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quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Voos da FAB: a imoralidade e os abusos continuam - Victor Farias


A FORÇA AÉREA BRASILEIRA FOI TRANSFORMADA EM “UBER”.

Autoridades planejaram 64 voos da FAB com no máximo 3 passageiros em 2019

Congresso em Foco, 29 jan, 2020


O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) demitiu o secretário-executivo da Casa Civil, Vicente Santini, por ter utilizado um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) com somente três passageiros para ir de Brasília à Suíça, e, em seguida, à Índia. Apesar de legal, Bolsonaro afirmou que a ação foi "completamente imoral".

Caso isso vire praxe, o presidente terá problemas com outros de seus ministros. De abril a dezembro, foram feitas pelo menos 64 viagens oficiais, utilizando as aeronaves da FAB, com, no máximo, três passageiros previstos. Em três desses deslocamentos, os voos foram para destinos internacionais, sem previsão no decreto que regulamenta o tema.

Uma  das viagens internacionais foi feita pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em 21 de maio. O périplo começou em Brasília, onde pegou um avião às 15h15 para São Paulo. Em seguida, às 19h30, pegou outra aeronave, dessa vez em direção à capital argentina, Buenos Aires, onde participou da XXII Reunião de Ministros de Meio Ambiente do Mercosul. Dois dias depois, retornou a Brasília. A previsão era de três passageiros para os quatro trechos da viagem.

As informações disponíveis no portal de dados do governo não permitem identificar quantas pessoas efetivamente embarcaram nas aeronaves, mas indica quantos passageiros eram esperados para a viagem.

De acordo com a legislação, presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal (STF), pessoas com status de ministro de Estado e comandantes das Forças Armadas têm direito ao benefício. As solicitações de transporte podem ser feitas por motivo de segurança e emergência médica, em viagens a serviço, e, no caso de presidentes de Poderes, deslocamentos para o local de residência permanente.

Estados Unidos e Colômbia

Seis meses depois, em 18 de setembro, Salles embarcou novamente em avião da FAB com destino ao exterior, dessa vez à capital norte-americana, Washington, onde participou de uma série de compromissos com investidores e jornalistas e, depois, seguiu para a Europa em voos comerciais.

Dessa vez, o primeiro trecho da viagem – de Brasília a Cartagena – foi feito acompanhado do presidente do STF, ministro Dias Toffoli. O magistrado foi à Colômbia participar do XXV Encontro Anual de Presidentes e Magistrados de Tribunais, Cortes e Salas Constitucionais da América Latina.

Em seguida, Salles continuou a viagem no avião da FAB. De acordo com a planilha da Defesa, a previsão era de três passageiros.

Outro que viajou para fora do país foi o Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro Bermudez. Ele foi da capital brasileira a Rionegro, na Colômbia, em 12 de julho, onde participou no dia seguinte da Cerimônia Alusiva aos 100 anos da Força Aérea Colombiana. A previsão era de apenas três passageiros para os trechos de ida e volta.

Nesses noves meses disponíveis no sistema de dados do governo, cinco viagens estavam previstas para serem feitas com somente um passageiro.

Em 5 de abril, por exemplo, estava agendado que o ministro da Economia, Paulo Guedes, viajaria sozinho de São José dos Campos (SP) para o Rio de Janeiro. O mesmo ocorreu no dia 17 daquele mês, com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que foi de Belo Horizonte (MG) a São Luis (MA).

Outros que, segundo a planilha do governo, viajaram sozinhos nas aeronaves da FAB o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, de São Paulo a Brasília, em 23 de maio; o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Jorge Oliveira, de Curitiba (PR) à capital federal, em 21 de setembro; e o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, de Brasília a Canoas (RS), em 17 de dezembro.

Salles lidera viagens

Das 64 viagens com no máximo três passageiros previstos, o ministro do Meio Ambiente foi responsável por 25 delas. De acordo com a planilha, estava previsto que Salles viajasse uma vez sozinho, dez vezes com um acompanhante e 14 vezes com outros dois passageiros.

Em seguida vem o ministro da Economia que teria feito uma viagem só, duas acompanhado de mais uma pessoa e 12 com mais dois passageiros.

Há ainda viagens feitas pelos ministros da Justiça, da Agricultura, da Casa Civil, do Desenvolvimento Regional, da Saúde, das Relações Exteriores, da Controladoria-Geral da União, da Advocacia-Geral da União, além do comandante da Aeronáutica, do comandante do Exército e do Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas.

