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terça-feira, 4 de maio de 2021

Desentendimento entre Brasil e Argentina paralisa o Mercosul - Editorial O Globo

Desentendimento entre Brasil e Argentina paralisa o Mercosul

Editorial O Globo, 04/05/2021

As divergências entre os integrantes do Mercosul transformaram a reunião virtual do dia 26 de março, comemorativa dos 30 anos de existência da união aduaneira, numa oportunidade para reclamações. As divergências se ampliaram na semana passada, com outra reunião tensa entre os ministros da Economia de Brasil e Argentina, Paulo Guedes e Martín Guzmán. Eles trocaram farpas em torno da intenção de Brasil e Uruguai de abrir o bloco a maior competição externa.

Irônico, Guzmán afirmou que a “mão invisível de Adam Smith é invisível porque não existe”. Guedes contra-atacou dizendo que “mais da metade dos Prêmios Nobel em economia foi para economistas da Universidade de Chicago”, símbolo do liberalismo econômico no mundo acadêmico, onde Guedes estudou.

Não se discute que o bloco formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai ganhou peso com o tempo. Mesmo setores ainda fora do acordo, como a indústria automotiva, funcionam de modo integrado. Mas o tratado nunca evoluiu para a união completa das economias da região, como preconizava a visão original que o inspirou. A principal razão para isso é o protecionismo que mantém intactos mercados sabidamente improdutivos (exemplo citado com frequência é a exclusão do açúcar do acordo, proteção à ineficiente indústria argentina).

Para expor a economia do bloco a maior competição e ganhar produtividade, o governo Bolsonaro sugeriu um corte linear de 10% na Tarifa Externa Comum (TEC). O governo argentino peronista de Alberto Fernández discorda. Protecionista, admite reduções pontuais, mas não um corte linear para todos os produtos. A visão brasileira, que conta com o apoio do presidente do Uruguai, Lacalle Pou, está correta, na medida em que maior abertura comercial seria benéfica para todos, em particular para o Brasil, uma das economias mais fechadas do mundo.

O desentendimento da Argentina com o Brasil tem efeito paralisante e amplia ainda mais o desafio para a sobrevivência do Mercosul como bloco. Depois da desavença entre Guedes e Guzmán, ficou marcado mais um encontro em 30 dias, com a participação dos ministros de relações exteriores. Poderá ser decisivo.

A bandeira defendida pelo governo brasileiro, e também pelo uruguaio, é que, diante do impasse, haja maior flexibilização para que cada integrante realize acordos bilaterais de livre comércio. O Brasil considera que agir em bloco emperra acordos comerciais, como aconteceu no caso do tratado com a União Europeia.

Ao mesmo tempo, é difícil acreditar que, sozinho, o Brasil tivesse chegado a um entendimento nos mesmos termos com os europeus. Sem falar que, se o acordo está empacado, isso hoje é resultado mais da tolerância brasileira com a devastação da Amazônia do que de qualquer deficiência argentina. Para o Mercosul se modernizar, ficar mais flexível e mais aberto ao mundo, os dois países precisam, primeiro, eles mesmos entrar em acordo.

https://blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post/desentendimento-entre-brasil-e-argentina-paralisa-o-mercosul.html


As novas faces do ateismo, livro de John Gray - resenha de Marcelo Marthe (Veja)

 Filósofo inglês John N. Gray examina as facetas do ateísmo em novo livro

É famosa a frase atribuída ao inglês G. K. Chesterton segundo a qual “quando um homem deixa de acreditar em Deus, ele não passa a acreditar em nada – passa a acreditar em qualquer coisa”. Em certo sentido, o mais recente livro do filósofo John N. Gray, Sete Tipos de Ateísmo (Record), é um registro interessante das coisas em que os seres humanos são capazes de acreditar no lugar da religião e de Deus. Como afirma Gray, o livro não tem o propósito de converter ninguém ao ateísmo – muito menos, de conduzir quem quer que seja a alguma fé. Trata-se, isso sim, de mais um elegante e prazeroso ensaio do autor de Cachorros de Palha(2002) e Missa Negra (2007), livros com os quais o erudito professor de Filosofia Política na Universidade de Oxford e, posteriormente, na London School of Economics tornou-se um best seller mundial, alcançando um tremendo público que seus excelentes trabalhos acadêmicos nunca teriam sido capazes de alcançar.

O livro “Sete tipos de ateísmo”, de Gray, John, publicado pela Editora Record

É nesse espírito de diálogo com o grande público que Sete Tipos de Ateísmo chega ao leitor brasileiro. Com agilidade e clareza jornalísticas, Gray apresenta os ateísmos que pretende analisar: o “novo ateísmo” militante de nomes como Richard Dawkins e Sam Harris; o “humanismo secular”; o ateísmo que transforma a ciência em religião; as religiões políticas modernas (do jacobonismo ao nazismo e comunismo); o ateísmo dos que odeiam Deus (exemplificado pelo Marquês de Sade, entre outros); o ateísmo de Joseph Conrad, que rejeita a ideia de um Deus criador; e, por fim, o ateísmo místico do pensador alemão Arthur Schopenhauer.

Ao se lançar à escrita para o grande público, saindo dos círculos mais estritos da academia, Gray levou consigo algumas importantes marcas do trabalho como filósofo político que tinha realizado durante mais de 20 anos nas prestigiadas universidades inglesas. Discípulo do grande pensador Isaiah Berlin (a respeito de quem escreveu uma excelente biografia), interlocutor muito próximo de Michael Oakeshott (de cuja obra é grande conhecedor), o autor de O Silêncio dos Animais estudou meticulosamente a política da Europa moderna, isto é, dos últimos 400 anos – em suma, a política que nos legou as democracias liberais, constitucionais e representativas, mas também as grandes ideologias totalitárias do nazi-fascismo, à direita, e do comunismo, à esquerda. E se há um elemento que Gray soube identificar na política moderna é seu caráter de sucedânea da fé em Deus e das religiões reveladas instituídas, centrais na vida espiritual, mas também na vida pública, política, da Europa até poucos séculos atrás – tema presente em inúmeros de seus livros e ensaios para a imprensa, sobretudo em Missa Negra. Sai Deus, entra o “progresso humano”.

