quinta-feira, 6 de maio de 2010

Nunca antes neste pais...

Não, não é de quem vocês estão pensando que vou falar. Deixemo-lo em paz (ainda que ele poderia ter dito as mesmas coisas com outras palavras, provavelmente piores, e racistas, ainda por cima).
Não, vou falar de outra pessoa, diferente daquela acima sugerida, mas igualmente inacreditável (não tanto quanto...).
Nunca antes neste país um jornalista exerceu com tamanha sem-cerimônia seu direito de ser idiota, "desinformador", mistificador e simplesmente calhorda, como esse que vai abaixo, aliás muito conhecido e citado.
Vejam como eu sou ingênuo: eu pensava que a crise grega era de responsabilidade dos governantes, que tinham vivido durante muito tempo com o dinheiro alheio, aproveitando-se da taxa de juros do euro, mais baixa do que jamais seria a do seu país, que eles tinha escondido as contas públicas, enganado todo mundo -- o BCE, o FMI, os credores e até, vejam vocês, o povo grego -- enfim, que eles eram os únicos responsáveis por sua desgraça.
E agora, graças a esse idiota de jornalista eu descubro que os culpados por essa tragédia grega, a maior desde Ésquilo e Sófocles, são os habituais "piranhas" de Wall Street, os especuladores, os banqueiros gananciosos, os mercados financeiros, enfim, os culpados de sempre.
Como é que eu não fui descobrir isso antes???!!!
Se não fosse esse idiota de jornalista eu nunca teria desconfiado que os governantes gregos foram vilmente enganados por essa malta de traficantes do sistema financeiro internacional.
Como somos ingênuos...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 6 de maio de 2010)

O arrastão financeiro
CLÓVIS ROSSI
Folha de São Paulo, 6 de maio de 2010

LONDRES - Ataque especulativo tornou-se palavra branda demais para descrever o que está acontecendo na Europa. Já é um "arrastão", desses que vira e mexe acontecem nas praias do Rio ou nos condomínios de São Paulo.
A gota de sangue que pingou da Grécia (e ontem pingou literalmente, não figuradamente) despertou o apetite incontrolável das piranhas do mercado financeiro. Não há mais -se é que houve em algum momento- a menor "rationale" para o que está ocorrendo.
É só ler o que um dos operadores de mercado, Juan Luis García Alejo, do Inversis Banco, disse ao jornal espanhol "El País": "É impossível impor a calma nos mercados neste momento. Quando a Grécia não tinha um plano de ajuste, era castigada; quando o aprovou, era muito pequeno; e agora, que o endureceu, os investidores dizem que não acreditam nele".
Não é pequeno o estrago, de que dá prova frase de Angela Merkel, a chanceler alemã, em geral pouco dada a arroubos retóricos: "Estão em jogo o futuro da Alemanha e o futuro da Europa".
Surpreende o arrastão? A mim, nadica de nada. A ganância desenfreada tornou-se o combustível que move uma parte importante do setor financeiro.
O que surpreende é o silêncio de governantes, acadêmicos e até dos bancos não corsários, igualmente vítimas. Anteontem, o Santander sofreu um belo tombo por conta da especulação contra tudo o que cheirasse Espanha, cujo sangue está sendo pedido pelas piranhas.
O que você, Fábio Barbosa, presidente do Santander no Brasil e da Federação de Bancos e eterno pregador da ética nos negócios, tem a dizer?
Essa roleta infernal não gera "benefício social", como disse há dias George Soros, que é campeão mundial de ganhar dinheiro com as falhas do mercado, mas sabe enxergá-las e não se cala.

crossi@uol.com.br

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Puxa vida: ainda bem que temos jornalistas como este, como nunca houve antes neste país, gente que explica tudo direitinho, como nunca antes neste país... (um outro jornalista escreveria: como nunca ouve neste país, o que também serve...).
Vou dormir tranquilo: com gente atenta como ele, o Brasil está a salvo de qualquer ataque especulativo. Ele saberá nos alertar a tempo, antes que as contas do governo ofereçam o espetáculo que se espera delas. Como nunca antes desde Cabral...
PRA.

Um comentário:

  1. Prezado PRA,

    no mesmo sentido, artigo de Carlos Alberto Sardenberg n'O Globo de ontem. Vale a vista.

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