O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Governança global, comércio internacional e integração regional - Paulo Roberto de Almeida

Governança global, comércio internacional e integração regional

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Notas para subsidiar palestra a alunos do pós-graduação em Direito, 14/10/2024

Fui convidado, como diplomata e professor, para falar para estudantes de graduação, especificamente sobre três temas: governança global, comércio internacional e integração regional. O primeiro, praticamente não existe, embora tenham havido tentativas ao longo dos séculos; o segundo, existe, e é praticado desde a mais remota antiguidade, sempre com mais intensidade, até chegar a esta terceira onda da globalização, embora tenha se retraído em algumas épocas, inclusive agora, numa fase de globalização fragmentada e de perspectivas sombrias na atualidade e nas próximas décadas; o último, finalmente, pelo menos o que se refere à integração regional latino-americana, também atravessa momentos de fragmentação e de recuo, não por culpa dos mecanismos próprios de abertura econômica e de liberalização comercial, mas por deficiências das políticas nacionais dos países da região.

Não pretende oferecer uma conferência ex-cathedra sobre cada um desses três temas, embora eu possa ter alguma capacidade acadêmica para fazê-lo com alguma suficiência intelectual. Prefiro traçar simplesmente algumas observações pessoais sobre cada um deles, com base em minha acumulação de conhecimento, adquirida ao longo de longuíssimos anos passados em bibliotecas públicas e universitárias e ao abrigo de minha própria biblioteca, e principalmente com base em minha própria experiência de vida, profissional como diplomata e turística como cidadão viajante, sempre que pude percorrer as estradas do mundo, em quase todos os continentes, desde muito jovem e ainda recentemente, como aposentado estudioso.

Vejamos o que eu poderia comentar sobre os três temas, reunindo um pouco do que aprendi e que venho transmitindo em meus trabalhos, artigos e livros, simples notas, muitas disponíveis em meus canais de comunicação, começando pelo blog Diplomatizzando. Também faço algumas recomendações de leituras.

(...)

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4743, 26 outubro 2024, 15 p.

Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/124291515/Governanca_global_comercio_internacional_e_integracao_regional_2024_Paulo_Roberto_de_Almeida);


 

Democracia aqui, e também acolá - Conselho Acadêmico do Livres (Estadão)

 Democracia aqui, e também acolá

Por ANDRÉ PORTELA, ELENA LANDAU, FERNANDO SCHULER, LEANDRO PIQUET, PAULO ROBERTO DE ALMEIDA, NATALIE UNTERSTELL E SANDRA RIOS SÃO CONSELHEIROS DO LIVRES

O Estado de S. Paulo.

27 de set. de 2024

Não há dúvida de que a Venezuela vive sob uma ditadura: falta de liberdade de imprensa, perseguição e assassinato de opositores, além de uma crise econômica severa que gerou o maior fluxo migratório das Américas. Para manter seu poder, Nicolás Maduro alterou a Constituição, controlou o Judiciário e as Forças Armadas, destruiu a economia e sufocou a sociedade civil, expulsando até o escritório de Direitos Humanos da ONU.

Esse cenário geral já estava claro quando o presidente Lula da Silva recebeu o ditador venezuelano com honras de chefe de Estado no Palácio do Planalto, em maio de 2023. Ou quando, em março deste ano, minimizou a situação de María Corina Machado, opositora barrada pelo regime, fazendo pouco caso do desrespeito ao Acordo de Barbados, que visava a garantir condições para a disputa. Na ocasião, ainda comparou a situação na Venezuela com a Lei da Ficha Limpa, que o impediu de concorrer em 2018, rebaixando as instituições brasileiras.

Ao enviar Celso Amorim para observar a eleição, Lula demonstrou conivência com o regime. O processo foi marcado por evidências claras de fraude. Organização dos Estados Americanos (OEA), Uruguai e Argentina, entre outros parceiros regionais, fizeram críticas duras. Assim como o governo de esquerda do Chile, liderado por Gabriel Boric, evidenciando que a defesa democrática pode estar acima de recortes ideológicos. O Brasil se apequenou.