Procuradas, as assessorias de Salles e Guedes não haviam respondido aos questionamentos da reportagem até a publicação deste texto.

Sobre certas “decisões” do governo - Paulo Roberto de Almeida

Mini-reflexão sobre a natureza caótica de certas “decisões” dessa coisa que passa por governo:

Como sabem muitos colegas e observadores, não tenho qualquer cargo no Itamaraty atual, muito menos do governo, o que aliás me envergonharia muito, tanto um quanto outro. Vou ser claro sobre o assunto do título desta micro-nota: o governo carece, nunca teve, e talvez jamais venha a ter, essa coisa simples que se chama processo decisório, que existe em qualquer governo digno desse nome.
Quem está no poder, ou pelo menos responde por ele, age por instintos, em geral os mais primitivos e toscos, certamente cercado de aspones ineptos e totalmente despreparados para lidar com a política internacional.
A propósito, o Itamaraty não conta para nada em certas “decisões” e a mídia precisa parar de falar coisas do gênero: “o Brasil fez isso”, “o Itamaraty disse aquilo”.
Nem o Brasil, nem muito menos o Itamaraty, aqueles de verdade, têm qualquer coisa a ver com as “decisões” alopradas que saem como se fossem suas.
Não são, e nunca seriam num governo normal, o que manifestamente não temos.
Certas coisas precisam ser ditas e chamadas pelos nomes corretos: quem decidiu certas coisas, geralmente as mais malucas, não foi nem “o Brasil” e muito menos “o Itamaraty”.
A mídia, brasileira e estrangeira, precisa referir-se aos termos exatos: o governo Bolsonaro, os que formulam sua diplomacia.
A execução pode até estar, formalmente, a cargo do Itamaraty. Mas tenham certeza de uma coisa: não foi, não é, nunca seria do Itamaraty. A instituição nunca seria deformada a esse ponto.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 30/01/2020

Lula-Bolsonaro: um depende do outro - José Nêumanne

A dupla infernal da política brasileira
Blog do Nêumanne, 27/01/2020

Presidente precisa manter petista em evidência para lhe servir de contraponto na tentativa de reeleição em 2002 e ex-sindicalista tem no capitão seu melhor meio de sobreviver no ostracismo
O ladrão e lavador de dinheiro Lula da Silva perdeu grande parte do capital político com o qual construiu seu império financeiro e seu poderio político, sob cuja sombra sobrevivem a esquerda e os áulicos sem moral nem caráter de todas as filiações partidárias. Não se trata apenas de dependentes diretos, como os que precisam da Bolsa Família para comer, mas também de marajás do serviço público e chefões partidários que catam sobejos (mas não migalhas) com os quais cevam suas proles e azeitam invejáveis patrimônios pessoais que os tornam nababos.

Na periferia dessa sombra de um passado sem glórias, mas com ótimas rendas, ainda há muita gente que depende das graças e da pecúnia amealhada no maior assalto aos cofres públicos da História de nossa triste República e de muitos Estados estrangeiros que desta se aproveitaram. O ex-presidente aprista Alan García meteu uma bala no próprio crânio para não ter de enfrentar a prisão em seu país, o vizinho Peru. Isabel dos Santos, a mais rica mulher da África, beneficiária do roubo do PT em Angola, começa agora a enfrentar as agruras da legislação penal internacional, depois da queda da longeva ditadura comunista sob a chefia de seu pai, José Eduardo dos Santos. A Cuba dos irmãos Castro e a Venezuela de Hugo Chávez e Nicolás Maduro vivem, a duras penas, das esmolas de aliados poderosos e ambiciosos como a Rússia de Putin e a China de Xi Jinping. São os restos do império soviético espalhados por um planeta desgovernado pela cobiça, pela corrupção e pelo medo.

