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domingo, 24 de janeiro de 2021

Impeachment: os sites até agora existentes - Augusto De Franco

 A sociedade começa finalmente a reagir aos despautérios do Bolsovirus. Aqui a lista de sites em ação com o objetivo do impeachment, tal como composta, tentativamente, pelo Augusto de Franco. Mas o caminho será longo, inclusive porque persiste a clivagem esquerda-direita num tema que deveria unir todos os democratas. Talvez Miguel Reale Jr. consiga realizar a síntese inatacável dos argumentos unificadores de forma a permitir o início do processo. Mas isso apenas se o presidente da CD for independente.

Paulo Roberto de Almeida


LISTA DE SITES PELO IMPEACHMENT

Augusto De Franco

Por favor, acrescente nos comentários se faltou algum

https://impeachment.voto/

https://apublica.org/impeachment-bolsonaro/

https://www.change.org/p/congresso-forabolsonaro-assine-pela-abertura-do-impeachment-e-compartilhe

https://movimentonossobrasil.github.io/painel-do-impeachment/selectedIndex.html

https://forabolsonaro.net/

https://adeusbolsonaro.com.br/

https://datastudio.google.com/reporting/26c8c95c-175f-4ca3-888d-0bfbccf73e1b/page/5KGxB


Mais um libelo pelo impeachment: agora da Comissão Arns

Basta!

Margarida Bulhões Pedreira Genevois, José Carlos Dias e Paulo Sérgio Pinheiro

O Globo (24/01/2020)

Bolsonaro perdeu as condições mínimas para exercer legitimamente o mandato presidencial que lhe foi atribuído

Desde sua posse, o presidente Jair Bolsonaro tem violado, reiteradamente, seu juramento de preservar, proteger e defender a Constituição do Brasil. Como se não bastasse sua obsessão em subverter a ordem democrática e as regras básicas do estado de direito, o presidente tem negligenciado suas responsabilidades políticas e jurídicas no enfrentamento da pandemia da Covid-19, contribuindo, por meio de suas ações e omissões, para o adoecimento de milhões de brasileiros e para a morte, até o presente momento, de mais de 215 mil pessoas.

O presidente Bolsonaro vem se empenhando desde o início de seu governo em aprofundar a polarização política, dividindo o país entre amigos e inimigos. Com uma retórica truculenta, baseada na crueldade com os mais vulneráveis, no racismo, no obscurantismo e na exaltação da violência, das armas e da ditadura, atenta diariamente contra os pilares fundamentais da nossa República, tais como estabelecidos pelo artigo 1º da Constituição.

O presidente não tem poupado esforços para desestabilizar nossas instituições. Participou de atos e fomentou grupos que propugnam o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, o que constitui crime de responsabilidade previsto pelo no artigo 6º, 1 e 5, da Lei 10.079, de 1950. Igualmente grave têm sido suas insidiosas manifestações incitando a animosidade entre as classes armadas e as instituições civis, que configuram mais um crime de responsabilidade, previsto no artigo 7º, 8, da Lei 10.079, de 1950.

O presidente Bolsonaro também vem subvertendo a Constituição por meio de nomeações incompatíveis com as funções a ser exercidas, pela expedição de decretos, regulamentos e atos administrativos e pela intimidação de servidores. Essa estratégia para frustrar a vontade constitucional fica patente no campo ambiental, no indígena, no controle de armamentos, na política de direitos humanos, educacional, cultural, de segurança pública e de inteligência.

A instrumentalização do aparato de segurança para atender a interesses pessoais do presidente, assim como a constrangedora omissão do procurador-geral da República em investigar crimes comuns atribuídos ao presidente da República, também apontam para esse grave processo de erosão de nossas instituições.

Em decorrência de uma desastrosa política externa, refratária à cooperação internacional, aos direitos humanos e ao meio ambiente, o Brasil vem se colocando numa posição de verdadeiro pária internacional. Isso com graves consequências para a nossa economia e prejuízos catastróficos para o enfrentamento da pandemia. O atraso na obtenção de vacinas é uma decorrência direta da política internacional desastrosa liderada por Jair Bolsonaro e seus auxiliares.

Ao negligenciar sistematicamente a gravidade da pandemia; fomentar aglomerações; desdenhar e descumprir medidas de prevenção determinadas por autoridades sanitárias; boicotar a produção e a obtenção da vacina; desacreditar as próprias vacinas; determinar a fabricação, a distribuição e o tratamento por meio de fármaco comprovadamente ineficaz no combate ou prevenção da Covid-19; assim como ao deixar de envidar todos os esforços financeiros e logísticos para assegurar o atendimento emergencial de enfermos, o presidente Bolsonaro tem incorrido de forma clara em diversos delitos comuns e de responsabilidade, tais como os previstos nos artigos 132 e 268 do Código Penal, artigo 85, inciso III, da Constituição Federal, e 7º, 9, da Lei 10.079, de 1950.

Conforme já havíamos afirmado em nota pública da Comissão Arns, de 19 de maio de 2020, Jair Bolsonaro perdeu as condições mínimas para exercer legitimamente o mandato presidencial que lhe foi atribuído, por absoluta incapacidade, vocação autoritária, insubordinação constitucional e constante ameaça à democracia e à vida das pessoas. Desde então, a situação apenas se agravou.

Por essas razões, a Comissão Arns chama a todas e todos aqueles verdadeiramente compromissados com a democracia e o direito à vida — cidadãos, organizações da sociedade civil, partidos políticos, organizações empresariais, religiosas e, sobretudo, instituições fundamentais da República, como Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal e Procuradoria-Geral da República — a assumir sua parcela de responsabilidade na defesa do regime democrático e da Constituição, contra os ataques que lhes têm sido endereçados pelo presidente da República. É preciso dizer um basta a esse desgoverno que tanto mal tem causado à vida dos brasileiros e à nossa democracia.

Por que não o parlamentarismo? - Otaviano Canuto, Tiago Ribeiro dos Santos

 

E por que não parlamentarismo?, questionam Otaviano Canuto e Tiago Ribeiro

Sistema está ligado às conquistas sociais

Costuma ter mais liberdade política

Também é comum ser líder em inovação

Sessão de votação no Parlamento Europeu. Continente é o que tem mais países que utilizam o sistema parlamentarista© União Europeia 2018 – Parlamento Europeu (via Fotos Públicas)


23.jan.2021 (sábado) - 6h00

Nos anos 90, Francis Fukuyama decretou o fim da história em grande medida por uma percebida inevitabilidade do modelo de governo democrático representativo ocidental. Hoje vemos que a história está longe de ter chegado ao fim. Há uma percepção compartilhada entre diversos grupos de que o sistema atual precisa melhorar e poucas épocas foram tão prolíficas em produzir ideias sobre como melhor organizar a sociedade.

O exame das redes sociais, onde são comuns rosas atreladas aos nomes dos usuários, mostra que ideias de socialismo não se esgotaram com a queda do muro de Berlim. Ideias anátemas para o Brasil, como o anarco-capitalismo, ganham espaço, ainda que em nichos. Grupos como o Radical Xchange propõem votos adquiríveis em mercado a preços cada vez mais altos, enquanto outros propõem o recurso à democracia direta digital em larga escala e outros ainda o uso de loterias para a escolha dos parlamentares, em nome da representatividade máxima da população. Diante do tanto que não se sabe sobre quais efeitos esperar de algumas das propostas, cabe a pergunta: por que não o parlamentarismo?

