Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Segunda carta aos leitores do blog Diplomatizzando
Paulo Roberto de Almeida
(Kyoto, 22.10.2010)
Aproximadamente um mês atrás, elaborei uma “carta” aos seguidores e leitores deste blog Diplomatizzando, “conversando” um pouco sobre o espírito do blog, seus objetivos e as responsabilidades e princípios deste autor (ver neste link). A ocasião tinha sido dada pela ultrapassagem da marca de 200 seguidores, o que me motivou a iniciar um diálogo com os leitores e comentaristas, ciente de que algo eu devia (e devo) a tantos curiosos e interessados num simples trabalho de compilação de matérias diversas sobre temas internacionalistas e algumas observações minhas sobre os temas focados nesses postos um tanto anárquicos.
O que eu lhes devo, exatamente? Talvez nada de muito específico, pois imagino que as motivações desses leitores e visitantes ocasionais possam ser muito diversificadas, embora os temas sejam situados num mesmo universo de temas internacionais e de política externa do Brasil. Suponho também que a maior parte dos visitantes e seguidores seja composta de interessados na carreira diplomática, e reconheço que o blog não tem se dedicado muito aos aspectos “didáticos”, digamos assim, da preparação para o concurso de ingresso na carreira. Mas tento permanecer no âmbito mais vasto da cultura geral que, de certa forma, integra uma formação humanista de maior escopo intelectual, essencial na vida de todo diplomata.
Desta vez não tenho um tema específico a discutir – embora não me faltem assuntos, a começar pela conjuntura eleitoral – mas desejo refletir um pouco do que recebi de um ou dois leitores novos, isto é, pessoas não habituadas a frequentar o blog, mas que o descobriram e resolveram partilhar comigo suas primeiras impressões. Transcrevo em primeiro lugar mensagem da Rayane Siqueira, que me escreveu o seguinte:
On Oct 21, 2010, at 10:47 AM, Ray Siqueira wrote:
“Boa Noite,
Há alguns dias soube da existência do seu blog Diplomatizzando, o que me ocorreu num momento bastante oportuno, afinal essa eleição é a primeira da qual participo, e estava, e ainda estou, ávida por informações fidedignas sobre o que realmente acontece no Brasil - e no mundo. Apesar de ainda não ser obrigada a votar, creio que esse é um dever que não posso prevaricar. Nunca quis ser aquele tipo de eleitor alienado, aquele que, na verdade, não tem a mínima noção do que realmente está acontecendo, um mero "papagaio de televisão". Entretanto, a dificuldade de se obter informações não-manipuladas ou não-simplistas é incrível. Foi nesse contexto que tomei conhecimento do seu blog. Inicialmente, fui atraída devido às minhas aspirações à diplomacia. Hoje, o seu blog se tornou minha fonte de informação sobre o Brasil, em todos os âmbitos. Fiquei abismada com a quantidade de ideias errôneas , baseadas no senso comum, que me foram passadas ao longo dos meus 17 anos. Impressionou-me também como, em poucos dias, o meu conhecimento e o meu senso crítico aumentaram, claro que ainda estou muito longe do que almejo, mas foi um começo espetacular. Por isso, gostaria de vir agradecer ao senhor por desprender, todos os dias, um tempo para compartilhar seu conhecimento, pelo menos uma parte dele, que é importantíssimo para mim e ,ouso afirmar com convicção, para muitas pessoas. Tenho certeza de que o senhor já ouviu, ou leu, nesse caso, diversas e diversas vezes essas mesmas palavras. Mesmo assim eu precisava agradecer.”
A Rayane se refere em seguida a um jogo eletrônico que encontrou navegando por site identificados (e provavelmente a serviço) da candidata oficial, cujo objetivo, descreve ela, “é chegar ao Palácio do Planalto , recolhendo estrelinhas do PT e urnas eletrônicas, fugindo dos tucanos e dos Serras (que parecem uns zumbis cabeçudos)”, sendo que o “ataque especial”, algo do tipo como uma “arma secreta”, é o presidente Lula (eu até diria que é a única “arma” de que dispõe a candidata, pois não lhe conheço outros méritos ao se apresentar aos eleitores, senão como “criatura eleitoral” desse que passa por ser presidente).
Não vou fazer, nem ela pretende que se faça, propaganda em torno desse joguinho emblemático do fundamentalismo sectário que vigora nesses meios, mas a Rayane revela sua “indignação”. Permito-me, a esse respeito, apenas repetir suas palavras em relação ao “jogo”: “Creio que, ‘nunca antes na história desse país’, foi lançado algo tão sórdido”, na categoria dos “artifícios usados em propaganda eleitoral”.
Finalmente, a Rayane termina assim sua mensagem:
“Enfim, não sei se o senhor terá tempo de ler meu e-mail, compreendo perfeitamente caso não puder, mas se ler, saiba que é de um valor imensurável para mim. Sempre admirei pessoas inteligentes e mais ainda as sábias, considero que ambas as qualidades se apliquem ao senhor. Tenho profundo respeito pela sua pessoa e pelo seu trabalho, espero um dia ingressar na mesma carreira. Mais uma vez, muito obrigada.
