junto aos juízes nas arbitragens sobre os territórios de Palmas e do Amapá, entre outras.
Você corrobora a interpretação tradicional que atribui a Rio Branco um papel fundamental tanto no estabelecimento das fronteiras do Brasil como da definição do papel do Brasil na geopolítica americana. Há outros aspectos a acrescentar nessa interpretação?
O papel do Rio Branco na definição das fronteiras é inegável e transcendente. Trata-se, sem dúvida, de seu maior legado. Mas, mesmo essa história está mal contada. No livro eu aprofundo essa questão das negociações de limites, cuja interpretação está até hoje muito baseada na narrativa que o próprio Rio Branco criou. Por exemplo, a negociação com o Peru, onde se poderia ter perdido todo o Acre, mesmo depois de pago – em dinheiro e territórios – para a Bolívia, é sempre apresentada como uma coisa quase burocrática, quando demorou mais de cinco anos e quase resultou em uma guerra que teria sido muito complicada. É o próprio Rio Branco que dá origem a essa interpretação porque ficava melhor para ele, conforme explico no livro.
O Rio Branco viveu mais de vinte anos na Europa e um par de anos nos Estados Unidos. Ele compartia plenamente a visão das elites desses países em relação ao sistema internacional. O que almejou fazer na América foi, de alguma maneira, reproduzir o arranjo europeu, criar uma espécie de “concerto americano” em que os Estados Unidos, o Brasil, a Argentina, o Chile e o México se entenderiam para manter o continente em paz e longe das intervenções europeias.
Muitas vezes, Rio Branco parece ter agido de forma maquiavélica para beneficiar um país aliado ou uma situação favorável ao Brasil?
Em termos de relações internacionais, Rio Branco foi o que hoje chamaríamos de um realista. Ele entendia que o poder é o elemento mais importante nas relações entre os países e agiu de acordo com esse entendimento. No livro, eu dou elementos para que o leitor ou leitora faça seu próprio julgamento em cada episódio. Por exemplo, a questão da retificação das fronteiras com o Uruguai, em que o Brasil cedeu, sem compensação, o condomínio da Lagoa Mirim e do rio Jaguarão teve também um elemento de cálculo político para constranger a Argentina; mas definir em que medida pesou mais a vontade de remediar uma situação injusta ou se foi por causa da rivalidade com a Argentina fica por conta de quem interpreta a questão.
Você adentra um terreno desafiador que coloca em nexo a diplomacia e a moldagem de conceitos de identidade nacional. De que forma essa relação se altera com as mudanças de regime e de modelo de Estado e Nação no Brasil do Império à Nova República?
Eu tratei especificamente dessa questão da ligação entre política externa e identidade nacional em um livro anterior, que, pelo papel do Rio Branco nesse processo, acabou se chamando O Dia em que Adiaram o Carnaval (UNESP, 2010). Por ter sido uma monarquia por quase sete décadas, com a conservação de muito do imaginário, das relações socias e das formas de legitimação do Antigo Regime – em contraste com os Estados Unidos e com os países vizinhos – nas bases como se entende o fenômeno hoje em dia, o nacionalismo foi tardio no Brasil e, assim, ainda que tendo atuado quase um século depois da independência, pode-se dizer que o Rio Branco tem um papel relevante como formador da nacionalidade. Mas isso eu exploro mais a fundo nesse outro livro de 2010.
Nesse processo, Rio Branco ofereceu um modelo de nacionalidade? Quem entre os seus sucessores exerceram o mesmo papel, sem esquecer o antecessor Joaquim Nabuco?
O papel do Rio Branco como formador da nacionalidade está muito ligado a seu desempenho, político e discursivo, na consolidação das fronteiras. A questão do território – que precederia a nação, um legado da natureza que a colonização portuguesa nos teria transmitido – está na base da construção da ideia de nacionalidade no Brasil. O Rio Branco resgatou e atualizou esse mito fundador e, assim, destaca-se entre seus contemporâneos nesse processo de fortalecimento do sentimento nacional. A política externa tem um papel importante na construção da nacionalidade, pois afinal é a política pública que lida especificamente com o “outro” e a alteridade é fundamental na construção da identidade.
Rio Branco defendia a aliança íntima com os Estados Unidos. A diplomacia brasileira posterior buscou se afastar dessa intimidade? Houve uma espécie de angústia da influência em relação a essa convicção no Itamaraty ao longo do século XX?
Essa interpretação é um mito que o livro desafia. A suposta prescrição invariável de Rio Branco em favor de um alinhamento com os Estados Unidos não se sustenta. Antes de mais nada, a ideia de priorizar as relações com os Estados Unidos precede Rio Branco; foi uma política perseguida de forma estridente já imediatamente depois da proclamação da república e, inclusive, vinha do Manifesto Republicano de 1870. De fato, em determinados momentos, Rio Branco entendeu que seria importante ao menos aparentar uma sintonia com os Estados Unidos, principalmente como proteção contra ingerências das potências europeias. Essa política, que teve seu ponto máximo na III Conferência Pan-americana, realizada no Rio de Janeiro em 1906, desandou a partir da Conferência da Paz na Haia em 1907 e ao fim do período de Rio Branco as relações com os Estados Unidos estavam em seu ponto mais baixo em muitas décadas. Foram os sucessores do Barão que, para legitimar suas escolhas, passaram a atribuir ao Rio Branco essa ideia de uma aliança incondicional com os Estados Unidos. Essa visão durou ao longo de grande parte do século XX e se reforçou com a tese da “aliança não escrita”, inventada na década de 1960 muito mais para legitimar a política daquela década, depois do golpe de 1964, do que como descrição válida das relações entre os dois países no início do século XX.