Não por acaso, o melhor do livro Sete tipos de Ateísmo está justamente no capítulo 4, aquele em que Gray se dedica a analisar o quarto tipo de ateísmo de sua lista de sete: “As religiões políticas modernas, do jacobinismo ao liberalismo evangélico contemporâneo, passando pelo comunismo e pelo nazismo”. Reconhecendo o perfil de fanatismo crédulo e inclinado à violência em nome da doutrina que todas essas variedades de movimentos políticos compartilham, Gray vê na raiz desse modo de compreensão da política o milenarismo:

“Os movimentos revolucionários modernos são continuações do milenarismo medieval. O mito de que o mundo humano pode ser refeito em uma reviravolta cataclísmica não morreu. Mudou apenas o autor desse fim dos tempos transformador do mundo. Nos velhos tempos, era Deus. Hoje, é a humanidade”.

Da “Ordem de Enforcamento” de Lenin, de agosto de 1918, em que o revolucionário russo instruía os bolcheviques a executar por enforcamento os camponeses que resistissem à política de confisco de grãos, “para que a população possa ver e temer”, à delirante convicção do artista Kazemir Malevich, para quem “a morte de Lenin não é morte, ele está vivo e é eterno”, é difícil não reconhecer as similaridades com a religião na estrutura de pensamento e nas práticas políticas historicamente comprovadas. Entretanto, pouco do que vem nesta análise é novo, e o leitor dos livros anteriores de Gray sairá com a sensação do déjà-lu.

Entre os sete tipos de ateísmos analisados por John Gray, o que há de mais recente é também o mais banal, esquemático e superficial. Sua análise do “Novo Ateísmo” de Dawkins e Harris, por exemplo, é provocadora e suficientemente convincente ao menos para relativizar o alcance da argumentação dos novos ateus. Um exemplo: ateu ou não, o leitor certamente deverá pensar duas vezes ao deparar com as afirmações de Sam Harris, que deseja “uma ciência do bem e do mal”, uma “ética científica”. Como afirma Gray, “não é por acaso que nem ele [Sam Harris] nem qualquer dos novos ateus promovem a tolerância como valor fundamental. Se a ética pode ser uma ciência, não há necessidade de tolerância”. Gray despacha esses ateus sem voltar a eles ao longo do livro.

Algumas modalidades de ateísmo, é claro, saem-se melhor na foto tirada por John N. Gray – ele próprio um cético bastante distante de qualquer variedade de fé religiosa. Por diversas vezes o ateísmo de certas escolas filosóficas da antiguidade helenística é mencionado como exemplar em sua moderação. No geral, contudo, vale a máxima chestertoniana: como espécie, parecemos inclinados a acreditar em qualquer coisa quando deixamos de aceitar um sistema de crenças espirituais altamente ordenado como o são as religiões tradicionais.

Os exemplos divertem, mas também chocam. Entre os adeptos do Humanismo Secular, o segundo tipo de ateísmo examinado por Gray, temos Karl Marx. Esse humanismo secular deveria ter substituído os males pregressos da humanidade, entre os quais se encontrava a religião – a grande opressora! –, e conduzido o gênero humano à salvação pela História. Os males humanos, contudo, seguiram os mesmos, ou até piorados, com esses seculares salvadores da espécie como Marx, que em seu profundo “humanismo” é capaz de escrever esse trecho torpe sobre Ferdinand Lassalle, dirigente socialista judeu alemão:

“Agora está perfeitamente claro para mim, como provam a forma da sua cabeça e o crescimento do seu cabelo, que ele [Lassalle] descende de negros que se juntaram à marcha de Moisés na saída do Egito (se é que sua mãe ou sua avó não se acasalaram com um crioulo). E esta combinação de judaísmo e germanismo com uma substância básica negroide deve gerar um produto peculiar. A agressividade do sujeito também é característica de crioulos.”

Como se vê, não é só o messianismo inerente ao marxismo que envelheceu mal. E na artilharia de Gray, não há seita que escape. Veja-se, por exemplo, o que diz sobre a curiosa figura de Ayn Rand, emigrada russa, escritora e líder de uma seita que prosperou nos Estados Unidos, contando com adeptos até hoje (e mesmo no Brasil):

“O culto de Rand se destinava a governar cada aspecto da vida. Como grande fumante que era, seus seguidores eram instruídos a fumar também. (…) Não foi à toa que os ultraindividualistas que se tornaram discípulos de Rand passaram a ser conhecidos no movimento como ‘o Coletivo’. A escolha dos parceiros de casamento também era controlada. Na sua visão das coisas, seres humanos racionais não devem se associar aos que são irracionais. Não poderia haver pior exemplo disso do que duas pessoas unidas em casamento simplesmente pela emoção, e assim os oficiantes do culto tinham poderes para aproximar discípulos de Rand apenas de outros que também abraçassem a fé. Da cerimônia de casamento constava um juramento de devoção a Rand, seguido da abertura de ‘A Revolta de Atlas’ em uma página aleatória para leitura de um trecho do texto sagrado.”

Os exemplos bem o demonstram: a humanidade é capaz de acreditar em qualquer coisa. Felizmente, algumas dessas coisas são apenas aberrações patéticas, como é o caso da seita de Rand. Outras seitas já foram capazes de exterminar dezenas de milhões, como o nazismo e o comunismo.

Espantoso, mesmo, é que todas essas seitas sigam com ativos seguidores em toda parte ainda hoje.


Acordo Mercosul-UE patina, tanto por razões ambientais (brasileiras), quanto por confusão no meio campo da Europa - Patricia Campos Mello (FSP)

 Acordo União Europeia-Mercosul vira 'espantalho' e está paralisado, dizem legisladores

PATRÍCIA CAMPOS MELLO

FSP, dom., 2 de maio de 2021

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O acordo União Europeia-Mercosul tornou-se um "espantalho" no centro da disputa entre políticos europeus e está paralisado à espera de um anexo de compromissos ambientais adicionais que nem começou a ser negociado, segundo legisladores europeus e integrantes do governo dos dois blocos. 

