sábado, 16 de janeiro de 2010

1698) Haiti: um artigo iconoclastico

Haideti, país desolado!
Mario Guerreiro
(16.01.2010)

Como todo mundo sabe, o Haiti não é uma ilha como aquela que seus nativos chamavam de Cubanacan e hoje se chama simplesmente Cuba, La Perla del Caribe. O Haiti não é uma ilha: é metade de uma, a outra metade chama-se República Dominicana, que nada tem a ver com a Ordem Dominicana de Frei Betto, grande teólogo da opressão e amigo pessoal de Fidel Castro.
A ilha em que ficam os dois países tem outro nome: Hispaniola, nome este dado por Colombo ao aportar por aquelas plagas navegando para o Ocidente, mas para nunca chegar ao Oriente... Teoricamente, al Levante por el Poniente era um princípio corretíssimo, porém na prática a teoria foi outra, por causa da América Central interpondo-se entre o Atlântico e o Pacífico...
Como nem todo mundo sabe, o Haiti pertenceu durante muito tempo à douce France, de quem herdou a péssima administração e a língua oficial do país, convivendo com um dialeto créole, assim como New Orleans convive com outro. Entra o inigualável Fats Domino cantando Jambalaya...

Good-bye Joe, me gotta go, me o my o.
Me gotta go pull the pirogue down the bay o.
Jambalaya and a crawfish pie and a fillet gambo,
‘Cause tonight I’m gonna see my cher ami o.


Compare-se o Haiti com Barbados, ilha do Caribe e ex-colônia britânica, para que se tenha uma boa idéia da vantagem de ser colonizado pela Inglaterra e não pela França. Até Karl Marx elogiava o espírito de entrepreneurship e a eficiência administrativa britânicos na Índia...
Importa saber que o Haiti ficou independente da França em 1804, antes mesmo do Brasil ficar independente de Portugal em 1822. O vizinho da República Dominicana foi um dos primeiros países do Novo Mundo a ficar independentes de países colonizadores europeus.
No entanto, é difícil dizer se sua independência foi um bem ou um mal; pois, apesar da sua péssima colonização de orientação puramente extrativista, enquanto os franceses estavam por lá havia ao menos um esqueleto administrativo e um mínimo de ordem, sem a qual homo homini lupus, como já dizia o doce e sereno Thomas Hobbes.
Este pequeno país com sua população formada de uma maioria de negros africanos, trazidos pelos franceses para plantações de cana e de fumo – culturas predominantes em todo o Caribe – é o país mais pobre da América Latina, conseguindo a proeza de ser mais pobre do que a Bolívia - túmulo de São Che Guevara cultuado por Primevo Inmorales - e a Cuba de El Coma Andante, atualmente El Coma Acostante.
Não bastasse a miserabilidade em que vive o povo haitiano – a não ser os privilegiados membros de sua Nomenklatura não-comunista – ele tem sido governado por ditaduras crudelíssimas, como as dos insaudosos Papa Doc e seu filho, Baby Doc, devidamente servidos pela Gestapo caribenha: os Ton Ton Makut, verdadeiros assassinos de aluguel alugados pelos respectivos facínoras.
Recentemente, o último déspota inesclarecido foi apeado do Poder e o Haiti teve uma curta fase de tumultos e arruaças com as gangues dos Monstros e dos Canibais – assim se autodenominavam eles - em sangrentos conflitos e incessantes atitudes predatórias dos bens públicos e privados. Todavia, com o envio de uma força-tarefa de paz da ONU, liderada pelo Exército Brasileiro, estava sendo pacificado, até onde se faz possível sê-lo.
Só não sei dizer por que estranha razão o Comandante Supremo das Forças Armadas – que vem a ser o mesmo que o Presidente do Brasil - enviou tropas para aquele país gastando dinheiro dos contribuintes e colocando em risco a vida de militares brasileiros em conflitos com gangues urbanas, quando tem se recusado a empregar o Exército para combater nossas quadrilhas aqui mesmo no Brasil.
Ora, na realidade, combater criminosos aqui ou no Haiti é função da polícia de lá ou de cá e não atribuição constitucional das Forças Armadas cuja função precípua é a segurança nacional. Só consigo vislumbrar um motivo, não uma razão, para o envio de tropas ao Haiti: a tolíssima pretensão de conquistar votos de países do terceiro mundo para um assento permanente do Brasil no Conselho de Segurança da ONU. Se for mesmo isso, pode esperar sentado...
Mas além da catástrofe social - de natureza política, econômica e cultural - recentemente o Haiti foi devastado por uma catástrofe natural: terremotos de até 7.8 na Escala Richter, cujo limite que é 9, atingiram o país, principalmente Port au Prince, a capital do mesmo, com milhares de mortos e feridos, hospitais em escombros, falta de luz e água, ameaça de doenças, etc. – uma indizível desgraça que não poupou nem mesmo o belo palácio do governo haitiano em estilo colonial francês!
Estava eu assistindo o noticiário O’Reilly Factor no canal da Fox quando apareceu uma ampla reportagem sobre a tragédia haitiana. Ela dizia que diversos países, inclusive o Brasil - que já perdeu 14 soldados mortos pelos terremotos - estavam enviando ajuda de todos os tipos para o Haiti, numa bela demonstração de solidariedade global, sem nenhuma dúvida.
O âncora do noticiário entrevistou várias pessoas. Considerando que o governo americano e ONGs, além de água, comida, assistência médico-hospitalar, especialistas em remoção de escombros, etc, mandou também cerca de 7 milhões de dólares de ajuda emergencial ao Haiti, o âncora não se cansava de repetir - visivelmente indignado! - a mesma pergunta para quase todos os entrevistados: I only want to know where is the money [Só quero saber onde está o dinheiro], ou seja: “Onde foi parar toda aquela grana?”
Na realidade, uma indagação puramente retórica, pois a resposta ele já estava careca de saber: para os bolsos das corruptas autoridades haitianas.
É assaz desolador e revelador da miséria espiritual humana, porém dolorosamente verdadeiro: não é a primeira vez nem será a última que políticos e funcionários públicos corruptos constroem palácios e se banqueteiam nos mesmos com recursos destinados às vítimas de uma grande tragédia.
Neste particular, todos nós conhecemos essa velha estória. Afinal de contas, o Caetano Veloso até que tinha razão: o Haiti é mesmo aqui!

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