Você poderia descrever em poucas linhas a pessoa de Juca Paranhos, como personalidade, gostos, aspecto físico e psicológico? Ele não parecia ser um grande intelectual, apesar de inteligente.
Uma das coisas que diferencia o livro das biografias anteriores é, justamente, mostrar a evolução do personagem ao longo de sua vida. Minha análise atende a prescrição de Pierre Bourdieu de desmascarar o que ele chamou de “ilusão biográfica”: mostrar os biografados como personagens planos, cujas principais características sociais, pessoais e de caráter permanecem praticamente inalteradas durante toda sua trajetória. Ao contrário, eu procuro mostrar as transformações do Rio Branco ao longo de sua vida, suas contradições, inseguranças, recuos e momentos em que ele se reinventou.
Quanto à questão do legado intelectual, o Rio Branco não deixou uma obra “acadêmica” de relevo; ficaram muitos textos dispersos, de diversos tipos, que inclusive eventualmente têm contradições entre si. Foram, na maior parte dos casos, escritos de circunstância. Isso não deixou de ser uma vantagem para os que, desde então, passaram a atribuir ao Barão a paternidade de suas políticas como forma de legitimá-las. Mas, vale dizer, mesmo sem ter escrito obras de maior fôlego, o Rio Branco foi um grande erudito nas áreas de história e geografia do Brasil, conhecimento que ele aproveitou muito bem para sustentar sua atuação diplomática e política.
Você busca traçar um perfil menos monumental desse vulto pátrio, símbolo da hegemonia (rural) oligárquica o Império que não hesita em defender e consolidar a República Velha. No que ele fraquejou, errou e acertou? 
O livro, em suas quinhentas e tantas páginas, está aí para responder a essa pergunta. Não me furto em mostrar as hesitações, erros de avaliação e contradições; e também os grandes acertos e vitórias, bem como as polêmicas que enfrentou. A trajetória do Rio Branco é uma janela extraordinária para acompanhar as transformações que o Brasil e o mundo passaram durante as várias décadas de sua atuação política, do fim do Império ao início da República, e não somente na política externa. O livro explora também a relação entre a política interna e a política externa e a atuação do Rio Branco na política interna; desfaz o mito de sua suposta autonomia na condução da política externa. Então, como hoje, a política externa reflete a situação interna e os debates políticos e mesmo partidários.
 Que lição Paranhos legou ao Brasil, e que pode ainda hoje pode ser considerada fundamental para a instauração de um Estado e uma Nação brasileiras? O “concerto americano” esboça de alguma forma os tratados atuais entre os países do continente?
A ideia de um “concerto americano” que ele tinha em mente é muito distinta do que se pode propor hoje. Sua visão das relações internacionais, na linha dos seus contemporâneos, era essencialmente oligárquica. Vale dizer que é nesse período em que a noção de uma hierarquia entre os países como uma coisa natural e legítima começa a ser posta em questão. A ideia da igualdade das nações teve na Conferência da Haia de 1907 um marco importante. É um episódio que eu exploro no livro e aí se vê que, ao contrário do Rui Barbosa, o Barão aceitava com muito mais naturalidade a preponderância das grandes potências. Esse exercício de buscar na atuação e nas ideias do Rio Branco antecedentes ou justificativas para políticas atuais foi usado e abusado pelos seus sucessores no Itamaraty, mas não resiste a uma análise mais detida.
Num exercício de especulação fantasiosa, como Rio Branco reagiria ao papel atual do Itamaraty?
Não cabe muito essa especulação. A agenda das relações internacionais hoje é muito diferente. Qual seria a posição do Rio Branco sobre mudança climática, exploração dos fundos marinhos? Mesmo temas que já existiam – comércio, direitos autorais, transportes, etc. – são profundamente diferentes hoje.
Quais foram as principais surpresas e dificuldades durante esses (talvez seis) anos de pesquisas em arquivos?
São mais de dez anos de pesquisas. Já para o livro sobre o papel da política externa na construção da nacionalidade, publicado em 2010, estava trabalhando com o Rio Branco. As investigações para aquele livro vêm, naturalmente, de antes e assim acho que passo já dos dez anos pesquisando, direta ou indiretamente, sobre o Rio Branco. Investigar um tema é sempre descobrir coisas novas que, muitas vezes, mudam a interpretação que se tinha. O resultado nunca é como se imaginou que seria no início, o que é o melhor sinal de que a pesquisa valeu a pena. Não tive nenhuma dificuldade específica de acesso à documentação e as surpresas foram surgindo naturalmente pelo caminho.
Você poderia estabelecer uma comparação entre sua interpretação de Rio Branco e as de outros biógrafos, como Luís Viana Filho e outros que aparentemente praticaram a biografia-exaltação?
As biografias falam dos biografados e de suas épocas, mas também refletem o momento em que foram escritas. Um dos grandes desafios do biógrafo é dar elementos para que os leitores e as leitoras possam se relacionar empaticamente com o biografado. No caso, foi necessário um esforço para situar a visão de mundo, as inseguranças, as expectativas, os dilemas e a teia de relações sociais de um personagem que nasceu em 1845 e se socializou e atuou em um contexto bastante diferente do nosso, um mundo que sofreu transformações importantes durante sua existência. Esse esforço tem de ser atualizado a cada releitura. Explicar o Rio Branco em 1945, como fez o Álvaro Lins, é muito diferente do desafio enfrentado pelo Viana Filho, em 1959, e da tarefa de mostrar esse personagem, complexo e muitas vezes contraditório, para o público de hoje.

