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domingo, 19 de março de 2023

Lula na China: Guerra na Ucrânia e comércio estão entre as prioridades - Ingrid Soares, Rosana Hessel (Correio Braziliense)

Uma matéria que contou com minha colaboração sob a forma de entrevista:  

Lula na China: Guerra na Ucrânia e comércio estão entre as prioridades

Após um ano de conflito no leste europeu, analistas avaliam que o mundo estará de olho nas declarações de Lula e do presidente chinês, Xi Jinping

Ingrid Soares, Rosana Hessel
Correio Braziliense, 19/03/2023 

No encontro bilateral entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente chinês, Xi Jinping, durante a visita de Estado do chefe de Estado brasileiro ao país asiático, entre 26 e 30 deste mês, a guerra entre Rússia e Ucrânia, será um assunto inevitável.

O embaixador Eduardo Saboia, secretário de Ásia e Pacífico do Ministério das Relações Exteriores, reconhece que o momento para o encontro de Lula e o líder chinês é propício para colocá-los em destaque no cenário global, porque os dois presidentes estarão em evidência e o mundo vai querer ouvir o que eles têm para falar, especialmente após China fazer uma proposta para o fim do conflito e Xi Jinping ir a Moscou visitar o presidente russo, Vladimir Putin, que teve a prisão decretada pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia, na Holanda, na sexta-feira.

O diplomata e professor Paulo Roberto de Almeida considera que a viagem de Lula à China tem aspectos potencialmente benéficos ao Brasil, e, ao mesmo tempo, preocupantes no plano político. "O superavit comercial que o Brasil obtém nas suas exportações para a China é absolutamente crucial para equilibrar a balança de transações correntes do Brasil, que é cronicamente deficitária", afirma.

Almeida demonstra otimismo para um bom diálogo bilateral durante a visita de Estado de Lula ao país asiático. Contudo, do ponto de vista político, as coisas se complicaram após a invasão russa da Ucrânia, na avaliação dele.

"À medida em que o Brics (bloco integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), está numa posição incômoda de neutralidade positiva em relação ao presidente russo. Então, não se imagina que países que pertençam ao Tribunal Penal Internacional, como é o caso do Brasil, possam acolher um criminoso contra o qual existe uma ordem de prisão decretada", emenda.

Almeida acha que Putin não deverá comparecer à próxima reunião de cúpula do Brics, em agosto, na África do Sul. "Esse é um aspecto extremamente delicado para o Brasil, porque ele fica em confronto com as demais nações do Ocidente que estão apoiando a Ucrânia. É algo terrivelmente desgastante para Lula. Esse será o aspecto mais delicado na sua visita à China, que é uma apoiadora, ainda que não entusiasta, dessa invasão russa", destaca.

Lucas Fernandes, coordenador de análise política da BMJ Consultores Associados, avalia que o Brasil continuará na linha de neutralidade, apesar de que, em algumas declarações extra oficiais, Lula chegou a culpar a Ucrânia pelo conflito.

"O presidente brasileiro tem uma postura um pouco dúbia, mas quando a gente olha para esse posicionamento, em certa medida, está alinhado com a China. A China é a principal aliada do Putin, e não tem também declarado um apoio formal à Rússia, não tem oferecido armamento mas é um país que não fechou as portas para os russos e que segue sendo o maior parceiro comercial de Moscou", ressalta.

Porém, Fernandes acredita que a viagem não deverá causar atritos diplomáticos com os Estados Unidos e, muito menos, com o presidente norte-americano, Joe Biden, que foi visitado por Lula no mês passado, mas sem a pompa de uma visita de Estado como será na China.

"O Brasil, ao não ter chancelado as sanções econômicas que foram feitas à Russia, fica no terreno da neutralidade. Está alinhado com o comportamento dos demais países do Brics, tentando adotar um tom mediador. Não acredito que essa viagem abale as relações do Lula com o governo Biden."

O especialista da BMJ analisa que o grande foco da viagem está nas relações econômicas com a China. "O governo tem uma agenda ambiciosa de tentar assinar até vinte acordos bilaterais. Eles devem focar, sobretudo, em agricultura. A China é o maior comprador de produtos agrícolas do Brasil, e também em termos de ciência e tecnologia, que são estratégicos. A China é um dos mercados tecnológicos do mundo, logo, acordos de cooperação podem trazer bons incentivos para o Brasil", afirma.

Para ele, na passagem por Xangai, o chefe do Executivo brasileiro deverá fortalecer a posição do Brasil em relação aos Brics, cuja sede fica na cidade chinesa, o que reforça a natureza comercial e política da visita. "Essa, sim, mudou bastante. Na gestão Bolsonaro, o bloco Brics não foi tratado como uma prioridade. Lula tem repensado isso. E a gente deve ver a ex-presidente Dilma Rousseff assumindo a presidência da instituição. Nessa comitiva, também viajam uma série de empresários e políticos, portanto, essa questão da Rússia-Ucrânia, que deve ser tangencial, não é o foco prioritário dessa viagem", complementa.

Wagner Parente, consultor em relações internacionais, também considera que Lula deverá focar mais em questões comerciais e de investimentos nas conversas com Xi Jinping. "O presidente deverá tratar do acordo com a BYD e a Ford na Bahia, além de outras áreas de cooperação. Em relação aos EUA, a diplomacia do PT foi sempre pautada pela independência e na altivez. Essa situação de se equilibrar entre as duas potências no momento deve ser uma tônica dos próximos quatro anos. Entendo que o Brasil vai ser o mais isento possível, tentando um diálogo com seus principais parceiros comerciais".

"Lula tentará trazer de lá compromissos mais concretos de investimentos, mas terá dificuldades para fazer isso, talvez promessas. Mas investimentos concretos acho difícil. A gente vê com algum ceticismo. Talvez novidade em relação ao banco dos Brics", reforça.

FRASE

O superavit comercial que o Brasil obtém nas suas exportações para a China é absolutamente crucial para equilibrar a balança de transações correntes do Brasil, que é cronicamente deficitária"
O diplomata e professor Paulo Roberto de Almeida


China: decoupling from the West and winning the long game - Geoff Raby (John Menadue blog)

 Uma visão australiana da irresistível ascensão chinesa, como exato reflexo do gigantesco erro estratégico americano ao tentar conter sua ascensão.