A oposição venezuelana apresentou provas de fraude, corroboradas por observadores internacionais e pesquisadores independentes. Como resposta, a Justiça da Venezuela emitiu mandado de prisão contra o presidente eleito, Edmundo González, agora asilado na Espanha. E como se portou a nossa diplomacia? Não seguiu o mandamento constitucional, que aponta para a defesa da democracia e dos direitos humanos. Assistimos, na verdade, à minimização das violações à liberdade na Venezuela. Infelizmente, a atitude não surpreende.

Desde o final da década anterior, nossa política externa tem se deixado conduzir por concepções de mundo que nos aproximam de ditaduras. Sob o manto de uma iniciativa “contra-hegemônica” em prol do “Sul Global”, há a adoção de uma visão rasa de pragmatismo, que dimensiona incorretamente o interesse nacional. Na companhia dos maiores violadores de direitos humanos do planeta, esse processo penhora as melhores credenciais diplomáticas do Brasil – nossa confiabilidade.

O atual governo parece não entender que nosso respeito na seara internacional era fruto da defesa de princípios, por gerações, mesmo quando esta implicava prejuízos mais imediatos.

A reiterada indiferença em relação aos crimes de guerra na agressão da Rússia à Ucrânia tem sido outro triste exemplo. Ao não marcar a diferença entre agressor e agredido, o atual governo acaba por reconhecer as duas partes como iguais no conflito, em frontal contradição com a Carta da ONU e a própria Constituição brasileira, que consagram o respeito à soberania e à não intervenção nos assuntos internos de outros Estados.

Por absurdo, o presidente brasileiro chegou a sugerir a cessão do território ucraniano em troca da paz. Dessa forma, a ideia de “neutralidade” do Brasil nesse conflito é terrivelmente falsa, na medida em que nega material de socorro emergencial para um lado, e aumenta exponencialmente as importações de produtos do outro.

Há quem justifique o relativo silêncio do Brasil pelos descontos na compra de fertilizantes e óleo diesel, ou pela participação no Brics, “para discussão de problemas globais”. Será mesmo que o cidadão brasileiro aceitaria ser cúmplice das barbáries perpetradas pela agressão russa à Ucrânia em troca de uma ilusória projeção mundial?

Mesmo entre os que estão mais à esquerda do espectro político há dificuldades de justificar certos posicionamentos. Por exemplo, o que diria uma defensora da igualdade de gêneros sobre a aproximação do Brasil ao Irã – um país que persegue e mata mulheres por não seguirem à risca os códigos de “decência religiosa” dos aiatolás?

Na comunidade internacional, o governo brasileiro tem sido visto como indiferente ao conjunto básico de direitos e garantias individuais consolidados em diversos acordos subscritos e ratificados pelo Brasil. Há uma profunda incongruência da atual política externa com respeito a valores e princípios tradicionais de nossa diplomacia. Uma atitude injustificável no contexto de corrosão de regimes democráticos ao redor do mundo e aumento de impulsos autoritários em diferentes países.

Essa ambiguidade com a qual o governo federal tem tratado temas tão caros como direitos humanos poderá ter implicações domésticas. A relativização do valor da democracia no âmbito externo pode levar a uma degradação da confiança na democracia no âmbito interno. Por zelo às nossas liberdades, uma clara revisão de rumos é mais do que necessária.


Além da Hegemonia - Jeffrey Sachs (Savage Minds)

Além da Hegemonia

Jeffrey Sachs:

Savage Minds, 29 de setembro de 2024

https://scheerpost.com/2024/09/29/jeffrey-sachs-beyond-hegemony/

Estamos em uma nova fase da história humana por causa da confluência de três tendências inter-relacionadas. 