Atenciosamente,
Rayane Siqueira.”
Escrevi a ela para agradecer, mas no mesmo momento entrava nova mensagem de um leitor, do Ceará, que escreveu-me em separado para agradecer algum material que correspondeu às suas expectativas:
“Mais uma vez, comunico-me com o senhor, desta vez, para agradecer o post, sobre privatizações e política econômica do FHC,o qual havia pedido anteriormente,não sei se foi intencional, mas muito obrigado.
E tornar conhecido ao senhor, o meu agradecimento por todos os posts, os quais são de extrema serventia, a mim e diversas outras pessoas, que buscam entendimento. Já passei o endereço do seu blog à varias pessoas, que buscam ,como eu, informações críveis a respeito da real atualidade brasileira.
E digo, de forma pessoal, que estou inclinado a prestar vestibular para economia e não mais para direito, após diversas leituras em seus blogs. Sempre tive a intenção de fazer ambos, porém os nosso amados governantes me ‘proibiram’ de fazer duas universidades públicas, pois ,assim, estaria tirando a vaga de outras pessoas, o que é ridículo.
Bastante agradecido”
Tenho tido várias mensagens desse gênero, mas não gostaria de transformar esta oportunidade de diálogo em uma janela para o narcisismo bloguístico, ou qualquer outro.
Numa próxima carta vou retomar de maneira mais substantiva, comentando sobre o sentido da produção em função das necessidades dos leitores.
O abraço do
Paulo Roberto de Almeida (Kyoto, 22.10.2010)
4 comentários:
Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.
Faz muito sentido. Espero que o meu humilde comentário, seja a favor ou contrário, que apenas quer expressar um mínimo de pensamento ou ter algum posicionamento para que assim eu possa estar corrigindo minhas indagações, convicções e consequentemente evoluindo na minha condição humana, seja aceito. Tento seguir a frase de Hayek exposta no blog. Abraço
ResponderExcluirMeu nobre Diplomata Paulo Roberto de Almeida, não sei como cheguei aqui, mas desde que cheguei, coisa de dois meses atrás, venho todos os dias. daqui não saio daqui ninguém me tira.
ResponderExcluirNem pense em parar de escrever. É muito difícil encontrar pessoa tão preparada e de alto nível intelectual, escrevendo o que o Senhor escreve.
Tenho recomendado, com muita satizfação, a leitura do seu blog aos meus amigos.
Receba minha gratidão, como alguém já comentou aqui, pelo tempo dedicado a nós leitores
PRA, continue com o bom trabalho. Só gostaria de mais postagens suas, e não só um clipping, como muitas vezes é feito.
ResponderExcluirE sobre o leitor cearense, discordo, duas vagas em universidades públicas cabem a duas pessoas sim, e não uma. Dois motivos: geralmente, quem entra em duas, larga uma. Caso que já aconteceu com diversos colegas meus. Não estou dizendo que o leitor não seria esforçado, longe de mim, mas é bem possível que largasse uma, por diversos motivos, e aí o vestibular já passou, alguém não entrou e pronto. E em segundo lugar, você vai provavelmente trabalhar ou como economista ou como advogado, e não meio expediente como os dois. Sim, há trabalhos em que é preciso uma sinergia de conhecimentos, como ser diplomata, mas como o próprio autor do blog demonstra por seu currículo, há meios de se conseguir essa formação sem necessitar de duas graduações. Escolha uma, se dedique a ela, e seja bom no que faz.
Abraços fraternais,
RCaravana
RCaravana,
ResponderExcluirSinto decepcioná-lo, mas estou em viagem e não consigo, simplesmente, produzir material novo todo dia.
E mesmo que conseguisse, creio que seria narcisismo demais ficar postando apenas material de minha lavra.
Para isso existe meu site, que traz, exclusivamente, material de minha produção.
O blog é feito, essencialmente, de assemblagens, com curtos comentários de minha parte. Eventualmente eu transcrevo (ou linko, ugh!) algum trabalho meu.
Quanto ao curso, pessoalmente, acho totalmente legítimo alguém querer fazer dois cursos ao mesmo tempo.
Num país verdadeiramente livre, e que respeitasse os direitos individuais de qualquer cidadão, todo mundo deveria ser livre para se inscrever em qualquer curso com vagas disponíveis, bastando o mérito e sua capacidade em cumprir com as obrigações acadêmicas. Não conseguindo, ele poderia ser desligado.
NUNCA se deveria cercear o desejo de estudar mais.
Apenas porque as universidades públicas são incapazes de assegurar vagas para todo mundo -- e isso porque a produtividade dos nossos professores é baixíssima, comparada com a de outros professores em universidades estrangeiras -- se comete a violência de proibir alguém de estudar.
Um pouco de perspectiva alternativa é sempre bem-vinda...
Paulo Roberto de Almeida