China: decoupling from the West and winning the long game

Mar 14, 2023
John Menadue blog
China flag print screen on paper plane flying and out of line with USA plane. China country is competitor with United States of America and barrier trade war.

With the re-opening of China and with the ending of Covid restrictions, a new confidence seems to be surging through the country. While the next two years are seen to be a particularly dangerous time, with the real prospect of armed conflict with the US, beyond that it is felt that China’s time will have come. Australians are now largely denied this view since the timorous Australian media is no longer present in China.

At ten pm on Sunday, stuck in a massive traffic jam on Beijing’s second ring road, it was hard not to think the reality of China and the place as it is thought about from abroad are parallel universes.

The China of burgeoning middle-class consumption, a decade of 5 per cent plus economic growth, the biggest market for all East Asia and Oceania, and the pivotal point for global supply chains is unrecognisable from the China of Covid, severe economic disruption, imploding property sector, and local governments mired in debt.

The China Collapse propagators have always thrived on wishful thinking, but as the US moves more decisively towards containing China and whistles up a posse of allies to help the cause, it could lead to dangerous strategic miscalculation.

Back in China after 17 months absence, China is not going anywhere other than to become stronger and more powerful. Travelling in Shandong Province (pop.102m) and then by fast train to Beijing at 305 k/h, it seems as if the Chinese economy is resurging. Vast construction sites are populated by 50 plus cranes working, new high-speed rail lines are going up and eight-lane highways are being rolled out.

These are of course only anecdotal observations, but they give texture and colour to dry numbers such as pursuing a five per cent plus GDP growth rate. Equally anecdotal are conversations one has, but they also provide a feel for what is happening, something Australians are now largely denied since, timorously, Australian media is no longer present in China.

With the re-opening of China and with the ending of Covid restrictions, a new confidence seems to be surging through the country. Contemporary art exhibitions are being launched across Beijing, new bars, restaurants are also popping up. Cinemas are full. When speaking with people who are well placed within the political system, the sense is one of confidence not only in the economy but in China’s ability to weather US containment.

While the next two years are seen to be a particularly dangerous time, with the real prospect of armed conflict with the US, beyond that it is felt that China’s time will have come. It is felt that China’s strength is in its investments in engineering, advanced manufacturing, artificial intelligence, application of 5G, and green energy.

In Shandong Province, longwall underground coal mines are operated remotely by two engineers sitting at computer screens on the surface using Huawei’s 5G. An energy company employing 220,000 staff has digitalised and centralised its entire operations and is now paperless. A green energy centre near Changsha in Hunan Province reportedly employees 10,000 engineers.

The US led global semi-conductor ban on exports to China is clearly seen as a head wind, but as China is the world’s biggest market it will slow development outside China as Japan, South Korea and the Netherlands lose their main market, and hence drivers of innovation and investment. China will divert even more resources into this sector to catch up by old-fashioned import substitution. In view of the huge disparity now in China’s favour in engineering capacity it is expected that the US bans will turn out to be counterproductive.

Meanwhile, obedient robots assist with clearing mountains of dishes from Chinese banquet tables, deliver packages to hotel rooms and continually polishing lobby floors. An innovation at Beijing’s 798 art district, is a robotic cake shop that tours the crowded laneways selling bakery items paid for by smart phones and QR codes. Cash and credit cards have all but disappeared. Of course, none of this existed at the time the Australian media vacated China.

One Chinese business executive in Beijing told me that after looking at several different manufacturing sites around the world, the company decided to build it after all in China. ‘In China things happen and get done. If the phone rings at 11 pm it is answered. People won’t say it is the weekend I’ll get around to it on Monday. Ask for something and it will be actioned, not delayed.’

In 1960, Walt Rostow published his book the Stages of Economic Growth. Later he was a member of President Kennedy’s ‘Best and the Brightest Group’ of advisers that deeply embroiled the US in the immoral and futile Vietnam War. As controversial as his analysis of the process of economic growth was, it has a certain relevance today to understanding China’s economic development. His fourth stage, after ‘take-off’, when economies reach maturity was what he called the ‘the age of high-mass consumption’, well describes China today.

China has reached that point of development underpinned by the rapid growth of advanced manufacturing. Gone to Vietnam, Bangladesh, and Cambodia, and elsewhere, are the low value-added industries of toys, cigarette lighters and cheap clothing which have been replaced by advanced, digitally controlled, manufacturing. US generals are now complaining that China can build naval vessels faster and in bigger numbers than the US.

China leads the world in electric vehicles. Tesla is expanding its production in China. Green energy is a major priority, not least because China now so deeply mistrusts the West that it is determined for security reasons to slash its reliance on imported oil and LNG.

The success of the US alliance to sanction Russia over its invasion of Ukraine has made Beijing even more determined to find domestic sources of energy, which includes green energy.

The complete breakdown in trust between Beijing and Washington has made the Chinese leadership intent on decoupling from the West. A containment policy against China is a lose-lose strategy. The Chinese leadership seem convinced that its advanced manufacturing already has the lead, and it will continue to open an even bigger gap. This week’s National Peoples’ Congress will focus on these themes.

A view is now entrenched that the US is determined to provoke conflict over Taiwan. Ironically, that could make conflict even less likely as the Chinese leadership will not allow themselves to be drawn into a suicidal action. Instead, the strategy will likely be bellicose language while building national resilience and self-reliance based on outcompeting the US economically and winning the long game.

In these circumstances, the Australian Government will come under even more pressure from the US to join in provoking China. The US’ campaign of interference in Australia is well-oiled. It has just been ramped up with SMH’s Red Threat series published this week.