Quando Lula foi preso, em 2018, havia o temor generalizado de que houvesse uma convulsão social no País. Ele mesmo se referia ao tal “exército do Stédile”, que pararia máquinas e veículos e conturbaria as ruas das grandes cidades brasileiras. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello, que faz parte da patota que aboliu a jurisprudência do próprio plenário da mais alta cúpula da Justiça, vivia alertando para isso. Lula foi condenado por nove votos a zero por causa da tal cobertura na Praia das Astúrias no Guarujá e não há notícia de alguma greve de monta ou mesmo de manifestação que chamasse a atenção para justificar a quebra de ordem jurídica adotada por seus cupinchas na tal da “alta Corte”, que terminou por mandá-lo de volta ao luxuoso apartamento de São Bernardo do Campo, maior evidência de frutos de rendimentos que não podem ter sido reunidos com salário de operário que nunca trabalhou, sindicalista que vendia greves e dirigente político da era pré-fundões. Só o furto do erário sem fundo pode justificar sua mudança de um casebre de vila operária para o luxuoso edifício.

Mas no meio do enxundioso manifesto que ele dirigiu aos coleguinhas do UOL e foi impresso e divulgado pela Folha de S.Paulo, é possível encontrar um vestígio de sua noção, embora embriagada por libações e bajulações, de que ele contava com uma recepção mais calorosa e relevante ao alcançar o objetivo da campanha “Lula livre”. Preste atenção no que ele disse e entrou no longo texto final de seu lorotário de hábito. “Tem muita gente que fala o seguinte: fiquei decepcionado porque o Lula saiu da cadeia e não aconteceu nada. A grande coisa que aconteceu foi eu ficar livre, o que mais poderia acontecer? As pessoas acham que eu iria fazer comício. Eu saí numa época que não é de fazer comício, é época de Natal, época do Papai Noel. E numa época em que o PT estava em seu congresso interno. Esse país só começa a funcionar a partir do Carnaval, tem uma turma que entra de férias em dezembro e só volta depois do Carnaval.” No meio da desculpa esfarrapada, que seria cômica se não fosse trágica para milhões de brasileiros desempregados nas sarjetas, percebe-se claramente a noção que o macaco velho tem de que não basta sair da jaula do zoológico para assumir o reinado da selva.

Qualquer leitor vacinado contra a fantasia que Lula e seus acólitos usam para iludir incautos encontrará outras causas ainda mais graves para mandar cantar o Te Deum na Sé pela graça alcançada de serem retiradas as mãos peludas das ratazanas do socialismo de rapina dos repositórios da poupança nacional. Essa poupança foi seriamente danificada, mas o que restou ainda é suficiente para atrair a volúpia de gente como a que ele lidera. Um exemplo completo dessa desfaçatez, adotada para buscar um caminho de volta às chaves dos cofres públicos, é a explicação que ele deu para a “descoberta” da salvação do PT pela conquista de evangélicos e desassistidos dos bairros periféricos das metrópoles nacionais.

Disse ele ao UOL: “O que o PT tem que entender é que essas pessoas estão na periferia, oferecendo às pessoas pobres uma saída espiritual. As pessoas estão ilhadas na periferia, sem receber a figura do Estado. E recebem quem? De um lado, o traficante. De outro lado, a Igreja Evangélica, a Igreja Católica”. Lula e os repórteres que registraram esse truísmo vil sabem muito bem que o Estado que abandonou a periferia, chegando ao cúmulo de entregar os pobres a quadrilhas e milícias de bandidos ferozes e desonestos ex-agentes da lei, foi governado durante 16 anos por presidentes filiados ao Partido dos Trabalhadores (PT) – ele mesmo e Dilma Rousseff – e um aliado sem o qual não teriam conseguido mais dois mandatos, o PMDB de Michel Temer. Sem contar a aliança de cúmplices de PP, PR e PCdoB, entre outros da miríade de apoio que conseguiu. E do PSDB, que antes governou oito anos sob a chefia de Fernando Henrique, cujo primeiro cargo político foi obtido com apoio dele e que hoje não esconde de ninguém que a velha simpatia não acabou. Até porque os tucanos trocaram sua oposição de fancaria por grandes propinas.

