Bem, agora já sei o que vou buscar nas bancas da próxima vez que passar por Paris, mesmo no aeroporto:
LE MENSUEL
O que o Monde publicou de melhor
Por Leneide Duarte-Plon, de Paris
Observatório da Imprensa, 2/3/2010
Após seis meses de estudos e testes, o jornal Le Monde lançou em fevereiro um novo produto, como diriam os especialistas de marketing. Nós, os antigos jornalistas, diremos que ele lançou uma revista mensal, destinada a ocupar um lugar privilegiado na paisagem midiática francesa. Otto Lara Rezende falava do choque que teve quando ouviu pela primeira vez falar do jornal como "produto". Era na década de 1970.
Uma das diversas publicidades de página inteira anunciando a nova revista mensal, chamada simplesmente Le Mensuel, apresentava um pequeno pote de cosmético com o nome "La crème du Monde". A revista é exatamente isso: o que o jornal publicou de melhor no mês anterior, la crème de la crème.
"Muitas pessoas se interessam pelo conteúdo do Monde e pela expertise dos nossos jornalistas, mas não têm tempo ou possibilidade de comprá-lo todos os dias. Propomos agora essa seleção mensal de nossos melhores artigos. Além do mais, é um belo objeto, parece um livro, com belas fotos, uma nova forma de leitura diferente do cotidiano, da internet ou de um semanário. Nunca se deve parar de inventar e inovar", ressalta a nova diretora de redação do Le Monde, Sylvie Kauffmann.
As palavras e as fotos
As cartas de leitores, comentadas pela mediadora do jornal Véronique Maurus, mostram que o mesário veio ocupar um espaço que existia para ele. O formato pequeno (23,5cm x 18,5cm) foi muito elogiado, a beleza, mas, principalmente, a proposta: as melhores reportagens, os melhores perfis e os melhores artigos do mês anterior, embrulhados para presente, isto é, ilustrados com muitas fotos coloridas e em preto e branco. Très chic, mas sobretudo très intelligent esse Mensuel.
"Um pequeno formato para uma grande ambição" foi como o diretor do Monde, Eric Fottorino, apresentou a revista que vai ser útil em especial ao público que não compra o jornal todos os dias, seja por que motivo for, e com 5,90 euros (cerca de 16 reais) vai ter 120 páginas para se informar sobre o que se passou na França e no mundo, com análises pertinentes e o famoso conteúdo do "diário de referência". Os incondicionais do jornal poderão fazer uma coleção fácil de guardar.
Le Mensuel oferece todas as qualidades do diário. "Ele é a quintessência do trabalho de uma redação de 300 jornalistas com seus correspondentes nos quatro cantos do mundo: Nova York, Washington, Moscou, Pequim, Xangai, Johanesburgo, Rio de Janeiro etc. Ele é um sinal dirigido a todos os que amam a escolha das palavras e o peso das fotos", escreveu Fottorino no editorial do número 1.
Sensação de alívio
A informação do Mensuel é veiculada por um texto reconhecidamente de qualidade, mas o leitor ganha ainda como adicional uma ampla informação visual que o jornal não pode dar por problema de espaço: a fotografia tem um lugar privilegiado, pois a revista optou por valorizar a imagem fotográfica em quantidade e qualidade. Quanto aos textos selecionados, eles são publicados na íntegra com a data em que saíram no jornal.
"Queremos oferecer um objeto atraente, mais fácil de colecionar e menos intimidante para os jovens leitores. Dessa forma, damos uma segunda vida aos artigos oferecendo um condensado do mês, como um digest", explicou o responsável editorial da revista, Jérôme Gautheret.
Le Mensuel foi saudado por um dos inúmeros leitores que escreveram ao jornal como uma excelente idéia para quem perde o cotidiano por motivo de viagem. Pude experimentar a mesma sensação de alívio. Os inveterados leitores, como eu, que lamentam perder a leitura do jornal quando estão no estrangeiro – falo da versão em papel, um vício da nossa geração – terão o consolo de saber que em Paris Le Mensuel nos aguarda nas bancas com la crème du Monde.
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