Um visão chocante, mas verdadeira, do Exército Brasileiro - Oficial da ativa, no anonimato, revela o que pensa da força - Revista Sociedade Militar

Um visão chocante, mas verdadeira, do Exército Brasileiro


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Exército Brasileiro é uma “terra do fingimento”, diz oficial da ativa em relato chocante

por Sociedade Militar 15/03/2023 


https://www.sociedademilitar.com.br/2023/03/exercito-brasileiro-e-uma-terra-do-fingimento-diz-oficial-da-ativa-em-relato-chocante.html



Oficial da ativa do Exército Brasileiro revela o que pensa grande parte do efetivo atual das forças armadas, que na sua visão consideram que o Exército Brasileiro é uma Terra de fingimento, onde o oficial finge que está preocupado com o cumprimento da missão, subordinados fingem que cumprem as missões porque as consideram importantes, mas no final das contas quase todos tem como alvo principal a Conquista de melhores condições de vida para si mesmos.

O militar, sob condição  de anonimato, critica a recente reestruturação das carreiras, que considera elitista e apresenta a sua visão a respeito das sanções veladas que são  aplicadas sobre os militares que ousam ingressar na justiça visando reparar erros, humanizar regulamentos ou adequá-los a legislação vigente no Brasil.


Sobre as Forças empacadas

No início de março de 2023 li um artigo do senador Luiz Philippe de Orléans e Bragança, o

“Príncipe” membro da família real brasileira. No texto (https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/luiz-philippe-de-orleans-e-braganca/forcasempacadas-fracas-e-desarmadas/) ele acusava as Forças Armadas brasileiras de serem “Forças Empacadas, fracas e desarmadas”.


Ocasionalmente quando eu leio alguma crítica desse tipo fico meio pensativo em relação ao Exército, mas porque vejo que a maioria das críticas são verdadeiras, o que me deixa um pouco frustrado, apesar de não ser nenhuma novidade os problemas que enfrentamos.


Pensei um pouco e, humildemente, resolvi escrever um complemento ao artigo, considerando principalmente a visão interna de um oficial ainda do “baixo clero”, um 12 tenente da área jurídica que serve em uma Brigada.

O Exército Brasileiro é a terra do fingimento. Depois que eu aprendi isso, logo nos primeiros anos, passei a me dar bem dentro da instituição. No dia-a-dia fingimos que trabalhamos muito, fingimos que somos eficientes, fingimos que queremos agradar o superior, fingimos que somos agradados pelo subalterno. Fingimos também que estamos preocupadíssimos com as missões que nos transmitem, fingimos que o Exército está bem preparado para um conflito armado ou até uma moderna guerra híbrida e fingimos que acreditamos que o soldado que está de sentinela está muito bem treinado e não é apenas um adolescente de fuzil.

Tudo isso para “parecer”, a fim de que a sociedade brasileira acredite que temos a mesma força que tínhamos nos séculos anteriores, tentando esconder que fomos oprimidos, pouco a pouco, pelo poder político dos governos de esquerda, que dominou o Brasil ao longo das últimas décadas, até o ponto de ser ridículo tentar comparar a autoridade de um general com a de um juiz estadual progressista.

A situação em que o Exército foi se enfiando com o fim do regime militar, já alimentada pela força de base (sindicatos etc.) que a esquerda tinha e que foi fortalecida durante o próprio regime, é vergonhosa. E a vergonha começou com as notas de repúdio do Clube Militar, que quando emitidas transmitiam algo de muito preocupante e solene, mas passaram a meras caricaturas daquele milico que fala muito mas não nada faz.

Ou seja, a saída do poder em 1985 com a abertura “lenta, gradual e segura” foi atrapalhada e obrigou a instituição a ficar agradando políticos do momento para obter qualquer merreca, além de uma reinserção atabalhoada na política e que acabou ocasionando a humilhação que o Exército passa hoje.

Internamente, a ineficiência do Exército para gerir qualquer processo pode ser vista no dia-a-dia, principalmente porque é uma instituição verticalizada e caracterizada por muita vaidade daqueles que estão no topo da cadeia de comando. Muitos coronéis simplesmente não conseguem aceitar que um assessor jurídico possa saber mais do que eles, incrivelmente na área jurídica!

Outros coronéis acham que podem se utilizar de assessores de informática para benefício próprio, muitas vezes usando a autoridade sobre os oficiais técnicos temporários, ameaçando, veladamente ou não, provocar a não a renovação de seus contratos.

Fato citado pelo senador: a debilidade das Regiões Militares para conceder os registros dos CACs ao longo do governo Bolsonaro, foi simples má gestão. É verdade que faltava efetivo, isso é inegável, mais ainda considerando o aumento abrupto do volume de serviço nas SFPC (Seções de Fiscalização de Produtos Controlados), responsáveis pelos CACs nas Regiões Militares. Porém, a falta de agilidade é muito clara.

Ainda sobre a burocracia, como assessor jurídico de uma Brigada produzo documentos que precisam ser impressos, analisados por um Chefe de Estado-Maior e depois pelo Comandante da organização militar. Depois que cada um altera o que quer, insere vírgulas, inverte estruturas de frases, um muda a vírgula que o outro colocou e… após várias impressões em papel do mesmo documento com alterações insignificantes e algumas horas esperando nas filas para “despachar”, temos a versão final assinada fisicamente pelo Comandante, porque o Exército não conta com assinatura digital, apenas em casos bem específicos.

Muitos desses comandantes e subcomandantes são coronéis e generais que fizeram o curso da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), na Praia Vermelha no Rio de Janeiro. Ou seja, deveriam ser muito qualificados tecnicamente.

Maquina de Guerra

Quando assisti ao filme “Máquina de Guerra” (“The Pentagon Wars”) comecei a entender. O filme é contextualizado no Exército Americano, mas que espelha situações idênticas do nosso Exército. Em diversas cenas aparecem generais discutindo, como se fosse uma conversa de bar, sobre como o engenheiro deve projetar o famoso tanque “Bradley”, projeto militar que, ao final de algumas décadas, gastou alguns bilhões de dólares até ficar pronto e, ainda, cheio de problemas. Qualquer semelhança com o Exército verde-oliva não é mera coincidência.

Apenas por curiosidade, assisti a alguns vídeos recentes de uma das cabeças mais altas do Partido dos Trabalhadores. Ele obviamente tem ideias demoníacas, mas também tem uma percepção da realidade melhor do que qualquer general do alto comando.