A parte comercial do acordo de associação entre ambos foi assinada em junho de 2019, após 20 anos de negociação. Atualmente, o acordo está em revisão jurídica e, em alguns meses, começaria a ser traduzido para as 23 línguas oficiais do bloco europeu. Depois, iria para ratificação no Conselho Europeu, depois para o Parlamento Europeu e, dependendo do formato, também para os Parlamentos nacionais de cada país da UE e do Mercosul. 

No entanto, em outubro do ano passado, a maioria dos parlamentares europeus aprovou um texto afirmando que, do jeito que está, o acordo não será ratificado e que são necessários compromissos ambientais adicionais. O texto era simbólico, mas deixou claro que não haveria apoio suficiente ao acordo no Parlamento. 

Os negociadores europeus propuseram fazer um "anexo" de compromissos ambientais exigidos pelos Verdes e partidos de esquerda. Seis meses se passaram, houve apenas conversas informais sobre os compromissos adicionais, e o acordo está paralisado. 

"Até hoje a UE não começou a negociar esse anexo, eles não sabem nem que compromissos ambientais vão pedir", disse à Folha o eurodeputado espanhol Jordi Cañas, relator do acordo no Parlamento Europeu. 

O novo chanceler brasileiro, Carlos Alberto França, afirmou em audiência na Câmara, na quarta-feira (28), que, "com otimismo, podemos terminar o processo [do acordo com a UE] até o fim do ano que vem." 

A projeção do chanceler é vista com ceticismo. Cañas, a deputada alemã Anna Cavazzini, dos Verdes, o deputado alemão Sven Simon, do CDU (União Democrata-Cristã, partido da chanceler Angela Merkel), e integrantes do governo acham que é muito improvável o acordo ser ratificado ainda no governo Bolsonaro. 

"Vai demorar para melhorar o acordo, a comissão sabe que não vai poder voltar de mãos vazias, precisa de algo significativo [de compromissos adicionais]", diz Cavazzini, vice-presidente da delegação do Parlamento Europeu para assuntos relacionados ao Brasil. 

"Eu não vejo Bolsonaro fazendo todas as melhoras que o Parlamento Europeu quer, por isso, automaticamente, o acordo não vai andar durante o governo Bolsonaro; suas políticas vão contra o que queremos." 

Além disso, diz Cavazzini, o bloco está negociando uma legislação para reduzir o desmatamento global impulsionado pela UE. Um dos principais pontos da legislação, que deve ser apresentada em junho, é garantir que as cadeias de fornecimento dos países da UE sejam "limpas", sem importação de produtos provenientes de áreas desmatadas. 

"Nós achamos que, antes de essa lei entrar em vigor, não faz sentido continuar negociando com o Mercosul", diz Cavazzini. 

Os blocos verde e de esquerda europeus pressionavam para que o acordo fosse reaberto para acomodar compromissos ambientais. O governo brasileiro afasta totalmente essa possibilidade e concordou apenas com o anexo, com ressalvas. 

"Para o Brasil e para o Mercosul, o acordo está fechado e cumpre com todos os padrões internacionais de desenvolvimento sustentável. Não vemos nenhuma falha ou deficiência nos textos e nos compromissos assumidos", diz Pedro Miguel da Costa e Silva, secretário de Negociações Bilaterais e Regionais nas Américas do Itamaraty. 

Segundo ele, que é o principal negociador brasileiro para o acordo, quem considera que são necessários elementos adicionais são alguns setores. 

"É o lado europeu que precisa apresentar esses elementos e que terá que ver os tempos para essa discussão. Nós estamos prontos", afirma. 

"O importante é que fique claro que não se cogita reabrir o acordo. Qualquer discussão terá que ser pautada pelo realismo, pela razoabilidade e pela reciprocidade. Não é só o Mercosul que tem dever de casa em termos de desenvolvimento sustentável." 

Cavazzini afirma que só irão aceitar o anexo se o documento tiver compromissos vinculantes. "Não basta uma declaração, deve haver compromissos claros de emissões, de não aumentar desmatamento e, se descumpridos, permitirem à UE ou ao Brasil suspender partes do acordo, como a eliminação de tarifas", diz. 

O Brasil se opõe à inclusão desse tipo de sanção, argumentando que nem acordos ambientais nem tratados comerciais da UE têm essas condições. Cavazzini afirma que há um apoio cada vez maior à inclusão de compromissos ambientais vinculantes em acordos comerciais. "O clima é um tema muito urgente para não entrar na política comercial." 

Para o espanhol Cañas, houve enorme politização do acordo. "O acordo com o Mercosul se converteu no espantalho da política europeia. Falar em UE-Mercosul é como agitar um espantalho, é igual a gritar incêndio na Amazônia." 

Em debate no Parlamento Europeu sobre resolução abordando a emergência da Covid na América do Sul, na quinta-feira (29), muitos legisladores se exaltaram. De um lado, o governo Bolsonaro foi chamado de "criminoso", "perigo para humanidade". Já os conservadores afirmaram que a UE não deve passar sermões no governo Bolsonaro e, sim, cooperar. 

"Em 80% dos casos, a oposição ao acordo usa a política ambiental de Bolsonaro como desculpa", diz. 

Segundo Cañas, do partido de centro-direita espanhol Ciudadanos, o presidente da França, Emmanuel Macron, usa a oposição ao acordo para se fortalecer politicamente com os verdes e a bancada agrícola, de olho nas eleições presidenciais do ano que vem. 

Já os alemães apoiavam o acordo. Mas, vendo como crescem os Verdes nas intenções de votos, não querem "se meter em problemas" enquanto não decidem a sucessão. A Alemanha realiza eleições federais no segundo semestre deste ano. 

Na Áustria, que também manifestou oposição à ratificação, os verdes passaram a compor a coalizão governista. 

"A oposição não tem nada a ver com o acordo, é um tema político de cada país", afirma Cañas. 

"Quando queimam as florestas no centro da África, os verdes e os franceses não se preocupam. Essas árvores são de segunda categoria? Não são tão nobres quanto as amazônicas? Os de esquerda e os verdes sempre são contra acordos econômicos e sempre arrumam uma desculpa." 

Portugal, atualmente na presidência rotativa do bloco, Espanha, a Comissão Europeia e setores empresariais estão a favor do acordo. 

