domingo, 24 de junho de 2007

747) Mais um pouco de "cancioneiro" português: Sergio Godinho

Os Conquistadores
Sérgio Godinho

Lá vais tu, caravela, lá vais
e a mão que ainda me acena do cais
dará a esta outra mão a coragem
de em frente, em frente seguir viagem,

Será que existe mesmo o Levante?
Haverá quem um dia nos cante?
ando às ordens do nosso infante,
e cá vou fazendo os possíveis

Ó ei, deita a mão a este remo
além, são só paragens do demo
quem sabe, é só um abismo suspenso
só vendo, mas o nevoeiro é denso

Será que existe mesmo o Levante?
Haverá quem um dia nos cante?
ando às ordens do nosso infante
e cá vou fazendo os possíveis

Mas parai, trago notícias horríveis
parai com tudo,
já avisto os nossos conquistadores

Vêm num bote de madeira talhado em caravela
com um soldado de madeira a fingir de sentinela
com uma espada de madeira proferindo sentenças
enterrada que ela foi no coração doutras crenças
enterrada que ela foi, sua sombra era uma cruz
exigindo aos que morriam que gritassem: Jesus!
com um caixilho de madeira imortalizando o saque
colorindo na vitória as armas brancas do ataque
até que povos massacrados foram dizendo: Basta
até que a mesa do Comércio ainda posta e já gasta
acabou como jangada para evacuar fugitivos
da fogueira incendiada pelos outrora cativos
e debandou à nossa costa a transbordar de remorsos
mas a rejeitar a culpa e ainda a pedir reforços.


Sérgio Godinho é uma espécie de Chico Buarque de Portugal. Eu prefiro o Sérgio ao Chico no quesito "casamento entre literatura e história". É claro que o Chico também é muito bom nisto mas creio que o Sérgio o supere... talvez a diferença esteja no tipo de público a que cada um se dirige. Eu diria que os portugueses (as portuguesas são insuperáveis!) cultos são muito mais cultos do que os brasileiros cultos... e certamente são também mais arrogantes e pedantes. Mas basta a gente encarar que eles ficam mansinhos de gaiola...
(Comentário de Maria do Espirito Santo Gontijo, BH-MG)

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