Não entendo por que os nossos generais se assemelham sempre a “robozinhos” quando estão falando e, assim como os ministros do Supremo Tribunal Federal, têm dialeto próprio. A diferença é que são apenas mais brutos, rudimentares e menos afrescalhados.

O art. 31 do Estatuto dos Militares, que diz que dentre os deveres militares está “VI – a obrigação de tratar o subordinado dignamente e com urbanidade” é só para inglês ver. As palavras no quartel até são suaves, os elogios são sempre muito admiráveis, mas no momento em que se decide quem se beneficia financeiramente ou com missões no exterior, é sempre o topo, e é sempre o oficial formado na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN).

Por exemplo, com a reestruturação dos militares todos os militares federais passaram a receber o Adicional de Compensação por Disponibilidade Militar, que substituiu o Adicional por Tempo de Serviço. O novo adicional, para os generais, tem percentual de 35% a 41% sobre o seu soldo (que já é maior), enquanto que o soldado, o cabo, sargento e o tenente ficam no percentual de 5% sobre o seu soldo (que já é bem menor).

A justificativa? Passados alguns anos da publicação da lei, nada foi apresentado como justificativa, o que faz com que o ambiente de trabalho tenha algo de hipócrita, pois todos sabem das injustiças, mas reclamar, além de ser inútil, é sinônimo de transgressão militar.

Portanto, o movimento político que conseguiu aprovar a lei de reestruturação da carreira dos militares é corporativista, mas no sentido de que a “corporação” são os generais. Eles é que são a “família militar”, não o sargento ou o tenente e suas esposas e filhos.

Da mesma forma, a reestruturação de 2019 trouxe o aumento do adicional de habilitação, que remunera o militar pelos cursos que ele faz, seja pelo Exército, seja por conta própria. Até a reestruturação, era relativamente fácil que o militar fizesse, por exemplo, uma pós-graduação lato sensu ou um mestrado, e solicitasse o cadastro do mesmo, passando a receber o respectivo adicional, desde que o assunto do curso tivesse alguma relação com a função desempenhada.

Como os percentuais foram majorados significativamente, o Exército resolveu “fechar o cerco” aos militares que estavam buscando seu aprimoramento técnico-profissional, estabelecendo que somente seria pago o adicional se o curso fosse feito “por determinação do Exército”, além do fato de que somente oficiais superiores poderiam cadastrar cursos de mestrado. No entanto, alguns quadros, como o de assessores jurídicos, de administração, de informática e de contabilidade não possuem nenhum curso a nível de mestrado à disposição dentro da própria Força; já os oficiais que são formados na AMAN farão cursos que os garantirão o adicional de habilitação mais vantajoso, independentemente do esforço na carreira.

Ou seja, o incentivo ao aprimoramento perdeu todo o sentido. É verdade que aqueles que querem desenvolver conhecimentos assim o farão, da mesma forma, mas por satisfação pessoal. Porém, o referido adicional passou a ser pago de forma selecionada e sem critério justo.

A forma como tratam o Quadro Complementar de Oficiais (QCO) é um desprestígio, seja em razão dos interstícios (tempo mínimo) para promoção maiores do que os outros oficiais, seja pela menor remuneração causada pelas artimanhas que fizeram com os adicionais. Além da preterição para a realização de cursos, dentre outros.

Por exemplo, o Exército oferece o Curso de Direito Internacional dos Conflitos Armados (CDICA). Se pensarmos que o oficial do QCO da área de Direito é o assessor jurídico por excelência, já que foi advogado e entrou na carreira militar para fazer isso a vida toda no Exército, é natural que se destinem algumas vagas do referido curso a esses militares.

No entanto, o CDICA é prioritário para a infantaria, a cavalaria, a artilharia e tudo mais que vier da AMAN e não tiver nada a ver com o Direito, em detrimento dos assessores jurídicos por vocação. Se isso não é desperdício de recursos públicos, não sei o que é.

O Exército é composto por pequenos grupinhos corporativistas e que ferram uns aos outros, na ânsia por mais benefícios de qualquer espécie.

E bastante compreensivo que o militar prejudicado passe a carreira reclamando, será “um inimigo verde oliva”. No dia em que o país se envolver em uma guerra de verdade, uma parte do Exército vai tentar explodir a outra.

Outro ponto importante é a cultura do trote ou da punição velada. Quando um militar destoa um pouco do comportamento esperado pela cultura do “sempre fizemos assim” ele sofre retaliações.

Por exemplo, se por algum motivo um militar de carreira, já com muitos anos de serviço, tiver que pedir uma Licença para Tratar de Interesse Pessoal (LTIP), naturalmente não receberá a remuneração desse período mas arcará com a pensão militar e a contribuição para o Fundo de Saúde do Exército (Fusex). Em razão da licença ele também perderá o tempo de serviço correspondente.

Até aí, tudo certo. Porém, o que ninguém conta para esse militar é que ele será penalizado nas próximas promoções. Ainda que haja um motivo nobre para ele ter pedido a licença e que tal motivo tenha sido informado na sua organização militar, esse militar “perderá sua turma” na próxima promoção. Em razão da licença ele perderá tempo de serviço normalmente, mas o previsto na legislação é que ele fosse o último promovido de sua turma. Porém, o que acontece é que não promovem o militar, deixando-o para o final da turma subsequente, mais moderna. Isso, como forma de punição velada, pois não há previsão legal dessa conduta.

Essa situação é mais frequente do que o público externo imagina.

E se o militar ajuíza ação contra a União fica marcado com o famoso “carrapato”, como é chamado. E não terá chance de receber qualquer benefício que normalmente se recebe na vida militar, como alguns cursos internos (Guerra na Selva, Estágio de Montanha etc.) ou missões específicas (que pagam a Gratificação de Representação). O militar fica na “geladeira” para sempre, até ter tempo para ir para a reserva.

Isso mostra como nosso Exército ainda é medíocre, mesquinho e tem pretensos “donos”.