Na sexta (30), BusinessEurope, CIP (Confederação Empresarial de Portugal) e CNI (Confederação Nacional da Indústria) divulgaram nota de apoio. 

"O acordo Mercosul-UE possui regras ambiciosas e avançadas em desenvolvimento sustentável, incluindo compromissos vinculantes para a adoção e implementação dos principais tratados internacionais, como o Acordo de Paris." 

Mas França, Áustria, Irlanda e Polônia resistem. 

"Os grupos de centro e centro-direita são os principais defensores do acordo. Os social-democratas e a centro-esquerda estão ambivalentes, enquanto a extrema esquerda, a extrema direita e os verdes se opõem ao acordo por impulsos isolacionistas e populistas", diz o eurodeputado alemão Sven Simon, do partido de centro-direita CDU. 

Simon defende que o acordo e a redução tarifária vão apoiar a recuperação econômica nos países após o choque econômico da pandemia, mas admite que o Parlamento não vai ratificar "sem progresso concreto no tema do desmatamento da Amazônia". 

Muitos se opõem a ratificar o acordo durante o governo Bolsonaro, pois isso seria usado como trunfo pelo presidente brasileiro e seria uma recompensa a políticas que estão causando destruição ambiental. 

Para Cañas, sem ratificar, UE e ambientalistas também perdem. "Confundindo o Brasil com Bolsonaro, não vamos tornar a UE um ator construtivo. Bolsonaro vai passar, e o acordo vai ficar", diz. "Se o Mercosul não assinar acordo com a UE, vai assinar com a China, que se preocupa muito com ambiente, desmatamento", ironiza. "Se preparem."

https://br.financas.yahoo.com/noticias/acordo-ue-mercosul-vira-espantalho-160500942.html

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Os EUA continuam a ver a China como uma ameaça: entrevista com Secretário de Estado Anthony Blinken - Norah O'Donnell (60 Minutes, CBS)

 O próprío título da matéria – "ameaça chinesa" – e as palavras dos interlocutores – "atitude belicosa da China" – refletem a postura confrontacionista dos EUA vis-a-vis a China. 

Temas que deveriam ser resolvidos no plano multilateral – postura maliciosa da China no sistema multilateral de comércio, roubo de propriedade intelectual – estão sendo pressionados pela via bilateral. Não vai dar certo, assim como não vai dar certo os EUA se meterem nos assuntos internos da China. PRA

Secretary of State Antony Blinken on the threat posed by China

Norah O'Donnell speaks with Secretary Blinken in a wide-ranging interview that touches on China's recent military aggression, winding down the long war in Afghanistan and the immigration crisis at the U.S.-Mexico border.

In his first 100 days, President Biden focused on the coronavirus pandemic, but over the course of his term, the Biden presidency will be defined by how the United States competes with China. In a few years, China's economy is expected to surpass the U.S. as the world's biggest.

To determine how the United States will deal with China's growing influence, Mr. Biden has chosen one of his closest aides as secretary of state. It falls to Antony Blinken to rebuild a depleted and demoralized State Department, repair U.S. alliances and champion what diplomats call "the rules-based international order" -- the written and unwritten code that governs how nations deal with one another. Rules that, he says, are now threatened by China.

Antony Blinken: It is the one country in the world that has the military, economic, diplomatic capacity to undermine or challenge the rules-based order that we-- we care so much about and are determined to defend. But I want to be very clear about something. And this is important. Our purpose is not to contain China, to hold it back, to keep it down. It is to uphold this rules-based order that China is posing a challenge to. Anyone who poses a challenge to that order, we're going to stand up and-- and defend it. 

Norah O'Donnell: I know you say the goal is not to contain China, but have you ever seen China be so assertive or aggressive militarily?

Antony Blinken: No, we haven't. I think what we-- what we've witnessed over the last-- several years is China acting more repressively at home and more aggressively abroad. That is a fact. 

Norah O'Donnell: What's China's goal?

Antony Blinken: I think that over time, China believes that it-- it-- it can be and should be and will be the dominant-- country in the world.

This past week, China's President Xi unveiled three new warships to patrol the South China Sea.

It already has the world's largest Navy - and could use it to invade Taiwan, a democratic island and long-standing U.S. ally.

Norah O'Donnell:  Do you think we're heading towards some sort of military confrontation with China?

Antony Blinken: I think it's profoundly against the interests of both China and the United States-- to-- to get to that point, or even to head in that direction.

Norah O'Donnell: Let's talk about human rights. Describe what you see is happening in Xinjiang that maybe the rest of the world doesn't.

Antony Blinken: We've made clear that we see a genocide having taken place against the Uyghurs in Xinjiang. More than a million people have been put into, choose your term, concentration camps, reeducation camps, internment camps. When Beijing says, "Oh, there's a terrorism threat," which we don't see. It's not coming from a million people.

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Norah O'Donnell interviews Secretary of State Antony Blinken

Six weeks ago in Alaska, Secretary Blinken confronted Yang Jiechi, China's top diplomat, about genocide in Xinjiang and China's military aggression.

Blinken to Jiechi: We feel an obligation to raise these issues here today.

The exchange became an international incident caught on camera and not lost in translation.

Jiechi through translator: The United States does not have the qualification to say that it wants to speak to China from a position of strength.

Norah O'Donnell: If Xinjiang isn't a red line with China, then what is?

Antony Blinken: Look, we don't have-- the luxury of not dealing with China. There are real complexities to the relationship, whether it's the adversarial piece, whether it's the competitive piece, whether it's the cooperative piece.

Even before the meeting in Alaska, President Xi had warned about the dawn of a new cold war. During President Trump's time in office, China found the U.S. less predictable than past administrations. 

President Trump: And I just announced another 10% tariff.

Mr. Trump imposed tariffs on hundreds of billions of dollars of Chinese products in response to what he called unfair trade practices -- and the theft of U.S. intellectual property. So far, the Biden administration has kept the tariffs in place.

President Biden: I also told President Xi that we'll maintain a strong military presence. 

China may be the only big issue of the day in Washington in which Democrats and Republicans find common cause.

Norah O'Donnell: The Chinese have stolen hundreds of billions, if not trillions, of dollars of trade secrets and intellectual property from the United States. That sounds like the actions of an enemy.

