Inacreditável que manifestantes privados da Argentina mantenham, com o apoio da presidência desse país (desde a presidência precedente, aliás), um bloqueio perfeitamente ilegal contra o comércio, o turismo, a simples passagem de bens, serviços, pessoas, por uma ponte bilateral, e que depois de um laudo da Corte Internacional de Justiça considerando ilegal esse bloqueio, a situação ainda não esteja resolvida.
O Mercosul há muito tempo deveria ter sido acionado para tratar de um assunto que certamente desafia seus princípios de livre circulação de mercadorias. Países vizinhos, que pretendem exercer liderança regional (e até mundial), já deveriam ter agido para resolver uma situação que claramente compromete as chances de funcionamento normal do Mercosul.
Paulo Roberto de Almeida
Ponte entre Argentina e Uruguai reabrirá após 3 anos de bloqueio
Reuters, 17.06.2010
BUENOS AIRES (Reuters) - Uma das principais passagens fronteiriças entre Argentina e Uruguai será aberta por 60 dias a partir do próximo sábado depois de mais de três anos de bloqueio, disseram na quarta-feira manifestantes que a fecharam em protesto pela instalação de uma fábrica de celulose na fronteira.
Os manifestantes, reunidos do lado argentino da ponte binacional General San Martín, que cruza o rio Uruguai unindo a província de Entre Rios com o Uruguai, exigem que os governos de ambos os países negociem um sistema de monitoramento conjunto da fábrica, suspeita de contaminar o rio.
"No próximo sábado às 13 horas iniciamos o suspensão por 60 dias, no dia 19", disse um dos porta-vozes dos manifestantes, depois de uma assembleia na qual a maioria dos participantes votou para negociar com o governo.
Na votação, 402 manifestantes apoiaram o levantamento do bloqueio e 315 votaram contra.
"Quero dizer ao mundo que (a fábrica de celulose da) Botnia contamina, não com nossa voz, mas com a tecnologia mais avançada", disse Juan Veronesi, um dos manifestantes.
Há mais de 3 anos, os manifestantes mantêm bloqueada a comunicação terrestre com Uruguai devido à fábrica que segundo eles, contamina o rio Uruguai, limítrofe entre as duas nações. A instalação da fábrica provocou um desacordo bilateral entre as nações vizinhas na qual interveio o Tribunal Internacional de Haia.
A corte internacional determinou em abril que o Uruguai violou artigos de um tratado bilateral sobre o rio, mas permitiu que a fábrica continuasse funcionando por falta de elementos que provassem a contaminação.
O aviso dos manifestantes chega depois que um juiz argentino os ordenou a desistir de sua postura e depois de o governo da presidente Cristina Fernández Kirchner registrar demandas judiciais contra alguns deles, pois o protesto teria causado perdas e dificuldades ao comércio, impedimento também o livre trânsito.
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