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O parlamentarismo é, de longe, a forma de governo histórica e presentemente mais associada com as conquistas sociais prezadas pelas mais distintas ideologias. Países parlamentaristas têm mais liberdades políticas e econômicas, mas também maior igualdade em ambas as dimensões. Protegem melhor o meio ambiente, contam com mais igualdade de gênero e com menos conflitos internos. Preservam suas histórias e suas tradições, mas também são líderes em inovação.

Quando confrontadas com esses fatos, a maioria das pessoas argumenta ser absurdo atribuir ao parlamentarismo em si essas vantagens. Certamente haveria outros fatores que melhor explicariam essa coincidência – como o fato de boa parte dos regimes parlamentaristas se encontrar na Europa, enquanto a América Latina e a África são majoritariamente presidencialistas. Em livro publicado no ano passado, um de nós examina a teoria e as evidências disponíveis de diversos campos – história, ciência política, economia – e conclui que a explicação mais simples para essas diferenças é também a mais provável: o parlamentarismo está por trás de boa parte desses resultados, pois consegue minimizar consistentemente os perigos do personalismo.

Uma das objeções mais comuns é a alegação de que o país mais rico do mundo, os Estados Unidos, é presidencialista. O primeiro problema desse argumento é que, dos países presidencialistas, os Estados Unidos tradicionalmente concentraram muito menos poder no presidente. Embora o poder presidencial venha aumentando, ele ainda é mais restrito do que na maioria das democracias presidencialistas do resto do mundo. Todos os cargos ministeriais e de vice-ministros, por exemplo, dependem de sabatina do Senado norte-americano. Em decisões de âmbito mais geral e perene, a ação do poder executivo tem que ser corroborada pelo congresso.

O segundo problema do argumento é que, ainda que o presidente norte-americano fosse constitucionalmente tão poderoso quanto outros presidentes latino-americanos e africanos, a existência de exceções não invalida uma tendência geral – o fato de muitas pessoas viverem mais de cem anos apesar de fumarem diariamente não desqualifica o vínculo do cigarro com o câncer de pulmão.

O exemplo do cigarro é particularmente adequado porque os desafios que defensores do parlamentarismo encontram em sua defesa do sistema são semelhantes aos que alertavam para os perigos do cigarro em meados do século XX. Céticos, entre eles o destacado estatístico Ronald Fisher, agarravam-se à ausência de estudos randomizados para declarar que a relação causal entre cigarro e câncer de pulmão não poderia ser estabelecida. Não era realista acreditar que estudos randomizados seriam feitos com cigarros naquela época, nem é realista esperar estudos randomizados sobre formas de governo.

Se ao menos os céticos fossem consistentes em seu rigor, poderíamos concordar. Mas essa consistência é impossível. Países precisam adotar alguma forma de governo e de organização econômica e qualquer crítica de falta de estudos conclusivos aplicável ao parlamentarismo se aplica com a mesma força a todas as outras propostas na arena pública, com a diferença de que essas propostas não contam com a riqueza de teoria e evidências com que conta o parlamentarismo. Por esses motivos é que propomos a inversão do ônus da prova aos que argumentam contra a forma de organização social mais bem-sucedida da humanidade: por que não?

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Autores

Otaviano Canuto

Otaviano Canuto

Otaviano Canuto, 64 anos, é membro sênior do Policy Center for the New South, membro sênior não-residente do Brookings Institute e diretor do Center for Macroeconomics and Development em Washington. Foi vice-presidente e diretor-executivo no Banco Mundial, diretor-executivo no FMI e vice-presidente no BID. Também foi secretário de assuntos internacionais no ministério da fazenda e professor da USP e da Unicamp. Escreve para o Poder360 mensalmente, com publicação sempre aos sábados.

Tiago Ribeiro dos Santos

Tiago Ribeiro dos Santos

Tiago Ribeiro dos Santos é diplomata de carreira e autor do livro “Why Not Parliamentarism?”. As opiniões aqui expressas não representam as de qualquer instituição a que esteja vinculado.

https://www.poder360.com.br/opiniao/partidos-politicos/e-por-que-nao-parlamentarismo-questionam-otaviano-canuto-e-tiago-ribeiro/?fbclid=IwAR2DyX6zS7yFvpQB2ZFr7bVAv0HeqyxafWBxks7sXG1ntsKq9SPEy5Xq27I


Os Brics na nova conjuntura de crise econômica mundial (2011) - Paulo Roberto de Almeida

 Os Brics na nova conjuntura de crise econômica mundial

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orgdiplomatizzando.blogspot.com)

Mundorama (10/10/2011; link original de publicação desaparecido).

 

 

O recrudescimento da crise econômica internacional, iniciada pelo estouro da bolha hipotecária, seguida pelas quebras bancárias nos Estados Unidos, em 2007 e 2008, agora sob a forma de esgotamento da capacidade de diversos países europeus – notadamente a Grécia, mas possivelmente Portugal também, podendo ainda repercutir sobre outros dois, maiores, Itália e Espanha – em manter os pagamentos de suas dívidas soberanas, em 2010 e 2011, suscitou em diversos observadores da imprensa especializada questionamentos sobre o papel dos Brics – Brasil, Rússia, Índia e China, agora acolhendo a África do Sul igualmente – nessa conjuntura de transição, eventualmente como novos atores de peso num eventual reordenamento da ordem econômica mundial. A imprensa nacional, sempre patriótica e grandiloquente, seguiu o coro de governistas entusiasmados com o fato de o Brasil não estar, por uma vez, envolvido ou ser o centro de alguma crise financeira, e passou a proclamar nossa nova condição de “emprestador de alguma instância”, além de repercutir, obviamente, “lições de economia” que os presidentes – o ex e a atual – ofereceram de graça (mas também sem qualquer resultado prático) a certos europeus, diminuídos em seu orgulho e convertidos em latino-americanos, por uma vez.

O objetivo deste pequeno ensaio, que adota uma perspectiva essencialmente realista, é justamente o de examinar a possibilidade da inversão de posturas econômicas, como a alegada ascensão dos emergentes e o declínio irresistível de países tidos por avançados. Como se constatará, as evidências não suportam essa hipótese, aventada em análises de cunho bem mais superficial do que fundamentadas em dados empíricos concretos ou apoiadas em um conhecimento apurado sobre o funcionamento efetivo dos Brics. Como diria Mark Twain, rumores sobre o declínio do centro e a ascensão da periferia são grandemente exagerados, inclusive porque a crise ainda não deu o seu último “suspiro”. Se e quando os Brics assumirem postura mais afirmada no quadro da economia mundial, isso dependerá essencialmente de seu desempenho individual, e não do fato de serem, ou não, Brics, que é um rótulo bem mais artificial, e de conveniência política, do que o resultado de ações concretas de coordenação econômica deliberada.

 

Existe um papel para os BRICS na nova conjuntura de crise político-econômica?

A imprensa econômica vem insistindo num papel econômico mais ativo para os Brics, apenas porque eles não foram atingidos pela crise econômica num sentido recessivo, como ocorreu com os EUA e a Europa, e também porque eles dispõem de reservas significativas em divisas, suscetíveis de serem mobilizadas para fins de pacotes de ajuda ou para reciclagem de títulos da dívida soberana de países enfrentando desequilíbrios temporários. Essa imagem dos Brics como bloco econômico coeso não corresponde, todavia, à realidade dos fatos, uma vez que, a despeito de reuniões políticas de seus chanceleres e dos chefes de Estado, ou mesmo de alguns encontros de seus ministros econômicos, os países do Brics não conformam, nem de longe, um grupo dotado de instâncias de coordenação de políticas econômicas e sequer de políticas homogêneas nos planos comercial, financeiro ou de investimentos.

