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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sexta-feira, 1 de março de 2019

O grande salto economico para tras no Brasil - Ricardo Bergamini

Máquina do tempo leva o Brasil de volta ao passado

Ricardo Bergamini

É estarrecedor o grau de desconhecimento do estudo da macroeconomia no debate sobre o fim da recessão no Brasil, para um país que em 2018 retornou aos indicadores de PIB CORRENTE E PIB PER CAPITA em dólares americano, aos patamares próximos ao ano de 2008, conforme quadros demonstrativos abaixo, cabendo alertar que uma tragédia dessa magnitude levará, no mínimo, dez anos para colocar o Brasil nos patamares do ano de 2011 com PIB CORRENTE de US$ 2.614,5 bilhões e PIB PER CAPITA de US$ 13.237,00, mesmo sabendo que foram obtidos com a supervalorização, em torno de 175% em dólares americanos do mercado de commodities, no período de 2003 até 2011, com fartura de crédito, gerando uma ilusão monetária de crescimento que desabou quando esse mercado despencou a partir do ano 2012, mas será o que vai ficar registrado nas séries históricas do IBGE.

PIB A Preços Correntes

Fonte IBGE

Ano
R$ Bilhões
US$/R$
US$ Bilhões
2002
1.488,8
2,9296
508,2
2003
1.717,9
3,0705
559,5
2004
1.957,7
2,9247
669,4
2005
2.170,6
2,4335
892,0
2006
2.409,4
2,1763
1.107,1
2007
2.720,3
1,9475
1.396,8
2008
3.109,8
1,8369
1.693,0
2009
3.333,0
1,9927
1.672,6
2010
3.885,8
1,7585
2.208,5
2011
4.376,4
1,6739
2.614,5
2012
4.814,8
1,9453
2.470,5
2013
5.331,6
2,1738
2.475,1
2014
5.778,9
2,3599
2.448,8
2015
5.995,8
3,3856
1.772,4
2016
6.267,2
3,4538
1.814,5
2017
6.553,8
3,1930
2.052,5
2018
6.827,6
3,6700
1.860,4

 

 

PIB Per Capita

Fonte IBGE

Ano
R$ 1,00
US$/R$
US$ 1,00
2002
8.350
2,9296
2.850
2003
9.511
3,0705
3.097
2004
10.703
2,9247
3.659
2005
11.723
2,4335
4.817
2006
12.862
2,1763
5.910
2007
14.359
1,9475
7.373
2008
16.237
1,8369
8.839
2009
17.222
1,9927
8.642
2010
19.878
1,7585
11.303
2011
22.171
1,6739
13.237
2012
24.165
1,9453
12.399
2013
26.520
2,1738
12.165
2014
28.498
2,3599
11.538
2015
29.329
3,3856
8.670
2016
30.407
3,4538
8.804
2017
31.930
3,1930
10.000
2018
32.747
3,6700
8.923


Mini-reflexão sobre os tempos que correm no Brasil

Deterioração muito rápida da qualidade das políticas públicas é algo extremamente preocupante, pois sinaliza que os dirigentes não têm consciência dos problemas nacionais e não têm a menor ideia de como resolvê-los. A inconsciência, as hesitações, a submissão aos twitaços de pequenas minorias militantes (e delirantes) são sinais extremamente preocupantes de desgoverno. Lideranças racionais deveriam começar a se consultar entre si. O que se viu em menos de dois meses pode se converter em um gigantesco refluxo da maré, que também pode conduzir para uma direção completamente errada e indesejável. 
O Brasil não sabe o que quer?
É muito provável!
Mas a culpa não é do povo.
Elites muito medíocres resultam nesse quadro desolador.
Vou acionar o modo resistência.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 1/03/2019

Addendum 1: A intolerância com opiniões alheias é o traço mais evidente de personalidades autoritárias.
Addendum 2: A censura para trás merece algum prêmio George UnOrwell, ainda a ser inventado.

Política economica no Brasil: debate no Uniceub - Paulo Roberto de Almeida


Política econômica no Brasil: debate no Uniceub

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: responder a questões; finalidade: esclarecimento público] 

Participei, nesta quinta-feira 28 de fevereiro, de uma palestra-debate na companhia de dois outros colegas – o professor de Economia na UnB Roberto Ellery e o diplomata Arthur Cesar Lima Naylor – em torno do lançamento deste meu livro: 
 Paulo Roberto de Almeida (org.), Roberto Campos, A Constituição Contra o Brasil: ensaios de Roberto Campos sobre a Constituinte e a Constituição de 1988 (São Paulo: LVM, 2018, 448 p.; ISBN: 978-85-93751-39-4). 
Na sequência, como sempre ocorre nessas oportunidades, não houve tempo suficiente para responder a todas as perguntas. Daí eu ter recolhido algumas que me foram feitas diretamente, para responder posteriormente, o que faço agora. Como não foram colocados os e-mails de cada questionador, utilizo-me desta via para responder às questões me foram colocadas, esperando que os questionadores possam acessar este blog para lerem meus comentários.

