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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Wikileaks: Brasil-EUA e o resto da regiao: ciumes e subterfugios...
O que não se sabia era da atuação do ex-chanceler em favor do Sudão...
Paulo Roberto de Almeida
Diplomacia de Lula irritou sul-americanos
Jamil Chade, correspondente
O Estado de S.Paulo, 8 de fevereiro de 2011
EUA escutaram de Colômbia, Paraguai e Chile pedidos para ‘conter’ o Brasil, revela WikiLeaks
GENEBRA - Telegramas secretos da diplomacia americana revelam que, sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, países sul-americanos se incomodaram com a liderança brasileira e chegaram a pedir a Washington que "contivesse" as ambições do Brasil na região. Os despachos foram divulgados pelo grupo WikiLeaks. Entre os que solicitaram à diplomacia americana que atuasse contra o aumento da influência do Brasil estão Colômbia, Chile e Paraguai.
Em 11 de fevereiro de 2004, numa conversa entre o então presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, e uma delegação do alto escalão da diplomacia dos EUA, o incômodo com as ambições de Lula ficou claro. "Uribe disse que sua relação com Lula é complicada", relata o telegrama. O ex-líder de Bogotá e forte aliado de Washington alertou na ocasião para a agenda externa de seu colega brasileiro: "Lula se esforça para construir uma aliança antiamericana na América Latina", teria dito Uribe.
"Lula é mais pragmático e mais inteligente do que (Hugo) Chávez, mas é conduzido por seu histórico de esquerda e pelo ‘espírito imperial’ do Brasil para se opor aos EUA", acusou o ex-presidente colombiano. Em outro trecho, Uribe ainda acusa o presidente brasileiro de não ter cumprido sua promessa de lutar contra o narcotráfico.
Quatro anos mais tarde, as desconfianças em relação a Lula continuariam na Colômbia. Em um telegrama de 2008, o governo americano afirma que foi informado por militares de Bogotá sobre o projeto de criação de um Conselho de Defesa da América do Sul pelo Brasil. "A desconfiança é que seja um projeto, no fundo, de Chávez", teriam alertado os militares.
Em telegrama de 19 de maio de 2005, a então chanceler do Paraguai, Leila Rachid, queixou-se ao embaixador americano em Assunção, Dan Johnson, sobre o comportamento de seu colega brasileiro, Celso Amorim, e sua ideia de convocar uma cúpula entre países árabes e sul-americanos. Johnson, por sua vez, disse que o evento promoveria "gratuitamente tensões entre a comunidade árabe e judaica no Brasil". Ele pediu ainda que, na declaração final, elogios ao Sudão fossem evitados.
"Rachid afirmou que o Brasil teve uma ‘grande disputa’ com vários chanceleres (da América do Sul), incluindo a ministra colombiana (Carolina) Barco e o chileno (Ignacio) Walker, quando Amorim pediu que eles reduzissem as objeções que tinham sobre o Sudão e o processo de paz no Oriente Médio", descreve o embaixador americano.
Rachid diz que gostaria de falar com a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, sobre "preocupações em relação à política externa e comercial do Brasil". "Ela (Rachid) estava preocupada com as ambições do Brasil de se tornar uma voz de liderança na região e pediu que os EUA se posicionassem para conter o Brasil."
2 comentários:
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Bom dia Paulo!
ResponderExcluirDisseram para mim que estou pessimista com a politica, economia,...do Brasil e do mundo. Será que isto é uma fragilidade intelectual minha? abs
Indiscutivelmente, a notícia não é surpresa para ninguém... A Colômbia é para a América Latina uma espécie de contraponto para a hegemonia brasileira na América do Sul, que já está deveras consolidada, não apenas no âmbito econômico, como no ideológico e político. Todo o apoio americano a Colômbia na América do Sul parte de uma visão mais abrangente no mundo, de conter uma potência emergente fortalecendo seu antagonista. Como assim? No Sistema trilateral de organização econômico pós segunda guerra mundial, os americanos fortaleceram (e também pelo fato de estarem ocupando esses países) as economias do Japão e da Alemanha, na tentativa de antagonizar o crescente poderio de Rússia e China, que sempre foram as potências que verdadeiramente poderiam criar um sistema geopolítico regional estável. e.g. o que ocorre na América do Sul, a Colômbia tergiversa ser o contraponto da hegemonia brasileira na América do Sul. Contudo, eu talvez não esteje tão certo de que os nossos amigos do norte vão apostar num pais economicamente, politicamente e socialmente fragilizado, quando pode apoiar um equilibrio geoestratégico com uma democracia consolidada e com uma economia pujante, como é o caso do Brasil.
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