Primeiro, e mais crucial, o sistema mundial liderado pelo Ocidente, no qual os países da região do Atlântico Norte dominam o mundo militarmente, economicamente e financeiramente, acabou. 

Segundo, a crise ecológica global marcada pela mudança climática induzida pelo homem, a destruição da biodiversidade e a poluição massiva do meio ambiente, levará a mudanças fundamentais na economia e governança mundial. 

Terceiro, o rápido avanço das tecnologias em vários domínios — inteligência artificial, computação, biotecnologia, geoengenharia — perturbará profundamente a economia e a política mundial.

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PRA: A primeira tendência é pura especulação: o sistema ocidental pode estar sendo contestado por outros regimes, mas ainda não acabou. As duas outras tendências também são especulações: não se sabe bem o que ocorrerá exatamente.



O mundo doentio e perigoso das redes sociais orientadas para o maior lucro: entrevista com o criador do Orkut (Estadão)

 (Grato a Julio Hegedus pela transcrição)

Em entrevista, criador do Orkut diz que futuro das redes sociais é assutador

Por Bruno Romani, do Estadão (30/09/2024)

São Paulo, 29/09/2024 - Orkut Büyükkökten, criador do serviço que leva seu primeiro nome, está de saco cheio de redes sociais. Não que o engenheiro turco esteja cansado de um mercado que tenha ajudado a desbravar quando a internet brasileira era “mato”. Mas ele não vê com bons olhos os rumos que serviços do tipo tomaram nos últimos 10 anos, virando atalho para desinformação, polarização e degradação da saúde mental.

A mudança dos serviços coincide com o período no qual a rede social Orkut esteve desativada. Neste dia 30 de setembro, completa-se dez anos do dia em que o Google encerrou o site que ensinou a muitos brasileiros o que é rede social, comunicação online e comunidades virtuais. Ao Estadão, Orkut refletiu sobre toda as transformações pelas quais passaram as redes sociais durante esse período - e a sua avaliação não é nada animadora.

“Se você olhar para o que aconteceu com as mídias sociais hoje, elas se tornaram extremamente tóxicas. Há polarização política. Há isolamento. Há vergonha, ansiedade, depressão, problemas de saúde mental. E eles estão realmente prejudicando nossa sociedade, e especialmente crianças e a geração Z”, disse ele.

Para mudar, ele afirma que precisamos de líderes que pensam no futuro - e, talvez, a saída esteja fora de redes sociais atuais, que são turbinadas por algoritmos e viraram plataformas de consumo de conteúdo.

Na conversa, ele também lembrou dos momentos finais de sua rede social, falou sobre moderação de conteúdo e também criticou Elon Musk e Mark Zuckerberg pela maneira como administram suas redes sociais. Leia os melhores momentos abaixo.

Estadão: O que você se lembra dos seus últimos dias no Orkut?

Orkut Buyukkokten: Tínhamos mais de 300 milhões de usuários em todo o mundo. Mas a rede nunca se tornou uma grande prioridade para o Google. E tínhamos uma equipe muito pequena que operava principalmente nos EUA e no Brasil. Então, o Google decidiu tornar o elemento social uma prioridade da empresa. Eles queriam adicionar uma camada social em todos os serviços do Google, como a pesquisa, o Gmail e o Google Fotos. Foi assim que surgiu o Google Plus. Quando você pensa no Google, você pensa em pesquisa, você pensa em empresas, você não pensa em rede social. Eu sempre acreditei que uma plataforma social deve ter sua própria marca. Essa foi uma das principais razões pelas quais o Plus nunca decolou. A pessoa que estava no comando do Google Plus cancelou todos os projetos de rede social no Google, para que não houvesse conflito. E o Orkut foi um deles. Foi um momento muito triste.

Estadão: O sr. tentou argumentar para que o Google mantivesse o serviço?