Obviamente, a China já é um ator de peso nos diversos cenários econômicos que possam ser traçados no plano mundial, mas ela não busca – nem precisa, aliás – formular políticas comuns com seus supostos parceiros emergentes, inclusive porque suas políticas nacionais não são, exatamente, aquelas desejadas pelos demais integrantes desse bloco que não pretende se apresentar como bloco. É sabido, por exemplo, que Índia e Brasil vem adotando medidas protecionistas contra a concorrência de produtos chineses em seus mercados, aventando a existência de uma “guerra cambial” iniciada em primeiro lugar pelos Estados Unidos, pelo derrame maciço de dólares nos mercados em sustentação de seus bancos e empresas fragilizadas pela crise iniciada em 2008. Na verdade, o único bloco econômico merecedor desse nome no contexto mundial é a própria União Europeia, pois nem mesmo o Nafta mereceria essa alcunha sinônima de coordenação de políticas econômicas nacionais. 

Os Brics podem se apresentar, eventualmente, como novos atores econômicos regionais e globais – embora essa capacidade seja muito restrita em vários casos – mas não dispõem de homogeneidade de propósitos ou de estratégias comuns de atuação no contexto mundial que justifique o uso do acrônimo na discussão em torno das medidas e dos mecanismos que serão mobilizados para enfrentar e superar a atual conjuntura de crise. Ainda que alguns deles – na verdade só a China, com maior largueza de meios – sejam capazes de participar de operações de socorro e de apoio a ajustes administrados aos países periclitantes, esses empreendimentos financeiros de maior escopo terão necessariamente de ser conduzidos pelas instituições econômicas atualmente disponíveis efetivamente, quais sejam: o Conselho Europeu Monetário e Financeiro, em primeiro lugar, o Banco Central Europeu, em segundo lugar, o FMI, em terceiro, e só então, mas com várias dúvidas sobre seu papel real, o G20 financeiro, com destaque para os grandes atores exclusivamente.

Uma simples confrontação de dados econômicos de base permite situar o peso efetivo de cada ator no jogo econômico global: dos (aproximadamente) 55 a 60 trilhões de dólares de PIB mundial, EUA e UE são responsáveis pela metade do valor agregado, sendo que a China e o Japão respondem por mais um quinto, sobrando outro tanto para as grandes economias do G7 mais Brasil e Índia; todos os demais são irrelevantes, sobretudo em termos de reservas em divisas e fluxos de capitais (investimentos e portfólio), terreno no qual a China é o único ator de peso entre os emergentes. Ou seja, as únicas “locomotivas” possíveis de uma economia mundial cambaleante continuam a ser os grandes atores, sendo que o poderio econômico da China, na verdade, foi construído sobre a base de investimentos e tecnologia ocidentais e japoneses e de saldos comerciais superavitários com os mesmos parceiros. A China ultrapassou, em 2011, o Japão, pela magnitude do PIB, e representa metade do PIB conjunto dos Brics, sendo aliás o elemento dinâmico do crescimento desse PIB no contexto global (já que tanto o Brasil, quanto a Rússia devem suas “emergências” respectivas à valorização cambial de suas moedas ou, mais especialmente no caso da Rússia, à valorização das commodities exportadas, basicamente o petróleo neste último caso). 

O “papel” econômico dos Brics – se existe – é, assim, muito diferenciado, em função de inserções totalmente diversas na economia mundial, não existindo, portanto, a possibilidade de que eles, isolada ou conjuntamente, venham a exercer alguma influência coordenada sobre movimentos e iniciativas tomadas pelos atores relevantes (que são, pela ordem: EUA, G7, UE-BCE, FMI e, só então, o G20 financeiro). A evolução econômica do mundo se dará independentemente de qualquer ação dos Brics, sendo o resultado não coordenado, sequer coerente, das decisões tomadas pelos agentes primordiais da globalização – as empresas transnacionais – e pelos governos nacionais, eventualmente em consultas recíprocas nesses foros de discussão, o que não garante, porém, a convergência de suas ações e iniciativas. O que mais frequentemente ocorre é, justamente, a descoordenação de políticas, por mais reuniões retóricas que as autoridades econômicas e políticas desses atores empreendam a intervalos regulares.

 

Existe a possibilidade dos Brics sustentarem a recuperação financeira europeia? 

Talvez, mas não certamente enquanto Brics; eventualmente enquanto economias nacionais, tomadas individualmente e atuando cada qual com base em seu interesse e possibilidades próprias. Uma alegada ajuda financeira dos Brics aos países europeus sob risco de insolvência, isolada ou conjuntamente, não pode, na verdade, ser feita apenas sob a forma de fluxos financeiros adicionais aos insolventes potenciais. Não se trata apenas da magnitude dos valores envolvidos – o que teoricamente habilitaria apenas a China a ser um “emprestador de segunda instância” – mas basicamente de questões de governança e de conformação a padrões aceitáveis de responsabilidade financeira, num contexto de mercados integrados e de riscos aparentes, ou pelo menos um pouco mais transparentes do que no passado (e não só em virtude do trabalho de avaliação conduzido pelas agências de classificação de riscos). 

Existe uma grande ilusão – provavelmente construída por analistas acadêmicos, mas também estimulada pelos governos interessados – de que os Brics poderão se converter em novos polos da economia mundial e, nessa condição, influenciarem decisivamente o processo decisório em determinadas instituições ou a prática econômica dos decisores microeconômicos, ou seja, os responsáveis de transnacionais que decidem sobre alocação de investimentos diretos e divisão de mercados (e que também influenciam as políticas comerciais e industriais, talvez até fiscais, das economias nacionais). Essa proposta, como aliás revelado já no primeiro substantivo deste parágrafo, não se sustenta, tanto no plano estritamente material, ou de capacidades “brutas” das economias, como no plano institucional, ou seja, no da organização política da ordem econômica mundial.

A própria noção de “polo econômico” remete a uma concepção do mundo baseada na sucessão de hegemonias, na derrocada dos “impérios” e na ascensão de novos desafiantes da ordem em declínio. Sobre estes últimos, alguns chegam inclusive a falar de “superpotências pobres”, como se a ordem econômica precisasse necessariamente ser organizada em função de hierarquias excludentes e de substituição de superpotências, o que reflete não apenas a conhecida “teoria conspiratória da história”, mas também uma visão conservadora de como se organiza o mundo real. Mas, ainda que se aceitasse a noção de “polo dominante” – que na verdade refere-se a um ordenamento econômico interpretado como constituído necessariamente de um “centro” e de uma “periferia” – o fato é que o Brics não preenche os requisitos formais do modelo e não se constitui, absolutamente, em novo polo da economia mundial, se tanto um agrupamento heteróclito de potências provisoriamente identificadas por um vago “antihegemonismo” mental.

Seguindo uma noção mesmo rudimentar de como se organiza o mundo real, é evidente que toda ordem econômica historicamente conhecida, seja ela naturalmente existente ou socialmente construída – na verdade, qualquer sistema conhecido de organização humana, ou melhor, social –, compõe-se de um centro e de uma, ou várias periferias, sendo que esses elementos mantém uma relação dinâmica entre si, como muito bem analisado nos ensaios sociológicos de Edward Shils (Center and Periphery: Essays in Macrosociology; Chicago: University of Chicago Press, 1975). Cada um dos Brics, de certa forma, constitui um polo econômico em sua própria macrorregião e alimenta uma “periferia” que pode, ou não, estender-se a diversas outras regiões, inclusive numa relação de interpenetração com outros sistemas econômicos, dominantes ou “subordinados”.

