Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
sábado, 11 de dezembro de 2010
Onde o Brasil poderia ser melhor?; nossa contribuicao para o mundo
Paulo Roberto de Almeida
Nossa contribuição para o mundo: onde o Brasil pode ser melhor
Paulo Roberto de Almeida
Ordem Livre, 06 de Dezembro de 2010
Sem qualquer ufanismo, pretendo apenas tecer considerações sobre o quê, da experiência brasileira, considero relevante para o mundo. Dito assim, parece que o Brasil tem enormes contribuições a dar – ou, quem sabe, até já deu – para o progresso da humanidade e o avanço geral da civilização. Certo ufanismo pretende, justamente, que o Brasil seja um exemplo para o mundo, pelo caráter plástico de sua sociedade – mesmo sem a, hoje recusada, mítica "democracia racial" –, pela convivência tranquila de muitos povos e religiões, pela adesão do país aos princípios tradicionais do direito internacional, pelas disposições pacifistas e humanitárias de sua Carta constitucional, enfim, pelo caráter cordial do povo brasileiro.
Não sou desses, e ainda que eu possa, por acaso, subscrever a alguns desses mitos, não vou me estender nessa direção para detectar o que o Brasil possivelmente poderia oferecer ao mundo, como seu..., ou seja, algo construído para fora, não já existente a partir de dentro (e que seria uma característica, não uma contribuição). Não é fácil detectar contribuições geniais do Brasil para a humanidade: não temos um Nobel, nem grandes avanços do pensamento filosófico, da produção científica ou do desenvolvimento tecnológico; com exceção do soro antiofídico e do diagnóstico do mal de Chagas, não existem muitas outras contribuições dignas de registro nos anais do progresso mundial. Alberto Santos Dumont e o Padre Landell de Moura podem ter sido "geniais" em suas respectivas áreas, mas não conseguiram transpor suas inovações para o único terreno que verdadeiramente interessa no plano material: a produção em série de bens e serviços para consumo de massa.
Mesmo nossa alegada originalidade étnica – qual seja, a de ser uma espécie de "cadinho da humanidade", não apenas um país "multinacional", mas igualmente multirracial – pode ser um valor relevante para o Brasil, mas não se sabe como isso será oferecido como know-how ao resto da humanidade. A exuberância das florestas, a grandiosidade dos rios, a abundância dos recursos naturais, tudo isso pode impressionar em alguma peça publicitária do "ministério da propaganda", mas não representa, de fato, algo de que o mundo careceria, se por acaso o Brasil viesse a faltar no fornecimento de matérias primas ou outros produtos básicos. Outros países poderiam acomodar nosso "desaparecimento" repentino, com pequenos esforços de adaptação e de crescimento da produtividade em outras regiões. Afinal de contas, não nos distinguimos pela exportação de produtos inovadores ou de tecnologia exclusiva (como podem ser farmacêuticos ou a eletrônica de alta definição, por exemplo).
Talvez devêssemos começar por indicar o que NÃO deveríamos fazer para tornar o mundo um lugar mais ameno e agradável: melhor seria, por exemplo, que não participássemos do circuito mundial de trânsito e comercialização de drogas, ao manter fronteiras tão vulneráveis e permitir a corrupção nos órgãos de controle (sem mencionar, está claro, o próprio consumo nacional em ascensão); seria preferível não “exportar” tantos ilegais que podem morrer na travessia do Rio Grande ou no deserto do Arizona, antes de serem capturados e mofar alguns meses na cadeia antes da inevitável expulsão; seria preferível não oferecer ao mundo o espetáculo das crianças de rua, da corrupção impune, dos desastres urbanos anunciados ou esperando para acontecer, ou manter estranhas alianças com ditadores e outros personagens pouco frequentáveis. Não precisaríamos, tampouco, exibir as maiores estatísticas de morte juvenil nas periferias urbanas, de acidentados e vítimas em estradas esburacadas, ou de desperdício alimentar por pura desorganização e ineficiência nos transportes.