Orkut: Vic Gundotra, gerente geral do Google, estava encarregado dos produtos de rede social da empresa. E o Google Plus era a visão dele. E foi uma decisão executiva dele fechar todos os produtos do Google. Eu não culparia o Google, mas foi uma execução muito ruim da parte deles. O único produto bem-sucedido que tinha um componente social era o Orkut, então eles tentaram muito forçar uma migração para o Google Plus. Obviamente não funcionou. E muitos usuários acabaram migrando para outras plataformas.

Estadão: O que o sr. aprendeu sobre moderação de conteúdo com o Orkut?

Orkut: Para ter boa moderação, você precisa de três componentes. Você precisa de tecnologia, e hoje há muita inteligência artificial (IA) e aprendizado de máquina que podem ser incorporados à moderação. O segundo é a própria base de usuários, a comunidade. Com o Orkut, sempre demos ferramentas para nossa base de usuários sinalizar e denunciar conteúdo questionável. E a terceira parte é ter moderadores humanos. E sabemos como a moderação não deve ser feita. Por exemplo, quando Elon Musk assumiu o Twitter, uma das primeiras coisas que ele fez foi se livrar de todos os moderadores. Durante a covid, houve campanhas massivas de desinformação no Facebook e no Instagram sobre vacinação.

Estadão: O Orkut teve todos os recursos necessários para moderar bem a plataforma?

Orkut: O Orkut moderava muito bem. Você não via nenhum conteúdo como está causando ansiedade, depressão ou abuso ou assédio online. Tínhamos muitas pessoas trabalhando muito duro, como engenheiros, a própria comunidade de usuários e moderadores internos que garantiam que tivéssemos um ótimo conteúdo e conteúdo saudável. As mídias sociais se tornaram extremamente tóxicas. Há polarização política. Há isolamento. Há vergonha, ansiedade, depressão, problemas de saúde mental. E eles estão realmente prejudicando nossa sociedade, e, especialmente, crianças e a geração Z. Se você olhar para o Instagram, alguns dos conteúdos criam problemas de imagem em meninas de 13 anos. E mesmo que a empresa soubesse disso, eles não tomaram as medidas necessárias para se livrar desse conteúdo. Mas a sociedade e a humanidade não têm sido uma prioridade nas corporações de mídia social. Isso trouxe o colapso da sociedade.

Estadão: O que mudou no cenário das redes sociais desde então?

Orkut: Três coisas principais mudaram bastante. A primeira é óbvia: A maioria do consumo de redes sociais está em nossos smartphones. Naquela época, as pessoas usavam desktops ou laptops para acessar o Orkut. A segunda coisa é que as pessoas passavam o tempo compartilhando, postando e enviando mensagens. E foi assim que eles se conectaram, foi assim que eles criaram comunidades, e foi assim que eles promoveram um ambiente saudável. Hoje, você fica rolando o feed e navegando em conteúdo sem sentido. A terceira coisa que mudou foi o surgimento do vídeo. Naquela época, eram textos e fotos. E agora que temos esses dispositivos poderosos é ótima banda larga, vemos as pessoas postando e consumindo muito vídeo.

Estadão: Agora há também a mediação de conteúdo por algoritmos…

Orkut: Exatamente. Esses algoritmos são otimizados para engajamento e monetização. Com o Orkut, o feed era cronológico, certo? Hoje, é reordenando, dependendo se aquele conteúdo específico gera reação. Eles escolhem as postagens que geram ódio e raiva. Então, as redes estão espalhando loucamente ódio, raiva e desinformação. Estão espalhando negatividade porque lucram com a negatividade. Eles lucram com o ódio. E essa é uma das razões pelas quais as redes se tornaram tão tóxicas. É a priorização da monetização sobre a sociedade.

Estadão: Ao criar o Orkut, o sr. imaginava que redes sociais poderiam ser usadas para corromper democracias em todo o mundo?