Quem quer contemple os fluxos de comércio e de investimentos nos últimos anos, bem como o impacto da demanda chinesa sobre os preços das principais commodities exportados por países latino-americanos – inclusive por um dos Brics, o Brasil –, teria de chegar à conclusão, por exemplo, de que a região pode já ter se convertido em “periferia” econômica da China, tal a dependência comercial e financeira criada nos últimos anos por essas relações de oferta e demanda absolutamente “assimétricas” (como gostam de acusar os críticos da velha dominação “imperial”). Em qualquer hipótese, aderindo ou não a essas concepções acadêmicas sobre a organização do mundo material e seus reflexos no plano institucional, parece claro que os Brics, individualmente tomados, participarão, ou não, de qualquer esforço de soerguimento de países desequilibrados do “centro” europeu em função de suas próprias possibilidades e conveniências, sendo a China o natural “dispensador” de novas “bondades financeiras”, em virtude de sua dotação própria de fatores econômicos e de recursos políticos, que a converteram, sem dúvida alguma, em ator relevante na presente (e na futura) ordem econômica internacional.

É evidente, porém, que a China – única dentre os Brics a fazer uma diferença real na atual movimentação de placas tectônicas da geoeconomia mundial – não tem condições, nem de longe, de assumir o papel que outrora foi do Reino Unido e que atualmente é desempenhado pelos EUA, enquanto provedor, real, de segurança política, de abertura econômica – ainda que relativa, atualmente – e, sobretudo, de outros instrumentos mais elementares de poder, como podem ser porta-aviões e veículos aéreos não tripulados. Existe toda uma literatura declinista – da qual o mais recente exemplo é um livro supostamente de economia, de Dambisa Moyo, How the West Was Lost?: Fifty Years of Economic Folly and the Stark Choices Ahead (New York: Farrar, Straus and Giraux, 2011) – que gostaria de transformar sonhos acadêmicos em realidades contemporâneas, mas que falha miseravelmente nos argumentos quanto à “sucessão dos impérios” (para uma visão mais realista, ver a reedição do livro de Fareed Zakaria, The Post-American World: Release 2.0(New York: Norton, 2011); a primeira edição era de 2008, ou seja, antes da crise econômica iniciada naquele ano).

Impérios econômicos não são feitos apenas de criação – ou extração – de recursos e muitos dos que escrevem sobre ascensão e queda das grandes potências estão talvez mentalmente vinculados ao modelo dos velhos impérios tributários que organizavam a exploração de seus satélites em seu benefício exclusivo. Ainda que isso fosse verdade, a China não parece perto de cumprir todas as funções de um “império”, que não implica apenas a extração de recursos, mas também a garantia de ordem e a possibilidade de que os próprios satélites participem da ordem normativa assim criada e mantida com base em critérios de adesão voluntária, e não apenas de coerção física. Ademais dos elementos de inovação e de absorção de cérebros “estrangeiros” que todo império legítimo deve ser capaz de exibir, existem outros componentes mais “virtuais”, ou intangíveis, que devem necessariamente integrar qualquer ordem estável e suscetível de liderar “satélites periféricos” ou mesmo “aliados subalternos”, entre eles a capacidade de liderar por consenso e o fato de se fazer admirado e invejado, e não apenas temido ou tolerado.

 

A ascensão dos Brics faria o mundo se tornar mais multipolar e democrático?

Uma outra noção acadêmica que vem ganhando curso em certos círculos – sendo, aliás, endossada por alguns governos, inclusive dos Brics – é a de que a “ascensão do resto”, como já caracterizada nos trabalhos de Parag Khanna – The Second World: How Emerging Powers Are Redefining Global Competition in the Twentieth-first Century (New York: Random House, 2008); How to Run the World: Charting a Course to the Next Renaissance (New York: Random House, 2011) – e do já referido Fareed Zakaria, poderia implicar no “fim do século americano”; aventa-se também a hipótese de que a nova descentralização permitida pelo relativo declínio do gigante americano equivaleria a uma “democratização” do mundo e o estabelecimento de relações mais “igualitárias” entre os grandes atores, sem a típica arrogância imperial ainda hoje manifesta. 

Não há dúvida de que o “resto” – e mais particularmente os emergentes dinâmicos – vai se aproximar, mais ou menos rapidamente segundo os casos, dos padrões de vida e de consumo dos atuais países membros da OCDE, convertendo o mundo numa grande “classe média” relativamente estabilizada demograficamente, ainda que não totalmente democrática e respeitadora dos direitos humanos, como parecem ser os critérios de inclusividade nesse atual “clube restrito de países ricos”. Estima-se que em três ou quatro décadas, eles possam ascender aos níveis de renda e de prosperidade relativa que são os da Europa continental atualmente, que poderá (ou não, dependendo de sua capacidade de reformar-se e avançar) ter progredido ainda mais, para patamares de abundância ainda mais afirmada. 

Os novos malthusianos – que são os ecologistas não equipados de conhecimento científico apropriado – podem até se alarmar ante essa perspectiva, imaginando que, se os chineses exibirem o perfil de consumo energético dos americanos, isso representaria o equivalente de uma população mundial de várias dezenas de bilhões de habitantes, condenando todos ao esgotamento dos recursos naturais e a uma crise irremediável dos padrões civilizatórios. O mais provável é que a engenhosidade humana – feita de novas tecnologias e de adaptações realistas aos preços de mercado – consiga responder a esses desafios, sem cair na abordagem romântico-alucinada dos novos rousseaunianos ingênuos (mas os velhos também eram...).

No plano geopolítico existe a tendência a considerar que esses novos desenvolvimentos seriam eminentemente positivos, já que poderia haver a “redução do unilateralismo imperial”, a partir das novas condições de retração do “poder hegemônico” (ou qualquer outra variante dessas teses). Essa situação representaria um suposto “avanço democrático” – simbolicamente representado pela reforma da Carta da ONU e a ampliação do seu Conselho de Segurança, uma das principais reivindicações de três dos Brics que ainda não fazem parte do inner circle – e garantiria, supostamente, um horizonte politico mais conforme às novas realidades da economia mundial. Essa descentralização pode até corresponder aos sonhos de ascensão de alguns emergentes, mas não significaria necessariamente uma “pacificação” mundial e as garantias de segurança e estabilidade que a atual “ordem hegemônica” garantiu – com uma pequena ajuda da dissuasão nuclear – nas últimas décadas.

Alguns autores – entre eles o já citado Parag Khanna, mas também Robert Kagan, este em The Return of History and the End of Dreams (Nova York: Knopf, 2008) – já fizeram analogias históricas entre a “ascensão do resto” e situações geopolíticas anteriores, seja como um equivalente da “anarquia militar” do Renascimento, seja como a da paz armada europeia do final do século XIX, a do “equilíbrio dos grandes poderes”, feitos de alianças cruzadas e de muitos cálculos estratégicos. Uma situação desse tipo não significa, portanto, um mundo mais estável, mais justo ou mais pacífico, e sim um mundo mais instável e, talvez, potencialmente mais propenso a tensões setoriais podendo resultar em conflitos abertos. Não se deve esquecer, tampouco, que alguns dos Brics – os maiores, justamente, em termos geopolíticos e militares – não são exatamente modelos de democracia e de respeito aos direitos humanos, como aliás se pode constatar desde agora nos debates do CSNU em torno de alguns regimes repressivos do Oriente Médio ou alhures, objetos de projetos de resoluções “punitivas” que não logram superar o direito de veto exercido de modo cínico-realista pelos “ascendentes”.