Antony Blinken: Certainly sounds like the actions of-- of-- of someone who's trying to compete unfairly-- and increasingly in adversarial ways. But we're much more effective and stronger when we're bringing like-minded and similarly aggrieved countries together to say to-- Beijing, "This can't stand, and it won't stand."

Norah O'Donnell: So is that a message that President Biden has delivered to President Xi?

Antony Blinken: Certainly in their-- in their first conversation-- they covered a lot of ground.

Norah O'Donnell: It was a, reportedly, a two-hour phone call?

Antony Blinken: It was. Yeah, I was there.

Norah O'Donnell: And so did President Biden tell President Xi to cut it out?

Antony Blinken: President Biden made clear-- that in a number of-- areas we have-- real concerns about the actions that--China has taken, and that includes in the economic area, and that includes-- the theft of intellectual property.

Norah O'Donnell: China's gross domestic product is expected to surpass the United States as early as 2028.

Antony Blinken: Well, it's a large country, it's got a lotta people.

Norah O'Donnell: If China becomes the wealthiest country in the world, doesn't that also make it the most powerful?

Antony Blinken: A lot depends on how it uses that wealth. It has an aging population. It has significant environmental problems. And so on. But here's the way I think about it, Norah, writ large, if we're talking about what really makes the wealth of a nation, fundamentally it's its human resources and the ability of any one country to maximize their potential. That's the challenge for us, it's the challenge for China. I think we're in a much better place to maximize that-- that human potential than any country on Earth, if we're smart about it.

Norah O'Donnell: China thinks long-term, strategically, decades in advance. Is America just caught up on the latest fires here and there? And we are not thinking long-term, strategically? And, as a result, China will surpass us?

Antony Blinken: What I've found looking at our own history, is that when we've confronted a significant challenge, significant competition-- significant adversity, we've managed to come together and actually do the long-term thinking, the long-term investment. And that is really the moment we're in now, and that's the test that I think we're facing. Are we actually going to rise to it? I-- President Biden believes we are. 

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Antony Blinken occupies a suite of offices on the 7th floor of the State Department, but he first worked for Joe Biden at the Senate Foreign Relations Committee nearly 20 years ago and has barely left his side since. In the Obama White House, Secretary Blinken held concurrent roles as an assistant to the president and the national security advisor for Vice President Biden.

Antony Blinken: It's been the most consequential professional relationship, and-- and also in many ways, personal relationship that I've-- that I've had.

Norah O'Donnell: How often do you speak?

Antony Blinken: It's pretty close to daily.

Norah O'Donnell: You speak to him every day?

Antony Blinken: In one way or another. We're pretty good at meetings. (LAUGH) So there are a few of those.

Norah O'Donnell: When I thought about the relationship that you have had with-- with President Biden over the years in the Senate and then when he was vice president, the only relationship that I could come up with, though I'm not a historian, was, of course, Secretary Baker and President George H.W. Bush. 

Antony Blinken: I'd be flattered by any comparison to Secretary Baker. I actually-- I spoke to him on the phone a few months ago. And we talked about the importance of-- ideally, of secretary of state having a close relationship with-- with the president. He was extraordinarily effective for all sorts of reasons. But that was, I think, a source of-- of his effectiveness.

Secretary of State James Baker helped President George H.W. Bush end the Cold War with the Soviet Union. The current secretary is in the midst of winding down America's longest war, in Afghanistan.

Norah O'Donnell: Are you prepared for a worst case scenario in Afghanistan, where the U.S. -backed government fails, and the Taliban takes over?

Antony Blinken: We have to be prepared for every scenario, and there-- there are a range of them. And-- we-- we-- we're looking at this-- in a very clear-eyed way. But Norah, we've been engaged in Afghanistan for 20 years, and we sometimes forget why we went there in the first place, and that was to deal with the people who attacked us on 9/11. And we did. Just because our troops are coming home doesn't mean we're leaving. We're not. Our embassy's staying, the support that we're giving to Afghanistan when it comes to-- economic support, development, humanitarian, that-- that remains. And not only from us, from partners and allies.

Norah O'Donnell: Somewhat related. Will the Biden administration close Guantanamo Bay?

Antony Blinken: We believe that it should be, that's certainly a goal, but it's something that we'll bring some focus to in the months ahead.

In this past Wednesday's address to Congress, President Biden spoke about his plans for immigration reform.

President Biden: For more than 30 years, politicians have talked about immigration reform and we've done nothing about it. It's time to fix it.

It's a subject not usually central to the State Department's mission. But we asked Secretary Blinken about it because of the refugee crisis on America's southern border.

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Norah O'Donnell: Border crossings for undocumented immigrants have skyrocketed. In March, more than 170,000 people were taken into custody. That's the highest in 20 years. Are the policies of the Biden administration to blame?

Antony Blinken: No. What we're seeing is indeed-- a surge of people to the border. We've seen that-- in the past. But we inherited a totally broken system. Broken intentionally. And it takes time to fix it, and by the way, our message is very clear, "Don't come. The border is not open. You won't get in."  But we have to understand what is motivating so many people to do this. And it is usually desperation.

Norah O'Donnell: (AFFIRM). But that's not new. I want to talk about the policies of the Biden administration, because President Biden did use his executive authority to curb deportation, to allow more asylum seekers to enter the United States. So are these new policies by the administration contributing to this surge?

Antony Blinken: We're focused when it comes to people coming in to making sure that-- that children-- unaccompanied minors are treated humanely and according to the law. 

Norah O'Donnell: Is it problematic to tell migrants, "Well, no you can't come here," and then at the same time create a different situation on the ground that does allow them to come?

Antony Blinken:  But-- but the point is that they're not. One-- one of the challenges that-- that we've had is that-- traffickers and others are trying to tell them that "the border's open." It's not. 

Norah O'Donnell: But children are being allowed in, and then they're being--

Antony Blinken: Children are the one exception, because we-- we will not, it-- it is the-- it is the right thing to do. We are not going to abide the notion that children are kept in a precarious, dangerous situation. That is unacceptable.

Blinken himself is a father of two young children and hails from a family that only a few generations ago were themselves refugees. His paternal great grandfather, Meir Blinkin, emigrated to New York City from Ukraine, fleeing Russian oppression in 1904.

