sábado, 8 de outubro de 2011

Descobriram que o Brasil ficou caro... (demorou...)


País continua entre mais caros, apesar de queda do real
 ÉRICA FRAGA
Folha de S. Paulo, 7/10/2011

Preço de 30 produtos, de batata a automóvel, é em média 30% maior que em outros emergentes e desenvolvidos
Pesquisa do Movimento Brasil Eficiente compara cesta no Brasil com EUA, China e África do Sul, entre outros

A desvalorização do real nas últimas semanas não foi suficiente para tirar o Brasil da posição de um dos países mais caros do mundo.
O preço de uma cesta de 30 produtos -que vão de batata a automóvel- é em média 30% maior no país do que em outros mercados emergentes e desenvolvidos.
O levantamento feito pelo MBE (Movimento Brasil Eficiente) considerou o dólar cotado a R$ 1,85. A moeda americana oscilou perto desse patamar recentemente, embora tenha recuado diante do real nos últimos dias, atingindo R$ 1,77 ontem.
Segundo o MBE, o efeito do sistema tributário sobre os custos das empresas e os preços finais dos produtos explica por que o Brasil é mais caro do que outros países, mesmo com a taxa de câmbio mais competitiva.
"O nosso sistema tributário oneroso representa enorme perda de competitividade para o produtor e injustiça do ponto de vista do consumidor", diz Paulo Rabello de Castro, um dos fundadores do MBE.

IMPOSTOS EM CASCATA
Para Clóvis Panzarini, consultor da área tributária, a cobrança de impostos em cascata no Brasil prejudica tanto as empresas que atendem ao mercado doméstico como as que exportam.
"A cobrança cumulativa de impostos é algo que você não consegue eliminar quando exporta. Além disso, os produtos importados não sofrem essa mesma incidência."
A primeira versão do estudo do MBE comparando os preços de 30 produtos no Brasil com os de outros seis países (EUA, França, Reino Unido, Austrália, África do Sul e China) foi feita em agosto. Considerou o dólar a R$ 1,60.
Com a taxa de câmbio naquele patamar, o preço da cesta de bens era quase 50% mais alto no Brasil do que na média dos sete pesquisados (incluindo o Brasil).
O MBE atualizou o estudo depois da recente desvalorização do real, que contribuiu para que a moeda brasileira recuperasse competitividade.
Mas produtos como videogame, iPod, automóvel, tênis e livro continuam sendo bem mais caros no Brasil.
"Esse levantamento deixa o rei nu, porque mostra que, mesmo tirando o efeito do câmbio apreciado, o Brasil continua caro", diz Júlio Gomes de Almeida, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Cálculo do MBE indica que o dólar teria de apreciar de forma significativa para patamar próximo a R$ 2,50 para compensar o efeito negativo do regime tributário sobre os preços.
Mas economistas ressaltam que a taxa de câmbio nesse patamar geraria outras distorções indesejáveis, como encarecimento dos produtos importados, com impacto negativo sobre a inflação.
Almeida ressalta que, além do sistema tributário, fatores como excesso de burocracia e infraestrutura deficiente contribuem para elevar os custos da indústria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.