Pode-se, assim, dizer, que os Brics apresentam perspectivas “luminosas” para a nova ordem internacional? Talvez seja efetivamente o caso, se isso representar a conversão do mundo atual, desigual e assimétrico como querem alguns (de fato, ainda pobre e desequilibrado), em um planeta mais igualitário e de “classe média”, mais próspero e, portanto, mais pacífico, de conformidade com as teses de Montesquieu sobre o doux commerce como “temperador” das paixões humanas mais violentas. É possível que esse cenário ideal seja factível, pari-passu à evolução econômica e política do mundo, mas conviria guardar certo realismo nas análises que possam ser feitas num ambiente acadêmico (e até governamental). Que os Brics representem um fator positivo na geoeconomia mundial, isso é inegável. Que eles sejam um fator eminentemente positivo em todas as demais equações da geopolítica mundial, ainda é uma tese que precisa ser comprovada com base nas ações efetivas para tornar a governança mundial não apenas mais segura e estável em termos geopolíticos e econômicos, mas sobretudo mais democrática e mais respeitadora dos direitos humanos no terreno dos valores e dos princípios civilizatórios. CQD...

 

Paulo Roberto de Almeida

(Brasília, 7 de outubro de 2011; revisto em 22/10/2011).

 

Lista recapitulativa de trabalhos sobre BRIC-BRICS (2006-2019) - Paulo Roberto de Almeida

 Lista de trabalhos de Paulo Roberto de Almeida sobre BRIC-BRICS, 2006-2019

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

 [Objetivo: consolidar trabalhos numa única lista; finalidade: publicação no blog]

Atualizado em 24/01/2021.

 

 

Nota preliminar: Estão listados abaixo apenas trabalhos referidos expressamente no seu título, ou na sua descrição, aos conceitos BRIC ou BRICS, à exclusão de muitos outros que trataram da questão em meio a diversos outros temas de relações econômicas internacionais ou de política externa brasileira, mas que não é possível identificar agora.

 

1686. “Os BRICs e a economia mundial: Algumas questões de atualidade”, Brasília, 13 novembro 2006, 3 p. Entrevista concedida ao jornalista Lourival Sant’Ana, do jornal O Estado de São Paulo, no Rio de Janeiro, em 9 de novembro de 2006. Publicado n’O Estado de São Paulo em 04/12/2006, caderno Economia, pág. B7, sob o título “O Bric é só um exercício intelectual”. Postado no Diplomatizzando (14/11/2019; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/11/o-bric-e-economia-mundial-2006-paulo.html). Refeito em formato de artigo sob n. 1691. Entrevista foi objeto de editorial do jornal em 5/12/2006, sob o título “Atraso made in Brazil”. Entrevista republicada no site do Instituto Millenium (em 6/12/2006) e no site Defesa.Net – Defesa, Estratégia e Inteligência (6/12/2006). Incorporado ao volume Um contrarianista no limbo: artigos em Via Política, 2006-2009 (Brasília, 2019, 240 p.; blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/12/um-contrarianista-no-limbo-artigos-em.html).  Relação de Publicados n. 725.

1691. “O papel dos BRICs na economia mundial (corrigindo alguns equívocos de compreensão)”, Brasília, 26 novembro 2006, 5 p. Revisão, em formato de artigo, da entrevista concedida sob n. 1686, para fins de publicação de forma independente. Publicado nos blogs: Via Política (Porto Alegre, 26.11.06); Mercado Global (18.06.07). Postado no blog Diplomatizzando (28/05/2011; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/05/os-brics-antes-de-existirem-os-brics.html). Relação de Publicados n. 718.

1743. “O Brasil e os BRICs: economia política de uma sigla”, Brasília, 15 abril 2007, 10 p. Palestra nos cursos de relações internacionais da FMU, no dia 16 de abril de 2007, em formato de PowerPoint, em 74 slides. 

1754. “A política exterior dos EUA e as relações Brasil-EUA”, Brasília, 23 maio 2007, 82 slides. Apresentação no curso preparatório O Diplomata em 26.05.07, preparada com base em duas apresentações anteriores (1676: “Os Estados Unidos no seu terceiro século: um poder aroniano e o último Estado westfaliano das relações internacionais, Brasília, 29 outubro 2006, 18 p. Contribuição ao VI ENEE: Encontro Nacional de Estudos Estratégicos, em 09.11.06; 1743. “O Brasil e os BRICs: economia política de uma sigla”, Brasília, 15 abril 2007, 10 p. Palestra nos cursos de relações internacionais da FMU, em 16.04.07). 

1884. “Questionário sobre BRIC”, Brasília, 5 maio 2008, 4 p. Respostas a questionário colocado por estudante de RI de Curitiba, sobre os BRICs no contexto internacional. Postado no blog Diplomatizzando (13/07/2010; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/07/questionario-sobre-o-bric-paulo-r.html); novamente postado em 10/11/2015 (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2015/11/brics-mais-uma-ideia-que-fez-chabu.html).

1903. “Dez questões sobre os Brics e uma conclusão preventiva”, Rio de Janeiro-Brasília, 27 junho 2008, 2 p. Esquema de trabalho de reflexão sobre os Brics no contexto do comércio internacional e do processo de globalização, para o 5o. Curso sobre Comércio e Negociações Internacionais para Jornalistas (Icone-Cebri-Embaixada Britânica), a ser realizado de 22 a 26 de setembro de 2008, em Brasília. 

1920. “Radiografia do Bric: indagações a partir do Brasil”, Brasília, 26 agosto 2008, 29 p. Análise econômica dos países integrantes do novo grupo proposto e dos problemas políticos a isso vinculados. Preparada versão resumida, sob o título de “O Brasil e o Bric: o questionamento de um conceito”; Publicado na revista Nueva Sociedad (Buenos Aires: Friedrich Ebert Stiftung; especial “O Brasil no mundo”, outubro 2008; ISSN: 0251-3552, p. 133-152; link: http://www.nuso.org/especialportugues2008.php; Artigo PRA: http://www.nuso.org/upload/portugues/2008/DeAlmeida.pdf). Encaminhado à Revista de Economia e Relações Internacionais (RERI-FAAP), por intermédio de Roberto Macedo; submetido à revista Leituras de Economia Política. Retirado de ambas para publicação pela revista Inteligência, por demanda do jornalista Luiz Cesar Faro. Dividido em dez seções e publicado, sob o título “Bric: anatomia de um conceito”, no boletim Via Política (1: 31.08.2008; 2: 8.09.2008; 3: 15.09.2008; 4: 29.09.2008; 5: 06.10.2008; 6: 13.10.2008; 7: 20.10.2008; 8: 27.10.2008; 9: 03.11.2008; 10: 10.11.2008. Utilizado como base de entrevista concedida ao repórter Wagner Cardoso, da Radio France Internationale, seção em Português para o Brasil; dividido em dois programas de 10 minutos, divulgados em emissões dos dias 17/09 e 24/09, às 11h30 da manhã, em Paris (www.rfi.fr). Resumido em nova versão (10 p.), sob o título “O papel dos Bric na economia mundial”, para publicação em livro pela Editora Aduaneiras, resultado de curso dado a jornalistas em Brasília (10.10.2008); In: Cebri-Icone-Embaixada Britânica Brasília, Comércio e Negociações Internacionais para Jornalistas (Rio de Janeiro, 2009, p. 57-65); feita versão em inglês, com revisão em 29.01.2009, para publicação. Publicada sob o título “The Bric’s role in the Global Economy”. In: Cebri-Icone-British Embassy in Brasília, Trade and International Negotiations for Journalists (Rio de Janeiro, 2009, p. 146-154); Relação de Publicados n. 903. Feita nova versão resumida, sob o título de “Anatomia do Bric: um exercício de clarificação”, para curso de jornalistas em Brasília (10.10.2009). Revisto, modificado e ampliado (34 p.), em 18.11.2008, para publicação, sob o título de “Bric: reflexões a partir do Brasil”, na revista Inteligência. Publicado sob o título de “To Be or Not the Bric”, Inteligência (Rio de Janeiro: Ano: XI - 4º trimestre, 12/2008, p. 22-46; link: http://www.insightinteligencia.com.br/43/PDFs/01.pdf). Relação de Publicados n. 856 e 878.