This coming week, the secretary of state will visit Ukraine to show support for the country currently in the throes of more recent Russian aggression 

Norah O'Donnell: President Putin has amassed a very large force at the border with Ukraine, more than 100,000 troops. What is Putin up to?

Antony Blinken: (LAUGH) You're right. There are-- more forces amassed on the border with Ukraine than any time since 2014, when Russia actually invaded.  I can't tell you that we know-- Mr. Putin's intentions. There are any number of things that he could do or-- or-- or choose not to do. What we have seen in-- the last few days is apparently a decision to pull back some of those forces and we've seen some of them in fact start to pull back.

Norah O'Donnell: That's been verified that they are pulling back?

Antony Blinken: Starting now. We're watching that very, very carefully.

Produced by Keith Sharman. Associate producer, Kate Morris. Broadcast associates, Elizabeth Germino and Olivia Rinaldi. Edited by Michael Mongulla.

  • Norah O'Donnell
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    Norah O'Donnell is the anchor and managing editor of the "CBS Evening News." She also contributes to "60 Minutes."


Em face de uma China em ascensão para um status plenamente integrado no sistema internacional, são os EUA o poder revisionista - Xiang Lanxin (Valdai Club)

 Os EUA, pela primeira vez nos últimos dois séculos e meio – ou seja, desde o começo – não sabem muito bem o que fazer. Deveriam voltar a George Washington, e parar de se meter nos assuntos internos dos outros países. Deveriam também esquecer Theodore Roosevelt e o seu Big Stick...

O artigo é interessante, mas termina de forma preocupante: se os EUA continuarem a atuar da forma como estão fazendo "we are sleepwalking into 1914". 

Não creio que venha a ocorrer tal desfecho: o fato é que os EUA estão acelerando sua decadência. A China atua como a Grã-Bretanha no século XIX e os EUA no século XX: a potência globalizado, comerciante, investidora, inovadora. A paranoia americana vai prejudicá-los mais ainda, pois estão empurrando a China para acelerar ainda mais sua modernização.

Paulo Roberto de Almeida

Panic of Decline – Which Is the Revisionist Power, the US or China?

There’s no question that the US, rather than China, is a leading revisionist power today, because the Washington establishment of both political parties is trapped in another wave of panic: the morbid fear of a US decline. Americans are always obsessed with declinism. Declinism is a business that never declines, writes Valdai Club expert Xiang Lanxin.

A central premise of the Biden foreign-policy team is that China is trying to challenge the status quo, which is defined as US primacy in the world system. China is seen as a rising power with a huge grudge against the existing international system. In short, it could be said that there are parallels between the second decade of the twenty-first century and the early twentieth century, when a democratic England struggled with a rising, economically powerful but authoritarian Germany. This analogy, however, that of a “Wilhelmine China”, is flawed: it is hardly obvious, in the year 2021, just who is defending the status quo. The irony is, at the very moment of China’s decision to integrate fully into the international system, the United States seems to have started the process of changing that system. It is abandoning the rules it established at the end of the Second World War, especially the liberal international economic order, which was based on free trade and the mechanism of market competition. After more than forty years of reform and opening, China is on the verge of becoming a lead player in the existing international economic system. Just as China aspires to become a “normal state” for the first time in its long and self-isolated history, the criterion for “normal” is changing. When China became multilateral in its foreign relations, America became unilateral under the Trump administration, and this policy has continued under Biden.

There’s no question that the US, rather than China, is a leading revisionist power today, because the Washington establishment of both political parties is trapped in another wave of panic: the morbid fear of a US decline. 

Americans are always obsessed with declinism. Declinism is a business that never declines. Declinism is most useful when blaming others for one’s own internal problems. 
How do good times happen? What makes the bad times come? Why do we fall, and who helps us come back, if anyone can? Declinism has the same fascination for historians that love has for romantic poets. The people who want to set up China as the new monster are obliged to explain why the US is declining. Ironically, they cannot do it convincingly, since the intellectual predecessors of the new declinist, Joe Biden, are all declinists, too. He has to face insurmountable logical absurdity by insisting that the previous era was actually a peak rather than the valley that the previous declinists thought were actually valleys.

The popularity of declinism was established in 1918, in the book that gave decline a profitable name in publishing: the German historian Oswald Spengler’s best-selling work “The Decline of the West”. For many in Washington, Spengler was far-sighted in his pessimism and attempt to foretell the decline of liberalism in the face of the spread of totalitarianism. But this is not enough — they have also to revive Spenger’s racism to justify their animosity toward China. Hence, the Yellow Peril narrative came in handy for the Trump administration. Trumpism is stoking a fierce racial war in the United States and abroad; hostility towards the Yellow Peril has been kindled simultaneously. This is no accident. While Trump’s China policy was openly racist (phrases such as “Kung Flu” have certainly been responsible for current anti-Asian hate crimes), Biden’s China policy is more subtle. However, its Yellow Peril undertone is unmistakable. Since the political elite in Washington are horrified by a crumbling world order built on “unipolar fantasy”, it is not surprising that they are, subconsciously perhaps, seeking inspiration from Spengler, the guru of the racialist school of decline. The combination of declinism and the Yellow Peril narrative produces a perfect rhetorical tool for China-bashing today.

Spengler, the original prophet of a declining West, left a horrible proposition for the Western people over a century ago: if the decline of the West is caused by its own doing, i.e., internecine wars, then you have no one to blame. But if the rise of the non-white peoples causes the West to decline, how should the white world deal with them? Either by eliminating them or simply retarding the advancement of their societies. The worst solution, according to Spengler, is to ‘integrate’ them. The America Firsters have peddled this message loud and clear. Nazi Germany chose to eliminate an entire ethnic group, while the US prefers to return to the idea of economic retardation and launch a military chokehold against the most advanced non-white country, China. Not by accident, Spengler also provided a handy theory for technological “decoupling” with China. He vehemently opposed technological advances in general, for fear of non-White people getting hold of them to destroy Western civilisation. More importantly, the China-bashing campaign is shrouded in a moralistic halo. 

