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domingo, 29 de novembro de 2009
1555) Cuba: uma economia de penuria
Mauricio Vicent
O Globo, 20/11/2009
HAVANA. Cuba mergulha de novo na escuridão da crise. A falta de liquidez é agora asfixiante.
Nos últimos nove meses, o intercâmbio comercial caiu em 36% — e 80% desta queda são nas importações. O desabastecimento nas casas de câmbio é geral e há cortes na energia elétrica para evitar os apagões.
Algumas empresas fecharam. O governo começou a eliminar subsídios e gratuidades sociais e pede à população que aperte o cinto porque as restrições em 2010 serão maiores. O Estado só manterá a gratuidade em saúde e educação.
As convocações à economia e à austeridade são normais e cíclicas em Cuba. Mas desta vez a situação parece pior. A condição financeira é grave. “Muito grave”, assegura um economista que não deseja publicidade. Confirma o que se sabe há meses entre os homens de negócio e as embaixadas: já são centenas os empresários estrangeiros que não podem transferir dinheiro depositado em suas contas em bancos cubanos. Não há fundos. Calcula-se que em torno de US$ 600 milhões imobilizados. Mas essa é só uma estimativa.
O próprio Raúl Castro reconheceu ao chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos, que a situação é muito delicada. O presidente cubano disse que o país cumprirá os compromissos, mas advertiu que não há soluções imediatas e será necessário negociar prazos caso a caso.
Segundo economistas independentes, o Produto Interno Bruto poderia decrescer, após vários anos de resultados positivos.
As autoridades previam um crescimento do PIB em 2009 de 6%, mas depois recalcularam em 1,8%.
Segundo o governo, vários fatores influem na crise atual: a recessão internacional; a queda dos preços de seus produtos exportados, enquanto sobem os de alimentos e combustíveis que importam; as sequelas dos furacões no ano passado, que deixaram perdas equivalentes a 20% do PIB; e os efeitos do embargo americano. Não se menciona um assunto que para muitos é vital: a ineficiência da economia socialista e a falta de reformas que reativem a produtividade. As importações cubanas, que no ano passado chegaram a US$ 14 bilhões, este ano se reduziram a US$ 4 bilhões.
Nas lojas em moeda estrangeira — só elas dispõem de artigos de primeira necessidade, de azeite a xampu — cada vez há menos produtos.
Cada empresa e cada província segue um severo plano de consumo de energia. Nas lojas e escritório públicos é proibido usar o arcondicionado durante grande parte do dia, e empresas não lucrativas foram fechadas.
O governo começa a desmantelar o sistema de subsídios. Depois da eliminação dos bandejões em quatro ministérios, a experiência se estendeu aos 24.500 restaurantes operários que existem em todo o país. Na semana passada, saíram da caderneta de racionamento a vagem e a batata, que agora são vendidas por um preço muito mais alto
3 comentários:
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Ola visitei seu blog e gostei muito e gostaria de convidar para acessar o meu também e conferir a postagem de hoje: Meditações “Latino”-Americanas
ResponderExcluirSua visita será um grande prazer para nós.
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Atenciosamente,
Sebastião Santos.
A partir do texto acima é cada vez mais claro que esse tipo de socialismo implantado em Cuba é totalmente precário. Não há como um país que se diz socialista cortar grande maioria dos subsídios à população. Precariedade na liquidez bancário nos faz lembrar do tempo da gênese republicana no Brasil e a implantação de trabalho assalariado onde não havia liquidez bancária para pagamento dos trabalhadores causada, às vezes, pela transferência fundos do sul ao norte do país entre a safra e entresafra. Cuba, ao contrário da Rússia durante a crise de 29, é o país que está sofrando mais arduamente com a crise capitalista. Surge uma pergunta: Países que se dizem socialistas deveriam sofrer mais que os capitalistas em uma crise capitalista?
ResponderExcluirCarlos Andre,
ResponderExcluirAs crises capitalistas atingem as economias (supostamente) socialistas apenas por alguns canais especificos, nao necessariamente os financeiros, pois esses paises mantem poucas relacoes financeiras com os mercados capitalistas (a nao ser aqueles que eram muito dependentes do financiamento externo, como era o caso da Polonia e da DDR socialistas).
No caso de Cuba e da finada URSS apenas pela retracao de mercados de seus (poucos) produtos de exportacao, geralmente materias primas, e pela queda nos precos das commodities exportadas (petroleo no caso da Russia, niquel no caso de Cuba).
Eles deveriam, em principio, sofrer menos, mas as economias socialistas sao tao esquizofrenicas que tudo pode ocorrer...
Paulo R Almeida