1950. “Les Brics et l’économie brésilienne : Interview pour la Chaire des Amériques – Université Paris I”, Brasília, 11 novembro 2008, 6 p. Respostas a questionário colocado por Vincent Paes, assistente da Chaire Amériques-Université de Paris I, para divulgação online. Divulgado em 25/11/2008, em dois segmentos (a) Brics;  (b) Brésil; a ser integrado ao website da Chaire Amériques oportunamente.

1960. “A ordem mundial e as relações internacionais do Brasil”, Brasília, 4 setembro e 8 dezembro 2008, 63 p. Apostila preparada com base em resumo e extratos de trabalhos anteriores, em especial a partir da apostila elaborada em 2 de julho de 2008 para curso de verão ministrado na ESPM-SP, em julho de 2008 (trabalho 1905), incorporando partes do trabalho sobre os Brics (1920), para Curso de Férias na Escola Superior de Propaganda e Marketing (5 a 9 de janeiro de 2009, noturno). Texto revisto em 17 fevereiro 2008 (64 p.), com acréscimo de bibliografia e textos pessoais, para servir de material de referência para aula inaugural a ser proferida no Curso de Especialização em Direito Internacional (lato sensu), da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (em 6 de março de 2009). Feita apresentação em PowerPoint, com base em materiais anteriores. Revisão em maio de 2009, para ser de base a Curso de Férias na Escola Superior de Propaganda e Marketing (13 a 17 de julho de 2009). 

1980. “A democracia nos Brics”, Brasília, 25 janeiro 2009, 3 p. Comentários adicionais à questão da democracia nos Brics, para matéria de jornal. Trechos selecionados publicados na matéria: Maria Helena Tachinardi, “Instituições: Estrutura capitalista e sociedade moderna”, In: Valor Especial, Oportunidades de Investimento (março 2009, p. 70-74). Postado no blog Diplomatizzando (12.07.2010; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/07/democracia-nos-brics-paulo-r-almeida.html).

2016. “Sobre a morte do G8 e a ascensão dos Brics: comentários metodológicos”, Brasília, 13 junho 2008, 6 p. Comentários em torno do anúncio, provavelmente prematuro, da morte do G8 pelo ministro das relações exteriores do Brasil, em 12.06.2009. Publicado em Via Política (15.06.2009). Divulgado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2009/06/1156-mais-rumores-sobre-morte-do-g8.html). Relação de Publicados n. 904.

2077. “O Bric e a substituição de hegemonias: um exercício analítico (perspectiva histórico-diplomática sobre a emergência de um novo cenário global)”, Brasília, 31 dezembro 2009, 31 p. Ensaio preparado para projeto do IPEA, sob a coordenação de Renato Baumann (Cepal-Escritório no Brasil). Publicado In: Renato Baumann (org.): O Brasil e os demais BRICs: Comércio e Política (Brasília: CEPAL-Escritório no Brasil/IPEA, 2010, 179 p.; ISBN: 85-781-1046-3), p. 131-154. Disponível na plataforma Academia.edu (link: http://www.academia.edu/5794579/086_O_Bric_e_a_substitui%C3%A7%C3%A3o_de_hegemonias_um_exerc%C3%ADcio_anal%C3%ADtico_perspectiva_hist%C3%B3rico-diplom%C3%A1tica_sobre_a_emerg%C3%AAncia_de_um_novo_cen%C3%A1rio_global_2010_). Relação de Publicados n. 967.

2157. “La estratégia de relaciones internacionales de Brasil y su política para el Bric”, Shanghai, 21 junho 2010, 66 p. Reaproveitamento do trabalho n. 1960, para palestra no Centro de Estudos Brasileiros do Instituto de Estudos Latinoamericanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais. Feito PowerPoint em 50 slides. Apresentado em 25 de junho de 2010. Perguntas sobre câmbio e Venezuela.

2325. “Os Brics na nova conjuntura de crise econômica mundial”, Brasília, 7 outubro 2011, 9 p. Ensaio sobre o papel dos Brics no contexto atual. Mundorama (10/10/2011; link original da publicação desaparecido). Dividido em três partes para o Observador Político (1a. parte: 26/10/2011; 2aparte: 27/10/2011; 3a parte: 28/10/2011). Publicado na revista Espaço da Sophia (vol. 45, n. 1, janeiro-junho 2012, ISSN: 1981-318X; p. 111-123). Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/os-brics-na-nova-conjuntura-de-crise.html). Relação de Publicados n. 1056 e 1964. 

2331. “Pequeno debate sobre os Brics: comentando seu papel na ordem mundial”, Brasília, 22 outubro 2011, 6 p. Blog Diplomatizzando (22/10/2011; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/10/brics-pequeno-debate-sobre-seu-papel.html).

2404. “O futuro econômico dos Brics (se existe um...)”, Brasília, 30 junho 2012, 5 p. Respostas a questões de jornalista redatora de economia do portal Terra; aproveitado muito parcialmente na matéria “Em desaceleração, Brics tem como legado comércio Brasil-China” (8/07/2012; link: http://economia.terra.com.br/noticias/noticia.aspx?idNoticia=201207081100_TRR_81380634). Postado no Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2012/06/os-brics-e-seu-futuro-economico-paulo.html).

2416. “O grupo Brics no contexto da crise econômica mundial”, Brasília, 31 julho 2012, 3 p. Ensaio elaborado com base no trabalho 2404, para a revista Consulex, em número especial a ser divulgado no Congresso Brasileiro de Direito Internacional; encaminhado a Wagner Menezes. Revista Jurídica Consulex (Brasília, ano 16, n. 374, 15 de agosto de 2012, p. 30-31; ISSN: 1519-8065). Postado no blog Diplomatizzando (26/08/2012; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2012/08/o-grupo-brics-no-contexto-da-crise.html). Relação de Publicados n. 1079bis.

2480. “Brazil: an emerging country among the BRICS and its economic challenges”, Hartford, 16 Abril 2013, 39 slides. Apresentação em PowerPoint para aula, seguida de debate na University of Connecticut Business School, MBA classe do professor Narasimhan Srinivasan, em 17 de abril, 18hs. 

2489. “Capitalismo de Estado: um debate”, Hartford, 27 Maio 2013, 2 p. Debate com Jorge Arbache, a propósito de seu artigo publicado no site The Brics Post (27/05/2013; link: http://thebricspost.com/in-the-times-of-state-capitalism/#.UaPuvyt4Y0t). Divulgado no blog Diplomatizzando (link:http://diplomatizzando.blogspot.com/2013/05/capitalismo-de-estado-jorge-arbache.html).