Em outros termos, tudo o que fazemos contra nós mesmos – já que todos os problemas indicados são "made in Brazil" – diminui na mesma proporção nosso prestígio no mundo, e nos deixa ainda distantes de alguns objetivos alegadamente nacionais de influência e participação nos negócios mundiais, como a tal aspiração a um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU e uma ainda mais bizarra mudança nas relações de força ou na geografia comercial do mundo. As torturas de prisioneiros comuns, o desmatamento selvagem, a mentira oficial, a corrupção pública, a fraude política, o sindicalismo mafioso e os sindicatos patronais de ladrões, as falsas soluções para problemas verdadeiros, o culto da ignorância, a recusa da educação formal e o elogio do despreparo, o enorme desperdício de esforços em direções erradas, todas essas disfunções são contribuições do Brasil aos seus desvios éticos e ao seu próprio retrocesso moral. Nada que possamos “mostrar” ao mundo.
Tão melhor seria para o Brasil e para o mundo, se pudéssemos empreender as reformas capazes de aproximar o país dos projetos de alguns de seus pais fundadores, torná-lo mais conforme às promessas feitas por alguns reformadores, numa palavra, convertê-lo em país “normal”. Um país normal, em primeiro lugar, tem um estado, ou antes, um governo que cumpre a lei, e não se constitui objeto de maior parte dos casos que ascendem à Suprema Corte; da mesma forma, um país normal apresenta poderes perfeitamente separados e atuando segundo seus próprios mandatos constitucionais, sem qualquer subordinação indevida ou tratativas pecuniárias; um estado normal não tosquia os seus cidadãos e empresas muito acima da capacidade contributiva desses agentes econômicos primários; um país normal assegura os direitos elementares dos seus cidadãos mais simples, antes de tudo o direito à segurança, a uma escola de qualidade, a saneamento básico, mas também o direito de ser representado por pessoas plenamente responsáveis pelos recursos que administram e, se corruptos, puníveis como qualquer eleitor comum.
Acredito que o Brasil ainda está longe desses simples objetivos típicos de um país normal. Acredito, também, que o Brasil daria uma grande contribuição ao mundo sendo um país normal, especialmente se ele pretende exercer a liderança regional e passar a influenciar a agenda diplomática mundial de modo mais afirmado. Ser um país normal significa converter-se em um país melhor, sobretudo para seus próprios cidadãos, o que o habilitaria quase naturalmente a contribuir para tornar o mundo um lugar melhor do que é atualmente.
O Brasil, de fato, poderia ser melhor em muitas coisas, tantas são as possibilidades de contribuir para o bem-estar da humanidade, infinitas, na verdade, nos campos da medicina, do meio ambiente, da literatura, da música e da cultura universal, de modo geral; mas ele começaria bem sendo, simplesmente, melhor consigo mesmo...
7 comentários:
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Esse foi um dos textos mais lúcidos que já li a respeito do nosso Brasil, que bom seria se nossos governantes gozassem dessa lucidez.
ResponderExcluirGrande post, parabéns pelo texto.
ResponderExcluirGrato pelo cumprimento, caro Cleiton. Nada do que eu disse é extraordinário. Tudo é tão evidente, tudo é tão visível a nossos olhos, que eu apenas me contentei em olhar o Brasil e escrever o que vejo.
ResponderExcluirAcho que ainda estamos longe de ser um país normal, e pelo andar da carruagem, vai demorar outro tanto para sequer nos aproximarmos do ideal, ou simplesmente do necessário.
O abraco do
Paulo Roberto de Almeida
Olá Caro Dr. Paulo Roberto,
ResponderExcluirParabéns pelo texto tão lúcido e verdadeiro. Acredito fielmente que essa consciência deveria ser expandida a todos os demais brasileiros em especial aos governantes. O desenvolver de uma maturidade com relação ao nosso comportamento habitual, frente a diversas situações – como as citas em seu texto - é condição primordial para o desenvolvimento de um país melhor e isso, condição para se tornar um exemplo para o Mundo.
Entretanto tenho que fazer uma ressalva ao texto frente ao destaque de alguns brasileiros no cenário mundial com contribuições efetivas para o desenvolvimento do homem. Há um distinto compatriota que vem se tornando referência no mundo – especialmente entre os indivíduos mais ligados à cultura – em si tratando de filosofia e comportamento. Seu nome, DeRose, tem se tornando símbolo de uma maturidade comportamental única, desenvolvida com base em uma filosofia ancestral – de origem não brasileira – que propõem o desenvolvimento humano sustentado em conceitos tais como: boa qualidade de vida; boas maneiras; boas relações humanas; boa alimentação; boa cultura entre outros.