A organização administrativa da Força é amadora. Existe uma máxima de que “todos devem saber fazer tudo” na esfera administrativa. Os militares, não importa o nível de instrução, acabam não atuando em uma área especializada; por exemplo, o assessor jurídico ou o técnico de informática fazem: sindicância como se fossem julgadores administrativos; exame de contracheques dos militares da organização militar, como se fossem técnicos da sessão de pagamento; exame de Pasta de Habilitação à Pensão Militar (PHPM, ou “pasta da viúva”), como se fossem fiscais administrativos; e são Fiscais de Contratos como se fossem membros da Seção de Aquisições, Licitações e Contratos (SALC). Ou seja, todos fazem tudo, e tudo mal feito, porque essa situação obviamente prejudica a eficiência do serviço.

Outro ponto a ser mencionado é a cobrança dos índices de preparo físico. Nos TAF (Testes de

Aptidão Física), que ocorrem três vezes por ano, o Exército cobra basicamente uma corrida de 12 minutos, em que o militar precisa correr a uma certa velocidade que pode ser considerada alta, somente com o uniforme próprio para atividades físicas de lazer, o que faz com que não seja tão difícil a suficiência. Para alguns mais, para outros menos. Além disso, cobra-se flexões no solo e abdominais e, para alguns militares, flexões na barra e pista de pentatlo militar.

O fato é que não é exigida, nem estimulada, a prática de musculação ou uma corrida com equipamento de combate. Essa corrida poderia não ter como objetivo a velocidade, mas a resistência do militar, o que simula muito melhor uma situação de combate. Não se ensina nenhuma arte marcial na formação de militares do Exército; na verdade a maioria dos militares não sabe nem dar um soco sem parecer uma jovem adolescente.

Num combate real é mais importante ter força física, para carregar o companheiro que cai, do que correr rapidamente sem equipamentos.

Não há destinação orçamentária nem mesmo para que os militares pratiquem o tiro com alguma constância, nem sequer alguns tiros uma vez por ano. No entanto, o TAT (Teste de Aptidão para o Tiro) é obrigatório, e nele o militar chega no estande de tiro, dá 15 tiros de pistola e alguém diz que ele está “apto para o tiro’

Outro tema polêmico e que foi objeto de discussão pública durante a pandemia Covid-19 é o Fundo de Saúde do Exército (FuSEx). Esse assunto mereceria um livro, pois são muitos os problemas enfrentados e que repercutem na chamada “ponta da linha”, nos usuários finais, os militares e suas famílias.

Os generais têm prioridade em tudo, sendo reservadas cotas das vagas de consultas e exames só para eles e suas famílias. Isso é feito mesmo de forma ostensiva, sob alegação de que “o tempo do general não é o mesmo tempo do tenente, ou do sargento, ou do soldado”. Ora, não sei se o tempo do general é o mesmo tempo meu, de mero tenente de uma Brigada. Pode até ser verdade que ele tenha tantos compromissos que não possa ficar em uma fila de espera no hospital militar da guarnição (obs.: generais não precisam ir ao hospital, pois suas consultas e exames são feitas por “soldados particulares” que vão até lá fazer isso, e ainda passam na frente dos demais). Pode ser que, se eu fico até depois do expediente no quartel por exigência do Chefe do Estado-Maior, ele fique até meia noite, de tantos despachos que precisa assinar.

Por outro lado, se eu não tenho como afirmar que isso é uma mentira deslavada, o fato é que o tempo da minha esposa é o mesmo tempo da esposa do general, ou até mais apertado, porque minha esposa, além de trabalhar fora, precisa cuidar dos filhos e realizar os trabalhos de casa, o que a esposa do general não precisa, principalmente porque não está mais na idade de ter filhos pequenos e geralmente conta com “soldados particulares”, que tiram serviço nas residências funcionais dos generais.

Ressalvo que os “soldados particulares” a quem me refiro não têm culpa de nada, são garotos de 18 anos que são usados como empregados, apenas isso.

O Fundo de Saúde do Exército (FuSEx) não é, juridicamente, um plano de saúde, mas um sistema de saúde específico, sui generis, para militares do Exército e seus familiares, pago pelo orçamento federal e pelas contribuições mensais dos próprios usuários.

Para marcar uma consulta médica com especialista (um oftalmologista, por exemplo) o militar precisa de um “encaminhamento médico”, que é um documento assinado por qualquer médico solicitando a referida consulta. Geralmente se consegue isso no próprio hospital militar, mas somente após uma consulta com um médico generalista, o que leva de um a dois meses.

Após, é necessário ir ao hospital militar solicitar uma “guia”, que é o documento que autoriza que o militar faça o agendamento em uma clínica conveniada. Nada disso é automatizado, nada disso é pela internet ou por telefone. Tudo é feito presencialmente, com grandes filas de mais de uma hora, em ambientes sem ar-condicionados, ou com ar-condicionado estragados no verão, ou que não ligam por motivo de economia de energia.

Lembrando que os generais não passam por nada disso, e muitos coronéis também, especialmente quando exercem funções de comando em alguma organização militar da guarnição, pois também têm seus “soldados particulares” ou simplesmente um contato dentro do hospital militar, sobre quem exercem sua influência, baseada somente eu seu alto posto.

Quando o FuSEx não oferece determinado serviço de saúde, o militar tem à disposição o sistema de ressarcimento, por meio do qual solicita previamente uma autorização para uma consulta ou um exame não realizado no FuSEx, usa o serviço e então requer o ressarcimento propriamente dito. Esse sistema de ressarcimento é dificultado ao máximo, justamente porque é o mais oneroso para o FuSEx. Quando digo “dificultado” é da forma mais abjeta mesmo, obrigando que o usuário tenha que ir, fisicamente, em diversos setores do respectivo hospital militar, buscando assinaturas de pessoas de má vontade, que fazem tudo como se fosse um favor ao usuário.

Toda essa burocracia serve justamente para dificultar o acesso aos serviços, de forma que o FuSEx possa continuar existindo e prestando com excelência os serviços somente para a tal “família militar”, composta por uma pequena elite do Exército.

A ideia de que o FuSEx pudesse funcionar como se fosse um plano de saúde comum é sumariamente rejeitada pelo Exército, que se veria obrigado a encontrar outra forma de beneficiar a elite militar. Assim, somos obrigados a pagar esse sistema podre, mesmo contra a vontade, lutando por guias, ressarcimentos etc.