2579. “Uma estrutura SWOT para o Brasil”, Hartford, 3 março 2014, 3 p. Preparação de análise SWOT para inserção em trabalho sobre o Brasil e os Brics; provisório.

2600. “Brasil no Brics”, Hartford, 16 Abril 2014, 33 p. Contribuição à obra: Jorge Tavares da Silva (ed.), Brics e a Nova Ordem Internacional, a ser publicada em Portugal. Revisão em 21/07/2014, para acomodar informação sobre a cúpula dos Brics em Fortaleza, com a criação de um banco do grupo, bem como de um mecanismo de reservas contingentes; atualização geral das tabelas, total: 44 p.; revisão formal, atualização de dados: 16/01/2015. Publicado In: Jorge Tavares da Silva (ed.), Brics e a Nova Ordem Internacional (Casal de Cambra: Caleidoscópio; Aveiro: Mare Liberum, 2015, 320 p.; ISBN: 978-989-658-279-1; p. 71-115). Disponível no Academia.edu (links: https://www.academia.edu/10200076/108_Brasil_no_Brics_2015_ e https://www.academia.edu/attachments/36883658/download_file?s=work_strip). Relação de Publicados n. 1162.

2639. “Sugestões de política externa, 2: o problema do Brics”, Hartford, 4 agosto 2014, 4 p. Considerações de caráter preliminar sobre o problema do Brics, diagnóstico tentativo e propostas de encaminhamento diplomático. Inédito.

2896. “The Politics and Political Economy of Brazil in the BRICS”, Brasília, 20 novembro 2015, 27 slides; Power Point for a global interchange course offered by Francisco Panizza (LSE) and Tony Spanakos (Montclair State University), November 20, 12:20-13:00hs.

3140. “O Brics acadêmico, na visão de gramscianos brasileiros”, Brasília, 12 julho 2017, 2 p. Comentários preliminares a transcrição no blog de artigo por três acadêmicos gramscianos, “Fórum Acadêmico dos BRICS e os (des)caminhos da diplomacia brasileira”, assinado por Renata Boulos, Diego Pautasso e Cláudio Puty, publicado em Carta Capital(14/07/2017; link: https://www.cartacapital.com.br/blogs/blog-do-grri/o-forum-academico-do-brics-e-os-des-caminhos-da-diplomacia-brasileira). Divulgado no Diplomatizzando (https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/07/academicos-gramscianos-continuam-com-as.html) e disseminado no Facebook (https://www.facebook.com/paulobooks/posts/1590204557709655).

3188. “O lugar dos BRICS na agenda brasileira e internacional: reflexões, papeis e linkages”, Brasília, 3 novembro 2017, 29 p. Texto-guia para palestra no quadro do IV CIRIPE, Congresso Internacional de Relações Internacionais de Pernambuco (7/11/2017), a convite do Prof. da Faculdade Damas, Prof. Thales Castro, servindo também para livro (e-book), “O Lugar dos BRICS nas relações internacionais contemporâneas: Anais do IV Congresso Internacional de Relações Internacionais de Pernambuco. Inserido na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/s/15ebecf062/o-lugar-dos-brics-na-agenda-brasileira-e-internacional-reflexoes-papeis-e-linkages) e informado no blog Diplomatizzando (4/11/2017; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/11/repensando-o-brics-ou-um-dos-brics.html).

3398. “O que eu pensava do Brics em 2014? Continuo pensando o mesmo”, Brasília, 19 janeiro 2019, 15 p. Digressões, com base no trabalho n. 2600 (“Brasil”), in: Jorge Tavares da Silva (ed.), Brics e a Nova Ordem Internacional (Casal de Cambra: Caleidoscópio; Aveiro: Mare Liberum, 2015, 320 p.; ISBN: 978-989-658-279-1; p. 71-115; link: https://www.academia.edu/10200076/108_Brasil_no_Brics_2015_), com pequenas mudanças indicadas em vermelho. Publicado no Diplomatizzando (https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/01/o-que-eu-penso-do-brics-o-mesmo-que.html), em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/s/fa4524406e/o-que-eu-pensava-do-brics-em-2014-continuo-pensando-o-mesmo-2019) e em Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/330502480_O_que_eu_pensava_do_Brics_em_2014_Continuo_pensando_o_mesmo).

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 24/01/2021.


sábado, 23 de janeiro de 2021

Mini-reflexão sobre os intolerantes do fundamentalismo religioso - Paulo Roberto de Almeida

Mini-reflexão sobre os intolerantes do fundamentalismo religioso

Paulo Roberto de Almeida

Excomunhão – para católicos ignorantes, numa extensão vale também para cristãos, mas eles são muito diferentes entre si, como os muçulmanos, aliás – só vale para aqueles que seguem dogmas dessa religião. Querer impor sua crença religiosa a toda a humanidade, além de estúpido, é simplesmente ridículo. 

A humanidade já enfrentou morticínios e genocídios por intolerância religiosa. Parece que ainda tem muitos dessa tribo!

São os mesmos que promoveram as guerras de religião, o massacre dos huguenotes, a eliminação dos heréticos, a morte dos iconoclastas, o sacrifício dos considerados ímpios, a morte “legal” dos apóstatas, as conversões forçadas de “pagãos”, a expulsão dos judeus, em última instância o Holocausto!

Fundamentalismo, intolerância e autoritarismo andam de mãos dadas: sinal de que muitos ainda não se libertaram da barbárie das religiões sacrificiais. São os que procuram bodes expiatórios: não os encontrando, os psicopatas estão dispostos a tudo, inclusive suicídio coletivo como um Jim Jones ou como Hitler!

Brasília, 23/01/2021

As FFAA ainda não se libertaram de sua inclinação autoritária - Roberto Amaral

 Não concordo com vários argumentos do articulista, nem com o tom geral do artigo, mas cabe-me defender explicitamente a LIBERDADE DE IMPRENSA contra novos arreganhos autoritários dos militares. Eles ainda não aprenderam a conviver com a democracia plena, que inclui o direito de crítica, e AINDA DEVEM, ao povo, mas sobretudo à História, DESCULPAS PELOS CRIMES que cometeram contra os Direitos Humanos e à Democracia em diversos episódios passados. Enquanto não o fizerem, serão sempre devedores da nação.

Paulo Roberto de Almeida

Os militares, seus crimes e a tentação autoritária

Roberto Amaral

O  general comandante do exército não gostou do artigo _“Na pandemia, exército volta a matar brasileiros”_, de Luiz Fernando Viana, (Época. 17.1.2021) e mandou o general chefe do centro de comunicação social do exército responder à revista. O subordinado cumpre à risca o mandato do chefe, e, no melhor (embora canhestro) estilo do velho e expurgado florianismo, ou lembrando os tempos do grotesco marechal Hermes da Fonseca, mais que  defender a corporação, supostamente injuriada,   desanca o jornalista acusado de blasfêmia e tenta intimidar a revista, ou seja, investe contra a  liberdade de imprensa: _“(...) o Exército Brasileiro exige imediata e explícita retratação dessa publicação, de modo a que a Revista Época afaste qualquer desconfiança de cumplicidade com a conduta repugnante do autor e de haver-se transformado em mero panfleto tendencioso e inconsequente”_.  O segundo general, por força do hábito, certamente,  se expressa como se estivesse dando ordem a um subordinado. Ora, senhor, não existe "imediata retratação" na democracia: o general comandante  que busque na Justiça uma possível reparação, nos termos da lei, como qualquer cidadão pode buscar. Agora, conjecturemos. E se a revista não for  acometida de medo e pusilanimidade, que farão os dois generais? Se tal é a pena que pesa como espada de Dâmocles sobre o periódico, que estará  reservado ao articulista? Fosse nos idos do Estado Novo,  ditadura imposta ao país pelas tropas do ministro da guerra, general Eurico Gaspar Dutra, os militares fechariam a revista e o coronel Filinto Muller prenderia o jornalista nas enxovias do DOPS no Rio de Janeiro. Nos idos da ditadura de 1964, os  fardados cassariam os direitos políticos do articulista e o confinariam em Fernando de Noronha, como fizeram com Hélio Fernandes. Mas que fazer agora, quando o regime ainda é o democrático e constitucional? Ameaçam a livre expressão de pensamento, princípio das democracias ocidentais incorporado à nossa ordem constitucional como direito fundamental desde o primeiro texto republicano. Renunciam ao direito de resposta, que implica a contestação do articulado, e ingressam no campo fácil das ameaças e da intimidação, artifício aliás muito cômodo, embora cediço, para quem pode usar a espada como último argumento.