1) Sergio Ferreira (Instituto Rio Branco): O Brasil foi o país com a 2a maior taxa de crescimento do PIB de 1900 a 1980. Isso ocorreu com economia fechada (substituição de importações). Hoje é essencial para crescer [sic]. Mas o que explica a estagnação não é o protecionismo passado. A explicação está nas substituições extrativas (Acemoglu).
PRA: De fato, o Brasil cresceu muito no passado, com economia relativamente fechada, mas não é o protecionismo que explica o crescimento ou a estagnação. O grau de abertura externa no Brasil manteve-se em patamares mínimos, e o diferencial foi a taxa de investimento e a estabilidade de regras no ambiente de negócios, ademais de incentivos adequados na proporção correta. Mas, uma constituição muito generosa e as duas crises do petróleo, ademais do aumento na taxa de juros foram determinantes para lançar o Brasil numa profunda crise da qual ele não parece ainda ter se recuperado. O termo substituição extrativa cobre apenas uma pequena parte dos elementos ou variáveis que explicam, ou não, as deficiências do processo de crescimento sustentado. A maior parte delas deriva de erros e equívocos de política econômica, na parte fiscal, monetária e sobretudo regulatória. Seria interessante poder efetuar uma experiência de conter-factual para poder medir o impacto de uma eventual abertura econômica e liberalização comercial sobre o crescimento, o que infelizmente não é possível. Tratei dessas questões neste capítulo de um livro meu: “O Brasil no contexto econômico mundial: 1820-2006”, in: O estudo das relações internacionais do Brasil: Um diálogo entre a diplomacia e a academia (Brasília: LGE, 2006).

2) José Edil G. de Medeiros (Professor na UnB): Em algum momento incluíste observações sobre desigualdade nos seus [meus] estudos? Me parece que este tema virá à tona durante a discussão da nova Previdência pois parte da equipe do Governo coloca o “combate aos privilégios como um dos pontos-chave da reforma. Observando num horizonte mais longo, como a produtividade se relaciona com a desigualdade?
PRA: A produtividade – pode ser vista como produtividade total de fatores, mas que depende dos seus diversos componentes, produtividade do capital, do trabalho, da infraestrutura, etc. – tem tudo a ver com a educação, que por sua vez é um dos mais poderosos fatores de redistribuição de renda via mercado. As tentativas de reduzir a desigualdade via redistribuição estatal do estoque de renda não são sustentáveis e podem até induzir a uma redução no crescimento. Tratei desses aspectos em vários trabalhos meus, um deles inserido no livro A Grande Mudança: consequências econômicas das transformações políticas no Brasil.

3) Allan Taunay (Universidade de Brasília – Letras): Depois de mais de 20 anos da esquerda no poder, com políticos intervencionistas, agora é a hora de políticas neoliberais para a melhoria na economia?
PRA: A definição das políticas econômicas não se dá apenas pela caracterização de ordem geral nesse sentido algo binário: esquerda de um lado, neoliberalismo de outro. O que se requer são políticas eficientes no seu mérito próprio, nos planos fiscal, monetário, cambial, setorial (agrícola, industrial, etc.). O intervencionismo é de fato uma questão delicada, pois ele pode ser feito por governos de esquerda ou de direita, e pode ser eficiente ou não.

4) James (Pós-graduação Uniceub/ISCP): Se os problemas não seriam fundados com bases em raízes culturais que refletiram na Constituição? Tais como: capitalismo de Estado, marxismo cultural, a visão da riqueza como pecado ou por crime; política do jeitinho e de falta de projetos de longo prazo; excesso de bacharelismo jurídico.
PRA: Todos essas características são relevantes para explicar problemas de manutenção de uma taxa de crescimento satisfatória, mas não se trata de uma assemblagem errática, e sim uma combinação bem calibrada, um mix adequado de políticas com base em sólidos vetores de crescimento: poupança, investimento, capacitação de capital humano, políticas macroeconômicas estáveis, sustentabilidade ambiental, boa administração governamental, concorrência microeconômica, abertura econômica e a investimentos externos estrangeiros. Fatores institucionais e culturais desempenham sem dúvida alguma um papel crucial nesse processo.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 28 de fevereiro de 2019