Apesar de estarmos no século XXI a vida administrativa da nossa Força Terrestre, que defende a soberania nacional e, segundo a Constituição (pelo menos por enquanto) garante a defesa da Pátria, funciona essencialmente em papel. A cultura de processos físicos impede a digitalização das sindicâncias e dos procedimentos mais simples. Não há um “processo eletrônico no âmbito do Exército”. Existe um sistema chamado SPED que, de tão arcaico, algumas organizações militares simplesmente não usam, preferindo os documentos físicos. Haja papel! O Zimbra, cliente de e-mail institucional (@eb.mil.br) sofre com frequentes invasões.

Como não há um sistema próprio, e o que tem (SPED) não é adaptado às necessidades, isso gera algumas excrecências que podem parecer piada. Por exemplo, quando se conduz uma sindicância todos os documentos que o sindicante expede precisam ter o mesmo NUP (Número Unico de Protocolo). Só que para expedir uma precatória, por exemplo, e ouvir uma testemunha em outro local, o sindicante precisa fazer um DIEx (Documento Interno do Exército) com o NUP da sindicância e anexá-lo a outro DIEx, com outro NUP, para a organização militar da pessoa a ser ouvida. Ou seja, é um DIEx anexo a outro DIEx; quem é militar e entende do que estou falando, se pensar sinceramente sobre isso, começará a rir.

Outra situação corriqueira é a exigência que se faz anualmente para que o militar assine um documento chamado “Declaração de Validação da Declaração de Beneficiários”, sob pena de punição disciplinar. O próprio nome do documento já é o cúmulo da burocracia. Trata-se da renovação de uma lista dos beneficiários da pensão militar, caso o militar faleça, sendo uma forma de resguardar seus verdadeiros dependentes, já que muitas vezes ele contrai matrimônio uma, duas, três, quatro vezes, mas esquece de atualizar a Pasta de Habilitação à Pensão Militar (PHPM).

É uma providência, de certa forma, compreensível por parte da Administração Militar, em razão da experiência que se tem. Mas isso poderia ser feito via sistema informatizado, como é, por exemplo, o Sistema de Gestão do Desempenho (SGD), ou até por um simples e-mail. Não tem como entender a ineficiência administrativa do Exército.

E muito comum, e na verdade é a regra, que os comandantes de organizações militares façam reuniões com todo efetivo, ou pelo menos grande parte dele, para tratar de assuntos absolutamente dispensáveis. Enquanto isso, a cobrança pela quantidade de documentos a serem confeccionados aumenta .com toda a burocracia já explicada acima) e o efetivo diminui anualmente.

O Exército tem tantas características de uma “patetolândia” que precisou ser feita uma Reunião do Alto Comando do Exército (RACE) para definir se a calça do novo uniforme seria colocada para dentro ou para fora do coturno. Conseguiram passar duas vergonhas: uma fazendo a RACE só para isso e outra decidindo que a calça ficaria para fora, apesar de diversos estudos técnicos afirmarem que a calça ficaria melhor, operacionalmente, para dentro.

Isso tudo por causa de um pequeno grupo de generais que queria usar a calça para fora. Em um ato de “querência”, como chamamos, mudou-se um projeto, o projeto COBRA (Combatente Brasileiro), que já vem sendo desenvolvido há décadas no Exército.

Da mesma forma, decidiram que a nova farda deve ser utilizada com as mangas arriadas, tapando todo o braço até o pulso, diferente da farda atual. E isso somente “porque sim”. Em organizações militares localizadas em regiões mais quentes, essa medida só traz incomodação com a tropa. Não é possível que alguém não pense nisso em Brasília.

Mais uma questão é o medo do Exército tem em relação à sua imagem institucional. Esse medo é maior do que a vontade de fazer o certo, realmente. É mais importante “parecer” que está fazendo o certo. Mas agora, após as eleições de 2022 é que a imagem do Exército foi efetivamente para o lixo. Como mencionou o Senador Luiz Philippe, quem é de esquerda já não gostava mesmo e quem é de direita passou a desprezar, tratar como mais uma das instituições ineficientes do Estado Brasileiro.

O Alto Comando do Exército nunca fala sobre o Foro de São Paulo, pois isso significa comprar briga com o establishment, o que prejudicará a imagem da Força. Só insiste, mesmo, no slogan braço forte, mão amiga”, que já cansou, sinceramente.

Nos últimos anos, como já mencionei, diversos militares entraram individualmente na política de forma equivocada, atravessada. No entanto, militar não deve se envolver com política, salvo se for para a reserva, abstendo-se de utilizar o posto ou graduação para se promover eleitoralmente. A forma correta, e mais eficiente, de influenciar a sociedade com os valores da caserna seria por meio da integração com a sociedade e a academia, e isso poderia ser a função da Escola Superior de Guerra (ESG). Mas a ESG é extremamente fechada e só quer saber de desenvolver seus “altos estudos” para a cúpula das Forças Armadas.

Não há, no Brasil, um corpo civil que discuta a defesa e a questão militar. Só os militares discutem esses assuntos e isso limita o campo de atuação e a influência que o próprio Exército exerce na sociedade. E isso é um dos fatores que vem causando prejuízos à Força Terrestre ao longo dos anos, em todas as ordens. É tão óbvio que só militares extremamente positivistas, como os do Exército Brasileiro, não percebem.

Não existem civis que se filiam ao pensamento da ESG, somente militares e de alto escalão.

De forma geral, o clima dentro do Exército é péssimo. Só se tem um bom relacionamento com os mais próximos: quem não é do meu pelotão ou da minha seção, é no mínimo uma pessoa duvidosa. Só se consegue as coisas contando com o favor dos parceiros, chamados “cangas”. Logo, quanto mais “cangas” alguém tiver, menos trabalho terá para conseguir as coisas, ainda que essa coisa seja sua, por direito.

Se alguém puder ajudar outro militar que não é seu canga, não o fará, a não ser que seja general ou coronel. Não me refiro a algo ilegal ou imoral, mas alguma coisa pequena que possa ser modificada administrativamente para ajudar, ou não prejudicar alguém.