Orkut: As redes sociais hoje são administradas por aproveitadores. Eles só se importam com dinheiro e poder, certo? Quando você tem um tipo de plataforma que incentiva a polarização política, faz isso porque ela gera mais receita. Esse é o mal dessas pessoas que estão no comando. Com o Orkut, sempre garantimos que nossos usuários estavam felizes, nossas comunidades eram saudáveis. Não tínhamos conteúdo ilegal. O conteúdo era moderado diretamente. A maioria das pessoas nem se lembra que havia anúncios no Orkut, e ele era extremamente lucrativo. Mas sempre foi para melhorar a experiência.

Estadão: Estou com a sensação de que o sr. não está muito feliz com a maneira como Elon Musk e Mark Zuckerberg estão administrando suas plataformas atualmente.

Orkut: Eu acho que ninguém está feliz. Você acha que as pessoas estão felizes com como o Facebook, Instagram, TikTok e Twitter são administrados? Acho que não.

Estadão: O sr. se sente feliz por ter deixado o Orkut antes da chegada da ‘era sombria’ das redes sociais, quando a maiorias dos problemas dos serviços começaram a acontecer?

Orkut: Eu saí por causa da era sombria. Eu vi a era sombria chegando, então eu saí do Google para focar em criar uma plataforma que é sobre positividade, conexão e comunidade. Isso é ótimo. Na Hello, nosso maior desafio foi: Podemos criar uma plataforma que realmente faça as pessoas felizes e promova conexão e comunidade? Eventualmente nós acertamos. As mídias sociais são projetadas em torno de publicidade, corporações e lucro. Não são otimizadas em torno de felicidade, positividade, reunir pessoas e criar comunidade. E é por isso que tem sido tão prejudicial.

Estadão: Você usa alguma rede social atualmente?

Orkut: Claro, estou na maioria das redes sociais.

Estadão: Qual é a sua favorita?

Orkut: Eu não tenho uma favorita, e é por isso que estou lançando uma nova.

Estadão: Há espaço para novas redes sociais?

Orkut: Claro. A geração Z está procurando experiências autênticas. Eles não gostam das plataformas atuais. Os jovens agora não tiram selfies, por exemplo. É muito fascinante.

Estadão: O sr. está acompanhando a disputa entre Elon Musk e o Supremo Tribunal Federal aqui no Brasil?

Orkut: Claro.

Estadão: Qual é a sua opinião?

Orkut: Eu não aprovo a maneira como Elon administra o Twitter porque é só monetização. E ele age como se não se importasse se há terrorismo, crueldade animal, pornografia infantil. Ele não parece se importar com essas coisas. Porque se ele realmente se importasse, ele não teria se livrado da equipe de moderação. É muito importante se importar com a comunidade, ter empatia e compaixão. Eu não acredito que Elon esteja focado nas coisas certas. Não surpreende que o X tenha sido banido.

Estadão: Qual é o futuro das redes sociais?

Orkut: O futuro das redes sociais é muito assustador agora por causa desse monte de IA. Tivemos um salto gigante com o ChatGPT e a IA generativa. Resultado: um monte de fotografias no Facebook geradas por IA. A maioria das pessoas nem consegue diferenciar. Se você olhar para o Instagram, há muitas contas falsas onde todas as imagens são geradas por IA. E elas estão respondendo a comentários, que também são gerados por IA. E estamos recebendo mais e mais spam de IA. Você quer falar com máquinas quando está em uma plataforma social? Ou você quer falar com pessoas reais? E estamos apenas vendo a ponta do iceberg. Vai ficar muito pior no futuro próximo. Veja a pesquisa do Google. Parece estar muito pior comparado 10 anos atrás. Mas não é o algoritmo que está pior. O algoritmo é melhor. Mas a internet está muito pior agora porque há tanto spam e desinformação. Reputação vai ser uma das coisas mais importantes nas mídias sociais daqui para frente.

Estadão: Há alguma luz no fim do túnel?