Apesar de não ter mais importância no cenário político nacional para justificar o espaço concedido, convém reconhecer que Lula pelo menos vislumbrou nele a esdrúxula simbiose que o faz hoje caudatário do projeto político do presidente Jair Bolsonaro. A respeito deste, pontificou: “Acho que tem crítica que ele faz que é correta. Dê a ele o mesmo direito que dá aos outros, direito de falar, abra para ele falar. Na greve dos jornalistas de 1979, os donos de jornais descobriram que não precisavam tanto de jornalistas, que poderiam fazer jornalismo sem precisar do jornalista. Agora, o Bolsonaro está provando que é possível fazer notícia sem precisar dos jornais, da televisão. Ele faz por ele mesmo. Aliás, o Trump já fez escola”. E não perdeu a chance de dar lições a quem lhe desagrada e ao adversário: “O que eu acho é que a imprensa tem que dar informação correta. Se o Lula errou, dê a informação correta. Se Lula caiu, diga que ele caiu. Mas se ele não caiu, não inventa uma mentira. Quando a imprensa mente, ela não está desrespeitando o atingido, ela está desrespeitando o eleitor, o telespectador, o ouvinte, que merece respeito. ‘Ah, eu sou legal porque o Lula fala mal de mim e o Bolsonaro fala mal de mim.’ Vai no estádio para ver quantas pessoas gritam, ao mesmo tempo inteiro, ‘abaixo a Rede Globo, que o povo não é bobo’. Eles não agem como jornalismo, agem com interesse político”. Isso tudo dito por um ex-presidente que tentou calar os críticos que no noticiário rotineiro do dia a dia revelaram ao cidadão enganado a ciclópica dimensão do engano de elegê-lo leva a introduzir o outro lado dessa equação, que está longe de ser uma incógnita.

Lula precisa de um adversário como Jair Messias, porque sem este sua farsa não ficaria de pé. Sem o capitão o ex-sindicalista não teria o inimigo encarnado a abater. Pouco lhe importa se é justamente a sua existência que justifica a do outro. O que vale a pena, para ele, é seduzir quem vê no presidente da República uma ameaça real à possibilidade de voltar ao poder para esvaziar o que ainda resta do erário a ser usado. Bolsonaro foi lançado pela direita que dormiu seu sono de urso desde a queda da ditadura e ressuscitou da noite polar para oferecer a única opção que parecia antipetista. E só venceu por isso. As nesgas de lucidez no porre do ex-presidente parecem indicar que ele sabe que seus aliados dos velhos tempos mantidos em altos postos do Legislativo, do Judiciário e, pasmem, do Executivo não terão suficiente força para erguê-lo de novo ao cume. Enquanto ele continuar aparecendo, Bolsonaro será favorito à reeleição.

Lula depende de Bolsonaro para manter o vampiro em movimento e não perde um segundo de vista que só Sergio Moro poderá fincar nele um letal punhal de prata no peito.

Jornalista, poeta e escritor

(Publicado no Blog do Nêumanne na segunda-feira 27 de janeiro de 2020)

A nação renega seu passado e afunda na mediocridade - Paulo Roberto de Almeida

Nunca antes na história de certo ministério se tinha descido tão baixo na submissão abjeta a interesses não nacionais, como agora contemplado, atitudes que contrariam toda a história quase bissecular de um comprometimento exemplar com relação a princípios e valores de nossa tradição institucional, tanto na monarquia quanto na república, e de respeito a normas consagradas do direito internacional, inclusive em contradição com dispositivos constitucionais. A nação se amesquinha no opróbrio do adesismo sabujo.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 30 de janeiro de 2020

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Interview with economist John Williamson, Washington Consensus (Center for Financial Stability)


Interview with  economist John Williamson, Washington Consensus

CFS is delighted to present an interview with the eminent international economist John Williamson, reviewing his more than five decades of work in the field.

Williamson is best known for coining the term "Washington Consensus" in 1989 as a summary of the policy reforms and structural adjustment measures that the International Monetary Fund, World Bank, and U.S. Treasury advocated for emerging market economies. The term quickly gained resonance and continues to be widely used today. Over time, he modified his views on what the Washington Consensus should be (see the appendix to the interview).

He also worked for much of his career on "intermediate" exchange rates between the extremes of fixed and floating. The late Rüdiger Dornbusch of MIT summarized Williamson’s proposals as "BBC" – band, basket and crawl. In support of them, Williamson devised the influential concept of the "fundamental equilibrium exchange rate" (FEER).

In 2012 Williamson retired from the Peterson Institute of International Economics, where he had been a senior fellow for more than 20 years. His previous appointments included professorships in his native England, the United States, and Brazil; an advisory post at the British Treasury; and staff or management positions at the International Monetary Fund, World Bank, and United Nations.

CFS senior fellow Kurt Schuler and research associate Robert Yee interviewed Williamson, assisted by Williamson’s daughter Theresa.


Best regards,
Larry

--
Lawrence Goodman
President
Center for Financial Stability
1120 Avenue of the Americas, 4th floor
New York, NY  10036