Trabalho em uma assessoria jurídica de uma Brigada. Diariamente vemos casos em que o militar tem direito a determinado benefício, remuneração, contagem de tempo de serviço etc., mas temos que fazer artimanhas para que o militar não receba aquilo a que ele tem direito, em nome da “defesa dos interesses da Força”.

Muita coisa está errada.

E com esse intuito que escrevo este texto, porque quero ver o Exército Brasileiro moderno, ágil, forte e seguro. Não tenho a intenção de denegrir a imagem da instituição ou prejudicá-la politicamente, mas quero provocar uma mudança, e não há outro meio senão registrando o que vejo e publicando, para que a sociedade provoque as mudanças necessárias.


Revista Sociedade Militar

Revista Sociedade Militar não necessariamente concorda ou discorda das opiniões expressas em artigos de colaboradores, a publicação visa enriquecer o debate e expor as diferentes visões em torno dos diversos temas tratados pela revista online.

54 comments

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Nestor Carvalho

Braço frouxo, mão traíra.

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Josué Pires

Só falou o que o Brasil inteiro já sabe. É um exercito de faz de conta. Se o bradil for invadido o povo brasileiro ta na merd4.

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Marcos Santanna

Oficiais Generais só pensam em seus castelos e bolsos. No governo do Presidente Bolsonaro, eles pressionaram até a aprovação da Lei 13.954/19, que garantiram-lhes 73 % de aumento nos salários às custas dos veteranos graduados e das pensionistas. Já estamos sem reajustes há mais de 6 anos. Será que teremos de protestar em Brasília? Tomara que não.

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Bonnie Clyde

Parabéns ao oficial, poucos tem a coragem de trazer a público a verdadeira face do EB. Mesmo tudo acontecendo diante dos nossos próprios olhos. Até quando o exército vai aceitar abaixar a cabeça, respeitam a hierarquia mais esqueceram da sua principal função da defesa da sua pátria.

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sábado, 18 de março de 2023

Clodoaldo Bueno e a Política Exterior da República, 1889-1902 - 2a. edição de uma obra magnífica - Paulo Roberto de Almeida

 Clodoaldo Bueno e a Política Exterior da República, 1889-1902

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Nota sobre a 2ª edição do livro de Clodoaldo Bueno, A República e sua Política Exterior (1889-1902). 2ª ed.; São Paulo-Unesp, 2022

  

Em 28 anos de distância, dois presentes admiráveis

Clodoaldo Bueno, graduado em História pela Unesp, doutor em História Econômica pela USP e livre-docente em História Econômica, Social e Política do Brasil pela Unesp, da qual é professor aposentado, continua um acadêmico excepcional. Em 1995 fui presenteado com a primeira edição de seu livro, então quase definitivo, sobre a política externa de nossa primeira república, de 1889 a 1902, e agora, 28 anos depois, ele acaba de me presentar novamente com a 2ª edição desta obra, nunca definitiva, mas que já era inexcedível na cobertura do período e que acaba de ser ampliada, revista, aumentada. Eram 377 páginas na 1ª edição, agora são 386, mas a ampliação substantiva foi bem maior, e mais importante, do que meras 9 páginas a mais. Eis as capas dos dois volumes: 

 

Sempre extremamente gentil e atencioso, Clodoaldo Bueno me fez duas dedicatórias, singularmente parecidas, mesmo à distância de 28 anos, um tempo durante o qual intercambiamos algumas colaborações e nos encontramos algumas vezes, geralmente por intermédio do professor e amigo, historiador insigne da diplomacia brasileira, Amado Luiz Cervo, quem escreve a apresentação desta nova edição. Eis as duas dedicatórias dos livros: 

 

Os dados editoriais de cada um dos volumes constam destas duas reproduções: 

 

Comparando os dois sumários, percebe-se diferenças não substanciais, mas significativas entre ambos, com remodelação das partes, reconfiguração e nova titulação de alguns capítulos e, com toda certeza, ampliação do conteúdo para abrigar novas pesquisas, novas interpretações, novas leituras, de acesso a fontes e a bibliografia ampliada. Eis os sumários respectivos resumidos, apenas como exemplo.

 


A 2ª edição desta obra magnífica deve converter-se, mas ela já era, no standard book da política externa da primeiríssima república, numa era especialmente confusa no Brasil, com não menos de 19 ministros, entre titulares e interinos, sobretudo no caótico governo de Floriano Peixoto, com dez chanceleres (metade interina). 

O livro merece uma resenha ampliada, e certamente será usado por mim num trabalho que preparo atualmente sobre a formação do diplomata brasileiro (a “republicanização” do corpo diplomático tem aspectos até hilariantes, se não fossem lamentáveis para muitos). 

Parabéns a Clodoaldo Bueno por mais esta performance academicamente estupenda.


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4339: 18 março 2023, 2 p.

 

 

Como a diplomacia brasileira reagiu a pedido de prisão de Putin pelo Tribunal Penal Internacional - Leandro Prazeres (BBC Brasil)

Falta algum sentido moral à diplomacia brasileira, ou seja, ela pouco se importa que o tirano de Moscou seja um criminoso de guerra: continuarão mantendo relações "normais". (PRA)

Como diplomacia brasileira reagiu a pedido de prisão de Putin pelo Tribunal Penal Internacional

Vladimir Putin

Crédito, Reuters

O TPI emitiu nesta sexta-feira um mandado de prisão contra o presidente russo

Leandro Prazeres

BBC News em Brasília

Twitter, 

17 março 2023

O mandado de prisão contra o presidente russo, Vladimir Putin, expedido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) nesta sexta-feira (17/03) foi recebido com cautela pela diplomacia brasileira e, segundo diplomatas do país ouvidos pela BBC News Brasil em condição de anonimato, não deverá afetar as relações entre o Brasil e Rússia. 

Segundo eles, o Brasil não deverá criticar oficialmente a decisão do tribunal, do qual o Brasil é signatário. Nos bastidores, no entanto, a intenção é de que o país continue evitando medidas que, segundo eles, tentam isolar a Rússia no cenário internacional. 