A proposta principal dessa filosofia – denominada Método DeRose - é o desenvolvimento de um indivíduo mais lúcido que seja capaz de exercer melhor o seu trabalho, sua posição na família e seu engajamento em qualquer ideal, seja ele político, humanitário, filantrópico, artístico ou outro qualquer. Ocorre que, com o desenvolvimento de uma superlativa lucidez o indivíduo quebra a pseudo idéia de um mundo dividido entre o “eu e os outros” e percebe que na verdade somos todos uma coisa só, estamos todos interligados não apenas dentro da espécie humana, mas entre todas as espécies e com o próprio planeta.
Sem partir à demagogia, nem à tentativa de convencer ninguém, o Método se desenvolve baseado no exemplo, na convivência com pessoas que já portam tais ideais e os expressam na vida diária. Somando-se a essa “egrégora” técnicas extremamente eficazes tais como respiratórios, descontração, técnicas corporais, concentração e meditação.
Cito este brasileiro e seu Método, pois tive a oportunidade conhecer seu trabalho – desenvolvido a cinquenta anos – e o percebi como uma referência para o mundo. Para ilustrar o que digo, hoje encontramos profissionais ensinando o método em quase vinte países – a maioria vem ao Brasil para se formar - e em vários de nossos estados. É o Brasil exportando cultura.
Assim, o que vejo é que, além de tudo o que o senhor explicitou, falta, aos brasileiros, duas outras coisas: a primeira é o apoio do governo e suas instituições às iniciativas menos integradas com os meios econômicos – ou melhor, menos rentáveis ao governo - e a segunda é o reconhecimento dos próprios brasileiros de seus distintos compatrícios, os quais muitas vezes são massacrados em sua “Mãe gentil” e precisam do reconhecimento internacional para, somente então, ser aqui valorizados.
Para saber masi sobre ele:
www.metododerose.org/blog
Um grande abraço
Pedro Carrer
A proposta principal dessa filosofia – denominada Método DeRose - é o desenvolvimento de um indivíduo mais lúcido que seja capaz de exercer melhor o seu trabalho, sua posição na família e seu engajamento em qualquer ideal, seja ele político, humanitário, filantrópico, artístico ou outro qualquer. Ocorre que, com o desenvolvimento de uma superlativa lucidez o indivíduo quebra a pseudo idéia de um mundo dividido entre o “eu e os outros” e percebe que na verdade somos todos uma coisa só, estamos todos interligados não apenas dentro da espécie humana, mas entre todas as espécies e com o próprio planeta.
ResponderExcluirSem partir à demagogia, nem à tentativa de convencer ninguém, o Método se desenvolve baseado no exemplo, na convivência com pessoas que já portam tais ideais e os expressam na vida diária. Ao somar-se a essa “egrégora” técnicas extremamente eficazes tais como respiratórios, descontração, técnicas corporais, concentração e meditação, desenvolveu-se uma Cultura que vem conquistando destaque cada vez maior no cenário mundial.
Cito esse brasileiro e seu Método, pois tive a oportunidade conhecer seu trabalho – desenvolvido a cinquenta anos – e o percebi como uma referência para o mundo. Para ilustrar o que digo, hoje encontramos profissionais ensinando o método em quase vinte países – a maioria vem ao Brasil para se formar - e em vários de nossos estados. É o Brasil exportando cultura.
ResponderExcluirAssim, o que vejo é que, além de tudo o que o senhor explicitou, falta, aos brasileiros, duas outras coisas: a primeira é o apoio do governo e suas instituições às iniciativas menos integradas com os meios econômicos – ou melhor, menos rentáveis ao governo - e a segunda é o reconhecimento dos próprios brasileiros de seus distintos compatrícios, os quais muitas vezes são massacrados em sua “Mãe gentil” e precisam do reconhecimento internacional para, somente então, ser aqui valorizados
os meios econômicos – ou melhor, menos rentáveis ao governo - e a segunda é o reconhecimento dos próprios brasileiros de seus distintos compatrícios, os quais muitas vezes são massacrados em sua “Mãe gentil” e precisam do reconhecimento internacional para, somente então, ser aqui valorizados.
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