Orkut: Sim. Precisamos de líderes que realmente se importem em criar um futuro melhor. Eu me importo com o futuro. Eu me importo com a sociedade. Eu me importo com nossos filhos. Eu me importo com nossos netos. Você quer que seus filhos conversem com chatbots no smartphone? Ou você quer que eles saiam e brinquem com outras crianças? Precisamos nos certificar de que melhoramos o capital social. E melhoramos o capital social passando tempo com as pessoas. Precisamos sair para jantar e conversar durante as refeições. Precisamos nos encontrar pessoalmente. Se você olhar para a geração X e os millennials, a principal forma de comunicação era por chamadas telefônicas, não pelo smartphone. Para a geração Z, a comunicação é online. E precisamos mudar isso. Há muitas coisas que podemos fazer como sociedade e também como governo. E muitas dessas coisas são fáceis. Por exemplo, a idade de uso do telefone celular precisa ser aumentada. Jovens de 10 anos não deveriam usar celular ou TikTok. Podemos proibir telefones celulares nas escolas, certo? O que podemos fazer também é apoiar o jornalismo. Isso é muito importante.

Estadão: E qual é o futuro para você? Há chances do Orkut retornar?

Orkut: Não posso falar porque não anunciei nada oficialmente. Mas estou levando toda a experiência que tive com as quatro plataformas sociais que lancei: Club Nexus, InCircle, Orkut, Hello. E vou lançar uma nova rede social que é toda otimizada em torno de comunidade e conexão, mas não tenho uma data.


Putin is chasing down every dissident, anywhere in the world - Lilia Yapparova (NYT)

Putin Is Doing Something Almost Nobody Is Noticing

Ms. Yapparova is an investigative reporter at Meduza, an independent Russian news outlet. She wrote from Riga, Latvia.


In November 2022 my editors asked me to be careful about what I ate and stop ordering takeout. Initially, I didn’t think much of it. But I soon realized the importance of their advice when, just one month later, my colleague Elena Kostyuchenko discovered she had been poisoned in Germany, in a probable assassination attempt by the Russian state.

Such stories have become routine. Last year an investigative journalist, Alesya Marokhovskaya, was harassed in the Czech Republic; in February the bullet-riddled body of a Russian defector, Maxim Kuzminov, was found in Spain. In both cases, the Kremlin was assumed to be involved. Russian opposition figures know well that even in exile they remain targets of Russia’s intelligence services.

But it’s not just them who are in danger. There are also the hundreds of thousands of Russians who left home because they did not want to have anything to do with Vladimir Putin’s war or were forced out, accused of not embracing it enough. These low-profile dissenters are subjected to surveillance and kidnappings, too. Yet their repression happens in silence, away from the spotlight and often with the tacit consent or inadequate prevention of the countries to which they have fled.

It’s a terrifying thing: The Kremlin is hunting down ordinary people across the world, and nobody seems to care.

I’ve been gathering information about Russia’s targeting of exiles since the start of the war in Ukraine. My sources range from people who survived abductions and surveillance to the leaders of Russian diasporas and the few human rights activists helping them. Many spoke to me on the condition of anonymity in order to discuss Russian repression without fear of reprisal. The Kremlin, of course, denies any involvement, mostly saying that it cannot comment on what is happening to people in other countries. But the evidence is piling up.

There’s a vocal coach arrested in Kazakhstan at Moscow’s request who went mad in a local jail. A caregiver for the elderly detained in Montenegro on Russian orders, carried out by Interpol. A schoolteacher detained by Armenian border guards after telling her students about Russia’s crimes in Bucha. A toy shop owner, an industrial climber, a punk rocker — these are some of the people caught in the Kremlin dragnet, all over the world.

And it is a truly global operation. In Britain exiles are being followed, and London opposition events are crawling with agents “who stick out like a sore thumb,” Ksenia Maximova, an anti-Kremlin activist there, told me. Russian intelligence officers have been sent to monitor the diasporas in Germany, Poland and Lithuania, according to Evgeny Smirnov, a lawyer who specializes in treason and espionage cases. Other emigrants have been stalked and threatened in Rome, Paris, Prague and Istanbul. The list goes on.