It argues that the Chinese system is illegitimate because it refuses to be westernised. This reflects both arrogance and ignorance about Chinese history and culture. 
Despite the volumes of Western books that have been written on Chinese foreign policy, a serious study of the conceptual history of China’s foreign relations has barely begun. The US administration fails to understand the fact that the meaning of Chinese foreign relations can only be grasped in a specific Chinese context of political legitimacy, not through some universal principles that allegedly guide the international behaviour of states. Confucian culture stresses that endogenous factors dictate the rise and decay of a state system, based on moral standards. Traditionally, Chinese do not believe that a regime’s legitimacy can be enhanced through the expansion of the Mandate of Heaven into an outer sphere beyond Chinese culture, either through the conquest of outlying territories, or legitimate states inhabited by non-Chinese. 
Colonialism, invented by the West, has never reared its ugly head in Chinese history. 
Foreign adventure and territorial expansion for resettlement purposes had never occurred to Chinese rulers as an effective medicine to cure immanent moral illnesses that inevitably give rise to political chaos at home. The non-expansionist attitude contrasts sharply with the persistent missionary zeal in the Christian West, which at least from the Crusades onwards, has been obsessed with “spiritual” promotion (today it is also called democratic promotion) in faraway foreign lands, often with military force. A traditional consensus is that, if a morally corrupt system (the US is no exception) does not undergo serious reforms, it will not be able to sustain itself for long. Jim Crowism is alive and strong in the US, but it is not the fault of the Chinese. Even though little morality has been demonstrated by the recent foreign policies of the United States, not many in Washington are willing to admit that the US, as a self-appointed moral leader, faces a major crisis, and that the existing global system, long characterised by benign US hegemonic control, is in need of fundamental reforms. If the current US-China tension continues, we are sleepwalking into 1914.


"Há estratégia por trás de ataques a jornalistas no Brasil" - Diretor da Repórteres Sem Fronteiras, entrevista (DW)

Triste dia, no Brasil, na verdade, com todos os ataques perversos de Bolsonaro contra a imprensa, a grande mídia e a que não lhe é servil...

DIA MUNDIAL DA LIBERDADE DE IMPRENSA

"Há estratégia por trás de ataques a jornalistas no Brasil"

Diretor da Repórteres Sem Fronteiras identifica uma cadeia de ação estruturada contra jornalistas, encabeçada por Bolsonaro. Em meio à pandemia, presidente tenta responsabilizar a imprensa pelo caos no país, afirma.

    
Jair Bolsonaro

"Com um presidente que espalha mentiras e desinformação, o trabalho da imprensa é vital", afirma diretor da RSF

O Brasil caiu quatro posições no último ranking de liberdade de imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), referente a 2020. Foi o quarto ano consecutivo de queda. Na 111ª colocação, o país entrou na "zona vermelha", que caracteriza um cenário difícil para a atuação jornalística, ao lado de países como Afeganistão, Emirados Árabes Unidos e Guatemala.

Em entrevista à DW Brasil, o diretor da RSF na América Latina, Emmanuel Colombié, afirma haver uma estratégia estruturada de ataques a jornalistas no Brasil. Ele identifica uma cadeia de atuação que vai do presidente Jair Bolsonaro à sua base de apoiadores e cria um "ambiente tóxico" para a atuação dos profissionais de imprensa. 

"O presidente está tentando dizer que os jornalistas são responsáveis pelo caos do país", afirma. "Ele quer esconder a sua incapacidade de lidar com a crise sanitária dizendo que é culpa dos jornalistas. Muita gente acredita nisso. Não à toa, vemos muitos ataques a jornalistas nos protestos e linchamentos digitais, principalmente contra mulheres." 

Colombié ressalta que em meio à pandemia, o trabalho da imprensa é ainda mais importante. "No momento de crise sanitária, o direito de ser informado e informar é tão importante quanto o direito à saúde, pois a informação pode salvar vidas. Com um presidente que espalha mentiras e desinformação sobre a crise, o trabalho dos jornalistas se tornou ainda mais importante. É vital."

O diretor da RSF chama atenção para a existência de um quadro estrutural de violência contra profissionais da informação no país. Nos últimos dez anos, o Brasil registrou 30 assassinatos de jornalistas e comunicadores. O número só não é superior ao observado no México.

Colombié destaca que profissionais que atuam em nível local, sobretudo radialistas, são os principais alvos, por denunciarem a atuação de grupos criminosos e casos de corrupção, sem contar com a mesma visibilidade de jornalistas da grande imprensa. "Há o recrudescimento de uma situação grave de corrupção, violência e influência das milícias", observa.

Nesta segunda-feira (03/05), é celebrado o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.

DW Brasil: No último ranking de liberdade de imprensa da RSF, o Brasil caiu quatro posições e entrou na zona vermelha de situação difícil. Que fatores levaram a essa situação? 

Emmanuel Colombié: Infelizmente, a nova edição da Classificação Mundial da Liberdade de Imprensa mostra um mapa mundial cada vez mais sombrio. A posição que o Brasil passou a ocupar é indigna de uma democracia desse grau. O país convive com problemas históricos e uma violência estrutural no campo da liberdade de expressão. O Brasil ainda é um país muito perigoso para jornalistas e comunicadores. Além disso, tem o problema de judicialização da censura. Cada vez mais, jornalistas são alvo de processos judiciais abusivos, acusados de difamação, por exemplo. Podemos falar também da violação constante do sigilo das fontes e da alta concentração da propriedade dos meios de comunicação. Geralmente, nas mãos de famílias que têm conexão direta com a classe política, industrial e, às vezes, com os poderes religiosos. Isso prejudica a qualidade do pluralismo, do debate democrático e a diversidade nesse horizonte midiático.

Agora, é importante mencionar que temos um jogo político muito preocupante. Desde a chegada de Jair Bolsonaro à presidência, os jornalistas trabalham em um ambiente tóxico. O presidente, os filhos e vários de seus aliados dentro e fora do governo estão insultando, difamando jornalistas e meios de comunicação quase todos os dias. Qualquer ação da mídia que ameace os interesses do presidente e toque nos seus problemas desencadeia uma nova rodada de ataques verbais muito violentos, que obviamente irão fomentar um clima de ódio e desconfiança em relação aos jornalistas no país. É importante mencionar que esses ataques seguem uma estratégia bem definida, cada vez mais estruturada. Não são ataques isolados. Há um sistema organizado de atuação que começa com o próprio presidente e logo chega à família, ao governo e à base da militância, muito bem organizada nas redes sociais. Eles transformam esses ataques em linchamentos digitais e, por vezes, infelizmente, ataques físicos contra jornalistas. Esse sistema organizado tenta, simplesmente, destruir a credibilidade dos jornalistas. Por isso, há um clima tóxico para os jornalistas no Brasil desde o início do governo.

