Incrível: não passa um dia se que tenhamos alguma notícia, geralmente ruim, vinda da Venezuela, o que obviamente não é o caso dos demais vizinhos, bem mais calmos no noticiário. Parece que vou ter de criar um "bolivarímetro" para medir a intensidade de notícias (ruins, por definição) vindas do vizinho país e (quase) sócio no Mercosul.
Paulo Roberto de Almeida
Chávez ameaça apoderar-se de ações da última emissora crítica ao governo
Estado online, 3.07.2010
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ameaçou ontem “recuperar” as ações da Globovisión, canal de TV de oposição e um dos poucos que ainda criticam abertamente o governo. Acusados pela Justiça chavista, dois principais acionistas da emissora, Guillermo Zuloaga e Nelson Mezerhane, estão foragidos.
Mezerhane é dono do Banco Federal, que sofreu intervenção do governo em junho. Humberto Ortega Díaz, ministro para Bancos Públicos da Venezuela, alegou que a instituição tinha “problemas de liquidez”. Ontem, Chávez disse que o empresário fugiu do país com US$ 1,6 bilhão, dinheiro que pertenceria a 600 mil clientes de seu banco, incluindo o Estado venezuelano.
A procuradoria venezuelana solicitou na quinta-feira a prisão de Mezerhane por irregularidades financeiras. Quando foi anunciada a intervenção no Banco Federal, ele estava em Miami e disse que não voltaria à Venezuela. Autoridades já confiscaram um iate e duas lanchas do empresário e pediram à Interpol que ajude na busca.
Zuloaga, outro dono da Globovisión, desapareceu no mês passado após a emissão de um mandado de prisão contra ele e seu filho. Eles são acusados de guardar de maneira ilegal 24 automóveis importados para especulação. O empresário, que é dono de várias concessionárias de carros de luxo, nega a acusação e diz que ela tem motivação política.
“Esperarei um tempo para ver se os donos da Globovisión aparecem. Pensarei no que fazer com esse canal, porque os donos andam fugindo da Justiça”, afirmou Chávez. “Parece que o Estado terá de recuperar as ações do canal como compensação pelo dinheiro que seus donos levaram.”
Ameaças. Para o cientista político Alfredo Ramos Jimenez, do Centro de Investigações em Políticas Comparadas da Universidade dos Andes, as ações mostram a radicalização do governo Chávez. “O presidente está muito incomodado com as críticas que vem recebendo da imprensa por causa do escândalo dos alimentos”, disse Jimenez ao Estado.
Ele se refere à descoberta, em junho, de cerca de 100 mil toneladas de carne estragada dentro de contêineres que o governo venezuelano havia importado. A carga deveria ter sido vendida a baixo preço na Venezuela. Chávez ficou em uma situação constrangedora, já que culpava os especuladores pela falta de produtos nos supermercados do país.
Coma proximidade das eleições legislativas, marcadas para setembro, Chávez estaria tentando conter as críticas para obter maioria na Assembleia Nacional - hoje, em razão do boicote da oposição, em 2005, ele domina quase todo o Parlamento.
No entanto, segundo analistas, dificilmente ele conseguirá uma maioria qualificada de dois terços do Legislativo. “Isto deve diminuir bastante os poderes de Chávez nos próximos anos”, afirmou Jimenez, que não aposta em uma estatização da Globovisión.
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