Tendo participado, e de certa forma liderado, o esforço de resgate, de sobrevivência e de consolidação em Brasil (desde 1993) dessa histórica revista, que foi publicada no Rio de Janeiro de 1958 a 1992, posso igualmente sentir-me orgulhoso dessa conquista registrada abaixo.
Eu já havia feito esse registro neste post:
RBPI: uma grande revista com alto fator de impacto na area
(terça-feira, 29 de junho de 2010)
Desejo, neste momento, registrar os nomes dos dois editores que se sucederam na direção da fase brasiliense da revista, respectivamente professores Amado Luiz Cervo e Antonio Carlos de Moraes Lessa, cabendo a este último a parte essencial dos esforços que levaram ao reconhecimento agora registrado.
Desde 1993, tenho ostentado o título, mais honorífico do que efetivo, de "editor adjunto", colaborando sempre com o seu funcionamento e sucesso, embora, por razões profissionais, não possa ter estado mais envolvido, como teria desejado, com sua administração efetiva. Por isso mesmo, presto minhas homenagens aos colegas que mantiveram alto a chama da revista, mesmo com a modéstia de recursos e a falta de estruturas mais condizentes com a sua importância e potencial, nas pessoas dos dois citados editores e do atual presidente do IBRI, o Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, Professor José Flávio Sombra Saraiva, cujo artigo reproduzo abaixo. Também já exerci esse cargo, no passado, e sempre estarei vinculado a seus sucessos e realizações, mesmo de forma nômade e esporádica.
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 4 de julho de 2010)
Opinião
Gol das relações internacionais do Brasil
José Flávio Sombra Saraiva *
Correio Brasiliense, 04/07/2010
Taças de espumantes serão elevadas no fim de semana. Celebra-se, em várias universidades do Brasil, da América Latina e de institutos acadêmicos de outros continentes, gol de placa do Brasil. O motivo, no entanto, não se relaciona com gingas futebolísticas na copa sul-africana.
Embora tenha ocorrido no campo das relações internacionais, o gol não emana de vitória diplomática do Brasil em negociações internacionais. Nem recebemos nova adesão de algum chefe de Estado estrangeiro às pretensões do Brasil ao diretório onusiano.
As razões do júbilo não são menores. A Revista Brasileira de Política Internacional (RBPI), publicação de 52 anos de existência, dedicada aos estudos internacionais, à política externa do Brasil e à inserção de Estados e povos no sistema internacional, além dos novos temas, passou a figurar ao lado dos mais relevantes periódicos da área, tais como a Foreign Policy e a Foreign Affairs. Não há nenhuma revista no país e na América Latina com semelhante classificação internacional.
Apenas por mérito e juízo acadêmico externo, a RBPI foi incluída na seleta lista dos periódicos com “fator de impacto” e referência internacional. Quem isso decidiu não está sujeito a pressões de interesse ou conversas de pé de ouvido. É como um rating da academia, realizada pela prestigiada ISI-Journal Citation Report, métrica conhecida pelos cientistas das hard sciences, a alimentar perspectivas de mais projeção científica da instituição que mantém o periódico.
Em um país ainda carente de notícias serenas de agregação de valor real ao conhecimento produzido por seus cientistas e povoado por universidades que foram atropeladas por políticas populistas que desviam o sentido histórico de tais instituições, a notícia repõe a confiança no mérito. A RBPI e outra revista multidisciplinar da grande área de ciências sociais são as únicas brasileiras que alcançaram tal classificação nas ciências humanas, políticas, jurídicas e sociais na indexação do mais respeitado instituto do mundo que se dedica a tal tarefa.
Trata-se de um fato revelador que o Brasil possa contar com uma academia dedicada aos estudos internacionais que amadurece rapidamente. Ela investe na fórmula infalível: a qualidade e a competência. Se, no passado, foi muito importante o pensamento diplomático e o estratégico-militar, particularmente produzidos pela experiência prática de diplomatas e militares, a quadra é do adensamento de uma comunidade epistêmica de relações internacionais no Brasil.
A comunidade brasileira de relações internacionais está nas universidades e institutos de pesquisa e é comprometida com o Brasil, embora fique a impressão de ser pouco ouvida por quem com ela deveria se consultar. Há muita gente que, laboriosamente — e às vezes anonimamente —, trabalha e ajuda na difícil tarefa de construir o entendimento da nação e de seu papel no mundo.
A bela notícia de que o setor mais exigente de padrões de mérito acadêmico prestigia uma revista científica do Sul expõe a força emergente da comunidade de quase mil professores de relações internacionais no Brasil. Tendo como seu centro mais antigo a UnB, que teve a inteligência estratégica de iniciar tais estudos já na década de 1970, hoje esses estudiosos podem se regozijar, colhendo resultados dos investimentos iniciais e do trabalho duro. Solitário, difícil, mas compensador, o trabalho dos professores e pesquisadores que, ao longo de cinco décadas, publicaram suas reflexões na RBPI, foi reconhecido. Ofereço aos editores da RBPI que se sucederam desde Cleantho de Paiva Leite, seu fundador, essa premiação internacional.
É justo que aproximemos as taças. Façamos festa pátria no fim de semana. Não apenas a das chuteiras, mas também a da qualidade que emana da percepção do labor acadêmico, da produção científica de qualidade. Isso é fazer gol de placa. Parabéns, comunidade brasileira de relações internacionais.
* Ph. D. pela Universidade de Birmingham, professor titular de relações internacionais da UnB e pesquisador 1 do CNPq.
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