sábado, 29 de setembro de 2018

O estado da nação - Paulo Roberto de Almeida

O estado da nação

Paulo Roberto de Almeida

O Brasil aparece, no mais recente relatório anual do Fraser Institute, Economic Freedom of the World 2018 (dados de 2016), no último quartil de 162 países, os menos livres, num vergonhoso 144. lugar, menos livre economicamente do que a China comunista e supostamente estatizante (classificação 108).
Nosso retrocesso do terceiro quartil se deveu inteiramente às políticas econômicas do lulopetismo exacerbado. Um retrato mais completo, com todas as variáveis incluídas pode ser vista no relatório, cujo link eu postei em meu blog: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/09/economic-freedom-of-world-2018-report.html?spref=fb&m=1
Minha diferença com a direita rústica do anti-lulopetismo econômico (à parte o fato óbvio que eu não sou de direita, e sim um liberal pragmático e racionalista), se situa no fato de que eu em nenhum momento acredito que os lulopetistas pretendam transformar o Brasil em país socialista, levar-nos ao comunismo, implantar uma ditadura de esquerda ou outras bobagens do gênero.
Os lulopetistas não pretendem, de nenhuma forma, acabar com o capitalismo no Brasil. Ao contrário: eles pretendem fortalecê-lo ao máximo, com grandes empresas internacionais brasileiras, tecnologia própria, essas coisas.  Mas eles pretendem a existência de um capitalismo especial: em estreita simbiose com o Estado, tutelado, guiado e controlado pelo Estado, que eles pretendem obviamente controlar estando em seu poder, legalmente eleitos pelo voto popular para formar governos perfeitamente aparelhados por eles. Pessoalmente, os lulopetistas pretendem enriquecer por todas as formas e vias possíveis, fazendo do partido o mecanismo básico para isso, saqueando empresas e agências estatais, extorquindo capitalistas privados, em colusão com os banqueiros, reforçando os sindicatos e as corporações de Estado, controlando “movimentos sociais” como correias de transmissão do partido, etc. Nada que já não tenhamos observado em outras experiências socialistas no decorrer do século XX, com as variantes e diferenças que se impõem no nosso contexto.
Trata-se de um stalinismo soft — por enquanto baseado em carisma construído—, combinado a maciças doses de propaganda mentirosa e de gramscismo empírico (ou seja, dispensando qualquer teoria ou mesmo estudo das tábuas sagradas da doutrina), o que é tremendamente facilitado pela indigência sub-intelectual de formadores de opinião no jornalismo e na academia (dois poderosos focos de transmissão e alimentação de true believers na causa em todos os estratos da sociedade).
A estratégia tem sido eficaz e exitosa, o que deve levar o Brasil a atravessar mais alguns anos de mediocridade econômica e de indigência cultural, até que uma crise mais séria force uma mudança de maioria política. Mas atenção: não haverá, antes de muito tempo, qualquer mudança de mentalidade, pois isso é muito mais difícil de ocorrer. 
Em resumo: sinto ter de profetizar uma longa decadência ao Brasil, tanto mais constrangedora que o lulopetismo atualmente dominante é do tipo gangsterista, o que me faz acreditar que o país continuará dominado, nos próximos anos, pela mesma organização criminosa que já esteve no poder entre 2003 e 2016.
Estou sendo muito pessimista?
Não creio...

Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 29 de setembro de 2018

Juca Paranhos, a biografia do Barao do Rio Branco, por Luis Claudio Villafane G. Santos (IstoÉ)

Biografia conta como Rio Branco se envolveu em casos amorosos, jogatina, espionagem, compra de jornalistas e manipulação de tratados internacionais — sem perder a reputação

O barão indômito
MODERNO Rio Branco com seus assessores no Itamaraty por volta de 1911 (Moniz Brandão, Antônio Batista Pereira e AraújoJorge): trajes leves para negociações pacíficas
A história do Brasil costuma ser mal contada, mesmo quando se trata de versões oficiais de vultos pátrios. O Barão do Rio Branco não foge à regra. Ele foi celebrado como patrono da diplomacia brasileira e consagrado em vida pela multidão em 1904, como o herói que estabeleceu as fronteiras do País ao incorporar 900 mil quilômetros quadrados ao território nacional, com destaque para o Acre, a sua maior façanha. Mas quase nada se sabe da personalidade e das ações de José Maria da Silva Paranhos Júnior (1845-1912), o Juca Paranhos.
É certo que o Barão, como era chamado, mereceu centenas de estudos e duas grandes biografias: de Álvaro Lins, publicada em 1945, e de Luís Viana Filho, em 1959. Mas nenhum desses textos desceu a detalhes que poderiam abalar o monumento. O homem real surge enfim com a biografia “Juca Paranhos, O Barão do Rio Branco”, do historiador e diplomata carioca Luís Cláudio Villafañe G. Santos, lançada pela Companhia das Letras.
“O Rio Branco real acerta, erra, se reinventa, trai e é traído” Luís Cláudio Villafañe G. Santos, historiador
A pesquisa para o livro durou 10 anos. Santos diz que não teve dificuldades para vasculhar os documentos do Itamaraty, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Arquivo Nacional e Biblioteca Nacional. Neles, descobriu histórias e documentos esquecidos. Além disso, tentou reinterpretar vários episódios com base em métodos historiográficos atuais. “Já não cabe a construção de um herói da nacionalidade, com uma trajetória linear”, afirma.
“O Rio Branco real acerta, erra, se reinventa, trai e é traído. Procuro mostrar suas transformações ao longo da vida, suas contradições, inseguranças, recuos e momentos em que se reinventou.”
No cancã
O Barão foi o caso raro do monarquista que se adaptou à vida republicana. Santos retrata esse personagem de dois mundos: “A trajetória de Rio Branco é uma janela extraordinária para acompanhar as transformações que o Brasil e o mundo passaram durante as várias décadas de sua atuação política, do fim do Império ao início da República”.
A exemplo do pai, o militar e político José Maria da Silva Paranhos (1819-1880), triunfou pela competência. Membro do Partido Conservador, tornou-se presidente do Conselho de Ministros e braço direito de dom Pedro II, que lhe concedeu o título de Visconde do Rio Branco. Não pertencia à nobreza de raiz. Por isso, orientou o filho a manter os privilégios à custa do trabalho.
Desde o início, o temperamento de Juca revelou-se indomável. O rapaz de 1,82 metro e trajes de poeta romântico mudou-se para São Paulo, onde estudou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Começou a escrever ensaios históricos
e viveu “algumas aventuras romanescas, nem sempre louváveis”, como disse. Furtou leitões e quase matou um colega por acidente ao voltar de uma caçada. Em sua primeira viagem à Europa, perdeu tanto dinheiro em um cassino de Monte Carlo que
só ficou com o suficiente para comprar bilhete de trem de regresso a Paris. De volta ao Rio de Janeiro, para horror do imponente visconde — com seu 1,90 metro —, Juca apaixonou-se pela belga Marie Philomène Stevens, “cocotte comedienne” do teatro Alcazar Lyrico, especializado na dança do cancã. O pai o obrigou a mandar a amante à Europa. Apesar disso, as longas temporadas em Liverpool e Paris permitiram que tivesse seus cinco filhos com ela.