Como esse "ambiente tóxico" que você descreve ameaça a atuação de jornalistas, em termos concretos?

A partir desse sistema organizado de ataques, vemos consequências dentro da própria sociedade sobre essa percepção sobre os jornalistas. A família Bolsonaro tem um método parecido com o que observamos na época do Donald Trump nos EUA, assim como na Venezuela e na Nicarágua. Tentam apresentar a imprensa como inimiga do povo e do Brasil. A partir dessa narrativa, a partir da criação desse ambiente tóxico, os jornalistas vão estar cada vez mais vulneráveis. A pandemia do coronavírus tem evidenciado ainda mais essa situação. O presidente está tentando dizer que os jornalistas são responsáveis pelo caos do país. De alguma forma, ele busca transformá-los em um bode expiatório. Ele quer esconder a sua incapacidade de lidar com a crise sanitária dizendo que é culpa dos jornalistas. Muita gente acredita nisso. Não à toa, vemos muitos ataques a jornalistas nos protestos e linchamentos digitais, principalmente contra mulheres. 

Tem sido também muito difícil para os jornalistas ter acesso a informações públicas sobre o tratamento da crise pelo governo federal. Tem um grande problema de acesso à informação, uma falta de transparência do governo nessa gestão da crise. Cria-se um desafio adicional para os jornalistas em busca de informações confiáveis sobre o número de mortes e de vacinados. É um problema bem significativo. Além disso, o próprio presidente e órgãos institucionais, como a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) difundiram mentiras e notícias falsas sobre o tratamento do coronavírus. Eles promoveram a cloroquina e outros remédios cuja eficácia no combate a esse vírus nunca foi comprovada. Portanto, em meio a ataques permanentes e à falta de acesso a informações, os jornalistas têm que relatar os fatos, porque o presidente é um mentiroso compulsivo, que difunde notícias falsas pessoalmente e por meio de órgãos oficiais. Isso é gravíssimo, são desafios muito complexos. Queria saudar os jornalistas brasileiros que estão trabalhando em um contexto tóxico, muito delicado.

O crime organizado tem se fortalecido no Brasil, com a expansão das milícias nos centros urbanos e dos grupos de pistoleiros no interior e no campo. Como esse contexto afeta a liberdade de imprensa?

Como eu falei, há uma situação estrutural de violência contra a imprensa e de vulnerabilidade, sobretudo, dos comunicadores e jornalistas independentes, afastados dos grandes centros urbanos. A maioria dos casos de jornalistas assassinados nos últimos anos era de radialistas com atuação local. Longe das grandes cidades, eles denunciavam a atuação de milícias e grupos violentos em programas de opinião. É importante falar desse jornalismo comunitário, local. Eles estão difundindo a informação de interesse público e, por fazer esse trabalho fundamental, são atacados, sem que gozem do mesmo nível de visibilidade e proteção que os jornalistas dos grandes veículos nas capitais. Há o recrudescimento de uma situação grave de corrupção, violência e influência das milícias. Existe também o problema de autocensura, justamente gerado pelo controle de alguns mercados por grupos de delinquentes com acesso a poderes políticos. Os jornalistas locais geralmente são os primeiros alvos dessas milícias.

Você acredita que a pandemia trouxe uma valorização maior do jornalismo profissional pelo público?

Eu acho que não. Há mais de um ano, os jornalistas são aqueles que vêm trazer as notícias ruins. As mensagens do momento são terríveis: notícias sobre mortes, contaminação. Já havia, no Brasil, uma percepção frágil da importância do jornalismo. Estamos em uma época de desinformação, com um monte de fake news circulando. Vários jornalistas, comunicadores e políticos são acusados de difundir informações falsas. Esse conteúdo circula de forma muito mais rápida que as informações verdadeiras. É um desafio importante pensar em como viralizar as informações verdadeiras.

Parte da nossa análise é dizer que o jornalismo, neste momento, é a melhor vacina contra a desinformação. Mas é preciso haver um trabalho pedagógico junto às audiências. Em primeiro lugar, deve-se deixar claro que podem ter interesses privados por trás dos jornais. É importante que o público saiba o que tem por trás da informação, o que dialoga com essa ideia de combater eficientemente a propagação de notícias falsas. Além disso, falta um discurso público, por parte dos governantes, de valorização da importância de ter uma imprensa livre, crítica e plural, para ter um debate democrático são e uma diversidade de opiniões que são positivos para o país. Mas temos, aqui no Brasil, um presidente que propõe essa narrativa anti-imprensa. Infelizmente, muitas pessoas acreditam que os jornalistas estão trabalhando contra os interesses do país. Portanto, é preciso haver esse trabalho educativo para dizer que os jornalistas estão aqui para relatar fatos e informar. 

No momento de crise sanitária, o direito de ser informado e informar é tão importante quanto o direito à saúde, pois a informação pode salvar vidas. Com um presidente que espalha mentiras e desinformação sobre a crise, o trabalho dos jornalistas se tornou ainda mais importante. É vital. A imprensa precisa também se olhar no espelho e avaliar se está sendo responsável e respondendo a essa crise de confiança com mais jornalismo de qualidade, ético, com fatos comprovados, para evitar justamente ser atacada nesse campo de desinformação.

Um trabalho jornalístico bem feito não deveria sofrer nenhum tipo de contestação ou ataque. Infelizmente, ainda acontece, mas uma das respostas deve vir também dos próprios jornalistas, para responder a essa crise de confiança. Daqui até o fim do mandato do Bolsonaro, vai ser assim. Vamos ter essa narrativa anti-imprensa, a circulação em todos os canais da base de apoiadores do presidente dessa ideia de que jornalistas são inimigos do povo e estão espalhando notícias falsas para derrubar o presidente. Sabemos que não é assim.

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