Em síntese: além de arrogantes, os dois generais atentam contra a Constituição o que constitui crime, pelo qual devem ser representados pelo Ministério Público.

Mas o texto dos generais, ademais de não responder ao artigo indigitado, repito,  encerra uma série de imprecisões, ou inverdades, que,  de tanto serem repetidas, tomam foros de verdade. Comento algumas delas. Não é certo, por exemplo, que devemos nossa unidade territorial aos militares. A expansão é obra de mamelucos, negros escravizados, índios, e da ação genocida de bandeirantes saídos de São Paulo, mas saídos também da Bahia, de Pernambuco, do Maranhão, do Pará e do Amazonas. Segue-se o povoamento do sertão, obra do povo, a que se reporta Capistrano de Abreu.  A integridade territorial, por outro lado, foi obra de nordestinos, na colônia, e de gaúchos na colônia e no império em guerras que consumiram milhares de vidas.  No Império foi obra da Regência, confirmada e consolidada na república pela diplomacia do Barão do Rio Branco. 

     É verdade que nossos soldados foram para os campos da Itália, já ao final da guerra (1944), combater as tropas do Eixo, mas é igualmente verdade que fomos à guerra contra a insistente resistência dos generais Eurico Gaspar Dutra, Ministro do Exército, e do todo poderoso general Góes Monteiro, chefe do estado maior da força, como está fartamente documentado. Aliás, na reunião do ministério (27 de janeiro de 1942) que decidiu pela beligerância, a proposta foi apresentada pelo civil Getúlio Vargas, contra o parecer do ministro da Guerra.  

     De outra parte, há certas e incômodas verdades que os generais não comentam, como a “guerra do Desterro”(1894) e o “ajuste de contas” do sanguinário coronel Moreira César, como não têm uma só  palavra sobre o covarde massacre dos beatos de Antônio Conselheiro, para proteger os interesses dos latifundiários da Bahia. Ainda na República, em 1937, lembro o bombardeio do Caldeirão, no Ceará, contra os camponeses do beato Lourenço, evento esquecido à direta e à esquerda. Não sei se a marinha registra com orgulho a Revolta da Chibata, de 1916. 

     Estamos falando em fatos recentes, republicanos. Mas não foi diverso o papel do exército no império, sufocando, à custa de muito sangue, as tentativas de independência e republicanismo que caracterizaram, por exemplo a Confederação do Equador (1824), esmagada, como a Revolução Praieira (1849), com a mesma fúria que antes se abatera sobre a Revolução pernambucana de 1817 e que terminou com o fuzilamento do Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo, que passou à história como Frei Caneca e hoje é pranteado como santo e herói.

     O articulista da Época a ele não se refere, mas a historiografia séria desqualifica qualquer entusiasmo cívico diante de nosso papel na guerra do Paraguai.

      Os militares sustentaram, até a exaustão, em nome dos grandes proprietários, dois impérios, cujas bases radicavam no escravismo e na estagnação, uma das raízes do atraso de hoje. Preferiram, sempre, um país tacanho, de analfabetos e mal alimentados, de deserdados da terra, a tocar nos privilégios da classe dominante, sejam os velhos latifundiários do Império, sejam os grandes fazendeiros da primeira república, seja o empresariado rentista, improdutivo, de nossos dias.

    O progresso é visto como ameaça, pois pode desestabilizar o statu quo do mando secular.

E os militares brasileiros, a quem a nação deve outros serviços, jamais se notabilizaram na defesa da democracia. Na República a golpearam insistentemente desde as ditaduras dos marechais Deodoro da Fonseca (1889-1891) e Floriano Peixoto (1891-1894) até hoje. Vide o golpe de 1937, arquitetado por Góes Monteiro e operado por Eurico Dutra; o golpe de 1954 operado pelas três forças e que teve no general Juarez Távora um de seus comandantes, a tentativa de golpe contra as eleições de 1955 (que teve entre seus líderes o general Canrobert Pereira da Costa e o brigadeiro Eduardo Gomes); a intentona de 1961, encabeçada pelos três ministros militares e o chefe do estado maior do exército, general Cordeiro de Farias; o golpe de 1964, que nos legou 20 anos de ditadura, com seu rol de cassações de direitos políticos, prisões, torturas e assassinatos, muitos levados a cabo em dependências militares, como o assassinato de Mário Alves Alves de Souza Vieira, no quartel da polícia do exército no Rio de Janeiro, e de Stuart Angel, na base aérea do Galeão.

     Sempre na defesa da ordem (pleiteada por todos os privilegiados), dos interesses da grande propriedade da terra, da burguesia e do capital internacional, contra a emergência dos interesses populares, travando o processo histórico. 

     O fato é este: até hoje não se fizeram as reformas necessárias para transformar a nação em país soberano, como a reforma agrária pedida desde o primeiro império por José Bonifácio. Aliás, por defender “reformas de base” um presidente da República foi deposto e implantada, pelos militares, uma ditadura, pesadelo que ainda nos assombra.

      As democracias não falecem por doença congênita. Jovens ou maduras elas são assassinadas, e só há uma arma capaz de atingi-las mortalmente: a espada, seja empunhada por uma sedição,  seja por um golpe de Estado. No Brasil e no mundo o golpe de Estado é a forma que as forças dominantes dispõem para chegar ao poder evitando os percalços de eleições. Ele ou é dado diretamente pelas forças armadas, ou é levado a cabo com seu assentimento cúmplice. Mas em qualquer hipótese nenhum golpe de Estado se sustenta sem o poder militar. No Brasil ele foi agente de todos os golpes de Estado levados a cabo com sucesso. E foi ele que abriu caminho para a aventura do  capitão insidioso, e hoje lhe dá proteção. Os militares, portanto, na medida em que sustentam e participam do comando do governo, até mesmo (e com escandalosa inépcia) na administração da saúde (onde pontifica a estultice de um general da ativa), estão solidários com todos os seus erros e crimes, inclusive os de lesa-pátria, como a política externa que nos transforma em aliados subalternos do império do Norte e seus interesses. 

     Dessa obviedade histórica não podem fugir. Resta-nos supor que as forças armadas ainda conservem – porque nem todos os generais estão ocupando sinecuras no governo –  capacidade de reflexão e, antes que seja irremediavelmente tarde, revejam o papel que estão cumprindo, contra a história que pretendem representar, contra os interesses do país e de seu povo, contra a vida e a esperança.

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Roberto Amaral é escritor e ex-ministro de Ciência e Tecnologia