3 FASES DE UM HERÓI
À medida que expandia a circunferência da cintura e o território nacional, conquistou cargos e passou de nobre conservador a intrépido diplomata da República. Virou alvo dos jornais de oposição, que o caricaturizavam como um fanfarrão autocrático e desafiador, com a indefectível perna apoiada. Para melhorar a imagem, subornou jornalistas para escreverem artigos elogiosos. Desse modo, queria fazer frente ao inimigo Edmundo Bittencourt, dono do liberal “Correio da Manhã”. Rapidamente tornou-se um personagem popular nas ruas da capital federal, onde costumava caminhar, ostentando o cigarro de palha. Na virada do século XX, passou a morar em um cômodo improvisado no Palácio do Itamaraty. O fato de o prédio não dispor de uma cozinha lhe dava pretexto para frequentar restaurantes, como o Minho, localizado na rua do Ouvidor (ainda aberto), onde se refestelava com feijoadas e pescados.
ANTES E DEPOIS Caricatura de “A Avenida” (1903) colorida por Rio Branco: o Barão oferta um pedaço do Brasil à Bolívia
Tratado secreto
Como ministro das Relações Exteriores, dedicou-se às negociações de limites com os governos da França, Holanda, Bolívia, Peru e Uruguai. O êxito se deveu também à manipulação. Uma das revelações do livro é que ele negociou secretamente um tratado com os equatorianos para tentar abocanhar parte do território peruano e criar uma fronteira entre Brasil e Equador. Em litígios territoriais, contratava espiões. Dessa forma, obteve um parecer favorável do mediador da representação suíça à fixação da fronteira da Guiana Francesa no rio Oiapoque. Segundo Santos, o Barão foi responsável por criar uma imagem serena nas refregas diplomáticas. Dizia, por exemplo, que o acordo com a Bolívia para anexar o Acre havia sido tranquilo. Na realidade, as negociações quase causaram a guerra num processo que levou 5 anos até a assinatura do Tratado de Petrópolis, em 1903.
ANTES Rio Branco em sua biblioteca em Paris em 1898 (Crédito:Divulgação)
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Quanto à visão geopolítica, o Barão não parecia ser um visionário. Preconizava a submissão às grandes potências, ao contrário do rival Rui Barbosa. Durante o Império, considerava “inevitável” a abolição da escravatura, por não harmonizar com a imagem de país quase europeu que queria divulgar. Mas, para o bem da economia nacional, propunha adiar o fim da escravidão até a data da morte do último escravo nascido antes da Lei do Ventre Livre, promulgada por seu pai em 1871. Portanto, sonhava em prolongar o trabalho escravo até a década de 1950.
DEPOIS Gabinete / quarto no Itamaraty, no dia seguinte à sua morte, em foto tirada às escondidas por Augusto Malta (Crédito:Divulgação)
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Na República, tentou ser mais moderno e expansionista. Esforçou-se para que o Brasil se alinhasse à cultura ocidental e compartilhasse dos ideais das elites europeias. Assim planejou instaurar um “concerto americano” que unisse os países do continente para garantir a paz. Mas, ao contrário da lenda, sua atuação na política não foi autônoma. “Então, como hoje, a política externa refletia a situação interna e os debates políticos e mesmo partidários”, diz Santos. Segundo ele, o maior legado de Rio Branco foi a consolidação das fronteiras, proeza definitiva para a formação da identidade nacional. Mas suas ideias soam agora datadas. Santos imagina que, se ele ressuscitasse no mundo atual, ficaria confuso. “A agenda das relações internacionais hoje é muito diferente”, afirma.