O mandado de prisão contra Putin foi anunciado no início da tarde desta sexta-feira em comunicado divulgado pelo tribunal, com sede em Haia, na Holanda. 

Segundo a Corte, o pedido foi uma resposta a pedidos feitos pela promotoria do tribunal que acusa Putin e a comissária russa para os direitos da criança, Maria Lvova-Belova, de terem participação direta na deportação de milhares de crianças da Ucrânia para a Rússia após o início da guerra, em fevereiro de 2022.

A decisão foi anunciada em um momento de intensificação dos combates entre russos e ucranianos e também em meio aos esforços do governo brasileiro, sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de mediar um acordo de paz entre os dois países.

Lula, que já disse que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky seria tão responsável pelo conflito quanto a Rússia, tem defendido a criação de uma espécie de "clube de países" que ficaria responsável por negociar a paz entre Rússia e Ucrânia.

A premissa do governo brasileiro é de que este "clube" deveria envolver países não diretamente ligados ao conflito na medida em que nações como os Estados Unidos e outros membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) não teriam interesse no fim rápido da guerra.

Um dos diplomatas ouvidos pela BBC News Brasil sob a condição de anonimato afirmou que a diplomacia brasileira ainda estaria analisando o teor da decisão do tribunal e das acusações imputadas a Putin, mas que o Brasil continuaria evitando posições que, nas palavras dele, levassem ao "cancelamento" da Rússia no cenário internacional.

Outro diplomata afirmou que a expectativa é de que o mandado não afete as relações entre o Brasil e a Rússia no curto e médio-prazos.

Em abril, está prevista a visita do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, ao Brasil. Segundo esse diplomata, não haveria nenhuma indicação de que a visita poderia ser adiada por conta da decisão do tribunal.

A reportagem também ouviu que o Itamaraty estava tratando o assunto com "cautela" e que dificilmente o Brasil se manifestaria frontalmente a favor ou contra a decisão do tribunal. A ideia é manter os canais de diálogo abertos com a Rússia.

A BBC News Brasil pediu um posicionamento oficial do Itamaraty sobre a decisão do tribunal, mas até o momento, nenhuma resposta foi enviada. Assim que uma resposta for enviada, esta reportagem será atualizada.

A posição brasileira

A guerra na Ucrânia tem sido um dos principais assuntos debatidos por Lula e outros chefes de Estado desde que assumiu a Presidência, no início deste ano. 

A ideia de criar o "clube" de países para mediar o conflito é vista como uma das iniciativas da sua nova gestão para projetar o Brasil na arena internacional, a exemplo do acordo que o Brasil e a Turquia mediaram com o Irã, em 2010, sobre o seu programa nuclear. =

O acordo, posteriormente, foi rejeitado pelos Estados Unidos. 

Desde o início do conflito na Ucrânia, a posição brasileira em relação à Rússia tem sido a de condenar a invasão, mas de não isolar a Rússia.

Em fevereiro deste ano, o Brasil votou a favor de uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) pedindo a retirada das tropas russas da Ucrânia.

Apesar disso, o presidente Lula rejeitou um pedido feito pelo chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, para que o Brasil enviasse munição para o lado ucraniano do conflito. 

"Eu falei (para Scholz): se eu mandar as munições que você está pedindo, eu entrei na guerra. E eu não quero entrar na guerra. Eu quero acabar com a guerra", disse Lula em fevereiro à rede de TV americana CNN.

Internacionalmente, o plano brasileiro de mediar o conflito entre russos e ucranianos tem sido visto com ceticismo, especialmente pelo governo americano. 

Em resposta à BBC News Brasil em fevereiro, o governo dos Estados Unidos, um dos principais envolvidos no conflito e que já injetou pelo menos US$ 46 bilhões em armas, munições e outros tipos de suporte.

A expectativa é de que Lula volte a defender uma estratégia de mediação do conflito durante sua viagem para a China, onde irá encontrar o presidente do país, Xi Jinping. Lula estará na China entre os dias 26 e 31 de março. 

 Este texto foi publicado em  https://www.bbc.com/portuguese/articles/c149d9wjx18o


"We're in a productivity crisis" - Michael Simons (Medium)


 

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March 18, 2023

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“The most important, and indeed the truly unique, contribution of management in the 20th century was the fifty-fold increase in the productivity of the manual worker in manufacturing.” — Peter Drucker

It wasn’t supposed to be like this. The “Great Boom” was supposed to last.

From 1870-1970, there was an incredible 50x increase in the productivity of the average manual worker. Let me break that down so it really lands for you like it did for me:

  • 50x Increase: Imagine getting 50 hours of work done in one hour. Or imagine doing the work of 50 people by yourself.
  • On Average: We’re not just talking about a 50x increase for the most ambitious, smartest manual workers. We’re talking about all manual workers.

To put the profundity in context, the “Great Boom” is one of the most amazing and under-appreciated events in economic history. The chart below captures its magnitude and uniqueness:

To more deeply appreciate this shift, consider the following:

  • This is a unique event in all of history. “Modern humans first emerged about 100,000 years ago. For the next 99,800 years or so, nothing happened…Then — just a couple of hundred years ago — people started getting richer. And richer and richer still,” states Economist Steven Landsburg.
  • Before it happened, the average American lived on about a dollar a day (in today’s dollars). “Before 1750, almost nowhere in the world were living standards something that we would call anything but miserable and poor,” according to economic historian Joel Mokyr. Economist Steven Landsburg adds, “Almost everyone lived on the modern equivalent of $400 to $600 a year, just above the subsistence level.”
  • Before it happened, day-to-day life was brutal. “In 1870, farm and urban working-class family members [in the United States] bathed in a large tub in the kitchen, often the only heated room in the home, after carrying cold water in pails from the outside and warming it over the open-hearth fireplace,” according to economic historian Robert Gordon.

Bottom line: The people alive between 1870–1970 experienced unprecedented change. Now, imagine being an adult in 1970. Think about how you’d see the world…

(o resto é reservado aos assinantes do Medium)

Recomendo o livro do Roberto Gordon, The Rise and Fall of American Growth, 1870-2014, mas apenas para o passado, pois seu pessimismo quanto ao presente e o futuro é muito conjuntural.