Peço licença, e desculpas, aos meus leitores, para escapar do meu temário habitual -- relações internacionais, política externa, questões culturais em geral, livros em particular, neste blog e nos auxiliares -- para reproduzir uma carta de um agrônomo, doublé de político, que desiste de continuar na atividade parlamentar.
Lamento, sinceramente, mas apoio a atitude no Xico Graziano, pois ele deve estar decepcionado com muita coisa na vida política e no cenário nacional. Eu também estou.
Por isso mesmo, apenas transcrevo sua carta de "desistência" -- mas que é ao mesmo tempo um chamado a continuar a luta, por outros meios --, sem aduzir maiores comentários ao seu gesto.
Apenas minha solidariedade.
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Leia a seguir a carta endereçada pelo Xico Graziano ao PSDB/SP, abdicando de sua candidatura a Deputado Federal. Nela você encontrará as razões que motivaram esse gesto.
Agrobrasil
Venho, respeitosamente, comunicar ao PSDB a decisão de não me candidatar nas próximas eleições. Honra-me muito ser Deputado Federal pelo PSDB, mandato que ostento por duas legislaturas. Julgo que participar da política é obrigação daqueles que, como eu, desejam melhorar o país. E o caminho proposto pela social-democracia, o das mudanças consentidas, sempre me pareceu o mais correto para buscar a justiça social. Sou daqueles que militam na esquerda desde a juventude sem jamais abandonar os valores democráticos, o respeito à liberdade individual. Odeio o autoritarismo, seja de direita ou de esquerda.
Aprendi com Franco Montoro que o exercício da cidadania exige a participação. Confesso, entretanto, que o momento político não tem sido estimulante para a atividade parlamentar. O Congresso Nacional, sabidamente, nunca gozou de muito prestígio, o que é péssimo para a democracia. Recentemente porém, após a ascensão do PT ao poder, a desilusão fez aumentar o descrédito. O "mensalão" comandado pela quadrilha instalada no Planalto arrasou a imagem da Câmara dos Deputados. Por sua vez, esta não soube dar respostas à altura da cobrança popular. Inexiste agenda parlamentar em Brasília. Nada se discute, nem se vota. Uma pasmaceira total.
O sistema eleitoral brasileiro, infelizmente, não fortalece os partidos políticos nem promove a boa prática partidária. O voto individual nos candidatos torna adversário justamente os melhores companheiros de partido. Isso tem sido terrível na carreira política de cada um de nós. A cada eleição, o jogo do poder constitui uma espécie de mercado de votos, consumindo farta energia e, claro, exigindo muito dinheiro, dos candidatos proporcionais. O ambiente eleitoral favorece os poderosos e os demagogos, que se impõem iludindo o povo, carente e sempre esperançoso. A lista partidária, a fidelidade e o voto distrital misto poderiam, tal como nos países desenvolvidos, sanar esse terrível problema da democracia representativa no Brasil. Aí, venceriam as melhores idéias e propostas, haveria maior identidade dos partidos políticos. Mas a tão falada reforma política tarda a sair do papel. Um dia ela virá.
Deixo a vida parlamentar mas não abandonarei, de forma nenhuma, a política, nem mesmo a vida partidária. Continuarei me dedicando à formação doutrinária e à formulação das propostas do PSDB, militando na organização da agenda de debates da social-democracia, através do ITV, em Brasília, trabalho que estimula minha pedagogia. O trabalho de conscientização dos jovens será fundamental para o futuro da democracia brasileira.
O enorme desgaste da política rouba credibilidade daqueles que mantém outras atividades profissionais. Sempre temi depender da política para viver, cedendo às suas tentações vis. Minha história é a de professor, com carreira na Unesp. Minha luta, uma verdadeira proposta de vida, liga-se à valorização do campo. Criado numa fazenda, defendo o fortalecimento da agropecuária. Agrônomo, entendo que a terra é o berço fundamental da riqueza da sociedade. Aprendiz de comunicador, descobri que o preconceito contra o campo somente se vencerá pela batalha da informação.
Na sociedade de massas, agora globalizada, o grande desafio dos agrupamentos sociais reside na sua capacidade de expressão e comunicação. Nada tem sido mais dramático para os agricultores brasileiros que seu isolamento da opinião pública. O Brasil despreza a força de sua agricultura. E ninguém valoriza o que desconhece. Isso precisa mudar.
Na televisão, nos jornais, no rádio, nas conferências públicas e nas aulas da Academia, no marketing agrícola, estarei sempre defendendo as mesmas idéias que me levaram à Câmara dos Deputados. Muda a forma, mas permanece o conteúdo.
Solicito a compreensão de meus amigos e correligionários, a quem agradeço por tudo. Não é uma decisão fácil. Preocupa-me o vazio de liderança, lamento perder a representação daqueles que sempre acreditaram em meu trabalho. Talvez seja uma passagem, um tempo na busca de amadurecimento humano e político.
O PSDB apresenta excelentes candidatos para a Câmara dos Deputados. A alguns terei condições, modestamente, de ajudar na árdua jornada eleitoral. Em São Paulo, farei o que estiver ao meu alcance para eleger José Serra, o mais preparado dos políticos nacionais. No Brasil, a moralização da vida pública recebe a candidatura de Geraldo Alckmin. O povo decidirá sobre seu futuro.
Manterei comigo, sempre, os valores que trago do berço familiar: a honradez e a simplicidade. Mais que qualquer coisa, o traço do caráter me levou a admirar dois políticos extraordinários, com quem aprendi boas lições: Mário Covas e Fernando Henrique. Nutro-me do exemplo de outro grande homem, Sérgio Mota, para manter-me obstinado, cultivando meu idealismo, uma vontade de ajudar a construir uma grande Nação, mais justa e fraterna.
Nós conseguiremos, tenho certeza.
Receba os cumprimentos do
Xico Graziano
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