Some of the methods are especially insidious. Lev Gyammer, an exiled activist in Poland, has been receiving texts for two years, supposedly from his mother. “Levushka, son, I miss you so, when will you visit me?” Another reads, “Son, I’m waiting for you. Come back soon.” He ignores them: His mother, Olga, died five years ago. 

Another Russian expatriate — whose elderly parents are very sick — chose to believe it when his parents’ nurse of many years told him, over the phone, of a fire in their apartment. He rushed home from Finland and was immediately taken to prison and tortured, according to Mr. Smirnov. Of course, there never was a fire.

Those who cannot be tricked back to Russia are subjected to surveillance. An employee of an organization that supports L.G.B.T.Q. people was walking her dog around her neighborhood in Tbilisi, Georgia, when she noticed that she was being followed by a drone. It was an evening in early May — two years since she’d fled Russia with the rest of her colleagues. She hurried back to hide in her apartment but could still hear the buzzing. She followed the noise to the balcony and came face to face with the device, hanging there within arm’s reach.

Host countries are often complicit. In some places, local police officers even conduct surveillance on behalf of their Russian colleagues. In Kazakhstan local special services are helping Russia catch draft dodgers. In Kyrgyzstan the police are using facial recognition technology to search for those wanted by the Kremlin, forcing people to leave cities for the mountains, according to a host of advocacy groups. When not assisting Russian surveillance, the local authorities are sometimes slow to stop it.

This was the case with Sergei Podsytnik, a journalist investigating military links between Russia and Iran. In March of this year, still elated by the news that a drone factory he’d uncovered was getting sanctions imposed on it, he was returning to his room in Duisburg, Germany. Before going into exile, he was part of Alexei Navalny’s opposition network and picked up the habit of making sure he wasn’t being followed. Outside his door, Mr. Podsytnik casually glanced over his shoulder — and saw, peeking out from around the corner, a stranger following his every move.

One of Mr. Podsytnik’s colleagues also noticed that he was being watched by the same man, but it took them two appeals to secure an investigation from the local authorities. The police in Duisburg simply could not comprehend that it was possible for Russia-sponsored surveillance to be happening in their town, it seemed. The case was soon closed without finding the offender, which might’ve been a mistake. Duisburg is one of the places, according to the Dossier Center, a London-based research organization, from which agents of the Russian military intelligence unit have carried out sabotage abroad.

Mr. Podsytnik is safe now, but not everyone has been so lucky. Exiles who’ve experienced similar surveillance sometimes end up disappearing without a trace — be it from the doorstep of an embassy in Armenia or a rural church in Georgia — only to turn up in Russian detention centers. It is impossible to gauge how often this is happening. Yet we can assume, my sources say, that there are many more cases like that of Lev Skoryakin, who was taken from his hostel in Kyrgyzstan last October, shoved into a car and deported to Russia. We just don’t know about them.

Many Russians abroad are vulnerable and lack protection. In the summer of 2023, civil society groups petitioned the European Parliament to help with the legalization of people who refused to fight in Mr. Putin’s army; there was no meaningful response. Political asylum is routinely denied not only to draft dodgers but also to activists — sometimes “with monstrous arguments that the situation in Russia is normal and you can count on a fair trial,” Margarita Kuchusheva, an immigration lawyer in Cyprus, told me.

Antiwar exiles are supported by a handful of human rights organizations, perennially on the brink of closing because of lack of funds. Russia, by contrast, lavishes resources on the exiles as it accuses them of treason and terrorism and, driven by paranoia, pursues them all over the world. They are at immediate risk. But the greater danger is that the world forgets altogether about these people — and why they left their country in the first place.

Lilia Yapparova (@lilia_yapparova) is a special correspondent at Meduza, an independent Russian news outlet.

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